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1. Introdução
O enfoque evolucionário da firma vem sendo desenvolvido com grande vigor ao longo das
últimas duas décadas2, a partir de trabalhos pioneiros, como os de Nelson & Winter (1977) e Dosi
(1984). Ele emerge de uma preocupação em se estabelecer uma marco teórico alternativo à
economia neoclássica, capaz de tratar de forma mais ampla o problema da mudança tecnológica.
Trata-se, portanto, daquilo que poderíamos chamar de “economia da mudança tecnológica” (DOSI,
1988), e que coloca a firma 3 como elemento central na dinâmica capitalista. Como veremos, é
aquela que abriga, em última instância, o processo inovativo que, por sua vez, é o motor das
transformações estruturais no capitalismo, entendidas em seu nível mesoeconômico -
conformação/mutação da estrutura dos setores industriais - e macroeconômico - determinação do
crescimento (ver, por exemplo, DOSI, FREEMAN, FABIANI, 1994). Com isso queremos enfatizar
que o enfoque evolucionista não está circunscrito, somente, à uma discussão microeconômica, vale
dizer, sobre os determinantes da inovação tecnológica.
Dado o significativo volume de trabalhos em torno do “paradigma evolucionista”, optamos
por estruturar este trabalho do seguinte modo: (i) em primeiro lugar, examinaremos um texto de Dosi
& Nelson (1994), que pretende expor, de forma geral, os principais conceitos e métodos do
paradigma evolucionista; (ii) em segundo lugar, trabalharemos com alguns textos mais específicos,
de forma a aprofundar a discussão sobre a dinâmica da inovação tecnológica, o papel da firma e os
elos meso e macroeconômicos que derivam deste enfoque; (iii) em seguida, procuraremos verificar
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Mestre e Doutorando pelo Instituto de Economia - UNICAMP - Professor Licenciado da UNISINOS.
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Ainda que muitas de suas idéias se originem em trabalhos de autores como Schumpeter (1984, 1985) e Penrose (1962),
entre outros.
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A idéia de firma como unidade conceitual básica talvez não seja a mais adequada num contexto onde predominam grandes
corporações e/ou grandes grupos econômicos - que são unidades centralizadoras do poder decisório sobre o processo de
acumulação da riqueza privada, englobando um conjunto de “firmas”, com inserção em uma gama diversificada de setores
industriais, com produtos colocados em vários mercados. Por efeito de simplificação prosseguiremos utilizando o termo
“firma”, na medida em que a análise evolucionista pode ser perfeitamente aplicada a estruturas organizativas mais
complexas. Para uma discussão conceitual sobre corporações/grupos econômicos sugerimos os trabalhos de Gonçalves
(1991) e Portugal et alli (1994). Também por simplificação, trataremos os termos indústria e setor como sinônimos
(normalmente a literatura evolucionista refere-se à “indústria”), de forma que, por exemplo, indústria e setor
automobilístico seriam a mesma coisa.
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2. O Paradigma Evolucionista
O recente trabalho de Dosi & Nelson (1994), dois dos principais autores “evolucionistas”,
tem a virtude de introduzir os principais conceitos e métodos deste paradigma, vinculando a
construção de sua heurística à visão evolucionista herdada das ciências naturais, mais
especificamente, da biologia. Para esses autores o crescimento do paradigma evolucionista se deve
a três razões básicas (p. 154): (i) a dificuldade que as teorias que pressupõe equilíbrio (geral) e
perfeita racionalidade dos agentes tem de explicar um sem número de fenômenos econômicos
relevantes - como nas questões da geração de mudança tecnológica e da diversidade dos padrões de
crescimento; (ii) a sua aplicabilidade empírica - pesquisas - especialmente no que se refere à “...
natureza do processo de inovação e das instituições que lhe dão suporte ...”, e na possibilidade de
generalização de sua taxonomia e pressupostos comportamentais; (iii) e, por fim, na possibilidade de
um tratamento analítico mais refinado, dado o desenvolvimento de equipamentos capazes de
suportar cálculos envolvendo sistemas dinâmicos.
Esses três elementos já nos permitem afirmar que o paradigma evolucionista pretende ser
uma construção teórica alternativa à teoria econômica ortodoxa, de inspiração walrasiana. Está
presente a idéia de que o “desequilíbrio” 4 faz parte da natureza do sistema econômico, dados os
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Mais claramente o que se procura negar é a existência de um “equilíbrio geral”, com o clearing dos mercados. A noção de
rational expectations mostra-se inadequada, na visão dos autores, ainda que se admitia a sua consistência em algumas
análises. Vejamos as razões de Dosi & Nelson (1994, p. 158) para repudiar esses dois alicerces da teoria econômica
convencional: (i) a perfeita racionalidade dos agentes limitaria o estudo de uma série se fenômenos concretos - como caso
do avanço tecnológico, que é caracterizado por uma incerteza forte, no sentido apresentado por Dosi & Egidi (1991),
conforme veremos mais adiante; (ii) em muitos casos os modelos evolucionistas geram equilíbrios múltiplos, e não um
“equilíbrio geral”, de forma que a questão central passa a ser por que um certo resultado mostrou-se mais operativo; (iii)
considera-se limitante tomar como dados os objetivos e restrições dos agentes, desconsiderando aspectos sociais e
institucionais. Assim a teoria da escolha racional se aplicaria a contextos nas quais “... os atores podem estar supostamente
familiarizados”, enquanto que a teoria evolucionista se aplicaria, em grande medida, à novidades, que não podem ser
pressupostas fazer parte do estoque de conhecimento dos agentes. ou seja: “ .... pode ser argumentado que a teoria
evolucionária é necessária em contextos que envolvem elementos significativos de novidade, de forma que não pode ser
pressuposto que repostas boas já tenham sido aprendidas, mas que elas ainda precisam ser aprendidas.” (p. 158) O uso de
uma noção de racionalidade limitada (Simon) seria mais adequada (ver WILLIAMSON, 1981, p. 553). “ Mais
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efeitos das mutações dos agentes econômicos basilares - as firmas - sobre o sistema como um todo
- na conformação das estruturas industriais e na determinação das trajetórias, não determinísticas,
de crescimento. Notamos aqui a associação feita à biologia evolucionista. Os agentes
sociais/econômicos são percebidos a partir de uma série de elementos que os definem, como, por
exemplo: tecnologia, política, padrões comportamentais, características culturais etc. Esses seriam
equivalentes, para o domínio social, aos genes da biologia. Tais elementos podem ser “....
modificados, aprimorados, de geração a geração... (tendo) suas próprias regras de transmissão.”
(p.155). Tal método parte da percepção de uma “unidade fundamental”, definida de acordo com o
objeto em consideração. No que se refere à economia, o processo evolucionário tem se referido,
freqüentemente, ao plano da tecnologia ou de formas comportamentais e organizacionais. O tempo é
uma unidade de análise fundamental e os modelos são essencialmente dinâmicos.
Vejamos mais detidamente o modo como a abordagem econômica evolucionista incorpora
noções centrais da biologia evolucionista. Os autores apontam esse parentesco a partir da
identificação de quatro blocos fundamentais 5: na biologia evolucionista encontramos “... (i) uma
unidade fundamental de seleção (os genes); (ii) um mecanismo ligando o nível genótipo com as
entidades (fenótipo) que estejam sendo submetidas à seleção ambiental; (iii) algum processo de
interação produzindo a seleção dinâmica; e, finalmente, (iv) alguns mecanismos gerando variações
na população de genótipos e, através disso, entre os fenótipos.” (p.155). Como explicitamos no
anterior, o genótipo da abordagem econômica evolucionista está no plano da tecnologia, enquanto o
fenótipo (entidades) seria a unidade econômica básica do sistema: a firma. Torna-se claro, assim,
que a compreensão do gene - tecnologia - e suas mutações - dinâmica do progresso tecnológico - é
central para o estudo do fenótipo - firmas e, mais agregadamente, os setores industriais e as
transformações estruturais do sistema como um todo.
genericamente, a teoria evolucionista pode ser vista como uma teoria sobre como a sociedade, ou a economia, aprendem: em
casos muito especiais o aprendizado leva à convergência de alguns ‘comportamentos ótimos’; normalmente ela acarreta à
adaptações mais ou menos temporárias ao que é percebido como restrições e oportunidades do ambiente dominante, e
também a vários erros sistemáticos, tentativas, e descobertas.” (p.158). Poder-se-ia preservar a análise neoclássica para
situações relativamente estáveis. Porém, constata-se que muitos processos de aprendizagem são dependentes de sua
própria trajetória (path depedence): “Onde ele termina pode depender em um grau considerável em como ele chegou até lá.
..... Então a explicação da ‘escolha racional’ é, na melhor das hipóteses, incompleta, por que não explica como um particular
contexto local que estrutura as escolhas veio a ser o ponto de repouso.” (p.158-159). Observamos que estas e as demais
citações foram traduzidas pelo autor.
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Para facilitar nossa exposição, recorremos ao Dicionário Aurélio na definição de genótipo e fenótipo: o primeiro seria a “
composição genética total do indivíduo ou zigoto; ou o conjunto dos genes do indivíduo; ou ainda, um grupo de indivíduos
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de igual constituição genética”; por sua vez, o segundo é definido com sendo “ as características de um indivíduo,
determinada pelo seu genótipo e pelas condições ambientais.”
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Segundo Possas (1989, p. 160), a “... racionalidade da adoção deste tipo de procedimento repousa essencialmente no fato
de que os resultados provenientes das decisões sobre incerteza não são previsíveis nem assegurados, de um lado, nem
corrigíveis senão com altos custos, de outro lado, uma vez que as decisões de investir, particularmente em inovações
(novos produtos e processos), são basicamente irrevogáveis. Assim, algum tipo de norma habitual, convencional ou
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imperfeitas e descobertas dirigidas por enganos.” (p. 159). Trabalha-se com a existência de
comportamentos guiados por regras, vale dizer, por rotinas , que são moldadas pela “...história de
aprendizado dos agentes, seu conhecimento prévio e, mais provavelmente, seu sistema de valores e
preconceitos.” (p.159)
rotineira, na tomada de decisões - regra práticas e simples do tipo rule of thumb - acabam por revelar-se linhas de menor
risco.” Mais detalhes sobre a noção de rotinas, ver Nelson & Winter (1977, p. 52-53)
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Segundo o Dicionário Aurélio, heurística significa “um conjunto de métodos e regras que conduzem à descoberta, à
invenção e à resolução dos problemas.”
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Dosi (1988, p. 1127) define paradigma tecnológico como sendo um “... padrão de solução de problemas tecno-
econômicos selecionados, baseado em princípios altamente seletivos, derivados das ciências naturais, juntamente com
regras específicas direcionadas para a aquisição de novos conhecimentos e sua salvaguarda, sempre que possível, contra a
rápida difusão entre seus competidores.”
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Cimoli & Dosi (1995, p. 246) colocam que uma trajetória tecnológica está “... associada a progressiva realização de
oportunidades inovativas associadas com cada paradigma, que me princípio pode ser medida em termos de mudanças nas
características tecno-econômicas fundamentais dos artefatos e processos produtivos.” Assim: (i) “... cada corpo particular
de conhecimento (i.e. cada paradigma) molda e restringe as taxas e direção da mudança tecnológica sem correspondência aos
estímulos de mercado (ii) “... como conseqüência pode-se observar regularidades e invariâncias no padrão de mudança
tecnológica em diferentes condições de mercado (e.g. sob diferentes preços relativos) e cuja fratura está correlacionada com
mudanças radicais na base de conhecimentos (nos paradigmas)” (iii) “... a mudança tecnológica é parcialmente dirigida por
repetidas tentativas de se lutar contra os desequilíbrios tecnológicos que ela mesmo cria.”
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Ver, por exemplo, Dosi, Freeman, Fabiani (1994, p. 37)
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“Pareceria inevitável que em tal teoria as firmas fossem atores chave, duplamente em fazer os investimentos requeridos
para o desenvolvimento de novas tecnologias, trazendo-as à prática, e no uso das tecnologias para produzir bens e serviços.
Na verdade não é difícil contar uma história quase forçada sobre o crescimento econômico baseado nas firmas que
competem umas com as outras através de tecnologias que elas introduzem e empregam. Joseph Schumpeter destacou essa
análise a mais de cinqüenta anos atrás, e as modernas análises são largamente construídas sobre suas conjecturas.” (DOSI &
NELSON, 1994, p.161)
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O conceito de trajetórias naturais - semelhante ao de trajetórias tecnológicas (ver DOSI, 1984, 1988) - em Nelson &
Winter (1977) revelam a dimensão cumulativa do progresso tecnológico. Com isso “... o avanço parece seguir o avanço de
modo que parece de alguma forma ‘inevitável’ e certamente não ajustável suavemente (fine tuned) à mudanças nas
condições de demanda e custo.” (p.56-57) .“ Em muitos casos trajetórias naturais são específicas à uma tecnologia em
particular ou amplamente definidas como ‘regime tecnológico’........ Esses conceitos referem-se à fronteira de capacidades
obteníveis, definidas na dimensão econômica relevante , limitada por restrições físicas, biológicas e outras, dando um
caminho amplamente definido de fazer coisas. Nosso conceito é mais cognitivo, relacionando-se a crença dos técnicos sobre
o que é factível ou pelo menos vale a atenção................................................... Esse sentido de potencial, restrições, e de
oportunidades ainda não exploradas, implícito num regime que foca a atenção dos engenheiros em certas direções na qual o
progresso é possível, e provê um forte guia para as táticas assim como é frutífero para investigações naquela direção. Em
outras palavras, um regime não somente define fronteiras, mas também trajetórias para essas fronteiras. Na verdade esses
conceitos são integrados, as fronteiras sendo definidas como os limites que se seguem a várias trajetórias de design.” (p.57).
Por vezes trajetórias naturais tendem a ser complementares, se reinforçando p como no desenvolvimento de sementes que
crescem às mesmas taxas facilitando às máquinas de colheita (p.58). Existem duas fontes de estímulo à maior exploração
das trajetórias naturais: (i) progressiva exploração de economias de escalas latentes (ii)a crescente mecanização das
operações.
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Para Dosi & Nelson (1994, p. 167), “ ... (numa) tecnologia cumulativa, o avanço técnico de hoje é construído sobre os
aprimoramentos da tecnologia que estava disponível no início do período, e o de amanhã constrói-se sobre o de hoje.”.
Como já mostramos anteriormente as trajetórias são path dependents, gerando retornos dinâmicos crescentes.
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Dosi & Nelson (1994, p. 164-65) nos apresentam um “modelo” de interação entre a evolução das “firmas” e da
“indústria”: “Nos estágios iniciais de uma indústria - digamos automóveis - as firmas tendem a ser pequenas, e a entrada
relativamente fácil, refletindo a diversidade de tecnologias que estão sendo empregadas, e sua rápida transformação.
Contudo, a partir do momento em que um ‘design dominante’ (ou ‘paradigma’ tecnológico) emerge, barreiras à entrada
começam a crescer enquanto cresce a escala e capital necessários para uma produção competitiva. Também, com respeito
ao conhecimento tecnológico, o conhecimento torna-se cumulativo, e firmas estabelecidas estão em vantagem relativa frente
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Com esta “introdução” à abordagem evolucionista, podemos passar agora a um estudo mais
aprofundado do seus principais conceitos e implicações.
Dosi (1988, p. 1120) coloca de uma forma bastante explícita a dinâmica essencial do
processo inovativo: “...agentes privados que buscam lucro irão, plausivelmente, alocar recursos para
a exploração e desenvolvimento de novos produtos e novas técnicas de produção, se eles souberem,
ou acreditarem, na existência de alguma espécie de oportunidade científica e técnica ainda não
explorada; se eles esperarem haver mercado para seus novos produtos e processos; e, finalmente,
se eles esperarem algum benefício econômico derivado das inovações, descontado os custos
decorrentes. Por outro la do, o sucesso de alguns agentes em introduzir ou imitar novos produtos e
processos de produção altera custos, sua competitividade de mercado e, finalmente, é parte da
evolução das indústrias, afetada pelas inovações.” Podemos notar aqui o estabelecimento dos
principais elos causais da abordagem evolucionista: (i) no nível microeconômico, as firmas buscam
construir posições assimétricas, que lhes garanta vantagens concorrenciais frente às demais firmas,
através da inovação; (ii) essa vantagem nasce no sucesso inovativo/imitativo que altera a estrutura
de custos da indústria, fazendo com que umas firmas tornem-se “mais eficientes” do que as outras;
(iii) com a mudança nas posições relativas, altera-se a estrutura da indústria, o que revela a
dimensão essencialmente dinâmica desta abordagem - estamos aqui no nível mesoeconômico; (iv)
extrapolando essa análise podemos considerar que essa dinâmica concorrencial, calcada no
processo de inovação, condiciona os movimentos de transformação da economia como um todo, ao
longo do tempo - nível macroeconômico. Vejamos mais de perto essas questões, explicitando,
inicialmente, alguns aspectos relevantes do processo inovativo.
às entrantes potenciais pelas razões apresentadas. Depois de uma mexida, a estrutura industrial acomoda-se como uma
coleção de grandes firmas estabelecidas.” (p.164-65).
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Assim, podemos considerar que os modelos de crescimento evolucionistas buscam é explicar crescimento econômico no
nível macro, a partir da dinâmica concorrencial centrada na firma ou, mais especificamente, na mudança tecnológica. Quer-
se explicar, portanto,”... o crescimento da produtividade per capita do trabalho, o crescimento da intensidade do capital, o
aumento dos salários reais, e a relativamente constante taxa de retorno do capital, que tem sido o formato padrão de avanço
das nações industriais....” (DOSI & NELSON, p.163).
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firma e seu meio ambiente16; (iii) estes permitem que a firma direcione seus esforços de uma forma
não totalmente aleatória, dado que o processo de inovação apresenta características especiais -
oferece oportunidades de avanço, relevantes e rentáveis; é cumulativo; e seus resultados podem ser
apropriados privadamente. Além disso, a existência de informações assimétricas, comportamentos
oportunísticos entre os agentes que interagem nos mercados, incerteza 17 quanto aos resultados das
inovações, entre outros motivos, impedem o tratamento da tecnologia como um bem livre. Seu
mercado é caracterizado por fortes imperfeições. Isto leva, na visão evolucionista, à endogenização
de desenvolvimento tecnológico na firma 18.
Ainda que o mercado não possa sinalizar por demandas de produtos/processos ainda
inexistentes - o que, como vimos, está implícito na visão neoclássic a - e, portanto, não desempenhe
um papel crucial na emergência de um paradigma tecnológico, ele é extremamente importante
enquanto ambiente de seleção dos paradigmas. Condiciona o desenvolvimento das trajetórias
tecnológicas, ao sinalizar a direção mais lu crativa no aprimoramento dos produtos e processos. A
ampliação dos retornos econômicos na exploração das oportunidades abertas por um determinado
paradigma resulta no fortalecimento de três elementos chaves para a explicação da dinâmica
inovativa: (i) a cumulatividade, na medida em que os conhecimentos consolidados ao longo do
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Dosi (1988, p. 1121) procura destacar a interface institucional/comportamental no processo inovativo: “ Tipicamente, a
busca, desenvolvimento, e a adoção de novos processos e produtos em economias não planejadas centralmente, são o
resultado da interação entre (a) capacidades e estímulos gerados dentro de cada firma e dentro da indústria e (b) causas
externas mais amplas à indústrias individuais, como o estado da ciência em diferentes ramos científicos; as facilidades para
a comunicação dos conhecimentos; a oferta de capacidades técnicas, habilidades, engenheiros e assim por diante; as
condições de controle ocupacional e mobilidade geográfica e/ou disposição/resistência do consumidor à mudança; condições
de mercado, particularmente em seu suporte na competição inter-firma e no crescimento da demanda; facilidades
financeiras, e padrões e critérios de alocação de fundos para as firmas industriais; tendências macroeconômicas,
especialmente no seu efeito sobre as mudanças em preços relativos de insumos e produtos; políticas públicas (por
exemplo, legislação tributária, leis de patentes, políticas industriais, intervenção pública).” (p.1121)
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Dosi & Egidi (1991) destacam a existência de dois tipos de incerteza: (i) a substantiva, típica da tradição (pós)
keynesiana (Knight, Keynes e Schackel), que refere-se à ausência de todas as informações que seriam necessárias para a
tomada de decisões; (ii) a de procedimento, típica dos processos inovativos, onde existem limitações na capacidade
computacional e cognitiva dos agentes em perseguir, de forma não ambígua, seus objetivos, dadas as informações
disponíveis. Dosi (1988) diferencia incerteza - “... informação imperfeita sobre a ocorrência de uma lista conhecida de
eventos...” - de incerteza forte - onde “.. a lista de possíveis eventos é desconhecida e não se pode saber nem mesmo as
conseqüências de uma ação particular para um dado evento....” (p. 1134). O processo de busca inovativa seria caracterizado
por uma incerteza forte; enquanto que o processo “normal” de exploração de uma certa técnica é incerto, ainda que não de
forma forte. “ Como resultado, as firmas tendem a trabalhar com rotinas independentes dos eventos, relativamente gerais (
com regras do tipo ‘... gastar x% das vendas em P&D,”... distribuir suas atividades de pesquisa entre pesquisa básica,
projetos de risco, inovações incrementais de acordo com algumas rotinas compartilhadas ...’ e algumas meta-regras do tipo
‘com altas taxas de juros ou lucros baixos corto a pesquisa básica,’ etc).” (p. 1134).
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Contemporaneamente o P&D intra-corporação é a forma organizacional dominante no processo de busca de inovação.
Somam-se formas de transferência (licenciamento, compra etc) que, todavia, não rivalizam com a primeira - e, também
demanda capacitação ‘interna’ para “.. reconhecimento, avaliação, negociação, e finalmente adaptação da tecnologia
potencialmente disponível de outros.” (DOSI, 1988, p. 1132).
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desenvolvimento da trajetória passam a gerar retornos crescentes dinâmicos; (ii) a dimensão tácita e
específica destes mesmos conhecimentos, ou seja, aquele conjunto de habilidades e informações que
tendem a ser específicos à firmas, e que nascem a partir do modo com que estas lidam no seu
cotidiano - daí a importância da noção de rotinas (dimensão organizacional) - com o processo de
“solução de problemas”; (iii) e, por fim, a apropria bilidade privada destes mesmos retornos que será
tanto maior, quanto maiores forem os dois primeiros elementos, e que, em última instância, traduzem
a busca inicial da apropriação de assimetrias concorrenciais. Com isso a firma, ao crescer e se
diversificar, tenderia a permanecer próxima do seu núcleo de competência 19 (core competence), ou
seja, dentro da trajetória tecnológica que domina, onde possui cumulatividade, apropriabilidade e
conhecimentos tácitos.
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Sobre os conceitos de core competence e coerência corporativa, e a noção de diversificação a partir de uma ótica
“produtivista” (que enfatiza aspectos tecno-produtivos) ver Dosi, Teece, Winter (1992).
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Porém com a ressalva de que a “... estrutura de mercado é função dos padrões de mudança tecnológica pelo menos mais
do que essa última é função da primeira.” (DOSI, 1984, p. 93). Por estrutura de mercado podemos entender estrutura
setorial/industrial, conforme vínhamos tratando acima.
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Dosi (1988) define uma divisão setorial para a indústria, a partir da origem, procedimentos e intensidade dos processos
inovativos. Teríamos:(i) setores dominados pela oferta (supplier-dominated) - “As inovações são predominantemente
inovações de processo, incorporadas em equipamentos de capital e insumos intermediários originados em firmas cuja
atividade principal é fornecer adequadamente a esses setores.” (p. 1148) - ex. agricultura, têxteis, vestuário, couro,
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O que deve ser ressaltado é que a estrutura industrial (nível mesoeconômico) é uma variável
endógena do modelo evolucionista 22. Vale dizer: a estrutura atual de uma indústria resulta da ação
inovativa passada das firmas que, ao construírem suas posições assimétricas foram dando forma ao
“setor” - estabelecendo o número e tamanho de participantes, o grau de concentração, os preços
relativos/estruturas de custo, os mecanismos de barreiras à entrada e à mobilidade, os parâmetros
concorrenciais etc. Isto porque a mudança dos custos relativos rompe a base pretérita da divisão dos
mercados em favor da(s) firma(s) inovadora(s) (DOSI, 1984, p, 96). Por sua vez, a estrutura futura
será o resultado do desdobramento, ao longo do tempo, das ações inovativas presentes. Esse
processo é dinâmico - tempo e incerteza são noções centrais - e não determinístico - existem
múltiplos resultados possíveis (CANUTO, 1992, 1995). Com isso o instrumental analítico
evolucionista possibilita não só contar a “história” de uma indústria como, também, especular sobre
as suas tendências de evolução futura, a partir do estudo da dinâmica tecnológica.
Dosi (1984) apresenta um modelo geral de como tendem a se desenvolver os setores
industriais em economias capitalistas oligopolizadas: (i) num primeiro estágio, quando da emergência
imprensa, produtos de madeira, produtos metálicos simples -> baixos gastos com P&D, cumulatividade/apropriabilidade
restritas, aprimoramentos incrementais, baixo tamanho das firmas; (ii) ofertantes especializados (specialized suppliers) -
“Atividades inovativas relacionadas primordialmente com a produção de inovações que entram em vários outros setores
como insumos de capital” (p. 1149) - e.x. instrumentos mecânicos e de engenharia -> firmas pequenas e localizadas de
forma próxima aos usuários, conhecimentos especializados e tácitos, alta oportunidade/apropriabilidade; (iii) setores
intensivos em escala (scale intensive) - “ Inovações relacionadas à processos e produtos, e atividades de produção
envolvendo sistemas complexos dominados com maestria (e, freqüentemente, industrialização de produtos complexos).”
(p.1149) - ex. equipamentos de transporte, duráveis de consumo (eletroeletrônicos), metalurgia. alimentícia, vidro, cimento
-> economias de escala (produção/design, P&D, distribuição etc), firmas grandes, integração vertical; (iv) setores baseados
na ciência (science based) - “ As inovações são diretamente ligadas com os novos paradigmas tecnológicos, viabilizados
pelo avanço tecnológico.” (p.1149) - ex. indústria eletrônica, indústria química (orgânica), farmacêutica e bioengenharia ->
oportunidades tecnológicas muito elevadas; altos gastos em P&D (laboratórios formalizados), uma parcela elevada de seus
produtos é insumo para setores de bens de capital e intermediários, as firmas tendem a ser grandes (com exceções de
inovadores pequenos, altamentes especializados).
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Para Dosi (1988, p. 1157-58), “... o desempenho industrial e a estrutura industrial são endógenos ao processo de
inovação, imitação e competição............................... Falando amplamente, as crescentes (mas ainda largamente
inadequadas) evidências sobre a dinâmica das indústrias e tecnologias destacam um complexo e variado processo de
aprendizado onde as firmas exploram domínios específicos de oportunidades tecnológicas percebidas, aprimoram seus
processos de busca, e refinam suas habilidades em desenvolver e manufaturar novos produtos, extraídos parte de seus
conhecimentos acumulados internamente, parte em artefatos e conhecimentos desenvolvidos em outras partes, e parte pela
cópia de seus competidores. Por outro lado, as interações de mercado selecionam, em diferentes graus, direções particulares
de desenvolvimento tecnológico, permitindo à algumas firmas crescer mais e penalizando outras. Note também que nesta
dinâmica, as assimetrias tecnológicas e as variedades tecnológicas e comportamentais são ambas o resultado e a força
motriz da mudança tecnológica e organizacional.” (p. 1158). A história de cada indústria é o resultado particular deste
processo geral. Dosi (1984, p. 93) ressalta que “... a estrutura do mercado (incluindo nesta instância o tamanho das firmas e
a concentração) não pode ser considerada como variável independente, desde que ela é uma função de inovações passadas,
oportunidades tecnológicas passadas, graus de apropriabilidade de inovação passadas. Em outras palavras, a estrutura de
mercado deve ser totalmente tratada como variável endógena.”
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de um novo paradigma, a estrutura industrial tende a ser fluida, com uma alta taxa de natalidade e
mortalidade de firmas - “novas companhias schumpeterianas” - caracterizando “oligopólios
temporários em clusters de inovações” (p.ex, indústria automobilística entre 1880-1920; industria
eletromecânica no final do século XIX; indústria aeronáutica até a II Guerra Mundial; indústria de
semicondutores nos anos 50 e 60) (ii) num segundo estágio, caracterizado pela emergência de
cumulatividade e forte apropriabilidade privada nas trajetórias tecnológicas, as estruturas oligopólicas
tendem a ser mais estáveis, com o fortalecimento de barreiras à entrada/mobilidade, onde “....
produção e exploração de avanços técnicos tornam-se muito menos divorciados e a mudança
técnica torna-se, ela mesma, parte do padrão de ‘competição oligopolística.’” (DOSI, 1984, p.94).
Nesta etapa a busca de assimetrias, ou seja, de “... posições monopolísticas temporárias (e/ou
oligopolísticas de longo prazo) em novos produtos ou processos parece agir como poderoso incentivo
para a atividade inovativa.” (DOSI, 1984, p.94). Podemos notar, de forma clara, que a emergência
das características centrais da dinâmica inovativa - cumulatividade, apropriabilidade e oportunidade -
vai condicionando o crescimento das firmas bem sucedidas e o amadurecimento - mas não a
estagnação - dos setores.
Dosi, Freeman, Fabiani (1994) procuram mostrar em que medida a abordagem evolucionista
é adequada para a explicação do desenvolvimento econômico. Este é visto enquanto um processo
multifacetário, que implica não somente no crescimento econômico, mas também, na transformação
qualitativa das variáveis econômicas e não econômicas. Procura-se verificar as condições que
detonam e sustentam o processo de desenvolvimento. Estas encontram-se na compreensão “... de
como a inovação tecnológica é gerada e difundida; dos incentivos estruturais com os quais os atores
econômicos se defrontam; da organização interna, competências e estratégias das firmas; das
instituições nas quais os agentes estão inseridos, e que restringem e guiam a coordenação
microeconômica e a mudança.” (DOSI, FREEMAN, FABIANI, 1994, p. 2). Esses autores avaliam
que os desenvolvimentos teóricos recentes no campo neoclássico - novas teorias do comércio e do
crescimento - tem avançado no sentido de incorporar elementos analíticos relevantes, como: formas
de retornos crescentes, complementaridades de demanda, choques específicos à países e à
tecnologias, assimetrias de informação etc (DOSI, FREEMAN, FABIANI, 1994, p. 38). Porém, o
apego a microfundamentos alicerçados na noção de equilíbrio geral, impediria o progresso analítico
no sentido do entendimento das forças mais profundas que geram crescimento e desenvolvimento.
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São três os elementos centrais destacados por Dosi, Freeman, Fabiani (1994, p. 39): “... (i) as microfundações repousam
em agentes com racionalidade limitada; (ii) o pressuposto geral é de que as interações ocorrem fora do equilíbrio; (iii)
14
mercados e outras instituições atuam como mecanismos de seleção entre agentes e tecnologias heterogêneas.”
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Uma outra fonte de contribuições relevantes para a compreensão da dinâmica econômica, partindo de uma ótica centrada
na firma, está nas teorias organizacionais/comportamentais, como o “enfoque do custo de transação” (ver, por exemplo,
WILLIAMSON, 1981, PONDÉ, 1992), que auxilia na compreensão dos motivos que levam as firmas à diversificarem suas
estruturas, num contexto de incerteza, imperfeição dos mercados e racionalidade limitada.
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A lógica capitalista impõe que as decisões microeconômicas visem, antes de mais nada, a
preservação e/ou ampliação do estoque particular de riqueza, visto enquanto valor monetário, já que
o dinheiro é a única unidade de medida adequada ao capital. Capital, que por sua vez é forma, latu
senso, da riqueza capitalista. Todavia a existência concreta dessa riqueza - que idealmente se
projeta como forma monetária - está na forma de ativos, cuja composição pode se dar em diferentes
portfólios. Os ativos possuem características básicas que se referem à sua capacidade de gerarem
uma quase-renda (Q), ou seja, de prover um certo fluxo monetário de riqueza; têm, também, um
certo custo de manutenção em carteira (C) e uma certa liquidez (L). Assim, a lucratividade de um
ativo pode ser expressa por: Q - C + L. A valorização do capital se dá ao longo do tempo, havendo
um prazo de realização da lucratividade de cada ativo. Uma maior lucratividade nos ativos do
portfólio, fruto das estratégias de valorização patrimonial típicas do "cálculo capitalista", implicam a
realização plena do caráter valorativo inerente à riqueza capitalista.
Uma característica fundamental do processo de valorização do capital é que ele se dá em
condições de incerteza. Ou seja, inexistência de uma base de cálculo probabilístico concreta que
permita aos agentes saber a priori a evolução futura dos eventos em questão. Desta forma, as
decisões capitalistas são construídas a partir de expectativas, que por sua vez são subjetivas e
passíveis de modificações ao longo do processo concorrencial, o que confere a dinâmica e a
instabilidade do "jogo capitalista". O tempo como um fator sempre presente, e o fato de estarmos
numa economia monetária conferem à incerteza um papel chave dentro do processo de tomada de
decisão, pois não se pode fugir a questões como: "o que se irá produzir?", "quanto e a que preço?",
"quando e quanto investir?" etc. A aderência à práticas rotinizadas - convenções (MACEDO E
SILVA, 1994,) - e a adoção de contratos monetários fixados para um certo período de tempo -
possibilita antever custos, ou seja, permite o cálculo econômico racional - servem de instrumento
para aumentar o grau de confiança dos agentes (FEIJÓ, 1991, p.40-2).
Como já ressaltamos, a valorização do capital deve passar pela esfera produtiva - pela firma
- donde a maximização das taxas de crescimento permitem a manutenção e/ou ampliação do espaço
econômico ocupado pelas firmas no(s) mercado(s). Desta forma as decisões sobre preço, produção
e investimento estão imbricadas. O modelo de Eichner (1985) é um exemplo claro, onde a
determinação do preço - mais especificamente do mark-up - é uma função da necessidade de se
gerar fundos internos, viabilizadores do investimento. O preço deixa de ter uma dimensão exclusiva
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de curto prazo, passando a ter, também uma dimensão estratégica de longo prazo, vinculada ao
crescimento da firma25.
Isto dinamiza nosso referencial teórico, pois o processo produtivo é considerado como um
fluxo contínuo, onde os custos de produção devem ser permanentemente cobertos pelo resultado de
mercado, ou seja, pela venda de uma determinada quantidade de mercadorias a um determinado
preço. Mas não basta essa continuidade do processo produtivo, já que deve -se considerar os
investimentos - de longo prazo - que irão garantir a própria existência futura da firma, posto que
esta está inserida num meio ambiente - estrutura - concorrencial, de constante luta pela apropriação
da riqueza social.
Vemos então, que a dimensão financeira da firma - que consiste em decisões de valorização
de um conjunto de ativos e passivos, através das decisões de investimento, produção e pricing -
deve ser considerada para compreendermos a dinâmica capitalista, a partir da perspectiva desta ser
um processo de conflito permanente entre agentes privados dotados de livre arbítrio, cuja
racionalidade está limitada por um ambiente de incerteza. Esta dimensão lógica, que enfatiza a
natureza financeira da riqueza capitalista, não é devidamente tratada no enfoque evolucionista, que
enfatiza mais os aspectos tecno-produtivos, constituindo, assim, sua principal limitação.
Por outro lado, sob a perspectiva schumpeteriana que pensa a dinâmica econômica
capitalista a partir da mudança técnica dando a chave para a compreensão do caráter
evolutivo/mutável das firmas e das estruturas de mercado, a visão pós -keynesiana se mostra
insuficiente para a construção de um arcabouço teórico micro-macrodinâmico. Como vimos, os
evolucionistas nos fornecem um referencial para a compreensão da dimensão tecnológica que está
centrada na firma, nas suas especificidades, guardando também o elemento de incerteza presente na
atividade inovativa.
A inovação, entendida no seu sentido schumpeteriano (novas mercadorias, novos
métodos de produção, novas fontes de oferta, novos tipos de organização) é um componente
presente, e que cria as vantagens diferenciais dinâmicas dentro da luta concorrencial capitalista. A
forma como se dá essa inovação deve ser pensada a partir das especificidades técnico-econômicas
25
" In modern pos Keynesian theory, pricing decisions are linked to investment. This is so because the resources for the
expansion of the firm must be met through profits - one of components of price(...)" (FEIJÓ, 1991, p.46)
17
de cada firma, já que não existe nenhum tipo de determinismo tecnológico, e já que à luz da
"destruição criativa" (SCHUMPETER, 1984, p. 113) nenhuma posição pré-estabelecida e
sustentada por meio de economias estáticas de escala (ou outra forma estática de "barreira") deve,
necessariamente, ser sustentável no longo prazo. O que temos, de fato, é uma interação endógena
entre estratégia (da firma) e estrutura (de mercado), dado um processo de busca e seleção de
inovações de caráter evolutivo (POSSAS,1989).
A geração e difusão de inovações através dos processos de busca e seleção segue
uma determinada "heurística" e, também, certos critérios: econômicos, de retorno esperado
associado à inovação: e técnicos, no que se refere ao aproveitamento das possibilidade abertas por
um determinado paradigma tecnológico. A incerteza tecnológica implica a necessidade de se seguir
certas convenções - rules of thumb - e de se estabelecerem objetivos, configurando um rotina
dentro da atividade inovadora. É comum, também, como vimos anteriormente, que a firma busque
ficar o mais próximo possível de uma certa "vizinhança tecnológica" - horizonte tecnológico
conhecido, ou seja, trajetória tecnológica - onde já possui um certo domínio e conhecimentos
acumulados.
A especificidade à firma da dinâmica tecnológica e, portanto, a imperfeita transferibilidade
desta, é resultado de uma série de conhecimentos tácitos sobre a utilização mais eficiente de uma
certa tecnologia (CANUTO, 1992). Esses conhecimentos não são passíveis de codificação, sendo
frutos de um processo de aprendizado ao longo do tempo, da forma como cada firma lida como a
tecnologia, da interação entre seus recursos físicos e humanos, de forma a imprimir uma dinâmica
própria à inovação.
Assim, dada uma estrutura uma firma terá condições de ocupar e/ou ampliar fatias do
mercado a partir das assimetrias concorrenciais obtidas via inovação. Tais assimetrias se traduzem
por uma relação preço-custo favorável, de forma a tornar a firma inovadora mais competitiva. As
estratégias de inovação tecnológicas, entendidas a partir do seu caráter evolutivo e específico à cada
firma, pode, então, nos permitir compreender as mudanças estruturais, o que não é possível somente
a partir da dimensão financeira, como no enfoque pós-keynesiano, que sempre parte de uma
"estrutura historicamente determinada" (como em Bain, Labini ou Eichner). Para os evolucionistas a
estrutura industrial (dimensão mesoeconômica) é resultado e condicionante - e não simplesmente um
dado - do processo (microeconômico) de mutação tecnológica, com seus impactos sobre as firmas
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(DOSI, 1988, p. 1157). Essa contribuição é fundamental para o entendimento das transformações -
longo prazo - numa economia capitalista.
5. Conclusões
Procuramos ao longo deste trabalho destacar algumas das características mais importantes
da abordagem evolucionista. Em sua essência, esta procura explicar as transformações estruturais
da economia, a partir de uma lógica centrada na dinâmica tecnológica. As firmas seriam os agentes
portadores das mudanças tecnológicas, na medida em que buscam construir assimetrias frente às
suas concorrentes. O progresso tecnológico mostrou-se caracterizado por uma série de elementos,
como: oportunidade, apropriabilidade, cumulatividade, dimensão tácita, incerteza, variedade na base
de conhecimento, procedimentos de busca, irreversibilidade etc. Estes condicionam a emergência e
o desenvolvimento das inovações. Por outro lado, sob um ótica mais ampla, ou seja, da constituição
de um referencial teórico alternativo à teoria neoclássica, vimos que o enfoque evolucionista mostra-
se limitado na percepção da dimensão financeira da riqueza capitalista, devendo ser complementado
pelo enfoque (pós)keynesiano.
6. Bibliografia