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A HERMENÊUTICA NEORREALISTA
ESCANDINAVO-ESTADUNIDENSE: ENTRE A
DISCRICIONARIEDADE E A VINCULATIVIDADE NO DISCURSO
DOS DIREITOS HUMANOS
Salvador
2023
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO 3
1.1 AUTOR 3
1.2 TÍTULO 3
1.3 ÁREA(S) DE CONHECIMENTO 3
4 JUSTIFICATIVA 4
5 OBJETIVOS 6
6 METODOLOGIA 7
8 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES 14
9 SUMÁRIO PROVISÓRIO 14
1 APRESENTAÇÃO
1.1 AUTOR
Nome
1.2 TÍTULO
Este projeto adota como eixo temático a discussão sobre a viabilidade da adoção de
uma institucionalização ética como critério hermenêutico das decisões jurídicas sobre direitos
humanos. Discute-se o problema do pluralismo moral que permeia a sociedade
contemporânea e, ao mesmo tempo, impõe limites suprapositivos à aplicação jurídica,
gerando o problema metodológico-aplicativo da tensão vinculatividade-discricionariedade. É
justamente no contexto desse debate sobre os limites de validade do discurso de aplicação dos
direitos humanos que está situado o seguinte problema de pesquisa: é possível resolver a
aporia universalismo-particularismo do discurso dos direitos humanos e a tensão
vinculatividade-discricionariedade aplicativa do direito em uma sociedade permeada por um
pluralismo moral que dificulta a institucionalização de um padrão ético adotável como
referência limitativa de conteúdos jurídico-positivos?
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4 JUSTIFICATIVA
A aporia básica do discurso dos direitos humanos identificada por Douzinas (2009),
qual seja, a tensão particularismo-universalidade, tem sido traduzida no conflito entre o
multiculturalismo e os esforços por uma universalização dos direitos humanos. De um lado,
temos a tendência a um pensamento relativista que, em nome do respeito ao pluralismo de
valores e comunidades, pode levar à admissão da institucionalização de conteúdos éticos e
conversíveis em linguagem jurídica desprovidas de limites substantivos. De outro, uma
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Será que pode haver uma ética que respeite o pluralismo de valores e comunidades?
Será que podemos descobrir na história uma concepção não absoluta do bem que possa ser
usada como um princípio quase transcendente de crítica?
A aporia ética contemporânea resolver-se-ia, segundo Engelmann (2007), não pela via
relativista, mas sim pela substituição da postura metafísica pela postura
ontológico-hermenêutica, em que os fins não são mais tidos como previamente dados, e sim
significados dentro do círculo hermenêutico. Proporcionar-se-ia, assim, a construção de uma
sociedade pluralista, em que seja efetivada a dignidade prometida pelo discurso dos direitos
humanos, solucionando-se a tensão entre tolerância e direito à diferença. À dimensão da
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institucionalização de uma ética que substitua a moral (solipsista) por uma construção
humanitária de caráter intersubjetivo, nos moldes defendidos por Adela Cortina, adere o
reconhecimento do caráter jurídico-positivo e vinculante dos conteúdos jurídicos, em respeito
à co-originalidade entre direito e moral. Nesse contexto, a proposta filosófico-hermenêutica
de Esser, ao tratar da transformação dos princípios em normas positivas, preocupa-se
simultaneamente com a eleição de valores que recuperam os motivos personalistas e
pluralistas conectados à autodeterminação individual (ZACCARIA, 2004, p. 381-2).
5 OBJETIVOS
6 METODOLOGIA
Ricoeur (1978, pp. 217 e ss.) trabalha a contraposição entre o cogito cartesiano e a
ontologia heideggeriana, indicando que a dicotomia sujeito-objeto assumida por Descartes
oculta a verdade, impedindo um desvelamento ontológico intersubjetivo pela via da tentativa
de atribuir à esfera apofântica, artificial, uma dimensão constitutiva que não tem, interpondo
na esfera lingüística uma ficção de objeto formal que, supostamente, permitiria uma
controlabilidade metodológica, a qual é pura ilusão ontológica.
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Esser distingue entre o achamento da decisão, com o que se chegaria a uma decisão
materialmente adequada do caso concreto fundada naquilo que se considera antecipadamente
como justo, e a fundamentação da decisão, realizada ulteriormente pela via da escolha e
utilização do método adequado a demonstrar a compatibilidade da decisão encontrada por
outras vias com o Direito legislado e com a dogmática, nos moldes da instrumentalização dos
métodos suscitado pela Doutrina do Direito Livre (LARENZ, 1997, p. 195). Estes lhe servem
unicamente, pois, como um ulterior controle de concordância, pois força o juiz a abandonar
uma solução que a princípio anteviu sempre que esta se não revele como susceptível de
fundamentação. De tal forma, embora se funde em Gadamer para elaborar um modelo
descritivo do contexto de descoberta, não nega a relevância, do momento artificial da
justificação, tanto interna quanto externa, da decisão, o qual se dá pela via de uma
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O acordo mútuo entre intérprete, texto e situação concreta pressupõe uma dimensão
justificante da aplicação do direito, entendido este como discurso prático. Peczenik, autor que
revela em sua teoria da argumentação pontos em comum com o Realismo Escandinavo –
sendo, por tal motivo, chamado por Aulis Aarnio, na introdução que escreveu para o livro
“On Law and Reason”, - de Peczenik (2009), vê o horizonte intersubjetivo de expectativas
como “ideologia jurídica”. A justificação profunda de uma decisão judicial requer uma
satisfação não apenas aos requisitos materiais e procedimentais de racionalidade, mas também
uma conformidade com os pontos de partida de certa comunidade jurídica, o que está
condicionado pela forma de vida dos integrantes dessa comunidade. Essa ideologia jurídica
não é um sistema coerente, mas sim uma coleção de convicções normativas e cognoscitivas
que objetivamos organizar coerentemente (FETERIS, 2007, p. 233-5). A aceitação do
conceito teórico de ideologia jurídica é uma condição do controle de concordância que a
dogmática jurídica exerce, segundo Esser, no que se refere à exigência do respeito ao
horizonte intersubjetivo de expectativas. Essa dogmática, na terminologia de Peczenik, é um
elemento integrante do grupo das fontes que se podem utilizar, servindo como mecanismo de
transformação das fontes legislativa e jurisprudencial dentro da lei. Nos casos difíceis dá-se
um salto dos fatos à decisão, o qual é perpetrado pela via da transformação das fontes, que
pode ser modificadora da norma legal (quando o juiz interpreta a norma legal) ou adicionante
de uma premissa (quando o juiz cria uma nova norma), de forma a fazer explícita a relação
entre a conclusão e a premissa, ponto em que entra em questão, mais uma vez, o tema da
discricionariedade (FETERIS, 2007, p. 235-7). As transformações dentro da lei, entendidas
como tomada de decisão a respeito do caráter normativos de certas fontes do direito,
pressupõem o que Peczenik chamou de transformação da lei, ou seja, a consideração de um
conjunto de fatos sociais e valores como um sistema jurídico dotado de vinculatividade. O
autor identifica requisitos avaliativos e/ou normativos a serem satisfeitos pela regra de
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hermenêutica filosófica, ponto em que podemos identificar a compatibilidade entre a sua tese
e a de Esser. Ora, de um lado, o círculo hermenêutico revela o nexo indissolúvel entre a
compreensão da norma individual e a compreensão do sistema normativo como um todo. De
outro lado, estendendo a noção de interpretação à práxis corrente de um contexto
histórico-lingüístico dado, se reconhece a natureza holística e global, não fracionável, do
sentido que se há de desvelar.
Douzinas (2009, p. 374) explica que as alegações de direitos humanos traduzem uma
denúncia de injustiça, entendida como o esquecimento de que a natureza humana (o universal)
está constituída na e por meio da sua transcendência pelo mais particular, em sua
singularidade não-repetida. Ora, os direitos humanos não têm um tempo, espaço ou ideologia
próprios. Apresentam, isso sim, uma passividade em relação à demanda do Outro e uma
lógica de continuidade expansiva movida retoricamente.
Santos (2005, p.12) aponta como imperativo cultural a todos os grupos empenhados a
assunção, dentre as diferentes versões de uma dada cultura, daquela que representa o círculo
mais amplo de reciprocidade dentro dessa cultura, a versão que vai mais longe no
reconhecimento do outro. Seu pensamento representa a dimensão de abertura dialógica do
multiculturalismo à busca por um ethos universalizável fundado nos pressupostos de
reconhecimento, autonomia pessoal e solidariedade social pela via dos quais Adela Cortina
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(2005) busca resgatar o ideal de existência. A adoção de tal união como compatibilização
entre universalismo e particularismo resolve a aporia da institucionalização de uma ética
intercultural, de forma a superar a moral, entendida esta em sentido solipsista. Por outro lado,
como advertiu o próprio Reale, o conteúdo ético precisa ser operacionalizado por um direito
positivo que o reconheça como condição de legitimidade e vinculatividade, o que pressupõe a
adoção de um modelo hermenêutico-aplicativa dos direitos, e, no particular, dos direitos
humanos, capaz de atribuir realizabilidade de tal ética sem a transgressão discricionária de
seus limites. Tal desiderato, nos moldes de Zaccaria, possivelmente seria alcançável pela via
da complementaridade entre a hermenêutica de Esser, herdeiro do realismo estadunidense, e a
analítica argumentativa de Peczenik, herdeiro do realismo escandinavo, de forma a equilibrar
a tensão hermenêutica entre vinculatividade e discricionariedade.
8 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
ETAPAS PERÍODO
LEVANTAMENTO BIBLIOGRAFICO 15/0/12 A 31/05/12
DEPÓSITO 01/10/13
DEFESA 01/12/13
9 SUMÁRIO PROVISÓRIO
1 INTRODUÇÃO
2 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO JURÍDICO-PRÁTICO
NORTE-AMERICANO: HOLMES, JURISPRUDÊNCIA SOCIOLÓGICA E
REALISMO ESTADUNIDENSE
3 O REALISMO ESCANDINAVO
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6 CONCLUSÃO
CORTINA, Adela. Ética sem moral. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
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DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. São Leopoldo: UNISINOS, 2009.
ESSER, Josef. Precomprensione e scelta del metodo nel processo di individuazione del
diritto. Camerino: Edizioni Scientifiche Italiane, 1983.
LAFER, Celso. A importância do valor justiça na reflexão de Miguel Reale. LAFER, Celso;
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. (Org.). Direito, Política, Filosofia, Poesia - Estudos em
homenagem ao Professor Miguel Reale no seu octogésimo aniversário. São Paulo: Saraiva,
1992.
REALE, Miguel. Nova fase do direito moderno. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.