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ADVOGADOS
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COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAL
Escrever com correção é um procedimento argumentativo, ou seja, o uso de um certo padrão de linguagem concorre
para aumentar ou diminuir o poder de persuasão daquele que escreve.
(Platão e Fiorin)
O que é coerência?
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O que é coesão?
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ALGUNS ELEMENTOS DE COESÃO
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⚫ Abaixo há segmentos textuais separados por ponto. Estabeleça entre os
segmentos o tipo de relação que lhe parecer compatível, usando para isso os
elementos de coesão adequados e fazendo as adaptações que forem
necessárias.
4) O juiz pode assumir uma posição ativa, que lhe permite, entre outras
prerrogativas, determinar a produção de provas. O juiz tem de fazer isso de
forma imparcial.
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8) Os direitos trazidos à baila e que aguardam deste Sodalício a sua efetivação
são de ordens distintas. Ambos, patrimônio e saúde, são tutelados pela
Constituição Federal.
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mas não é um caso comum, por isso o diagnóstico de apendicite é difícil” (fl.
484). Enfatizou o depoente que o abdômen da ré estava flácido e sem sinais de
abdômen agudo cirúrgico.
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O EMPREGO DO GERÚNDIO
se (+ verbo)
quando (+ verbo)
embora (+ verbo)
conquanto (+ verbo)
já que (+ verbo)
uma vez que (+ verbo)
porque (+ verbo)
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• O gerúndio pode ser utilizado para expressar o modo como ocorre a ação
descrita no verbo anterior ou posterior.
“Irresignado, o réu apelou reiterando as preliminares bem como os
argumentos relativos ao mérito.” (correto)
“Irresignado, o réu interpôs apelação, na qual reiterou as preliminares bem
como os argumentos relativos ao mérito.” (correto)
“Irresignado, o réu interpôs apelação, reiterando as preliminares bem como
os argumentos relativos ao mérito.” (evite)
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Às vezes o “sendo que” pode, a depender do sentido, ser trocado por “de
modo que”, “de forma que”, introduzindo uma oração consecutiva:
“Para a concessão da tutela de urgência é necessária a presença
cumulativa da fumaça do direito e do perigo da demora, sendo que a ausência
de qualquer dos requisitos obsta o deferimento.” (errado)
“Para a concessão da tutela de urgência é necessária a presença
cumulativa da fumaça do direito e do perigo da demora, de modo que a ausência
de qualquer dos requisitos obsta o deferimento.” (correto)
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⚫ Corrija, se for necessário, as seguintes frases no que tange
principalmente ao uso do gerúndio:
21) A agravante alega que a decisão de primeiro grau não foi devidamente
fundamentada pelo Magistrado, devendo assim ser declarada nula por este
egrégio Tribunal.
23) Alegou o apelante não possuir condições econômicas para ofertar à apelada
os alimentos fixados na sentença, requerendo a sua exoneração do encargo até
que consiga se recompor e prestá-los de forma digna.
27) De acordo com o art. 593, caput, do Código de Processo Penal, caberá
apelação no prazo de 5 (cinco) dias, iniciando a contagem no dia logo após a
última intimação do réu e do seu defensor.
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28) A prescrição tem por finalidade punir a inércia do titular do direito violado,
proporcionando segurança às relações jurídicas.
29) O acórdão teve votação unânime, sendo que contra ele foi interposto recurso
especial.
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O EMPREGO DA VÍRGULA
• Vírgula e o sujeito/predicado
• Não se deve usar a vírgula entre o sujeito e o predicado.
“A motivação para o estudo e análise do processo e a produção da
proposta, foram principalmente...” (Errado)
“O mesmo decreto que fixou sua remuneração, estabeleceu a política de
atualização desse valor.” (Errado – note que o sujeito é “O mesmo decreto que
fixou sua remuneração”)
“O art. 173, § 2º, da Carta Magna, adverte...” (Errado)
Observação: Quanto a esse último caso, cuidado:
“De acordo com o art. 173, § 2º, da Carta Magna, as empresas...” (Correto)
• A simples inversão da colocação do sujeito não acarreta a necessidade
de uso da vírgula.
“Funcionou como representante do Ministério Público, o Exmo. Sr....”
(Errado)
“Compete a ela, fiscalizar a obra.” (Errado)
“Compete à Diretoria de Material e Patrimônio e à Diretoria de Orçamento
e Finanças, elaborar contratos...” (Errado)
• Não confundir sujeito com expressões que indicam lugar e tempo, as
quais podem ser seguidas de vírgula.
“A partir de agora, todos os carros deverão retornar à instituição.” (Correto
– “A partir de agora”, por indicar tempo, não é sujeito. Por isso a vírgula está
correta, se bem que facultativa)
“Na sessão de julgamento, ficou decidida a absolvição do réu (Correto –
“Na sessão de julgamento” exprime lugar)
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• Vírgula com elementos normativos
Forma crescente (alínea => inciso => parágrafo => artigo => lei); nessa
ordem, não há vírgula: “alínea b do inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição
Federal”.
Forma decrescente (lei => artigo => parágrafo => inciso => alínea); nesse
caso, há vírgula: “Constituição Federal, art. 12, § 4º, II, b”.
Forma híbrida (artigo => inciso => lei); nessa forma, também ocorre a
vírgula: “art. 5º, II, da Constituição Federal”.
“Entende a embargante que, para a adequada prestação jurisdicional, deve
haver a declaração expressa dos seguintes dispositivos: arts. 5 o, XXXIV, a, LIV
e LV, 93, IX, 133, 194 e 195, § 5o, todos da Constituição Federal; arts. 17, 32,
128, I, II e III, e 352, todos do Código de Processo Civil; arts. 188, I, e 944 do
Código Civil; arts. 3o, caput, I, § 1o, e 5o, § 5o, da Lei n. 6.194/1974.” (Correto)
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“Desse modo, se o acusado, no momento da apresentação de suas
alegações derradeiras, assim como em suas razões de apelação, aduziu ter
agido sob o pálio da legítima defesa, a ele compete a prova de tal excludente.”
(= “...se o acusado aduziu ter agido sob o pálio da legítima defesa.”)
“Alega, com fulcro no art. 7º, IV, da CF, ser impossível a vinculação da
indenização ao salário mínimo.”
(= “Alega ser impossível a vinculação da indenização ao salário mínimo.”)
• Veja agora este outro caso:
“Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão
estivesse em plena efetividade e tivesse na ocasião, idade não superior a 40
anos.”
(Errado – “Poderia inscrever-se todo funcionário que idade não superior a
40 anos” não faz sentido.)
“Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão,
estivesse em plena efetividade e tivesse, na ocasião, idade não superior a 40
anos.”
(Correto – “Poderia inscrever-se todo funcionário que estivesse em plena
efetividade e tivesse idade não superior a 40 anos”.)
• O que não se pode, nessas hipóteses, é usar apenas a primeira ou a
segunda vírgula. Ou se colocam as duas vírgulas, ou não se coloca nenhuma.
“Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão
estivesse em plena efetividade...” (Errado)
“Poderia inscrever-se todo funcionário que na data da respectiva inclusão,
estivesse em plena efetividade...” (Errado)
“Poderia inscrever-se todo funcionário que, na data da respectiva inclusão,
estivesse em plena efetividade...” (Correto)
“Poderia inscrever-se todo funcionário que na data da respectiva inclusão
estivesse em plena efetividade...” (Correto)
“Constata-se do inteiro teor do acórdão, que o autor...” (Errado)
“Constata-se, do inteiro teor do acórdão que o autor...” (Errado)
“Constata-se, do inteiro teor do acórdão, que o autor...” (Correto)
“Constata-se do inteiro teor do acórdão que o autor...” (Correto)
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• Vírgula e o “e”
Ao contrário do que muitos pensam, pode, sim, haver vírgula antes do “e”,
para separar orações que têm sujeitos diferentes e dar clareza à frase.
“A redação de seu nome mostra-se errada, e a assinatura contida no aceite
da mercadoria é muito diferente da apresentada no instrumento de procuração.”
(Correto)
(A vírgula está separando orações com sujeito diferente. São eles: “a
redação de seu nome” e “a assinatura contida no aceite da mercadoria”.)
“O réu estava arrependido e amedrontado, e a vítima estava em pânico.”
(Correto)
(Neste caso, em que há dois “ee” seguidos, note como a vírgula confere
mais clareza à frase.)
30) O Exmo. Sr. Des. Robson Luz Varella, que indeferiu o efeito suspensivo foi
brilhante no seu voto.
31) Diante da ausência de intimação do executado e do erro de cálculo judicial
do débito alimentar, o qual acrescentou valores que deveriam ser descontados,
impende reconhecer o cerceamento de defesa, e, por consequência, a
ilegalidade do decreto prisional.
32) Alegou que na qualidade de vítima de acidente causado por veículo
automotor, recebeu R$ 3.759,91 (três mil, setecentos e cinquenta e nove reais e
noventa e um centavos) a título de indenização do seguro obrigatório e o Instituto
Nacional de Previdência Social lhe concedeu auxílio-doença desde a data do
acidente até 1°-12-2005.
33) O capital social constitui-se em um patrimônio societário que a exemplo da
personalidade jurídica, é distinto do patrimônio dos sócios.
34) Das declarações prestadas por Adão Fonseca Júnior ao Togado singular,
extrai-se:
35) Discussão acerca de prescrição é de índole infraconstitucional e, inexistindo
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afronta direta à Constituição, não cabe recurso extraordinário ao Supremo
Tribunal Federal.
36) Ao analisar o pedido de efeito suspensivo, o Exmo. Sr. Des. Subst. Luiz
Zanelato também analisou a situação fática de maneira escorreita e, portanto,
transcrevo trecho de sua decisão, in verbis:
37) Vale apontar, conforme preceitua o art. 110 do Código de Processo Civil, que
“ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio
ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º”.
38) Como é cediço, a prática de quaisquer condutas existentes no art. 33, caput,
da Lei n. 11.343/2006, é suficiente para a configuração do crime de tráfico ilícito
de drogas.
39) No que diz respeito à partilha dos créditos previdenciários, tal questão não é
pacífica e este Relator se filia ao entendimento segundo o qual as verbas
trabalhistas e outras rendas semelhantes não possuem natureza salarial.
40) Ora, se, de fato, a construção do muro causasse falta de habitabilidade nos
apartamentos afetados com a aludida obra, como quer fazer crer o condomínio
agravante, com toda certeza, não levaria mais de um ano para propor a ação
demolitória.
41) Como se vê, as teses trazidas nas razões dos embargos de declaração
constituem inovação recursal e, por esse motivo, não pode esta Corte de Justiça
enfrentar tais matérias, as quais deveriam ser deduzidas no recurso de apelação
cível.
42) Ora, a Primeira Câmara de Direito Público já assentou que
independentemente da previsão dos citados consectários em cláusula expressa,
não pode a administração pública furtar-se ao pagamento de tais verbas, sob
pena de enriquecimento ilícito.
43) À fl. 48, foi excluída da lide a litisconsorte Ana Paula Maia. Dessa decisão,
os réus interpuseram agravo de instrumento.
44) Acrescentaram que visando à restituição do bem, notificaram os recorridos
para que o desocupassem, razão pela qual, não obtido êxito em seu intento,
ficou caracterizado o esbulho possessório.
45) Nesse contexto, pede expressa manifestação sobre os artigos 5°, incisos
XXXIV, alínea a, LIV e LV, 93 e 133 da Constituição da República e sobre os
artigos 84, 89, 107, incisos I, II e III e 238 do Código de Processo Civil.
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46) O espólio de Cléber Soares e seus herdeiros, Daniela Soares e Luciano
Soares interpuseram apelação cível, na qual sustentaram que após a notícia do
falecimento de Cléber Soares, deveria ter sido aberto prazo para que o espólio
e seus herdeiros viessem aos autos.
47) O pleito de diminuição da fração aplicada em razão da causa especial de
aumento prevista no art. 1o, § 4o, II, da Lei n. 9.455/1997 (crime cometido contra
criança), não merece provimento.
48) O instrumento de mandato outorgado pelos autores, ora credores, aos seus
advogados, contém poderes para receber e dar quitação.
49) Alegou também que haveria contradição interna, omissão e obscuridade no
acórdão no ponto relativo à lei de regência do seguro obrigatório, uma vez que
o art. 3°, caput, alínea b da Lei n. 6.194/1974, com alteração dada pela Lei n.
11.482/2007, conteria a expressão “até” que estaria a indicar possibilidade de
pagamento da indenização de acordo com o grau de invalidez total ou parcial.
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“Uma vez que a demanda de trabalho é maior no período vespertino, há
um número maior de terceirizados que trabalham das 13h às 19h.”
“Porque é mais vantajoso para as partes, a suspensão do processo é
medida que se impõe.”
“Por motivos de força maior, a reunião foi postergada.”
• Condição
“Se tivessem chegado mais cedo, a sessão teria começado antes do
horário.”
“Na hipótese de vários ofensores, o perdão concedido a um deles aproveita
a todos.”
• Tempo
“Depois desse momento, o perdão perde o poder extintivo da ação penal
privada.”
“Logo que a ré saiu da audiência, levou três tiros pelas costas.”
“Até o trânsito em julgado da sentença condenatória, é possível o perdão.”
Outras expressões que denotam tempo: “quando”, “assim que”, “logo que”.
• Finalidade
“Para tentar diminuir a violência nos estádios, a Justiça catarinense far-se-
á presente em todos os jogos do campeonato.”
Outras expressões que denotam finalidade: “para que”, “a fim de que”.
• Proporção
“À medida que um grupo saía, outro entrava para assistir à palestra.”
Outras expressões que denotam proporção: “enquanto”, “ao passo que”.
• Conformidade
“Conforme inteligente lição de Nelson Nery Junior, a sentença terminativa
é aquela que...”
“De acordo com o sindicato, haveria 8% de aumento.”
Outras expressões que denotam conformidade: “segundo”, “como”.
• Comparação
“Como um verdadeiro delinquente, o réu foi condenado por vários
homicídios.”
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• Vírgula e formas nominais do verbo
Haverá vírgula depois da frase que começar com gerúndio, particípio ou
infinitivo e denotar uma das palavras ou expressões acima.
“Sabendo que poderia pegar mais de dez anos de prisão, o acusado
entregou-se à polícia.” (Gerúndio; denota causa = “Uma vez que sabia...”)
“Assinando o contrato, saiu rapidamente.” (Gerúndio; denota tempo =
“Quando assinou o contrato,...”)
“Ao ver seu nome na lista dos aprovados, chorou muito.” (Infinitivo; denota
tempo = “Quando viu seu nome...”)
“Mesmo sem ser notificado, o cliente deveria comparecer.” (Infinitivo;
denota concessão = “Embora não tenha sido notificado,...”)
“Terminada a sessão, os advogados reuniram-se.” (Particípio; denota
tempo = “Assim que terminou a sessão,...”)
“Desesperado, jogou-se na frente de um automóvel.” (Particípio; denota
causa = “Uma vez que estava desesperado,...”)
Se as referidas palavras ou expressões não começarem a frase, a vírgula
é desnecessária, sobretudo se a primeira oração for curta (mais ou menos até
cinco palavras).
“Os parlamentares aprovaram o projeto embora não tenha havido quórum.”
Ou:
“Os parlamentares aprovaram o projeto, embora não tenha havido quórum.”
“A ré levou três tiros pelas costas logo que saiu da audiência.”
Ou:
“A ré levou três tiros pelas costas, logo que saiu da audiência.”
“Chorou muito ao ver seu filho ser levado para a prisão.”
“Chorou muito, ao ver seu filho ser levado para a prisão.” (Evite)
• Vírgula e o travessão
Com travessões as vírgulas devem ser usadas normalmente, como se eles
não existissem.
“Depois de ter quitado 24 prestações, de um total de 50 – a última foi de R$
580,00 –, o mutuário tentou transferir...” (Correto = “Depois de ter quitado 24
prestações, de um total de 50, o mutuário tentou transferir...”)
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“Embora ela tenha chegado tarde – quase meia-noite – a festa ainda não...”
(Errado)
“Embora ela tenha chegado tarde – quase meia-noite –, a festa ainda
não...” (Correto = “Embora ela tenha chegado tarde, a festa ainda não...”)
• Vírgula e o “que”
Há muita dificuldade de virgular frases que apresentam “que”. Seguem
algumas explicações que podem ajudar.
• Virá entre vírgulas ou antecedida de vírgula a oração que começa com
“que”, se esta estiver fazendo algum comentário sobre o antecedente ou se o
“que” puder ser facilmente substituído por “o qual”, “a qual”, “os quais”, “as quais”.
“Envio a Vossa Senhoria o documento anexo, que traz a relação das
comarcas que não contam com terceirizados.” (Correto – “... o qual traz...”)
“O Presidente, que estava na França na semana passada, deve chegar a
Londres nesta sexta-feira.” (Correto – a oração “que estava na França na
semana passada” faz comentário sobre o antecedente “Presidente”.)
“Os prazos no Tribunal de Justiça estão conforme a Lei n. 11.419/2006, que
dispõe sobre a informatização do processo judicial.” (Correto – “... a qual
dispõe...”)
• A oração que se inicia em “que” não será seguida nem antecedida de
vírgula se houver restrição, isto é, se a oração restringir ou limitar o antecedente.
Sabe-se que não há vírgula antes do “que” quando na oração restritiva (que
contém o “que”) estiver subentendida a ideia de “apenas”.
“Os juízes que estavam de plantão não tiveram muito trabalho.” (Correto)
(“Apenas os juízes que estavam de plantão não tiveram muito trabalho” =
“Os outros juízes tiveram muito trabalho”)
DICA: Se o “que” não puder ser substituído por “o qual”, “a qual”, não
haverá vírgula antes dele.
“O réu afirmou, que não saiu de casa naquela noite.” (Errado)
“O réu afirmou que não saiu de casa naquela noite.” (Correto)
“O réu afirmou, ainda, que não saiu de casa naquela noite.” (Correto)
“É necessário dizer, ainda, que, o recurso é intempestivo.” (Errado)
“É necessário dizer, ainda, que o recurso é intempestivo.” (Correto – pois
equivale a dizer: “É necessário dizer que o recurso é intempestivo”.)
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• Vírgula e “entretanto” / “porém” / “todavia”
Não raro as expressões “todavia”, “porém”, “entretanto” são virguladas de
maneira errada ou ambígua. Veja estes casos:
“O advogado fez um excelente trabalho, entretanto, não obteve êxito.”
(Errado, pois não se sabe bem se “entretanto” se refere à oração “O advogado
fez um excelente trabalho” ou à “não obteve êxito”.)
“O advogado fez um excelente trabalho, entretanto não obteve êxito.”
(Correto, pois agora se sabe, claramente, que “entretanto” se refere à oração
“não obteve êxito”.)
“O advogado fez um excelente trabalho; entretanto, não obteve êxito.”
(Correto, note que agora foi usado o ponto e vírgula.)
“Há muitos estudantes procurando estágio, porém, há poucas vagas.”
(Errado)
“Há muitos estudantes procurando estágio, porém há poucas vagas.”
(Correto)
“Há muitos estudantes procurando estágio; porém, há poucas vagas.”
(Correto)
“Há muitos estudantes procurando estágio; há, porém, poucas vagas.”
(Correto)
“Há muitos estudantes procurando estágio; há porém poucas vagas.”
(Correto – quando a sequência de ideias for clara, não há obrigatoriedade de
expressões como “porém”, “contudo”, “todavia” virem entre vírgulas.)
• “Isso porque”
Não há vírgula depois de “porque” em construções como:
“Razão não socorre o réu. Isso porque ficou devidamente provado nos
autos...” (Correto)
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“Não assinou contrato com a fornecedora; até porque não tinha mais
interesse no produto.” (Correto)
• “Pois bem”
A expressão “Pois bem” pode vir sozinha na frase, formando, ela só, um
parágrafo.
Quanto à pontuação, pode ser seguida tanto do ponto quanto da vírgula
(nesta última hipótese apenas, claro, se a expressão não vier sozinha).
Portanto, todas as formas a seguir estão corretas:
1 “A autora alega que a administradora do cartão possui legitimidade
passiva para responder à ação.
⠀Pois bem. É sabido que a legitimidade para responder à presente ação...”.
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A expressão pode ser antecedida de vírgula, de ponto ou de ponto e vírgula,
depende do tom que se quer imprimir à frase.
Quanto à posição, o “se não, vejamos” pode vir no início ou no fim do
parágrafo. A expressão pode até vir sozinha no parágrafo, o que vai depender,
novamente, do ritmo imprimido à frase.
Exemplos de como a expressão em tela pode ser usada corretamente:
Use dois-pontos depois de “se não, vejamos” apenas se for introduzir uma
citação. Observe:
... tese essa defendida por Nelson Nery Junior. Se não, vejamos:
“[transcrição da doutrina]”
Também está correta a expressão “se não, veja-se”.
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• EXERCÍCIOS VÍRGULA (PARTE 2)
50) O dano moral é o efeito não patrimonial da lesão de direito e não a própria
lesão abstratamente considerada.
51) Após réplica (fls. 78-86), sobreveio sentença proferida pelo Magistrado
Lenoar Bendini Madalena que decidiu a lide da seguinte forma:
52) Isso porque, não se está transmitindo o direito de personalidade, que é ínsito
à pessoa e intransmissível, mas sim o direito de ação.
53) Nesse ponto, com razão o recorrente. Isso porque, a conduta do réu no crime
de corrupção de menores, que consistiu em envolver adolescente no comércio
espúrio de entorpecentes, não pode servir para caracterizar tanto a causa
especial de aumento prevista no art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006 quanto o delito
específico do art. 244-B da Lei n. 8.069/1990, pois tal situação implica bis in
idem.
54) Em suma, sustenta que o referido artigo não pode ser tido como exaustivo
em suas vedações e sim exemplificativo, pois visa coibir o "argumento de
autoridade", tanto pela defesa como pela acusação.
55) Por fim, alegou que os honorários advocatícios não podem ultrapassar o
percentual de 15% (quinze por cento) por ser o autor beneficiário da gratuidade
da justiça.
56) Os mecanismos de que podem se valer as partes para impugnar uma
decisão judicial são denominados pela doutrina, genericamente, de “remédios
processuais” que ora consistem em recursos ora em ações impugnativas
autônomas.
57) Aduziu que por se tratar o autor de beneficiário da gratuidade da justiça, o
valor arbitrado a título de honorários advocatícios será de no mínimo 15% do
valor líquido da execução.
58) É fato incontroverso nos autos que desde 1986 vigorava entre as partes
contrato de prestação de serviços advocatícios (fls. 42-44) que, embora tenha
sido sucedido por várias outras pactuações (fls. 50-53 e 54-55), findou-se em
janeiro de 2000 em decorrência dos desajustes quanto à remuneração pelos
serviços prestados.
59) Com as contrarrazões (fls. 146-156), Artur Petro interpôs recurso adesivo em
que pugnou pela majoração da verba honorária.
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60) Ademais, é consabido que o contrato de adesão, celebrado entre os
litigantes, favorece em suas cláusulas a seguradora, que vem a ser,
insofismavelmente, a parte economicamente mais forte, de forma que ao
consumidor resta uma posição de submissão jurídica, fato que obsta
flagrantemente o seu direito de defesa.
61) O apelado, Banco do Brasil S.A., argumentou que o contrato firmado é de
responsabilidade civil facultativa, que exclui expressamente qualquer reparação
por dano moral, de modo que, possível condenação nesse sentido, deve ser
suportada exclusivamente pelos apelantes.
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PONTO E VÍRGULA
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“O autor recorreu da decisão que lhe negou a gratuidade da justiça; porém
não trouxe documentação que comprovasse sua hipossuficiência.”
“A prisão do paciente ocorreu para garantia da ordem pública, portanto não
há falar em ilegalidade.”
“A prisão do paciente ocorreu para garantia da ordem pública; portanto, não
há falar em ilegalidade.”
⠀
• O ponto e vírgula também pode ser um poderoso recurso
estilístico/argumentativo no lugar dos dois-pontos:
“A concessão de liminar em habeas corpus é admitida como medida
excepcional; quando evidente a coação ilegal ou o abuso de poder.”
• Você também usará o ponto e vírgula quando quiser fazer com que o leitor
perceba que as partes textuais estão intimamente ligadas, o que causa um efeito
retórico. Assim, se o que você pretende é, pura e simplesmente, transmitir uma
mensagem, use o ponto; se o que você almeja, além de transmitir uma
mensagem, é mostrar ao leitor que o raciocínio iniciado na frase anterior não
terminou, use o ponto e vírgula, exatamente como acabei de fazer.
Observe, por exemplo, esta frase:
“Presume-se verídica a declaração de hipossuficiência financeira da parte.
Contudo, tal presunção é relativa”.
O ponto depois de “parte” está correto? Está. Todavia, se o objetivo é
apontar para o leitor que o raciocínio iniciado na frase anterior continua, o ponto
e vírgula é que deverá ser usado:
“Presume-se verídica a declaração de hipossuficiência financeira da parte;
contudo, tal presunção é relativa”.
⠀Portanto, e isto é extremamente importante, o entendimento de que o
ponto é usado para marcar o fim de um raciocínio e o ponto e vírgula sua
continuidade está errado. Isso porque o raciocínio sempre continua (o
pensamento é ilimitado). Independente de você usar ponto ou ponto e vírgula, o
raciocínio sempre vai continuar. E isso explica o fato de o ponto e vírgula
raramente ser empregado nos textos em geral; só será usado se vocês quiserem
evidenciar para o leitor, por uma questão de estratégia textual, que a ideia que
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estão passando é continuação da anterior. O fundamento para o uso do ponto e
vírgula, como vimos, possui forte cunho retórico.
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GRAMÁTICA APLICADA À REDAÇÃO JURÍDICA
• Clareza
Sujeitos diferentes que parecem iguais
“Ao final, o apelante requer o provimento do recurso para determinar o
pagamento da indenização pleiteada nos termos da inicial.”
Corrigir para:
“Ao final, o apelante requer o provimento do recurso para que seja
determinado o pagamento da indenização pleiteada nos termos da inicial”.
Paralelismo
“Citada, a apelada apresentou contestação, na qual arguiu a inexistência
de contrato firmado entre ela e o autor, que houve a indenização em pecúnia e
a falta de preenchimento dos requisitos previstos nas diretrizes e nos critérios de
reassentamento”.
Corrigir para:
“Citada, a apelada apresentou contestação, na qual arguiu que inexiste
contrato firmado entre ela e o autor, que houve a indenização em pecúnia e que
não foram preenchidos os requisitos previstos nas diretrizes e nos critérios de
reassentamento”.
“Entretanto, não foi esse o esforço feito pelo agravante, que, em vez de
provar a validade e eficácia do título protestado, restringiu-se a alegações do
histórico de inadimplência do agravado”.
Corrigir para:
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“Entretanto, não foi esse o esforço feito pelo agravante, que, em vez de
provar a validade e eficácia do título protestado, restringiu-se a alegar o histórico
de inadimplência do agravado”.
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Corrigir para:
“Foi resolvida a questão suscitada pelo apelante nas suas razões, mas
mesmo assim interpôs recurso para o STJ”.
31
“Trata-se os autos de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que
indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Errado)
“Os autos tratam de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que
indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Correto)
“Trata-se, nos autos, de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13,
que indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Correto)
Trata-se de agravo de instrumento da decisão de fls. 12-13, que indeferiu
a antecipação dos efeitos da tutela ao autor.” (Correto)
32
Idêntico problema é encontrado nas locuções verbais em que o verbo
auxiliar é constituído de gerúndio mal-empregado:
“A relação processual tem que ser integrada pela Caixa Econômica
Federal, devendo os autos serem remetidos à Justiça Federal” (Errado – o
correto seria “devendo os autos ser remetidos à Justiça Federal”).
33
Observe o seguinte período:
“Os desembargadores acordaram prover parcialmente o recurso para,
considerando as peculiaridades do caso, concederem ao apelado a gratuidade
da justiça.”
(Correto – apesar de sujeitos idênticos (desembargadores), o verbo
“conceder” está distante, de modo que a flexão torna o período mais claro).
• Condenar / condenação
“Condenou o réu no pagamento das custas processuais.” (Errado)
“Condenou o réu ao pagamento das custas processuais.” (Correto)
“Pugnou pela condenação do acusado em dez anos de prisão.” (Errado)
“Pugnou pela condenação do acusado a dez anos de prisão.” (Correto)
“Foi condenada em cinco anos de prisão.” (Correto)
• Crase
“Ele se referiu à carta.” (= ao documento)
“O juiz fez referência às que saíram.” (= aos que saíram)
“A testemunha acusou a da direita.” (= o da direita)
“APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL.
ABORDAGEM ARBITRÁRIA LEVADA A EFEITO POR POLICIAIS CIVIS E
POSTERIOR PRISÃO ILEGAL POR SUPOSTO DESACATO A AUTORIDADE”.
A sessão pode ser das “2h às 4h” ou de “2 a 4 horas”.
“Trabalham de segunda a sexta.” (= de...a...)
“O mutirão vai da próxima segunda à sexta-feira.” (= da...à...)
“Os assessores escrevem de cinco a dez páginas por dia.” (= de...a...)
“Os assessores leram da página cinco à dez.” (= da...à...)
“A nossa disciplina é semelhante à dos militares.” (= é semelhante à
disciplina dos militares)
Não há crase antes dos pronomes de tratamento como Sua Excelência e
Vossa Excelência.
“Aquela decisão deu azo àquelas discussões.” (a estas discussões)
“Os réus deram relevância àquele dia.” (a este dia)
“Eles não deram valor àquilo.” (a isto)
“O advogado não leu aquele relatório.” (este)
34
• Haja vista
“O parecer foi favorável, haja vista o contentamento da autora.” (Correto)
“O parecer foi favorável, haja visto o contentamento da autora.” (Errado)
“O parecer foi favorável, haja vista que a autora ficou contente.” (Errado)
• Onde
“O relatório, onde está exposta toda a argumentação,...” (Errado)
“O relatório, em que / no qual está exposta toda a argumentação,...”
(Correto)
“A Comarca de Palhoça, onde se intentou a ação,...” (Correto)
• Para o fim de
“Pugnou pela manifestação expressa de dispositivos legais para o fim de
prequestionamento.” (Errado)
“Pugnou pela manifestação expressa de dispositivos legais para
prequestionamento.” (Correto)
Também não está correto: “...para fins de prequestionamento”.
64) Vale apontar que a matéria dos embargos opostos pela executada restringe-
se a discussão das cláusulas contratuais, pois sustenta terem sido ilegalmente
exigidos juros não previstos no contrato e que a confissão de dívida não é
novação.
35
complementação de indenização de seguro de vida.
71) Na réplica, pugna o autor pela aplicação da sanção prevista no art. 359 do
Código de Processo Civil de 1973, pois, apesar de devidamente intimado, o réu
deixou de acostar aos autos o contrato de abertura de conta corrente.
36
concessão do benefício.
76) Impõe-se considerar que os demandantes têm uma filha de 8 (oito) anos de
idade e a natureza previdenciária da causa.
77) Ressalto que a valoração do quantum a ser pago a título de danos morais
deverá observar os critérios da proporcionalidade e da equidade, buscando-se
trazer conforto ao ofendido e impedir que novos atos como este venha a
acontecer novamente.
37
REDAÇÃO DOS PRINCIPAIS CAMPOS DE PEÇAS
JURÍDICAS E TÉCNICAS DE ESCRITA DE TEXTOS
ARGUMENTATIVOS
38
• Redação dos pedidos e o paralelismo
Ao escrevermos “Ante o exposto, requer:”, temos oculto o sujeito da oração
(o autor, o demandante, o impetrante... requer). O problema de assim escrever,
todavia, é deixar oculto um sujeito que não se pode inferir imediatamente do
texto. Leiam a seguinte construção:
“...Assim, por ter sofrido prejuízo material, a autora almeja a respectiva
reparação.
Ante o exposto, requer:”
Vejam que está claro que o sujeito de “requer” é “a autora”, pois ele aparece
no parágrafo anterior. Nesse caso, o emprego da forma “Ante o exposto, requer:”
está correto.
Quando, porém, a forma vem precedida, como não raro acontece, do título
“DOS PEDIDOS”, seu uso não é adequado, porque o sujeito de “requer” estará
distante, ainda que se saiba que obviamente quem requer é a parte polo ativo
da ação. Reparem:
“DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:” (quem requer?)
Em “Ante o exposto, requer-SE:”, a oração está na voz passiva, de modo
que os pedidos que se seguem à forma constituirão o sujeito da oração. Uma
vez que sempre são feitos no mínimo dois pedidos, o correto será então escrever
“requerEM-se:”. Regra básica: sujeito no plural, verbo no plural. Ficaria assim:
“Ante o exposto, requerem-se:
a) a citação…
b) a condenação…
c) a produção de...”.
Como não somos dados a escrever dessa maneira, não a aconselho.
O “requer-se” no singular estará correto se a forma vier seguida de “que”
(“Ante o exposto, requer-se QUE:”), mas isso pode ser bastante problemático,
pois os verbos constantes dos pedidos obrigatoriamente deverão vir no
subjuntivo (seja citado, seja condenado), e a probabilidade de errarmos no
emprego desse modo verbal é enorme.
39
Por conta disso tudo é que indico uma terceira forma, que é a de sempre
trazer expresso o sujeito da oração, na voz ativa: “Ante o exposto, A AUTORA
requer:”. Fazer assim é mais fácil e a estrutura fica mais coesa e limpa.
• Agora leiam em voz alta a seguinte construção:
Ante o exposto, o impetrante requer:
a) liminarmente, a concessão de ordem que determine a imediata
restituição da liberdade ao paciente;
b) a dispensa de requisição de informações à autoridade coatora,
diante da possibilidade de acesso integral aos autos por meio
eletrônico;
c) ao final, seja confirmada a liminar, declarando-se a ilegalidade
do ato impugnado e relaxando-se definitivamente a prisão ilegal;
d) caso não conhecido o habeas corpus, sejam apreciadas de ofício
as ilegalidades relatadas.
Reparem: o texto começa com “o impetrante requer, a) liminarmente, A
concessão de ordem...” e “b) A dispensa de requisição...”, mas na sequência
muda de estilo e passar a dispor “c) ao final, SEJA confirmada a liminar...” e “d)
... SEJAM apreciadas de ofício...”. Isso não pode! Se começarem a usar “a”, “o”,
não podem mudar para “seja”, “sejam”.
Percebam como soa melhor assim:
Ante o exposto, o impetrante requer:
a) liminarmente, a concessão de ordem que determine a imediata
restituição da liberdade ao paciente;
b) a dispensa de requisição de informações à autoridade coatora,
diante da possibilidade de acesso integral aos autos por meio
eletrônico;
c) ao final, A CONFIRMAÇÃO da liminar, declarando-se a
ilegalidade do ato impugnado e relaxando-se definitivamente a prisão
ilegal;
d) caso não conhecido o habeas corpus, A APRECIAÇÃO de ofício
das ilegalidades relatadas.
Sentiram a diferença? Diz-se que a primeira estrutura apresentada não
contém paralelismo e essa segunda sim. A construção também ficaria paralela
se em vez de “a concessão”, “a dispensa”, “a confirmação” e “a apreciação”
40
escrevêssemos “seja concedida”, “seja dispensada”, “seja confirmada” e “seja
apreciada”. O que não pode é misturar as formas.
41
Além de estar gramaticalmente incorreto, escrever “Termos em que, Pede
deferimento” também pode não ser lá a forma mais técnica de finalizar uma peça.
A não ser que se esteja tratando de processo de natureza cautelar, o correto é
usar a palavra “procedência” (para ações em geral) ou “provimento” (para
recursos), em vez de “deferimento”. Nesse sentido, a estrutura ficaria correta
assim:
“Termos em que pede procedência”.
“Termos em que pede provimento”.
Está correto tanto escrever “pede” (“autor” como sujeito oculto, por
exemplo) quanto “em que se pede” (na passiva).
42
Exemplo:
AO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
Perceba que não vai ponto final nos endereçamentos e que o emprego de
vocativos como “Excelentíssimo(s) Senhor(es) Desembargador(es)” é
inadequado.
43
o juiz não imaginará que vocês, advogados do réu, iriam contra si mesmos, mas
a preposição pode levá-lo inconscientemente a esse entendimento.
Isso fica mais claro com o título “Da culpa do réu pelo acidente”. Ponham-
se no lugar do juiz: ao lerem esse título na contestação, o que iriam ser levados,
pela sua literalidade, imediatamente a pensar? Que de fato o réu teve culpa pelo
acidente, não é? Pegaram o ponto?
Vejam que o problema não está nas preposições (“Da”, “Do”, “Dos”) em si.
Longe disso. Aliás, vocês podem se valer da técnica usada pelo autor, mas
escreverem os títulos de uma forma que favoreça o seu cliente, assim: “Da total
inexistência do dano moral”, “Da responsabilidade do autor pelo acidente”.
Não usem a forma “Dos ALEGADOS danos morais” na contestação. Isso
porque, apesar da palavra “alegados”, continua-se passando a ideia do
reconhecimento da existência dos danos.
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“Apelação Cível n. 494838445.2017” [epígrafe]
45
5 Uso de exclamação
Polui o texto. Se quiser usar exclamação, use uma apenas. Portanto, se for
escrever “Isso é um absurdo!”, escreva assim mesmo, e não “ISSO É UM
ABSURDO!!!!!”. O mesmo raciocínio se aplica ao ponto de interrogação.
6 Uso exagerado de travessões
O travessão — que muitos confundem com o traço — e com a vírgula —
deve ser usado com muita parcimônia. Meu conselho é que — quase nunca —
seja usado, pois confunde a leitura — e também polui o texto.
7 Notas de rodapé
Não use. Deixe as notas de rodapé, com referências doutrinárias e
jurisprudenciais, para os trabalhos científicos. Em peças jurídicas faça
referências dentro do próprio texto, entre parênteses.
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“Esta Corte tem o entendimento de que não constitui impedimento ao
deferimento da tutela o perigo de irreversibilidade da medida”.
“Não pode haver a transformação da denunciação em instrumento de
denegação de justiça àquele alheio à relação da garantia”.
“Intimada, a agravada requereu a manutenção da decisão impugnada”.
Uma dica para impor ritmo ao texto é começar períodos com o predicado
quando ele for muito menor que o sujeito. Vejam:
“Isso porque a sentença prolatada nos autos da ação declaratória de
inexistência de consolidação da propriedade com pedido de tutela antecipada é
nula”.
Observem como fica melhor assim, com o predicado na frente:
“Isso porque é nula a sentença prolatada nos autos da ação declaratória de
inexistência de consolidação da propriedade com pedido de tutela antecipada”.
Outra dica, decorrente dessa, é deixar os maiores trechos das frases para
o fim. Notem como o segundo período, ao observar isso, apresenta muito mais
ritmo do que o primeiro:
“Defendeu a desnecessidade de observância plena do contraditório no
procedimento levado a termo no Tribunal de Contas do Estado e a validade do
ato administrativo”.
“Defendeu a validade do ato administrativo e a desnecessidade de
observância plena do contraditório no procedimento levado a termo no Tribunal
de Contas do Estado”.
Finalmente, uma excelente técnica para impor ritmo ao texto é abrir
parágrafos com expressões do tipo “Pois bem” seguidas de ponto, ou com frases
como “É evidente que a pretensão do autor não merece prosperar”/“O recurso
não deve ser provido” (essas frases proporcionam ainda mais ritmo quando em
parágrafo único). Isso porque expressões e frases do gênero acarretam quebra
no padrão linear da escrita e, consequentemente, dão ritmo ao texto. Mas não
abusem dessa técnica; utilizem-na somente quando sentirem que o texto da
peça está meio engessado, seco, precisando de um respiro, se é que vocês me
entendem.
Problemas relacionados a ritmo são facilmente constatados quando lemos
nossas peças em voz alta. Adquiram, portanto, esse hábito! Falando nisso,
percebam que na oração anterior eu trouxe o "portanto" entre vírgulas. Fiz isso
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propositalmente, pois conjunções como "portanto", "todavia", "porém" e
"entretanto" têm esse poder de, quando entre vírgulas, também conferir ritmo ao
texto.
48
Assevera que buscou pessoalmente com o réu o ressarcimento dos
danos, contudo não teve êxito, de forma que outra saída não teve a
não ser o ajuizamento da presente demanda.
Requereu, ao fim, a condenação do réu ao pagamento da quantia
de R$ 6.500,00 a título de indenização pelos danos materiais
sofridos.”
Veja que no primeiro parágrafo há o verbo “ajuizar” no passado; no
segundo parágrafo o verbo “sustentar” no presente; no terceiro, “asseverar” no
presente; e, no último, o verbo “requerer” no passado.
Essa “mistura” de tempos verbais é possível?
Sim, é possível e está corretíssima! Apesar de se estar referindo a fatos
que já aconteceram, o tempo presente no segundo e terceiro parágrafos
denomina-se “presente histórico”, isto é, a FORMA é de tempo presente mas o
SENTIDO é de passado.
É claro que em vez de “sustenta” e “assevera” poder-se-ia escrever
“sustentou” e “asseverou”. Isso não impede, todavia, a forma no presente
(presente histórico).
Interessante que a FORMA verbal no presente pode ser às vezes usada
até mesmo para indicar ação futura, como se observa na seguinte passagem:
“Portanto, remetam-se os autos à origem, onde o réu, querendo, PODE (ou
‘poderá’) arguir a nulidade em tela”.
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Isso porque, conforme demonstram as imagens das telas do
sistema anexadas aos autos, o fornecimento de energia elétrica foi
efetivamente contratado.
Saliente-se que, mesmo em se tratando de relação de consumo,
com a inversão do ônus da prova, é de incumbência da parte autora
comprovar suas alegações, o que não ocorreu in casu.
Ademais, se o demandante não reconhece a dívida é porque os
débitos são provenientes de atuação fraudulenta, de forma que
também pode incidir na hipótese a excludente de responsabilidade
por fato exclusivo de terceiro.
De qualquer sorte, demonstrada a contratação do fornecimento de
energia elétrica, a inscrição do nome do autor em órgão de proteção
ao crédito constituiu exercício regular do direito da ré.”
Notem que pelas regras de paragrafação de textos em geral, esses cinco
parágrafos deveriam ser reduzidos a apenas um: o primeiro constituiria o tópico
frasal, e os demais o desenvolvimento dele.
A passagem acima retrata, todavia, trecho de uma peça jurídica, o que faz
com que seja inteiramente possível, e até mesmo aconselhável, a divisão
paragrafal feita, porque torna mais clara e argumentativa a mensagem
transmitida.
A noção de parágrafo é, antes de tudo, visual. A forma do parágrafo, com
recuo maior na primeira linha, por si só já é carregada de significação. Indica que
o escritor quer, com aquele pedacinho de texto, destacar informação importante.
Então fazendo vários parágrafos em vez de somente um o escritor passa para o
leitor a ideia de que todo o texto é relevante.
Em matéria de paragrafação, siga estas três dicas:
▪ Abra parágrafos com frequência, sim, mas não aleatoriamente (não vá
você, por exemplo, na passagem citada acima, juntar os dois últimos parágrafos
e deixar separados os primeiros. Ou separa ou junta! Vimos que melhor é
separar).
▪ É mito o entendimento de que a existência de mais de um período no
parágrafo é condição para a abertura de outro. É muito frequente, por exemplo,
e está correto um parágrafo trazer apenas frases como: “Pois bem.”, “Esse é o
relatório.”, “O recurso, adianta-se, não merece ser conhecido.” etc. É bem
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verdade que o comum é a construção de mais de um período no parágrafo, mas
isso nem de longe constitui uma regra em se tratando de redação de peças
jurídicas.
▪ Elementos de coesão como “portanto”, “em relação a”, “além disso”,
“outrossim”, “em linhas gerais”, “nesse sentido”, “por tais razões”, “por outro
lado”, “como visto” e seus sinônimos podem sugerir abertura de parágrafo. ⠀⠀
Considerando que há muitos casos (diria que são a maioria) em que você
já naturalmente abre parágrafos de forma correta, espero que com essas dicas
a questão da paragrafação passe a ser uma pedra a menos na sua escrita.
• Técnicas argumentativas
- Nominalização
“Nominalização” é o nome dado ao processo de formação de substantivos
abstratos a partir de adjetivos e verbos. Exemplos de nominalização a partir de
adjetivos: literal-literalidade, gratuito-gratuidade, formal-formalidade, rico-
riqueza. Exemplos de nominalização a partir de verbos: doar-doação, cercear-
cerceamento, planejar-planejamento, deferir-deferimento.
Autores que versam sobre argumentação recomendam o não uso de
nominalizações em alguns casos sob o fundamento de que dificultam a leitura.
Ocorre que a técnica da nominalização, especialmente da nominalização a
partir de verbos, pode ser bastante útil para obscurecer a participação do agente
na ação verbal.
Observem a seguinte frase:
“O representante do Ministério Público sustenta que o acusado furtou um
aparelho celular de um transeunte e, após, adentrou no estabelecimento da
vítima e roubou uma garrafa de uísque”.
Essa maneira de escrever com o uso de verbos (“furtou”, “adentrou”,
“roubou”), que cabe muito bem no relatório de uma sentença, pode não ser lá
muito apropriada em uma peça defensiva, na qual, como advogados, vocês
devem obscurecer a participação do seu cliente.
Vejam que, se o objetivo é a defesa do réu, a frase fica bem melhor assim
(usando a técnica da nominalização):
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“O representante do Ministério Público sustenta que houve um furto de
aparelho celular de um transeunte e, após, no estabelecimento da vítima, um
roubo de uma garrafa de uísque”.
Observem que, estando a frase escrita dessa maneira (com nominalização:
“furto”, “roubo”), o foco recai mais no fato em si do que no agente, que fica, assim,
obscurecido, dando-se melhor margem, por exemplo, à tese de negativa de
autoria do crime. Mas atenção: essa técnica deve ser usada com moderação,
pois nominalizações em excesso realmente dificultam a leitura.
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Pronto. Quando vocês fazem isso, isto é, quando trazem o argumento mais
forte de todos no fim, precedido de conectores como “Não bastasse isso”, o leitor
meio que se vê obrigado a acatar a tese que estão sustentando. É como se esse
argumento derradeiro fechasse um círculo no raciocínio dele, em um caminho
sem volta.
- Verbo descomprometido
Essa técnica ocorre quando relatamos alguma coisa que a outra parte disse
que aconteceu, sem, todavia, reconhecermos que de fato aconteceu. O “verbo
descomprometido” vem sempre no futuro do pretérito.
Suponhamos, por exemplo, que a frase abaixo esteja na contestação de
vocês:
“O autor alegou que o réu comprou o celular por valor extremamente baixo,
sem exigir nota fiscal nem o carregador do aparelho”.
Vocês, como advogados do réu, não podem escrever assim! Vejam como
a frase “puxa” mais para o lado do seu cliente com o “comprar” no futuro do
pretérito:
“O autor alegou que o réu TERIA COMPRADO o celular por valor
extremamente baixo, ...”.
Admitamos novamente que vocês são advogados do réu e escrevem a
seguinte frase na contestação:
“A autora sustenta que o réu está praticando alienação parental, razão por
que pleiteia a diminuição das visitas para que estas ocorram apenas uma vez
por mês”.
Quando vocês escrevem “ESTÁ praticando alienação parental”, podem
acabar incutindo na cabecinha do juiz que seu cliente realmente praticou a
alienação. Esse é o problema, e é aqui que entra a técnica do verbo
descomprometido.
Reparem como fica melhor:
“A autora sustenta que o réu ESTARIA praticando alienação parental, razão
por que pleiteia ...”.
- “Não-dizer-já-dizendo”
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Por meio desta técnica, dizemos ao leitor que não afirmaremos nada, mas
já afirmando, dando a ele uma informação em segundo plano de forma
aparentemente despretensiosa, que justamente por isso ganha importância no
contexto frasal.
Vejam, por exemplo, a seguinte construção:
“O apelante nem precisa mencionar o fato de que, se tivesse agido de má-
fé, também o teria a apelada, já que esta não propôs o acordo contemplando a
solução apresentada na contestação”.
Ao dispor que “o apelante nem precisa mencionar”, o redator já está
mencionando, e com isso a “informação não mencionada” assume relevância
dentro do texto.
Mais exemplos (a técnica do Não-dizer-já-dizendo está entre colchetes):
“[A ré poderia apontar vários fatores que depõem contra o autor, como sua
habitual bebedeira, seus frequentes atrasos nas reuniões da empresa ou sua
péssima administração nos últimos dois anos. Mas não;] prefere se ater aos
contornos da lide tais como expostos na inicial”.
“No presente caso, é patente a ausência de perigo de dano processual apto
à concessão da tutela provisória, [sem dizer que nas razões do agravo os
recorrentes nem sequer apontaram o fumus boni juris]”.
Conseguiram perceber? Mas, cuidado: essa técnica, que geralmente vem
em um único parágrafo, serve apenas como um “plus” persuasório. Portanto, é
evidente que vocês não devem usá-la quando tiverem de sustentar argumentos
importantes. Se, por exemplo, forem defender tese única de legítima defesa,
nada de escreverem “nem é preciso mencionar que o acusado agiu em legítima
defesa”. Não! Se fizerem isso, é perda de causa na certa! Teses desse tipo não
raro exigem páginas e páginas de argumentação, para o que a técnica Não-
dizer-já-dizendo, por conseguinte, não tem nenhuma utilidade.
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Vejam que quando usamos o artigo definido passamos meio que uma ideia
da existência incontroversa do substantivo a que ele se refere. Notem como a
frase fica melhor sem o artigo:
“A parte apelante sustenta cerceamento de defesa em razão do julgamento
antecipado da lide” (a parte apelante sustenta; não quer dizer que haja
cerceamento, por isso é melhor sem o artigo).
Seguem esse mesmo raciocínio:
“Em prequestionamento, a demandada pede que a Câmara se manifeste a
respeito dA violação aos arts. 757 e 760 do Código Civil”.
Se escrito assim, com o artigo definido, dá-se mais ou menos a entender
que houve violação, o que não é o caso.
Corrigir para:
“Em prequestionamento, a demandada pede que a Câmara se manifeste a
respeito de violação aos arts. 757 e 760 do Código Civil” (“de”, sem o artigo).
“Deve ser afastada, portanto, a preliminar de nulidade da sentença pelO
vício de citra petita”.
Se escrevemos “pelO vício”, corremos o risco de passar ao leitor a ideia de
que o vício existiu; apenas deve ser afastado.
Corrigir para:
“Deve ser afastada, portanto, a preliminar de nulidade da sentença por vício
de citra petita” (“por”, sem o artigo definido).
Ou, ainda:
“Deve ser afastada, portanto, a preliminar de nulidade da sentença, pois
ausente o vício de citra petita”.
Ainda sobre essa frase, notem que o artigo “a” de “a preliminar” e o “dA” de
“da sentença” estão bem colocados, pois de fato definem, apontam para algo
que já vem sendo tratado nos autos (preliminar) ou para algo já conhecido do
leitor (sentença).
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“É sabido que o habeas corpus também se presta para livrar aquele
que se encontra em cárcere privado. PORÉM, é igualmente sabido
que esse instrumento não admite dilação probatória. DESSE MODO,
incumbe ao impetrante o ônus de demonstrar previamente os fatos
constitutivos do direito invocado em favor do paciente. TODAVIA, no
presente caso o impetrante não apresentou prova da alegada coação.
ASSIM, impõe-se a denegação da ordem.”
Reparem que as conjunções estão todas no início do período, dando assim
ao leitor a impressão de que ele está sendo guiado pelo texto como um robô, de
modo meio forçado. Ninguém gosta de ler um texto assim!
Observem agora como a simples posposição de algumas conjunções
deixa a leitura muito mais agradável:
“É sabido que o habeas corpus também se presta para livrar aquele
que se encontra em cárcere privado. É igualmente sabido, PORÉM,
que esse instrumento não admite dilação probatória. DESSE MODO,
incumbe ao impetrante o ônus de demonstrar previamente os fatos
constitutivos do direito invocado em favor do paciente. No presente
caso, TODAVIA, o impetrante não apresentou prova da alegada
coação. ASSIM, impõe-se a denegação da ordem.”
Melhorou muito, né? “Brincando” com as conjunções, deslocando-as no
texto, guiamos o leitor de maneira prazerosa, sem que ele o perceba, facilitando
até mesmo sua aderência às teses que estamos apresentando.
• O vício do “queísmo”
Coisa terrível, que realmente incomoda o leitor, é uma peça com frases
cheias de “quês”, um perto do outro (o chamado “queísmo”).
Leiam a seguinte frase:
“A apelante disse que é nula a sentença por falta de fundamentação e que
a apelada, que foi revel, é responsável pelo vício que está presente no acordo
que efetuou com o banco”.
Notaram como a construção está ruim? como o monte de “quês” tornou o
texto infantilizado?
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▪ A primeira dica para resolver problemas de “queísmo” nas peças é tentar
substituir o “que” por “o(s) qual(is)”, “a(s) qual(is)”. A substituição é possível
quando se tratar de oração explicativa.
▪ A segunda dica é dividir o período, fazendo, se preciso, adaptações no
texto. Assim, em vez de escreverem “o autor afirma que... e que não há”, vocês
podem escrever “o autor afirma que... . Sustenta, ainda, a ausência...”.
▪ A terceira dica é usar verbo no infinitivo ou uma forma adjetivada. Em vez
de “o autor disse que o réu é”, escrevam “o autor disse ser o réu”; em vez de “réu
que interpôs apelação”, “réu apelante”.
Aplicando-se essas dicas naquela frase que apresentei inicialmente, vejam
como a construção fica bem melhor:
“A apelante disse ser nula a sentença por falta de fundamentação. Afirmou,
ainda, que a apelada, a qual foi revel, é responsável pelo vício no acordo
efetuado com o banco”.
Percebam que, a rigor, eu nem precisaria substituir o “disse que é nula” por
“disse ser nula”, pois se mantido aquele “que” ele ficaria distante do outro,
descaracterizando o “queísmo”. Só fiz a substituição para vocês verem que ela
é possível.
• Plágio e paráfrase
Primeiramente, é interessante constatar que existe por parte de alguns a
mania, quase doentia, de nunca repetir palavras do texto original ao se referir a
peças jurídicas.
Ora, o que consta de uma petição inicial, de uma contestação ou de uma
sentença não é protegido por direitos autorais, de modo que, nesses casos, não
há falar em plágio.
Suponhamos que o seguinte texto conste de uma petição inicial: ⠀
“O requerido promoveu em desfavor do requerente protesto de
duas notas promissórias, baseado em dívida quitada, motivo pelo qual
deve ser condenado a compensar o dano moral sofrido”.
Se fizermos referência a esse texto em uma contestação, por exemplo,
podemos, sem cometer plágio, fazer a seguinte construção:
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O autor sustenta que o réu promoveu em seu desfavor protesto de
duas notas promissórias, baseado em dívida quitada, motivo pelo qual
deve ser condenado a compensar o dano moral sofrido.
Isso mesmo. Não há problema algum em repetirmos no nosso texto as
mesmas palavras do texto a que fazemos referência. Não há nem necessidade
das aspas!
Claro que quando transcrevemos, ipsis litteris, um texto mais longo de uma
peça jurídica, o uso das aspas é de bom tom. Não vamos também fazer do nosso
texto pura cópia do texto alheio.
Podemos incorrer em plágio propriamente dito quando transcrevemos
lições doutrinárias. Estas, sim, protegidas por direitos autorais. Nessas
hipóteses, siga as seguintes dicas:
- Se for transcrever literalmente a doutrina no seu texto, comece e termine
com aspas; caso contrário haverá plágio. Simples assim.
- Não há plágio se a paráfrase for muito mais curta do que o texto original.
- Se conseguimos parafrasear sem ter diante de nossos olhos o texto
original, não há plágio.
- Configura falsa paráfrase (plágio) a simples troca de palavras do texto
original por sinônimos.
- Se você não quiser parafrasear mas ao mesmo tempo quiser fugir do
plágio, uma opção é fazer paráfrase quase textual, isto é, intercalar texto próprio
com texto entre aspas. Assim:
Segundo o doutrinador, “.....”. Isto é, para haver cerceamento de defesa,
“.....”. Assim, “.....”.
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Como é sabido, a gratuidade da justiça se estende às pessoas
jurídicas com insuficiência de recursos para arcar com as despesas
processuais.
Assim, para a concessão da gratuidade da justiça, a pessoa jurídica
deve juntar aos autos documentos que demonstram a necessidade da
concessão da gratuidade da justiça.”
Gratuidade da justiça, gratuidade da justiça, gratuidade da justiça... parece
texto de criança!
Problema de repetição de palavras ou expressões é bastante frequente em
peças jurídicas. A verdade é que é muito fácil incidir nele, pois, quando
escrevemos, nosso cérebro retém a informação recente, de modo que a
probabilidade de a utilizarmos novamente no texto é grande. Por isso a
importância da revisão. Apenas revisando a peça é que constataremos esse tipo
de problema, que para resolver é simples: basta usar sinônimos, pronomes,
omitir a palavra ou a expressão repetida, ou rescrever a passagem.
Notem como fica melhor:
“Preliminarmente, requer a agravante lhe seja concedida a
gratuidade da justiça.
Na origem, O BENEFÍCIO lhe foi indeferido e a agravante foi
intimada para recolher o preparo sob pena de cancelamento da
distribuição do feito.
Como é sabido, a gratuidade da justiça se estende às pessoas
jurídicas com insuficiência de recursos para arcar com as despesas
processuais.
Assim, para SUA concessão, a pessoa jurídica deve juntar aos
autos documentos que lhe demonstram A HIPOSSUFICIÊNCIA.”
Criem o hábito de revisar as peças. Evitem fazer textos infantis!
• Nem bajulação, nem arrogância: apenas trate seu leitor com respeito
Há algum tempo deparei-me com dois parágrafos de peças recursais que
me levaram a fazer a presente observação.
O primeiro parágrafo é este. Reparem no elogio exagerado ao juiz:
“Mesmo tendo o autor demonstrado os requisitos para concessão da tutela
provisória, o ilustre Magistrado a quo, que tanto orgulha a Magistratura
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Catarinense e serve de exemplo de sapiência jurídica à Magistratura Nacional,
se manifestou nos autos no seguinte sentido:”.
Que “nhem-nhem-nhem” sem noção! Pra que isso?! E o pior é que o
advogado não sabe nem elogiar (ou puxar o saco, como queiram), porque o
elogio, de tão exagerado (“exemplo de sapiência jurídica à Magistratura
Nacional”?), tomou um sentido irônico, não sei se proposital.
O segundo parágrafo é este:
“Ao contrário do que decidido em primeiro grau, não se aplica ao caso o
art. 507 do CPC, pois, COMO QUALQUER OPERADOR JURÍDICO SABE,
matéria de ordem pública em fraude à execução não preclui.”
Para que chamar, por tabela, o juiz de ignorante? Vão me desculpar, mas
ignorante é o advogado que faz isso. Respeito acima de tudo. Todos os sujeitos
processuais, incluindo, portanto, o juiz, devem ser tratados com urbanidade. Se
não for por uma questão de respeito, que seja por estratégia. O juiz que agora é
chamado de ignorante poderá ser aquele que analisará o próximo caso de vocês.
Então cuidado com o que escrevem. Ao contrário da fala, que é efêmera, a
escrita fica marcada nos autos para sempre.
Outra coisa. A seara recursal não é bem o lugar para vocês ficarem fazendo
ironias ou puxando a orelha do juiz, mas para atacarem, tecnicamente, a decisão
recorrida. Têm dúvidas sobre a competência intelectual do magistrado?
Desabafem numa mesa de bar, entre amigos. É mais inteligente e mais bonito.
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acima, está trazendo o texto da contestação para dentro do texto da sentença.
Daí se falar em polifonia.
Peças elaboradas por advogados geralmente também são textos
polifônicos. Basta pensar que, ao apresentar uma defesa, o procurador do réu
obrigatoriamente tem de fazer referência ao que foi dito pelo causídico do autor
na petição inicial (outro texto). Por exemplo:
“Falta com a verdade o autor quando alega que não contratou os serviços
que lhe foram prestados...”.
Em peças jurídicas, a polifonia ou intertextualidade é representada muito
mais por paráfrases do que por citações diretas. Assim, o redator tende a fazer
períodos compostos por subordinação com orações substantivas desenvolvidas
e, portanto, com a conjunção integrante “que” (alegou QUE, disse QUE, sustenta
QUE), estrutura a qual, se não for prestada bastante atenção, pode acarretar
falta de clareza ao texto e, tratando-se de peças de advogados, vir até a
prejudicar a parte, pois muitas vezes nos esquecemos de repetir o “que” ou uma
estrutura com ele na continuação da frase, ou repetimos a conjunção
inadequadamente, deixando o texto obscuro ou com o chamado “queísmo”.
▪ Leiam o seguinte trecho de uma contestação:
“O autor sustenta que o réu deixou de pagar alimentos em 2017. Ademais,
o réu é sócio de uma grande empresa de tecnologia, de modo que possui, sim,
condições de pagar os alimentos no valor que fora fixado.”
Até “2017” não há nada de errado. Mas na continuação parece que o réu
está depondo contra si próprio, dizendo que é sócio de uma grande empresa e
que tem, portanto, condições de pagar os alimentos. Para corrigir, basta fazer
novamente uma construção com “que”. Assim: “Ademais, alega que o réu é
sócio...”.
▪ Semelhante problema ocorre na frase abaixo. Reparem a falta de “que”
antes de “o INSS”:
“A ré alegou que recebeu indenização do seguro obrigatório e o INSS lhe
concedeu auxílio-doença desde a data do acidente até 11-8-2009.”
▪ Agora leiam esta frase:
“A ré declarou que seu marido é aposentado e que percebe proventos de
aproximadamente R$ 3.000,00.”
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O “que” antes de “percebe” está sobrando, pois quem percebe proventos
não é a ré (a repetição do “que” leva a esse entendimento), mas o seu marido.
▪ Estruturas polifônicas podem igualmente levar à repetição de “quês”,
dando azo ao indesejado “queísmo”.
Notem:
“O agravante afirmou que apresentou documentação que comprova que é
agricultor e que não possui bens imóveis em seu nome.”
Que, que, que, que... Isso irrita o leitor. Para eliminar o queísmo, uma dica
é transformar em reduzidas de infinitivo as orações substantivas desenvolvidas:
“O agravante afirmou ter apresentado documentação que comprova ser
agricultor e não possuir bens imóveis em seu nome.”
Portanto, atentem-se para as estruturas polifônicas. Revisem as peças! É
na revisão que conseguirão ver se há “que” sobrando ou faltando.
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“Essa compreensão se coaduna com o entendimento inserto na ementa do
acórdão a seguir transcrita:”
E não pensem que se preocupar com isso – em não confundir precedente,
julgado e jurisprudência com ementa – é preciosismo. Quando vocês dão valor
a detalhes como esse, suas peças aos poucos vão adquirindo credibilidade, e o
leitor pode, assim, acabar aderindo mais facilmente às teses que defendem.
Acreditem, isso pode fazer toda a diferença no final.
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