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REDAÇÃO JURÍDICA PARA

ADVOGADOS

Prof. Osvaci Amaro Venâncio Júnior

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COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAL

Escrever com correção é um procedimento argumentativo, ou seja, o uso de um certo padrão de linguagem concorre
para aumentar ou diminuir o poder de persuasão daquele que escreve.
(Platão e Fiorin)

O que é coerência?
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O que é coesão?
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ALGUNS ELEMENTOS DE COESÃO

realce contradição condição causa


adição oposição se porque
além disso mas caso porquanto
ainda contudo contanto que já que
ademais entretanto salvo se uma vez que
também no entanto dado que visto que
de modo geral ao contrário disso desde que
inclusive por outro lado a menos que
até de outra parte a não ser que
é certo diferente disso finalidade
outrossim porém para
em outras palavras consequência a fim de
além desse fator conclusão
e/nem retificação destarte concessão
explicação por conseguinte embora
isto é consequentemente não obstante
enumeração por exemplo de modo que conquanto
continuação a saber de forma que mesmo que
inicialmente de fato de sorte que por mais que
em primeiro lugar em verdade portanto dado que
a princípio aliás pois se bem que
em seguida melhor ainda posto isso posto que
depois (depois de) ou seja em suma
finalmente como se viu concluindo anáfora
em linhas gerais como se observa por fim este/esse/esta/essa
aqui com efeito por tais razões ele/ela
neste momento daí diante do exposto aquele/aquela
desde logo porque por isso que
de resto assim em razão disso o qual/a qual
no caso em tela desse modo onde
por sua vez dessa forma cujo/cuja
a par disso pois ambos
nessa esteira no qual/na qual
no caso presente por meio do(a) qual
entrementes pelo qual/pela qual
o que
seu/sua/seus/suas

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⚫ Abaixo há segmentos textuais separados por ponto. Estabeleça entre os
segmentos o tipo de relação que lhe parecer compatível, usando para isso os
elementos de coesão adequados e fazendo as adaptações que forem
necessárias.

1) A vítima, em razão das múltiplas lesões sofridas no acidente automobilístico,


perdeu sua capacidade laborativa em 80%. Teve que se aposentar por
incapacidade permanente.

2) Havendo mais de um causador de um mesmo dano ambiental, todos


respondem solidariamente pela reparação, na forma do art. 942 do Código Civil.
Se diversos forem os causadores da degradação ocorrida em diferentes locais,
ainda que contíguos, não há atribuir-lhes a responsabilidade solidária.

3) Os notários e os registradores exercem atividade estatal. Não são titulares de


cargo público efetivo, tampouco se submetem a regime estatutário.

4) O juiz pode assumir uma posição ativa, que lhe permite, entre outras
prerrogativas, determinar a produção de provas. O juiz tem de fazer isso de
forma imparcial.

5) Um dos direitos elementares do consumidor é a facilitação da defesa de suas


pretensões. Com a inversão do ônus da prova a seu favor.

6) Diante do exposto, o voto é para conhecer do recurso e negar-lhe provimento.


Manter inalterada a decisão que julgou procedente o pleito inaugural para
declarar nulas as cláusulas que possibilitam à recorrente resilir unilateralmente
o contrato de seguro.

7) Alexandre de Melo interpôs recurso de apelação da sentença. O Magistrado


julgou improcedente seu pedido e o condenou ao pagamento de custas e
honorários advocatícios.

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8) Os direitos trazidos à baila e que aguardam deste Sodalício a sua efetivação
são de ordens distintas. Ambos, patrimônio e saúde, são tutelados pela
Constituição Federal.

9) Trata-se de apelação cível interposta por Sul América Companhia Nacional


de Seguros S.A. da sentença proferida pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da
Comarca de São José. O juiz resolveu a lide nos seguintes termos:

10) Irresignada, a autora interpôs recurso de apelação. Alegou que os juros de


mora e a correção monetária devem ter como marco inicial a data dos
respectivos vencimentos dos títulos, conforme dispõe o art. 12 da Lei n.
4.591/1994.

11) É certo que a validade da sentença decorre necessariamente do embate de


todas as questões relevantes suscitadas no curso processual. A omissão na
análise das teses defensivas derradeiras ou a ausência de fundamentação
configuram nulidade da sentença.

12) No caso dos autos, é inviável a substituição da pena privativa de liberdade


por restritiva de direitos. O crime foi cometido com grave ameaça a pessoa.

13) Compulsando o caderno processual, não há dar guarida a nenhum dos


argumentos esposados pelo apelante.
As preliminares de não enfrentamento das teses aduzidas em alegações finais,
de ausência de fundamentação na sentença e, assim, de nulidade desta são
descabidas.

14) Não se pode afastar do comprador a legítima propriedade do veículo. Não


há nos autos prova do registro no órgão de trânsito a respeito da referida compra
e venda. De acordo com o art. 1.267 do Código Civil, a propriedade de coisa
móvel se transfere pela tradição.

15) No depoimento dado em Juízo, o médico responsável pelo primeiro


atendimento à ré afirmou que a “apendicite em si mesma pode provocar diarreia,

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mas não é um caso comum, por isso o diagnóstico de apendicite é difícil” (fl.
484). Enfatizou o depoente que o abdômen da ré estava flácido e sem sinais de
abdômen agudo cirúrgico.

16) Insurge-se o impetrante contra acórdão proferido pela Segunda Câmara


Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. A Segunda Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina não conheceu da
ordem impetrada.

17) A absolvição pretendida pelo apelante não merece prosperar. Ficaram


devidamente comprovadas a autoria e a materialidade do crime em questão.

18) A seguradora deve ser condenada em litigância de má-fé. A seguradora


obsta processualmente o cumprimento da obrigação advinda do contrato de
seguro com fundamentos esparsos e sem força para derruir o direito do
segurado.

19) O Juízo a quo determinou a realização de penhora no rosto dos autos n.


033.02.015018-3 (ação de consignação em pagamento), dentro da conta
vinculada n. 02.033.0688-0, no montante correspondente ao valor atualizado do
débito. O montante é de R$ 5.574.557,44.

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O EMPREGO DO GERÚNDIO

• O gerúndio não deve ser usado se corresponder a uma das formas


abaixo:

de forma que (+ verbo)


o que (+ verbo)
e (+ verbo)
como (+ verbo)
conforme (+ verbo)
a fim de que (+ verbo)
com
para (+ verbo)
à medida que (+ verbo)
pelo que (+ verbo)
e que (+ verbo)
que (+ verbo)
o(a) qual (+ verbo)
no(a) qual (+ verbo)
pelo(a) qual (+ verbo)
assim, (+ verbo)
desse modo, (+ verbo)

• O gerúndio pode ser usado se corresponder a uma das formas abaixo:

se (+ verbo)
quando (+ verbo)
embora (+ verbo)
conquanto (+ verbo)
já que (+ verbo)
uma vez que (+ verbo)
porque (+ verbo)

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• O gerúndio pode ser utilizado para expressar o modo como ocorre a ação
descrita no verbo anterior ou posterior.
“Irresignado, o réu apelou reiterando as preliminares bem como os
argumentos relativos ao mérito.” (correto)
“Irresignado, o réu interpôs apelação, na qual reiterou as preliminares bem
como os argumentos relativos ao mérito.” (correto)
“Irresignado, o réu interpôs apelação, reiterando as preliminares bem como
os argumentos relativos ao mérito.” (evite)

• Muitos gerúndios dentro do parágrafo:

“Citado, o município de Blumenau contestou o feito (fls. 42-51),


argumentando que o Decreto Legislativo n. 135/1988, que majorou a
remuneração do Prefeito em exercício, teve vigência temporária, ressaltando
que, em face do disposto no inciso...”
Prefira:
“Citado, o município de Blumenau contestou o feito (fls. 42-51),
argumentando que o Decreto Legislativo n. 135/1988, que majorou a
remuneração do Prefeito em exercício, teve vigência temporária. Ressaltou que,
em face do disposto no inciso...”

• Não use “sendo que”


Evitem o “sendo que” nas peças. O uso do “sendo que” indica ao leitor que
o escritor não possui conhecimento suficiente da língua (por exemplo, não sabe
usar as conjunções) e que, assim, tem de se socorrer à expressão, que passa
então a servir de verdadeira bengala linguística. Isto é, na pressa e pela falta de
conhecimento de outros recursos, o redator sai espalhando o “sendo que” pelo
texto, o que faz com que a peça seja desagradável de ser lida e pareça mal-
escrita.
Em 95% dos casos, o “sendo que” pode ser trocado por um simples “e”:
“Enquanto a boa-fé do segurado se presume, a má-fé deve ser cabalmente
comprovada, sendo que tal ônus compete à seguradora.” (errado)
“Enquanto a boa-fé do segurado se presume, a má-fé deve ser cabalmente
comprovada, e tal ônus compete à seguradora.” (correto)

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Às vezes o “sendo que” pode, a depender do sentido, ser trocado por “de
modo que”, “de forma que”, introduzindo uma oração consecutiva:
“Para a concessão da tutela de urgência é necessária a presença
cumulativa da fumaça do direito e do perigo da demora, sendo que a ausência
de qualquer dos requisitos obsta o deferimento.” (errado)
“Para a concessão da tutela de urgência é necessária a presença
cumulativa da fumaça do direito e do perigo da demora, de modo que a ausência
de qualquer dos requisitos obsta o deferimento.” (correto)

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⚫ Corrija, se for necessário, as seguintes frases no que tange
principalmente ao uso do gerúndio:

20) Diante disso, caracterizou-se a sucumbência mínima do apelado, devendo a


apelante arcar integralmente com as custas processuais e os honorários
advocatícios, conforme determinado pela instância a quo.

21) A agravante alega que a decisão de primeiro grau não foi devidamente
fundamentada pelo Magistrado, devendo assim ser declarada nula por este
egrégio Tribunal.

22) Irresignada, a empresa ré interpôs recurso de apelação (fls. 138-146)


requerendo a reforma da sentença de primeiro grau, alegando, preliminarmente,
carência de ação por falta de interesse processual.

23) Alegou o apelante não possuir condições econômicas para ofertar à apelada
os alimentos fixados na sentença, requerendo a sua exoneração do encargo até
que consiga se recompor e prestá-los de forma digna.

24) In casu, tanto o defensor quanto o apelante foram intimados em plenário no


dia 25-10-2010, estando, dessa forma, cientes do teor da sentença proferida.

25) Há de se mencionar que não se trata de decisão definitiva, podendo o


Magistrado a quo modificar seu entendimento a qualquer tempo se a situação
fática vier a mudar no decorrer do processo.

26) Ante o exposto, é imperioso dar provimento ao recurso para reformar a


decisão hostilizada, mantendo a penhora já constituída sobre o imóvel objeto da
lide.

27) De acordo com o art. 593, caput, do Código de Processo Penal, caberá
apelação no prazo de 5 (cinco) dias, iniciando a contagem no dia logo após a
última intimação do réu e do seu defensor.

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28) A prescrição tem por finalidade punir a inércia do titular do direito violado,
proporcionando segurança às relações jurídicas.

29) O acórdão teve votação unânime, sendo que contra ele foi interposto recurso
especial.

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O EMPREGO DA VÍRGULA

• Vírgula e o sujeito/predicado
• Não se deve usar a vírgula entre o sujeito e o predicado.
“A motivação para o estudo e análise do processo e a produção da
proposta, foram principalmente...” (Errado)
“O mesmo decreto que fixou sua remuneração, estabeleceu a política de
atualização desse valor.” (Errado – note que o sujeito é “O mesmo decreto que
fixou sua remuneração”)
“O art. 173, § 2º, da Carta Magna, adverte...” (Errado)
Observação: Quanto a esse último caso, cuidado:
“De acordo com o art. 173, § 2º, da Carta Magna, as empresas...” (Correto)
• A simples inversão da colocação do sujeito não acarreta a necessidade
de uso da vírgula.
“Funcionou como representante do Ministério Público, o Exmo. Sr....”
(Errado)
“Compete a ela, fiscalizar a obra.” (Errado)
“Compete à Diretoria de Material e Patrimônio e à Diretoria de Orçamento
e Finanças, elaborar contratos...” (Errado)
• Não confundir sujeito com expressões que indicam lugar e tempo, as
quais podem ser seguidas de vírgula.
“A partir de agora, todos os carros deverão retornar à instituição.” (Correto
– “A partir de agora”, por indicar tempo, não é sujeito. Por isso a vírgula está
correta, se bem que facultativa)
“Na sessão de julgamento, ficou decidida a absolvição do réu (Correto –
“Na sessão de julgamento” exprime lugar)

• Vírgula entre o verbo e o complemento


Não se deve usar a vírgula entre o verbo e o seu complemento.
“Solicito a Vossa Excelência, providências imediatas...” (Errado)
“Do mencionado voto, colhe-se o seguinte trecho:” (Errado)
“Do Superior Tribunal de Justiça, colhe-se:” (Errado)

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• Vírgula com elementos normativos
Forma crescente (alínea => inciso => parágrafo => artigo => lei); nessa
ordem, não há vírgula: “alínea b do inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição
Federal”.
Forma decrescente (lei => artigo => parágrafo => inciso => alínea); nesse
caso, há vírgula: “Constituição Federal, art. 12, § 4º, II, b”.
Forma híbrida (artigo => inciso => lei); nessa forma, também ocorre a
vírgula: “art. 5º, II, da Constituição Federal”.
“Entende a embargante que, para a adequada prestação jurisdicional, deve
haver a declaração expressa dos seguintes dispositivos: arts. 5 o, XXXIV, a, LIV
e LV, 93, IX, 133, 194 e 195, § 5o, todos da Constituição Federal; arts. 17, 32,
128, I, II e III, e 352, todos do Código de Processo Civil; arts. 188, I, e 944 do
Código Civil; arts. 3o, caput, I, § 1o, e 5o, § 5o, da Lei n. 6.194/1974.” (Correto)

• Vírgula com cargos ou qualificações


Usa-se entre vírgulas o nome do detentor de um cargo ou a qualificação de
uma pessoa quando só ela pode ocupar o cargo ou ter determinada qualificação.
“O Presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Desembargador
Ricardo Roesler, garantiu...” (Correto – só há um presidente do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina)
“Irresignado com a decisão, o acusado, Cleiton Rocha, apelou.” (Correto –
neste caso, só há um acusado)
“Irresignado com a decisão, o acusado Cleiton Rocha apelou.” (Correto –
neste caso, há mais de um acusado no processo)

• Vírgula e a fluência da oração


• Usa-se vírgula para separar termos ou orações que interrompem a
fluência da oração. Todas as frases abaixo estão corretamente virguladas.
“O criminoso, já condenado, recusava-se a admitir sua culpa.”
(= “O criminoso recusava-se a admitir sua culpa.”)
“Alega que, na data do ajuizamento da presente ação, o prazo prescricional
ainda não havia sido encerrado.”
(= “Alega que o prazo prescricional ainda não havia sido encerrado.”)

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“Desse modo, se o acusado, no momento da apresentação de suas
alegações derradeiras, assim como em suas razões de apelação, aduziu ter
agido sob o pálio da legítima defesa, a ele compete a prova de tal excludente.”
(= “...se o acusado aduziu ter agido sob o pálio da legítima defesa.”)
“Alega, com fulcro no art. 7º, IV, da CF, ser impossível a vinculação da
indenização ao salário mínimo.”
(= “Alega ser impossível a vinculação da indenização ao salário mínimo.”)
• Veja agora este outro caso:
“Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão
estivesse em plena efetividade e tivesse na ocasião, idade não superior a 40
anos.”
(Errado – “Poderia inscrever-se todo funcionário que idade não superior a
40 anos” não faz sentido.)
“Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão,
estivesse em plena efetividade e tivesse, na ocasião, idade não superior a 40
anos.”
(Correto – “Poderia inscrever-se todo funcionário que estivesse em plena
efetividade e tivesse idade não superior a 40 anos”.)
• O que não se pode, nessas hipóteses, é usar apenas a primeira ou a
segunda vírgula. Ou se colocam as duas vírgulas, ou não se coloca nenhuma.
“Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão
estivesse em plena efetividade...” (Errado)
“Poderia inscrever-se todo funcionário que na data da respectiva inclusão,
estivesse em plena efetividade...” (Errado)
“Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão,
estivesse em plena efetividade...” (Correto)
“Poderia inscrever-se todo funcionário que na data da respectiva inclusão
estivesse em plena efetividade...” (Correto)
“Constata-se do inteiro teor do acórdão, que o autor...” (Errado)
“Constata-se, do inteiro teor do acórdão que o autor...” (Errado)
“Constata-se, do inteiro teor do acórdão, que o autor...” (Correto)
“Constata-se do inteiro teor do acórdão que o autor...” (Correto)

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• Vírgula e o “e”
Ao contrário do que muitos pensam, pode, sim, haver vírgula antes do “e”,
para separar orações que têm sujeitos diferentes e dar clareza à frase.
“A redação de seu nome mostra-se errada, e a assinatura contida no aceite
da mercadoria é muito diferente da apresentada no instrumento de procuração.”
(Correto)
(A vírgula está separando orações com sujeito diferente. São eles: “a
redação de seu nome” e “a assinatura contida no aceite da mercadoria”.)
“O réu estava arrependido e amedrontado, e a vítima estava em pânico.”
(Correto)
(Neste caso, em que há dois “ee” seguidos, note como a vírgula confere
mais clareza à frase.)

• EXERCÍCIOS VÍRGULA (PARTE 1)

• Corrija as seguintes frases no que tange principalmente ao uso da


vírgula:

30) O Exmo. Sr. Des. Robson Luz Varella, que indeferiu o efeito suspensivo foi
brilhante no seu voto.
31) Diante da ausência de intimação do executado e do erro de cálculo judicial
do débito alimentar, o qual acrescentou valores que deveriam ser descontados,
impende reconhecer o cerceamento de defesa, e, por consequência, a
ilegalidade do decreto prisional.
32) Alegou que na qualidade de vítima de acidente causado por veículo
automotor, recebeu R$ 3.759,91 (três mil, setecentos e cinquenta e nove reais e
noventa e um centavos) a título de indenização do seguro obrigatório e o Instituto
Nacional de Previdência Social lhe concedeu auxílio-doença desde a data do
acidente até 1°-12-2005.
33) O capital social constitui-se em um patrimônio societário que a exemplo da
personalidade jurídica, é distinto do patrimônio dos sócios.
34) Das declarações prestadas por Adão Fonseca Júnior ao Togado singular,
extrai-se:
35) Discussão acerca de prescrição é de índole infraconstitucional e, inexistindo

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afronta direta à Constituição, não cabe recurso extraordinário ao Supremo
Tribunal Federal.
36) Ao analisar o pedido de efeito suspensivo, o Exmo. Sr. Des. Subst. Luiz
Zanelato também analisou a situação fática de maneira escorreita e, portanto,
transcrevo trecho de sua decisão, in verbis:
37) Vale apontar, conforme preceitua o art. 110 do Código de Processo Civil, que
“ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio
ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º”.
38) Como é cediço, a prática de quaisquer condutas existentes no art. 33, caput,
da Lei n. 11.343/2006, é suficiente para a configuração do crime de tráfico ilícito
de drogas.
39) No que diz respeito à partilha dos créditos previdenciários, tal questão não é
pacífica e este Relator se filia ao entendimento segundo o qual as verbas
trabalhistas e outras rendas semelhantes não possuem natureza salarial.
40) Ora, se, de fato, a construção do muro causasse falta de habitabilidade nos
apartamentos afetados com a aludida obra, como quer fazer crer o condomínio
agravante, com toda certeza, não levaria mais de um ano para propor a ação
demolitória.
41) Como se vê, as teses trazidas nas razões dos embargos de declaração
constituem inovação recursal e, por esse motivo, não pode esta Corte de Justiça
enfrentar tais matérias, as quais deveriam ser deduzidas no recurso de apelação
cível.
42) Ora, a Primeira Câmara de Direito Público já assentou que
independentemente da previsão dos citados consectários em cláusula expressa,
não pode a administração pública furtar-se ao pagamento de tais verbas, sob
pena de enriquecimento ilícito.
43) À fl. 48, foi excluída da lide a litisconsorte Ana Paula Maia. Dessa decisão,
os réus interpuseram agravo de instrumento.
44) Acrescentaram que visando à restituição do bem, notificaram os recorridos
para que o desocupassem, razão pela qual, não obtido êxito em seu intento,
ficou caracterizado o esbulho possessório.
45) Nesse contexto, pede expressa manifestação sobre os artigos 5°, incisos
XXXIV, alínea a, LIV e LV, 93 e 133 da Constituição da República e sobre os
artigos 84, 89, 107, incisos I, II e III e 238 do Código de Processo Civil.

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46) O espólio de Cléber Soares e seus herdeiros, Daniela Soares e Luciano
Soares interpuseram apelação cível, na qual sustentaram que após a notícia do
falecimento de Cléber Soares, deveria ter sido aberto prazo para que o espólio
e seus herdeiros viessem aos autos.
47) O pleito de diminuição da fração aplicada em razão da causa especial de
aumento prevista no art. 1o, § 4o, II, da Lei n. 9.455/1997 (crime cometido contra
criança), não merece provimento.
48) O instrumento de mandato outorgado pelos autores, ora credores, aos seus
advogados, contém poderes para receber e dar quitação.
49) Alegou também que haveria contradição interna, omissão e obscuridade no
acórdão no ponto relativo à lei de regência do seguro obrigatório, uma vez que
o art. 3°, caput, alínea b da Lei n. 6.194/1974, com alteração dada pela Lei n.
11.482/2007, conteria a expressão “até” que estaria a indicar possibilidade de
pagamento da indenização de acordo com o grau de invalidez total ou parcial.

• Vírgula e a omissão de verbos


Usa-se a vírgula para omitir verbos. Assim:
“O novo regimento interno está dividido em quatro partes. A parte I trata da
organização e competência; a parte II, do processo; a parte III, dos serviços do
Tribunal; e, por fim, a parte IV, das disposições finais.” (Correto)
(= “A parte I trata da organização e competência; a parte II (trata) do
processo; a parte III (trata) dos serviços do Tribunal; e, por fim, a parte IV (trata)
das disposições finais.”)

• Vírgula e oração subordinada


Sempre haverá vírgula depois da frase que começar com palavras ou
expressões que denotam:
• Concessão
“Embora não tenha havido quórum, os parlamentares tentaram aprovar o
projeto.”
“Por mais que o policial tentasse ajudar, o suicida jogou-se da ponte.”
Outras expressões que denotam concessão: “mesmo que”, “apesar de”,
“conquanto”.
• Causa

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“Uma vez que a demanda de trabalho é maior no período vespertino, há
um número maior de terceirizados que trabalham das 13h às 19h.”
“Porque é mais vantajoso para as partes, a suspensão do processo é
medida que se impõe.”
“Por motivos de força maior, a reunião foi postergada.”
• Condição
“Se tivessem chegado mais cedo, a sessão teria começado antes do
horário.”
“Na hipótese de vários ofensores, o perdão concedido a um deles aproveita
a todos.”
• Tempo
“Depois desse momento, o perdão perde o poder extintivo da ação penal
privada.”
“Logo que a ré saiu da audiência, levou três tiros pelas costas.”
“Até o trânsito em julgado da sentença condenatória, é possível o perdão.”
Outras expressões que denotam tempo: “quando”, “assim que”, “logo que”.
• Finalidade
“Para tentar diminuir a violência nos estádios, a Justiça catarinense far-se-
á presente em todos os jogos do campeonato.”
Outras expressões que denotam finalidade: “para que”, “a fim de que”.
• Proporção
“À medida que um grupo saía, outro entrava para assistir à palestra.”
Outras expressões que denotam proporção: “enquanto”, “ao passo que”.
• Conformidade
“Conforme inteligente lição de Nelson Nery Junior, a sentença terminativa
é aquela que...”
“De acordo com o sindicato, haveria 8% de aumento.”
Outras expressões que denotam conformidade: “segundo”, “como”.
• Comparação
“Como um verdadeiro delinquente, o réu foi condenado por vários
homicídios.”

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• Vírgula e formas nominais do verbo
Haverá vírgula depois da frase que começar com gerúndio, particípio ou
infinitivo e denotar uma das palavras ou expressões acima.
“Sabendo que poderia pegar mais de dez anos de prisão, o acusado
entregou-se à polícia.” (Gerúndio; denota causa = “Uma vez que sabia...”)
“Assinando o contrato, saiu rapidamente.” (Gerúndio; denota tempo =
“Quando assinou o contrato,...”)
“Ao ver seu nome na lista dos aprovados, chorou muito.” (Infinitivo; denota
tempo = “Quando viu seu nome...”)
“Mesmo sem ser notificado, o cliente deveria comparecer.” (Infinitivo;
denota concessão = “Embora não tenha sido notificado,...”)
“Terminada a sessão, os advogados reuniram-se.” (Particípio; denota
tempo = “Assim que terminou a sessão,...”)
“Desesperado, jogou-se na frente de um automóvel.” (Particípio; denota
causa = “Uma vez que estava desesperado,...”)
Se as referidas palavras ou expressões não começarem a frase, a vírgula
é desnecessária, sobretudo se a primeira oração for curta (mais ou menos até
cinco palavras).
“Os parlamentares aprovaram o projeto embora não tenha havido quórum.”
Ou:
“Os parlamentares aprovaram o projeto, embora não tenha havido quórum.”
“A ré levou três tiros pelas costas logo que saiu da audiência.”
Ou:
“A ré levou três tiros pelas costas, logo que saiu da audiência.”
“Chorou muito ao ver seu filho ser levado para a prisão.”
“Chorou muito, ao ver seu filho ser levado para a prisão.” (Evite)

• Vírgula e o travessão
Com travessões as vírgulas devem ser usadas normalmente, como se eles
não existissem.
“Depois de ter quitado 24 prestações, de um total de 50 – a última foi de R$
580,00 –, o mutuário tentou transferir...” (Correto = “Depois de ter quitado 24
prestações, de um total de 50, o mutuário tentou transferir...”)

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“Embora ela tenha chegado tarde – quase meia-noite – a festa ainda não...”
(Errado)
“Embora ela tenha chegado tarde – quase meia-noite –, a festa ainda
não...” (Correto = “Embora ela tenha chegado tarde, a festa ainda não...”)

• Vírgula e o “que”
Há muita dificuldade de virgular frases que apresentam “que”. Seguem
algumas explicações que podem ajudar.
• Virá entre vírgulas ou antecedida de vírgula a oração que começa com
“que”, se esta estiver fazendo algum comentário sobre o antecedente ou se o
“que” puder ser facilmente substituído por “o qual”, “a qual”, “os quais”, “as quais”.
“Envio a Vossa Senhoria o documento anexo, que traz a relação das
comarcas que não contam com terceirizados.” (Correto – “... o qual traz...”)
“O Presidente, que estava na França na semana passada, deve chegar a
Londres nesta sexta-feira.” (Correto – a oração “que estava na França na
semana passada” faz comentário sobre o antecedente “Presidente”.)
“Os prazos no Tribunal de Justiça estão conforme a Lei n. 11.419/2006, que
dispõe sobre a informatização do processo judicial.” (Correto – “... a qual
dispõe...”)
• A oração que se inicia em “que” não será seguida nem antecedida de
vírgula se houver restrição, isto é, se a oração restringir ou limitar o antecedente.
Sabe-se que não há vírgula antes do “que” quando na oração restritiva (que
contém o “que”) estiver subentendida a ideia de “apenas”.
“Os juízes que estavam de plantão não tiveram muito trabalho.” (Correto)
(“Apenas os juízes que estavam de plantão não tiveram muito trabalho” =
“Os outros juízes tiveram muito trabalho”)
DICA: Se o “que” não puder ser substituído por “o qual”, “a qual”, não
haverá vírgula antes dele.
“O réu afirmou, que não saiu de casa naquela noite.” (Errado)
“O réu afirmou que não saiu de casa naquela noite.” (Correto)
“O réu afirmou, ainda, que não saiu de casa naquela noite.” (Correto)
“É necessário dizer, ainda, que, o recurso é intempestivo.” (Errado)
“É necessário dizer, ainda, que o recurso é intempestivo.” (Correto – pois
equivale a dizer: “É necessário dizer que o recurso é intempestivo”.)

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• Vírgula e “entretanto” / “porém” / “todavia”
Não raro as expressões “todavia”, “porém”, “entretanto” são virguladas de
maneira errada ou ambígua. Veja estes casos:
“O advogado fez um excelente trabalho, entretanto, não obteve êxito.”
(Errado, pois não se sabe bem se “entretanto” se refere à oração “O advogado
fez um excelente trabalho” ou à “não obteve êxito”.)
“O advogado fez um excelente trabalho, entretanto não obteve êxito.”
(Correto, pois agora se sabe, claramente, que “entretanto” se refere à oração
“não obteve êxito”.)
“O advogado fez um excelente trabalho; entretanto, não obteve êxito.”
(Correto, note que agora foi usado o ponto e vírgula.)
“Há muitos estudantes procurando estágio, porém, há poucas vagas.”
(Errado)
“Há muitos estudantes procurando estágio, porém há poucas vagas.”
(Correto)
“Há muitos estudantes procurando estágio; porém, há poucas vagas.”
(Correto)
“Há muitos estudantes procurando estágio; há, porém, poucas vagas.”
(Correto)
“Há muitos estudantes procurando estágio; há porém poucas vagas.”
(Correto – quando a sequência de ideias for clara, não há obrigatoriedade de
expressões como “porém”, “contudo”, “todavia” virem entre vírgulas.)

• Vírgula e o “mas, sim”


A expressão “mas, sim” deve vir entre vírgulas.
“A decisão não favoreceu os apelantes, mas, sim, os apelados.”
No entanto, se a expressão utilizada for “e sim”, só caberá vírgula à
esquerda do “e”.
“Os velhos funcionários não querem inovação, e sim continuidade.”

• “Isso porque”
Não há vírgula depois de “porque” em construções como:
“Razão não socorre o réu. Isso porque ficou devidamente provado nos
autos...” (Correto)
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“Não assinou contrato com a fornecedora; até porque não tinha mais
interesse no produto.” (Correto)

• “Pois bem”
A expressão “Pois bem” pode vir sozinha na frase, formando, ela só, um
parágrafo.
Quanto à pontuação, pode ser seguida tanto do ponto quanto da vírgula
(nesta última hipótese apenas, claro, se a expressão não vier sozinha).
Portanto, todas as formas a seguir estão corretas:
1 “A autora alega que a administradora do cartão possui legitimidade
passiva para responder à ação.
⠀Pois bem. É sabido que a legitimidade para responder à presente ação...”.

⠀2 “A autora alega que a administradora do cartão possui legitimidade


passiva para responder à ação.
⠀Pois bem, é sabido que a legitimidade para responder à presente ação...”.

⠀3 “A autora alega que a administradora do cartão possui legitimidade


passiva para responder à ação.
⠀Pois bem.

⠀É sabido que a legitimidade para responder à presente ação...”.



• “Se não, vejamos”
Dúvidas existem sobre o uso dessa expressão, muito comum na redação
de textos jurídicos.
Uns não sabem se o “se não” escreve-se separado ou junto (senão); outros,
se a expressão é antecedida de vírgula, ponto, ou de ponto e vírgula; outros,
ainda, se a expressão é seguida de dois-pontos ou somente de ponto. Também
há aqueles que não sabem se o “se não, vejamos” pode vir no início do
parágrafo, ou se apenas no final. Até a vírgula depois do “se não” é objeto de
dúvidas.
A forma correta é “se não, vejamos”, com o “se” separado do “não” seguido
de vírgula. Devemos entender a expressão mais ou menos como: “se não
[acredita, leitor], vejamos”.

22
A expressão pode ser antecedida de vírgula, de ponto ou de ponto e vírgula,
depende do tom que se quer imprimir à frase.
Quanto à posição, o “se não, vejamos” pode vir no início ou no fim do
parágrafo. A expressão pode até vir sozinha no parágrafo, o que vai depender,
novamente, do ritmo imprimido à frase.
Exemplos de como a expressão em tela pode ser usada corretamente:

... de modo que a pretensão está prescrita, se não, vejamos.


Primeiramente, tem-se que a ação...

... de modo que a pretensão está prescrita. Se não, vejamos.


Primeiramente, ...

... de modo que a pretensão está prescrita.


Se não, vejamos. Primeiramente, ...

... de modo que a pretensão está prescrita.


Se não, vejamos.
Primeiramente, ...

Use dois-pontos depois de “se não, vejamos” apenas se for introduzir uma
citação. Observe:
... tese essa defendida por Nelson Nery Junior. Se não, vejamos:
“[transcrição da doutrina]”
Também está correta a expressão “se não, veja-se”.

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• EXERCÍCIOS VÍRGULA (PARTE 2)

50) O dano moral é o efeito não patrimonial da lesão de direito e não a própria
lesão abstratamente considerada.
51) Após réplica (fls. 78-86), sobreveio sentença proferida pelo Magistrado
Lenoar Bendini Madalena que decidiu a lide da seguinte forma:
52) Isso porque, não se está transmitindo o direito de personalidade, que é ínsito
à pessoa e intransmissível, mas sim o direito de ação.
53) Nesse ponto, com razão o recorrente. Isso porque, a conduta do réu no crime
de corrupção de menores, que consistiu em envolver adolescente no comércio
espúrio de entorpecentes, não pode servir para caracterizar tanto a causa
especial de aumento prevista no art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006 quanto o delito
específico do art. 244-B da Lei n. 8.069/1990, pois tal situação implica bis in
idem.
54) Em suma, sustenta que o referido artigo não pode ser tido como exaustivo
em suas vedações e sim exemplificativo, pois visa coibir o "argumento de
autoridade", tanto pela defesa como pela acusação.
55) Por fim, alegou que os honorários advocatícios não podem ultrapassar o
percentual de 15% (quinze por cento) por ser o autor beneficiário da gratuidade
da justiça.
56) Os mecanismos de que podem se valer as partes para impugnar uma
decisão judicial são denominados pela doutrina, genericamente, de “remédios
processuais” que ora consistem em recursos ora em ações impugnativas
autônomas.
57) Aduziu que por se tratar o autor de beneficiário da gratuidade da justiça, o
valor arbitrado a título de honorários advocatícios será de no mínimo 15% do
valor líquido da execução.
58) É fato incontroverso nos autos que desde 1986 vigorava entre as partes
contrato de prestação de serviços advocatícios (fls. 42-44) que, embora tenha
sido sucedido por várias outras pactuações (fls. 50-53 e 54-55), findou-se em
janeiro de 2000 em decorrência dos desajustes quanto à remuneração pelos
serviços prestados.
59) Com as contrarrazões (fls. 146-156), Artur Petro interpôs recurso adesivo em
que pugnou pela majoração da verba honorária.

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60) Ademais, é consabido que o contrato de adesão, celebrado entre os
litigantes, favorece em suas cláusulas a seguradora, que vem a ser,
insofismavelmente, a parte economicamente mais forte, de forma que ao
consumidor resta uma posição de submissão jurídica, fato que obsta
flagrantemente o seu direito de defesa.
61) O apelado, Banco do Brasil S.A., argumentou que o contrato firmado é de
responsabilidade civil facultativa, que exclui expressamente qualquer reparação
por dano moral, de modo que, possível condenação nesse sentido, deve ser
suportada exclusivamente pelos apelantes.

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PONTO E VÍRGULA

• Use ponto e vírgula para separar orações de curta extensão já divididas


por vírgulas, omitindo o verbo:
“De decisões interlocutórias cabe, em regra, agravo de instrumento; de
sentença, apelação”.

• Empregue também o ponto e vírgula como recurso estilístico, para indicar


relação estreita entre duas afirmações que trazem principalmente ideia de causa
e consequência:
“Vale destacar que em ação possessória somente se examina o fato da
posse; não se investiga o domínio.”

• O ponto e vírgula deve ser usado para separar enumerações formadas


por frases de longa extensão:
“O apelante sustenta a abusividade e ilegalidade na cobrança dos juros nas
parcelas vencidas no mês de abril e maio; a descaracterização da mora e do
esbulho, pois adimpliu a maior parte do financiamento do veículo; a
determinação da imediata devolução do veículo com a transferência da
propriedade registrada no Detran; e a ocorrência de má-fé da apelada ao não
possibilitar o pagamento das parcelas vencidas.”
- Se as frases da enumeração forem de curta extensão, basta a vírgula
para separá-las:
“O apelante sustenta a abusividade e ilegalidade na cobrança dos juros, a
descaracterização da mora e do esbulho, a determinação da imediata devolução
do veículo e a ocorrência de má-fé da apelada.”

• Utilize o ponto e vírgula, em vez da vírgula, antes das conjunções
adversativas (mas, porém, todavia etc.) e das conclusivas (logo, por isso,
portanto etc.) para reforçar o valor adversativo ou conclusivo dessas conjunções.
Compare estes períodos:
“O autor recorreu da decisão que lhe negou a gratuidade da justiça, porém
não trouxe documentação que comprovasse sua hipossuficiência.”

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“O autor recorreu da decisão que lhe negou a gratuidade da justiça; porém
não trouxe documentação que comprovasse sua hipossuficiência.”
“A prisão do paciente ocorreu para garantia da ordem pública, portanto não
há falar em ilegalidade.”
“A prisão do paciente ocorreu para garantia da ordem pública; portanto, não
há falar em ilegalidade.”

• O ponto e vírgula também pode ser um poderoso recurso
estilístico/argumentativo no lugar dos dois-pontos:
“A concessão de liminar em habeas corpus é admitida como medida
excepcional; quando evidente a coação ilegal ou o abuso de poder.”

• Você também usará o ponto e vírgula quando quiser fazer com que o leitor
perceba que as partes textuais estão intimamente ligadas, o que causa um efeito
retórico. Assim, se o que você pretende é, pura e simplesmente, transmitir uma
mensagem, use o ponto; se o que você almeja, além de transmitir uma
mensagem, é mostrar ao leitor que o raciocínio iniciado na frase anterior não
terminou, use o ponto e vírgula, exatamente como acabei de fazer.
Observe, por exemplo, esta frase:
“Presume-se verídica a declaração de hipossuficiência financeira da parte.
Contudo, tal presunção é relativa”.
O ponto depois de “parte” está correto? Está. Todavia, se o objetivo é
apontar para o leitor que o raciocínio iniciado na frase anterior continua, o ponto
e vírgula é que deverá ser usado:
“Presume-se verídica a declaração de hipossuficiência financeira da parte;
contudo, tal presunção é relativa”.
⠀Portanto, e isto é extremamente importante, o entendimento de que o
ponto é usado para marcar o fim de um raciocínio e o ponto e vírgula sua
continuidade está errado. Isso porque o raciocínio sempre continua (o
pensamento é ilimitado). Independente de você usar ponto ou ponto e vírgula, o
raciocínio sempre vai continuar. E isso explica o fato de o ponto e vírgula
raramente ser empregado nos textos em geral; só será usado se vocês quiserem
evidenciar para o leitor, por uma questão de estratégia textual, que a ideia que

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estão passando é continuação da anterior. O fundamento para o uso do ponto e
vírgula, como vimos, possui forte cunho retórico.

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GRAMÁTICA APLICADA À REDAÇÃO JURÍDICA

• Art. 1º, I, do CP (padronização)


“Dispõe o art. 9º, I, do CP que...” (Correto)
“Dispõe o art. 9º, inc. I, do CP que...” (Correto)
“Dispõe o art. 9º, I, do Código Penal que...” (Evite)
“O inciso I do art. 9º do Código Penal dispõe que...” (Correto)
“Dispõe o art. 9º, inciso I, do CP que...” (Evite)

• Clareza
Sujeitos diferentes que parecem iguais
“Ao final, o apelante requer o provimento do recurso para determinar o
pagamento da indenização pleiteada nos termos da inicial.”
Corrigir para:
“Ao final, o apelante requer o provimento do recurso para que seja
determinado o pagamento da indenização pleiteada nos termos da inicial”.

Paralelismo
“Citada, a apelada apresentou contestação, na qual arguiu a inexistência
de contrato firmado entre ela e o autor, que houve a indenização em pecúnia e
a falta de preenchimento dos requisitos previstos nas diretrizes e nos critérios de
reassentamento”.
Corrigir para:
“Citada, a apelada apresentou contestação, na qual arguiu que inexiste
contrato firmado entre ela e o autor, que houve a indenização em pecúnia e que
não foram preenchidos os requisitos previstos nas diretrizes e nos critérios de
reassentamento”.

“Entretanto, não foi esse o esforço feito pelo agravante, que, em vez de
provar a validade e eficácia do título protestado, restringiu-se a alegações do
histórico de inadimplência do agravado”.
Corrigir para:

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“Entretanto, não foi esse o esforço feito pelo agravante, que, em vez de
provar a validade e eficácia do título protestado, restringiu-se a alegar o histórico
de inadimplência do agravado”.

“Logo, inalterada a sentença, não há falar em modificação dos ônus de


sucumbência tampouco em afastar a suspensão dos descontos das prestações
até a apuração do valor devido”.
Corrigir para:
“Logo, inalterada a sentença, não há falar em modificação dos ônus de
sucumbência tampouco em afastamento da suspensão dos descontos das
prestações até a apuração do valor devido”.

“Comprometeram-se os embargantes a resilir o contrato de compra e


venda, devolver a quantia recebida (R$ 10.000,00) e mais aquelas
correspondentes às benfeitorias (R$ 3.676,00)”.
Corrigir para:
“Comprometeram-se os embargantes a resilir o contrato de compra e venda
e a devolver a quantia recebida (R$ 10.000,00), mais aquelas correspondentes
às benfeitorias (R$ 3.676,00)”.

Construções com “sob o fundamento”, “sob o argumento”, “alegando”,


“argumentando”
“Objetiva o impetrado a reforma da sentença que julgou procedente o
mandamus sob o argumento de que o preenchimento da ficha de conteúdo de
importação fere o direito da parte impetrante à livre concorrência”.
Corrigir para:
“Objetiva o impetrado a reforma da sentença que julgou procedente o
mandamus.
Na decisão, assentou o Juízo a quo que o preenchimento da ficha de
conteúdo de importação fere o direito da parte impetrante à livre concorrência”.

Omissão indevida do verbo de ligação


“Resolvida a questão suscitada pelo apelante nas suas razões, mas mesmo
assim interpôs recurso para o STJ”.

30
Corrigir para:
“Foi resolvida a questão suscitada pelo apelante nas suas razões, mas
mesmo assim interpôs recurso para o STJ”.

“Inviabilizada a apuração do índice contratado a título de juros


remuneratórios, aplica-se a taxa média de mercado vigente à data da
contratação para operações da mesma espécie” (Correto).

• Partícula “se” apassivadora


Colhe-se ou colhem-se os seguintes julgados?
A redação correta é: “Colhem-se os seguintes julgados”, que equivale a “Os
seguintes julgados são colhidos”.
“Condenam-se os acusados ao pagamento de multa.”
“Reuniram-se os documentos de fls. 13-61.”
“Julgou-se o pedido improcedente”. (sujeito no singular)
“Multiplicam-se os casos de armas em mãos erradas.”
“Colhe-se da jurisprudência:”
“Colhem-se da jurisprudência:”

• Partícula “se” índice de indeterminação do sujeito


“Precisam-se de intérpretes.” (Errado)
“Precisa-se de intérpretes.” (Correto)
“Tratam-se de apelações cíveis interpostas...” (Errado)
“Trata-se de apelações cíveis interpostas...” (Correto)
“Trata-se o presente caso de ação anulatória...” (Errado)
“A apelante trata-se de servidora pública...” (Errado)
“O caso trata-se de crime de homicídio...” (Errado)
“Trata-se, no presente caso, de ação anulatória...” / “O presente caso trata
de ação anulatória...” (Correto)
“A apelante é servidora pública...” (Correto)
“O caso é de crime de homicídio...” / “Trata-se, no caso, de crime de
homicídio...” (Correto)
“Tratam-se os autos de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que
indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Errado)

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“Trata-se os autos de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que
indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Errado)
“Os autos tratam de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que
indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Correto)
“Trata-se, nos autos, de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13,
que indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Correto)
Trata-se de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que indeferiu
a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Correto)

• Analisando-se os autos, conclui-se...


“Analisando o feito, o magistrado concluiu que tanto a taxa de
administração como o fundo de reserva estabelecidos no contrato são válidos”
(Correto – sujeito explícito na oração principal).
“Analisando-se o feito, conclui-se que tanto a taxa de administração como
o fundo de reserva estabelecidos no contrato são válidos” (Correto – gerúndio
impessoalizado pela voz passiva; voz passiva – voz passiva).
“Compulsando-se os autos, verifica-se que assiste razão às demandantes”
(Correto).
“Os honorários advocatícios foram arbitrados considerando-se a natureza
e importância da causa” (Correto).
“O Juiz a quo arbitrou os honorários considerando a natureza e importância
da causa” (Correto).

• Flexão do infinitivo (locução verbal)


Nas locuções verbais (verbo auxiliar + verbo principal) o verbo principal
nunca virá flexionado:⠀
“Os autores pretendem reformar a sentença” (Correto – e não
“reformarem”).
Pelo mesmo motivo está incorreta a seguinte construção:⠀
“Na hipótese de interposição de apelação adesiva, devem os recorridos
serem instados para contrarrazões” (o correto é “devem os recorridos ser
instados”).⠀

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Idêntico problema é encontrado nas locuções verbais em que o verbo
auxiliar é constituído de gerúndio mal-empregado:
“A relação processual tem que ser integrada pela Caixa Econômica
Federal, devendo os autos serem remetidos à Justiça Federal” (Errado – o
correto seria “devendo os autos ser remetidos à Justiça Federal”).

• Flexão do infinitivo (sujeito oracional)


“Nesse contexto, competia aos réus provarem que a manobra que
efetuaram respeitou o tráfego regular dos veículos que seguiam pela direita”.
“Nesse contexto, competia aos réus provar que a manobra que efetuaram
respeitou o tráfego regular dos veículos que seguiam pela direita”.

• Flexão do infinitivo pessoal


Infinitivo impessoal é a forma normal do verbo: ajuizar, perder, falar,
pleitear, requerer. Nunca é flexionado.
O infinitivo é pessoal quando flexiona de acordo com a pessoa, com o
sujeito a que se refere: ajuizar eu, ajuizares tu, ajuizarmos nós, ajuizarem eles.
Flexiona-se o infinitivo quando possui sujeito próprio, diferente de outro
sujeito no período:
“O apelante alega serem os réus os responsáveis pelo acidente.”
(Correto – o “serem” está flexionado porque o seu sujeito é “réus”, no plural,
diferente do sujeito “apelante”).

• Flexão do infinitivo pessoal antecedido de “a”, “para”, “de”


“As partes foram intimadas a se manifestar no prazo de 15 (quinze) dias”?
“As partes foram intimadas a se manifestarem no prazo de 15 (quinze)
dias”?
Regra a ser aplicada: O infinitivo será flexionado apenas se a flexão tornar
mais clara a frase:
“As partes foram intimadas a se manifestar no prazo de 15 (quinze) dias,
sob pena de extinção do feito.”
(Correto – não há necessidade de flexão do infinitivo “manifestar”
(manifestarem), pois se trata de mesmos sujeitos (“partes”) e a flexão não
tornaria a frase mais clara).

33
Observe o seguinte período:
“Os desembargadores acordaram prover parcialmente o recurso para,
considerando as peculiaridades do caso, concederem ao apelado a gratuidade
da justiça.”
(Correto – apesar de sujeitos idênticos (desembargadores), o verbo
“conceder” está distante, de modo que a flexão torna o período mais claro).

• Condenar / condenação
“Condenou o réu no pagamento das custas processuais.” (Errado)
“Condenou o réu ao pagamento das custas processuais.” (Correto)
“Pugnou pela condenação do acusado em dez anos de prisão.” (Errado)
“Pugnou pela condenação do acusado a dez anos de prisão.” (Correto)
“Foi condenada em cinco anos de prisão.” (Correto)

• Crase
“Ele se referiu à carta.” (= ao documento)
“O juiz fez referência às que saíram.” (= aos que saíram)
“A testemunha acusou a da direita.” (= o da direita)
“APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL.
ABORDAGEM ARBITRÁRIA LEVADA A EFEITO POR POLICIAIS CIVIS E
POSTERIOR PRISÃO ILEGAL POR SUPOSTO DESACATO A AUTORIDADE”.
A sessão pode ser das “2h às 4h” ou de “2 a 4 horas”.
“Trabalham de segunda a sexta.” (= de...a...)
“O mutirão vai da próxima segunda à sexta-feira.” (= da...à...)
“Os assessores escrevem de cinco a dez páginas por dia.” (= de...a...)
“Os assessores leram da página cinco à dez.” (= da...à...)
“A nossa disciplina é semelhante à dos militares.” (= é semelhante à
disciplina dos militares)
Não há crase antes dos pronomes de tratamento como Sua Excelência e
Vossa Excelência.
“Aquela decisão deu azo àquelas discussões.” (a estas discussões)
“Os réus deram relevância àquele dia.” (a este dia)
“Eles não deram valor àquilo.” (a isto)
“O advogado não leu aquele relatório.” (este)

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• Haja vista
“O parecer foi favorável, haja vista o contentamento da autora.” (Correto)
“O parecer foi favorável, haja visto o contentamento da autora.” (Errado)
“O parecer foi favorável, haja vista que a autora ficou contente.” (Errado)

• Onde
“O relatório, onde está exposta toda a argumentação,...” (Errado)
“O relatório, em que / no qual está exposta toda a argumentação,...”
(Correto)
“A Comarca de Palhoça, onde se intentou a ação,...” (Correto)

• Para o fim de
“Pugnou pela manifestação expressa de dispositivos legais para o fim de
prequestionamento.” (Errado)
“Pugnou pela manifestação expressa de dispositivos legais para
prequestionamento.” (Correto)
Também não está correto: “...para fins de prequestionamento”.

⚫ Corrija as seguintes frases:

62) Não podem os embargos de declaração, portanto, serem manejados com o


intuito de rediscutir a decisão embargada.

63) Tratam-se de recursos de apelação cível interpostos por Sul América


Companhia Nacional de Seguros S.A. e Instituto de Resseguros do Brasil – IRB.

64) Vale apontar que a matéria dos embargos opostos pela executada restringe-
se a discussão das cláusulas contratuais, pois sustenta terem sido ilegalmente
exigidos juros não previstos no contrato e que a confissão de dívida não é
novação.

65) Insurge-se a apelante contra a sentença de primeiro grau, que julgou


improcedente o pedido que deduziu para condenar a apelada no pagamento de

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complementação de indenização de seguro de vida.

66) Sobre o tema, traz-se à colação os seguintes entendimentos:

67) Trata-se o presente de agravo de instrumento, onde o agravante alega a


impossibilidade de estender aos inativos a vantagem pecuniária denominada
cesta-alimentação.
A agravante alegou, em preliminar, que a decisão de primeiro grau é extra
petita, que é nula por não estar fundamentada e também a litispendência em
relação a agravada Mônica Soares.

68) Declarou que seu marido é aposentado e que percebe proventos de


aproximadamente R$ 6.935,00 (seis mil novecentos e trinta e cinco reais).

69) Isso porque não se aplica ao caso as regras do Código de Defesa do


Consumidor.

70) Requereu, em caso de condenação, que a verba honorária seja fixada no


seu mínimo legal e, por fim, a improcedência do pedido inicial.

71) Na réplica, pugna o autor pela aplicação da sanção prevista no art. 359 do
Código de Processo Civil de 1973, pois, apesar de devidamente intimado, o réu
deixou de acostar aos autos o contrato de abertura de conta corrente.

72) O apelante sustenta: a) a abusividade e ilegalidade na cobrança dos juros;


b) que seja descaracterizada a mora e o esbulho; c) que seja determinada a
imediata devolução do veículo.

73) Pairando dúvidas acerca de como os fatos realmente ocorreram, tem-se


como preferível manter uma sentença de improcedência, até porque era ônus
das autoras fazerem prova convincente do ocorrido.

74) A alegação de autonomia da Convenção Coletiva e que esta não faz


referência aos inativos não tem relevância, haja vista que tal fato não impede a

36
concessão do benefício.

75) Não deve ser admitido incidente de assunção de competência se a questão


de direito versar sobre interpretação de lei federal e se da sua resolução puder
resultar afronta a súmula ou a consolidada jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça.

76) Impõe-se considerar que os demandantes têm uma filha de 8 (oito) anos de
idade e a natureza previdenciária da causa.

77) Ressalto que a valoração do quantum a ser pago a título de danos morais
deverá observar os critérios da proporcionalidade e da equidade, buscando-se
trazer conforto ao ofendido e impedir que novos atos como este venha a
acontecer novamente.

78) Portanto, a autora cumpriu integralmente com sua obrigação contratual,


devendo os réus serem compelidos a efetuarem a transferência do imóvel.

79) A constatação dos vícios redibitórios é antecedente lógico daquelas lesões


materiais acima apontadas.

80) A Constituição da República não reserva à lei complementar matéria


relacionada a regime jurídico de servidor público.

37
REDAÇÃO DOS PRINCIPAIS CAMPOS DE PEÇAS
JURÍDICAS E TÉCNICAS DE ESCRITA DE TEXTOS
ARGUMENTATIVOS

• Endereçamento da petição inicial


Com o CPC em vigor, o endereçamento da petição inicial passou a ser feito
ao Juízo (art. 319, I). E, tecnicamente, isso sempre deveria ser assim mesmo.
Ao contrário do que facilmente encontramos na internet, “Excelentíssimo
Senhor” nunca foi a forma correta de endereçamento. Era bastante usada e
ainda o é até hoje? Sim. Mas daí a dizer que era a forma correta e hoje não é
mais...
“Excelentíssimo Senhor” é vocativo apenas para chefes de poder. É usado
para juízes em geral por associação ao pronome de tratamento “Vossa
Excelência”, mas está errado. No endereçamento das petições iniciais,
escrevam sempre “Ao Juízo”, ou, em se tratando de juizados especiais, “Ao
Juizado”.
“Ao Juízo da Vara Cível da Comarca de Lages”
Se se tratar de incidente, não se esqueçam de indicar a vara para a qual o
processo principal foi distribuído.

• Redigindo corretamente o preâmbulo da peça


Exemplo correto:
JOÃO DA SILVA, solteiro em união estável, servidor público estadual,
inscrito no CPF n. 040. 843456-28, com endereço eletrônico
j_2030silva@gmail.com, domiciliado e residente na Rua Afonso Chagas, 144,
ap. 920, Bairro Centro, Florianópolis/SC, CEP 88010-000, vem, por meio do seu
procurador, com fundamento nos arts. 318 e 319 do Código de Processo Civil,
ajuizar AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO BANCÁRIO contra o BANCO DO
BRASIL S.A., sociedade de economia mista inscrita no CNPJ n.
11.233.999/0001.20, com sede no Setor Bancário Sul, Quadra 4, Bloco C, Lote
32, Edifício III, Brasília/DF, CEP 78000-300, pelos fatos e fundamentos jurídicos
a seguir expostos.

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• Redação dos pedidos e o paralelismo
Ao escrevermos “Ante o exposto, requer:”, temos oculto o sujeito da oração
(o autor, o demandante, o impetrante... requer). O problema de assim escrever,
todavia, é deixar oculto um sujeito que não se pode inferir imediatamente do
texto. Leiam a seguinte construção:
“...Assim, por ter sofrido prejuízo material, a autora almeja a respectiva
reparação.
Ante o exposto, requer:”
Vejam que está claro que o sujeito de “requer” é “a autora”, pois ele aparece
no parágrafo anterior. Nesse caso, o emprego da forma “Ante o exposto, requer:”
está correto.
Quando, porém, a forma vem precedida, como não raro acontece, do título
“DOS PEDIDOS”, seu uso não é adequado, porque o sujeito de “requer” estará
distante, ainda que se saiba que obviamente quem requer é a parte polo ativo
da ação. Reparem:
“DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:” (quem requer?)
Em “Ante o exposto, requer-SE:”, a oração está na voz passiva, de modo
que os pedidos que se seguem à forma constituirão o sujeito da oração. Uma
vez que sempre são feitos no mínimo dois pedidos, o correto será então escrever
“requerEM-se:”. Regra básica: sujeito no plural, verbo no plural. Ficaria assim:
“Ante o exposto, requerem-se:
a) a citação…
b) a condenação…
c) a produção de...”.
Como não somos dados a escrever dessa maneira, não a aconselho.
O “requer-se” no singular estará correto se a forma vier seguida de “que”
(“Ante o exposto, requer-se QUE:”), mas isso pode ser bastante problemático,
pois os verbos constantes dos pedidos obrigatoriamente deverão vir no
subjuntivo (seja citado, seja condenado), e a probabilidade de errarmos no
emprego desse modo verbal é enorme.

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Por conta disso tudo é que indico uma terceira forma, que é a de sempre
trazer expresso o sujeito da oração, na voz ativa: “Ante o exposto, A AUTORA
requer:”. Fazer assim é mais fácil e a estrutura fica mais coesa e limpa.
• Agora leiam em voz alta a seguinte construção:
Ante o exposto, o impetrante requer:
a) liminarmente, a concessão de ordem que determine a imediata
restituição da liberdade ao paciente;
b) a dispensa de requisição de informações à autoridade coatora,
diante da possibilidade de acesso integral aos autos por meio
eletrônico;
c) ao final, seja confirmada a liminar, declarando-se a ilegalidade
do ato impugnado e relaxando-se definitivamente a prisão ilegal;
d) caso não conhecido o habeas corpus, sejam apreciadas de ofício
as ilegalidades relatadas.
Reparem: o texto começa com “o impetrante requer, a) liminarmente, A
concessão de ordem...” e “b) A dispensa de requisição...”, mas na sequência
muda de estilo e passar a dispor “c) ao final, SEJA confirmada a liminar...” e “d)
... SEJAM apreciadas de ofício...”. Isso não pode! Se começarem a usar “a”, “o”,
não podem mudar para “seja”, “sejam”.
Percebam como soa melhor assim:
Ante o exposto, o impetrante requer:
a) liminarmente, a concessão de ordem que determine a imediata
restituição da liberdade ao paciente;
b) a dispensa de requisição de informações à autoridade coatora,
diante da possibilidade de acesso integral aos autos por meio
eletrônico;
c) ao final, A CONFIRMAÇÃO da liminar, declarando-se a
ilegalidade do ato impugnado e relaxando-se definitivamente a prisão
ilegal;
d) caso não conhecido o habeas corpus, A APRECIAÇÃO de ofício
das ilegalidades relatadas.
Sentiram a diferença? Diz-se que a primeira estrutura apresentada não
contém paralelismo e essa segunda sim. A construção também ficaria paralela
se em vez de “a concessão”, “a dispensa”, “a confirmação” e “a apreciação”

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escrevêssemos “seja concedida”, “seja dispensada”, “seja confirmada” e “seja
apreciada”. O que não pode é misturar as formas.

• “Pugna-se pela produção de todos os meios de prova em direito


admitida”
Para além do fato de não ser tecnicamente correto terminar uma petição
com pedido genérico de produção de provas, quem escreve “Pugna-se pela
produção de todos os meios de prova em direito admitida” comete erro de
concordância.
Isso porque o “admitir” deve concordar com a palavra “meios”, não com
“prova”. Assim:
“Pugna-se pela produção de todos os meios de prova em direito admitidos.”
(correto)
Veja que o CPC traz adequadamente a concordância do “admitir” em
construção similar:
“Art. 357 [...]
II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade
probatória, especificando os meios de prova admitidos”.

• “Termos em que pede deferimento”


É adequado usar esta estrutura, que costuma aparecer no final das peças
“Termos em que,
Pede deferimento.”?
Para começar, gramaticalmente a estrutura está errada. Por um acaso
escrevemos “perto da rua em que, Ela reside”? Então, o raciocínio é o mesmo.
Mas vejam que interessante: em correspondências oficiais (ofícios,
circulares, portarias) é correto começar o documento com um vocativo seguido
de vírgula e, no parágrafo seguinte, de palavra com inicial maiúscula. Assim:
“Senhor Ministro,
Apresento para apreciação de Vossa Excelência projeto...”.
O hábito de os advogados terminarem as peças usando a estrutura em tela
vem daí, mas isso não está correto. No vocativo, a vírgula seguida de inicial
maiúscula é possível; na estrutura, já vimos acima que não.

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Além de estar gramaticalmente incorreto, escrever “Termos em que, Pede
deferimento” também pode não ser lá a forma mais técnica de finalizar uma peça.
A não ser que se esteja tratando de processo de natureza cautelar, o correto é
usar a palavra “procedência” (para ações em geral) ou “provimento” (para
recursos), em vez de “deferimento”. Nesse sentido, a estrutura ficaria correta
assim:
“Termos em que pede procedência”.
“Termos em que pede provimento”.
Está correto tanto escrever “pede” (“autor” como sujeito oculto, por
exemplo) quanto “em que se pede” (na passiva).

• Endereçamento de peças recursais


Muitas dúvidas surgem na hora de redigir o endereçamento de peças
recursais. Deve-se endereçar a peça à câmara, turma, seção, ou ao tribunal que
elas integram? Está correto escrever “Colenda Câmara”, “Colendo Tribunal”? Ou
o certo é “Egrégia Câmara”, “Egrégio Tribunal”?
Tratarei aqui do endereçamento nos recursos de apelação, agravo de
instrumento e embargos de declaração. Mas a lógica para os demais recursos
não foge muito do que explicarei, não.
Importante: “egrégia” e “colenda” são adjetivos que podem ser usados para
“Câmara”, “Turma”, “Seção”. Para “Tribunal”, a forma admitida é “egrégio”. A fim
de não errar, dê uma olhada no regimento interno do tribunal em questão. O
regimento interno do TJSC, por exemplo, dispõe que “egrégio” deve ser usado
tanto para o tribunal quanto para os seus órgãos julgadores.
- Tratando-se de apelação, o endereçamento deve ser feito assim:

AO JUÍZO DA ___ VARA _______ DA COMARCA DA(E) _____


Exemplo:
AO JUÍZO DA 2ª VARA DE DIREITO BANCÁRIO DA COMARCA DE
ITAJAÍ

- Se o recurso é o de agravo de instrumento, você fará assim:

AO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE(A/O) ______

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Exemplo:
AO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA

- Se se tratar de embargos de declaração opostos contra acórdão, você


deve escrever desta forma (ressalvadas as peculiaridades no nome dos órgãos
julgadores de cada tribunal):

AO(À) SENHOR(A) DESEMBARGADOR(A) RELATOR(A) INTEGRANTE


DA EGRÉGIA [ou “colenda”, conforme o regimento interno do tribunal] _____
CÂMARA DE DIREITO ______ DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DE(A/O) ______
Exemplo:
AO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR INTEGRANTE DA
EGRÉGIA PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Perceba que não vai ponto final nos endereçamentos e que o emprego de
vocativos como “Excelentíssimo(s) Senhor(es) Desembargador(es)” é
inadequado.

• Redação dos títulos da contestação


Por não ser uma boa estratégia, muito cuidado para não redigirem os títulos
da peça de defesa assim: “DOS DANOS MATERIAIS”, “DOS DANOS MORAIS”.
Explico.
Suponhamos que o autor ajuíza ação de indenização por danos materiais
e de compensação por danos morais, alegando que seu veículo colidiu com o do
réu por culpa deste, que vinha na contramão de direção.
Na petição inicial, está correto trazer, nesse caso, os títulos “Dos danos
materiais”, “Dos danos morais”, “Da culpa do réu pelo acidente”, MAS NA
CONTESTAÇÃO NÃO!!
Quando vocês escrevem “Do dano moral” na contestação, parece que de
fato houve dano moral e que vocês apenas se limitarão a versar sobre ele. A
preposição “Do” antes de “dano moral” no título pode levar o julgador a ler sua
peça defensiva partindo já da premissa de que vocês não têm razão. É claro que

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o juiz não imaginará que vocês, advogados do réu, iriam contra si mesmos, mas
a preposição pode levá-lo inconscientemente a esse entendimento.
Isso fica mais claro com o título “Da culpa do réu pelo acidente”. Ponham-
se no lugar do juiz: ao lerem esse título na contestação, o que iriam ser levados,
pela sua literalidade, imediatamente a pensar? Que de fato o réu teve culpa pelo
acidente, não é? Pegaram o ponto?
Vejam que o problema não está nas preposições (“Da”, “Do”, “Dos”) em si.
Longe disso. Aliás, vocês podem se valer da técnica usada pelo autor, mas
escreverem os títulos de uma forma que favoreça o seu cliente, assim: “Da total
inexistência do dano moral”, “Da responsabilidade do autor pelo acidente”.
Não usem a forma “Dos ALEGADOS danos morais” na contestação. Isso
porque, apesar da palavra “alegados”, continua-se passando a ideia do
reconhecimento da existência dos danos.

• “Já devidamente qualificado(a) nos autos em epígrafe”


Em primeiro lugar, uma curiosidade: as palavras “preâmbulo” (campo da
peça no qual a estrutura do título está inserida) e “epígrafe” são termos oriundos
da técnica legislativa.
Preâmbulo é a parte da lei que traz a instituição competente para a prática
do ato legal. Por exemplo: “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:”. Daí chamarmos de
“preâmbulo” a parte inicial da peça em que escrevemos o nome das partes,
também em caixa-alta: “JOÃO DA SILVA, solteiro, empresário... vem, por meio
do seu procurador...”.
A epígrafe representa o número e o ano de promulgação de uma lei. Vem
escrita desta forma: “LEI N. 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995”.
Analogicamente, chamamos de “epígrafe” a parte inicial da peça em que apomos
o número dos autos acompanhado da palavra “autos” e/ou do nome da ação ou
do recurso. Assim:

“Autos n. 405332-34.2018 [esta linha é a epígrafe]


Autor: Marcos de Souza
Réu: Maria da Silva"

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“Apelação Cível n. 494838445.2017” [epígrafe]

A estrutura “já devidamente qualificado nos autos em epígrafe” significa que


a qualificação da parte está em alguma peça anterior dos mesmos autos AOS
QUAIS FAZ REFERÊNCIA A EPÍGRAFE DA PEÇA EM QUESTÃO, de modo
que não há necessidade de trazer a qualificação novamente. Mas, cuidado, se
se tratar, por exemplo, de contestação, está incorreto escrever “autos em
epígrafe” se no início da própria peça de defesa não constar o número dos autos.
E como vejo isso acontecer! escreve-se “autos em epígrafe” sem a respectiva
peça trazer epígrafe nenhuma. Muitas vezes emprega-se “autos em epígrafe”
com o sentido de “autos em questão”. Está errado.
Portanto, sempre que usarem a estrutura “... já devidamente qualificado nos
autos em epígrafe”, estejam certos de que o número dos autos realmente conste
no início da peça em que a estrutura está sendo usada. Em outras palavras, se,
por alguma razão, vocês não colocarem epígrafe na peça, não podem nela
escrever “autos em epígrafe”.
Uma dica para nunca errar é escrever “já devidamente qualificado nos
autos”, sem o “em epígrafe”.

• Coisas que irritam o leitor da sua peça


1 Parágrafos muito pequenos ou muito grandes
Não existe regra fixa, mas geralmente bons parágrafos contêm de três a
seis, sete linhas.
2 Muitos destaques
Não faça muitos negritos, sublinhados, itálicos. Isso enfeia demais o texto.
Apenas destaque o que for importante. E lembre-se: se tudo é importante, nada
há para ser destacado.
3 Recuos desproporcionais
O tamanho normal de recuo da margem esquerda para citações é de 4
cm. Fazer recuo de 6, 7, 8 cm é abusar da paciência do leitor (ainda mais se vier
negritado, como é normal acontecer).
4 Uso de iniciais maiúsculas sem necessidade
Isso é uma chateação. Retire todas as maiúsculas de “... o Autor interpôs
Apelação questionando o Laudo Pericial elaborado...”.

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5 Uso de exclamação
Polui o texto. Se quiser usar exclamação, use uma apenas. Portanto, se for
escrever “Isso é um absurdo!”, escreva assim mesmo, e não “ISSO É UM
ABSURDO!!!!!”. O mesmo raciocínio se aplica ao ponto de interrogação.
6 Uso exagerado de travessões
O travessão — que muitos confundem com o traço — e com a vírgula —
deve ser usado com muita parcimônia. Meu conselho é que — quase nunca —
seja usado, pois confunde a leitura — e também polui o texto.
7 Notas de rodapé
Não use. Deixe as notas de rodapé, com referências doutrinárias e
jurisprudenciais, para os trabalhos científicos. Em peças jurídicas faça
referências dentro do próprio texto, entre parênteses.

• A importância do ritmo nas frases


A qualidade do texto das peças de vocês vai depender, sobremaneira, do
ritmo que impõem a ele.⠀
Ao contrário do que se possa imaginar, ritmo não tem a ver com
uniformidade ou repetição, mas com diversidade: diversidade de sons, de
tamanho das frases e de arranjo das palavras. Como vocês verão abaixo, a
uniformidade, a repetição, deixa o texto enfadonho, entediante; por outro lado, a
diversidade, o ritmo, faz com que o texto fique gostoso de ser lido. Quando nossa
escrita possui ritmo, o leitor se prende a ela, do início ao fim.
Vocês podem começar a estabelecer ritmo no texto evitando nele
sequências de palavras polissílabas, pois isso reduz a velocidade da leitura,
deixando-a cansativa. Reparem:
“O recorrente argumenta que a probabilidade do provimento do recurso se
consubstanciaria na indevida exposição de informações sigilosas da sociedade
empresarial”.
Notaram? A repetição de polissílabas torna o texto maçante, sem ritmo.
Outro fator que provoca ausência de ritmo é a repetição de sons
(ento/ente/ão/ado/ada etc.) no fim de palavras próximas umas das outras.
Percebam como fica ruim:

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“Esta Corte tem o entendimento de que não constitui impedimento ao
deferimento da tutela o perigo de irreversibilidade da medida”.
“Não pode haver a transformação da denunciação em instrumento de
denegação de justiça àquele alheio à relação da garantia”.
“Intimada, a agravada requereu a manutenção da decisão impugnada”.
Uma dica para impor ritmo ao texto é começar períodos com o predicado
quando ele for muito menor que o sujeito. Vejam:
“Isso porque a sentença prolatada nos autos da ação declaratória de
inexistência de consolidação da propriedade com pedido de tutela antecipada é
nula”.
Observem como fica melhor assim, com o predicado na frente:
“Isso porque é nula a sentença prolatada nos autos da ação declaratória de
inexistência de consolidação da propriedade com pedido de tutela antecipada”.
Outra dica, decorrente dessa, é deixar os maiores trechos das frases para
o fim. Notem como o segundo período, ao observar isso, apresenta muito mais
ritmo do que o primeiro:
“Defendeu a desnecessidade de observância plena do contraditório no
procedimento levado a termo no Tribunal de Contas do Estado e a validade do
ato administrativo”.
“Defendeu a validade do ato administrativo e a desnecessidade de
observância plena do contraditório no procedimento levado a termo no Tribunal
de Contas do Estado”.
Finalmente, uma excelente técnica para impor ritmo ao texto é abrir
parágrafos com expressões do tipo “Pois bem” seguidas de ponto, ou com frases
como “É evidente que a pretensão do autor não merece prosperar”/“O recurso
não deve ser provido” (essas frases proporcionam ainda mais ritmo quando em
parágrafo único). Isso porque expressões e frases do gênero acarretam quebra
no padrão linear da escrita e, consequentemente, dão ritmo ao texto. Mas não
abusem dessa técnica; utilizem-na somente quando sentirem que o texto da
peça está meio engessado, seco, precisando de um respiro, se é que vocês me
entendem.
Problemas relacionados a ritmo são facilmente constatados quando lemos
nossas peças em voz alta. Adquiram, portanto, esse hábito! Falando nisso,
percebam que na oração anterior eu trouxe o "portanto" entre vírgulas. Fiz isso

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propositalmente, pois conjunções como "portanto", "todavia", "porém" e
"entretanto" têm esse poder de, quando entre vírgulas, também conferir ritmo ao
texto.

• “Requerer” ou “realizar requerimento”?


Por ser forma mais concisa e objetiva, use apenas o verbo quando ele, por
si só, conseguir expressar a ideia que você quer transmitir.
Assim, é preferível “requerer”, “pagar”, “nomear” a “efetuar/fazer/realizar
requerimento”; “efetuar/fazer/realizar pagamento”; “efetuar/fazer/realizar
nomeação”.
Por isso, escreva:
“A parte tem direito à gratuidade da justiça quando não possui condições
de pagar as despesas processuais sem prejuízo próprio e de sua família”.
E não:
“A parte tem direito à gratuidade da justiça quando não possui condições
de efetuar o pagamento das despesas processuais sem prejuízo próprio e de
sua família”.
Seguindo esse raciocínio, prefira as formas verbais às nominais em
construções como:
“Cabe ao juiz determinar as provas necessárias à instrução do processo”.
E não:
“Cabe ao juiz a determinação das provas necessárias à instrução do
processo”.

• Pode-se empregar o tempo presente e passado na mesma peça, no


mesmo parágrafo?
A fim de responder a essa pergunta, imaginemos que a seguinte
construção esteja no relatório do acórdão, na contestação ou na apelação:
“João da Silva ajuizou ação de indenização contra Pedro da Costa
(autos n. 98.567.777).
Sustenta que no dia 23-7-2017 transitava pela avenida Getúlio
Vargas quando a motocicleta conduzida pelo réu colidiu com o seu
automóvel, causando os danos discriminados às fls. 10-11.

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Assevera que buscou pessoalmente com o réu o ressarcimento dos
danos, contudo não teve êxito, de forma que outra saída não teve a
não ser o ajuizamento da presente demanda.
Requereu, ao fim, a condenação do réu ao pagamento da quantia
de R$ 6.500,00 a título de indenização pelos danos materiais
sofridos.”
Veja que no primeiro parágrafo há o verbo “ajuizar” no passado; no
segundo parágrafo o verbo “sustentar” no presente; no terceiro, “asseverar” no
presente; e, no último, o verbo “requerer” no passado.
Essa “mistura” de tempos verbais é possível?
Sim, é possível e está corretíssima! Apesar de se estar referindo a fatos
que já aconteceram, o tempo presente no segundo e terceiro parágrafos
denomina-se “presente histórico”, isto é, a FORMA é de tempo presente mas o
SENTIDO é de passado.
É claro que em vez de “sustenta” e “assevera” poder-se-ia escrever
“sustentou” e “asseverou”. Isso não impede, todavia, a forma no presente
(presente histórico).
Interessante que a FORMA verbal no presente pode ser às vezes usada
até mesmo para indicar ação futura, como se observa na seguinte passagem:
“Portanto, remetam-se os autos à origem, onde o réu, querendo, PODE (ou
‘poderá’) arguir a nulidade em tela”.

• Paragrafação. Quando abrir e fechar parágrafos


Para início de conversa, o entendimento de que todo parágrafo deve conter
tópico frasal (ideia central a que se juntam outras, secundárias) não
necessariamente se aplica à redação de peças jurídicas. Isso porque a intenção
de quem redige uma petição inicial, uma contestação, uma sentença ou um
acórdão é sempre a de convencer o leitor, e, para ajudar nessa tarefa, a redação
dessas peças deve ser clara, agradável e esteticamente limpa.
Nesse aspecto, o mais eficaz em termos de organização textual é a
elaboração de “parágrafos fragmentados”, nos quais a ideia central não é
desenvolvida em um parágrafo, mas em vários pseudoparágrafos (parágrafos
apenas na forma), como ocorre na seguinte passagem:
“A pretensão do autor não merece prosperar.

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Isso porque, conforme demonstram as imagens das telas do
sistema anexadas aos autos, o fornecimento de energia elétrica foi
efetivamente contratado.
Saliente-se que, mesmo em se tratando de relação de consumo,
com a inversão do ônus da prova, é de incumbência da parte autora
comprovar suas alegações, o que não ocorreu in casu.
Ademais, se o demandante não reconhece a dívida é porque os
débitos são provenientes de atuação fraudulenta, de forma que
também pode incidir na hipótese a excludente de responsabilidade
por fato exclusivo de terceiro.
De qualquer sorte, demonstrada a contratação do fornecimento de
energia elétrica, a inscrição do nome do autor em órgão de proteção
ao crédito constituiu exercício regular do direito da ré.”
Notem que pelas regras de paragrafação de textos em geral, esses cinco
parágrafos deveriam ser reduzidos a apenas um: o primeiro constituiria o tópico
frasal, e os demais o desenvolvimento dele.
A passagem acima retrata, todavia, trecho de uma peça jurídica, o que faz
com que seja inteiramente possível, e até mesmo aconselhável, a divisão
paragrafal feita, porque torna mais clara e argumentativa a mensagem
transmitida.
A noção de parágrafo é, antes de tudo, visual. A forma do parágrafo, com
recuo maior na primeira linha, por si só já é carregada de significação. Indica que
o escritor quer, com aquele pedacinho de texto, destacar informação importante.
Então fazendo vários parágrafos em vez de somente um o escritor passa para o
leitor a ideia de que todo o texto é relevante.
Em matéria de paragrafação, siga estas três dicas:
▪ Abra parágrafos com frequência, sim, mas não aleatoriamente (não vá
você, por exemplo, na passagem citada acima, juntar os dois últimos parágrafos
e deixar separados os primeiros. Ou separa ou junta! Vimos que melhor é
separar).
▪ É mito o entendimento de que a existência de mais de um período no
parágrafo é condição para a abertura de outro. É muito frequente, por exemplo,
e está correto um parágrafo trazer apenas frases como: “Pois bem.”, “Esse é o
relatório.”, “O recurso, adianta-se, não merece ser conhecido.” etc. É bem

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verdade que o comum é a construção de mais de um período no parágrafo, mas
isso nem de longe constitui uma regra em se tratando de redação de peças
jurídicas.
▪ Elementos de coesão como “portanto”, “em relação a”, “além disso”,
“outrossim”, “em linhas gerais”, “nesse sentido”, “por tais razões”, “por outro
lado”, “como visto” e seus sinônimos podem sugerir abertura de parágrafo. ⠀⠀
Considerando que há muitos casos (diria que são a maioria) em que você
já naturalmente abre parágrafos de forma correta, espero que com essas dicas
a questão da paragrafação passe a ser uma pedra a menos na sua escrita.

• Técnicas argumentativas
- Nominalização
“Nominalização” é o nome dado ao processo de formação de substantivos
abstratos a partir de adjetivos e verbos. Exemplos de nominalização a partir de
adjetivos: literal-literalidade, gratuito-gratuidade, formal-formalidade, rico-
riqueza. Exemplos de nominalização a partir de verbos: doar-doação, cercear-
cerceamento, planejar-planejamento, deferir-deferimento.
Autores que versam sobre argumentação recomendam o não uso de
nominalizações em alguns casos sob o fundamento de que dificultam a leitura.
Ocorre que a técnica da nominalização, especialmente da nominalização a
partir de verbos, pode ser bastante útil para obscurecer a participação do agente
na ação verbal.
Observem a seguinte frase:
“O representante do Ministério Público sustenta que o acusado furtou um
aparelho celular de um transeunte e, após, adentrou no estabelecimento da
vítima e roubou uma garrafa de uísque”.
Essa maneira de escrever com o uso de verbos (“furtou”, “adentrou”,
“roubou”), que cabe muito bem no relatório de uma sentença, pode não ser lá
muito apropriada em uma peça defensiva, na qual, como advogados, vocês
devem obscurecer a participação do seu cliente.
Vejam que, se o objetivo é a defesa do réu, a frase fica bem melhor assim
(usando a técnica da nominalização):

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“O representante do Ministério Público sustenta que houve um furto de
aparelho celular de um transeunte e, após, no estabelecimento da vítima, um
roubo de uma garrafa de uísque”.
Observem que, estando a frase escrita dessa maneira (com nominalização:
“furto”, “roubo”), o foco recai mais no fato em si do que no agente, que fica, assim,
obscurecido, dando-se melhor margem, por exemplo, à tese de negativa de
autoria do crime. Mas atenção: essa técnica deve ser usada com moderação,
pois nominalizações em excesso realmente dificultam a leitura.

- Deixar para último o que é mais importante


Para o funcionamento dessa técnica, conectores como “aliás”, “além disso”,
“não bastasse isso” e “por sinal” são de enorme valia. Vou mostrar como ela
funciona na prática.
Vamos supor que vocês tenham de interpor agravo de instrumento contra
decisão que deferiu, em autos de recuperação judicial, pedido da empresa
recuperanda de prorrogação do prazo de suspensão de todas as ações e
execuções contra ela.
Pois bem. A fim de sustentarem o cabimento do recurso, vocês podem
começar dizendo que, apesar de nem a Lei de Recuperação Judicial nem o CPC
trazerem previsão de agravo de instrumento contra tal conteúdo decisório, o caso
de vocês não pode esperar até o julgamento de possível apelação (e expliquem
por que não pode esperar).
No parágrafo seguinte, vocês podem argumentar que recentemente o STJ
decidiu pela interpretação extensiva do art. 1.015 do CPC para nele incluir
hipóteses em que a questão discutida na decisão agravada tenha de ser
resolvida antes da prolação da sentença.
E é agora que entra a técnica do “deixar para último o que é mais
importante”. Iniciando o próximo parágrafo com um “Não bastasse isso”, vocês
introduzirão aquele que na verdade é o argumento principal: que, em também
recente decisão (REsp n. 1.722.866), o STJ assentou que, em demandas que
versam sobre recuperação judicial, é aplicado de forma analógica o parágrafo
único do art. 1.015 do CPC para permitir a interposição de agravo de instrumento
também para esses casos.

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Pronto. Quando vocês fazem isso, isto é, quando trazem o argumento mais
forte de todos no fim, precedido de conectores como “Não bastasse isso”, o leitor
meio que se vê obrigado a acatar a tese que estão sustentando. É como se esse
argumento derradeiro fechasse um círculo no raciocínio dele, em um caminho
sem volta.

- Verbo descomprometido
Essa técnica ocorre quando relatamos alguma coisa que a outra parte disse
que aconteceu, sem, todavia, reconhecermos que de fato aconteceu. O “verbo
descomprometido” vem sempre no futuro do pretérito.
Suponhamos, por exemplo, que a frase abaixo esteja na contestação de
vocês:
“O autor alegou que o réu comprou o celular por valor extremamente baixo,
sem exigir nota fiscal nem o carregador do aparelho”.
Vocês, como advogados do réu, não podem escrever assim! Vejam como
a frase “puxa” mais para o lado do seu cliente com o “comprar” no futuro do
pretérito:
“O autor alegou que o réu TERIA COMPRADO o celular por valor
extremamente baixo, ...”.
Admitamos novamente que vocês são advogados do réu e escrevem a
seguinte frase na contestação:
“A autora sustenta que o réu está praticando alienação parental, razão por
que pleiteia a diminuição das visitas para que estas ocorram apenas uma vez
por mês”.
Quando vocês escrevem “ESTÁ praticando alienação parental”, podem
acabar incutindo na cabecinha do juiz que seu cliente realmente praticou a
alienação. Esse é o problema, e é aqui que entra a técnica do verbo
descomprometido.
Reparem como fica melhor:
“A autora sustenta que o réu ESTARIA praticando alienação parental, razão
por que pleiteia ...”.

- “Não-dizer-já-dizendo”

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Por meio desta técnica, dizemos ao leitor que não afirmaremos nada, mas
já afirmando, dando a ele uma informação em segundo plano de forma
aparentemente despretensiosa, que justamente por isso ganha importância no
contexto frasal.
Vejam, por exemplo, a seguinte construção:
“O apelante nem precisa mencionar o fato de que, se tivesse agido de má-
fé, também o teria a apelada, já que esta não propôs o acordo contemplando a
solução apresentada na contestação”.
Ao dispor que “o apelante nem precisa mencionar”, o redator já está
mencionando, e com isso a “informação não mencionada” assume relevância
dentro do texto.
Mais exemplos (a técnica do Não-dizer-já-dizendo está entre colchetes):
“[A ré poderia apontar vários fatores que depõem contra o autor, como sua
habitual bebedeira, seus frequentes atrasos nas reuniões da empresa ou sua
péssima administração nos últimos dois anos. Mas não;] prefere se ater aos
contornos da lide tais como expostos na inicial”.
“No presente caso, é patente a ausência de perigo de dano processual apto
à concessão da tutela provisória, [sem dizer que nas razões do agravo os
recorrentes nem sequer apontaram o fumus boni juris]”.
Conseguiram perceber? Mas, cuidado: essa técnica, que geralmente vem
em um único parágrafo, serve apenas como um “plus” persuasório. Portanto, é
evidente que vocês não devem usá-la quando tiverem de sustentar argumentos
importantes. Se, por exemplo, forem defender tese única de legítima defesa,
nada de escreverem “nem é preciso mencionar que o acusado agiu em legítima
defesa”. Não! Se fizerem isso, é perda de causa na certa! Teses desse tipo não
raro exigem páginas e páginas de argumentação, para o que a técnica Não-
dizer-já-dizendo, por conseguinte, não tem nenhuma utilidade.

• O papel do artigo definido na argumentação


Observem a seguinte frase:
“A parte apelante sustenta O cerceamento de defesa em razão do
julgamento antecipado da lide”.

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Vejam que quando usamos o artigo definido passamos meio que uma ideia
da existência incontroversa do substantivo a que ele se refere. Notem como a
frase fica melhor sem o artigo:
“A parte apelante sustenta cerceamento de defesa em razão do julgamento
antecipado da lide” (a parte apelante sustenta; não quer dizer que haja
cerceamento, por isso é melhor sem o artigo).
Seguem esse mesmo raciocínio:
“Em prequestionamento, a demandada pede que a Câmara se manifeste a
respeito dA violação aos arts. 757 e 760 do Código Civil”.
Se escrito assim, com o artigo definido, dá-se mais ou menos a entender
que houve violação, o que não é o caso.
Corrigir para:
“Em prequestionamento, a demandada pede que a Câmara se manifeste a
respeito de violação aos arts. 757 e 760 do Código Civil” (“de”, sem o artigo).
“Deve ser afastada, portanto, a preliminar de nulidade da sentença pelO
vício de citra petita”.
Se escrevemos “pelO vício”, corremos o risco de passar ao leitor a ideia de
que o vício existiu; apenas deve ser afastado.
Corrigir para:
“Deve ser afastada, portanto, a preliminar de nulidade da sentença por vício
de citra petita” (“por”, sem o artigo definido).
Ou, ainda:
“Deve ser afastada, portanto, a preliminar de nulidade da sentença, pois
ausente o vício de citra petita”.
Ainda sobre essa frase, notem que o artigo “a” de “a preliminar” e o “dA” de
“da sentença” estão bem colocados, pois de fato definem, apontam para algo
que já vem sendo tratado nos autos (preliminar) ou para algo já conhecido do
leitor (sentença).

• Deslocando elementos de coesão para tornar a peça mais agradável


Em regra, as conjunções são bastante flexíveis; podem ser deslocadas pelo
texto com certa facilidade. As conjunções não precisam ficar grudadas no início
do período. “Não precisam”, não: muitas vezes NÃO DEVEM ficar grudadas.
Vejam, por exemplo, a seguinte construção:

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“É sabido que o habeas corpus também se presta para livrar aquele
que se encontra em cárcere privado. PORÉM, é igualmente sabido
que esse instrumento não admite dilação probatória. DESSE MODO,
incumbe ao impetrante o ônus de demonstrar previamente os fatos
constitutivos do direito invocado em favor do paciente. TODAVIA, no
presente caso o impetrante não apresentou prova da alegada coação.
ASSIM, impõe-se a denegação da ordem.”
Reparem que as conjunções estão todas no início do período, dando assim
ao leitor a impressão de que ele está sendo guiado pelo texto como um robô, de
modo meio forçado. Ninguém gosta de ler um texto assim!
Observem agora como a simples posposição de algumas conjunções
deixa a leitura muito mais agradável:
“É sabido que o habeas corpus também se presta para livrar aquele
que se encontra em cárcere privado. É igualmente sabido, PORÉM,
que esse instrumento não admite dilação probatória. DESSE MODO,
incumbe ao impetrante o ônus de demonstrar previamente os fatos
constitutivos do direito invocado em favor do paciente. No presente
caso, TODAVIA, o impetrante não apresentou prova da alegada
coação. ASSIM, impõe-se a denegação da ordem.”
Melhorou muito, né? “Brincando” com as conjunções, deslocando-as no
texto, guiamos o leitor de maneira prazerosa, sem que ele o perceba, facilitando
até mesmo sua aderência às teses que estamos apresentando.

• O vício do “queísmo”
Coisa terrível, que realmente incomoda o leitor, é uma peça com frases
cheias de “quês”, um perto do outro (o chamado “queísmo”).
Leiam a seguinte frase:
“A apelante disse que é nula a sentença por falta de fundamentação e que
a apelada, que foi revel, é responsável pelo vício que está presente no acordo
que efetuou com o banco”.
Notaram como a construção está ruim? como o monte de “quês” tornou o
texto infantilizado?

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▪ A primeira dica para resolver problemas de “queísmo” nas peças é tentar
substituir o “que” por “o(s) qual(is)”, “a(s) qual(is)”. A substituição é possível
quando se tratar de oração explicativa.
▪ A segunda dica é dividir o período, fazendo, se preciso, adaptações no
texto. Assim, em vez de escreverem “o autor afirma que... e que não há”, vocês
podem escrever “o autor afirma que... . Sustenta, ainda, a ausência...”.
▪ A terceira dica é usar verbo no infinitivo ou uma forma adjetivada. Em vez
de “o autor disse que o réu é”, escrevam “o autor disse ser o réu”; em vez de “réu
que interpôs apelação”, “réu apelante”.
Aplicando-se essas dicas naquela frase que apresentei inicialmente, vejam
como a construção fica bem melhor:
“A apelante disse ser nula a sentença por falta de fundamentação. Afirmou,
ainda, que a apelada, a qual foi revel, é responsável pelo vício no acordo
efetuado com o banco”.
Percebam que, a rigor, eu nem precisaria substituir o “disse que é nula” por
“disse ser nula”, pois se mantido aquele “que” ele ficaria distante do outro,
descaracterizando o “queísmo”. Só fiz a substituição para vocês verem que ela
é possível.

• Plágio e paráfrase
Primeiramente, é interessante constatar que existe por parte de alguns a
mania, quase doentia, de nunca repetir palavras do texto original ao se referir a
peças jurídicas.
Ora, o que consta de uma petição inicial, de uma contestação ou de uma
sentença não é protegido por direitos autorais, de modo que, nesses casos, não
há falar em plágio.
Suponhamos que o seguinte texto conste de uma petição inicial: ⠀
“O requerido promoveu em desfavor do requerente protesto de
duas notas promissórias, baseado em dívida quitada, motivo pelo qual
deve ser condenado a compensar o dano moral sofrido”.
Se fizermos referência a esse texto em uma contestação, por exemplo,
podemos, sem cometer plágio, fazer a seguinte construção:

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O autor sustenta que o réu promoveu em seu desfavor protesto de
duas notas promissórias, baseado em dívida quitada, motivo pelo qual
deve ser condenado a compensar o dano moral sofrido.
Isso mesmo. Não há problema algum em repetirmos no nosso texto as
mesmas palavras do texto a que fazemos referência. Não há nem necessidade
das aspas!
Claro que quando transcrevemos, ipsis litteris, um texto mais longo de uma
peça jurídica, o uso das aspas é de bom tom. Não vamos também fazer do nosso
texto pura cópia do texto alheio.
Podemos incorrer em plágio propriamente dito quando transcrevemos
lições doutrinárias. Estas, sim, protegidas por direitos autorais. Nessas
hipóteses, siga as seguintes dicas:
- Se for transcrever literalmente a doutrina no seu texto, comece e termine
com aspas; caso contrário haverá plágio. Simples assim.
- Não há plágio se a paráfrase for muito mais curta do que o texto original.
- Se conseguimos parafrasear sem ter diante de nossos olhos o texto
original, não há plágio.
- Configura falsa paráfrase (plágio) a simples troca de palavras do texto
original por sinônimos.
- Se você não quiser parafrasear mas ao mesmo tempo quiser fugir do
plágio, uma opção é fazer paráfrase quase textual, isto é, intercalar texto próprio
com texto entre aspas. Assim:
Segundo o doutrinador, “.....”. Isto é, para haver cerceamento de defesa,
“.....”. Assim, “.....”.

• Evitando repetição de palavras


O assunto é o problema de repetição de palavras ou expressões no texto,
umas próximas das outras.
Leiam a construção abaixo:
“Preliminarmente, requer a agravante lhe seja concedida a
gratuidade da justiça.
Na origem, a gratuidade da justiça lhe foi indeferida e a agravante
foi intimada para recolher o preparo sob pena de cancelamento da
distribuição do feito.

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Como é sabido, a gratuidade da justiça se estende às pessoas
jurídicas com insuficiência de recursos para arcar com as despesas
processuais.
Assim, para a concessão da gratuidade da justiça, a pessoa jurídica
deve juntar aos autos documentos que demonstram a necessidade da
concessão da gratuidade da justiça.”
Gratuidade da justiça, gratuidade da justiça, gratuidade da justiça... parece
texto de criança!
Problema de repetição de palavras ou expressões é bastante frequente em
peças jurídicas. A verdade é que é muito fácil incidir nele, pois, quando
escrevemos, nosso cérebro retém a informação recente, de modo que a
probabilidade de a utilizarmos novamente no texto é grande. Por isso a
importância da revisão. Apenas revisando a peça é que constataremos esse tipo
de problema, que para resolver é simples: basta usar sinônimos, pronomes,
omitir a palavra ou a expressão repetida, ou rescrever a passagem.
Notem como fica melhor:
“Preliminarmente, requer a agravante lhe seja concedida a
gratuidade da justiça.
Na origem, O BENEFÍCIO lhe foi indeferido e a agravante foi
intimada para recolher o preparo sob pena de cancelamento da
distribuição do feito.
Como é sabido, a gratuidade da justiça se estende às pessoas
jurídicas com insuficiência de recursos para arcar com as despesas
processuais.
Assim, para SUA concessão, a pessoa jurídica deve juntar aos
autos documentos que lhe demonstram A HIPOSSUFICIÊNCIA.”
Criem o hábito de revisar as peças. Evitem fazer textos infantis!

• Nem bajulação, nem arrogância: apenas trate seu leitor com respeito
Há algum tempo deparei-me com dois parágrafos de peças recursais que
me levaram a fazer a presente observação.
O primeiro parágrafo é este. Reparem no elogio exagerado ao juiz:
“Mesmo tendo o autor demonstrado os requisitos para concessão da tutela
provisória, o ilustre Magistrado a quo, que tanto orgulha a Magistratura

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Catarinense e serve de exemplo de sapiência jurídica à Magistratura Nacional,
se manifestou nos autos no seguinte sentido:”.
Que “nhem-nhem-nhem” sem noção! Pra que isso?! E o pior é que o
advogado não sabe nem elogiar (ou puxar o saco, como queiram), porque o
elogio, de tão exagerado (“exemplo de sapiência jurídica à Magistratura
Nacional”?), tomou um sentido irônico, não sei se proposital.
O segundo parágrafo é este:
“Ao contrário do que decidido em primeiro grau, não se aplica ao caso o
art. 507 do CPC, pois, COMO QUALQUER OPERADOR JURÍDICO SABE,
matéria de ordem pública em fraude à execução não preclui.”
Para que chamar, por tabela, o juiz de ignorante? Vão me desculpar, mas
ignorante é o advogado que faz isso. Respeito acima de tudo. Todos os sujeitos
processuais, incluindo, portanto, o juiz, devem ser tratados com urbanidade. Se
não for por uma questão de respeito, que seja por estratégia. O juiz que agora é
chamado de ignorante poderá ser aquele que analisará o próximo caso de vocês.
Então cuidado com o que escrevem. Ao contrário da fala, que é efêmera, a
escrita fica marcada nos autos para sempre.
Outra coisa. A seara recursal não é bem o lugar para vocês ficarem fazendo
ironias ou puxando a orelha do juiz, mas para atacarem, tecnicamente, a decisão
recorrida. Têm dúvidas sobre a competência intelectual do magistrado?
Desabafem numa mesa de bar, entre amigos. É mais inteligente e mais bonito.

• A polifonia em peças jurídicas e a importância de sua compreensão


Diz-se que um texto é polifônico quando nele aparecem várias vozes (poli
= muitas; fonia = voz), e “vozes” no sentido de “textos”. Quando um autor cita
outro, por exemplo, temos caso de polifonia textual.
A polifonia ou intertextualidade é uma das características dos textos
jurídicos, principalmente das peças. Numa sentença, ao narrar no relatório as
principais ocorrências havidas no processo, o juiz não raro é obrigado a se valer
da polifonia, consignando os argumentos das partes. Vejam:
“Na contestação, o réu sustentou que o terreno foi invadido no ano de
1999...”.
Reparem que quando o juiz escreve na sentença um argumento da parte,
ele está trazendo outra voz, outro texto para dentro do seu próprio texto. Na frase

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acima, está trazendo o texto da contestação para dentro do texto da sentença.
Daí se falar em polifonia.
Peças elaboradas por advogados geralmente também são textos
polifônicos. Basta pensar que, ao apresentar uma defesa, o procurador do réu
obrigatoriamente tem de fazer referência ao que foi dito pelo causídico do autor
na petição inicial (outro texto). Por exemplo:
“Falta com a verdade o autor quando alega que não contratou os serviços
que lhe foram prestados...”.
Em peças jurídicas, a polifonia ou intertextualidade é representada muito
mais por paráfrases do que por citações diretas. Assim, o redator tende a fazer
períodos compostos por subordinação com orações substantivas desenvolvidas
e, portanto, com a conjunção integrante “que” (alegou QUE, disse QUE, sustenta
QUE), estrutura a qual, se não for prestada bastante atenção, pode acarretar
falta de clareza ao texto e, tratando-se de peças de advogados, vir até a
prejudicar a parte, pois muitas vezes nos esquecemos de repetir o “que” ou uma
estrutura com ele na continuação da frase, ou repetimos a conjunção
inadequadamente, deixando o texto obscuro ou com o chamado “queísmo”.
▪ Leiam o seguinte trecho de uma contestação:
“O autor sustenta que o réu deixou de pagar alimentos em 2017. Ademais,
o réu é sócio de uma grande empresa de tecnologia, de modo que possui, sim,
condições de pagar os alimentos no valor que fora fixado.”
Até “2017” não há nada de errado. Mas na continuação parece que o réu
está depondo contra si próprio, dizendo que é sócio de uma grande empresa e
que tem, portanto, condições de pagar os alimentos. Para corrigir, basta fazer
novamente uma construção com “que”. Assim: “Ademais, alega que o réu é
sócio...”.
▪ Semelhante problema ocorre na frase abaixo. Reparem a falta de “que”
antes de “o INSS”:
“A ré alegou que recebeu indenização do seguro obrigatório e o INSS lhe
concedeu auxílio-doença desde a data do acidente até 11-8-2009.”
▪ Agora leiam esta frase:
“A ré declarou que seu marido é aposentado e que percebe proventos de
aproximadamente R$ 3.000,00.”

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O “que” antes de “percebe” está sobrando, pois quem percebe proventos
não é a ré (a repetição do “que” leva a esse entendimento), mas o seu marido.
▪ Estruturas polifônicas podem igualmente levar à repetição de “quês”,
dando azo ao indesejado “queísmo”.
Notem:
“O agravante afirmou que apresentou documentação que comprova que é
agricultor e que não possui bens imóveis em seu nome.”
Que, que, que, que... Isso irrita o leitor. Para eliminar o queísmo, uma dica
é transformar em reduzidas de infinitivo as orações substantivas desenvolvidas:
“O agravante afirmou ter apresentado documentação que comprova ser
agricultor e não possuir bens imóveis em seu nome.”
Portanto, atentem-se para as estruturas polifônicas. Revisem as peças! É
na revisão que conseguirão ver se há “que” sobrando ou faltando.

• Cuidado: ementa não é precedente


Ementas de acórdãos não são “precedentes”, “jurisprudência” nem
“julgados”. Por mais que reflitam uma decisão colegiada, ementas são apenas
um resumo, isto é, não trazem a razão de decidir do julgamento, a qual aparece
apenas na fundamentação do acórdão, motivo pelo qual elas não podem ser
confundidas com aqueles termos.
Portanto, ao transcreverem ementas de acórdãos nas peças, redijam o
parágrafo introdutório assim, por exemplo:
“Nesse sentido, colhem-se julgados/precedentes do Superior Tribunal de
Justiça, representados pelas seguintes ementas:”
Reparem que se não fizerem construções como a que aparece na parte
final (“representados pelas seguintes ementas”), seu leitor pensará que você não
sabe a diferença entre ementa e julgado/precedente, pois o texto ficaria assim:
“Nesse sentido, colhem-se julgados/precedentes do Superior Tribunal de
Justiça:”, o que, repito, não é correto, porque ementas são apenas resumos; não
se confundem com “julgados” nem com “precedentes”.
O parágrafo introdutório pode, claro, ser redigido de outras maneiras:
“Conforme se infere da ementa do acórdão relativo à Apelação Cível n. ...”
(em vez de “Conforme se infere do seguinte precedente”).

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“Essa compreensão se coaduna com o entendimento inserto na ementa do
acórdão a seguir transcrita:”
E não pensem que se preocupar com isso – em não confundir precedente,
julgado e jurisprudência com ementa – é preciosismo. Quando vocês dão valor
a detalhes como esse, suas peças aos poucos vão adquirindo credibilidade, e o
leitor pode, assim, acabar aderindo mais facilmente às teses que defendem.
Acreditem, isso pode fazer toda a diferença no final.

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