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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO


CURSO DE PSICOLOGIA

LORENA FERNANDES DA SILVA

SUICÍDIO SOB UMA ÓTICA HUMANISTA: RESSIGNIFICAR A DOR


E PRESERVAR A VIDA

João Pessoa
2019
LORENA FERNANDES DA SILVA

SUICÍDIO SOB UMA ÓTICA HUMANISTA: RESSIGNIFICAR A DOR


E PRESERVAR A VIDA

Monografia apresentada a Coordenação do Curso


de Psicologia do Centro Universitário de João
Pessoa – UNIPÊ, como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em Psicologia sob
orientação da Prof. Dr. Aluízio Lopes de Brito.

João Pessoa
2019
S586s Silva, Lorena Fernandes da.

Suicídio sob uma ótica humanista: ressignificar a dor e


preservar a vida /

Lorena Fernandes da Silva. - João Pessoa, 2019.

42p.

Monografia (Curso de Psicologia) –

Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ

CDU 616.89-008.441.44
SUICÍDIO SOB UMA ÓTICA HUMANISTA: RESSIGNIFICAR A DOR E PRESERVAR
A VIDA

LORENA FERNANDES DA SILVA

Monografia apresentada ao Curso de Psicologia do Centro Universitário de João Pessoa –


UNIPÊ, como requisito parcial para a obtenção do título de Psicóloga, obtendo Conceito
_____

Data: ________________

( ) Aprovada
( ) Reprovada

BANCA AVALIADORA

________________________________________________________________
Prof. Dr. Aluízio Lopes de Brito
(Orientador - UNIPÊ)

________________________________________________________________
Prof. Esp. Guilherme Jorge Stanford Dantas
(Membro – UNIPÊ)

________________________________________________________________
Profa. Ms. Ana Sandra Fernandes
(Membro – UNIPÊ)
―Eu quero ser tudo que sou capaz de me tornar‖
(Katherine Mansfield).
RESUMO

É fato que a morte chega para todos, no entanto, variam-se as maneiras de chegar-se até ela.
Muitas pessoas morrem porque consideram que a vida não merece ser vivida, desfazem a
própria existência na tentativa deliberada de livrar-se de alguma desesperada dor, de situações
de vida insuportáveis. Morrem pelo cansaço, pela culpa e por acreditarem que não existem
mais sentidos para viver e, no desespero que surge desse contexto psicossocial, a morte
induzida e realizada por si próprio aparece como saída do sofrimento, assim é o suicídio. De
acordo com o boletim epidemiológico, realizado pelo Ministério da Saúde (2017), estima-se
que, anualmente, mais de 800 mil pessoas morrem dessa maneira. Emblemático, esse tema
promove as mais variadas reações, quer conversado ou estudado. Uma tentativa de suicídio
pode colocar uma pessoa diante de um problema existencial significativo. Nesse momento,
seu sofrimento se torna propiciador para seu autoconhecimento. Ela precisará responder a si
mesma qual o valor que a vida tem para a ela e isso só será possível, conhecendo-se. Não
saber quem se é gera desespero, desamor e incongruência, causa sofrimento e insegurança, o
que contribui para a tomada de atitudes rígidas e negativas referidas a si próprio e aos outros
(BRITO; MOREIRA, 2011). Pensando nisso, interessou ao presente trabalho, compreender o
suicídio a partir da perspectiva humanista com ênfase na abordagem centrada na pessoa
relacionando seu entendimento com a ressignificação da dor para a preservação da vida. Além
de, buscar demonstrar a importância do autoconhecimento, como forma de promover a
relevância do amor que cada indivíduo precisa obter por si, para que, dessa maneira, venha a
saber se cuidar, prevenindo possíveis pensamentos desastrosos para sua vida, como é o
suicídio. No patamar das ideias expostas, fica a projeção de que, este trabalho venha a ser
relevante para acadêmicos de psicologia, profissionais da área e pessoas interessadas no
assunto.

Palavras chave: Suicídio. Dor. Ressignificar.


ABSTRACT

It is a fact that death comes to all, however, the ways of reaching it vary. Many people die
because they feel that life does not deserve to be lived, they undo their existence in the
deliberate attempt to get rid of some desperate pain, unbearable life situations. They die of
fatigue, of guilt and of believing that there are no more senses to live and, in the desperation
that arises from this psychosocial context, self-induced death appears as the way out of
suffering, so is suicide. According to the epidemiological bulletin, carried out by the Ministry
of Health (2017), it is estimated that, annually, more than 800 thousand people die this way.
Emblematic, this theme promotes the most varied reactions, whether spoken or studied. An
attempted suicide can put a person in the face of a significant existential problem. At that
moment, his suffering becomes conducive to his self-knowledge. She will have to answer to
herself what value life has for her and this will only be possible, knowing herself. Not
knowing who one is generates despair, lack of love and incongruity, causes suffering and
insecurity, which contributes to the taking of rigid and negative attitudes about oneself and
others (BRITO; MOREIRA, 2011). Thinking about this, it was interesting to the present work
to understand suicide from the humanist perspective with emphasis on the person-centered
approach relating his understanding with the resignification of pain for the preservation of
life. In addition, seek to demonstrate the importance of self-knowledge as a way to promote
the relevance of the love that each individual needs to obtain for themselves, so that, in this
way, they will know if they care, preventing possible disastrous thoughts for their life, such as
suicide. At the forefront of the ideas exposed, it is projected that this work will be relevant for
psychology scholars, professionals in the field and people interested in the subject.

Keywords: Suicide. Pain. Resing.


.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 10
2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 10
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 10

3. CONTEXTUALIZANDO O SUICIDIO PELA ÓTICA HUMANISTA:


ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA ........................................................................ 11

4. RESSIGNIFICANDO A DOR E PRESERVANDO A VIDA: A IMPORTÂNCIA DA


AUTOCOMPREENSÃO PARA O CRESCIMENTO PESSOAL .................................... 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 39

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 41
8

1 INTRODUÇÃO

É fato que a morte chega para todos, no entanto, variam-se as maneiras de chegar-se
até ela. Muitas pessoas morrem porque consideram que a vida não merece ser vivida,
desfazem a própria existência na tentativa deliberada de livrar-se de alguma desesperada dor,
de situações de vida insuportáveis. Morrem pelo cansaço, pela culpa e por acreditarem que
não existem mais sentidos para viver e, no desespero que surge desse contexto psicossocial, a
morte induzida e realizada por si próprio aparece como saída do sofrimento, assim é o
suicídio.
Mais de 10 mil pessoas morrem dessa forma todos os anos no Brasil. De acordo com o
primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio, divulgado pelo Ministério da Saúde (2017),
entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no país, sendo 79% delas
homens e 21%, mulheres.
Emblemático, esse tema promove as mais variadas reações, quer dito, escrito ou
estudado. Fontes (2000, p.11) entende, baseado na obra de Durkheim (1930), essa experiência
como ―todo caso de morte que resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou
negativo praticado pela própria vítima‖, sendo considerado então, ―tentativa de suicídio‖
todos os atos que antes da consumação tenham sido interrompidos ou incapazes de serem
realizados.
Uma tentativa de suicídio pode colocar a pessoa diante de um problema existencial
significativo. Ela precisará responder a si mesma qual o valor que a vida tem para ela, por
mais difícil que seja estar vivenciando todo esse sofrimento psíquico e emocional que a cerca.
Nesse momento, o sofrimento se torna proporcionador para o autoconhecimento, pois,
segundo Dutra (2000, p.58), o ser se enxergará diante a duas importantes alternativas: ―ou o
homem poderá retornar da angústia para o cotidiano que continua a afastá-lo de si mesmo, ou
poderá ser conduzido a uma superação desse vazio, para um caminho em direção ao seu
próprio SER‖, ou seja, um caminho para o despertar, para o descobrimento de sua verdadeira
essência, para sua transcendência.
A psicologia enquanto ciência que procura compreender os comportamentos advindos
da mente humana e suas respectivas emoções, mostra-se efetiva com suas práticas e diretrizes
no atual estudo em questão. Este trabalho, se discorre sob a perspectiva da Psicologia
Humanista com ênfase na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), sempre buscando estar de
acordo com a linha de pensamento de Carl Rogers, que foi quem iniciou e destrinchou a ACP.
9

É importante mencionar que, todas as outras abordagens da Psicologia possuem as


suas especificidades e seus sucessos em seus respectivos estudos e em suas vastas áreas, por
isso, merecem igual reconhecimento por tais atributos. Entretanto, optou-se aqui por tratar o
suicídio de maneira que nos aproxime mais ao humano, na forma literal da palavra, de ser-
humano no mundo, com toda a complexidade, intensidade e subjetividade que completa,
verdadeiramente, a alma deste ser, sendo ele, puramente, o que se é.
É necessário estar mais atento a tudo que o suicídio implica e impõe, os sinais são
dados por entrelinhas e precisam ser ligeiramente reconhecidos e tratados, antes que possa ser
consumado o ato. Este é um fenômeno abastadamente presente no cotidiano humano, mesmo
assim, pouco elucidado e muitas vezes mal interpretado pela sociedade. Partindo dessa
premissa, percebeu-se a necessidade do atual estudo. Este, abarca elucidações gerais sobre o
assunto, relacionando seu entendimento com a importante escolha do autoconhecimento e da
ressignificação de suas dores, promovendo, também, a prevenção do comportamento suicida.
Para tanto, foi realizado uma revisão bibliográfica apresentada sob a ótica humanista,
na perspectiva de clássicos autores, que prezem a valorização da vida e o sentido dela. De
acordo com Gil (2008), esta revisão é aplicada com base em materiais já elaborados,
formados, em geral, por livros e artigos científicos. Este, ainda afirma que ―A principal
vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de
uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente‖
(GIL, 2008, p.50).
10

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Compreender o suicídio a partir da perspectiva humanista com ênfase na abordagem


centrada na pessoa relacionando a ressignificação da dor para a preservação da vida.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Realizar uma revisão bibliográfica sobre questões acerca do suicídio, de acordo com a
Abordagem Fenomenológica Existencial com ênfase na abordagem Centrada na Pessoa;
- Destacar a importância da aceitação como forma de ressignificação da dor;
- Apresentar a aceitação e a ressignificação da dor como estratégia de prevenção do
comportamento suicida;
- Demonstrar a relevância do autoconhecimento como forma de valorização da vida;
11

3. CONTEXTUALIZANDO O SUICIDIO PELA ÓTICA HUMANISTA:


ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

A morte faz parte do desenvolvimento humano desde que a vida se inicia, sempre
presente, acompanha o ciclo vital de todos os indivíduos e deixa grandes marcas quando
acontece, porém, por mais que seja um fenômeno comum, ainda é pouco compreendida e
aceita na sociedade. Considerando o que se objetivou tratar este estudo, foi realizado uma
revisão a respeito da morte por suicídio, vista aqui, sob uma ótica humanista.
Tal assunto carece de estudos e informações, o que o faz ser menos preventivo e pouco
elucidado diante a sociedade. Carvalho (2011) apud Ceccon (2017, p.888) diz que ―em nossa
cultura o homem tende a afastar-se de temas que lhe causem angústia. Dentre esses, a morte é
um deles‖. Por se tratar de algo imutável, que leve a finitude do ser humano, o receio em lidar
com atributos que estejam diretamente ligados ao fim da vida é altamente instalado. Como
consequência, este ainda é um tema misterioso entre as pessoas.

Em uma sociedade que não quer saber da morte, que busca escondê-la ou
afastá-la a todo custo para impedir que ela aconteça, alguém que tente ou
que consiga tirar voluntariamente a própria vida, só poderia ser considerado,
no jargão mais ―senso comum‖ possível, um louco (CFP, 2013, p.17).

―O silêncio em torno do assunto dá a impressão de que ele não é importante ou que


simplesmente não acontece‖, avalia Teng Chei Tung, médico do Instituto de Psiquiatria da
Universidade de São Paulo (IPq-USP). Os dados internacionais mostram que a realidade está
longe de ser assim. ―Existe suicídio desde o início da humanidade. Por ter permanecido como
tabu durante séculos, precisamos de muita conscientização para tratá-lo como a questão de
saúde pública que de fato representa‖, reflete o psiquiatra Humberto Correa, presidente da
Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (BERGAMO, 2017).
Dito isso, se nota a importância do conhecimento no assunto que está sendo aludido.
Culturalmente, quando o ser humano se depara com o desconhecido ou com o não-tratado
(mal-entendido), tende, por costume, julgar o que lhe foi percebido. Na situação em que se
encontra alguém que tentou o suicídio e que precisa de ajuda para que não o venha tenta-lo
mais, julgamentos certamente não colaborarão, ao contrário, piorariam significativamente o
quadro emocional que se encontra tal pessoa.
Werlang e Botega (2004) apud Silva (2006, p.42), declaram que, o comportamento
suicida pode ser compreendido como ―todo o ato pelo qual um indivíduo causa lesão a si
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mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal e de conhecimento do verdadeiro motivo
desse ato‖. Silva (2006), preocupada com a limitação que essa definição possa causar, opta
por caracterizar tal comportamento de forma mais abrangente, quando pretensiosamente
afirma que todo o comportamento se parte de uma ideação, logo, para ela, pensamentos auto
lesivos também devem ser considerados como parte do processo nesta definição, até mesmo,
porque, a pessoa que o pensa, na grande maioria da vezes (salve exceções de condições
específicas), está conscientemente se colocando na possibilidade de cometer o ato.
À vista disso, a referida autora, com base em seu entendimento sobre o
comportamento suicida, tendo sido fundamentado a partir de outras literaturas, complementa
que tal conduta deve ser percebida como um ―continuum‖ que parte de ―pensamentos de
autodestruição, passando por ameaças, gestos, tentativas de suicídio até o desfecho letal,
qualquer que seja o grau de intenção letal e de conhecimento do verdadeiro motivo desse ato‖
(p.42).
Cassorla (1991) apud Gaspari (2002, p.17), considera o suicídio como um evento que
ocorre como culminância de uma série de fatores que vão se acumulando na biografia do
indivíduo, em que entram em jogo desde ―fatores constitucionais até ambientais, culturais,
biológicos, psicológicos, etc. O que se chama ‗causa‘ é, geralmente o elo final dessa cadeia‖.
Uma vida é vivida por experiências, construída com histórias e sentidas pela alma.
Pessoas não são robôs. Pessoas tem sentimentos. Se um suicídio surge como saída para fugir
de alguma determinada dor, é porque, de fato, quem a sente, sente muito. Essa realidade dói
para quem a sente, quem convive diariamente com a dor, dói para quem ver quem se ama se
deteriorando, se matando. Por vezes o indivíduo pode sentir-se estático, sem saída, vendo sua
vida acontecer e a vivendo no automático, estando na maioria do tempo deprimido, chateado
ou extasiado, sem forças para reescrever partes de sua história.
De acordo com o boletim epidemiológico, realizado pelo Ministério da Saúde (2017,
p. 1-7), ―O suicídio é um fenômeno que ocorre em todas as regiões do mundo. Estima-se que,
anualmente, mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio. [...] No período de 2011 a 2015,
foram registrados 55.649 óbitos por suicídio no Brasil‖. Supõe-se que os dados aumentam
consideravelmente se contado com as tentativas interrompidas ou inalcançadas e até mesmo
as que jamais chegaram ao conhecimento dos estudos estatísticos.

As pessoas que chegam a tentar o suicídio devem ser o principal foco das
ações de vigilância e de ações preventivas dos profissionais e serviços de
saúde. A tentativa de suicídio é a expressão de um processo de crise, que se
desenvolve de forma gradual. Portanto, intervir precoce e adequadamente na
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situação, envolvendo a pessoa e seu conjunto de relações, é uma estratégia


de prevenção do suicídio (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017, p.10).
A partir do momento que o indivíduo passa a atentar contra a própria vida,
seguramente, já não encontra valor nela. Este o faz com clareza que está caminhando para sua
autodestruição e tende a permanecer fazendo por, em seu estado, não conseguir definir mais
nenhum sentido para viver. Metaforicamente tratando, o tentador sente como se estivesse
morto em vida. Como bem retrata Shneidman (1985) apoud Chachamovich et. al. (2009, p.19)
―uma sensação de turbulência interna e de estar preso em si mesmo‖. Essa noção torna o seu-
eu-no-mundo efetivamente doloroso, o que o faz ansiar, ainda mais, pelo encerramento
completo do seu sofrimento, neste caso, sua morte.
Entretanto, Senna et. al. (2004), sinalizam que, na verdade, esses que buscam o fim
biológico da própria existência não estão deveras em busca de sua própria morte, mas, sim, à
procura de um socorro (mesmo que, no momento, tal necessidade não seja completamente
perceptível para si), para que, em vida, consigam viver.
Na atualidade, parece existir uma tendência de banir o sofrimento e desconsiderá-lo,
uma vez que, as pessoas parecem querer fugir de suas próprias dores, na intenção de não
querer aprender a lidar com estas. Tornam essa realidade em uma dimensão que não deve ser
alcançada ou experienciada. Infelizmente, essa cultura de esquiva geram graves
consequências, pois não há como negar o que se é, o que se foi percebido, isto é, o que chegou
a ser alcance da consciência. Adoecem as pessoas que pensam que não podem lidar com
determinados tipos de sofrimentos, pois, quem não compreende sua dor e não aceita a razão
pela qual essa possa ter surgido, pode ficar consideravelmente comprometido, se colocando
na possibilidade de adentrar em possíveis crises existenciais.
As tentativas para a total inibição de suas dores (já bastante acumuladas), começam a
surgir de maneira que não se perceba que realmente é isso (fuga) que esteja acontecendo.
Nesse momento, as pessoas costumam se entregar aos ópios (vícios de alcoolismo, drogas,
jogos, etc.) ou a outras medidas mais severas como a automutilação, entorpecimento de
medicamentos ou a tentar o próprio suicídio. Medidas drásticas e inautênticas vão sendo
tomadas e isso faz com que gradativamente piore sua situação de sofrimento. Este, se
encontrando incongruente, lidará diariamente com a perca de sentidos para viver, podendo
chegar a um nível que, diante ao desespero, não encontre mais nenhuma razão para lutar pela
própria vida.
Sintomas depressivos, alucinatórios ou delirantes também podem surgir como forma
de autoproteção mental, ou seja, para que o indivíduo não morra, seu próprio eu se distancia
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da realidade (meio em que está inserido) e surta, podendo permanecer no surto por tempo
indeterminado, resultando muitas vezes em sintomas de transtornos conhecidos como
depressão, esquizofrenia, entre outros. Todas essas representações, para algumas teorias
humanistas, não passam de meios protetivos, não-conscientes, dos próprios seres em seus
estados mais alarmantes de dor.
Nunca se deve ouvir analises críticas de outros, se não de nós mesmos, pois isso indica
uma diretividade imprecisa, uma ofensa, e quando o ser humano se sente ofendido sua
tendência inata de autodefesa se faz presente, fazendo-o contra-atacar, o que resulta em uma
comunicação não construtiva e violenta entre os envolvidos, não contribuindo, dessa forma,
para o objetivo da questão que é a de ajudar o bom desenvolvimento dos seres. Por tanto,
devemos considerar as dores que sentimos, não as análises destas (ROSENBERG, 2003).
O suicídio sempre foi objeto de estudo de distintas áreas do saber e não há uma
explicação única que permita sua total compreensão. No entanto, alguns autores tecem sobre a
multicausalidade deste ato. Fukumitsu e Scavacini (2013), nos apresenta um pouco dessa
noção, segundo eles, tal fenômeno não deve ser sabido por apenas um determinante, pois, na
pluralidade dos casos, há sempre uma interação entre vários fatores, como: ―[...] psicológicos,
psiquiátricos, econômicos, culturais, religiosos [...]‖, que devem ser melhores observados e
levados mais em conta. ―É necessário apresentar a distinção entre as causas e o
desencadeante. As causas são sempre múltiplas, no entanto, há, geralmente, algo que
desencadeia o ato‖ (p.198).
De acordo com o pensamento de Kierkegaard apud Tenório (2003, p.40-41): ―nenhum
princípio, sistema ou idéia geral pode dar conta de explicar ou descrever a realidade humana,
a vivência particular de cada pessoa‖. Desse modo, rotular uma única causa para a efetivação
desse ato não estaria alcançando a dimensão que realmente este problema traz, como afirma
Advíncula (1992, p.93): ―a objetivação não é possível para um ser tão complexo‖.
Poucos temas provocam tanta singularidade como esse. É necessário compreender os
motivos, os porquês, os sentimentos, os pensamentos, as incertezas, inseguranças, medos e
outros mais, é preciso alcançar o humano. Só assim se é capaz de chegar ao que o suicídio
implica verdadeiramente para uma pessoa. Vale repetidamente salientar, os fatores podem ser
considerados singulares e cabíveis para as causas classificatórias, mas, os desencadeantes,
não.
Ao se pensar em Psicologia, logo vem à mente seu conceito chave de que é a ciência
que estuda os processos mentais do comportamento do ser humano e de suas interações
sociais com o mundo. Não estaria errado afirmar tal colocação, entretanto, pretende-se aqui
15

complementa-la, de maneira que destrinche o seu interesse em seu princípio básico, mais
complexo, que é o ser humano.
Por óbvio, a Psicologia como ciência humana trata da pessoa humana, porém, alguns
conceitos atualmente estão se distanciando dos princípios fundamentais dessa noção. Ao ser
tentado resolver, elucidar e cientificar cada passo que dá o ser humano, têm-se direcionado a
atenção apenas para a compreensão de seus comportamentos, de forma metódica experimental
objetiva, esquivando-se, desse modo, da subjetividade inerente que apresenta o ser existente
no mundo. Essa humanização é, pois, entendida como um processo que deve ser enxergada a
partir do homem e não, inicialmente, de suas ações, só assim, se encontrará os conceitos a ele
pertinentes (ADVÍNCULA, 1992).
Não é que a objetivação seja totalmente inadequada às questões humanísticas, mas ela
não deve ser tida como principal fonte de descobertas de suas questões existenciais.
Sintetizando esse pensamento, parece oportuno referenciar o filosofo Martin Buber (1982)
que nos deixa, com suas próprias palavras, uma importante alusão podendo ser relacionada a
respeito:

O homem é antropologicamente existente não no seu isolamento, mas na


integridade da relação entre homem e homem: é somente a reciprocidade da
ação que possibilita a compreensão adequada da natureza humana [...] que a
cada homem seja inerente o destino de alcançar a maneira certa de ser-
homem dentro da forma que lhe é peculiar (p.152).

Por tanto, eu sou o que sou e preciso do tu para que eu possa realmente ser, e tu
precisas do eu para que possas seres tu. O eu e o tu, precisam do meio (mundo) para que
possam se relacionar e se perceberem um diante ao outro, pois as diferenças é o que nos
tornam indivíduos (BUBER, 1982).
Muitos pensam que, por se tratar de abordagens mais voltadas ao subjetivo do ser
humano, a Psicologia Humanista não compactua com os conhecimentos científicos que
também buscam explicar as questões humanas, porém, grandes conhecedores da área intentam
desmistificar essa ideia. Rogers, por exemplo, enxergava a ciência como um dos polos da
experiência humana, que, afinal, sua conduta (ação do sujeito para a utilização do saber
cientifico) parte-se de sua própria vivência subjetiva, ou seja:

A ciência apenas existe nas pessoas. Qualquer projeto científico tem o seu
impulso criativo, o seu processo, a sua conclusão provisória, numa pessoa ou
em várias pessoas. O conhecimento – mesmo o conhecimento científico - é
aquele que é subjetivamente aceitável. O conhecimento científico só pode
16

ser comunicado àqueles que estão subjetivamente preparados para receber a


sua comunicação. A utilização da ciência apenas se dá através de pessoas
que procuram valores que significam alguma coisa para elas (ROGERS,
1991, p.248).

Na obra de Rogers, fica evidenciado que, a interação existente entre a ciência e o


vivencial é de fato consistente, mas que, ainda assim, toda experiência humana, inclusive a de
aquisição do conhecimento cientifico, implica, por tanto, em subjetividade.
Embora não deva ser elaborada nenhuma generalização a respeito das causalidades do
suicídio, nas práticas clinicas, grande parte dos casos correspondem a situações de vida
insuportáveis, marcadas por altos sofrimentos psíquicos e emocionais, bem como retratam
Silva, Alves e Couto (2016) em seus ensinamentos sobre as difíceis escolhas existenciais que
se dá frente a desesperação humana.

Por constituir-se num ser de possibilidades e que se projeta numa dimensão


infinita de possibilidades é que o homem vivencia uma permanente
inquietação, por deparar-se sempre com a tensão entre o que é e poderá vir a
ser (DUTRA, 2000, p.58-59).

Todos, em vida, possuem diferentes possibilidades de escolhas e, em todo caso, cada


escolha resultará em alguma consequência (baseada no contexto subjetivo que cada indivíduo
se encontra). Com base nesse pressuposto, pode-se atestar que a cada nova preferência
estabelecida, esta estará implicando na renúncia de várias outras possíveis possibilidades para
a sua vida (SANCHES; BOEMER, 2002).
Considerando o fato de que não há caminhos certos, apenas diferentes caminhos a
serem escolhidos, o indivíduo se vê imerso nas inúmeras possibilidades que possui para
constituir sua própria história. Aceitar que o homem obtém liberdade de escolha, é afirmar
que a responsabilidade que este deve ter por si, aumenta. Essas possibilidades por mais
libertadoras que pareçam ser, condenam o ser humano a difícil tarefa de ser-humano-no-
mundo (SENNA et. al., 2004).
Na publicação da OMS (1969), consta que Stengel e Cook consideram os atos suicidas
como acidentes na luta pela adaptação ao meio social, sendo que o seu resultado dependerá
não só da relação entre o impulso de autodestruição e o impulso da conservação do indivíduo,
mas também das reações imediatas do meio em que este vive (GASPARI, 2002).
Cada sociedade vai participar, à sua maneira, da recorrência dos suicídios em seu
meio. Essa, por sua vez, pode possuir muita influência na escolha que o ser humano faz entre
permanecer vivo ou não. As ações dos outros refletem diretamente na vida de alguém, por
17

isso a importância em pensar sobre a maneira de como portar-se nos diferentes tipos de
convívios sociais. Um comentário, uma ação, uma desatenção, podem ser fatores que, se
acumulados, geram fontes para sofrimentos existenciais. É válido salientar que, nossos
sentimentos são nossa responsabilidade, isto é, o meio pode apenas desencadear sentimentos
já pertencentes a mim, mas nunca é capaz de tomar posse da minha própria liberdade de
escolhas.
Rogers e Rosenberg (1977/2002), elaboraram algumas críticas para a sociedade em
que estavam inseridos, segundo eles, o caminho que a maioria das pessoas estavam tomando
serviriam de bases para uma possível crise existencial coletiva, dizia ele:

Os direitos e deveres civís deixaram de ter importância vital. [...].


Caminhamos firmemente para um regime militar onde a força é a autoridade
suprema. [...]. É provável que nossas escolas sejam mais prejudiciais do que
benéficas ao desenvolvimento da personalidade e exerçam uma influência
negativa sobre o pensamento criador. [...]. De um ponto de vista econômico,
a situação é bizarra. A nação mais abastada do mundo é considerada incap.az
de proporcionar cuidados de saúde adequados ao povo. [...]. Existem outros
sinais dos tempos. [...]. É patente a tendência de pessoas e de grupos a
usarem da violência e do crime para atingir qualquer tipo de objetivo, para
promover todos os tipos de causas e para atingir qualquer espécie de fim.
[...]. Portanto, temos todos os motivos para duvidar da sobrevivência de
nossa cultura. Às vezes, parece que a questão se resume em saber se
cometeremos um suicídio mundial [...]. (p. 211-212).

Esse forte comentário, faz pensar a importância do comprometimento da maioria das


pessoas, se não todas, em pensar suas ações de modo mais empático e compreensivo para os
outros. Tais críticas, se comparadas aos dias de hoje, não se fazem muito diferentes.
Infelizmente, a atualidade tem estado um tanto catastrófica em seu modo de agir frente
aos problemas humanos. As clinicas estão cada vez mais lotadas, pessoas estão sendo cada
vez mais rotuladas e reduzidas a severos diagnósticos. Crianças estão sendo ensinadas a não
sentirem dor, nem tampouco a serem honestas com seus próprios sentimentos. As escolas têm
formado jovens ansiosos, robotizados e amedrontados. As famílias têm estado bem mais
ausentes, em contrapartida, mais presentes virtualmente. As políticas têm preferido guerrear
do que manter a paz, dividir do que democratizar, comandar do que ajudar. Há tantas belezas
iguais hoje em dia, com suas singularidades caminhando para as mais brandas ruínas.
Conforta-se pensar que, do pouco, um dia se faz muito, mudanças pequenas em poucas
pessoas transformam, mesmo que vagarosamente, o mundo em que vivem, que veem, que
sente e que se relacionam.
18

Mesmo com tantas coisas ainda para se melhorar, Rogers não desistiu da humanidade
em sua época, nem tampouco de suas expectativas para a mudança dos seres no futuro, ou
melhor, para o bom desenvolvimento de suas potencialidades e subjetividades. É perceptível
aí a significância da Psicologia Humanista, com ênfase na abordagem rogeriana, para o
constante progresso das personalidades dos seres humanos.
O enfoque existencial humanístico com a metodologia fenomenológica ocupa um
espaço amplo dentro da psicologia com seus conceitos e suas características. Há na história
das filosofias, um termo conhecido como ―Epoché‖, significa dizer que, tudo deve se dar de
acordo com a sua transcendência, isto quer dizer que não devemos fazer juízo algum sobre o
mundo e tudo aquilo que nele se inclui, pois nada, além de nós mesmos, possui o poder de
explicar ou determinar o que algo implica e impõe para uma outra realidade que não seja essa,
verdadeiramente, a nossa.
A fenomenologia é uma corrente filosófica fundada por Edmund Hussel e marcada
posteriormente por grandes outros filósofos, como Merleau-Ponty. No geral, compreende-se
por fenomenologia tudo aquilo que busca compreender os fenômenos e como esses se
manifestam, buscando entender a essência das coisas e como essas são percebidas no mundo.
Seu foco está nas experiências vivenciadas pelas pessoas, de modo que, o entendimento
sentido de tal experiência possa anteceder a qualquer explicação lógica, cientifica ou
psicológica que essas lhes possam oferecer, ou seja, ―a fenomenologia consiste em voltar à
experiência humana direta, pondo de lado quaisquer ideias preconcebidas derivadas de nossas
teorias cientificas ou de filósofos‖ (MATTHEWS, 2010 apud MOREIRA; TORRES, 2013,
p.183).
A abordagem centrada na pessoa dá ênfase ao mundo fenomenológico do cliente. O
próprio Rogers (1985), em uma entrevista concedida a Evans (1979, p.79), apud Moreira e
Torres (2013, p.183), diz que:

Para várias áreas do conhecimento psicológico precisamos de uma ciência


muito mais humana. Não sei que forma poderá tomar, mas acho que não
estará longe da fenomenológica. Deixaremos de procurar olhar as pessoas só
pelo fato de fora, e começaremos a tentar compreender o seu mundo
fenomenológico.

Consciência e percepção constituem operações do organismo que têm como função:


dar-se conta de algo que afeta a experiência; voltar-se para isso (seja um fator interno ou
externo); e simbolizar (atribuir um significado ao que é sentido) (Rogers, 1977/2002). A partir
disso, ocorre a elaboração de um campo fenomenológico, termo (sinônimo de campo
19

perceptivo) que alude ao caráter global daquilo que é experimentado e simbolizado, via
consciência. ―O campo fenomenológico funciona como uma lente que constitui um modo
particular da pessoa se perceber e se relacionar com o mundo, formando uma perspectiva de
realidade‖ (BRANCO; CIRINO, 2016, p.245).
No processo psicoterápico rogeriano, a pessoa pode tomar consciência daquilo que
está realmente vivenciando, não simplesmente daquilo que se permite experimentar depois de
ter passado por um filtro conceitual (ROGERS; ROSENBERG, 1997). Desse modo, o
indivíduo está oportunizando-se a estar congruente consigo mesmo, com seus sentimentos e
ações, com sua realidade. A partir do momento que ocorre a real compreensão do que lhe está
acontecendo, o ser passa a se inteirar de seus valores positivos, fortunando-se ao próprio
conhecimento pessoal.
A seguinte série de preposições, ditadas por Kinget e Rogers (1975, p.66), formulam
uma representação deste processo:

Quanto menos goza o indivíduo de liberdade experiencial, mais tenderá a


julgar-se e orientar-se em função de critérios externos; Quanto mais se julga
e se orienta em função de critérios externos, tais como opiniões de outras
pessoas, mais está sujeito à angústia; Quanto mais está sujeito à angustia,
mais tenderá a negar ou a deformar certos elementos de sua experiência de
modo a torná-los de acordo com as exigências, reais ou percebidas, de seu
ambiente; Quanto menos ele funciona de maneira autônoma, menos
autêntica será a apreensão dos dados de sua experiência; Quanto menos
autêntica é a apreensão dos dados da experiência, menos adequado será o
comportamento - já que esse se articula sobre os dados das experiências,
particularmente aqueles que se referem ao eu; Quanto mais o indivíduo se
sente livre de qualquer ameaça, isto é, livre de qualquer juízo alheio, mais
completa será sua apreensão de sua experiência do eu; Quanto mais
completa é a apreensão de sua experiência real, vivida, mais seu
funcionamento será fácil, eficaz e satisfatório. ⠀⠀⠀⠀⠀

O corpo adoece para não morrer. Essa afirmação clareia a ideia da relação corpo e
alma existente na filosofia clássica, onde, alma (psyque) representa o ser e, o corpo, a matéria
que dá luz as ações da alma. Desse modo, quando o ser apresenta alguma insatisfação
persistente perante a vida que está sendo vivida, refletirá com adoecimentos, seja de maneira
somática no corpo, seja de modo emocional, sentida puramente na alma.
Vale salientar, não se entende aqui doença como ausência de saúde e sim, como a
constatação de que a vida se trata de mudanças que exigem dos seres a capacidade de
encontrar novos sentidos mesmo que diante as transformações ocorridas. A saúde também não
implica dizer que se trata de falta de doença, mas o inverso, a capacidade de lidar com ela e
20

saber acolhe-la como algo inevitável e necessária. ―A Saúde é uma forma de estar na vida,
disponível, para o que ela pode apresentar‖ (DELIBERADOR; VILLELA, 2010, p. 235).
Cada vez que o sujeito se distancia dele mesmo e passa a insatisfazer constantemente
os interesses de sua alma, suas ações começam a se tornar contrárias à essência positiva de
seu ser, de modo que, seus sentimentos se tornem incongruentes em relação às suas ações
diárias (KINGET; ROGERS, 1975).
Isso contribui para o afastamento de segurança interna, maior sensibilidade aos
acontecimentos diários, ascensão aos medos, irritabilidade, tomadas de comportamentos
agressivos e/ou auto lesivos, tristeza profunda, entre outras comorbidades. Tudo isso, facilita
a elaboração de pontes para situações que o façam querer desistir de si mesmo, aproximando
o ser ao vazio existencial, a perca dos sentidos de estar-se vivo. O encerramento da própria
vida aparece como forma de escape para a dor de existir, ou seja, ―aquilo de que o sujeito
possa dispor quando a vida lhe parecer insuportável‖ (CFP, 2013, p.33).
Dutra (2000, p.99-100) atesta essa explicação da seguinte forma:

A deficiência nesse processo de experienciação vai fazer com que as


experiências mais autênticas não sejam vivenciadas. Tal modo inautêntico de
viver acarretará escolhas existenciais inadequadas, porque incompatíveis
com o seu ser verdadeiro, levando a pessoa a uma existência marcada pelo
fracasso, pela baixa auto-estima, irrealização e infelicidade, gerando uma
total incapacidade de amar e ser amado. Dá-se, então, o vazio existencial e a
falta de sentido para a vida, que podem levar o jovem a, numa postura fatal,
querer sair do vazio e tentar preencher esse vácuo em que se encontra, ainda
que seja em direção a um desconhecido que lhe resgatará do sofrimento,
ainda que seja ceifando a sua vida através de um ato de extrema violência,
como o são o suicídio e a tentativa de suicídio.

Por isso a importância de bases sólidas que o ajudem a situar-se no mundo. O


profissional da Psicologia surge nessas horas como forma de apoio para caminhar junto ao seu
cliente, fazendo-o refletir, através de sua própria fala, suas premissas e valores. Nesse
momento, o sofrimento se torna propiciador para o autoconhecimento. Segundo Dutra (2000,
p.58):

Nesse ponto se vislumbram duas alternativas: ou o homem poderá retornar


da angústia para o cotidiano que continua a afastá-lo de si mesmo, ou poderá
ser conduzido a uma superação desse vazio, para um caminho em direção ao
seu próprio SER, a uma existência mais reveladora do seu SER.
21

Vale, nesse momento, recordar de uma passagem escrita por um grande filosofo
existencialista francês, Maurice Merleau Ponty (1908-1961) apud Advíncula (1992, p.95), que
diz: ―o homem se define, em oposição à pedra, que é o que é, como o lugar de uma
inquietação, como o esforço constante por se recuperar e consequentemente, pela recusa em
se limitar a qualquer uma de suas determinações‖. Desse modo, estaria errado enxergar as
experiências de alguém como algo que pudesse vir a ser imutável ou intransmissível.
Cabe, por tanto, ao terapeuta, agir como um facilitador para incitar o melhor
desenvolvimento de seu cliente, criando as condições necessárias para emergir nessa pessoa a
manifestação de suas forças pessoais, como consequente, o indivíduo estará imerso em um
processo de crescimento continuo, de vir-a-ser o seu próprio eu no mundo, com
comportamentos próprios e pessoais, livres de tantas atribuições externas (ADVÍNCULA,
1992).
Carl Rogers (1902-1987), autor de grandes obras como ―Psicoterapia e consulta
psicológica (1942), a Pessoa como centro (1951) e Tornar-se pessoa (1961), é considerado
como principal pivô da psicologia humanista, sendo ele, fundador da abordagem ―terapia
centrada no cliente‖ que, com o tempo mudou de nominação para ―terapia centrada na
pessoa‖. Sua obra é amplamente conhecida pelo leitor de língua portuguesa. Há uma
variedade de material (livros, artigos, vídeos legendados) disponível a respeito da Abordagem
Centrada na Pessoa. Sua terapia inovadora, centrada na pessoa e não diretiva, contribuiu com
grandes marcos para a história da ciência da Psicologia (COLLIM et. al. 2016, p. 136-137).
A teoria humanista obtém uma visão holística e positiva do ser humano. Segundo
Collim et. al. (2016, p. 132), ―O psicólogo americano Carl Rogers adotou uma abordagem
muito mais esotérica da questão da saúde mental e, com isso, provocou uma ampliação
definitiva dos métodos da psicoterapia‖. Em meados dos anos 50, sua Terapia Centrada no
Cliente já havia se tornado uma referência, ele tinha sido eleito presidente da maior entidade
de psicologia de seu país – a APA – American Psychological Association – e gozava de
prestígio internacional (MESSIAS; CURY, 2006).
Ele se inteirou na noção de vida verdadeiramente humana, para ele, nenhum indivíduo
poderia ser rotulado às generalizações das classificações, partindo do pressuposto de que cada
indivíduo possui as suas próprias características, vivenciam as suas próprias experiências e
contém as suas especificas particularidades.

Rogers não acreditava que um indivíduo existisse em estado defeituoso que


demandasse conserto para viver em melhores condições, preferindo enxergar
22

a experiência humana, bem como nossas mentes e ambiente, como algo


vivo, em crescimento. Referiu-se a um ―processo continuo de experiência
organísmica‖ – e entendia a vida como algo instantâneo e em andamento; a
vida existe na experiência de cada momento. Para Rogers, uma concepção
saudável de si não é uma identidade fixa, mas uma entidade fluida e em
mutação, aberta às possibilidades (COLLIM et. al., 2016, p.132).

Sua forma de praticar psicoterapia criou um novo sentido de valorização tanto do


cliente – com efeito, Rogers aboliu o termo ―paciente‖ para evitar a conotação de doença e
passividade – quanto da própria relação terapêutica, sobre a qual pesava uma hierarquização
rígida de papéis.
A abordagem Centrada na Pessoa não se trata apenas de um enfoque terapêutico, ela
vai além, sua filosofia ratifica a alma. Métodos pragmáticos não nos levam a natural
autonomia do ser. Rogers sintetiza que para se alcançar a ―vida plena‖ (termo utilizado por ele
em seus fundamentos teóricos, que indica estar imerso no processo do fluxo natural da vida) é
necessário lançar-se por inteiro na experiência humana, aceitando todas as dores e decepções
que essa possa causar-lhes e acreditando que, com melhores condições existenciais, a vida
pode ser boa o suficiente para ser inteiramente vivida.
De acordo com sua experiência, Rogers (1997, p.31) em seu livro ―Tornar-se Pessoa‖
relata sobre a o que lhes foi possível concluir a respeito das pessoas e seus problemas, diz ele:

A lição é simplesmente esta: a experiência mostrou-me que as pessoas têm


fundamentalmente uma orientação positiva. Nos meus contatos mais
profundos com indivíduos em psicoterapia, mesmo com aqueles cujos
distúrbios eram mais perturbadores, cujos sentimentos pareciam muito
anormais, a afirmação continua sendo verdadeira. Quando consigo
afetivamente compreender os sentimentos que exprimem, quando sou capaz
de aceitá-los como pessoas separadas em todo seu direito, nessa altura vejo
que tendem a orientar-se em determinadas direções. E quais são essas
direções que os seus movimentos subentendem? As palavras que julgo
descreverem com maior veracidade essa direção são: positiva, construtiva,
tendente à auto-realização, progredindo para a maturidade e para a
socialização. Acabei por me convencer de que quanto mais um indíviduo é
compreendido e aceito, maior sua tendência para abandonar as falsas defesas
que empregou para enfrentar a vida, maior sua tendência para se mover para
a frente.

Rogers ainda complementa que não pretende parecer ter uma visão ―ingenuamente
otimista da natureza humana‖, mas que a entende como perfeitamente capaz de se comportar
de maneira agressiva ou autodestrutiva quando emerge nela a necessidade de se defender dos
seus medos mais íntimos.
23

No patamar das ideias expostas, fica a projeção de que, o sentido da existência humana
se dá na constante atualização de seu modo de existir. Para tanto, o ser humano deve ser
respeitado e compreendido por inteiro e não apenas a luz de classificações ou do atual estado
de seus seres.
Pode-se perceber que ao buscar compreender o fenômeno do suicídio pela vertente da
Psicologia Humanista, emana uma gama de conhecimentos em como ser-no-mundo, onde, se
apresentado a estímulos que promovam o autoconhecimento juntamente a liberdade
experiencial provida de segurança e sentidos, o ser passa cada vez mais a ser autônomo,
autentico e potencialmente livre de vivenciar desesperos existenciais.
Ao relacionar essa teoria com os constructos buberianos, percebe-se a compatibilidade
entre as noções, pois, para Buber, o homem é um ser que se caracteriza ao existir, logo, a
existência implica uma correlação vincular com o mundo. Se obtém a noção de que a relação
do ser com o outro é essencial para se alcançar o bom fluído da vida humana, ―visto que é no
encontro com o outro que o ser se atualiza‖ (ADVÍNCULA, 1992, p.99).
Havendo um bom fluido nos processos relacionais existentes entre os seres, o que
existe de mais saudável no peculiar de um ser humano será posto em ordem, caso contrário,
inicia-se um longo processo de desordens frequentes, que podem abrir caminhos para o
adoecimento deste ser. Ordem e desordem são etapas constantes e necessárias no desenvolver
do homem e do mundo, porém, o que as tornam saudáveis ou não é, por tanto, a maneira que
o indivíduo enxerga e acolhe os fenômenos que lhes acontece.
O suicídio é um fenômeno complexo que engloba diversas esferas da vida. Para nos
aproximarmos da multiplicidade de facetas que envolvem esse tema, precisaremos, por tanto,
compreender o mundo vivido das pessoas e como essas o veem (MOREIRA; SOUZA, 2018).
´Não é fácil, por isso se faz necessário a contribuição dos saberes da Psicologia Humanista,
para que, o entendimento dessa questão possa ser explanado da maneira mais pessoal
possível. A Abordagem Fenomenológica Existencial com ênfase na abordagem Centrada na
Pessoa, traz atitudes quem promovem a prevenção do suicídio, além de demonstrar modos
mais humanos de ajudar a conseguir retirar pessoas em situações de crise emergenciais.
Rogers (1997) destacou em sua obra que, estar atento, saber ouvir, para além das
palavras faladas, se fazer presente na relação, fará com que proporcione uma atmosfera
facilitadora que pode ser útil no sentido de possibilitar uma escuta compreensiva. O
profissional psicólogo humanista precisará estar preparado para o encontro existencial, onde o
outro poderá manifestar sobre a possibilidade de querer dar fim a sua vida
24

Vale salientar que, mesmo dentro dessa abordagem, ou melhor, principalmente nesta,
depois das tomadas de todas as atitudes facilitadoras, se o ser, ainda assim, desejar continuar
com a opção de retirada da própria vida, o terapeuta ou facilitador desse sentido deverá
respeitá-lo, ainda buscando compreende-lo empaticamente, pois não poderá ter outra opção
senão a de aceitar a liberdade de escolha expressada pelo seu cliente.
Isto não significa dizer que, se deve desistir de ajudá-lo a encontrar sentidos para a
continuação de sua vida, mas, que mesmo querendo-o vivo, fará de tudo para aceita-lo por
completo, independentemente se este decida suicidar-se. Isso nos remete a ideia de que a
liberdade rogeriana deve ser realmente expressa e sentida em todo seu teor psicoterapêutico.
Evidentemente, a clínica psicológica compreende a importância da atenção preventiva
nos cuidados com os pacientes suicidas, porém entende que a vontade de morrer é uma
experiência legítima e que merece ser acompanhada como qualquer outra experiência
humana. Contudo, tal posição não abre espaço para a concordância com o ato letal.
Experimentar-se é uma forma de poder significar essa vontade de uma nova maneira,
descobrindo novos sentidos que justifiquem viver.
25

4. RESSIGNIFICANDO A DOR E PRESERVANDO A VIDA: A IMPORTÂNCIA DA


AUTOCOMPREENSÃO PARA O CRESCIMENTO PESSOAL

O significado de uma tentativa de suicídio na vida de uma pessoa apenas é capaz de


ser percebido a partir do entendimento de como tal experiência foi vivida e que efeito ela
propiciou na vida deste alguém que buscou se matar (ROCHA; BORIS; MOREIRA, 2012).
Esta experiência produz um grande impacto não somente para o indivíduo que a tentou, mas
também para seus familiares.
É frequente que as famílias dos sobreviventes sejam rotuladas como desajustadas,
desequilibradas, desestruturadas, sem capacidade de amar e cuidar, sendo julgadas
socialmente. (SILVA, 2015). Esta, entretanto, assume um importante papel em todo o
contexto vivido por esse indivíduo, desde os primeiros sinais que lhes são dados (muitas
vezes não percebidos), até a compreensão e acolhimento que deve ser instaurado após o
familiar procurar cometer o ato.
Por vezes, quando não se é capaz de ajudar o ente, a família passa por um grande
processo de luto, o luto pela perca de alguém sem o real entendimento dessa morte.
Angustiados, tendem a sofrer demasiadamente esta perda. Afundam-se, também, no
sentimento de culpa, culpa por não se ter percebido os sinais, os gritos silenciosos de socorro,
há tempo de poder impedi-lo e ajuda-lo. Essas famílias precisam de igual apoio para que não
venham buscar a cometer também o suicídio.
A maioria das pessoas que pensam em cometer o suicídio frequentemente dão sinais
sobre o que pensam e o que intentam fazer com a própria vida. Fazem comentários como
―minha vida não vale a pena ser vivida‖, ―eu não sirvo para nada, preferiria estar morto‖, ―sou
um peso para você‖, "vou desaparecer‖, ―vou deixar vocês em paz, ―eu queria poder dormir e
nunca mais acordar‖, ―eu não aguento mais‖, entre muitos outros tão comuns que se é falado
constantemente no dia-a-dia, cujos quais, muitas vezes, passam despercebidos pelas pessoas.
Essas manifestações não devem ser interpretadas como ameaças nem como chantagens
emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real.
Geralmente, o estado mental em pessoas que pretendem cometer suicídio se encontra
caracterizado de três formas: 1. Ambivalência; 2. Impulsividade; 3. Rigidez. As três maneiras
não seguem uma ordem cronológica, elas acontecem mutualmente. O sentimento de
ambivalência consiste no paradoxo existente entre querer desesperadamente dar fim a sua dor,
quando ao mesmo tempo, possui ardentemente o desejo de viver. Como qualquer outro
26

impulso, a impulsividade em cometer suicídio é transitória e dura alguns minutos ou horas. É


usualmente desencadeada por eventos negativos do dia-a-dia. Sua mente se caracteriza rígida
por pensar constantemente em tirar sua própria vida, não sendo capaz de perceber outras
maneiras de sair de seu problema, estando presa a essa única saída (OMS, 2000).
O contato com a pessoa que se encontra em situações de crise deve ser bastante
cuidadoso, atencioso e respeitoso. A família e os profissionais de saúde que estejam
acompanhando este quadro precisarão compreender que esse é um dos momentos mais frágeis
da vida de alguém e que por isso o indivíduo em crise precisará receber mais atenção do que a
habitual que lhes é dada, até mesmo para que, dessa forma, ele possa perceber que existem
pessoas que se importam verdadeiramente com a sua vida.
Uma abordagem calma, aberta, de aceitação e de não-julgamento é fundamental para
facilitar a comunicação com o indivíduo em sofrimento. Os relacionamentos interpessoais
precisarão ser solidificados à base de muita confiança, apenas assim o indivíduo poderá
perceber que existem pessoas com as quais ele possa realmente contar. Estas, por sua vez,
precisam estar atentas a tudo que este ser possa exprimir em seu dia-a-dia, em seus momentos
de crises, desde a sua fala, até suas ações, modos, escritos, desenhos ou silêncio, pois, nesse
momento, tudo pode parecer propicio ao suicídio, por isso, é de extrema importância a rápida
percepção dos sinais, para que se possam ser cuidados, conversados e, logo, tratados.
Isto não significa dizer que a pessoa precisará está a todo momento sendo vigiada ou
monitorada, mas que, necessita de mais atenção, cuidados, companhias e carinho de todos que
estão frequentemente a sua volta, de maneira humana, não de forma impiedosa. Assim,
estreitaram-se os laços e possibilitaram novas reflexões ao que se entende hoje por família e
por amor.
A maior dor é a que cada pessoa sente em sua própria individualidade, essa não pode
ser comparada ou medida pela dor de outro alguém, pois cada qual possui seu próprio valor,
sua própria singularidade. As tentativas de suicídio repercutem de modo diferente sobre cada
pessoa, ainda que algumas manifestações sejam comuns à maioria dos casos. Partindo desse
entendimento, não há como definir um método ou receita que alcance resultados satisfatórios
para ajudar a manter viva a vida de alguém, entretanto, existe atitudes facilitadoras que
possam ser tomadas que contribuam para a diminuição do risco de suicídio.
No intuito de cessar a dor e não a vida, ações como: escuta atenciosa, compreensão
empática, aceitação (do modo em que o ser em sofrimento se apresenta) e compromisso
(apresentar-se disposto e comprometido em ajuda-lo) podem diminuir drasticamente o risco
de suicídio na vida de alguém.
27

É chamada rede de apoio aqueles com que o indivíduo em crise poderá contar se
houver a necessidade (GASPARI, 2002). Esta, pode ser composta pelos familiares, grupos de
apoio sociais (amigos, colegas de trabalho, vizinhos, etc.) e até mesmo pets, geralmente, são
seus próprios animais de estimação. Além desses, também pode ser incluído na rede de apoio,
objetos que conotem valor sentimental para o tentador, um simples objeto poderá ser
desencadeador de sentidos e emoções na vida de um ser, logo, possuem também importância
significativa na prevenção do suicídio.
A ajuda emocional de toda a rede de apoio do indivíduo é imprescindível para que o
suicídio não venha a ser efetivado. O profissional de saúde que trabalhe em casos como esse
deve compreender o tamanho da responsabilidade e importância que representa na vida deste
ser, por tanto, precisa considerar que quando seu cliente estiver em momentos de crise, seu
apoio emergencial será fundamental, principalmente para se conseguir mais tempo para a
busca de sentidos, valores e novas saídas que façam o indivíduo pensar em desistir da ideia de
tentar realizar o ato suicida.
A dor que toma forma, que toma corpo, é uma dor que realmente corrói. Essa é a dor
do momento, a maior dor, talvez. Aceitar e reconhecer que essa dor verdadeiramente dói
ajuda na compreensão do porquê da existência e permanência desta. É necessário saber
quando é preciso pedir ajuda, vezes o ser humano consegue lidar sozinho com seu próprio
sofrimento, vezes não, conseguir interpretar isso demonstra alta responsabilidade para
consigo.
Recompor-se de uma tentativa de suicídio muitas vezes é mais difícil do que a própria
coragem em se suicidar, o indivíduo precisará estar, novamente, enfrentando as suas dores e
lamentos, reencontrando os motivos que lhes fizeram desejar ir contra a sua própria
existência, mas, dessa vez, com o atributo de ainda precisar lidar com as opiniões e
julgamento das pessoas em sua volta. Neste momento, a rede de apoio deve também ser
acionada, devendo essa, contribuir de modo substancial na vida deste alguém, pelo menos até
que o sujeito consiga libertar-se do período de crise, onde tudo parece estar propicio para que
venha a tentar contra ele mesmo novamente.
Culpa, vergonha, busca incessante do motivo, sentimentos intensos de
responsabilidade, rejeição e abandono, maior dificuldade em dar sentido para a morte,
autoacusações, isolamento, mudanças na dinâmica familiar são alguns dos sentimentos e
comportamentos usualmente experienciados pelo sobrevivente (JORDAN, 2001).
Estar em sofrimento é doloroso, por isso essa dor que tem gerado outras dores com
constância, precisa ligeiramente ser compreendida pelo sujeito que a sente. Mas, até que este
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consiga alcançar tamanha compreensão, antes, precisará passar pelo processo de aceitação, ou
seja, seus sentimentos precisarão serem verdadeiramente sentidos, expostos para si,
percebidos, para que, só assim, sua dor possa ser aliviada e então chegar a ser ressignificada.
Esse é o real processo de cura, cuja qual, vai muito além da bioquímica habitual, trata-se de
curar a alma, de ratifica-la, de fazê-la refletir sobre a valorização do próprio self e de
conseguir compreender a importância da própria existência, conhecendo e valorizando a
própria essência.
Na visão esotérica humanista, o que de primeiro importa quando se está frente a uma
tentativa de suicídio é a pessoa, com todas as suas dores e lamentos, medos e temores, com
tudo que lhe estiver convindo no momento. O acolhimento de sua dor é a primeira grande
atitude que deve ser tomada pelo outro, para que, em seguida, seja alcançado o objetivo
primordial do processo: a transcendência deste ser.
É por meio da compreensão empática que o psicoterapeuta compreende os
significados do sofrimento do cliente, e isso somente é possível quando o cliente recebe o
psicoterapeuta em seu mundo vivido. Esse sofrimento pode ser compartilhado com o
psicoterapeuta que o compreende como um facilitador empático. Dessa forma, ocorre uma
possibilidade de ressignificação do sofrimento pelo cliente, que facilitará a mudança na
psicoterapia (FONTGALLAND; MOREIRA; MELO, 2018).
O meio social geralmente é apontado como desencadeador de sentimentos como os de
frustração, carência e desgosto nos indivíduos. Esse, por sua vez, não é culpado pelos
sentimentos emergentes, é apenas propiciador, essa diferença precisa ser bem compreendida.
Por exemplo, digamos que existe um relacionamento amoroso entre duas pessoas, quando
uma destas decide acabar, a outra a culpa pelo sofrimento que sente pelo término da relação.
Percebam que a frustração emergida é de conta e responsabilidade própria de quem a sente,
não dá outra pessoa que apenas seguiu o que lhe conveio no momento. A carência emergiu em
quem irá sentir a falta do outro, não em quem decidiu partir. Por tanto, a pessoa que se foi
apenas foi algo que fez desencadear sentimentos pertencentes apenas a si. Admitir os próprios
sentimentos eleva o ser a possibilidade de auto compreender-se enquanto indivíduo no
mundo, o que é maravilhoso para o desenvolvimento positivo de si.
Uma vez que se aceita o fato de cada pessoa é quem escreve e conta a sua própria
história, estas passam a prestar mais atenção aos detalhes que tornam essa história mais
instigante para ser lida.
Eventos de vida como perdas ou conflitos interpessoais, problemas acadêmicos, no
trabalho, com a polícia, desemprego, falência financeira e acesso fácil a meios letais, têm sido
29

fatores facilitadores que estão sendo frequentemente associados ao risco de suicídio


(GASPARI, 2002). Doenças neurológicas, crônicas e dolorosas também tendem a aumentar
consideravelmente este risco. É comum perceber que pessoas com determinadas condições se
sintam completamente reduzidas a estas, desconsiderando quaisquer outros atributos positivos
que possam obter.
Para dar continuidade a um desencadeamento lógico das ideias mencionadas aqui, é
importante resgatar um conceito já dado anteriormente, no primeiro capítulo, sobre o ser
saudável e o ser adoecido. Por já ter exposto sobre o mesmo, limitar-me-ei no que for apenas
necessário para o momento.
Devemos pensar em saúde a partir da totalidade existencial humana, partindo dessa
afirmação, Deliberador e villela (2010) constatam:

A saúde é um problema da existência de cada um de nós, na medida em que


diz respeito à nossa disposição primeira e mais imediata na vida. Por isto, o
pensar sobre a saúde não deve estar sob exclusivo domínio da ciência e dos
especialistas, sejam de que áreas forem, pois que vista como um bem, um
desejo, a saúde passa a pertencer ao âmbito existencial e moral (p. 227).

Augras (1986) apud Tenório (2003) acredita que se o ser permanece em um estado
contrário ao seu eu construtivo, reagindo de maneira abrupta, reclusa e deliberada contra si
mesmo, este, estaria se caracterizando como um ser (em termos de desordem) adoecido. Já a
saúde, vista sob o mesmo olhar, era entendida como forma de ―habilidade para recuperar o
equilíbrio e superar a crise na relação com o ambiente, utilizando então sua capacidade
criadora para transformar esse meio inadequado em mundo satisfatório‖ (p.38). Por tanto,
limitar-se a uma condição existencial é o que torna o ser adoecido. Não se trata das doenças,
dos sintomas ou das condições, se trata em como a pessoa os concebe. Sabendo lidar com os
problemas que possam-lhes ocorrer, a pessoa estaria então, saudavelmente, bem.
―A pessoa doente é antes de tudo uma pessoa que sofre, que precisa em primeiro lugar
ser compreendida a partir de seus sentimentos, sensações, emoções, enfim, de tudo que por
ela é vivenciado‖ (ANGERAMI, 1984 apud TENÓRIO, 2003). Quando o indivíduo não
encontra possibilidades de cura e se enxerga imerso em uma realidade que custa aceitar, pode
facilmente querer manifestar sua insatisfação com a vida por meio do suicídio. Por isso, em
casos como esse, o apoio deve ser dado de forma mais intensa, principalmente em situações
de crise.
Pessoas que possuem determinadas condições precisam ser estimuladas
constantemente há descobrirem-se, pois se percebendo, verão que há em si inúmeras
30

características perfeitamente saudáveis prontas para serem usufruídas e postas em prática. Por
tanto, é necessário estimular o que há de saudável nestas pessoas, pois ela não pode ser
reduzida a uma doença e ela precisa se dar conta disso.
A clínica humanista fenomenológica, existencialista e centrada-na-pessoa possui um
jeito próprio de enxergar a psicopatologia e seu diagnóstico, Tenório (2003, p.41) referencia,
com suas próprias palavras, o que representa este processo nessa visão mais humana de
compreender as questões existenciais do próprio ser humano. Diz ele:

A pessoa, no processo diagnóstico, deve ser apreendida como sendo um


fenômeno único e, como tal, respeitada em sua totalidade; não deve,
portanto, ser avaliada segundo normas e padrões de comportamento
preestabelecidos, numa total revelia a sua própria existência. Seu nível de
crescimento ou de maturidade deve ser dimensionado por meio dos projetos
de vida por ela própria idealizados e de acordo com seu próprio mundo e
contexto existencial.

É também próprio desta maneira de pensar a psicopatologia, não se restringir a


determinada sintomatologia, mas trabalhar com a compreensão da experiência
psicopatológica, evidenciando o seu caráter de sofrimento, presente em tal condição, que
existe para além do adoecimento propriamente dito.
Segundo dados da OMS, o suicídio já representa ser, atualmente, uma questão de
saúde pública. Pensando nisso, se faz importante mencionar o dever que a sociedade tem em
contribuir para a promoção da prevenção deste problema. Se mais ações que abarquem essa
questão forem incutidas diariamente no dia-a-dia das pessoas, talvez, a possibilidade de
pessoas quererem buscar o suicídio como escape existencial possa, consideravelmente,
diminuir.
O conhecimento (real, não necessariamente o cientifico) eleva o ser humano a um
patamar que faz pessoas compreenderem o que antes custariam anos para aceitar. Entendendo
o que o suicídio implica e impõe na vida de alguém, ele não mais seria visto de forma banal
ou totalmente preconceituosa, julgadora, pois, passaria a despertar o sentimento de
autocompaixão nas pessoas, cujo qual, contribui de maneira significativa para a tomada de
atitudes boas, positivas, cuidadosas e amorosas nas pessoas.
Práticas que gerem a inclusão e integração dos seres também possuem valor relevante
para a diminuição desse risco na sociedade. Intervenções que visam a melhoria das relações
interpessoais dos seres, contribuem para expansão da rede de apoio pessoal dos indivíduos.
31

Além dessas, outras fontes têm ganhado força e destaque na luta pela causa, como por
exemplo, o CVV – Centro de Valorização da Vida. Este, realiza apoio emocional a todos que
querem e precisam, atendem sob total sigilo, por telefone, e-mail ou chat por 24 horas todos
os dias, de maneira voluntária e gratuita. Além dos atendimentos, o CVV desenvolve, em todo
o país, outras atividades relacionadas a apoio emocional, com ações abertas à comunidade que
estimulam o autoconhecimento e a melhor convivência em grupo e consigo mesmo.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) atuam de maneira direta e estratégica, é
um serviço de saúde de caráter aberto e comunitário, constituído por uma equipe de
multiprofissionais que atuam sobre a ótica interdisciplinar. Realizam prioritariamente
atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com
necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em
situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial, além de também serem
substitutivos ao modelo asilar. As Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e
Centros de Saúde), a UPA 24H, o SAMU (192), o Pronto Socorro e os hospitais, também
podem contribuir de modo relevante na luta pela causa, preparando seus profissionais a
saberem lidar com os indivíduos em crise, pois são estes que as famílias geralmente buscam
quando percebem uma situação de emergência.
Em toda a vida, o ser humano participa de diferentes meios sociais, o que, querendo ou
não, acaba trazendo para si características que podem não ser propriamente suas. Por não se
tratar de um ser isolado e que precisa estar constantemente agindo em sociedade, passa a ser
mutualmente influenciado aos acontecimentos de seu meio externo. Este, quando não se sente
pertencente aos seus grupos, tende a moldar suas atitudes, vontades e modos, na tentativa de
ser aceito e reconhecido pelos seus semelhantes, sem perceber que, dessa maneira, está se
afastando de quem se é de maneira gradual e preocupante.
As relações interpessoais existentes na humanidade são essenciais para a evolução dos
indivíduos. As pessoas assumem um importante papel na constituição de seus semelhantes, o
que preocupa, de fato, é o modo que esses possam estar lidando uns com os outros. Todas as
atitudes tomadas por um ser, são ações que geram resultados imediatos no meio em que este
se encontra inserido, sendo assim, suas atitudes influenciam a tomada de outras atitudes de
um outro ser que também se encontra inserido neste mesmo meio. Neste viés, as pessoas
podem contribuir de dois modos nos modos de ser de um outro alguém, são eles: modo
positivo ou modo negativo.
É no encontro com o outro que o ser se atualiza, cresce e evolui. Se esse encontro for
positivo, repleto de emoções transcendentes, empáticas e construtivas, resultará em seres
32

positivamente satisfeitos uns com os outros e, mais importante, satisfeitos consigo mesmos.
Ao contrário, caso aconteça uma má construção do aspecto relacional na vida de alguém, se
ignorado ou não cuidado, o indivíduo poderá tender-se a se manifestar de maneira negativa,
caminhando de modo contrário ao encontro do seu próprio eu, que no fundo é ser positivo, se
afastando, assim, de sua essência e de seus valores (ROGERS, 1997; BUBER, 1982).
Quando isso acontece, é necessário encontrar rapidamente um meio de ajuda que o
faça tentar voltar ao caminho de volta para o encontro de si mesmo. O retorno a si pode ser
doloroso e difícil, porém, ainda assim, necessita que seja alcançado. Conhecer quem se é da
chance para que o indivíduo haja de maneira autentica e positiva na sociedade, contribuindo
com um melhor desenvolvimento do meio onde está inserido, diminuindo, assim, o risco de
crises existenciais ou depreciativas que possam ser influenciadas em outros seres. Sendo
assim, a pessoa estará transcendendo a si mesma e influenciando seus próximos a também
tomarem posse de atitudes como essa.

Para que haja um desenvolvimento saudável e uma constituição da


individualidade é preciso que aconteça uma progressiva superação dessa
primazia do outro, tarefa esta que implica um longo processo de
autoconsciência e questionamento de si mesmo e do mundo em que se
encontra inserido (ROMERO, 1977 Apud TENÓRIO, 2003, p.37).

Questionar-se sobre quem se é, é uma tarefa árdua, porém necessária. A exploração da


realidade do eu, apesar de dolorosa, inquietante e difícil, é imprescindível para o
desenvolvimento fluido e positivo do ser. Não saber quem se é gera desespero, desamor e
incongruência, causa-lhe sofrimento e insegurança, o que contribui para a tomada de atitudes
rígidas e negativas referidas a si próprio e aos outros (BRITO; MOREIRA, 2011).
Não se ama o desconhecido, partindo desse princípio, entende-se a importância do
autoconhecimento para a própria evolução. Perguntar-se constantemente sobre de onde vem
os próprios interesses, medos e certezas faz com que se reflita sobre quem se é, tais perguntas
são mais fáceis de serem feitas do que respondidas, as respostas tendem a levar o ser a uma
constante indagação, o que reafirma a ideia de que a vida está em constante movimento, por
tanto, ora você se descobre, ora você se reinventa, ressignificando seu próprio ser e suas
próprias questões.
O papel do outro na constituição do eu se faz determinante para a contribuição da auto
atualização deste ser que está em busca de si mesmo, pois é a partir da relação com o outro
que o eu passa a delimitar sua própria existência, se permitindo compreender sobre sua
própria essência. Uma das ideias centrais da teoria rogeriana é a de que todo ser humano
33

possui a capacidade, latente ou manifesta, de auto compreender-se e de resolver suas próprias


questões existenciais. Entretanto, para o alcance de tais ideais, é necessário que o indivíduo
esteja inserido em um contexto de relações humanas positivas, isto é, requer relações
desprovidas de ameaças e julgamentos.
Segundo Advíncula (1992), uma das preocupações fundamentais do teórico Martin
Buber é com a plenitude das relações humanas, as pessoas quando conseguem ser mais
verdadeiramente pessoas, dotadas de humanidade, no sentido filosófico da palavra,
conseguem se abrir umas para as outras, ou seja, conquistam relações autenticas, inteiras,
reais, sem a necessidade de esquivar de quem de fato são.
Essas atitudes que facilitam a reintegração do sujeito a ele mesmo são bem vistas no
processo psicoterápico rogeriano. O próprio Rogers (1997, p.32) diz:

A vida é sempre um processo de devir. Penso que é possível agora ver


claramente por que razão não existe filosofia, crença ou princípios que eu
possa encorajar ou persuadir os outros a terem ou a alcançarem. Não posso
fazer mais do que tentar viver segundo a minha própria interpretação da
presente significação da minha experiência, e tentar dar aos outros a
permissão e a liberdade de desenvolverem a sua própria liberdade interior
para que possam atingir uma interpretação significativa da sua própria
experiência.

O processo de psicoterapia humanista com ênfase na abordagem centrada na pessoa,


requer do terapeuta um conjunto de atitudes coerentes a ele mesmo, sempre se propondo a
estar em constante evolução. Este funciona como um catalisador ou facilitador para que o
cliente, dispondo a ele, uma relação que se constitua a partir de três atitudes principais, que
são elas: 1. Autenticidade genuína ou Congruência; 2. Aceitação incondicional; 3.
Compreensão Empática.
O clima de autenticidade é indispensável para o facilitador da abordagem rogeriana,
talvez uma das mais importantes atitudes que deve ser estabelecida na relação, nesta, se o
terapeuta for congruente na relação com seu cliente, o processo de terapia desencadeará.
Rogers (1997, p.39), explica com suas próprias palavras:

Ser genuíno também envolve a disposição para ser e expressar, em minhas


palavras e em meu comportamento, os vários sentimentos e atitudes que
existem em mim. É somente dessa maneira que o relacionamento pode ter
realidade [...]. É somente ao apresentar a realidade genuína que está em mim,
que a outra pessoa pode procurar pela realidade em si com êxito.
34

A segunda condição a ser posta na relação terapêutica, baseada nos constructos da


abordagem centrada-na-pessoa, é a de aceitação incondicional do terapeuta para com seu
cliente, ou seja, trata-se da atitude em aceitar calorosamente o outro exatamente como ele se
apresenta, sem estabelecer condições para essa aceitação, livrando o cliente de avaliações ou
julgamentos de moral e valor.

Significa uma aceitação de suas atitudes no momento ou consideração pelas


mesmas, independente de quão negativas ou positivas elas sejam, ou de
quanto elas possam contradizer outras atitudes que ele sustinha no passado.
Essa aceitação de cada aspecto flutuante desta outra pessoa constitui para ela
uma relação de afeição e segurança, e a segurança de ser querido e prezado
como uma pessoa parece ser um elemento sumamente importante em uma
relação de ajuda (ROGERS, 1997, p.39).

A terceira atitude facilitadora, consiste em desejar compreender o mundo subjetivo do


cliente da maneira como o próprio o compreende. É importante considerar que, essas atitudes
apenas se desenvolverão se houver a funcionalidade e integração das três de maneira genuína,
não as compreendo como métodos pragmáticos e estáveis. ―É unicamente quando aceito todas
essas atitudes como um fato, como uma parte de mim, que as minhas relações com as outras
pessoas se tomam o que são e podem crescer e transformar-se com maior facilidade‖
(ROGERS, 1997, p.21).
Para tanto, a respeito da compreensão empática, em seu livro ―Tornar-se Pessoa‖,
Rogers diz:

É somente à medida que compreendo os sentimentos e pensamentos que


parecem tão terríveis para você, ou tão fracos, ou tão sentimentais, ou tão
bizarros — é somente quando eu os vejo como você os vê, e os aceito como
a você, que você se sente realmente livre para explorar todos os cantos
recônditos e fendas assustadoras de sua experiência interior e
frequentemente enterrada. Essa liberdade constitui uma condição importante
da relação. Aqui está implicada uma liberdade para explorar a si próprio [...].

As atitudes facilitadoras são fundamentais. São inegáveis a ligação e a contribuição


que cada atitude tem de facilitar o crescimento do cliente e, nesse sentido, a experiência de ser
empático envolve, necessariamente, as outras atitudes facilitadoras postuladas por Rogers. De
acordo com Bozarth (2001), todas estas atitudes estão integralmente relacionadas, pois a
compreensão empática é a aceitação incondicional do quadro de referências do indivíduo. E
para compreender empaticamente e aceitar o cliente, o terapeuta tem que estar congruente
consigo mesmo.
35

Uma das hipóteses centrais da abordagem centrada na pessoa é a de que cada


indivíduo possui dentro de si a força propulsora para seu próprio amadurecimento pessoal.
Essa capacidade, de acordo com a teoria rogeriana, chama-se tendência atualizante. Rogers
afirmou que o cliente é a maior autoridade existente sobre si mesmo, logo, este poderá
desenvolver suas próprias potencialidades, isso, se lhes forem dadas as condições facilitadoras
necessárias de crescimento. Diz ele: ―Se posso proporcionar um certo tipo de relação, a outra
pessoa descobrirá dentro de si a capacidade de utilizar esta relação para crescer, e mudança e
desenvolvimento pessoal ocorrerão‖ (ROGERS, 1997, p.38). Dentro desta visão, o psicólogo
não tenta enquadrar o cliente em categorizações, pois acredita-se que a vivência da pessoa é a
sua própria explicação.
O papel do psicoterapeuta ou facilitador dentro dessa abordagem seria então o de
fornecer as condições necessárias e suficientes para o crescimento humano (aceitação positiva
incondicional, compreensão empática e autenticidade) e, confiando na capacidade de todo ser
humano para descobrir os melhores caminhos para si, coloca-se na posição de um
companheiro nesta busca e não de um guia que direciona seu cliente.

O indivíduo traz dentro de si a capacidade e a tendência, latente se não


evidente, para caminhar rumo à maturidade. Em um clima psicológico
adequado, essa tendência é liberada [...]. Isto se mostra evidente na
capacidade do indivíduo para compreender aqueles aspectos da vida e de si
mesmo que lhe estão causando dor e insatisfação, uma compreensão que
investiga, por detrás do conhecimento consciente de si mesmo, aquelas
experiências que escondeu de si devido à sua natureza ameaçadora. Isso se
revela na tendência para rêorganizar sua personalidade e sua relação com a
vida em maneiras que são tidas como mais maduras. [...] esta constitui a
mola principal da vida, e é, em última análise, a tendência de que toda
psicoterapia depende (ROGERS, 1997, p.41).

Rogers ainda complementa que, mesmo que essa tendência esteja de certa forma
enrustida por detrás de camadas de autoproteção psicológicas, ela existe e é contida em cada
um dos seres humanos, ―aguarda somente pelas condições apropriadas para ser liberada e
expressa‖ (p.41). Quando percebida, inicia-se daí o verdadeiro processo de autoconhecimento
e de mudança de atitudes.
A partir daqui, então, o que o indivíduo vier-a-ser perdurará em sua personalidade, de
modo que, continue naturalmente imerso em seu processo de fluidez, sentindo-se mais
fielmente inteiro em toda a sua integridade, podendo ele sempre fazer uso de sua tendência
atualizante e de suas novas maneiras em como saber lidar consigo mesmo e com a sua
escuridão, com as experiências de sua vida.
36

Vale a pena refletir sobre um aspecto que será muito repetido nesta obra, que é o estar
inteiro consigo mesmo, ser um ser que se sente inteiro significa dizer que este é um alguém
que alcança a plenitude e congruência com todos os diferentes estados de ser de seu interior,
ou seja, estando ele feliz ou triste, cansado ou energizado, chateado ou em paz, entre outros,
este consegue se auto perceber e aceitar plenamente os sentimentos a ele pertencentes.
Rosenberg (2006, p.187) diz: ―Temos compaixão para conosco quando conseguimos
acomodar todas as partes de nós mesmos e reconhecer as necessidades e valores expressos por
cada uma dessas partes‖. Se perceber é um grande passo em direção ao próprio entendimento
e ao ato de auto respeitar-se. Quando nos conhecemos, se torna mais fácil saber como
poderemos nos portar nos diferentes tipos de situação que nos ocorre nos dias-após-dias,
tendo compaixão com nossos sentimentos e emoções.
O mesmo autor explica, em seu livro ―Comunicação Não-Violenta‖, como fazer para
obter diálogos mais saudáveis consigo e com os outros, de maneira que nenhuma das partes
sintam-se violentadas ou ofendidas pelos envolvidos. Segundo ele, se nós, seres humanos,
pudermos identificar, com eficácia, o que observamos, sentimos, necessitamos e precisamos
para enriquecer nossa própria vida, alcançaríamos, portanto, meios de comunicação menos
agressivos e, por tanto, mais humanizados, sabendo nos entregarmos com mais verdade uns
aos outros. Tal entendimento nos serviria de base para o florescimento autêntico de novas
tomadas de atitudes positivas em relação a nossa própria vida (ROSENBERG, 2006).
Nesse desenvolvimento humanístico, já se compreende que cada ser-no-mundo é
absolutamente capaz de resolver suas questões existenciais, basta saber-se-á a devida
compreensão de si e de suas questões. Para tanto, se faz necessário a compreensão dos
fenômenos que nos acontece diariamente e suas respectivas essências.
Aceitando as próprias vivências, se torna mais fácil de admitir que estas são partes
imprescindíveis de si. O processo de aceitação não é fácil, pelo contrário, pode ser muito
doloroso aceitar as coisas que não queremos nem ao menos perceber, mas, ainda assim, é
necessário. Como bem afirma Rogers (1997):

―Ser o que realmente se é‖ implica ainda outros componentes. Um deles: que


talvez já tenha sido sugerido, é a tendência do indivíduo para viver numa
relação aberta, amigável e estreita com a sua própria experiência. Isso não
acontece facilmente. Muitas vezes, quando o cliente se apercebe de uma
nova faceta sua, inicialmente a rejeita. É apenas quando vivencia um aspecto
de si mesmo negado até então; num clima de aceitação, que pode tentar
assumi-lo como uma parte de si mesmo (p.197).
37

Todo esse árduo caminho de autoconhecimento tem sua graça no fim, talvez se fosse
tão fácil de ser aceito não seria tão majestoso quanto demonstra ser. O despertar para a
verdade de ser quem se é revigora o ser, cura suas dores mais profundas e torna-o rico de
sentidos e valores positivos para sua vida.
É importante esclarecer que a palavra ―fim‖ mencionada no parágrafo anterior não
exprime um sentido intransitivo ou imutável, na verdade, seu sentido aqui se dá como parte
resultante de um processo, cujo qual, possibilita que outras partes possam ser iniciadas com
base nesta.
A vida, com todos os seus momentos de altos e baixos, se exprime em mudanças,
movimentos, por tanto, ignora o fato de ser entendida como fixidez. Chegar a se conhecer,
não implicará dizer que todos os problemas a partir disso estarão resolvidos ou acabados, ao
contrário, saber quem se é possibilitará o ser de resolver cada vez mais seus problemas de
forma pessoal e positiva, o que não quer dizer que não possa haver novamente um
afastamento dessa autenticidade conquistada.
A contribuição do pensamento de Carl Rogers para a psicologia humanista foi
fundamental, tanto para sua época como para os dias de hoje, quando o seu legado continua a
ser divulgado e praticado, desenvolvendo-se através de novos paradigmas epistemológicos e
filosóficos.
Como parte destas contribuições, as condições facilitadoras, propostas por ele,
mantêm-se como fundamentais dentro da Abordagem Centrada na Pessoa e das vertentes
contemporâneas humanistas dos percussores de Rogers (Moreira, 2010). Em seu artigo sobre
"As condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica na personalidade", Rogers
(1957/2008) apud FontgallandI, Moreira e Melo (2018, p. 7), fala com clareza sobre algumas
das condições que podem facilitar o processo terapêutico, são elas:

1.Que duas pessoas estejam em contato psicológico; 2.Que a primeira pessoa


(o cliente) esteja num estado de incongruência, estando vulnerável ou
ansiosa; 3.Que a segunda pessoa (o terapeuta) esteja congruente ou integrada
na relação; 4.Que o terapeuta experiencie consideração positiva
incondicional pelo cliente; 5.Que o terapeuta experiencie uma compreensão
empática do esquema de referência interno do cliente e se esforce por
comunicar esta experiência ao cliente; 6.Que a comunicação ao cliente da
compreensão empática do terapeuta e da consideração positiva incondicional
seja efetivada, pelo menos num grau mínimo.

A clínica humanista-fenomenológica considera que o psicoterapeuta não apenas busca


penetrar no mundo do cliente, tal como colocado por Rogers (1977/2002), mas, por meio da
38

redução fenomenológica, põe de lado todas as concepções teóricas, experiências e conceitos


pessoais pré-concebidos, atendo-se apenas à fala do cliente. O psicoterapeuta busca se mover
de mãos dadas com o cliente em seu mundo, procurando compreender o significado da sua
experiência vivida, de seu mundo (MOREIRA, 2013).
Rogers defende que a pessoa que emerge de um processo experiencial descobre, cada
vez mais, que seu próprio organismo é digno de confiança, pois constitui um instrumento
adequado para descobrir o comportamento satisfatório em cada situação imediata. Ele acredita
que isso se torna uma tendência que se faz evidente na pessoa e passa a ser fonte de novas
escolhas e decisões. O indivíduo passa a perceber, progressivamente, que esse foco de
avaliação se encontra dentro de si mesmo: olha menos para os outros em busca de aprovação
ou desaprovação, de padrões a seguir, de decisões e escolhas, e a avaliação que faz de si
mesmo e das situações que quer viver emerge de uma apreciação genuína de sua experiência
vivida, ou seja, de uma atitude de consideração com a própria experiência vivida.
―A ideia de ser o que realmente se é não significa fechar-se em si mesmo. Ao
contrário, de acarretar egoísmo, é um processo que envolve a responsabilidade do sujeito por
ele mesmo e por suas ações‖ (BRITO; MOREIRA, 2011, p.205). Por tanto, ser quem se é,
significa dizer que o indivíduo está aberto a liberdade e a tudo que ela implica e impõe, ou
seja, autonomia, riscos, responsabilidades e diferentes emoções, por isso que esse processo se
parece com um despertar, pois, é sendo quem é, que se conseguirá enxergar todas as verdades
de sua vida.
Sabendo experienciar de maneira inteira a própria vida, saber-se-á também, como lidar
com as dores que fazem com que o ser se desintegre, adoeça e se corroía, levando-o a pensar
em cometer suicídio.
39

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendendo o suicídio a partir da perspectiva humanista com ênfase na


abordagem centrada na pessoa, se foi possível observar que, este é um fenômeno
abastadamente singular e que, por tanto, impossível de ser definido objetivamente. Ainda
assim, este não pode ser estudado de maneira individualista, pois, desse modo, não se estará
abarcando todos os vieses que o cercam. É preciso compreende-lo em sua totalidade,
considerando todas as suas questões. Não se trata, pois, de encontrar causas para o fenômeno
do suicídio, mas de compreendê-lo na sua relação com o mundo e com o indivíduo que pensa
e, por vezes, tenta se matar.
O sofrimento mental, como percebido, pode alterar de forma radical a percepção da
realidade, interferindo diretamente no livre arbítrio das pessoas. Um grande teor de angustia e
medo, quando sentidos, geram fontes diretas para a falta de confiança em si. A liberdade
experiencial se desvaindo, dar aberturas para que o sofrimento existencial se instale, ou seja, a
falta de segurança em si, sendo gradualmente reforçada, poderá gerar, em potencial, um
desespero humano, contribuindo para o adoecimento mental e emocional do ser.
Como forma de prevenção, a segurança interna (segurança em si) é condição base para
a diminuição do nível de angustia (ROGERS, 1997). Por isso, deve-se agir logo na
estimulação da recuperação das atividades autônomas do sujeito, para que este torne a
encontrar sentidos que o façam querer desejar despertar novamente para a vida, voltando a
possuir o total controle de sua liberdade, de suas escolhas e de seu modo de viver, sabendo
que, ainda assim poderá novamente sentir-se perdido, mas, com a diferença que, dessa vez,
perder-se já não terá mais o mesmo significado, ao contrário, perder-se poderá significar
encontrar-se, explorar-se, amar-se.
Como visto, o processo de autoconhecimento é tão intenso quanto a importância da
ressignificação com o que se vai descobrindo no percurso. Todas as dores, lamentos,
incertezas, medos e outras questões existenciais vão sendo desmistificadas, sentidas, faladas e
melhores experienciadas, para que, dessa maneira, possam ser inteiramente ressignificadas.
Não só as tristezas, mas, na verdade, as certezas também são questionadas, refletidas e
repensadas dento do processo psicoterapêutico rogeriano.
Para finalizar, faz-se importante destacar que, durante o processo de terapia, o paciente
caminha para a autonomia, tornando-se responsável por si mesmo, num ganho de liberdade
existencial acompanhado por uma crescente responsabilidade. Essa abertura à experiência
40

permite que se saiba, de forma gradual, o que realmente se deseja para si, sabendo assim,
enriquecer-se de sentidos, valorizando mais a própria vida.
41

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