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Desigualdades em Tempos de Crise: Vulnerabilidades

Habitacionais e Socioeconómicas na Área Metropolitana


de Lisboa1

Inequalities in Times of Crisis: Housing and Socio-economic


Vulnerabilities in Lisbon Metropolitan Area

Renato Miguel do Carmo


renato.miguel.carmo@gmail.com; renato.carmo@iscte.pt
CIES-IUL

Rita Cachado
rita.cachado@iscte.pt
CIES-IUL

Daniela Ferreira
daniela.alexandra.ferreira@iscte.pt
CIES-IUL

Resumo/Abstract

Este artigo pretende analisar a relação entre This article analyses the relationship be-
as diferentes componentes das desigualdades de tween the different components of resource
recursos, com especial enfoque para as condi- inequalities, with a special focus on housing
ções de habitabilidade e a autonomia financeira, and financial autonomy, as well as their contri-
e o seu impacto nas vulnerabilidades socais, bution towards the emergence of vulnerabilities
que tendem a agravar-se nos atuais tempos de which are being aggravated in the context of the
crise económico-financeira. Através dos dados actual economic and financial crisis. Using the
de um inquérito por questionário, realizado a data set obtained through a survey conducted
1500 residentes na AML, o estudo estabelecerá with 1500 residents of LMA, the study estab-
uma comparação entre diferentes contextos lishes a comparison between different spatial
socio-territoriais, tendo como referência uma contexts. The results of the study identify a
tipologia utilizada para a estratificação da relationship between inequalities and financial
amostra. Os resultados do estudo identificam as and housing vulnerabilities, and present a statis-
várias dimensões da relação referida e apresen- tical model which incorporates the various
tam um modelo estatístico que incorpora as analysis dimensions.
variáveis em análise.
Palavras chave: Desigualdades, vulnerabiliddes Keywords: Inequalities, housing vulnerabilities,
habitacionais, vulnerabilidades sociais, crise social vulnerabilities, economic and financial
económico-financeira, território crisis, territory

Códigos JEL: D63, R20 JEL Codes: D63, R20

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Este artigo insere-se no projeto de investigação LocalWays “Trajetos de sustentabilidade local: mobilidade espacial, capital social e desi-
gualdade” (PTDC/ATP-EUR/5023/2012), financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Revista Portuguesa de Estudos Regionais, nº 40

1. INTRODUÇÃO de sustentabilidade local: mobilidade espacial,


capital social e desigualdade (PTDC/ATP-
Nos últimos anos alguns estudos têm-se EUR/5023/2012).
debruçado sobre a composição e a persistência Por este motivo, o estudo contemplará uma
das desigualdades sociais em Portugal. A base territorial de análise, a partir da qual se
maior parte destes abordou a desigual distri- estabelecerá uma comparação entre diferentes
buição dos diversos recursos (rendimento, contextos espaciais territoriais, tendo como
qualificações…) na população Portuguesa. referência uma tipologia utilizada para a estra-
Além disso, também se aprofundaram novas tificação da amostra, que será devidamente
perspetivas relacionais entre diferentes fenó- caracterizada na secção correspondente à
menos sociais que estão direta ou indireta- metodologia.
mente interligados, por exemplo, a associação Este artigo compõe-se em quatro partes. Na
entre as desigualdades e outras formas de vul- primeira debater-se-á teoricamente o problema
nerabilidade como a pobreza, o desemprego ou das desigualdades socais e a sua relação com a
a precariedade. Estas análises têm chamado a questão da habitação, incidindo-se sobre os
atenção para o carácter multidimensional e territórios da AML. Posteriormente, enquadrar-
relacional das desigualdades, salientando a se-ão as questões metodológicas no que diz
necessidade de não se reduzir a análise a um respeito à construção da amostra e dos instru-
único tipo de indicadores (Costa, 2011; Rodri- mentos de inquirição. Na terceira parte, apre-
gues et al, 2012; Stiglitz, 2012). sentar-se-ão os resultados do inquérito relati-
É nesta linha de problematização científica vos à avaliação dos indivíduos sobre o seu
que se enquadra o presente artigo. Na verdade, local de residência e a identificação dos pro-
o nosso objetivo é precisamente o de relacionar blemas fundamentais de habitabilidade do
as desigualdades com formas diferenciadas de alojamento. Na última abordar-se-á a rela-
vulnerabilidade que normalmente não são con- ção entre desigualdades e vulnerabilidades
sideradas, como é o caso dos problemas de financeiras e habitacionais, e desenvolver-se-á
habitabilidade e a sua interdependência com a um modelo estatístico que incorpora as várias
dificuldade das pessoas em fazer face a despe- dimensões em análise.
sas. Estas fragilidades não só têm aumentado
com o prolongar da atual crise económico-
2. DESIGUALDADES DE RECURSOS
financeira, como representam as dimensões
mais básicas para a manutenção de uma vida E A QUESTÃO DA HABITAÇÃO
social condigna e estável. É sabido que as difi- NA AML
culdades económicas têm atingido muitos
agregados familiares, tanto no que diz respeito As desigualdades detêm um caráter multi-
à redução do rendimento disponível das famí- dimensional. A este respeito, a tipologia de
lias, como no aumento do desempego ou da Therborn (2006) estabelece uma distinção
precariedade laboral. Estas e outras dificulda- entre desigualdades de recursos, desigualda-
des aumentaram o tipo de carências que atin- des existenciais e desigualdades vitais. Estas
gem cada vez mais as condições básicas de últimas representam desigualdades perante a
habitabilidade e de autonomia financeira dos vida, a morte e a saúde; as desigualdades
agregados familiares. Neste sentido, o presente existenciais remetem para o desigual reconhe-
artigo tem como objetivo descortinar a asso- cimento dos indivíduos humanos enquanto
ciação entre diferentes componentes das desi- pessoas; as desigualdades de recursos signifi-
gualdades de recursos (habitação, escolaridade, cam a desigual distribuição dos recursos, como
classe social, despesas, etc.), percebendo, desta o rendimento, a riqueza, a escolaridade, etc.
maneira, como se gera um conjunto de vulne- (cf. Costa, 2012: 21-24). Neste artigo iremos
rabilidades cumulativas e tendencialmente debruçar-nos sobre diferentes tipos de desi-
sistémicas, que tenderão a agravar-se no con- gualdades de recursos, nas quais se encaixam
texto da atual crise económico-financeira. as desigualdades de acesso à habitação e à
Os dados que iremos apresentar resultam de qualidade das condições de habitabilidade.
um projeto sobre a Área Metropolitana de Lis- Como veremos, estas variam em função da
boa (AML), no âmbito do qual se aplicou um situação de classe e são interdependentes
inquérito por questionário a 1500 residentes. de outras formas de vulnerabilidade, designa-
Referimo-nos ao projeto Localways - Trajetos damente, das dificuldades económicas em

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Desigualdades em tempos de crise: vulnerabilidades habitacionais e socioeconómicas …

assegurar um conjunto de despesas e pagamen- As desigualdades detêm um carácter sisté-


tos. mico e relacional no que diz respeito às causas
A distribuição do rendimento representa e aos seus efeitos. São vários os estudos, publi-
uma dimensão incontornável na análise das cados recentemente, que tentam comprovar
desigualdades de recursos (OCDE, 2011; estatisticamente esta ideia. A obra de autoria
Piketty, 2014). São conhecidos os rácios e os de Wilkinson e Pikett (2010) sublinha preci-
coeficientes que medem as disparidades de samente esse carácter sistémico, ao relacionar
rendimento entre os mais ricos e mais pobres, a distribuição desigual dos rendimentos não só
medindo a amplitude das assimetrias entre com variáveis correspondentes a outros recur-
porções de rendimentos detidos pelos percentis sos mas, inclusivamente, com outras dimen-
ou quantis de topo face aos da base da distri- sões relacionadas com as desigualdades vitais
buição (Cantante, 2014). Estes indicadores têm ou existenciais. A análise que desenvolvere-
sido trabalhados a partir de bases de dados mos neste artigo é menos ampla e bem mais
resultantes da aplicação de inquéritos por ques- modesta, na medida em que se pretende captar
tionário a uma amostra da população, da qual esse caráter sistémico, mas circunscrito às
se estimam resultados para um determinado desigualdades de recursos.
universo populacional (por exemplo, EU- O conceito de classe social tem sido muito
SILC: Survey on Income and Living Condi- discutido nas ciências sociais não só entre
tions); ou pelo registo administrativo, cujos perspetivas teóricas, como entre distintas
dados se referem normalmente ao universo: maneiras de operacionalização. São conhecidas
por exemplo, os dados fiscais acerca do rendi- as discussões acérrimas entre as correntes
mento (Milanovic, 2011). (neo)marxistas e (neo)weberianas que apontam
No inquérito por questionário que aplicá- para diferentes componentes das desigualda-
mos aos residentes da AML não inquirimos des. Por exemplo, a primeira enfatiza a impor-
diretamente sobre posse ou fontes de rendi- tância de determinados recursos económicos,
mento, já que estas não constituíam objetivo como é o caso da detenção dos meios de pro-
primordial da temática do projeto de investiga- dução; enquanto a segunda chama a atenção
ção. Todavia, incluíram-se algumas questões para outros recursos não económicos (nomea-
que identificam direta ou indiretamente pro- damente, culturais) e para a estipulação de
blemas de ordem financeira e económica. A diferentes estatutos e posições sociais2.
este respeito, tentou-se pela via das despesas Em Portugal, vários estudos têm abordado a
perceber qual o grau de vulnerabilidade face à composição e recomposição das classes sociais
capacidade de pagar ou não uma dada quantia. utilizando diferentes inspirações teóricas e
Por outro lado, alargou-se a noção de desigual- modelos analíticos. No que diz respeito à pro-
dade de recursos a outras componentes que posta operacional de uma dada tipologia de
habitualmente não são previstas pelas análises classes, destacamos a abordagem desenvolvida
de rendimentos. Referimo-nos ao problemas pela equipa de sociólogos do ISCTE-IUL, que
decorrentes das condições de habitabilidade há várias décadas tem vindo a utilizar um indi-
que, do nosso ponto de vista, são fundamentais cador socioprofissional que resulta da articula-
para se compreender melhor a dimensão da ção entre a nomenclatura das profissões usada
vulnerabilidade social que atinge, neste caso, pelo INE e a situação na profissão.
os residentes da AML. Esta tipologia é composta pelos seguintes
Neste sentido, por intermédio da análise lugares de classe: Empresários, Dirigentes
destas variáveis, pretendemos perceber em que e Profissionais Liberais (EDL), são os empre-
medida as desigualdades perante as condições gadores e/ou os dirigentes das empresas e da
de habitabilidade e a capacidade de fazer face administração pública (enquanto empregadores
às despesas se relacionam com outras dimen- podem ser recrutados de qualquer um dos gru-
sões das desigualdades de recursos, designa- pos da nomenclatura de profissões), mais os
damente a posição de classe, o nível de escola- profissionais que exercem profissões qualifica-
ridade e a situação perante o emprego. Esta das e especializadas por conta própria; Profis-
análise torna-se ainda mais pertinente pelo sionais Técnicos e de Enquadramento (PTE),
facto de coincidir com o momento da crise exercem a sua atividade por conta de outrem
económico-financeira que afeta grande parte em profissões intelectuais, científicas e técni-
da população portuguesa há vários anos.
2
Para o aprofundamento desta leitura ver Carmo (2013).

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cas de nível superior ou intermédio; Trabalha- sendo um autor central para a análise das cida-
dores Independentes (TI), exercem atividade des, desenvolveu o seu trabalho sobre os esti-
por conta própria, sem empregados, em profis- los de vida em bairros segregados. Além des-
sões administrativas e similares nos serviços e tes, destacamos Bourdieu que, sendo essencial
no comércio, compreendem os artífices e tra- para outros campos da sociologia, analisou a
balhadores similares, agricultores e trabalhado- questão da habitação (Bourdieu e Christin
res qualificados da agricultura e pescas; 1990). Importa notar ainda que a relação analí-
Empregados Executantes (EE), são trabalhado- tica entre cidade e habitação é classicamente
res por conta de outrem respeitante ao pessoal justificada no crescimento das cidades associa-
administrativo e similares, e pessoal dos servi- do ao crescimento das populações em situações
ços e vendedores; Operários (O), são trabalha- de acentuada diferenciação social (Wirth, 1997
dores manuais por conta de outrem nas profis- [1938]).
sões mais desqualificadas da construção, No contexto português em geral, há um
indústria e transportes, agricultura e pescas. conjunto de autores que trabalharam concreta-
A tipologia em causa tem sido testada por mente, em bairros e muitas vezes alargando a
diversos autores que vêm trabalhando sobre as discussão a um nível macro, a relação entre
mais variadas temáticas, utilizando diferentes desigualdade e habitação. Desde logo, a produ-
inquéritos e bases de dados. A elasticidade ção relevante dos anos 90, donde se salienta o
operacional demonstrada pelo seu uso adequa- trabalho de Guerra (1994, 1997, 1998, 2001).
se às mais distintas escalas territoriais: euro- A autora vê a habitação como um dos elemen-
peia (Carmo e Nunes, 2013; Almeida, 2013; tos que melhor refletem as desigualdades
Costa et al. 2009), nacional (Machado e Costa, sociais. Contudo, esse enfoque é dado con-
1998), concelhia (Carmo e Santos, 2014), mas soante a corrente de pensamento e, por isso, é
também à escala de um bairro de Lisboa (Cos- defendido que o conceito de habitação pode ser
ta, 1999). Aliás, é neste último estudo que a abordado sob diferentes perspetivas, tornando-
tipologia conhece uma das suas análises mais se multidisciplinar. Para além disso, faz uma
pormenorizadas e inovadoras. abordagem às políticas de habitação em Portu-
Uma das novidades do presente artigo passa gal do ponto de vista de uma execução que
pela operacionalização deste indicador à escala deve levar em conta não só as necessidades do
da AML. Por seu intermédio iremos tentar estado e do sector privado, mas que dialogue
medir até que ponto as desigualdades se inter- fortemente com as populações visadas. Tam-
relacionam com a vulnerabilidade das condi- bém o trabalho de Freitas tem lugar de desta-
ções de habitabilidade e as dificuldades eco- que na mesma década (Freitas 1990, 1994,
nómico-financeiras. 2001). Estas referências vão desde abordagens
Desde o célebre livro de Engels (1984 macro às questões do realojamento, a aborda-
[1887]) sobre a questão da habitação na cidade gens centradas na experiência concreta num
industrial do século XIX, e ainda com a obra, realojamento, possibilitando uma perspetiva
contemporânea daquela, de Booth (v. Spicker, que, à semelhança de Guerra, traz uma visão
1990) sobre o mapeamento da pobreza, que se não só teórica como prática à sociologia da
estabeleceu uma relação analítica entre as habitação. Os realojamentos em massa verifi-
desigualdades sociais, designadamente as desi- cados em Portugal no final dos anos 90 são os
gualdades de classe, e o acesso ou o direito à grandes motivadores destas reflexões. Porém,
habitação condigna como um mínimo de qua- não devem ser esquecidos no campo
lidade. Aliás, o acesso à habitação representa da habitação associada às desigualdades outros
um pressuposto básico do direito à cidade, pares colaboradores, como Ferreira (1988,
seguindo a conceção de Lefebvre (1968) e 1994), Gros (1994, 1998), ambos determinan-
de Castells (1973), com que concordamos. tes para a história da habitação social no país, e
Muitos dos mais célebres trabalhos que contri- Baptista (1999, 2001). Mais recentemen-
buíram para solidificar o vasto campo inter- te deve ser colocado em evidência o contributo
disciplinar dos estudos urbanos têm de resto da equipa de sociologia da Universidade do
por base empírica os contextos habitacionais Porto neste domínio (Pinto, 2012; Pereira
dos urbanitas. Salientamos o caso de Gans e Queirós, 2012, Queirós, 2013) e de alguns
(1968) sobre segregação e planeamento urba- trabalhos que, embora isolados, têm contri-
no, de Suttles (1968) sobre a ordem social em buído para recuperar a temática com a questão
bairros degradados e de Hannerz (1969) que, do realojamento em habitação social (Cachado

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2012, 2013; Ascensão, 2013) e além dela, do forte crescimento da AML, relacionado não
como o papel da habitação na mudança social só com as migrações internas da população
ao longo da vida (Nico, 2014). com graves carências económicas e que foram
Relativamente aos estudos realizados sobre construir as suas casas em nascentes bairros de
a questão da habitação na AML é importante barracas a partir dos anos 50, como também
fazer uma resenha mais pormenorizada. Com associado às migrações provindas de países
múltiplas opções de abordagem, escolhemos africanos. Mas o crescimento da AML em
uma que procura sintetizar a questão da habi- termos habitacionais não se fez apenas pela via
tação no sentido de a relacionar com as ques- da habitação precária; pelo contrário, a maior
tões da desigualdade. De facto, sendo a habita- parte do crescimento habitacional deve-se às
ção um direito central dos cidadãos (à seme- migrações internas e externas das chamadas
lhança da saúde e da educação), esta ligação é classes médias (Fonseca 1990), que compra-
inerente e a análise, neste artigo, do cruzamen- ram e alugaram casas massivamente em toda a
to entre as dimensões da habitação e das desi- AML naquilo a que hoje comummente se
gualdades sociais é uma tautologia. Neste sen- chama processo de suburbanização (v.e.g.
tido, as políticas de habitação são naturalmente Nunes, 2011).
centrais para perceber a questão da habitação Há ainda um aspeto que não deve ser igno-
na AML (Ferreira, 1988, Gros, 1994, Baptista, rado tendo em conta o nosso propósito de aná-
1999). Na década de noventa desenvolveu-se lise cruzada entre condições de habitação e
em Portugal uma linha de estudos importante desigualdades sociais. É que a habitação
e, por vezes, não devidamente valorizada, no social3 em Portugal tem uma história muito
LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia marcada pelo Programa Especial de Realoja-
Civil), com a colaboração de cientistas sociais. mento (PER), legislado em 1993 e implemen-
Salientamos, a este respeito, Soczka (1988), tado nos 20 anos que se lhe seguiram. O PER
Freitas (1990), e Maia et al (1992). Ao mesmo nasceu de uma necessidade político-social
tempo, a academia produzia trabalhos sobre urgente ou, nas palavras da introdução do
núcleos residenciais na AML em várias univer- Decreto Lei 163/93 de 7 de Maio, que descreve
sidades, onde a maior preocupação eram os o seu objetivo central, o PER visa "a erradica-
bairros degradados, clandestinos. É interessan- ção das barracas, uma chaga ainda aberta no
te notar que, tanto no caso do LNEC como no nosso tecido social." Uma urgência que olhou
caso da sociologia e dos estudos urbanos, os pouco para as condições reais dos bairros ins-
académicos dedicados a este tema pelo menos critos no programa e mais para a vertente polí-
no contexto da AML estiveram muitos deles tica da transformação dos territórios degrada-
ligados a projetos no terreno, sobretudo através dos, isto é, imperou o estigma de que as popu-
de gabinetes municipais de apoio à habitação. lações residentes nestes bairros viviam um
Quando olhamos mais especificamente para estilo de vida associado à pobreza. Este aprio-
as questões da promoção imobiliária, de cariz rismo resultou não só da falta de estudos con-
social ou não, raramente são analisadas sem cretos sobre condições de vida nos bairros
refletir sobre as opções legislativas e proces- chamados de barracas, como também de um
suais entre o mercado e a intervenção pública. discurso de política da pobreza, ou a pobreza
No campo da sociologia, destacamos o traba- como mote político, assinalado na altura por
lho de Silva (1994), e de Baptista (1999). A exemplo por Guerra (1994).
questão mais concreta do acesso à habitação Este panorama da habitação, fortemente
relacionado com as classes sociais foi em Por- marcado pelas políticas de habitação social,
tugal abordada por Pereira (1994), entre outros, deve servir de acautelamento na análise cruza-
que ao estudar os pátios e vilas de Lisboa ilus- da entre habitação e desigualdades que preten-
tra esta relação entre classes sociais mais des- demos fazer neste artigo. Ou seja, embora este-
favorecidas e determinados tipos de habitação
3
(Carvalho, 2013). Este tema foi de resto explo- Não queremos aqui discutir a adequação ou não da expressão
política de habitação social ou da alternativa mais vezes
rado de diferentes maneiras a propósito do apresentada, política social de habitação. Defendemos contudo
crescimento de uma sociologia da habitação, que não se deve esquecer a utilidade da expressão habitação
nos anos 80 e 90 (Almeida, 1994). Nessa altu- social. De resto, concordamos com Luís Baptista quando diz que
“A constituição de um ‘campo social’ (P.Bourdieu) em torno da
ra, debatiam-se as condições de vida dos defesa e afirmação do ‘direito à habitação’ leva a que se
moradores em conjuntos residenciais degrada- desenvolva um universo morfológico e social de referência a este
propósito, que poderemos designar genericamente como
dos. O assunto estava na ordem do dia por via ‘habitação social’ (Baptista 1999, 8-9).

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jamos em presença de duas dimensões que do tos, o número aumentou em 567 mil alojamen-
nosso ponto de vista lucram em ser compreen- tos (10,6% de crescimento).
didas em conjunto, não concordamos com uma No que diz respeito às obras concluídas,
perspetiva que reforce o discurso sobre uma Portugal teve um decréscimo de 11% em rela-
cultura da pobreza. ção ao ano de 2012. Já as obras com fins de
Antes de se avançar para a análise que parte reabilitação tiveram um aumento de 26,8% em
dos nossos dados empíricos, é importante apre- 2012 para 29,1% em 2013, a que não são
sentar alguns dados inventariados pelo Institu- alheias as, ainda que poucas, políticas de pro-
to Nacional de Estatística sobre a composição moção da reabilitação urbana.
e a evolução do parque habitacional (INE, No mesmo sentido, relativamente às obras
2013), tanto ao nível do país como da região de licenciadas, a tendência é decrescente desde
Lisboa, desde o início dos anos 2000. Este 2008 até 2013, sendo que no último ano referi-
levantamento pretende enquadrar a reconfigu- do diminuiu cerca de 22,7% em relação ao ano
ração das dinâmicas ocorridas no sector nestes de 2012. À semelhança do que se passa com a
últimos anos, tendo como especial enfoque o conclusão de construções novas (72,3% em
período mais recente que coincide com o apro- 2008 e 58,2% em 2013) e com as obras de
fundamento da crise económico-financeira. reabilitação (34,5% do total de licenciamentos
Não cabendo aqui uma análise crítica da em 2013), também os licenciamentos de cons-
situação de decréscimo na construção de habi- truções novas têm vindo a diminuir, ao passo
tação no atual contexto de crise, importa con- que os licenciamentos de obras de reabilitação
tudo notar que a sua desaceleração é, per se, têm vindo a aumentar (dentro das obras de
positiva para o contexto português, onde se reabilitação, teve maior importância as obras
verificava uma desproporção acentuada entre de ampliação que em 2008 o seu peso relativo
as necessidades habitacionais e o parque habi- era de 14,6% e em 2013 aumentou para
tacional. Esta situação é denunciada desde a 24,0%).
década de 1960 (Pereira, 1963) e recentemente Se é verdade que, analisando os valores
confirmada, por exemplo, pelo INE em 2012. totais, as obras de reabilitação tenham dimi-
Apesar de continuarem a verificar-se necessi- nuído de 2008 para 2013, verifica-se um
dades habitacionais, não tem havido políticas aumento do peso relativo na realização destas
assertivas de compensação do desacerto entre obras no mesmo período (20,4% em 2008 e
parque existente e necessidades sociais de 29,1% em 2013). Convém ainda referir que, do
habitação4 (v. a este respeito, Miranda e Babo, total das obras de reabilitação realizadas em
2012). Como poderemos verificar, tendo por 2013, 64,9% foram realizadas em habitações
base o estudo do INE (2014a), onde foi feita familiares. Esta percentagem em 2008 era mais
uma estimativa para o ano 2013, neste período elevada, correspondendo a 70,8%.
é visível o impacto que a crise teve na inversão Focando-nos na região de Lisboa, observa-
de algumas tendências a partir de 2008. Portu- se que esta, juntamente com os Açores, foi das
gal obteve em 2013 uma taxa de crescimento únicas regiões em que o crescimento da cons-
inferior à dos anos anteriores, situando-se nos trução foi superior à média nacional, tendo um
0,3%. Analisando esta questão de forma mais crescimento de 14,3% para os edifícios e
pormenorizada, verifica-se que este decrésci- 14,6% para os alojamentos. Porém, a região de
mo se deu a partir de 2008 e que as taxas de Lisboa foi a aquela que obteve igualmente um
crescimento têm vindo a diminuir desde então. maior decréscimo do seu número de edifícios
Antes de 2008, a tendência era inversa, uma concluídos no ano de 2013 (-50,6%).
vez que a taxa anual média aumentou 1% até A região de Lisboa possuía em 2013 12,6%
ao ano referido. Traduzindo esta informação, do total dos edifícios do país e 25% dos aloja-
Portugal continental obteve, desde 2001 até mentos. Relativamente ao número médio de
2013, 396 mil edifícios, verificando-se um habitantes por alojamento, verifica-se que a
crescimento de 12,4%. Quanto aos alojamen- região de Lisboa possuía 2,1 em 2001 e passou
em 2013 para 1,9. Verifica-se portanto um
decréscimo. Quanto ao número médio de alo-
4
jamentos por edifício, constata-se que a região
Há contudo um esforço de resolução desta problemática num
documento intitulado Plano Estratégico da Habitação (disponível de Lisboa é aquela que possuiu valores mais
emhttp://www.portaldahabitacao.pt/pt/ihru/estudos/plano_estrate elevados a esse respeito. Tinha em 2001 um
gico/documentos_plano_estrategico_habitacao.html), que tem
servido de base a algumas políticas ad-hoc neste contexto.
valor de 3,31 e em 2013 estimou-se uma ligei-

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ra diminuição, passando para 3,30. Finalmente, A elaboração da tipologia territorial para a


no que diz respeito às obras licenciadas, a AML advém da realização de uma análise de
região de Lisboa foi a que registou um decrés- componentes principais (ACP) onde foram
cimo mais acentuado em 2013. Isto traduz-se encontradas 4 dimensões que constituem os
em 6,0% em 2013 para 13,0% em 2012, dentro elementos chave para a diferenciação socio-
da proporção de edifícios licenciados na região territorial da AML e que explicam 78,5% da
em questão. variância5. A primeira diz respeito ao envelhe-
Este enquadramento teórico pretendeu deter cimento e consolidação urbana. A segunda
a amplitude necessária para cruzar diferentes traduz variáveis relacionadas com qualifica-
perspetivas e preocupações analíticas que con- ção. A terceira componente é constituída por
tinuam relativamente afastadas e que convinha variáveis que caracterizam o despovoamento e
aproximar e articular. Obviamente que não desqualificação. A quarta dimensão, intitulada
iremos aprofundar empiricamente todos os de renovação, consiste sobretudo em variáveis
pontos que foram teoricamente desenvolvidos; relacionadas com o crescimento e ocupações
de qualquer modo, consideramos que seria recentes.
importante encetar e aprofundar este diálogo Posteriormente, realizou-se uma análise de
de forma a estabelecer uma plataforma analíti- clusters, através dos scores da ACP, tendo por
ca comum que conjugue os estudos urbanos e base as dimensões identificadas anteriormente,
dos territórios, a problemática das desigualda- através da qual se formaram 4 clusters que
des sociais e a temática do acesso à habitação deram assim origem a 4 perfis territoriais (ver
condigna e com condições. quadro nº2): suburbano massificado; urbano
qualificado; Rural, suburbano recente ou des-
qualificado; urbano antigo e em renovação.
3. METODOLOGIA: INQUÉRITO, De seguida far-se-á uma breve descrição de
TIPOLOGIA TERRITORIAL E cada perfil que constitui a tipologia em causa:
AMOSTRA
a) Sub/urbano massificado é composto por
No âmbito do projeto projeto intitulado 78 freguesias urbanas e suburbanas (corres-
Trajetos de sustentabilidade local: mobilidade pondente a 58% da população da AML) que
espacial, capital social e desigualdade, foi apesar de relacionarem negativamente com a
aplicado um inquérito por questionário dirigido qualificação também se definem por uma asso-
à população residente na Área Metropolitana ciação negativa ao despovoamento e desquali-
de Lisboa (AML). O seu principal objetivo foi ficação, apresentando um comportamento mais
aferir as múltiplas formas de desigualdade neutro tanto no que diz respeito ao envelheci-
social, as práticas de mobilidade, as rotinas mento e consolidação como à renovação.
diárias e as formas de participação cívica da b) Urbano qualificado é composto por 48
população. Para tal construiu-se um guião de freguesias urbanas (28% da população residen-
questionário que contemplou um conjunto te na AML) associadas positivamente à quali-
amplo de dimensões de inquirição: caracteriza- ficação e negativamente ao despovoamento e
ção socioeconómica e profissional; mobilidade desqualificação. Tem um grande peso do con-
geográfica e residencial ao longo da vida, celho de Lisboa mas também algumas fregue-
mobilidade quotidiana; prestação de apoios sias de Cascais, Oeiras ou Almada, entre outras
familiares; nível de confiança interpessoal e freguesias sedes de outros concelhos.
institucional; práticas de ação coletiva e parti-
cipação associativa; condições de habitabilida- c) Rural, suburbano recente ou desqualifi-
de; despesas e problemas financeiros. cado (59 freguesias onde residem apenas 11%
Tendo em conta a elevada dimensão do da população da AML), define-se por um
universo estatístico a tratar, surgiu a necessi- povoamento muito mais escasso que os outros
dade de se elaborar uma amostra representati- grupos, e desqualificação da população e das
va. Esta foi realizada a 1500 residentes na
AML com idade igual ou superior a 18 anos de 5
Esta tipologia foi inicialmente concebida por Sofia Santos no
idade, abrangendo um total de 75 freguesias. A âmbito do seu projeto de doutoramento e posteriormente
distribuição das freguesias fez-se com base adaptada e desenvolvida pelo presente projeto de investigação
numa tipologia territorial entretanto criada. (Localways - Trajetos de sustentabilidade local: mobilidade
espacial, capital social e desigualdade). Para mais pormenores
sobre a construção da tipologia ver: Santos, 2014.

11
Revista Portuguesa de Estudos Regionais, nº 40

habitações. Apresenta também uma relação A amostra foi estratificada tendo por base a
negativa com o envelhecimento e consolidação tipologia e organizada a partir das seguintes
urbanos e um comportamento mais neutro com quotas selecionadas (o erro amostral é de
a renovação, sugerindo alguma dinâmica. 2,5%): idade, escolaridade, género e situação
Inclui portanto freguesias rurais, tanto as mais profissional. Isto significou, portanto, que
periféricas como sedes de concelho. todas as quotas foram utilizadas segundo a sua
representatividade em cada território classifi-
d) Urbano antigo e em renovação, cor-
cado na AML (ver quadro 1). Dentro de cada
responde a 26 freguesias urbanas antigas e
perfil foram selecionadas aleatoriamente um
apresenta a maior transformação: sendo defini-
número proporcional de freguesias. A aplica-
do pela associação ao envelhecimento e conso-
ção do inquérito decorreu segundo o método
lidação urbana é também um território, ainda
random route: em cada freguesia selecionada
que desqualificado, em renovação. Nestas fre-
foram identificados os “pontos de partida”
guesias reside apenas 4% da população da
(moradas) a partir dos quais se iniciou os itine-
AML, que correspondem predominantemente
rários de seleção de cada lar.
ao centro histórico de Lisboa.

Quadro 1: Número de freguesias selecionadas.


Península de
G. Lisboa Total
Setúbal
Rural ou desqualificado 9 11 20
Sub/urbano massificado 21 10 31
Urbano antigo e em renovação 3 0 3
Urbano qualificado 18 3 21
Total 51 24 75
Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012.

4. AVALIAÇÃO DO LOCAL DE rem-se à ‘qualidade do espaço público’,


RESIDÊNCIA E CONDIÇÕES DE seguindo-se o ‘lazer e consumo’. Por sua vez,
HABITABILIDADE o item melhor avaliado diz respeito às relações
entre as pessoas (ver figura 1). Curiosamente,
Nesta seção e na seguinte iremos apresentar os aspetos relacionados com equipamentos,
a análise dos dados decorrentes dos resultados serviços públicos e acessibilidades apresentam
do inquérito aplicado aos residentes da AML. um nível de satisfação considerável. Este dado
Como se referiu, o âmbito da análise circuns- pode ser indicativo da melhoria geral das
creve-se à relação entre as desigualdades muti- infraestruturas que muitos dos espaços metro-
dimensionais e as distintas condições de habi- politanos conheceram nestas últimas décadas.
tabilidade. Este objetivo insere-se numa temá- Na verdade, segundo os resultados deste in-
tica mais ampla que foi devidamente enqua- quérito, já não são estes os fatores que pro-
drada na parte teórica deste artigo. vocam uma menor satisfação com o local de
Iniciamos a leitura dos dados por focar uma residência. Sublinhe-se que estamos a referir-
componente mais subjetiva que diz respeito à -nos a médias globais, que pela sua natureza,
apreciação sobre o local de residência. A maio- encobrem na medida estatística os casos de
ria dos inquiridos avalia positivamente o local maior insatisfação com os serviços e infra-
onde reside: mais de 55% tem uma avaliação estruturas.
positiva ou muito positiva, havendo apenas Tendo como referência a tipologia territo-
10% que se posiciona de forma negativa. Estas rial que utilizámos para a construção da amos-
percentagens resultam da construção de um tra, verifica-se que é no designado suburbano
índice que agrega uma lista de itens correspon- massificado que se encontra um nível mais
dentes a seis questões distintas que compuse- baixo de avaliação, por comparação com o
ram o guião de questionário. Apesar de no ge- urbano qualificado, onde se identifica uma
ral a apreciação ser bastante positiva, os itens maior satisfação com o local de residência (ver
onde se encontra uma menor satisfação refe- figura 2).

12
Desigualdades em tempos de crise: vulnerabilidades habitacionais e socioeconómicas …

Figura 1 – Avaliação do local de residência (%).

Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012

Figura 2 – Índice de avaliação do local de residência por tipologia territorial (%).

Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012

Se à escala do local de residência a aprecia- figura 3)6. Destes, o problema mais referido
ção é geralmente positiva, o mesmo se pode foi a ‘dificuldade em manter a casa adequa-
dizer sobre a identificação de problemas rela-
cionados com as condições de habitabilidade 6
A lista de problemas era composta por estes itens: teto que
do alojamento. De uma lista de seis problemas deixa passar água, humidade nas paredes ou apodrecimento das
janelas ou soalho; luz natural insuficiente num dia de sol; ruído
bem definidos, 63% dos inquiridos declarou sentido no alojamento, vindo dos vizinhos ou da rua; poluição,
que a sua habitação não detinha nenhum des- sujidade, mau cheiro ou outros problemas ambientais na zona
tes. Por seu lado, 15% identificou apenas um causados pelo trânsito ou indústrias; dificuldade em manter a
casa adequadamente aquecida; problemas frequentes de
e os restantes 22% entre 2 a 6 problemas (ver canalização.

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Revista Portuguesa de Estudos Regionais, nº 40

damente aquecida’ (20,7%), seguindo-se ‘teto decresce significativamente para os alojamen-


que deixa passar água, humidade nas paredes tos que se encontram em regime de arrenda-
ou apodrecimento das janelas ou soalho’, que mento ou subarrendamento (45,8%). Embora
afeta 16,1% dos alojamentos, e ‘ruído sentido possa haver aqui um efeito de depreciação
no alojamento, vindo dos vizinhos ou da rua’ relativamente a um património não pertencente
(14,7%). Apesar de representar uma minoria, ao próprio, não há dúvida que é nas casas
não deixa de ser sintomático depreender-se que arrendadas que se encontram as situações de
um quinto dos alojamentos apresentam, segun- maior vulnerabilidade habitacional (de referir
do os seus residentes, problemas de aqueci- que em 35,4% são inventariados mais do que
mento. Estes dados vêm confirmar a noção um problema). Este dado pode ter também a
geral do senso comum sobre alguma má quali- ver com o envelhecimento de muitos destes
dade do nosso parque habitacional que se refle- alojamentos.
te no facto de muitas casas serem frias e/ou Esta última observação é, de certo modo,
húmidas. Uma das variáveis que mais condi- comprovada pelo facto de existir uma maior
cionam o número de problemas identificados proporção de alojamentos em regime de arren-
no alojamento refere-se ao regime de ocupação damento ou subarrendamento nas zonas cor-
(Figura 4). Na verdade, no caso em que a habi- respondentes ao urbano qualificado (48,9%) e
tação é do próprio ou de um familiar, uma ao urbano antigo (61,7%), que representam as
expressiva maioria declara não ter qualquer freguesias mais urbanas e centrais da AML,
tipo de problemas (73,7%). Esta percentagem sobretudo na área norte do Tejo (figura 5). Isto

Figura 3 – Número total de problemas identificados no alojamento (%).

Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012

Figura 4 - Número total de problemas no alojamento segundo o regime de ocupação (%).

Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012

14
Desigualdades em tempos de crise: vulnerabilidades habitacionais e socioeconómicas …

por comparação aos outros territórios onde o porção de problemas: só em 37,5% das habita-
regime de arrendamento e subarrendamento é ções com menos de 60 m2 de área não se iden-
claramente minoritário. Não é portanto de es- tifica qualquer tipo de problema.
tranhar que seja precisamente nestes dois tipos Estabelece-se alguma relação entre a ava-
de território que se encontram as maiores per- liação mais negativa do local de residência e a
centagens relativas a problemas identificados amplitude dos problemas identificados no alo-
no alojamento. Isto é, são áreas onde existe um jamento, como se pode verificar na figura 6.
maior número de alojamentos mais antigos em Esta relação não é de estranhar, já que as con-
regime de arrendamento e que, por isso, apre-
dições de habitabilidade são um pressuposto
sentam maiores debilidades.
básico para a satisfação com a qualidade de
Em termos de dimensão, é nos alojamentos
vida da zona residencial.
mais pequenos que se observa uma maior pro-

Figura 5 - Número total de problemas no alojamento na AML segundo a tipologia territorial (%).

Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012.

Figura 6 - Número total de problemas no alojamento segundo o índice de avaliação


do local de residência (%).

Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012.

5. DESIGUALDADES E VULNE- de vulnerabilidade social que afeta com maior


RABILIDADES: MODELO DE incidência os grupos sociais menos favoreci-
REGRESSÃO LOGÍSTICA dos. Para se medir essa associação é funda-
mental enquadrar variáveis de carácter socioe-
As condições de habitabilidade não resul- conómico que incorporem dimensões de desi-
tam apenas de problemas de ordem física e gualdade. A tipologia de lugares de classe,
arquitetónica, estas são também um indicador designada de ACM, é um indicador consolida-

15
Revista Portuguesa de Estudos Regionais, nº 40

do que já foi testado em inúmeros estudos habitação, continuam a ser em parte uma ques-
como referido antes. No âmbito do inquérito tão de classe, como aliás tem sido defendido
realizado à AML, construiu-se esse indicador a por uma série de autores (e.g. Castells 1973,
partir dos pressupostos metodológicos entre- Pereira 1994). Assim, observa-se que apesar do
tanto consolidados. nível geral de satisfação com o local de resi-
A figura 7 revela precisamente uma distin- dência - decorrente da melhoria geral das con-
ção saliente entre as classes mais favorecidas dições socais e residenciais que o país e a
(EDL e PTE) face às restantes no que diz res- AML conheceram nestas últimas décadas -
peito à identificação de problemas de habitabi- persiste, ainda assim, uma desigualdade no
lidade dos alojamentos. O que significa que o conforto e nas condições físicas dos alojamen-
acesso à habitação, assim como a qualidade da tos, que variam em função da classe social.

Figura 7 - Número total de problemas no alojamento por lugar de classe (%).

Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012.

Como referimos no enquadramento teórico, seja, praticamente um quinto encontra-se numa


as desigualdades são por natureza multidimen- situação eminente de endividamento. Além
sionais detendo na maior parte das situações disso, quase um terço revelou que, face a uma
um caráter sistémico. Na verdade, apesar de despesa extra de 415 euros7, não teria modo de
ser possível autonomizar analiticamente uma pagar sem recorrer a empréstimo ou ajuda
ou outra dimensão de desigualdade, são raros (20% revelou mesmo que não tinha qualquer
os casos em que não se depreendem múltiplas meio para pagar). Sublinhamos, portanto, que a
relações com diferentes aspetos sociais e cultu- vulnerabilidade habitacional é acentuada pela
rais. A questão do acesso ou da qualidade da vulnerabilidade económica, no sentido em que
habitação detém uma importância fundamental grande parte das despesas está relacionada com
na vida das pessoas, que não tem sido devida- a habitação – renda ou pagamento de emprés-
mente estudada pela sociologia das desigual- timo, consumos de água, gás, eletricidade,
dades sociais. No entanto, não é possível redes de televisão, telefone e internet, e ainda
alcançar esse significado identificando apenas algumas despesas extra como a substituição de
uma correlação entre classes e problemas de equipamentos diversos e eletrodomésticos, só
habitabilidade. Como iremos ver, a vulnerabi- para referir uma entre as despesas extras mais
lidade habitacional não pode ser desligada de comuns.
outras vulnerabilidades que, infelizmente, se As figuras 8 e 9 são demonstrativas sobre
têm agravado com a crise económico-financei- a relação de caráter sistémico entre vulnera-
ra que se abateu sobre a Europa e o nosso país bilidades económicas e habitacionais: enquanto
desde há alguns anos. mais de dois terços das pessoas que não decla-
A incapacidade financeira de pagar uma raram pagamentos em atraso não identificaram
despesa extra ou de ter pagamentos em atraso
são indicadores expressivos e objetivos de vul-
7
nerabilidade. Da população inquirida, cerca de Esta quantia corresponde ao valor aproximado da linha de
pobreza em Portugal, calculado tendo como referência 60% da
19% declarou deter pagamentos em atraso. Ou mediana do rendimento disponível por adulto equivalente.

16
Desigualdades em tempos de crise: vulnerabilidades habitacionais e socioeconómicas …

qualquer problema no alojamento, esta propor- não uma despesa extra: 75% dos que podem
ção desce para menos de 50% no caso dos que pagar não identificaram qualquer problema de
declararam ter problemas de habitabilidade. A habitabilidade, por comparação a apenas
disparidade ainda é mais saliente quando se 38,8% dos que não podem pagar e responde-
compara os inquiridos que poderiam pagar ou ram no mesmo sentido.

Figura 8 - Número total de problemas no alojamento segundo pagamentos em atraso (%).

Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012.

Figura 9 – Número total de problemas no alojamento segundo a capacidade para pagamento de despesa
extra sem recorrer a empréstimo (%).

Fonte: PTDC/ATP-EUR/5023/2012.

Embora não detenhamos dados que reme- e habitacional. Utilizando a tipologia definida
tam para uma evolução diacrónica destes indi- pelo sociólogo Therborn (2006), podemos
cadores, é de crer que estas disparidades se dizer que se estabelece uma relação entre dis-
tenham acentuado com o decorrer da atual tintas componentes das desigualdades de
crise económico-financeira. De qualquer mo- recursos. Tendo em conta a persistência estru-
do, é muito claro que estes se relacionam com tural das desigualdades em Portugal, como se
dimensões estruturais de desigualdade, que referiu no ponto teórico, não será muito abusi-
teimam em persistir na sociedade portuguesa. vo avançar com a hipótese de que esta relação
Como foi demonstrado ao longo da análise detém um caráter sistémico que pode estar a
anterior, verifica-se uma relação entre diferen- ser agravado com o impacto da atual crise eco-
tes tipos de vulnerabilidade social, económica nómico-financeira. Para esta hipótese ser ple-

17
Revista Portuguesa de Estudos Regionais, nº 40

namente testada, teríamos de efetuar uma aná- logística confirma a análise estatística anterior,
lise diacrónica sobre as variáveis identificando onde se salientou precisamente que as questões
a sua evolução nos últimos anos. Dado que não de ordem habitacional representam um dos
dispomos dessa informação, visto que se está a aspetos mais determinantes que estão associa-
trabalhar sobre dados de um inquérito aplicado dos a outros tipos de vulnerabilidade, nomea-
somente em 2013/14, é possível, de qualquer damente de ordem financeira. Aliás, o seu efei-
modo, construir um pequeno modelo estatístico to de predição é mais elevado quando compa-
do qual se poderá inferir algumas tendências rado com outras varáveis independentes como,
relacionais. por exemplo, o uso habitual de transporte par-
Para tal, iremos elaborar uma regressão ticular nas deslocações quotidianas. Na verda-
logística binária na qual se tentará medir a de, se este uso representa, de facto, a posse de
predição de uma série de varáveis independen- um recurso privilegiado perante a mobilidade
tes sobre a capacidade de assegurar uma des- diária, ele pode, simultaneamente, significar
pesa extra no valor de 415 euros. Ou seja, ten- em muitos casos um constrangimento devido à
tar-se-á perceber o sentido e a determinação maior carência de transporte público na área de
estatística entre a posse desigual de um conjun- residência, e não uma opção que derive de uma
to de recursos sobre a vulnerabilidade monetá- situação económico-financeira mais vantajosa.
ria declarada, na impossibilidade de se fazer Se encararmos os efeitos de predição como
face a uma dada despesa. De maneira a poten- tendências, estes resultados tornam-se particu-
ciar as possibilidades estatísticas e analíticas, larmente preocupantes no atual contexto, na
procedemos a uma dicotomização das variá- medida em que sugerem que, com a continui-
veis utilizadas de forma a captar as polaridades dade da crise e a consequente probabilidade de
mais vincadas8. aumentar a incapacidade de fazer face a despe-
O modelo com os diversos preditores é sas, pode depreender-se a prazo um agrava-
estatisticamente significativo para prever a mento nas condições de habitabilidade que
capacidade de pagar uma despesa extra e cerca devido a dificuldades financeiras não poderão
de 27% (Nagelkerke de 0,274) da variação ser devidamente resolvidas pelos particulares.
sobre essa capacidade é explicada pelo mode- Ou seja, o património habitacional da AML
lo9. Em termos de predição, este lê-se da pode conhecer uma degradação progressiva se
seguinte forma: o coeficiente de regressão as atuais condições socioeconómicas dos seus
(logged odds) da capacidade para pagar uma residentes não melhorarem entretanto. Isto é
despesa extra cresce 0,860 nas pessoas que particularmente notório nos alojamentos em
vivem em casa própria e decresce -1,188 nos regime de arrendamento ou sub-arrendamento.
que identificam problemas de habitabilidade O efeito preditor também é preocupante no que
nos seus alojamentos e assim sucessivamente diz respeito a quem está na situação de desem-
(ver quadro 2). pregado, mais exposto às vulnerabilidades
Tendo em conta estes parâmetros estatísti- económico-financeiras, em detrimento das
cos, depreende-se um efeito preditor entre a pessoas que detêm ensino superior (menos
posse diferenciada de recursos e a vulnerabili- vulneráveis ao desemprego, apesar dos sinais
dade face a despesas inesperadas. Isto é parti- de esbatimento desta garantia com a atual cri-
cularmente visível na relação determinada se) e pertencem às classes mais favorecidas
pelos fatores habitacionais (condições de habi- (EDL e PTE). Dito de outro modo, são as pes-
tabilidade e posse de casa própria pelo próprio soas menos escolarizadas e as que se encon-
ou familiar). Isto é, o modelo de regressão tram no desemprego aquelas que não só sofrem
mais com o impacto da crise, como dificilmen-
8
te conseguirão sair de um ciclo regressivo de
As variáveis utlizadas foram dicotomizadas: capacidade para
pagar despesa extra com o valor 1 e 0 para os restantes; casa
vulnerabilidades acumuladas10.
própria; problemas de habitabilidade; pertença às classes dos
EDL ou PTE; tem ensino superior; situação de desempregado;
uso habitual de automóvel.
9
O modelo classifica corretamente 73% dos inquiridos e não se
encontraram entre as variáveis problemas de multicolinearidade
(VIF <5 e Tolerance >0,2). Para além disso, o Omnibus Tests
apresenta um resultado <0,001. Quando às medidas de análise
dos resíduos, não existem valores acima de 1 na medida Cook’s
distance; o Leverage values não apresenta valores 2 a 3 vezes
10
superiores à média (0,004666); e não existem valores absolutos Este dado tem sido comprovado por outras análises (cf. INE,
superiores a 1 nos DfBeta(s). 2014b).

18
Desigualdades em tempos de crise: vulnerabilidades habitacionais e socioeconómicas …

Quadro 2 – Capacidade para pagar despesa extra: fatores determinantes (regressão logística).
Capacidade para pagar
Variáveis preditoras despesa extra
Coeficiente de regressão (Odds ratio)
Casa própria 0,860**
Problemas de habitabilidade -1,188**
EDL e PTE 0,729**
Ensino superior 0,691**
Uso de automóvel 0,413*
Desempregado -,828**
Constante 0,221
X2 model 334,580
Nagelkerke R2 0,274
**< 0,001 *<0,01
Fonte: Autores

6. CONCLUSÃO pertencem às classes sociais mais favorecidas.


Aliás, como tem sido demonstrado por diver-
Na linha de investigações desenvolvidas sos estudos, o elevado nível de escolaridade
anteriormente, este artigo pretendeu demons- ainda representa em Portugal uma proteção
trar o caráter relacional e sistémico das desi- face a situações de maior vulnerabilidade
gualdades, incluindo, para o efeito, alguns social. Como o modelo estatístico assentou
recursos habitualmente não contemplados no numa lógica de predição (e não de causalidade)
estudo destas matérias e que tendem a focar e a das variáveis independentes sobre a incapaci-
realçar a questão da distribuição assimétrica dade de pagar despesas eventuais, depreende-
dos rendimentos. Admitindo a importância do se a prazo um agravamento destas tendências
rendimento como uma dimensão incontorná- se a crise continuar a provocar uma precariza-
vel, considerámos no entanto outras compo- ção acelerada das condições de vida, como
nentes fundamentais, como é o caso dos pro- vem acontecendo nos anos mais recentes em
blemas residenciais e de habitabilidade no certos grupos sociais.
contexto territorial da AML, tanto no que diz Neste artigo aflorámos a questão da habita-
respeito ao local de residência, como às condi- ção como tema central no estudo sobre desi-
ções físicas dos alojamentos. gualdades. Como o próprio subtítulo do artigo
Por um lado, constatou-se que apesar da sugere, as desigualdades em tempos de crise
satisfação geral em relação ao sítio onde resi- são desigualdades acentuadas em geral e agra-
dem, uma parte importante dos inquiridos refe- vadas nas condições de habitação em particu-
re a existência de problemas de habitabilidade lar. No entanto a nossa análise teve por base
que afetam a sua qualidade de vida. Verificou- um conjunto restrito de variáveis que resulta-
se, por outro lado, uma relação entre este tipo ram da aplicação de um inquérito por questio-
de vulnerabilidade e a dificuldade em fazer nário aos residentes da AML. Esta limitação
face a despesas de um determinado valor. O não obstaculizou uma análise rigorosa e atenta
modelo estatístico de regressão logística apre- à recente conjuntura social e económica. De
sentado no final confirma, em parte, essa rela- qualquer modo, trata-se de um eixo de investi-
ção entre as desigualdades de recursos e um gação que necessita de ser incrementado no
conjunto de vulnerabilidades cumulativas. futuro, de maneira a compreender melhor os
Deste modo, surge como preocupante a situa- mecanismos relacionais e sistémicos, produto-
ção de vulnerabilidade dos desempregados em res de vulnerabilidades e de desigualdades
detrimento dos que detêm curso superior e/ou sociais.

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Revista Portuguesa de Estudos Regionais, nº 40

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