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EMRC123
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relação absolutamente única com todas as formas de uma Arte sempre louvada pela Bíblia, ou
seja, com todas as formas de realizar, com destreza e criatividade, algo dotado de beleza e, ao
mesmo tempo, este mesmo algo; pertença este aos mais diversos âmbitos: da literatura à
pintura, passando pela arquitetura, música, teatro, escultura, cinema, etc..
Para a visão cristã da realidade, a arte verdadeira é algo de acessório, ou meramente tolerado.
Toda a Arte verdadeira carrega, em si mesma, ideias que, embora repletas do captável pelos
sentidos corporais, apontam para o que está para além destes. A saber e por exemplo: o amor,
a ternura, a misericórdia e a beleza de Deus que, de alguma forma, como que podem ser
pressentidas no silêncio que surge entre duas notas perfeitamente harmónicas; no vazio entre
duas curvas de mármore que se juntam delicadamente; na porção a branco, de uma pintura,
entre outras pinceladas com cores mais quentes, mas que são salientadas, precisamente, por
aqueloutra; no espaço sem tinta num qualquer livro de poesia que convida a ler o, sempre
mais importante, que ficou por ser dito; enfim, por aquele instante fugidio de extraordinária
naturalidade que surge numa fotografia.
Daí surgir a enorme expressividade de uma Arte que, quando é verdadeira, brota das mais
banais realidades finitas e perecíeis e volta-se para o infinito, o eterno e o divino, tentando, de
modo temático ou atemático, pôr em si todas as interpenetráveis dimensões da verdade, da
beleza e do bem.
A Arte autêntica em geral e a arte cristã em particular, que de certo modo é aquela levada á sai
máxima expressão por decorrer daquela inspiração em que Deus e o ser humano se beijam
maximamente, recorda, transmite, clarifica e antecipa valores que superam o que pode ser
avaliado.
Aquele Deus criou, e cria, o nosso coração como uma espécie de máquina que só se move com
um combustível que é o próprio Deus e, dessa forma, envolve os afetos, motiva o pensamento,
orienta a vontade, fomenta a ação e, em consequência disto tudo, suscita relações que
também podem, e devem, ser celebradas pela Arte cristã.
Por tudo o que foi mencionado, a educação e formação cristã para a apreciação e valorização
da Arte verdadeira, bem como para a assunção dos códigos cristãos do que é a Arte crista, não
deve ser algo de despiciente na educação para uma saudável vida cristä multi-abrangente.
Ao contrário do que popularmente se encontra veiculado, os estudos têm confirmado que nem
a religião judaica nem a religião islâmica prescindiram da criação artística, embora tomada no
contexto do específico pensamento doutrinário: «enquanto no Islão e no Judaísmo, a partir do
século III ou IV depois de Cristo, a postura a respeito da proibição de imagens era radical, de
modo que apenas representações geométricas e não figurativas tenham sido concedidas como
ornamentos de santuários, o Judaísmo no Tempo de Jesus e até ao século III apresentava uma
interpretação da questão das imagens muito mais generosa»
minada formulação.
admitir que a sua missão foi sempre tripla - homenagem do ser humano a
[20:17, 01/05/2023] Madalena Pereira: Não negando a máxima da Escritura de que o «vento
sopra onde quer» (Jo 3,8), surgem, assim, o
adjetivações diversas para a arte, almejando chegar à definição de formas
tão complexos
[20:19, 01/05/2023] Madalena Pereira: O caminho que segue desde "arte sacra" até "arte
cristã", passando por "arte religiosa", pode
posicionamento
ainda
que esse
não exija uma ligação institucional que implique a ideia subjacente a 'religio'.
dores seguem não descarta que se entendam linhas de fronteira e de sobreposição, porquanto
A estas categorias poderia ainda somar-se uma outra intrinsecamente relacionada, sobretudo,
com a arte religiosa e com a arte cristã: a de "arte litúrgica", normalmente usada para refe-
renciar a arte produzida e utilizada como apoio à ação sagrada, ao agir cultual da comunidade
[20:21, 01/05/2023] Madalena Pereira: (1891-1976), por exemplo, quando representa "A
Virgem Maria a castigar o Menino Jesus perante três
[20:21, 01/05/2023] Madalena Pereira: toda a géstica ritual está envolvida pela arte,
Tradicionalmente,
mas outrossim pelas artes que, no mundo moderno, se vieram a chamar de performativas.
[20:22, 01/05/2023] Madalena Pereira: O mesmo se poderá dizer de todas as ações orantes
que para a expressão da fé sentem neces-
sidade de fazer recurso de objetos que, por contactarem de um modo direto com o Deus pre-
sente de forma real, começaram a ser apetidados de objetos sagrados: assim aconteceu com
as alfaias usadas para o sacrificio eucaristico como são os ciborios ou as píxides, as patenas e
(turíbulo e naveta, cruzes processionais, tocheiros, etc.). A este grupo juntaram-se, ainda, as
cus-
tódias usadas para expor diante dos fiéis o próprio Corpo de Cristo, também
ruas
da cidade debaixo de dispositivos cénicos que ajudavam a dizer ao mundo a fé em Cristo como
levado
pelas
-749), elogia a ação duradoura dos ícones: «Na igreja, a leitura (das
(II Concílio de Niceia, sessão VI). De facto, nesta época, e nas épo-
Pr
1, do pintor
paon.
O que na sessão VI e VII do Concílio de Niceia ficou fixado serviu de alicerce a toda a produ-
ção artística subsequente, assumindo-se, inclusivamente, que «os ícones foram transmitidos
do ver: <<na verdade, tal como a inteligência compreende a leitura escutada pelos ouvidos,
do mesmo [modo] a inteligência é iluminada pela imagem vista pelos olhos, e, com as duas
Não houve, contudo, confusão entre a substância que materializa e a substância que se evoca.
Os padres da reunião de Niceia que temos vindo a citar escreviam que «a veneração prestada a
uma imagem se dirige àquele que ela representa», pois «quem venera uma imagem venera
a pessoa que nela está representada» (II Concílio de Niceia, sessão VII).
No entender do mesmo concílio, a arte figurativa levava a esse sentido de comunicação entre
era apenas devido às realidades representadas e não à matéria que as representava, o texto
fixava que, «quanto mais frequentemente se olha para as imagens, tanto mais facilmente
É este, de facto, o entendimento que justifica a presença de figuração em todos os cenários his-
tóricos da Igreja, desde a Alta Idade Média ao Renascimento, desde o Concílio de Trento (1545-
-1563) ao Concílio Vaticano II (1962-1965), que a afirma digna da «veneração dos fiéis»,
aconse-
Ihando manter-se «o uso de expor imagens nas igrejas» (Sacrosanctum Concilium, n. 111 e
125),
desde que o seu número seja compatível com a ortodoxia da fé, e exortando à sua preservação
entre o assessório e o essencial, legisla que as imagens devem ser «em número comedido e na
ordem devida, para não causar estranheza aos fiéis nem contemporizar com uma devoção
[20:25, 01/05/2023] Madalena Pereira: Entre as mais claras manifestações culturais que ao
longo de múltiplas gerações marca de
forma solene a ideia de Deus no espaço humano está a Procissão do Corpus Christi, gesto
celebrativo comunitário que pode ser entendido como verdadeira metáfora da presença de
Deus na cidade dos homens. Para que aconteça esta manifestação pública de fé saem à rua,
na formulação tradicional, todas as representações sociais que marcam de forma visível, atra-
vés de símbolos e outros sinais, a diversidade da comunidade que tem como Deus Jesus Cristo
Como este, existem múltiplos outros sinais visíveis que, ao longo da história, foram edificados
pelos cristãos como imagens da presença de Deus no seio da comunidade humana: igrejas e
vezes,
serve a ação votada a Deus/O património multissecular que a Igreja foi construindo e que fixou
culto é inseparável da cultura e a produção artística a ele associada é, por isso, reflexo dessa