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Música na Educação Básica

Música na Educação Básica

Música na Educação Básica

As brincadeiras musicais e
o trânsito entre a diversão
e a aprendizagem:
propostas práticas
João Valter Ferreira Filho
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

Jaqueline Rodrigues Lira


Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
Musical games and the transit between fun
and learning: practical proposals

Resumo Abstract
Este trabalho apresenta uma série de quatro This work presents four musical activities aimed
atividades musicais voltadas para o ensino de at teaching music in early childhood. These ac-
música na primeira infância e que foram elab- tivities were elaborated having as epistemolo-
oradas tendo como aportes epistemológicos gical contributions propositions arising from
proposições advindas das Teorias do Desen- Child Development Theories (PIAGET, 1975;
volvimento Infantil (PIAGET, 1975; VYGOTSKY, VYGOTSKY, 1984; MONTESSORI, 1936; 1949;
1984; MONTESSORI, 1936; 1949; dentre outros). among others). Making use of proposals to
Lançando mão de propostas de contextualiza- contextualize these perspectives in the area of
ção dessas perspectivas à área da Educação Mu- Music Education (FRANÇA, 2002; 2003; 2008;
sical (FRANÇA, 2002; 2003; 2008; 2016; SWAN- 2016; SWANWICK, 2003), practical proposals
WICK, 2003), apresentam-se propostas práticas of games and musical dynamics are presented,
de brincadeiras e dinâmicas musicais que têm whose main objective is to bring to the daily life
como objetivo principal trazer para o cotidiano of Early Childhood Education, meaningful and
da Educação Infantil vivências sonoras significa- playful sound experiences. So that, both toge-
tivas, de forma que sejam trabalhados, ao mes- ther, elements of the musical language and the
mo tempo, elementos próprios da linguagem sense of self-awareness as a human being and
musical e o senso de autoconsciência como ser learner are worked on. Thus, dimensions such
humano e aprendiz. Nessa direção, são trabalha- as feelings, corporeality, spatiality etc. will be
das dimensões como os sentimentos, a corpo- worked in an organic and integrated way. The
ralidade, a espacialidade etc. As atividades aqui activities presented here are simple and practi-
apresentadas são simples e práticas, podendo cal, and can be developed, with great possibili-
ser desenvolvidas, com grandes possibilidades ties of variation, in groups of different levels of
de variação, em turmas de vários níveis da Edu- Early Childhood Education.
cação Infantil.
Keywords: Early childhood education; Child de-
Palavras-chave: Educação infantil; Desenvolvi- velopment; Musical activities; Musical games.
mento infantil; Atividades musicais; Brincadeiras
musicais.

FERREIRA FILHO, João Valter; LIRA, Jaqueline Rodrigues. As brincadeiras musicais e o trânsito entre a
diversão e a aprendizagem: propostas práticas. Música na Educação Básica, v. 11, n. 13/14, 2022. p.
122-133.
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é tida como prioridade. A perspectiva da


Introdução musicalização, por outro lado, deve dar
De acordo com França (2002), os pro- centralidade a outros elementos da forma-
cessos de ensino-aprendizagem musical ção humana, tais como a curiosidade, ex-
assumem especial relevância no macro ce- ploração e fantasia, sem que isso signifique
nário da educação infantil à medida que, uma transformação conceitual do papel da
para além da formação técnica especifi- música nesses processos de formação, ou
camente voltados para os conhecimentos seja, sem que a ela seja relegado um papel
da área, abrem novas possibilidades à for- secundário.
mação humana. Esse cenário se estabe- As propostas de atividades que apre-
lece no sentido de dar suporte para que sentamos nos tópicos a seguir procuram
as crianças explorem o ambiente em que partir desses pressupostos em direção a
vivem e para que se expressem cada vez oportunidades concretas que aliem o lúdi-
mais conscientemente por meio dos sons co-sonoro à formação cognitiva, corporal
e silêncios. Nesse contexto, a autora assi- e emocional. São ideias disparadoras para
nala que a Educação Musical tem nature- atividades que podem, por isso mesmo, ser
za e objetivos diferentes do ensino espe- adaptadas e recriadas livremente, e que
cializado de música, no qual, geralmente, podem se adaptar facilmente a diversos
a performance instrumental é tida como cenários de ensino aprendizagem formal
prioridade, desse modo, embora legítimo e e não-formal no contexto da Educação In-
necessário, provavelmente esse pode não fantil.
ser o formato de Educação Musical mais
adequado a todas as crianças (FRANÇA,
2002, p. 08). Em sua perspectiva, portanto, 1. Canção “Seu
a educação musical deve preservar o ins-
tinto de curiosidade, exploração e fantasia,
Imitador”
que são características fundamentais da 1.1 Proposta da atividade
vida infantil.
Por meio da imitação de gestos e sons,
Nessa direção, estabelecem-se como as crianças podem se familiarizar com o
objetivos importantes para as iniciativas de uso da linguagem sonora e de sua orga-
musicalização infantil o desenvolvimento nização sob a forma de música, com seus
de atividades e demais oportunidades for- elementos rítmico-melódicos.
mativas que sejam capazes de ajudar os
Além disso, a expressão corporal favore-
alunos a construírem, por meio de vivências
ce o estabelecimento de vínculos cogniti-
significativas, as ferramentas cognitivo-
vos entre o fazer musical e a espacialidade,
-emocionais necessárias para significarem
bem como possibilita trabalhar a dimensão
sequências de gestos e sons como autênti-
psicomotora e comportamental.
cas experiências cognitivas e estéticas.
Assumindo tais premissas, assinala-
As crianças não crescem em um vácuo
mos que, em consonância com a literatura
acústico. As canções que elas cantam
(PENNA, 2015; FRANÇA, 2008; SWANWI- e as palavras que repetem refletem os
CK, 2003; dentre outros) a Educação Mu- sons que elas ouvem na sociedade, ao
sical assume caráter e objetivos diferentes invés de um padrão sonoro universal pré-
do ensino especializado de música, no qual, ordenado. (GARDNER, apud ILARI, 2009,
geralmente, a performance instrumental p. 28).

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1.2 A canção
Acesse o QR
A canção “Seu Imitador” é uma compo- code ao lado
sição de João Valter Ferreira Filho e apre- para ouvir a
senta como desafio para as crianças imitar canção
“Seu Imitador”
gestos e sons realizados primeiramente
pelo(a) professor(a).

Seu Imitador Partitura da canção “Seu Imitador”


João Valter Ferreira Filho

1.3 Passo-a-passo da atividade 1.4 Reflexão pós-atividade


a) Forma-se um círculo ou meia-lua com Depois de a atividade terminada, o(a)
todas as crianças e educadores presen- professor(a) pode provocar uma pequena
tes em sala de aula; discussão, procurando explorar aspectos
como as características e desafios apre-
b) Com ou sem acompanhamento instru-
sentados pelos sons e gestos que foram
mental, a pessoa responsável por con-
surgindo na atividade:
duzir a atividade canta a melodia e pede
que as crianças a repitam logo depois; • Quais os sons mais esquisitos que
c) Sem mais demoras, já se parte imedia-
fizemos?
tamente para a brincadeira. A cada vez • Quais os movimentos mais difíceis?
que a pessoa que está conduzindo ter-
• E os mais engraçados?
mina de cantar a melodia, já inicia ges-
tos e/ou sons, que devem ser imitados
imediatamente por todas as crianças;
d) Canta-se novamente a melodia e criam-
-se novos gestos e sons;
e) Depois que as crianças já estiverem
familiarizadas com a melodia e a di-
nâmica, a pessoa que conduz a ativi-
dade pode substituir o trecho que diz
“[...] olhe para mim” pelos nomes das
próprias crianças, como por exemplo:
“[...] olhe para Sophia” ou “[...] olhe para
João”. Então, será esse menino ou me-
nina que inventará gestos/sons a serem
imitados por todos.

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2. Atividade “De onde 2.2 Passo-a-passo da atividade


a) Propor uma roda de conversa para so-
vêm os sons?” cializar com as crianças sobre “de onde
2.1 Proposta de atividade vêm os sons?” Algumas hipóteses serão
Percebemos o mundo à nossa volta por levantadas;
meio dos olhos, do nariz, da boca, da pele b) Após a socialização das hipóteses, rea-
e dos ouvidos. Então, quando observamos lizar um passeio pela escola refletindo
atentamente aquilo que nos cerca, sempre sobre os sons que ouvimos, de onde
fazemos incríveis descobertas, tendo as- eles vêm?
sim uma melhor compreensão do mundo
c) Em seguida, em um espaço preparado
ao nosso redor.
anteriormente pelo professor, sugere-
A música existe porque nos eleva, -se às crianças um piquenique musical,
transportando-nos de um estado no qual elas poderão experimentar di-
vegetativo para uma vida vibrante (...). A ferentes fontes sonoras (instrumentos
música existe para que possamos sentir o musicais percussivos, garrafas de vidro,
eco do Universo, vibrando através de nós colheres de pau, baldes, copos, semen-
(SCHAFER, 1991, p. 295).
tes, folhas de árvore, garrafas pet, bacia
com água), explorando esses sons no
Neste sentido, a proposta de atividade acompanhamento de canções tocadas
a seguir objetiva proporcionar às crianças (com violão/ukulelê) pelo professor e
a ampliação e compreensão do universo cantada pelo grupo;
sonoro através da exploração de diversas
fontes sonoras, da comparação de carac-
terísticas entre os sons, da execução de Para ver e ouvir
sons vocais/corporais, e também através
Atividade sendo
da expressão de sensações e emoções,
realizada na escola
partindo da apreciação musical.

Os princípios do sistema Pestalozzi de
Educação Musical são: ensinar sons antes
d) Na sequência da atividade, pode-se
de ensinar signos e fazer a criança aprender
propor a brincadeira de descobrir qual
a cantar antes de aprender a escrever as
notas ou pronunciar seus nomes; levá-la a é o som, onde uma criança de olhos
observar auditivamente a imitar os sons, vendados irá descobrir de onde vem o
suas semelhanças e diferenças, seu efeito som que ela está ouvindo.
agradável ou desagradável, em vez de
explicar essas coisas ao aluno, em suma, A criança é um ser “brincante”, e brincando,
tornar o aprendizado ativo e não passivo faz música, pois assim se relaciona com o
(FONTERRADA, 2008, p. 61). mundo que descobre a cada dia. Fazendo
música ela metaforicamente, “transforma-
se em sons”, num permanente
exercício: receptiva e curiosa, a criança
pesquisa materiais sonoros, “descobre
instrumentos”, inventa e imita motivos
melódicos e rítmicos e ouve com prazer
músicas de todos os povos (BRITO, 2003,
p. 35).

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Crianças executando
a atividade

2.3. Reflexão pós-atividade


A música é uma prática
Ao término deste momento, o(a) inerente à natureza
professor(a) deve promover com as crian- humana. Todos os grupos
ças uma socialização sobre suas impres- sociais a praticam em
sões acerca de suas descobertas sonoras: seus cantos, suas crenças,
seus rituais, e momentos
• Quais sons mais gostaram? de lazer, expressando
• Qual deles pareceu mais estranho? sentimentos e valores
culturais e estéticos. A
• Esses sons combinaram com as maioria das pessoas o faz
músicas que cantamos? de uma maneira intuitiva
que permeia e enriquece
Através desses processos são abertas seu cotidiano (FRANÇA
novas possibilidades no sentido de oferecer et al, 2016, p. 07).
às crianças condições para que explorem o
ambiente em que vivem, e aprendam a se
expressarem através dos sons e silêncios.

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3. Canção “A minha
cara”
3.1 Proposta da atividade
Ao associarem sentimentos e expres-
sões corporais a sons e gestos, as crianças
têm a oportunidade de desenvolver ainda
mais sua capacidade de utilizarem a músi-
ca como linguagem.
Além disso, assim, como na atividade
anterior, também são trabalhas dimen-
sões como a espacialidade e a psicomo-
tricidade.

Os sentidos se desenvolvem de maneira


singular e gradativa; por isso, educar a 3.3 Recursos necessários
criança a partir deles é respeitar o curso
natural do desenvolvimento humano Panfletos nos quais estejam impressos,
(ARCE apud MORAIS, 2012, p. 49). separadamente, todos os sentimentos a
serem expressos a cada vez que se entoa
a canção.
3.2 A canção
A canção “A minha cara” é uma compo-
sição de João Valter Ferreira Filho e apre-
senta como desafio para as crianças criar
expressões faciais/corporais que revelem
seus sentimentos.

Acesse o QR
code ao lado
para ouvir a
canção
“A minha cara”
(Exemplos de panfletos com sentimentos a serem explorados na
canção “A minha cara”.)

A minha cara Partitura da canção “A minha cara”


João Valter Ferreira Filho

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3.4 Passo-a-passo da atividade


a) Forma-se um círculo ou meia-lua com • Contem sobre um dia em que vocês
todas as crianças e educadores presen- tiveram muito medo?
tes em sala de aula;
• Já estiveram com um sono tão forte
b) À frente da pessoa que conduzirá a ati- que vocês não conseguiram contro-
vidade coloca-se uma pilha com todos lar?
os panfletos que apresentam faces de
• Já houve alguma vez em que você
crianças expressando determinados
ficou com muita fome e teve que
sentimentos (figura 1).
esperar?
c) Com ou sem acompanhamento instru-
mental, a pessoa responsável por con-
duzir a atividade canta a melodia e pede 4. Atividade
que as crianças a repitam logo depois;
“Natureza, formas e
d) Sem mais demoras, já se parte imedia-
tamente para a atividade. No meio da
sons”
melodia, quando se termina de cantar 4.1 Proposta da atividade
o trecho em que se diz “[...] e a minha O espaço pode ser transformado em
cara fica assim”, para-se a canção e sor- contextos de aprendizagem, espaços in-
teia-se um panfleto que será mostrado vestigativos de exploração com materiais
para toda a turma; que tenham potencial para gerar vínculos,
e) Na mesma hora todas as crianças são relações e sensações, moldando assim o
motivadas e fazem caretas ou gestos ambiente tornando-o propício ao desen-
que expressem aquele mesmo senti- volvimento. Várias linguagens são desen-
mento. volvidas nesses espaços/contextos através
dos sentidos, assim acontece com a lingua-
f) A pessoa que está conduzindo a ativi-
gem musical.
dade deve motivar todos os alunos a
olharem uns para os outros, com liber-
dade, inclusive, para sorrir das caretas
A invenção sonora é tão natural à criança
dos colegas;
quanto outras formas de expressão
g) Depois desse breve momento, segue-se artística. É uma experiência prazerosa,
o restante da canção; capaz de enriquecer sua vida intelectual
e afetiva. Quando cria, ela desenvolve seu
h) Reinicia-se o ciclo, para sorteio de novo pensamento abstrato, pois cria mundos
sentimento. sonoros imaginários (FRANÇA, 2016, p.
39).

3.5 Reflexão pós-atividade


Depois de a atividade terminada, o(a)
professor(a) pode provocar uma pequena
discussão, procurando explorar aspectos
como momentos da vida em que as crian-
ças passaram por sentimentos parecidos
com os que foram cantados e como rea-
giram.

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4.2 Passo-a-passo da atividade associado à forma do material escolhi-


a) Propor um momento de percepção so- do, apresentando essa sonoridade aos
nora, sensibilizando as crianças para demais colegas. As crianças podem
a observação das características dos produzir esses sons com instrumentos
sons quanto a sua duração; musicais, sons vocais e corporais

b) Sugerimos utilizar instrumentos mu- f) Quando forem concluídos os trabalhos,


sicais de forma que as crianças consi- o professor(a) organiza uma exposição,
gam distinguir os sons longos e curtos, onde as crianças poderão compartilhar
de forma que possam demonstrar essa com seus familiares suas composições,
distinção através de movimentos cor- apresentando aos mesmos, sob orien-
porais, de sons vocais e desenhos. tação do professor, as experiências e
conhecimentos que adquiriram com a
realização do trabalho exposto;
DICA!
A música O Palhaço e a bailarina, de
Cecília Cavalieri e a peça Tartarugas, da Para ver e ouvir
obra Carnaval dos animais, do compositor
Camile Saint Sãens, são ótimas sugestões Exposição
natureza,
para a realização desse momento.
formas e sons.

c) Após esse momento, em um passeio


pela escola, as crianças juntamente
com o professor(a) podem selecionar e
coletar elementos naturais (folhas, ga-
lhos, sementes). Sugerimos chamar a
atenção das crianças no momento da
colheita desses materiais, para associa-
rem a forma dos mesmos aos sons que
ouviram anteriormente. Outros mate-
riais que fazem parte do cotidiano das
crianças (fitas, cordão, linhas, fios diver-
sos) também podem ser utilizados nes-
sa observação/seleção;
d) Partindo das observações, das associa-
ções e dos experimentos vivenciados
nesse momento, o professor(a) dire-
ciona as crianças na produção de uma
composição (colagem) utilizando os
diversos materiais coletados pelo gru-
po, formando uma espécie de partitura
analógica;
e) Essa composição pode ser produzida
por pequenos grupos de crianças, onde
cada uma escolhe os materiais que irá
utilizar e, em seguida, produzem o som

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4.3. Reflexão pós-atividade [...] podemos ver que a música não


Quando forem concluídos os trabalhos, somente possui um papel na reprodução
o professor(a) organiza uma exposição, cultural e afirmação social, mas
onde as crianças poderão compartilhar também potencial para promover o
desenvolvimento individual, a renovação
com seus familiares suas composições
cultural, a evolução social, a mudança
(partitura analógica), apresentando aos
(SWANWICK, 2003, p. 40)
mesmos, as experiências e conhecimentos
que adquiriram no âmbito do universo so-
noro, através do trabalho exposto.
No ambiente de aprendizagem, cada
movimento, cada fala e cada ação da crian-
ça virão carregados de significados, que
resultam numa melhor compreensão de
como as crianças se desen-
volvem. Em todo contex-
to da proposta, é possível
perceber meios para que
ocorra o aprendizado das
crianças de forma integra-
da, na percepção sonora
do ambiente, na associação
dos sons às formas de ma-
teriais diversos, na criação
de melodias, na apreciação
e apresentação de seus tra-
balhos.

Painéis produzidos na atividade

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3. Considerações finais
Em uma perspectiva mais ampla, as ati- fundamentais, que se dão de forma inte-
vidades apresentadas neste trabalho vi- grada e orgânica em cada pequena expe-
sam articular experiências marcadas pela riência cotidiana. Sendo assim, o educador
diversão a uma série de conhecimentos e musical assume o papel de condutor de
saberes da área da música. Dessa forma, vivências que podem ajudar os alunos a
jogos, dinâmicas e brincadeiras adquirem – perceber e mesmo explorar as potenciali-
por força de seu planejamento, condução e dades e funções da expressão musical em
intencionalidade – um caráter pedagógico- sua própria vida.
-musical muito evidente, desencadeando
Diversas outras atividades podem ser
experiências de aprendizagem significati-
desenvolvidas dentro desse mesmo perfil
vas que, por sua vez, têm a potencialida-
e esperamos que, a partir desses quatro
de de contribuir para a formação geral dos
exemplos que aqui foram apresentados,
alunos.
outros educadores possam também se
No cerne de toda essa proposta, está a sentir seguros para propor e compartilhar
percepção de que o universo da primeira seus trabalhos.
infância é caracterizado por aprendizagens

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Autores Referências
BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São
Paulo: Peirópolis, 2003.

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e


fios: Um ensaio sobre música e educação. 2. ed. São Pau-
lo: Editora Unesp, 2008.
João Valter FRANÇA, C. C; SWANWICK, K. Composição, apreciação
Ferreira Filho e performance na educação musical: teoria, pesquisa e
joao.valter.ufcg@gmail.com prática. Em Pauta, v.13, p.5 - 41, 2002.

FRANÇA, Cecília C. O som e a forma, do gesto ao va-


João Valter Ferreira Filho é doutor em Mú- lor. In: HENTSCHKE, L.; DEL BEN, L. Ensino de música:
sica pela Universidade Federal da Paraíba, propostas para pensar e agir na sala de aula. São Paulo:
mestre em Educação, especialista em Edu- Moderna, 2003a. p. 5-41.
cação Musical e licenciado em Música pela FRANÇA, C. C. Para fazer música. Belo Horizonte: Editora
Universidade Federal do Piauí. Atualmente UFMG, 2008. v. 1.
é professor do Bacharelado e da Licencia-
FRANÇA, Cecília Cavalieri; CASIONE, CLEUSA; CABRAL,
tura em Música da Universidade Federal de Giordano; BELTRAME, Juciane Araldi; KLEBER, Magali;
Campina Grande, onde, além de coordenar FIALHO, Vania Malagutti. Hoje tem aula de música? Belo
a Licenciatura e lecionar disciplinas diversas, Horizonte: MUS, 2016.
lidera o EHMMus – Grupo de Pesquisa em ILARI, Beatriz. Música na infância e na adolescência: um
Ensino, História e Memória da Música. livro para pais, professores e aficionados. 1. ed. Curitiba:
Ibpex, 2009.

MONTESSORI, Maria. A criança (Il segreto dell infanzia).


Tradução: Luiz Horácio da Matta. Amsterdam: Association
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MONTESSORI, Maria. Mente Absorvente. Tradução [Wil-


ma Freitas Ronald de Carvalho]. Rio de Janeiro: Editora
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Rodrigues Lira
jaqueline.rodrigues@estudante.ufcg. MORAIS, Daniela Vilela de. Educação musical: materiais
edu.br concretos e prática docente. Curitiba: Appris, 2012.

PENNA, Maura. Música (s) e seu ensino. 2ed. rev. e ampl.


Jaqueline Rodrigues Lira é Educadora Mu- Porto Alegre: Sulina, 2015.
sical e violinista, Mestranda em Música pela
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imita-
Universidade Federal de Pernambuco e Li- ção, jogo e sonho, imagem e representação (Cabral, A.
cenciada em Música pela Universidade Fe- Oiticica, C.M., Trad.). 2a Ed. Rio de Janeiro: Zahar; Bra-
deral de Campina Grande. Participou do sília, 1975.
Programa Residência Pedagógica/CAPES. SCHAFER, R. Murray. O ouvido pensante. Trad. Marisa
Atualmente é professora de Musicalização Trench de Oliveira Fonterrada. São Paulo: Editora UNESP,
Infantil no Colégio Motiva (Campina Grande/ 1991.
PB) e integrante da Orquestra de Câmara SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. Tra-
da UFCG e do Grupo de Pesquisa em Ensi- dução [Alda Oliveira e Cristina Tourinho]. São Paulo: Mo-
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UFCG.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da men-
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