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Controladoria-Geral da União
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO
DESTINAÇÃO PATRIMONIAL COM FUNÇÃO SOCIAL
Dezembro de 2021
1
Controladoria-Geral da União - CGU
Secretaria Federal de Controle Interno
2
Missão
Elevar a credibilidade do Estado por meio da participação social, do controle
interno governamental e do combate à corrupção em defesa da sociedade.
3
POR QUE A CGU REALIZOU ESSE TRABALHO?
QUAL FOI O De acordo com os dados revisados pela Fundação João Pinheiro, ano base
TRABALHO de 2019, o déficit habitacional em todo o Brasil está em 5,8 milhões de
moradias. Em 2019, ainda segundo esse estudo, 3,557 milhões de
REALIZADO domicílios apresentaram inadequação quanto à situação do terreno onde
PELA CGU? se localizam, o que corresponde a cerca de 5,7% dos domicílios
particulares permanentes duráveis urbanos do país.
O trabalho de Auditoria É nesse ambiente institucional complexo que a proposição deste trabalho
cujos resultados tem sua motivação a partir da possibilidade de identificar oportunidades
encontram-se de melhoria nas ações do Governo Federal relacionadas à utilização de
consignados no imóveis da União para atendimento de necessidades habitacionais e para
presente relatórios promover a segurança na posse de moradia de famílias de baixa renda.
constitui-se em
avaliação do processo
de destinação QUAIS AS CONCLUSÕES ALCANÇADAS PELA
patrimonial de imóveis CGU? QUAIS AS RECOMENDAÇÕES QUE
da União para
atendimento de DEVERÃO SER ADOTADAS?
necessidades A partir dos testes aplicados foi identificada a necessidade de
habitacionais e qualificação dos cadastros existentes na SPU e a implantação de uma
promoção da sistemática de gestão de riscos como condição para definição dos
segurança na posse de imóveis com maior potencial para regularização fundiária. Também se
moradia de famílias de verificou que, apesar do interesse das municipalidades em aderir a
baixa renda, a fim de ações de regularização fundiária promovidas pela SPU, a deficiência na
garantir a função capacidade técnica e operacional dos municípios impactam
socioambiental desse negativamente esses processos. Constatou-se a baixa probabilidade de
patrimônio e a cumprimento das metas estabelecidas no Programa Regulariza+ (SPU)
promover o e que existem embaraços para utilização de imóveis da União não
desenvolvimento administrados diretamente pela SPU em apoio a programas
econômico em habitacionais. Em função desses achados foi recomendado à
harmonia com os Secretaria:
programas estratégicos
do Estado brasileiro. • Qualificar os cadastros de imóveis existentes e implantar a gestão
de riscos para definição/ranqueamento dos imóveis com menor
risco residual de insucesso em iniciativas de regularização fundiária
ou provisão habitacional entre os imóveis cadastrados na SPU
(administrados direta ou indiretamente).
• Elaborar estudo para definir procedimentos e volume de recursos
necessários à contratação de terceiros para execução de ações de
regularização de imóveis, nos termos do Inciso II do Art. 24-C da Lei
14.011/2020..
• Em relação aos imóveis sob gestão das forças armadas bem
ranqueados no processo de gestão de riscos, verificar a
possibilidade desses imóveis, mediante ajustes a serem celebrados
com as três forças, serem inseridos no Regulariza+ (SPU).
• Elaborar estudo no qual sejam detalhados os recursos (humanos,
financeiros e materiais) previstos à consecução das “Metas
específicas” da SPU no período 2019-2022 (PPA) de modo a avaliar
a factibilidade das metas previstas e revê-las, caso necessário.
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABR - Auditoria Baseada em Riscos
AGU - Advocacia-Geral da União
CAT - Certidão de Autorização de Transferência
CCFDS - Conselho Curador do Fundo de Desenvolvimento Social
CDRU - Cessão de direito real de uso
CEF - Caixa Econômica Federal
CGAPF - Coordenação-Geral de Gestão de Bens de Uso da Administração Pública
CGDIN - Coordenação-Geral de Desenvolvimento de Infraestrutura
CGGEA - Coordenação-Geral de Gestão Econômica de Ativos
CGREF - Coordenação-Geral de Habitação e Regularização Fundiária
CGU - Controladoria-Geral da União
CUEM - Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia
DEDES - Departamento de Destinação Patrimonial
FDS - Fundo de Desenvolvimento Social
GDF – Governo do Distrito Federal
GTI - Grupo de Trabalho Interministerial
GTN - Grupo de Trabalho Nacional
IN – Instrução Normativa
MCMV – Programa Minha Casa Minha Vida
MDR - Ministério do Desenvolvimento Regional
ME - Ministério da Economia
MP - Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
PDISP - Portaria de Declaração de Interesse do Serviço Público
PPP - Parceria Público-privadas
Reurb - Regularização Fundiária Urbana
Reurb-E- Regularização Fundiária Urbana Especial
Reurb-S - Regularização Fundiária Urbana Social
RIP - Registro Imobiliário Patrimonial
SDI - Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura
SEI - Sistema Eletrônico de Informações
SIAPA - Sistema Integrado de Administração patrimonial
SPIUNet – Sistema de Gerenciamento dos Imóveis de Uso Especial da União
SPU - Secretaria de Coordenação e Governança do Patrimônio da União
5
Sumário
1. INTRODUÇÃO 7
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 10
3.4 Dos embaraços para utilização de imóveis da União não administrados diretamente
pela SPU em apoio a programas habitacionais. 31
4. RECOMENDAÇÕES 40
5. CONCLUSÃO 41
6
1. INTRODUÇÃO
O presente relatório consigna o resultado das avaliações que tiveram por objeto o
processo de destinação patrimonial de imóveis da União para atendimento de
necessidades habitacionais e promoção da segurança na posse de moradia de famílias
de baixa renda, a fim de garantir a função socioambiental desse patrimônio e a
promover o desenvolvimento econômico em harmonia com os programas estratégicos
do Estado brasileiro.
De acordo com os dados revisados pela Fundação João Pinheiro, ano base de 2019, o
déficit habitacional em todo o Brasil está em 5,8 milhões de moradias. Em 2019, ainda
7
segundo esse estudo, 3,557 milhões de domicílios apresentaram inadequação quanto à
situação do terreno onde se localizam, o que corresponde a cerca de 5,7% dos domicílios
particulares permanentes duráveis urbanos do país 1 . Vale ressaltar que os dados
disponibilizados não fazem menção ao caso das irregularidades em terras públicas.
O olhar mais atento sobre atuação da SPU tem evidenciado a dificuldade da pasta em
materializar o incremento desse tipo de ação em razão do baixo grau de conhecimento
dos imóveis ocupados por núcleos urbanos informais ou aqueles com vocação para
construção de moradias populares, além do enfrentamento das dificuldades
operacionais atreladas à estrutura do órgão, tais como quadro de pessoal, recursos
orçamentários, capacidade fiscalizatória e de arrecadação, etc.
Sob a ótica histórica, a SPU tem buscado enfrentar o tema a partir da operacionalização
de uma série de medidas, tais como proposições de alterações legislativas, constituição
1
https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/habitacao/relatorio_iInadequacao_2016_2019_versao_2.pdf.
Acesso em 26/8/2021.
8
de grupos de trabalho para identificação de áreas potenciais, qualificação do corpo
técnico e instrumentação de soluções de TI. Contudo, o desafio institucional ainda é
elevado, sendo forçoso afirmar que os resultados alcançados no tema em comento
ainda se mostram incipientes, em decorrência do amplo leque de casos ainda não
solucionados.
É nesse ambiente institucional complexo que a proposição deste trabalho tem sua
motivação a partir da possibilidade de identificar oportunidades de melhoria nas ações
do Governo Federal relacionadas à utilização de imóveis da União para atendimento de
necessidades habitacionais e para promover a segurança na posse de moradia de
famílias de baixa renda.
O período de avaliação dos trabalhos de Auditoria teve como escopo a dinâmica das
ações de gestão iniciadas em 2019 e se estendeu até o presente ano, com atenção
especial às iniciativas do Programa Regulariza+ (Portaria SEDDM/SPU/ME nº 2.519, de 2
de março de 2021).
9
4. Há dificuldade institucional de retomada de imóveis que foram destinados a
outros entes tanto da Administração federal quanto estadual/distrital,
municipal ou entidades sem fins lucrativos?
5. As ações de regularização desenvolvidas pela SPU e MDR estão
adequadamente coordenadas?
Os critérios utilizados na avaliação foram aqueles presentes nos normativos legais que
regem o tema, notadamente: Lei nº 13.465/17, que dispõe sobre a regularização
fundiária rural e urbana; Lei nº 14.011/20, que aprimora os procedimentos de gestão e
alienação dos imóveis da União; Lei nº 14.118/21 (Programa Casa Verde Amarela);
Portaria nº 2.519/21 SPU (Programa Regulariza+); Portaria nº 2826/20 SPU, que
Estabelecer as normas e procedimentos para a Regularização Fundiária Urbana (Reurb)
em áreas da União, bem como o regimento interno da SPU.
Metodologia
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Destinação é a ação de dar uma finalidade ao imóvel da União. Um pressuposto central
na decisão de destinar é a identificação da vocação do imóvel para a cidade onde está
inserido e do seu entorno imediato, independentemente da origem da demanda. Nesse
aspecto, a análise das definições de uso do Plano Diretor Municipal ou outras leis
específicas constitui um dos principais marcos referenciais.
10
Destinação
Governança
Receitas
Caracterização
Patrimoniais
Dentre as diretrizes para a destinação, desde 2003, a SPU tem priorizado as destinações
com foco em duas grandes orientações: (1) as destinações com fins nas políticas de
inclusão socioterritorial, preservação ambiental e apoio à provisão habitacional para a
população de baixa renda por meio de uma gestão compartilhada com Estados,
Municípios e a Sociedade Civil organizada, mais especificamente em áreas ocupadas
pela população de baixa renda e, utilizando, preferencialmente o instituto jurídico da
cessão de uso, sem passar o domínio/propriedade para atender finalidades
socioambientais; e, (2) as destinações que visem a promoção da racionalização do uso
dos imóveis da União.
11
a Transferência (gratuita), a Autorização de Obra, a Declaração de Interesse do Serviço
Público e a Alienação.
12
Um marco na mudança do paradigma do órgão foi o trabalho do Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI), criado em 2003 para redefinir os princípios e diretrizes da gestão
do patrimônio da União, de acordo com os preceitos constitucionais vigentes. A partir
do relatório desse GTI a SPU passou a implementar uma nova política de gestão do
patrimônio da União, composta por uma política de regularização fundiária em imóveis
da União. Segundo o Manual de Regularização Fundiária em Terras da União, publicado
pela SPU/MP em 2006:
O Programa de Regularização Fundiária de Assentamentos Informais em
terras da União, coordenado e operado pela SPU, faz parte da estratégia
definida pelo Programa Papel Passado, coordenado pelo Ministério das
Cidades. Da meta de famílias a serem atendidas pelo Programa Papel
Passado entre 2004 e 2006, 40% estão assentadas em imóveis da União,
o que motivou o estabelecimento de um programa específico de
regularização destes casos.
A partir da identificação de assentamentos precários em imóveis da
União, por meio de suas Gerências Regionais do Patrimônio da União
(GRPU) e em parceria com diversos atores, especialmente Estados,
Municípios e comunidades, a SPU estabelece uma estratégia de atuação
para cada caso, consignada em termos de cooperação técnica que
esclarecem as responsabilidades dos atores envolvidos para viabilizar a
regularização fundiária, urbanística e ambiental das áreas, com a
consequente titulação da terra às famílias ali residentes.2
2
Manual de Regularização Fundiária em Terras da União. Publicação da SPU/MP (2006).
3
Grupo de Trabalho criado pela Portaria SPU/MP nº 80 (DOU 27.3.2008) e formado por servidores da SPU
e representantes do antigo Ministério das Cidades (atual MDR).
13
Não há metodologia ou sistemática definida especificamente para a
regularização fundiária ou provisão habitacional. Na maior parte das
situações, a SPU é demandada pelo Município para a destinação,
iniciando-se a identificação e demais procedimentos necessários no
processo. (...) não é possível mensurar a quantidade solicitada,
considerando que a Política da SPU, no âmbito do REGULARIZA + tem
como uma de suas prioridades a alienação de imóveis (no caso do item 1),
e que o arcabouço legal sobre o Programa Casa Verde e Amarela ainda
consta pendente de regulamentação por parte dos Ministérios da
Economia e Desenvolvimento Regional. Sobre os imóveis passíveis de
REURB-S, a dificuldade no referido levantamento se dá porque muitos
núcleos urbanos informais, mesmo que consolidados, ainda não estão
incorporados no Patrimônio da União.4
4
Resposta DEDES-SPU aos quesitos da SA 904640-01. De 7/4/2021.
5
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/patrimonio-da-uniao/spunet. Acesso em 23/7/2021.
14
a qualquer particular por meio de direito prévio e que, portanto, dependem de um
processo competitivo para alienação.
Os principais pontos de inovação da legislação aprovada destacam-se: (i) proposta de
aquisição de imóveis por particulares (P.A.I.); (ii) remição de foro mediante
procedimento simplificado e automatizado; (iii) possibilidade de avaliação de imóveis
sem visita presencial; (iv) desconto do preço após certame deserto; (v) venda direta por
meio da intermediação de corretores de imóveis; (vi) realização de certame virtual; (vii)
alienação de imóveis em lotes e (viii) cessão de imóveis com contrapartida na obrigação
de construir, reformar ou prestar serviços de engenharia em imóveis da União ou de
interesse da segurança nacional6.
Nesse aprimoramento das ações de desestatização um dos desafios enfrentados pela
SPU tem sido o cadastramento e saneamento de pendências de imóveis destinados a
alienação e constituição de fundos imobiliários, dificuldades que também ocorrem com
os imóveis ocupados por núcleos urbanos informais. Vale mencionar que as inovações
trazidas na Lei nº 14.011/2020 (altera trechos da Lei n. 9.636/1998) facultam à SPU
contratar entidades públicas ou privadas para realização de diversas ações de gestão do
patrimônio público, inclusive execução de ações de regularização de bens imóveis da
União, a saber:
Art. 24-C. A Secretaria de Coordenação e Governança do Patrimônio da
União poderá contratar empresas privadas, por meio de licitação, ou
bancos públicos federais, bem como empresas públicas, órgãos ou
entidades da administração pública direta ou indireta da União, do
Distrito Federal, dos Estados ou dos Municípios cuja atividade-fim seja o
desenvolvimento urbano ou imobiliário, com dispensa de licitação, e
celebrar convênios ou acordos de cooperação com os demais entes da
Federação e seus órgãos para:
I - elaboração de propostas de alienação para bens individuais ou lotes de
ativos imobiliários da União;
II - execução de ações de cadastramento, de regularização, de avaliação
e de alienação dos bens imóveis; e
III - execução das atividades de alienação dos ativos indicados, incluídas a
realização do procedimento licitatório e a representação da União na
assinatura dos instrumentos jurídicos indicados.
§ 1º Fica dispensada a homologação da avaliação realizada, nos termos
deste artigo, por bancos públicos federais ou empresas públicas, órgãos
ou entidades da administração pública direta ou indireta da União, do
Distrito Federal, dos Estados ou dos Municípios que tenham como
atividade-fim o desenvolvimento urbano ou imobiliário, bem como nas
hipóteses de convênios ou acordos de cooperação firmados com órgãos
ou entidades da administração pública federal, estadual, distrital ou
municipal.(grifo nosso)
Vale frisar que a SPU e a Caixa Econômica Federal, no ano de 2008, firmaram um Acordo
de Cooperação Técnica para prestação de serviços com a finalidade de apoiar ações
conjuntas, como a regularização fundiária e a destinação de áreas da União para as
6
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento/patrimonio-da-uniao/noticias/spu-e-
caixa-assinam-acordo-de-cooperacao-tecnica. Acesso em 24/8/2021.
15
habitações de interesse social entre eles, abrangendo a realização de: (i) avaliação de
imóveis; (ii) vistorias técnicas; (iii) estudos para viabilidade de empreendimentos; (iv)
elaboração e atualização de plantas de valores genéricos e (v) análise vocacional dos
imóveis de propriedade da União, em todo o território nacional.
De acordo com os fatos e histórico aqui consignados, reconhece-se que a SPU tem
buscado formas de potencializar as ações de destinações de imóveis para fins de
regularização fundiária e provisão habitacional. Todavia, há desafios a serem superados.
O primeiro desafio, diz respeito ao conhecimento de todos os imóveis com aptidão para
esse tipo de utilização. É preciso ter claro os imóveis que devem ser objeto de estudos
de viabilidade para potenciais ações de regularização fundiária.
O segundo desafio é a implantação de uma sistemática de gestão de risco por meio da
identificação de características e situações com potencial para comprometer o sucesso
de eventuais ações de regularização, bem como das medidas mitigadoras a esses riscos.
A priorização das ações de regularização deve estar alicerçada em dados como:
O arcabouço legal sobre o tema da regularização fundiária tem buscado, nos últimos
anos, disciplinar um enfrentamento mais realista da problemática da regularidade
fundiária no país. Os principais avanços recentes, em termos de legislação, foram
introduzidos pela Lei nº 13.465/2017 e pelo Decreto Federal nº 9.310/2018, que
16
preveem um conjunto de procedimentos que abrangem medidas jurídicas, urbanísticas,
ambientais e sociais, que são destinadas à incorporação de núcleos urbanos informais
consolidados ao ordenamento territorial urbano, bem como, em sendo o caso, a
titulação de seus ocupantes.
Vale dizer que a referida Lei admite a possibilidade de implantação da Regularização
Fundiária Urbana (Reurb) em terras públicas, até mesmo aquelas de propriedade da
União, como os terrenos de marinha, por exemplo. No tocante à possibilidade de se
instituir a Reurb-E em bens públicos, importante referir que a Secretaria de Patrimônio
da União (SPU) publicou a Portaria nº 2.826/2020, que objetiva a regulamentação do
instrumento da Reurb (“E” e “S”), permitindo a regularização de núcleos urbanos
informais em áreas da União, em imóveis cadastrados, ou não. A referida portaria traz,
em seu art. 4º, as modalidades de regularização em áreas da União, dentre elas a forma
direta (inciso I), em que a SPU é a responsável pelas ações necessárias à titulação aos
ocupantes da área.
A regularização fundiária de interesse social em imóveis da União tem sido orientada
por diretrizes de gestão compartilhada e parcerias institucionais. No âmbito da Reurb-S
em áreas da União, o art. 8º Portaria SPU nº 2826/2020 disciplina os instrumentos
utilizados nos processos conduzidos pela SPU.
Vale atentar ainda que os critérios para inclusão em áreas da União para fins de interesse
social (regularização/habitação) seguem o disposto na Instrução Normativa SPU nº
02/2014. Esse normativo disciplina os procedimentos utilizados na destinação de
imóveis da União para regularização fundiária de interesse social (Reurb-S). O principal
instrumento utilizado quando houver interesse em reservar imóveis da União para
implantação de atividade ou programa de interesse público, como, por exemplo, para a
implementação de projetos habitacionais, portos, regularização fundiária etc. é a
Portaria de Declaração de Interesse do Serviço Público (PDISP), prevista no Decreto-Lei
nº 2.398, de 1987 (art. 5º, Parágrafo Único), com redação dada pelo art. 33 da Lei
9.636/98, a saber:
Considera-se de interesse do serviço público todo imóvel necessário ao
desenvolvimento de projetos públicos, sociais ou econômicos de interesse
nacional, à preservação ambiental, à proteção dos ecossistemas naturais
e à defesa nacional, independentemente de se encontrar situado em zona
declarada de interesse do serviço público, mediante portaria do
Secretário do Patrimônio da União.
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Nota Técnica SEI nº 29270/2021/ME, de 1/7/2021.
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de interesse social, os quais abrangem uma área de 93.924.773 m2 (Portarias SPU/ME
nºs 4.263, 2.935, 2.722, 546, 556 e 561, todas publicadas em 2021), a saber8:
8
Nota Técnica SEI nº 29270/2021/ME, de 1/7/2021.
18
uma vez que também compete a ele o planejamento e a gestão da ocupação urbana
(materializado, principalmente, no Plano Diretor de ordenamento territorial, obrigatório
para cidades com mais de 20 mil habitantes ou integrantes de regiões metropolitanas
entre outras condicionantes, conforme Art. 41 do Estatuto das Cidades – Lei n. 10.257,
de 10 de julho de 2001) e esse raramente tem a capacidade técnica e operacional
desejadas para eficaz realização das ações necessárias.
A União e os Estados têm como função primordial a oferta de capacitação, de assistência
técnica e de recursos para que os municípios cumpram adequadamente essa
responsabilidade, além de estarem legitimados a solicitar a Reurb.
No ambiente municipal, a falta de capacitação técnica é, em conjunto com a
indisponibilidade de recursos, o maior entrave para a ocorrência do processo de
regularização fundiária. Inexiste, na maioria dos municípios, o desenho mínimo do
processo de regularização fundiária, tampouco sua incorporação nas rotinas de
trabalho.
Mesmo com o interesse municipal e a instituição de normas gerais e procedimentos
aplicáveis à Regularização Fundiária Urbana (Reurb), os municípios, em sua grande
maioria, não detêm conhecimento técnico e capacidade administrativa para plena
execução dos processos de regularização. O desafio é fazer com que o arcabouço legal,
com suas inúmeros benefícios e possibilidades, possa ser concretizado nas esferas
subnacionais, de modo a atender uma miríade de necessidades da população, a exemplo
dos seguintes quesitos9:
a) assegurar a prestação de serviços públicos;
b) adequar unidades ao ordenamento territorial urbano;
c) reconhecer propriedade;
d) promover a integração social e a geração de emprego e renda;
e) concretizar o princípio da eficiência na ocupação e no uso do solo;
f) prevenir e desestimular a formação de novos núcleos urbanos informais
g) aumentar a receita tributária e combater a renúncia fiscal.
Buscando averiguar a existência de um processo de gestão de riscos (objeto do item
anterior), mesmo que informal, foi questionado à SPU sobre a existência de
informações/garantias demandadas aos beneficiários das destinações dos imóveis da
União sobre a capacidade do ente beneficiário de implantar as ações de regularização
fundiária e/ou provisão habitacional, de modo que a secretaria disponha nos processos
de trabalho razoável grau de segurança executiva. A secretaria esclareceu que,
(...) para a regularização fundiária, no entanto, não se constitui como
pressuposto a pré-condição financeira do município na execução do
Projeto de Regularização Fundiária. Isso porque a REURB se constitui como
política de ordenamento territorial, no qual o município é o principal
agente executor e planejador. O Município é, portanto, o ente federativo
mais importante na regularização fundiária urbana, é o ente onde se inicia
o processo de REURB, responsável por notificar os interessados, aprovar o
9
https://www.gove.digital/receitas/regularizacao-fundiaria-pontos-de-atencao/. Acesso em 26/7/2021.
19
projeto de regularização fundiária, emitir a Certidão de Regularização
Fundiária (CRF), reconhecer a legitimação fundiária, ou seja, sem a atuação
do Município não é possível a execução da REURB.10
10
Nota Técnica SEI nº 29270/2021/ME, de 1/7/2021.
11
“O Programa Casa Verde e Amarela, do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), busca facilitar
o acesso da população a uma moradia digna, garantindo mais qualidade de vida. A partir de medidas que
darão mais eficiência à aplicação dos recursos, a meta é atender 1,6 milhão de famílias de baixa renda
com o financiamento habitacional até 2024, um incremento de 350 mil. Isso será possível com a redução
na taxa de juros para a menor da história do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e mudanças
na remuneração do agente financeiro. As regiões Norte e Nordeste serão contempladas com a redução
nas taxas em até 0,5 ponto percentual para famílias com renda de até R$ 2 mil mensais e 0,25 para quem
ganha entre R$ 2 mil e R$ 2,6 mil. Nessas localidades, os juros poderão chegar a 4,25% ao ano para cotistas
do FGTS e, nas demais regiões, a 4,5%. Além do financiamento habitacional, o programa atuará com
regularização fundiária e melhoria de residências, enfrentando problemas de inadequações, como falta
de banheiro, por exemplo. A meta é regularizar 2 milhões de moradias e promover melhorias em 400 mil
até 2024”. https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/habitacao/casa-verde-e-amarela/o-programa.
Acesso em 23/8/2021.
20
de 21 de agosto de 1964, credenciada pelo Agente Operador, na qualidade de agente
executor do Programa na concessão dos financiamentos, dentre outras atribuições.
Para a formulação de propostas de financiamento de ações de regularização fundiária,
o município ou Distrito Federal deve ter firmado termo de adesão ao Programa. De
modo geral, são participantes: (i) o MDR, na qualidade de Órgão Gestor; (ii) a Caixa, na
qualidade de Agente Operador; (iii) os Agentes Financeiros; e (iv) os Agentes Promotores
de Regularização Fundiária APRF e de Melhoria Habitacional (APMH).
21
Tendo em vista que o MDR executa e apoia ações de regularização fundiária em terrenos
da União, questionou-se à SPU como se dá integração de informações dos processos
executados pelo referido ministério às bases cadastrais da secretaria. Foi informado que
não há um fluxo definido entre os dois órgãos uma vez que a SPU “atua como
intermediadora da política pública, por meio da destinação do imóvel, tendo em vista
que o principal agente operador da Regularização fundiária é o Município. As
informações que constam nas nossas bases de dados posteriores às destinações são dos
títulos emitidos pelo município”12.
Por todo o exposto e em que pese o interesse municipal e o permissivo legal, resta claro
para esta equipe de auditoria que as ações mais efetivas que podem ser desenvolvidas
pela SPU para dar maior dinâmica as ações de implantação de núcleos habitacionais ou
de regularização fundiária é a identificação, desembaraço e disponibilização de áreas
com aptidão para tal. Por outro lado, mostra-se mais razoável, que a SPU estude a
possibilidade de valer da expertise já instalada no Ministério de Desenvolvimento
Regional, Caixa Econômica Federal, ou outras instituições financeiras, para promoção de
suporte técnico às municipalidades.
12
Nota Técnica SEI nº 29270/2021/ME, de 1/7/2021.
22
preliminar da quantidade de imóveis, valor de ativo e número de beneficiários (famílias).
Foi contabilizado um conjunto de 549 imóveis com potencial de atendimento de 193 mil
famílias (R$ 3,7 bilhões em termos de valor de imóveis), conforme demonstrado nos
seguir.
UF VALOR IMÓVEL Nº IMÓVEIS Nº FAMÍLIAS
AM -
AC 1.800.000,00 2 156
AP 58.317.081,22 3 2.702
MA 1.763.322.983,55 6 22.787
PI 131.935.487,00 8 3.688
CE 14.955.015,68 5 452
RN 49.250.000,00 3 1.672
PE 81.884.569,03 12 2.879
AL 20.319.173,42 3 1.926
SE 25.933.053,39 6 2.881
BA 299.788,38 10 2.158
GO 3.291.771,50 4 165
DF
TO 35.255.198,55 11 6.745
MS 2.995.326,28 1 45
MT 7.706.518,18 3 320
MG 13.975.364,21 418 434
SP 142.600.658,72 18 76.329
RJ 137.117.029,09 4 15.475
PR 168.250.333,05 5 44.500
RS -
ES 886.166.890,58 13 6.049
SC 122.410.819,49 14 1.848
TOTAL 3.667.787.061,32 549 193.211
Levantamento do Programa Regulariza+ para o período 2021/2022.
Fonte: Elaboração própria da equipe de auditoria (a partir de
informações disponibilizadas pela SPU13).
13
Processos SEI SPU nº 19739.113684/2021-45 e 19739.112583/2021-57.
14
Metas e os indicadores de desempenho definidos pela Unidade ou, nos casos ainda não pactuados,
propostos pela CGU, como referenciais na de gestão do Patrimônio Imobiliário da União que compõem o
PPA, os PEI-ME 2019-2022, o PE- SPU 2019-2022 (Metas Gerais e Metas Específicas), o Planos Finalísticos
da SPU (incluindo os planos nacionais de Caracterização, Avaliação e Fiscalização).
23
Metas Gerais (Órgão Central)
24
Seq. Metas Específicas Medidas de Desempenho (*)
Diminuir o número de contratos
(meta Nível de redução da inadimplência na
inadimplentes da carteira imobiliária da
10) carteira imobiliária da Extinta RFFSA
extinta RFFSA.
Diminuir em 50% o estoque de
(meta Percentual de redução do estoque dos
requerimentos registrados em 31.12.2019
11) requerimentos
na situação "em análise técnica".
Aumentar o número de processos de Percentual de análise dos Termo de
(meta
requerimentos de Termo de Adesão a Adesão a Gestão de Praias face aos
12)
Gestão de Praias finalizados. requerimentos pendentes de análise
(meta Aumentar a arrecadação de receitas
Percentual de aumento da arrecadação
13) patrimoniais.
(*) Medidas de Desempenho elaboradas pela CGU
Fonte: SPU
Diante desses fatos, a equipe de auditoria entendeu como razoável efetuar um breve
levantamento do histórico de execução de ações de regularização fundiária e provisão
habitacional, realizadas pela SPU. Foram consultados relatórios e balanços da secretaria
a fim de identificar o histórico das ações de regularização fundiária. Vale destacar o
desempenho observado no período entre os anos 2003 e 2010. Conforme dados
disponibilizados no documento “Balanço de Gestão 2003-2010 (SPU, 2010)”, as ações
executadas nesse período alcançaram um total de 157 mil famílias beneficiadas, sendo
que constavam em curso processos com a expectativa de atendimento de mais 560 mil
famílias.
25
Fonte: Balanço Gestão SPU (2003-2010)
26
Fonte: Relatórios de Gestão SPU (anos 2019, 2020 e 2021).
15
No âmbito do Programa SPU+ (Portaria SEDDM/SPU/ME Nº 2.517/2021), um dos objetivos é
desenvolver políticas públicas de regularização fundiária com a participação de outros entes federados,
bem como, com instituições da iniciativa privada mediante plano de negócios que atendem projetos de
inclusão socioeconômico interligados a planos e ações governamentais.
O SPU+ tem a finalidade de reativar a economia por meio da contabilização de R$ 110 bilhões em imóveis
da União até 2022. Está dividido em três módulos: alienação, contemplando ações para incremento da
venda de imóveis, doação, regularização fundiária e remição de foro; cessão e concessão, ampliando as
cessões onerosas e em condições especiais e as cessões de direito real de uso (CDRUs) onerosas e
gratuitas; e racionalização, mediante a aplicação da engenharia patrimonial no uso dos imóveis da
administração pública, como permutas, adequação do espaço, dentre outras ações. O programa será
executado pela unidade central da Secretaria, com sede em Brasília (DF), e pelas superintendências
estaduais.
28
disponibilização de dados estratégicos voltados para o controle e
atingimento dos resultados.16
16
Nota Técnica SEI nº 29270/2021/ME, de 1/7/2021.
17
Nota Técnica SEI nº 29270/2021/ME, de 1/7/2021.
29
tendo em vista a necessidade de uma sequência extensa de etapas para concretização
dos projetos, além de todos os entraves burocráticos e administrativos da máquina
pública, os quais as mudanças legislativas e inovações de gestão buscam mitigar.
Assim, discutidos algumas das dificuldades (históricas) operacionais de materialização
das ações de regularização fundiária, traz-se uma breve exemplificação que ilustra a
problemática da dilatação de prazos de execução dos projetos de regularização: o caso
da Gleba Meriti, com área de 1.276.50,00m², localizada no Município de Duque de
Caxias/RJ, emblemático e complexo, tendo as primeiras tratativas processuais iniciada
no ano de 1994, entre órgãos federais, mas que ainda se encontram longe de finalização,
conforme se depreende de relato da SPU, a saber:
6. Consta um Acordo de Cooperação Técnica entre CAIXA e SPU (Processo
SEI 04905.201273/2015-21), com o objetivo de aplicação do saldo
remanescente dos recursos oriundos da alienação da Gleba Meriti,
realizada em 05/02/1998, que deverá ser voltado para ações de provisão
habitacional.
7. Em breve histórico, em 10/02/1994 foi celebrado contrato de cessão
entre a União e a Caixa, no qual a Caixa ficou com o encargo de alienar a
Gleba Meriti, com área de 1.276.50,00m², localizada no Município de
Duque de Caxias/RJ, com objetivo de reverter os recursos obtidos na
implantação de conjuntos habitacionais de baixa renda. O citado imóvel
foi alienado em 05/02/1998 pelo valor de R$ 9.130.000,00, sendo que em
30/11/2005 o saldo depositado na conta gráfica aberta pela CAIXA,
atualizados com base na remuneração da Caderneta de Poupança,
correspondia a R$ 22.526.386,77.
8. Em 06/02/2006 foi assinado Termo de Cooperação Técnica, com prazo
de 3 (três) anos, entre a SPU e a Caixa a fim de estabelecer regras para
aplicação dos recursos oriundos da alienação da Gleba Meriti em
construção de unidades habitacionais de baixa renda e regularização
fundiária.
9. Ao findar o prazo estabelecido no Termo de Cooperação Técnica citado
acima, foi firmado ovo Acordo em 03/08/2010, com vigência de 36 (trinta
e seis) meses, para viabilizar a utilização do saldo remanescente da
aplicação dos recursos que estava em 16.143.085,98, valor atualizado na
data de 02/02/2010.
10. O último Acordo de Cooperação Técnica firmado entre os partícipes
foi assinado em 28/12/2018, com prazo estabelecido de 36 meses (doc.
SEI 7550987), ou seja, ainda dentro da validade, para que sejam
estabelecidas regras básicas para utilização do saldo remanescente da
aplicação dos recursos oriundos da alienação da Gleba Meriti.
11. Foi publicado no DOU a Portaria Conjunta nº 7, no dia 31/12/2018,
que designou membros para a composição do Comitê Gestor, sendo de
servidores da SPU e da CAIXA. Com a mudança gestão federal e, por
consequência, a saída de toda a composição anteriormente indicada
pela SPU, faz-se necessária nova designação dos componentes, para
início das tratativas do ACT. No entanto, as conversas não avançaram
entre os partícipes, mas deverá ser retomado nos próximos meses, para
definição quanto à aplicação do recurso.18 (grifo nosso)
18
Nota Técnica SEI nº 29270/2021/ME, de 1/7/2021.
30
Por fim, ressalte-se que a adoção de metas pouco realistas e a não definição de
prioridades claras, recorrentemente resultam na redução das entregas possíveis.
Sem revelar o local exato do primeiro desenvolvimento imobiliário, Mac Cord explicou
que, futuramente, o projeto será replicado em algumas cidades do País19.
Continuou ele,
Estamos pensando em projetos grandes, de R$ 200 a 300 milhões, em
grandes terrenos da União, de aproximadamente 70 a 80 mil metros
quadrados. Depois do piloto, iremos escalar um projeto para cada capital
do Brasil, em formato de uso misto.
Vale mencionar que o art. 4º da Lei nº 11.124/2005, que trata do Sistema Nacional de
Habitação de Interesse Social (SNHIS), estabelece que os imóveis públicos devem
alimentar o SNHIS, para viabilizar o acesso à terra urbanizada, efetivando o direito à
moradia digna e o direito à cidade sustentável para a população de menor renda, a
saber:
Art.4º A estruturação, a organização e a atuação do SNHIS devem
observar:
(...)
II – as seguintes diretrizes:
(...)
19
https://www.griclub.org/news/real-estate/mcmv-piloto-do-projeto-aproxima-sera-de-uso-
misto_718.html. Acesso em 13/8/2021. Acesso em 13/8/2021
32
c) utilização prioritária de terrenos de propriedade do Poder Público para
a implantação de projetos habitacionais de interesse social;
33
contribuição ao debate surge a partir de uma análise gerencial da base cadastral dos
imóveis de uso especial, em particular aqueles sob a jurisdição dos Comandos do
Exército, Marinha e Aeronáutica.
Inicialmente é necessário conceituar que os imóveis denominados Próprios Nacionais,
segundo o direito administrativo brasileiro, se enquadram na categoria dos imóveis de
uso especial e são aqueles utilizados pelo serviço público como, por exemplo, os
ministérios da Esplanada em Brasília e os quartéis das forças armadas, pelo Brasil afora.
Ou seja, toda edificação ou terras que serviram ou servem ao serviço público.
A exemplificação apresentada a seguir foi baseada em uma extração de dados do
SPIUNet (referência dezembro/2020), disponibilizada na página da internet de dados
abertos do Ministério da Economia20. A consolidação dos RIPs totais indicou que 23% do
total da carteira de imóveis de uso especial, em termos de valor do imóvel, encontram-
se sob administração dos referidos comandos. Esses imóveis totalizam R$ 1,1 trilhão,
dos quais, aproximadamente, imóveis que importam em R$ 260 bilhões estão alocando
para os três Comandos. Chama atenção que aproximadamente 53% dos imóveis
administrados pelas Forças estão localizados nas capitais brasileiras (R$ 137 bilhões),
conforme se extrai dos dados apresentados nos quadros a seguir.
20
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/patrimonio-da-uniao/transparencia/dados-abertos.
Acesso em 13/8/2021.
34
Fonte: Elaboração própria (equipe de auditoria CGU)
35
Fonte: Elaboração própria (equipe de auditoria CGU)
Há que se pontuar que o patrimônio da União destinado às Forças Armadas tem como
função principal o cumprimento das atividades finalistas dessas instituições, como a
defesa de território, operacionalização das atividades, moradias dos integrantes das
Forças, etc. No entanto, as ações atuais de racionalização do uso do patrimônio têm
forçado a necessidade de melhor apurar a utilização efetiva do patrimônio alocado nos
órgãos públicos para cumprimento de suas atividades finalistas.
Um exemplo de grandes extensões de terra da União concentrados na gestão de uma
única Unidade Administrativa (Comando da Marinha no DF), mas sabidamente não
36
utilizado na sua totalidade para os fins da Administração, é o imóvel conhecido como
“Área Alfa”, que fica localizado próximo à área central de Brasília e possui uma extensão
de 6.200 hectares. Segundo informações noticiadas no site Metrópoles
(https://www.metropoles.com/), de 1º de maio de 2021:
O governador Ibaneis Rocha (MDB) informou ao Metrópoles, na sexta-
feira (30/4), que começou a negociar com a Marinha a aquisição de um
terreno de 62 km² para que seja construída uma nova cidade no Distrito
Federal. Em reunião realizada na tarde de quinta-feira (29/4) por
comandantes da força militar com representantes do Governo do Distrito
Federal (GDF) e a Secretaria do Patrimônio da União (SPU).
A ideia é que o terreno, localizado nas proximidades de Santa Maria e do
Gama, seja destinado à construção de prédios residenciais com modelo
de sustentabilidade e de maior execução, com o formato parecido ao do
Jardins Mangueiral, bairro localizado próximo a São Sebastião que conta
com unidades financiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida, do
governo federal.
(...) Contudo, para que o projeto saia do papel, uma longa jornada terá de
ser cumprida. A principal delas é a transferência da propriedade do
terreno, que é da Marinha, para o Distrito Federal. Como contrapartida, a
proposta inicial é de que o GDF destine uma área à força militar e também
assuma a construção da sede própria da Marinha no DF21.
Fonte: IBRAM/DF
21
https://www.metropoles.com/colunas/janela-indiscreta/ibaneis-negocia-area-da-marinha-para-
construcao-de-nova-cidade-no-df. Acesso em 24/8/2021.
37
Fonte: IBRAM/DF
De fato, esta Controladoria tem participado das discussões em torno das ações de
racionalização e realiza o acompanhamento dos processos de revisão de ocupação de
órgãos federais em prédios públicos ou de terceiros, constatando que de fato há um
potencial elevado de redução dos espaços ocupados pelos órgãos públicos, com
reduções em termos de despesas de manutenção e operação predial e redução de
aluguéis pagos para particulares22.
Válido trazer à tona algumas ressalvas que a legislação em vigor, embora antiga,
apresenta sobre a questão da utilização de imóveis administrados pelos comandos
militares para fins de implementação de ações de regularização fundiária e/ou provisão
habitacional, ainda que os mesmos não estejam sendo utilizados para as finalidades
pactuadas, conforme disposto nos arts. 77, 79 e 100 do Decreto-Lei n. 9.760/1946:
Art. 77. A administração dos próprios nacionais aplicados em serviço
público compete às repartições que os tenham a seu cargo, enquanto
durar a aplicação. Cessada esta, passarão êses imóveis,
independentemente do ato especial, à administração do S.P.U.
Art. 79. A entrega de imóvel para uso da Administração Pública Federal
direta compete privativamente à Secretaria do Patrimônio da União - SPU.
(Redação dada pela Lei nº 9.636, de 1998)
§ 1º A entrega, que se fará mediante têrmo, ficará sujeita a confirmação
2 (dois) anos após a assinatura do mesmo, cabendo ao S.P.U. ratificá-la,
desde que, nêsse período tenha o imóvel sido devidamente utilizado no
fim para que fôra entregue.
[...] § 5º Constatado o exercício de posse para fins de moradia em bens
entregues a órgãos ou entidades da administração pública federal e
22
Ver trabalhos do “GRUPO PARA EFICIÊNCIA DO PATRIMÔNIO”, instituído pela Portaria Interministerial
nº 23, de 27/4/2020 (DOU de 28/4/2020, Ed. nº 80, S. 1, p. 5).
38
havendo interesse público na utilização destes bens para fins de
implantação de programa ou ações de regularização fundiária ou para
titulação em áreas ocupadas por comunidades tradicionais, a Secretaria
do Patrimônio da União fica autorizada a reaver o imóvel por meio de ato
de cancelamento da entrega, destinando o imóvel para a finalidade que
motivou a medida, ressalvados os bens imóveis da União que estejam
sob a administração do Ministério da Defesa e dos Comandos da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e observado o disposto no inciso
III do § 1º do art. 91 da Constituição Federal.
§ 6º O disposto no § 5º deste artigo aplica-se, também, a imóveis não
utilizados para a finalidade prevista no ato de entrega de que trata o caput
deste artigo, quando verificada a necessidade de sua utilização em
programas de provisão habitacional de interesse social.
[...]
Art. 100
§ 6º Nos casos de aplicação do regime de aforamento gratuito com vistas
na regularização fundiária de interesse social, ficam dispensadas as
audiências previstas neste artigo, ressalvados os bens imóveis sob
administração do Ministério da Defesa e dos Comandos do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica. (grifo nosso)
De fato, sem que se adentre em debate sobre a pertinência jurídica de tais previsões
legais, a disciplina legal acima foi aplicada em um caso concreto ocorrido recentemente
na Superintendência do Patrimônio da União no Estado do Acre, a qual submeteu para
manifestação jurídica da Advocacia-Geral da União (AGU) consulta acerca do retorno de
imóveis da União entregues ao Comando do Exército naquele Estado, sem necessidade
de ato especial ou anuência do referido Comando:
Considerando que em vistorias realizadas por esta SPU/AC, verificou-se
que alguns imóveis da União destinados ao Comando do Exército não
estão sendo utilizados para finalidade definida no Termo de Entrega,
outros sem condições de uso e com aspecto de abandono, solicitamos
manifestação acerca da:
Possibilidade da SPU/AC realizar a reversão do imóvel sem necessidade de
ato especial ou anuência do Comando do Exército, considerando as
tratativas com o Comando e a manifestação através do Ofício nº 23-SS Vru
Patm/SPIMA/2ª Gpt E (15065958).
Esclarecemos que existem órgãos tanto nas esferas federal, estadual e
municipal com interesse nos imóveis, como por exemplo a Prefeitura de
Tarauacá para a implantação de um conjunto habitacional para pessoas
de baixa renda e moradoras de áreas alagadiças. Informamos ainda que a
Secretaria de Coordenação e Governança do Patrimônio da União tem
metas estipuladas no plano de negócios 2021-2022, sendo a alienação e
racionalização de seus imóveis. 23
23
NOTA n. 00052/2021/NUCJUR/E-CJU/PATRIMÔNIO/CGU/AGU. Data 29/04/2021. Advocacia-Geral da
União. Consultoria-Geral da União. Consultoria Jurídica da União Especializada Virtual de Patrimônio.
Núcleo Jurídico.
39
que pese o esforço da SPU/AC para demonstrar que os imóveis não eram utilizados na
a finalidade pactuada, estavam sem condições de uso e que apresentavam, inclusive,
aspectos de abandono e a possibilidade de utilização desses imóveis administrados pelo
Comando do Exército, na região, para fins implantação de moradia para pessoas de
baixa renda, haja vista a existência de forte demanda por parte dos poderes locais.
Diante do exposto, observa-se que além do fato da SPU não dispor de um conhecimento
amplo e institucionalizado de imóveis da União com vocação e potencial de destinação
para as políticas públicas de apoio a programas de regularização fundiária e provisão
habitacional, foi observada a existência restrições de cunho jurídico que dificultam a
retomada de imóveis administrados por outros órgãos da Administração Federal, como
é o caso das Forças Armadas. Desse modo, é correto afirmar que tais fragilidades
impactam diretamente na concretização e operacionalização da proposta de criação de
um Sistema de Gestão do Patrimônio Imobiliário (SIPI) da Administração Pública federal,
capitaneado pela SPU, que visa a organizar as atividades inerentes a gestão de
patrimônio imobiliário da Administração Pública Federal, pelo menos no que tange ao
aprimoramento da gestão das ações de destinação de imóveis da União em apoio a
programas governamentais de provisão de moradia.
4. Recomendações
Buscando promover o aperfeiçoamento da governança do Patrimônio Imobiliário da
União, e reconhecendo o esforço da SPU no encaminhamento das questões levantadas
neste Relatório, são apresentadas as seguintes recomendações à Secretaria de
Coordenação e Gestão do Patrimônio da União:
(Achado 3.1)
3. Em relação aos imóveis sob gestão das forças armadas bem ranqueados no processo
de gestão de riscos, verificar a possibilidade desses imóveis, mediante ajustes a serem
celebrados com as três forças, serem inseridos no Regulariza+ (SPU).
40
4. Elaborar estudo no qual sejam detalhados os recursos (humanos, financeiros e
materiais) previstos à consecução das “Metas específicas” da SPU no período 2019-2022
(PPA) de modo a avaliar a factibilidade das metas previstas e revê-las, caso necessário.
5. Conclusão
Questão 1 A SPU tem conhecimento da totalidade de imóveis passíveis de
regularização?
O exame dos atuais processos de trabalhos evidenciou que o órgão ainda não dispõe de
um conhecimento amplo dos imóveis da União com potencial de utilização em
programas de regularização fundiária e em apoio à redução do déficit habitacional. É
possível afirmar que a formatação da carteira de projetos de regularização fundiária
(Programa Regulariza+) carece do incremento de diálogo institucional com diversos
atores, especialmente Estados, Municípios e comunidades, bem como uma estratégia
de operacionalização coordenada pelo órgão central de atuação para cada caso, onde
estejam consignados os instrumentos de destinação e as responsabilidades dos atores
envolvidos para viabilizar a regularização fundiária, urbanística e ambiental das áreas
selecionadas.
Questão 2 Há boa adesão dos municípios aos processos de regularização de ocupações
em terrenos da União?
Os levantamentos realizados permitem afirmar que, no que tange à implementação de
ações de regularização de ocupações em terrenos da União, a taxa de adesão dos
municípios não é um fator limitante das ações de regularização, mas a limitada
capacidade técnica e orçamentárias muitas municipalidades. No Ministério de
Desenvolvimento Regional (MDR) essas limitações podem ser mitigadas por critérios de
acesso ao "Casa Verde Amarela" mais rigorosos. Já no caso da SPU, cujas ações estão
adstritas aos imóveis sob sua gestão, faz-se necessária a implementação de medidas
voltadas a mitigar eventuais limitações das municipalidades onde se encontram os
imóveis selecionados a exemplo de valer-se da expertise já instalada no Ministério de
Desenvolvimento Regional, Caixa Econômica Federal, ou outras instituições financeiras,
para promoção de suporte técnico às municipalidades.
Questão 3 As metas estabelecidas são compatíveis o histórico de duração dos
processos de regularização de ocupações em terrenos da União?
Os testes aplicados evidenciaram que o histórico dos processos de regularização
fundiária, seja em terras públicas ou particulares, é demasiado longo, tendo em vista a
necessidade de uma sequência extensa de etapas para concretização dos projetos, além
de todos os entraves burocráticos e administrativos da máquina pública, os quais as
mudanças legislativas e inovações de gestão buscam mitigar.
Uma ilustração dessa problemática é o caso da Gleba Meriti, com área de
1.276.50,00m², localizada no Município de Duque de Caxias/RJ, emblemático e
41
complexo, tendo as primeiras tratativas processuais iniciada no ano de 1994, entre
órgãos federais, mas que ainda se encontram longe de finalização, conforme se
depreende de relato da SPU
Ademais, faz-se necessário ponderar que problemas estruturais como a questão de
pessoal (falta de carreira própria, envelhecimento e número dos quadros); divisão da
força de trabalho com outras ações – alienação, remissão de foro, fundo imobiliário,
cessões, fiscalização, arrecadação; consistência das bases cadastrais e abrangência dos
sistemas de TI; gestão de riscos não implantada; disponibilidade orçamentária para
cumprimento da atividade finalidade do órgão, inexistência do sistema estruturador são
componentes de risco com impacto elevado no sucesso das ações realizadas pelo órgão
que ainda não foram superados.
Questão 4 Há dificuldade institucional de retomada de imóveis que foram destinados
a órgãos?
O Governo Federal, por meio dos Ministérios da Economia e do Desenvolvimento Social,
avança na formatação e implantação de uma nova modalidade direcionada ao
atendimento de moradias de interesse social. Na medida proposta, consta a utilização
de terrenos da União em áreas urbanas com boa localização nos centros dos municípios.
Com nome provisório de “Aproxima”, o programa do governo federal deve integrar a
carteira do Programa Casa Verde e Amarela. É notório reconhecer que a União dispõe
de terrenos localizados em áreas urbanas, muitas vezes com grandes extensões em
termos de área projetada e com razoável potencial construtivo de moradias. Todavia,
não há clareza se esses terrenos estão disponíveis e desembaraçados de modo a
permitir a implantação do programa de forma ágil.
Foi observado que a legislação em vigor faz ressalvas sobre a utilização de imóveis
administrados pelos comandos militares para fins de implementação de ações de
regularização fundiária e/ou provisão habitacional, ainda que os mesmos não estejam
sendo utilizados para as finalidades pactuadas, conforme disposto nos arts. 77, 79 e 100
do Decreto-Lei n. 9.760/1946.
Caso concreto de aplicação do referido dispositivo ocorreu recentemente na
Superintendência do Patrimônio da União no Estado do Acre. A proposta da regional
buscava a utilização de imóveis sob a administração do Comando do Exército local para
fins implantação de moradia para pessoas de baixa renda, haja vista a existência de forte
demanda por parte dos poderes locais.
O entendimento exarado no parecer jurídico da AGU foi “pela inviabilidade de retorno
dos imóveis para a administração da SPU/AC, sem a anuência do referido Comando”,
em que pese os imóveis não estarem sendo utilizados para a finalidade pactuada, e se
encontravam sem condições de uso e que apresentavam, inclusive, aspectos de
abandono, segundo relato da SPU local. Nesse sentido, entende-se necessário que a SPU
realize levantamento dos imóveis sob gestão das forças armadas com aptidão para
produção habitacional com função social e de regularização fundiária e que se
encontrem subutilizados para, mediante ajustes a serem celebrados com as três forças,
esses imóveis possam integrar o Regulariza+ (SPU).
42
Questão 5 As ações de regularizadas desenvolvidas pela SPU e MDR estão
adequadamente coordenadas?
No que toca à integração de informações dos processos de regularização fundiária em
terras da União executados pelo MDR às bases cadastrais da secretaria, foi constatado
que não há um fluxo definido entre os dois órgãos uma vez que o MDR e que a SPU “atua
como intermediadora da política pública, por meio da destinação do imóvel, tendo em
vista que o principal agente operador da Regularização fundiária é o Município. As
informações que constam nas nossas bases de dados posteriores às destinações são dos
títulos emitidos pelo município”.
43
Anexo I – Manifestação da Unidade Examinada e Análise
da Equipe de Auditoria
44
45