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Rafael Henrique Nogueira

SEMINÁRIO DE RECURSOS ERGOGÊNICOS: BICARBONATO DE SÓDIO

Universidade Federal de Minas Gerais


Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Belo Horizonte
2021

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Rafael Henrique Nogueira

SEMINÁRIO DE RECURSOS ERGOGÊNICOS: BICARBONATO DE SÓDIO

Trabalho apresentado como


requisito obrigatório para a conclusão da
disciplina Seminário de Recursos
Ergogênicos do Programa de Pós Graduação
em Ciências do Esporte, sob orientação do
professor Dr. Marcos Daniel Motta
Drummond.

Universidade Federal de Minas Gerais


Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Belo Horizonte
2021
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SUMÁRIO

SUMÁRIO…………………………………………………………………………………….3
1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………………….4
2. MÉTODO……………………………………………………………………………...6
3. DESENVOLVIMENTO……………………………………………………………....6
3.1. Farmacodinâmica…………………………………………………………………...6
3.2. Farmacocinética…………………………………………………………………….7
3.3. Mecanismo de Ação………………………………………………………………..7
3.4. Dosagem…………………………………………………………………………….8
3.5. Tempo de ação…………………………………………………………………….11
3.6. Efeitos Adversos…………………………………………………………………..12
4. Bicarbonato de sódio como recurso ergogênico esportivo……………....12
4.1. Modalidades Intermitentes……………………………………………………….12
4.2. Modalidades Contínuas…………………………………………………………..14
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………….16
6. REFERÊNCIAS…………………………………………………………………….17

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1. INTRODUÇÃO
A fadiga pode ser definida como a falha em manter um esforço ou ação
necessária, sendo sua causa multifatorial e podendo ser diretamente relacionada à
redução das atividades fisiológicas e ou influenciada por fatores psicológicos
(MCNAUGHTON L.R. SIEGLER J. MIDGLEY A. 2008). Um dos motivos pelo qual
esse processo pode ocorrer é a acidose muscular, causada pelo acúmulo de
metabólitos (aumento na produção de íons de hidrogênio, íons potássio, íons cálcio
e metabólitos intracelulares) ocasionando posterior redução dos níveis de pH
sanguíneo (FORBES SC et al., 2020; LANCHA JUNIOR AH et al., 2015). Como
consequência desse evento ocorrem os processos de disputa de íons hidrogênio
(H+) com íons de cálcio pelo sítio ativo da troponina, o que dificulta a capacidade
contrátil do músculo de operar efetivamente; inibição da ressíntese de fosfocreatina;
interrupção da ativação de enzimas importantes da via glicolítica, como glicogênio
fosforilase e fosfofrutocinase; e redução da produção de energia mitocondrial em
células musculares devido a um gradiente de prótons do citoplasma da célula-matriz
mitocondrial reduzido (DURKALEC-MICHALSKI K et al., 2018; FORBES SC et al.,
2020; JUBRIAS S.A., 2003).
A fim de combater a fadiga, o organismo humano desenvolveu alguns
mecanismos básicos para o retorno do Ph sanguíneo a níveis normais (7,4 no
sangue e 7,0 no músculo) (MCNAUGHTON, L.R., SIEGLER J., e MIDGLEY A.,
2008). O primeiro deles são os tampões químicos, que em segundos já atuam na
alcalinização do organismo. Em seguida ocorre o processo tapão através da
ventilação pulmonar, que excreta os íons hidrogênio através da reação:
H + HCO 3 ↔ H 2CO 3↔ H 2O+CO 2 . Finalmente, os rins excretam o íon hidrogênio na
forma de ácido fixo, atuando a longo prazo para manter o equilíbrio ácido-base
(MCNAUGHTON, L.R., SIEGLER J., e MIDGLEY A., 2008). A excreção dos íons
hidrogênio na corrente sanguínea ocorre através do bicarbonato, uma vez que pode
aceitar um próton para formar ácido carbônico na seguinte equação:
H + HCO 3−↔ H 2CO 3 .Quando o metabolismo produz um ácido, um próton é
liberado e se liga ao bicarbonato formando lactato de sódio e ácido carbônico.
Eventualmente, isso forma dióxido de carbono e água (MCNAUGHTON, L.R.,
SIEGLER J., e MIDGLEY A., 2008).
Na tentativa de potencializar a ação tamponante, a suplementação de
bicarbonato de sódio (NaHCO3) tem se mostrado eficiente em estudos que
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objetivaram observar mudanças no desempenho esportivo (HEIBEL AB et al., 2018;
LOPES-SILVA JP et al., 2019; FORBES SC et al., 2020; LANCHA JUNIOR AH et al.,
2015). O seu efeito tamponante, é o principal mecanismo de ação elucidado pela
literatura (MCNAUGHTON, L.R., SIEGLER J., e MIDGLEY A., 2008; FORBES SC et
al., 2020; LANCHA JUNIOR AH et al., 2015),e também houveram relatos de uma
possível redução da percepção subjetiva de esforço (MACUTKIEWICZ D,
SUNDERLAND C. 2018).
Visto seu potencial ergogênico, muitos estudos buscaram entender as
respostas advindas desse suplemento através de diferentes modalidades esportivas,
vias produtoras de energia e também protocolos de treinamento e suplementação
variados (LAVENDER G, BIRD SR, 1989; ZINNER C et al., 2011; ZAJAC A et al.,
2009; GOUGH L.A et al., 2019; GAITANOS G.C. et al., 1991; CARR A.J et al.,
2011;FORBES SC et al., 2020; HADZIC M, ECKSTEIN ML, SCHUGARDT M. 2019).
Na meta análise de CARR A.J et al., 2011, foi relatado que uma dosagem de 0.3g/kg
massa corporal, para atletas de esportes com característica intermitentes ou com
durações abaixo de 10 minutos de esforços de alta intensidade, é suficiente para
que houvesse um aumento do desempenho de até 2%. Na revisão feita por
FORBES SC et al., 2020 foram encontrados valores para o aumento do
desempenho de até 3% para dosagens entre 0.2-0.3g/kg massa corporal em
modalidades de característica intermitente, esportes de meia distância.
Entretanto, outros estudos não reportaram aumento do desempenho ao
suplementar com a referida substância, (MACUTKIEWICZ D, SUNDERLAND .C,
2018; CAMERON SL et al., 2010; HADZIC M, ECKSTEIN ML, SCHUGARDT M.
2019; Afman et al., 2014), estes estudos alegam que o tipo de amostragem
(homens, mulheres, atletas de elite, treinados e não treinados), a dosagem
estipulada e também o nível de acidez durante a atividade, podem ser fatores
determinantes para o efeito ergogênico do suplemento.
Apesar da sua possível correlação com o aumento do PH sanguíneo
durante o exercício físico, (HADZIC M, ECKSTEIN ML, SCHUGARDT M. 2019;
DURKALEC-MICHALSKI K et al., 2018; FORBES SC et al., 2020) a literatura se
mostra inconsistente em relação ao possível aumento do desempenho advindo
dessa suplementação visto a gama de diferentes modalidades, e protocolos
experimentais.

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Sendo assim, o objetivo desta revisão é investigar e comparar os efeitos
advindos da suplementação de bicarbonato de sódio em modalidades esportivas.

2. MÉTODO
Foi feita uma revisão no banco de dados PubMed, sendo priorizadas
metanálises, revisões sistemáticas, testes controlados aleatórios. A palavra chave
principal inserida para a busca foi “Sodium Bicarbonate”. A partir desta palavra, os
termos-chave “sports”, “sports performance”, “metabolism”, “pharmacokinetics” e
“physiology” foram utilizados para melhor direcionar a busca e também foram
acrescentados os filtros “pesquisas em humanos”, “metanálises”, “revisão
sistemática” e “artigos” para apurar os resultados encontrados.
Os critérios de seleção dos artigos foram: Leitura do título e resumo para
uma breve compreensão do trabalho; somente artigos em inglês; artigos em
periódicos classificados pelo qualis A1, A2, A3, A4 ou B1 e B2 conforme a
classificação atual. Para o entendimento das propriedades farmacodinâmicas e
farmacocinéticas, foi utilizado uma bula farmacêutica que descrevia tais informações.
Após a seleção final, os estudos restantes foram lidos e incluídos no banco de dados
para a produção do trabalho. Após a leitura dos estudos selecionados, outros artigos
que condizem com a temática abordada foram incluídos no banco de dados.
Para os critérios de exclusão foram inseridos os artigos que não possuem
as classificações anteriormente citadas, que não apresentem relação entre o
uso/suplementação de Bicarbonato de Sódio com o desempenho esportivo ou que
não aborde seus mecanismos de ação. Também foram excluídos os artigos que
investigaram o uso do Bicarbonato de Sódio associada a outros recursos
ergogênicos.

3. DESENVOLVIMENTO
3.1. Farmacodinâmica
A solução de bicarbonato de sódio a 8,4% aumenta a concentração de
bicarbonato no plasma, tampona o excesso de hidrogênio, eleva o pH sanguíneo e
reverte as manifestações clínicas da acidose. Quando em água, o bicarbonato de
sódio se dissocia em sódio (Na+ ) e bicarbonato (HCO3¯). O sódio (Na+ ) é o
principal cátion do fluido extracelular e desempenha um importante papel na terapia
dos distúrbios de fluidos e eletrólitos. O sódio circula através da membrana celular

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por meio de vários mecanismos de transporte, entre eles a bomba de sódio (Na – K
– ATPase). O sódio, ainda, desempenha um importante papel na neurotransmissão
e na eletrofisiologia cardíaca, assim como no metabolismo renal. Já o bicarbonato
(HCO3¯) é um constituinte normal dos líquidos corporais e os níveis normais variam
de 24 a 31 mEq/L. (Farmacêutica Responsável: Cíntia M. P. Garcia CRF-SP
34871 ).
3.2. Farmacocinética
Por se tratar de sais derivados de um ácido fraco, o bicarbonato têm
caráter básico, hidrolisando em água e produzindo uma base forte. Seu uso contínuo
provoca um desequilíbrio ácido-básico, causando alcalose metabólica. A
concentração plasmática de bicarbonato é regulada pelos rins através da
acidificação da urina quando ocorre um déficit ou pela alcalinização da urina quando
está em excesso. O ânion do bicarbonato é considerado instável, pois em uma
concentração normal do íon de hidrogênio (H+ ) pode ser convertido em ácido
carbônico (H2CO3) e este em sua forma volátil, dióxido de carbono (CO2), excretado
pelos pulmões. Normalmente uma relação de 1:20 (ácido carbônico: bicarbonato)
está presente no líquido extracelular. Em um indivíduo adulto saudável com função
renal normal, praticamente todo o íon bicarbonato, filtrado nos glomérulos, é
reabsorvido; menos de 1% é excretado na urina. (Farmacêutica Responsável: Cíntia
M. P. Garcia CRF-SP 34871 ).
3.3. Mecanismo de Ação
Como consequência do aumento do pH sanguíneo e HCO3, há um
aumento paralelo no gradiente intracelular / extracelular de íons hidrogênio,
aumentando a atividade dos cotransportadores (MCT1 e MCT4, proteínas de
transporte de monocarboxilato “lactato”, membranas celulares, bem como por outros
sistemas de transporte, sódio-hidrogênio e o co-transportador de bicarbonato de
sódio), levando a um maior afluxo de subprodutos para fora dos músculos ativos e
para a circulação, onde são protegidos ou podem ser absorvidos pelas fibras
musculares adjacentes ou inativas. Portanto, a ingestão de bicarbonato de sódio
aumenta o tampão extracelular e a capacidade de tamponamento dinâmico,
aumentando a taxa de acúmulo de íons hidrogênio que é removido dos músculos
ativos durante o exercícios de alta intensidade, o que contribui para a manutenção
do pH intramuscular. Uma redução de íons hidrogênio permitiria que o processo
contrátil e a ressíntese de trifosfato de adenosina (ATP) pela glicólise continuassem
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em condições mais favoráveis, retardando, a fadiga muscular durante exercícios de
alta intensidade assim ilustrado na Figura 1. (MCNAUGHTON, L.R., SIEGLER J., e
MIDGLEY A., 2008; LANCHA JUNIOR AH et al., 2015; HEIBEL AB, 2018).

Figura 1: O exercício de alta intensidade aumenta a demanda de energia do músculo, que é atendida
por fontes de energia aeróbia e anaeróbica. As principais contribuições da degradação do ATP e da
glicólise anaeróbica para a produção de H + durante o exercício. Os principais transportadores,
incluindo o trocador de sódio-hidrogênio (NHE), o cotransportador de bicarbonato de sódio (NBC) e o
transportador de monocarboxlato (MCT1, MCT4). O H + circulante é subsequentemente tamponado
por ânions bicarbonato. ADP adenosina difosfato, ATP adenosina trifosfato. Autor LANCHA JUNIOR
AH et al., 2015.

3.4. Dosagem
Para obter uma vantagem competitiva com o aumento da capacidade de
tamponamento extracelular, é necessário um aumento no bicarbonato circulante
após a suplementação (HEIBEL AB et al., 2018). Logo a literatura demonstrar uma
breve concordância a respeito da dosagem estipulada para se obter respostas
positivas advindas da suplementação de bicarbonato de sódio 03g/kg massa
corportal ou 5mmol/L (FORBES SC et al., 2020; HEIBEL AB et al., 2018; HADZIC M,
ECKSTEIN ML, SCHUGARDT M. 2019; CARR A.J et al., 2011). Carr et al. 2011
sugeriram que um aumento de +5 mmol·L − 1 em relação aos níveis basais é necessário para

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ter um benefício ergogênico potencial no desempenho do exercício, enquanto um aumento de
+6 mmol·L −1 leva a quase certos benefícios ergogênicos. Entretanto não se sabem valores
mínimos de suplementação para que haja ganhos significativos de desempenho (HEIBEL AB
et al., 2018). No entanto, a revisão escrita por HEIBEL A.B. et al. 2018 descreve valores de
dosagem mínima e máxima encontrados na sua revisão ilustrados na Figura 2.

Figura 2: Aumentos mínimo (Min), máximo (Max) e tempo médio para atingir o pico e máximo absoluto na
concentração de bicarbonato no sangue após a suplementação com 0,1, 0,2 e 0,3 g · kg − 1 de bicarbonato de
sódio BM (SB) em Jones et al. (19).
Para além disso, alguns estudos se aventuraram em novas
possibilidades, buscando estratégias suplementares e dosagens acima de 0,3g/kg
massa corporal (TOBIAS et al., 2013; DURKALEC-MICHALS et al., 2018; JOYCE et
al., 2012; AFMAN et al., 2014; KRUSTRUP et al., 2015; Marriott et al. 2015). Nas
figuras 3, 4 e 5, foram selecionados alguns estudos que utilizaram as dosagens de
referência e alguns não.

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Figura 2: ** o papel é exibido duas vezes como suplementação aguda e crônica e foi investigado
separadamente. g: Gram; kg: quilograma; BM: massa corporal; min: minutos; m: medidor; NaHCO3:
Bicarbonato de Sódio; BA: beta alanina; 1RM: Máximo de uma repetição; HIIT: Treinamento
intervalado de alta intensidade; BMX: Bicicleta motocross; CMJ: Salto de movimento contrário; N / A:
Não aplicável. Alto: esforço máximo; Leve: Desconforto mínimo; Nenhum: Sem desconforto; VO2:
Consumo de oxigênio; VE: Ventilação; F: Teste F de Fisher; d = d de Cohen; ES: Tamanho do efeito;
r = correlação de Pearson. Fonte: HADZIC M, ECKSTEIN ML, SCHUGARDT M. 2019;

Figura 3: g: Gram; kg: quilograma; BM: massa corporal; min: minutos; m: medidor; NaHCO3:
Bicarbonato de Sódio; YOYO-IR: Teste de recuperação intermitente de Yo-Yo; N / A: Não aplicável;
Alto: esforço máximo; Moderado: esforço modesto; Leve: Desconforto mínimo; Moderado: Algum
desconforto, Nenhum: Nenhum desconforto; Grave: Desconforto grave; ES: Tamanho do efeito. d =
Cohens d; F = teste F de Fisher; η2 = eta-quadrado. Fonte: HADZIC M, ECKSTEIN ML,
SCHUGARDT M. 2019;

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Figura 4: ** o papel é exibido duas vezes como suplementação aguda e crônica e foi investigado
separadamente. Abreviaturas: g: Gram; kg: quilograma; BM: massa corporal; min: minutos; m:
medidor; NaHCO3: Bicarbonato de Sódio; Alto: esforço máximo; Leve: Desconforto mínimo; Nenhum:
Sem desconforto; ACERTAR; Treinamento de alta intensidade. f2: f2 de Cohen; F = teste F de Fisher.
Fonte: HADZIC M, ECKSTEIN ML, SCHUGARDT M. 2019;

Nos estudos de KRUSTRUP et al. 2015 e MARRIOTT et al. 2015 AFMAN


et al. 2014 foram utilizadas dosagens acima (0,4g/kg massa corporal) da dita como
referência. Para esses estudos foram encontrados resultados diversos para a
mesma dosagem utilizada. Relatando resultados positivos, Joyce et al. 2012 utilizou
uma dosagem de 0,5g/kg massa corporal em seu estudo e foi encontrado aumento
do desempenho. Apesar disso, nenhum estudo até agora investigou diretamente a
dosagem mínima e máxima necessária para ganhos de desempenho (HEIBEL AB et
al., 2018).
3.5. Tempo de ação
SIEGLER J.C, et al. 2012 mostraram que os aumentos na concentração absoluta
de bicarbonato de sódio são análogos em 60, 120 e 180 minutos após a ingestão de 0,3 g · kg
− 1 massa corporal, uma vez que não houve diferença no desempenho no protocolo de sprint
utilizado pós-ingestão, pode-se supor que o tempo para suplementação não interfere no
aumento do desempenho. Uma onda recente de pesquisas relatando as mudanças no curso do
tempo nos marcadores sanguíneos após a suplementação aguda com bicarbonato de sódio
(JONES R.L et al., 2016; SPARKS, A. et al., 2017), sugere que um ponto de tempo de
suplementação uniforme pode não ser ideal para todos os indivíduos. Contudo foram
encontrados protocolos para suplementação crônica relatando níveis elevados de bicarbonato
de sódio por até 24h (MCNAUGHTON L.R et al., 1999).
3.6. Efeitos Adversos
A ingestão de bicarbonato de sódio resulta na liberação de HCO3- no
estômago, que é rapidamente neutralizado pelos íons hidrogênio encontrado no

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suco gástrico do estômago, o que leva ao aumento da produção de CO2 e pode
causar dor abdominal, flatulência, náuseas, diarreia e até vômitos, a incidência e a
gravidade dos sintomas diferem entre os indivíduos e também podem ser
influenciadas pela dose. No entanto, as grandes doses utilizadas em protocolos de
suplementação crônica (normalmente 500 mg / kg / dia) apresentam outros
obstáculos que podem impedir os atletas, como a quantidade excessiva de sódio
ingerida durante um período relativamente longo e a contínua sensação de
saciedade devido ao número excessivo de cápsulas. Além disso, as estratégias de
dose dividida ainda podem levar o indivíduo a sentir desconforto gastrointestinal
grave (LANCHA JUNIOR AH et al., 2015). CARR A.J et al., 2011b, sugere que para
uma redução dos efeitos maléficos da suplementação, uma co-suplementação com
carboidratos parece ser interessante para que ocorra a alcalinização do sangue e
consequente redução dos sintomas deletérios da suplementação.
4. Bicarbonato de sódio como recurso ergogênico esportivo
4.1. Modalidades Intermitentes
Muito se pesquisou a respeito do efeito ergogênico em modalidades
esportivas de combate (TOBIAS et al., 2013; DURKALEC-MICHALS et al., 2018;
LOPES-SILVA et al., 2018; SIEGLER et al., 2010a; FELIPPE et al. 2016) e com isso
resultados diversos para o desempenho foram encontrados. LOPES-SILVA et al.
2018 em seu estudo com atletas de Taekwondo utilizou uma dosagem de 0,3g/kg
massa corporal, 90 minutos antes do teste específico da modalidade (um combate
nos formatos oficiais, 3 rounds de 2 minutos com intervalo de 1 minuto entre eles).
Para esse estudo houve um aumento da contribuição glicolítica relativa, aumento do
tempo para as ações de ataque, aumentos do pico de concentração de lactato o que
poder estar correlacionado a evasão de íons hidrogênio do interior da célula e como
consequência ocorre a inibição das enzimas-chave glicolíticas (por exemplo,
glicogênio fosforilase e fosfofrutocinase) ocorrendo também o aumento da atividade
glicolítica em comparação com o grupo placebo.
Corroborando esse achado um estudo feito com lutadores de Boxe,
relatou aumento do desempenho com a utilização da mesma substância (GOUGH
L.A. et al., 2019). GOUGH L.A. et al. 2019 usando um protocolo de suplementação
pós exercício intermitente que simula a demanda do combate (Boxe) em uma esteira
nas intensidades de 90% do Vo2 de pico (alta intensidade) durante 30 segundos, e
75% do Vo2 de pico (Intensidade moderada) durante 30 segundos com duração de
12
4 minutos. Foi utilizado uma dosagem de 0,3g/kg de massa corporal de bicarbonato
de sódio e 0,1g/kg de massa corporal de placebo, após a ingestão, os atletas
começaram a fazer um teste específico da modalidade com 3 séries de 3 min com
60 segundos de intervalo que foi iniciado 75 minutos após o término da atividade
simulada. Para esse estudo os autores relataram que o equilíbrio ácido-base foi
aumentado antes do tempo até a exaustão em comparação com o placebo, podendo
acarretar no aumento do desempenho, os autores também especulam que uma
suplementação crônica pode trazer adaptações ao treinamento, foi reportado um
aumento no volume de HCO-3 extra celular que auxilia no tamponamento de íons
hidrogênio e pode permitir o aumento da contribuição glicolítica. Reduções no
potássio (K+) foram observadas, enquanto o sódio (Na+) foi aumentado no período
de recuperação. Isso poderia levar a um aumento na excitação elétrica, potenciais
de membrana e potenciais de ação muscular, que por sua vez, poderiam suportar a
atividade máxima de Na+, K+ -ATPase.
Apesar do aparente efeito positivo no aumento do desempenho em
modalidades esportivas de combate, alguns estudos não obtiveram tal resultado em
suas pesquisas (FELIPPE, L. C. et al., 2016; DURKALEC-MICHALSKI K et al.,
2018). No estudo de FELIPPE, L. C. et al. 2016 foi investigado o efeito da
suplementação de cafeína e bicarbonato de sódio em atletas de Judo em um teste
específico, neste estudo o protocolo suplementar de cafeína foi de 6 mg/kg massa
corporal 60 minutos antes do teste, e bicarbonato de sódio foi de 0,3g/kg massa
corporal divididos em 3 momentos diferentes 120, 90 e 60 minutos antes do teste
específico “Special Judo Fitness Test” (3 séries 1 × 15 segundos e 2 × 30 segundos,
separadas por recuperações de 10 segundos). Nesse estudo os autores relataram
que os dois suplementos examinados separadamente não apresentam aumentos
significativos do desempenho quando comparados juntos, isso sugere que outros
mecanismos além do efeito tamponante de íons hidrogênio sejam importantes para
determinar o desempenho, os autores ainda alegam que o aumento dos
lançamentos do teste específico poderia estar ligado a uma redução da
excitabilidade dos nervos aferentes 3 e 4 que estimulam áreas do cérebro que
responsável pela sensação de dor.
DURKALEC-MICHALSKI K et al. 2018 especulou uma nova forma de
suplementação para para desempenho anaeróbio lático e luta livre, ele utilizou um protocolo
suplementar da seguinte forma, nos dias 1–2, 25 mg · kg − 1 (25% da dose final de 100 mg ·
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kg − 1); nos dias 3–5, 50 mg · kg − 1 (50% da dose final); nos dias 6–7, 75 mg · kg − 1 (75%
da dose final); e nos dias 8-10, 100 mg · kg − 1 (100% da dose final) o tempo de dosagem foi
dividido em 3 vezes diárias sendo, uma na parte pela manhã, outra 1h5 antes da sessão de
treino, e ao anoitecer. Durante cada sessão de exercício, todos os atletas realizaram dois testes
anaeróbios Wingate intercalados com um teste simulado de arremesso. A capacidade de
desempenho específica da luta livre foi medida usando um teste específico de arremesso, o
teste compreendeu dois modos:modo lento - quatro lançamentos suplex obrigatórios em 30
segundos; modo rápido - tantos suplex lançamentos quanto possível em 15 segundos. Nesse
estudos os autores relataram que o tempo até o pico de potência no segundo teste de Wingate
diminuiu significativamente com o bicarbonato de sódio, entretanto não houve aumento no
número de lançamentos no exercício específico, não foram encontrados diferenças
significativas no aumento do lactato sanguíneo e na glicose sanguínea, não foram relatados
efeitos adversos advindos do uso do suplemento. Os autores alegam que tal resultado poderia
estar ligado ao baixo tempo de estímulo do teste wingate, e ao tempo de pausa estipulado no
teste, os autores alegam também que a pequena dose estipulada por eles impactou diretamente
no resultado do pico de potência.
4.2. Modalidades Contínuas
LINDH et al. 2008 em sua pesquisa investigou o aumento do desempenho
em nadadores, nove atletas de elite foram selecionados para o estudo. A amostra foi
dividida em 3 grupos , controle (plano alimentar normal), Bicarbonato de Sódio (300
mg•kg–1 massa corporal) e carbonato de cálcio (placebo / 200 mg•kg–1, massa
corporal) a ingestão começou 90 minutos antes do início do teste o qual foi um
sprint de 200 metros. Ao final da pesquisa os autores relataram que houve aumento
do desempenho em 1,6%, os autores alegaram que os atletas estavam na fase final
de preparação para o campeonato britânico. Um aumento da atividade glicolítica,
pode ter propiciado o aumento da resposta sanguínea de Lactato, que está ligado a
via glicolítica e consequente produção de energia através dela, logo um bom efeito
tamponante dos íons hidrogênio propiciou a continuidade da via e
consequentemente aumento do desempenho.
FREIS et al. 2017 em seu estudo averiguou Efeito do bicarbonato de
sódio no desempenho de corrida prolongado, neste trabalho foi utilizado uma
amostra de 18 atletas sendo 17 homens 1 uma mulher e foi utilizado um protocolo
de dosagem de 0,3 g / kg de massa corporal-1 de bicarbonato de sódio ou 4 g de
placebo dissolvido em 0,7L de água tiveram que ser consumidos no período de uma
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hora, começando 1,5 horas antes do teste. Testes máximos progressivos foram
escolhidos e começam com a seguinte configuração 2,5 metros / segundo para
homens (2,0 metros / segundo para mulheres). A velocidade da esteira foi
aumentada a cada três minutos em 0,5 m / s até a exaustão voluntária e depois o
Teste de carga constante Inicialmente, foi realizado um aquecimento que consistia
em uma corrida de 5 min em esteira com velocidade igual a 60% do limiar individual
anaeróbio. o teste consistia em duas partes: primeiro, uma corrida aeróbica de 30
min começando com 95% limiar individual anaeróbio, seguida por exercício com
110% limiar individual anaeróbio até a exaustão.para esse estudo. Os autores
concluíram que a ingestão oral de bicarbonato de sódio não provocou uma melhora
significativa no tempo até a exaustão no teste de carga constante, entretanto a
velocidade máxima de corrida (Vo2máx) no teste de exercício graduado exaustivo foi
significativamente maior em comparação com o placebo, além da redução da
acidose metabólica ao final do teste de carga constante. Entretanto, sintomas
gastrointestinais foram reportados quando o teste a 110% do limiar anaeróbio
individual.
Corroborando com esse estudo, Hobson et al. 2014 investigaram o efeito
da suplementação de bicarbonato de sódio no desempenho de remo de 2.000
metros, para esse estudos foi utilizado uma amostra composta por 20 remadores de
clube que fizeram o uso ergogênico do bicarbonato de sódio na seguinte dosagem
0,3 g / kg de massa corporal em cápsulas de gelatina preparadas individualmente
para cada participante, ou o mesmo número de cápsulas contendo maltodextrina
(PLA), A dose foi dividida para que os participantes ingerissem 0,2 g / kg do referido
suplemento 4 horas antes do ensaio e 0,1 g / kg e 2 horas antes do ensaio para
minimizar o desconforto gastrointestinal. O teste consistia em fazer 2000 metros no
menor tempo possível, sendo o fator de arrasto no ergômetro de remo (Concept 2,
Nottingham, Reino Unido) padronizado para o teste subsequente. Como resultado
os pesquisadores não encontraram melhoras no tempo de 2000 metros, os autores
alegam que o resultado obtido pode estar atrelado ao tipo de amostra (remadores
bem treinados), e não atletas de elite.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de recursos ergogênicos nutricionais tem ganhado
notoriedade nas ciências do esporte como parte do planejamento estratégico
visando a melhora da performance esportiva. Sendo assim, utilizar o bicarbonato de
15
sódio como um recurso ergogênico pode ser uma boa estratégia, visto sua potente
ação tamponante. A partir das metanálises avaliadas, o efeito ergogênico deste
recurso pôde ser evidenciado em diversas modalidades esportivas na melhora das
capacidades físicas e também na percepção subjetiva de esforço. Entretanto, a
investigação da sua aplicabilidade deve permanecer constante visto a diversidade
de protocolos de treinamento, amostra e populações a serem estudadas, juntamente
com a junção de outros suplementos, visto que outros mecanismos além do efeito
tamponante são importantes para determinar o desempenho. Para que assim
possamos elucidar todos os possíveis mecanismos de ação, efeito dose-resposta,
padrão de resposta conforme sistemas energéticos predominantes e determinantes
para as modalidades, idade, sexo, entre outros parâmetros, especialmente devido às
variações de respostas interindividuais associadas à suplementação.

6. REFERÊNCIAS
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