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Robinson, J.

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center_program/law_economics/wp_listing_l/wp_listing/111_120>.

12
Paradigmas e Trajetórias Tecnológicas

RENATA LEBRE LA ROVERE


Instituto de Economia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Os CONCEITOS de paradigmas tecnológicos e de traje-


tórias tecnológicas foram desenvolvidos por vários autores a partir da
década de 1970, sendo os mais importantes Richard Nelson & Sidney
Winter (1977), Cristopher Freeman & Carlota Perez (1986) e Ciovanni
Dosi(1982,1988a, 1988b). O desenvolvimento desses conceitos insere-
se na construção da visão neo-schumpeteriana recente* sobre a inovação
e o seu papel no crescimento económico, procurando identificar as cau-
sãs e os impactos estmturais do progresso técnico no sistema produtivo.
Como foi visto no Capítulo 5, Schumpeter defendeu o ponto de vista de
que a mudança tecnológica é o motor do desenvolvimento capitalista,
sendo a firma o locus de atuação do empresário inovador e de desenvolvi-

mento das inovações. Os autores neo-schumpeterianos, também chama-


dos de evolucionistas ou evolucionários, partem dessas premissas para
analisar de que forma as inovações são geradas e difundidas no capitalis-
mo. O processo de geração e difusão das inovações seria o principal fator
determinante dos chamados ciclos longos do capitalismo.
Na época em que esses conceitos foram desenvolvidos, a teoria econô-
mica convencional tratava o progresso técnico resultante da adoção de

' Por visão neo-schumpeteriana recente entende-se o conjunto


dos trabalhos de Christopher Freeman, Carlota Perez, Richard Nelson, Sidney Win-
ter, Ciovanni Dosi, entre outros.

254 ] Claudia Heller Paradigmas e trajetórias tecnológicas \ 285


inovações como um elemento exógeno ao sistema económico. Nessa digma tecnoeconômico atual, denominado por alguns autores de para-

perspectiva teórica, os autores discutiam se o progresso técnico era deter- digma das tecnologias da informação.
minado pelo lado da oferta, principalmente através da dinâmica de ino-
vações determinada pelo avanço do conhecimento científico e pelas ati- l. O Conceito de Paradigmas
vidades de P&D industriais (technology-push); ou pelo lado da demanda, e de Trajetórias Tecnológicas
através das preferências indicadas pêlos consumidores (demand-pull).
A novidade introduzida pêlos autores neo-schumpeterianos foi mos- Ao discutir a atividade inovadora, Dosi (1988b,p. 222)
trar que esta divisão entre oferta e demanda era faladosa, uma vez que, na a define como um conjunto de processos de busca, descoberta, experi-

visão destes autores, o progresso técnico resulta do desenvolvimento de mentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, no-

inovações que dependem não apenas da natureza do setor em que as vos processos e novas técnicas organizacionais. A atividade inovadora

inovações são geradas ou adotadas como também de fatores institudo- envolve um alto grau de incerteza, dependendo não apenas de atividades

nais. Dado um determinado fluxo de inovações, sua adoção irá depender de P&D como também da experiência adquirida e acumulada pelas pes-
do ambiente competitivo da empresa, que é um ambiente seletivo, uma soas e organizações. Assim, a adoção e a difusão de tecnologias é um

vez que a empresa irá decidir a respeito da adoção de inovações, tendo em processo condicionado pela percepção dos agentes económicos das pos-

vista a taxa de lucros praticada no ramo industrial no qual ela se situa, das síveis alternativas tecnológicas e de seu potencial de desenvolvimento.

condições do investimento e das condições de imitação das inovações. Conforme foi observado por Freeman (1984), as inovações podem ser
Além disso, características institucionais — tais como o financiamento incrementais ou radicais. As inovações incrementais são aquelas que in-

às aüvidades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a estrutura da indús- traduzem aperfeiçoamentos em produtos ou processos existentes. As ino-

fria, afetam as condições de geração e de adoção de inovações. Considera- vações radicais são aquelas que introduzem novos produtos, novos pro-

se assim a existência um processo defeedback constante na atividade cessas e novas formas de organização da produção.

inovadora, o qual anula a divisão de seus determinantes em fatores de Segundo Dosi, a tecnologia é um conjunto de conhecimentos práti-

oferta e de demanda. cos" e "teóricos". Os problemas práticos estariam ligados a problemas

Na abordagem neo-schumpeteriana o progresso técnico é, portanto, produtivos concretos e às relações entre produtores e usuários dos bens e

considerado como um elemento que afeta o processo de crescimento serviços. Os problemas teóricos envolveriam know-how, métodos, proce-

económico, ao introduzir transformações nos sistemas socioeconômi- dimentos, experiências de sucesso e de fracasso, além da infra-estrutura

cos que alteram as estratégias produtivas das empresas. Essas transforma- física referente aos equipamentos. O paradigma tecnológico, por sua vez, é

coes são condicionadas tanto por aspectos internos, inerentes ao avanço definido como um "modelo" ou um "padrão de soluções de um conjun-

específico do conhecimento tecnológico adotado, gerando trajetórias e to de problemas de ordem técnica, selecionado a partir de princípios
paradigmas tecnológicos; quanto por aspectos externos, que configuram derivados do conhecimento científico e das práticas produtivas (Dosi
o entorno económico, social e político do progresso técnico, constituin- 1982, p. 152).
do paradigmas tecno-econômicos de produção. Esta definição parte de uma analogia com o conceito de paradigma
A primeira seção deste capítulo apresenta de forma mais detalhada os científico" proposto porïhomas Kuhn em 1962. Em sua obra, A Estrutu-

conceitos de paradigmas e de trajetórias tecnológicas desenvolvido pêlos ra das Revoluções Científicas, analisou a emergência de uma nova teoria
autores neo-schumpeterianos. A segunda aborda o conceito de paradig- ou descoberta com padrões completamente opostos à "ciência normal .

ma tecnoeconômico introduzido por Christopher Freeman & Carlota A "ciência normal" é a prática da ciência através de um determinado

Perez. E a terceira apresenta, a título de ilustração, a constituição do para- conjunto de regras e padrões tácitos definido como paradigma científico.

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O paradigma científico representa na realidade uma estmtura institucio- Assim, enquanto o conceito de paradigma tecnológico foi desenvolvi-
nalizada de conhecimentos que coloca os problemas a serem resolvidos do para entender a geração e a adoção de inovações, o conceito de trajetó-
e o método para enfrentá-los. A mudança de paradigma — ou seja, o ria tecnológica refere-se muito mais à difusão de inovações. Nelson &

surgimento de um problema científico que não pode ser resolvido pêlos Winter (1977) destacam em seu texto que o objetivo de desenvolver esses
instmmentos existentes — resultaria numa revolução científica. conceitos é fundamentar uma teoria que explique as diferenças intra-
Enquanto que o conceito de paradigma científico refere-se à produção setoriais no crescimento da produtividade, visando à proposição de polí-
de conhecimento científico, o conceito de paradigma tecnológico está ticas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
relacionado com a produção de conhecimento tecnológico. Assim, o

paradigma tecnológico inclui uma série de escolhas (trade-offs) técnicas 2. O Conceito de Paradigma Tecnoeconômico
e económicas, que serão feitas pelas empresas de acordo com as caracte-
nsticas do setor e do ambiente institucional onde elas se situam. Os autores neo-schumpeterianos são também chama-
O paradigma tecnológico representa uma heurística seletiva, ou um dos de evoludonários, porque na sua visão o processo inovador resulta de
conjunto de prescrições, que definem as direções das mudanças tecnoló- escolhas condicionadas pelo ambiente competitivo. Como será visto no
gicas a serem seguidas e aquelas a serem negligenciadas. Como foi obser- próximo capítulo deste livro, esses autores consideram que firmas de
vadoporDosi (1982), o paradigma tecnológico pode ser configurado diferentes ramos industriais podem ser vistas como organismos em dife-
tanto por um "objeto exemplar" (como um circuito integrado) que passa rentes ambientes ou nichos. Da mesma forma que na natureza, o código
a ser adotado, quanto por um "conjunto heuristico na medida em que genético mais adequado às condições do ambiente acaba se tornando
inclui procedimentos para a solução de problemas específicos. A especi- predominante, num processo competitivo as firmas adotam determina-
ficidade dos problemas gera determinadas escolhas entre as possíveis dos procedimentos e rotinas visando a organização das suas atividades,
alternativas de desenvolvimento tecnológico vislumbradas. Essas esco- que acabarão sendo imitados por outras firmas e tomando-se o procedi-
lhas, ao estarem contidas num determinado arcabouço técnico-produti- mento ou a rotina predominante. O paradigma tecnológico seria assim o
vo, conformam o que Dosi (1982) denomina de trajetórias tecnológicas: conjunto de procedimentos e rotinas predominantes. O conceito de tra-
uma atividade "normal" de solução de problemas técnicos, recorrente jetória tecnológica, ao ser definido como a direção tornada pelo desen-
dos padrões produtivos determinados pelo paradigma tecnológico. volvimento tecnológico, dadas as escolhas constantes do paradigma, su-
Dito de outra forma, como foi observado por Nelson & Winter (1977), gere que as firmas têm um processo de desenvolvimento tecnológico que
a trajetória tecnológica é a direção tornada pelo desenvolvimento tecno- é condicionado pelas escolhas passadas que elas fizeram. As firmas se-
lógico uma vez que as firmas escolheram determinadas tecnologias vi- riam assim dependentes de sua trajetória (ou estariam numa situação de
sando à obtenção de lucros. Trajetórias que se caracterizam por um po- path dependence, conforme capítulo anterior deste livro).
tente conjunto de procedimentos seriam consideradas, por esses autores Segundo foi observado por Dantas et al. (2002, p. 31) e também por
como trajetórias "naturais". Este seria o caso, por exemplo, da busca por Pessali & Fernandez no próximo capítulo deste livro, a contribuição da
economias de escala e pela crescente mecanização da produção, que ca- teoria neo-schumpeteriana ou evolucionária para a teoria da firma con-
racterizaram a dinâmica da inovação no século XX. De fato, essas são temporânea foi a de mostrar que a empresa é um agente que acumula ca-
trajetórias tecnológicas características do período fordista, cuja crise le- pacidades organizacionais. As escolhas da firma portanto não seriam base-
vou vários autores, entre os quais os autores neo-schumpeterianos, a se adas numa racionalidade maximizadora conforme é proposto pela teoria
debruçar sobre a questão da importância do progresso técnico e da inova- económica convencional, mas sim em rotinas que coordenam a sua ati-
cão no desenvolvimento económico. vidade interna, baseadas no conhecimento adquirido pela empresa ao

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longo de sua atividade (radonalidade procedural). Esta visão põe assim drástica redução nos custos de muitos bens e serviços; e uma dramática
em destaque o papel das competências e da capacidade de geração de melhoria nas características técnicas de muitos bens e serviços que não
conhecimento tácito e codificado da empresa no processo competitivo. agridem o meio-ambiente e são aplicáveis a diversos setores.
A análise do processo competitivo, na visão neo-schumpeteriana, re- Assim, o paradigma tecnoeconômico é definido por Freeman & Perez
quer a compreensão dos conceitos de paradigma tecnológico e de trajetó- (1988) como uma combinação de inovações de produto, de processo,
ria tecnológica, uma vez que estes permitem entender a dinâmica da técnicas, organizacionais e administraüvas, abrindo um leque de oportu-
inovação e da obtenção de ganhos de competitividade. O conceito de nidades de investimento e de lucro. O paradigma tecnoeconômico cons-
paradigma tecnoeconômico, proposto por Cristopher Freeman & Cario- titui portanto o resultado de um processo de seleção de uma série de
ta Perez em 1988, pretende ampliar o escopo do conceito de paradigma combinações viáveis de inovações técnicas, organizacionais e institucio-
tecnológico, para incluir na análise do processo competitivo outros ele- nais, provocando transformações que permeiam toda a economia e que
mentos além do progresso técnico. Freeman & Perez sugerem que a aná- exercem uma importante influência no comportamento da mesma (Las-
lise da inovação deveria adotar com o conceito de paradigma tecnoeco- três & Ferraz, 1999, p. 32).
nômico ao invés do conceito de paradigma tecnológico. Isto porque este Cada paradigma tecnoeconômico é caracterizado por um conjunto
último restringe as mudanças técnicas a mudanças em produtos e em específico de insumos. Este conjunto, denominado pêlos autores de fa-
processos produtivos, sem levar em consideração mudanças nos custos tor-chave do paradigma, tem as seguintes características:
associadas a condições de produção e distribuição (Freeman & Perez, • promove mudanças significativas nos custos relativos, o que leva os
1988, p. 47). O conceito de paradigma tecnoeconômico pretende assim engenheiros e administradores a modificar suas regras de decisão;
incluir na análise neo-schumpeteriana da inovação fatores económicos • os insumos que o compõem têm oferta ilimitada;
que não são destacados nas análises de Dosi. Efetivamente, este autor se • os insumos que o compõem são utilizados em inovações de produto
concentra mais nas características técnicas da inovação, sem levar em e de processo em todas as atividades económicas.
consideração o fato de que em várias economias, principalmente as eco- Além disso, um novo paradigma tecnoeconômico envolve uma série
nomias de países em desenvolvimento, diversos fatores institucionais
de elementos e tendências, a saber (Freeman&Perez, 1988, p. 59):
podem ser determinantes nos processos de inovação e modernização das
— uma nova melhor prática de organização da produção;
empresas (La Rovere, 1990, pp. 12-6). — novas qualificações da mão-de-obra;
A preocupação em definir o conceito de paradigma tecnoeconômico
— novo mix de produtos;
está relacionada à necessidade percebida pêlos autores neo-schumpete-
novas tendências nas inovações radicais e incrementais que levam
rianos de compreender as mudanças que ocorrem ao longo dos ciclos de à progressiva utilização do novo fator-chave;
crescimento. A ideia, verificada empiricamente por Nicolai Dmitrievich — novos padrões de investimento à medida que muda a estrutura de
Kondratiev (1926), de que as economias têm ciclos de crescimento, foi custos relativos das empresas;
retomada por Schumpeter, o qual assinalou que a evolução desses ciclos é — novas infra-estruturas ligadas ao fator-chave;
condicionada por "ondas de destmição criadora" (Freeman, 1984, p. 497).
entrada de novas firmas empreendedoras nos mercados em cresci-
Essas ondas, chamadas por Freeman de revoluções tecnológicas, advi-
mento devido às oportunidades geradas pela mudança de paradigma;
riam da introdução de conjuntos de inovações radicais e incrementais — aumento da participação de grandes empresas, seja por crescimen-
que se difundem em todos os setores da economia, mudando as formas
to ou por diversificação, nos mercados onde o fator-chave é produzido;
de organização da produção. Segundo este autor, uma revolução tecnoló-
— novos padrões de consumo de bens e de ser/iços e novas formas de
gica caracteriza-se pela introdução de: tecnologias que promovem uma
comercialização da produção.

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O Quadro 12.1 é uma versão resumida do quadro apresentado por de escala e a expansão dos mercados, viabilizada por energia de baixo
Freeman & Perez (1988), listando as principais características dos su- custo. Com os choques do petróleo e o esgotamento dos ganhos de escala
cessivos paradigmas tecno-econômicos desde a Revolução Industrial. nos anos 19 70, tomou-se cada vez mais difícil obter ganhos com base em
Pode-se constatar pela análise do mesmo que cada paradigma possui um produtos padronizados. As empresas passaram então a buscar cada vez
conjunto específico de fatores-chave e de indústrias propulsoras do cres- mais mercados globais, a buscar procedimentos de produção mais flexí-
cimento ou indústrias-chave. As formas de organização industrial e de veis e tentar diversificar seus produtos. Esta busca levou à formação de
competição também mudam. redes de empresas e à simplificação das estmturas hierárquicas e de pro-
dução das firmas. As firmas começaram também a dar mais ênfase às
Quadro 12.1. Os paradigmas tecnoeconômicos aüvidades de serviços relacionados a seus produtos, visando assegurar a

Períodos Descrição Indústrias-chave Fatores-chave Organização fidelidade de seus clientes. Finalmente, neste novo modelo o papel do
industrial
Governo torna-se diferente do modelo fordista.
1770-1840 Mecanização Têxtil, química, Algodão e ferro Pequenas empresas A medida que o processo de globalização se acelera, os fluxos de capi-
metalmecãnica, locais
tais e de tecnologia se deslocam com mais rapidez, reforçando a impor-

1840-1890 Máquinas a vapor Motores a vapor, Carvão, sistema de Empresas pequenas


tânda do papel regulador dos Estados nacionais. O Quadro 12.2 ilustra
e ferrovias mâquinas- transportes e grandes; como vários elementos da organização da produção variam em função da
ferramenta, cescimento das so-
maquinas para ciedades anónimas mudança do paradigma tecnoeconômico. As tecnologias da informação
ferrovias
e comunicação assumem um papel cada vez mais importante no modelo
1890-1940 de produção pós-fordista, gerando novas formas de organização da pro-
e elétrica produtos químicos, Monopólios e
armas, maquinas oligopólios dução, compatíveis com o novo paradigma e novas trajetórias tecnológi-
elétricas
cãs daí resultantes.
1940-1980 Fordista Automobilística, Derivados de
armas, aeronáutica, petróleo Competição
bens de consumo oligopolistae Quadro 12.2: Comparação entre os paradigmas fordista e as tecnologias de
crescimento das
duráveis, informação e comunicação
petroquímica multinacionais

1980-pen'odo Tecnologiasde Computadores, Microprocessadores Fordista Tecnologias de Informação e Comunicação


atual informação e produtos Redes de firmas
comunicação eletrônicos, Intensivo em energia Intensivo em informação
software, Padronização de produtos Produção sob medida
telecomunicações, Mix de produtos estável Rápidas mudanças no mix de produtos
novos materiais,
Firmas isoladas Redes de firmas
servi cos de
Organização hierárquica da firma Organização simplificada da firma
informação
Produção em departamentos Produção integrada
Fonte: Freeman & Perez (1988), pp. 50-7. Produtos com serviços Serviços com produtos
Centralização das informações Distribuição de inteligência
Especialização da mão-de-obra Polivalência da mão-de-obra
Planejamento Estratégico Visão Estratégica
O Quadro 12.2 mostra as principais diferenças entre os paradigmas
Controle governamental Governo como coordenador e
mais recentes, a saber os paradigmas fordista e o das tecnologias de infor- regulador

mação e comunicação. Como mostra o quadro, o paradigma fordista, Fonte: Ti gre(199S).

apoiado na produção em massa, tinha procedimentos específicos de or-

ganização da produção cuja lógica era a obtenção de retornos crescentes

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Figura 12.1. Fases de um paradigma tecnoeconômico
Conforme foi observado por Perez (1992), o paradigma tecnoeconô-
Fase l Fase IV
mico não é a simples abertura de uma nova e ampla gama de possibilida- Difusão Inicial Maturidade
dês técnicas. Na medida em que cada fator-chave requer uma nova infra- (+ IV do anterior) (mais l do novo)
Grau de ^
estmtura facilitadora e pode introduzir mudanças organizacionais, há maturação !
(e desdobramento)
penados nos quais diferentes paradigmas coexistem. Além disso, um novo

paradigma não apenas propicia o surgimento de novas indústrias como íConhedmentoá


Paradigma:' e experiência
renova e transforma as indústrias maduras existentes. Um novo paradig- anterior ;t ècmca acessive
(fase privatizaçâo í,'
'elhas tecnotogii
ma redefine desta forma as condições de competitividade das empresas e ecimento,
:1a técnica e
cria oportunidades para países em desenvolvimento reduzirem o hiato , conhecimentos )w-how ^ Conhecimentos -
livremente livremente N O V Oy
tecnológico que os separa dos países desenvolvidos. O surgimento do disponíveis- disponíveis
paradigma
novas tecnotogias
paradigma das tecnologias da informação e comunicação propiciou, por (fase! l)
específicas
e gengr-ícas)
exemplo, oportunidades produtivas para países asiáücos como a Coreia e
Tempo
Taiwan, que se especializaram na produção de componentes para equipa- Dupla oportunidade tecnológica

mentos voltados a esse tipo de tecnologia. Fonte: perez^C. Cambio técnico, restruciuración compeiiliva y reforma institucional en los países en
desarrollo. ElTrimestre Económico, vol. 61, 1992, p.38.
Um paradigma tecnoeconômico pode ser caracterizado por um ciclo
de expansão e de contração de investimentos, através de quatro períodos
A Figura 12.1 indica que os conhecimentos na última fase de um
sucessivos (Figural2.1): i) difusão inicial, quando surgem as inovações
paradigma tecnoeconômico e na fase inicial de um novo paradigma es-
radicais em produtos e processos, proporcionando múltiplas oportunida-
tão livremente disponíveis. Isto porque nesta fase as inovações associadas
dês de novos investimentos e o surgimento de novas indústrias e de novos
ao velho paradigma já se difundiram por toda a economia e as inovações
sistemas tecnológicos; ii) crescimento rápido (prematuro), quando as
associadas ao novo paradigma ainda estão sendo geradas. À medida que as
novas indústrias vão se firmando e explorando inovações sucessivas; iii)
inovações associadas ao novo paradigma se difundem, os agentes econô-
crescimento mais lento (tardio), quando o crescimento das novas indús-
micos vão se apropriando dos ganhos associados a essas inovações, me-
trias começa a desacelerar-se e o paradigma se difunde para os setores
diante a acumulação de conhecimento tácito, e protegendo estes ganhos
menos receptivos; iv) fase de maturação, ou última fase do ciclo de vida
recorrendo a medidas de proteção intelectual. Assim, o conhecimento vai
do paradigma, na qual os mercados começam a saturar-se, os produtos e
sendo privaüzado ao longo das fases do paradigma. Os países em desenvol-
processos se padronizam, o conjunto de produtos chegam a um ponto de
vimento têm portanto oportunidades de desenvolvimento tecnológico ace-
esgotamento e as inovações incrementais nos processos trazem pouco
lerado na fase inicial de um novo paradigma e na última de um anúgo, pois
aumento de produtividade. Nesta última fase, a experiência acumulada
nestas fases há maior disponibilidade de conhecimentos.
em cada indústria e no mercado é tal que os novos produtos alcançando

sua maturidade cada vez mais rapidamente (Perez, 1992).


3. O Paradigma Tecno-econômico Atual:

a Importância das Tecnologias da Informação


e Comunicação

A importância das tecnologias de informação e comu-


nicação (TICs) na economia vem aumentando desde a década de 1990,

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com a sua consolidação como fator-chave do modelo de produção nos A adoção de TICs também pode proporcionar às empresas significati-
países desenvolvidos. Do ponto de vista da organização da produção nas va redução de custos, ao diminuir os custos associados à gestão de infor-
firmas, as mudanças descritas no Quadro 12.1 referem-se a três tendên- mações. Por exemplo, pelo custo de uma página inteira em revistas sema-
cias principais: crescimento do trabalho cognitivo e relacional; mudança nais de grande circulação no Brasil podia-se constmir em 1999 uma
nos padrões de competição resultante da globalização; e redefinição das home-pflge com mais de trezentas páginas de informação (Tigre, 1999).
relações entre as firmas, com uma diversidade maior de situações. Essas Além disso, as TICs incluem os sistemas de comércio eletrônico, no qual
tendências estimulam e ao mesmo tempo são o resultado de um aumen- as firmas podem acessar clientes, fornecedores e estoques eletronica-
to da difusão de tecnologias de informação e comunicação, uma vez que mente. Os sistemas de comércio eletrônico, em particular aqueles basea-
estas permitem redefinir relações de trabalho, apoiam as relações entre dos na internei, permitem a aquisição de vantagens competitivas ao redu-
as firmas e permitem a sua inserção num contexto global de transações. zir os custos de marketing, distribuição dos produtos e atendimento ao
Vários estudos têm demonstrado que a difusão dessas tecnologias pode consumidor, além de melhorar os canais de comunicação com os clien-
levar a novas experiências na organização do trabalho, a modelos alter- tes. O comércio eletrônico também aumenta a competitividade ao per-
nativos de organização industrial e a novos modos de organização econô- mitir uma gestão mais eficaz do conteúdo informadonal do produto ao
mica regional (La Rovere, 1999). longo da cadeia de valor (Cunningham &Tynan, 1993).
De fato, as tecnologias de informação e comunicação podem promo- Entretanto, os sistemas de comércio eletrônico, principalmente os
ver um aumento da troca de conhecimentos entre trabalhadores situados sistemas de padrão proprietário, nos quais os usuários precisam pagar
em plantas produtivas da mesma empresa situadas em diferentes locais; licenças de uso ao produtor do software, podem aumentar as barreiras à
podem fundamentar a formação de redes de empresas, com sistemas de entrada em determinados mercados, na medida em que inttoduzem cus-
comércio eletrônico e de distribuição da produção; e podem simplificar tos financeiros e de aprendizado para os usuários. Estes custos aumentam
as relações de comércio exterior e permitir às firmas acesso imediato a in- os custos de mudança das firmas, modificando as relações entre as fir-
formações sobre o mercado mundial. Além disso, no atual paradigma tec- mas, seus clientes e fornecedores (Bloch 1996). Por exemplo, a implanta-
noeconômico, as empresas estão lidando com produtos cada vez mais cão de um sistema de comércio eletrônico proprietário entre uma grande
intensivos em conhecimentos e tecnologia, cujos ciclos de vida têm dimi- empresa e um grupo de pequenas empresas fornecedoras reforça o poder
nuído e que muitas vezes requerem processos de produção flexíveis. Neste de negociação da grande empresa. Isto porque, se o sistema de comércio
contexto, é fundamental para qualquer empresa não apenas definir uma eletrônico for proprietário, as empresas fornecedoras só poderão utili-
estratégia competitiva adequada como também monitorar constantemen- zá-lo para suas transações com a empresa grande, o que pode desestimu-
te o seu desempenho para realizar ajustes nesta estratégia. As TICs podem lá-las a procurar outros grandes clientes como forma de melhorar suas
desempenhar um papel importante na construção de sistemas de informa- condições de comercialização. Em outras palavras, as tecnologias de in-
cão que alimentam a definição de estratégias competitivas das empresas. formação e comunicação, ao afetar os custos de mudança das empresas,
Por exemplo, com o uso de TI Cs as empresas podem integrar as aüvidades modificam suas condições de aprisionamento. Como foi observado por
dos seus departamentos de vendas, produção, finanças e recursos huma- Shapiro & Varian (1999), esse aprisionamento ocorre quando os custos
nos, implementando um sistema denominado Enterprise Resource Plan- de mudança de uma tecnologia para outra são substanciais, e quando os
ning (ERP). O ERP é um sistema cujo software permite monitorar os pedi- sistemas de informação costumam prover várias oportunidades para as
dos dos clientes e das relações com os fornecedores, coletar informações empresas alterarem os custos de mudança de seus clientes ou fomecedo-
sobre os fluxos produtivos que servirão para identificar mudanças nas rés, através de ciclos de aprisionamento. Assim, o desenvolvimento de
demandas dos clientes e responder a estas demandas com mais rapidez. sistemas de informação baseados em tecnologias da informação e comu-

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nicação terá impactos significativos nas transações entre as firmas e seus aumenta. Ao reconhecer que o ambiente competitivo é muito mais com-
clientes. Esses impactos serão contudo diferenciados de acordo com a plexo do que supõe a teoria convencional, os autores neo-schumpeteria-
natureza da informação, das características setoriais e da oferta de tecno- nos põem em relevo o conjunto de elementos necessários para compre-
logias da informação e comunicação (Brousseau, 1995). ender de que forma o progresso técnico introduz mudanças que irão
Resumindo, asTICs são o fator-chave do atual paradigma tecnoeconô- afetar o sistema produtivo e a organização industrial. O conceito de para-
mica, e sua difusão tem impactos diferenciados sobre as empresas. Al- digma tecnoeconômico, ao introduzir as mudanças nas condições de
guns autores, como por exemplo Camagni (1991) sugerem que as TI Cs, produção e de distribuição no conjunto de parâmetros da análise da con-
ao promover a difusão de conhecimento, reduzem as incertezas associa- corrência capitalista, permite entender por que determinadas indústrias
das ao processo de escolha tecnológica, aumentando a capacidade inova- são propulsoras do crescimento em determinados períodos e por que as
dora das empresas. Esse aumento da capacidade de inovação das empre- estratégias competitivas das empresas mudam à medida que inovações
sãs, associado à difusão deTICs, não é porém um ponto consensual na vão sendo geradas e difundidas.
literatura. Isto porque a inovação depende não apenas de conhecimento O conceito de paradigma tecnoeconômico enriquece assim a análise
codificado, ou seja, do conhecimento que pode ser transcrito para um neo-schumpeteriana da concorrência capitalista. Como foi mostrado pelo
formato compacto e padronizado, mas também de conhecimento tácito, Quadro 12.1, a partir do desenvolvimento deste conceito, os autores neo-
que é o conhecimento adquirido pêlos trabalhadores ao longo de sua schumpeterianos podem identificar o impacto do progresso técnico nas
experiência de trabalho (Foray& Lundvall, 1996, p. 21). As TI Cs promo- estruturas produtivas ao longo do tempo, valendo-se dos conceitos de in-
vem a difusão de conhecimento codificado, o que aumenta as possibili- dústria-chave, fator-chave e formas de concorrência. Outra contribuição
dades de educação e qualificação da mão-de-obra, e em certos casos, faci- importante dos autores neo-schumpeterianos é fornecer uma explicação
litam sua internacionalização (Petit, 2000, p. 4). AsTICs fazem parte fundamentada para a ocorrência de ciclos económicos, destacando o papel
portanto da infra-estrutura necessária para o desenvolvimento de inova- da atividade inovadora neste processo, como mostrado na Figura 12.1.
coes no novo paradigma. Mas na medida em que a atividade inovadora Finalmente, a análise neo-schumpeteriana permite entender de que
depende também das competências adquiridas pelas empresas, como forma o posicionamento das empresas em seus mercados muda à medi-
visto anteriormente, não se pode afirmar a prior; que a simples adoção de da que o ciclo de vida dos produtos avança, e por que determinadas indús-
tecnologias da informação e comunicação irá melhorar a posição com- irias são motores do desenvolvimento em determinados períodos. Como
petitiva de determinada empresa. foi visto no Quadro 12.2, no paradigma tecnoeconômico atual, atributos
como produção sob medida, a capacidade de introduzir rápidas mudan-
Conclusão
cãs no mix de produtos, e organização simplificada das firmas conferem
vantagens competitivas às empresas. Ao mesmo tempo em que esses atri-
A introdução dos conceitos de paradigma tecnológico e butos são facilitados pela difusão deTICs, esta difusão modifica as rela-
de trajetória tecnológica, na análise neo-schumpeteriana teve implica-
coes entre as empresas, como foi visto na Seção 3. Portanto, o fato do
coes importantes do ponto de vista da análise da inovação e do seu papel novo paradigma tecnoeconômico ser baseado em tecnologias da infor-
no crescimento económico. Como foi observado por Nelson (1995, pp. mação e da comunicação não implica necessariamente que apenas as
84-5), a teoria evolucionária prove análises fundamentadas a partir de indústrias intensivas em informação têm sucesso na acumulação de capi-
um amplo e diversificado conjunto de dados, diferentemente da teoria tal. A riqueza da análise neo-schumpeteriana consiste exatamente em
convencional, que tem uma tendência à formalização que vai perdendo fornecer instrumentos para lidar com a complexidade das formas de
poder explicativo à medida que a complexidade do fenómeno analisado concorrência capitalista.

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