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Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 584

A LINGUAGEM MUSICAL NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Maria Cristina Ponçano Brito 1, Carmen Lúcia Dias 2


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Discente/Mestrado em Educação da UNOESTE. Docente/Mestrado em Educação da UNOESTE. E‐mail:
cris_emr@hotmail.com

RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar a importância da música na formação inicial do
professor de Educação Infantil e consequentemente para a formação integral do aluno de 4 a 6
anos. Inicialmente são apresentadas algumas contribuições que apontam a obrigatoriedade,
necessidade e importância da presença da música na formação do professor e aluno da Educação
Infantil. A inclusão da linguagem musical no currículo do curso de Pedagogia e os benefícios desta
prática para a Educação Infantil são discutidos a partir da contribuição de autores expoentes na
área sendo também abordados e recomendados no Referencial Curricular Nacional indicando ser
efetiva a presença da música na formação integral da criança. Portanto, conclui‐se que inserir a
linguagem musical na grade curricular dos cursos de Pedagogia vem colaborar para que os
egressos desenvolvam experiências que os preparem nesta área, assumindo em suas práticas a
importância da música para o desenvolvimento integral dos alunos.
Palavras‐chave: Formação inicial do professor. Linguagem musical. Educação Infantil.

INTRODUÇÃO
“A educação da nossa sensibilidade musical deveria ser um dos
objetivos da educação”.
Rubem Alves

Ao se pensar em Educação musical, remete‐se à educação que oportuniza a pessoa o


acesso à música enquanto arte, linguagem e conhecimento. Trabalhar a Educação Musical na
escola ou em qualquer outro ambiente que se proponha, nem sempre é sinônimo de
formar músicos profissionais, mas sim, primeiramente, o de explorar sua musicalidade.
A lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, com fundamento no Parecer CNE/CP nº 3
(BRASIL, 2006) diz que as diretrizes curriculares nacionais para o curso de Pedagogia (DCNP)
aplicam‐se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil; a Lei 11.769 de 18
de agosto de 2008 (BRASIL, 2008) coloca a música de volta à escola; e o Referencial Curricular
Nacional para Educação Infantil (RCNEI) orienta e sugere que a presença da música, na formação
integral da criança, seja efetiva (BRASIL, 2008).
Estes fatores relacionados abordam a obrigatoriedade, necessidade e importância da
presença da música na formação do professor e aluno da Educação Infantil. Como pode ser feita a
correlação entre a execução das leis, as propostas dos referenciais e a realidade educacional?

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Verificando junto a algumas Instituições de Ensino Superior (IES), em especial nos cursos
de Pedagogia como tem sido contemplada em sua grade curricular a disciplina da linguagem
musical, observa‐se que na sua minoria, a música aparece apenas na disciplina de Artes como uma
das expressões artísticas (Música, Dança, Teatro e Artes Visuais).
Como resposta à promulgação da lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (LDB),
lei nº 9394/96(BRASIL, 2004) que instituiu o ensino de artes como obrigatório nos diversos níveis
da educação básica, faz‐se necessária uma reformulação nas grades curriculares dos cursos de
Pedagogia, na qual a disciplina Artes foi inserida.
Por tanto, vale destacar que mesmo que a disciplina Artes, que compreende as quatro
expressões artísticas: Artes visuais, Artes cênicas, Música e Dança, tenham sido introduzidas nos
currículos escolares e nos cursos de Pedagogia, o espaço destinado à Linguagem Musical é muito
restrito. Figueiredo (2001) ao pesquisar 19 cursos de Pedagogia da região sul e sudeste do país,
verificou que:
a grande maioria das disciplinas ofertadas aborda várias linguagens
artísticas, sendo que as mesmas são ministradas por um só professor
[...] de um modo geral, a música é pouco oferecida nas disciplinas
mencionadas e é considerada específica demais. (FIGUEIREDO, 2001,
p.2).

Os professores querem trabalhar nesse campo do conhecimento, sabem da importância


da música para o desenvolvimento integral da criança e da necessidade de se introduzir a música
na escola, mas, como não tiveram contato com a linguagem musical na formação inicial e não
foram oportunizadas situações de aprendizagens e experiências musicais, a dificuldade se
apresenta maior. Como gostar de ensinar algo que não conhecem e que consideram assunto para
“especialistas”? Como irão valorizar o ensino da linguagem musical?

A UTILIZAÇÃO DA LINGUAGEM MUSICAL


Musicalizar é oferecer à pessoa ferramentas básicas para a compreensão e utilização da
linguagem musical. A criança constrói seu conhecimento musical por meio da escuta e exploração
do som e suas qualidades.
Os professores da Educação Infantil, mesmo sem serem especialistas em música, podem
e devem realizar experiências musicais com as crianças em que os sons, os ruídos e as percussões
produzidas e escutadas tragam contribuições para a formação de sua paisagem sonora1, ou seja,
permitam que a criança brinque com diferentes tipos de sons, explore e transforme objetos.

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Percorrendo a literatura, encontram‐se procedimentos realizados pela Universidade


Federal de Santa Maria (UFSM), que na intenção de atender às Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Pedagogia (DCPN), realizou reformulações e adaptações curriculares apresentando a
inserção da linguagem musical no currículo do curso de Pedagogia desde 1984. Os resultados
desta prática são muito positivos e eficazes, servindo de apoio para este projeto. Osterreich (2010)
pesquisou a trajetória histórica das disciplinas de música na Pedagogia/ UFSM, de 1984 a 2008,
constatou que:
a inserção da música na pedagogia teve influência resultante da
presença de um conjunto de professores, que se encontravam
vinculada ao departamento de Metodologia do Ensino e
responsáveis pelas diferentes Licenciaturas em Artes‐Música, Artes
Plásticas e Teatro, cujas vozes e experiências foram determinantes
para esta alteração. (OSTERREICH, 2010, p.143).

1. Paisagem Sonora: O autor Murray Shafer, na década de 60, criou o termo em inglês
soundscape, neologismo que quer dizer paisagem. Traduzido para o português, soundscape quer
dizer paisagem sonora: qualquer evento sonoro que compõe um determinado ambiente. (SHAFER,
2001, p.11).

A utilização da Linguagem Musical e a ação docente na formação dos alunos da Educação


Infantil são propostas pelo RCNEI (BRASIL, 2008) nos seguintes termos:
[...] a linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento
de expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento,
além de poderoso meio de integração social, [...] Integrar a música à
educação infantil implica que os professores devam assumir uma
postura de disponibilidade em relação a essa linguagem. (BRASIL,
2008, p.49, 67).

Inserir a música como forma de linguagem é crer na possibilidade de orientar o professor


não especialista para esse trabalho e assumir integralmente a importância da música como
atividade presente na construção do conhecimento e da emoção.

MÚSICA NO PROCESSO EDUCACIONAL


Remetendo‐se ao aspecto histórico da Música na formação do professor de Educação
Infantil no Brasil, há que se considerar a importante contribuição de Fucks (1991), Bellochio et al.
(1998) e Jardim (2003) que indicam por meio de suas pesquisas que a música sempre foi
contemplada nas matrizes curriculares da Escola normal e na habilitação específica para

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Magistério. Em 1890, foi a primeira vez que a disciplina música foi incluída na escola normal em
São Paulo.
Portanto, o estudo da música era constante nos cursos de formação de professores, mas
com o surgimento do curso superior de Pedagogia no ano de 1939, veio a enfraquecer, perdendo
seu espaço.
Por sua vez, a importância da música no processo educacional infantil está no fato de que
esta consegue de certa forma trabalhar a personalidade da criança, uma vez que consegue
promover na criança o desenvolvimento de hábitos, atitudes e comportamentos que expressam
sentimentos e emoções, como atesta Gainza:
Em todo processo educativo confunde‐se dois aspectos necessários e
complementares: por um lado à noção de desenvolvimento e
crescimento (o conceito atual de educação está intimamente ligado à
ideia de desenvolvimento); por outro, a noção de alegria, de prazer,
num sentido amplo, [...] Educar‐se na música é crescer plenamente e
com alegria. Desenvolver sem dar alegria não é suficiente. Dar alegria
sem desenvolver, tampouco é educar (GAINZA, 1988, p.95).

Da constatação acima, pode‐se afirmar que, o acesso à música é necessário ao


processo educacional da criança.
Quando esse processo é conduzido por pessoas conscientes e competentes, deixa
de ser apenas recreação favorecendo uma rica vivência e estimulando o desenvolvimento dos
meios mais espontâneos de expressão. Isso recupera a música à sua condição de linguagem
natural, viva, de pensamentos e emoções.

MÚSICA E CÉREBRO
Estudos da neurociência apontam que o momento mais significativo do desenvolvimento
do cérebro se dá em crianças, do nascimento até a idade de 10 anos, onde as conexões dão
origem aos diversos sistemas do neurodesenvolvimento e estes ajudam no desenvolvimento de
várias inteligências. Assim sugerem Cardoso e Sabbatini (2000):
A educação de crianças em um ambiente sensorialmente
enriquecedor desde a mais tenra idade pode ter um impacto sobre
suas capacidades cognitivas e de memórias futuras. (A presença de
cor, música, sensações, variedade de interação com colegas e
parentes das mais variadas idades, exercícios corporais e mentais
podem ser benéficos (desde que não sejam excessivos). (CARDOSO;
SABBATINI, 2000, p.11).

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As autoras mencionadas apontam a importância de trabalhar e manter contato com a


música nos ambientes familiares e escolares, verificando que acontece o desenvolvimento
cerebral da criança que vivencia a música, melhorando suas capacidades cognitivas.
Para Straliotto (2001),
A inteligência pode ser desenvolvida por meio da audição, e que a
criança quanto mais cedo entrar em contato com o mundo da
música, maiores serão as chances de que ela assimile novos códigos
sonoros, funcionando como uma nova forma de exteriorizar os
sentimentos, como um novo idioma, que servirá de caminho para as
emoções. (STRALIOTTO, 2001, p.63).

Portanto, estudos comprovam a importância da música ao ser humano, especialmente às


crianças, em fase de desenvolvimento e aprendizado do mundo.
Conforme afirma Ilari (2003)
[...] ninguém precisa fazer mágica: para desenvolver a inteligência
musical e o cérebro da criança, basta fazer música. O educador deve
utilizar de grande variedade de atividades e tipos de música. Cantar,
bater ritmos, movimentar‐se, dançar, ouvir vários tipos de melodias
e ritmos, manusear objetos sonoros e instrumentos musicais,
participar de jogos musicais, acompanhar rimas e parlendas com
gestos, construir instrumentos musicais, cantar espontaneamente e
outros, devem fazer parte da musicalização das crianças. Todas essas
atividades são benéficas e podem contribuir para o desenvolvimento
do cérebro da criança. (ILARI, 2003,p.14).

Entretanto, para que os egressos do curso de Pedagogia tenham condições de se


utilizarem da música é necessário que desenvolvam experiências que os preparem nessa área.
Conforme aponta Wazlawick (2006),
As emoções e os sentimentos, integrantes da atividade humana,
junto ao agir e pensar configuram a construção dos significados
singulares da música, de acordo com a vivência do sujeito e de sua
própria reflexão acerca de si e de suas experiências. (WAZLAWICK,
2006, p.13).

Vivências prévias são essenciais para que ocorra uma práxis calcada na própria
experiência dos egressos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensando na importância da educação musical para o desenvolvimento infantil, a
partir da leitura de pesquisadores que abordam esta temática, este artigo teve por objetivo
evidenciar a necessidade de ser inserida a disciplina Linguagem Musical nos cursos de formação
inicial do professor de Educação Infantil; levando‐o a internalizar a importância de inserir a
linguagem musical em sua formação; compreender o que venha a ser a linguagem musical, a
importância de utilizá‐la em sua prática e os benefícios que ela traz para o desenvolvimento global
da criança que estará sob seu olhar e ação.

REFERÊNCIAS

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