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Avaliação das metodologias brasileiras

de vulnerabilidade socioambiental
como decorrência da problemática
urbana no Brasil
Analysis of the Brazilian assessment methodologies of socio-
-environmental vulnerability as a result of urban problems in Brazil
Mônica Maria Souto Maior
Gesinaldo Ataíde Cândido

Resumo Abstract
O artigo intenta refletir e analisar as principais The article intends to reflect on and analyze the
metodologias de avaliação da vulnerabilidade main methodologies to assess socio-environmental
socioambiental propostas e aplicadas em con- vulnerabilit y that have been proposed and
textos específicos no Brasil, através de um en- applied to specific contexts in Brazil, through
saio teórico-­comparativo utilizando um conjunto a comparative theoretical essay using a set of
de critérios de avaliação retiradas das variáveis assessment criteria extracted from the variables
existentes nos diversos modelos pesquisados. Os existing in the diverse surveyed models. The
resultados apontam que os modelos foram contri- results show that the models have contributed
butivos para o avanço dos estudos da vulnerabili- to the advancement of socio-environmental
dade socioambiental no Brasil, possibilitando um vulnerability studies in Brazil; in addition, they
diagnóstico preciso dos fatores que contribuem have enabled an accurate diagnosis of the
para acentuar e mitigar o fenômeno. No entanto, factors that contribute to intensify and mitigate
dadas a dinâmica e complexidade do processo de the phenomenon. However, given the dynamics
urbanização e suas implicações, se fazem necessá- and complex nature of the urbanization process
rias constantes adaptações das metodologias cria- and its implications, it is necessary to constantly
das, assim como a criação de novas metodologias adapt the established methodologies, as well
que consigam traduzir fidedignamente a dinâmica as to create new methodologies that are able to
e complexidade da urbanização, sobretudo para as translate faithfully the dynamics and complexity of
comunidades mais carentes. urbanization, particularly for poor communities.
Palavras-chave: processo de urbanização; vulne- K e y w o r d s : urbanization process; socio-
rabilidade socioambiental; metodologias; avaliação environmental vulnerability; methodologies;
e indicadores. assessment and indicators.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 31, pp. 241-264, jun 2014
http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2014-3111
Mônica Maria Souto Maior, Gesinaldo Ataíde Cândido

Introdução Assim, a vulnerabilidade pode ser entendida


como um processo gerado por diversos fatores
socioambientais, os quais, em conjunto, fragili-
No último século, houve uma diminuição dos zam pessoas, gerando consequências desastro-
índices de pobreza na América Latina, mesmo sas como perdas materiais e/ou de vida.
assim os modelos que estudam a população Fundamentada em tais teorias, o termo
em vulnerabilidade continuam sendo instru- “vulnerabilidade socioambiental” começou a
mentos eficazes de análise da situação dos ex- ser construído entre as décadas de oitenta e
cluídos latino-americanos, porque são capazes noventa, quando pesquisadores a exemplo de
de identificar as características de comporta- D´Ercole (1994), Blaikie et al. (1994), Fournier
mento individuais e as mudanças repentinas de (1995), Cardona (1996), Hewitt (1997), Moser
ascensão e declínio social, as quais vão além (1998), Kaztman et al. (1999), Gonzáles et al.
das questões ligadas à renda. (1999), dentre outros, avaliaram a importância
A preocupação dos estudos que envol- do significado das condições sociais na incidên-
vem a vulnerabilidade socioambiental, em con- cia, extensão e distribuição das ameaças natu-
texto urbano latino-americano, é oferecer um rais. Eles mostraram que a perda e a sobrevi-
painel sobre os fatores socioambientais que vência estão relacionadas muito de perto com
influenciam e são influenciados pela fixação os padrões e as variações da qualidade de vida
da população pobre em áreas de risco, as quais material da sociedade, tanto no que se refere
podem gerar danos. Dessa forma, a vulnerabi- à ocorrência de danos e tipos estabelecidos, e
lidade socioambiental urbana está vinculada, onde, como e especialmente a quem afetam.
também, aos fenômenos de adensamento po- Segundo Cardona (1996), os danos ma-
pulacional, à segregação espacial urbana, aos teriais dependem especialmente do uso da ter-
processos de exclusão social e às injustiças ra, padrões de assentamento e da concepção
ambientais, processos ligados diretamente ao e localização de estruturas construídas, e esses
aumento demográfico e à falta de políticas pú- danos são desproporcionalmente concentrados
blicas eficazes. em determinados grupos etários, de acordo
Especificamente no contexto geográfi- com sexo ou ocupação, níveis de renda e da
co brasileiro, desde o século passado, se tem falta de voz política do povo.
presenciado um aumento demográfico urbano Na América Latina e nos países em de-
substantivo, o que traz consequências diretas senvolvimento, devido a uma estrutura políti-
na estruturação e ordem das principais cidades ca e econômica em constante crise, a ideia de
brasileiras, desregulando o sistema socioam- estabilidade não é observada. Essa conjuntura
biental, expondo a população citadina a uma dificulta a geração de novas frentes de traba-
situação crescente de vulnerabilidade, princi- lho, aumentando a instabilidade socioeconômi-
palmente nas áreas centrais de preservação ou ca das famílias, associando a vulnerabilidade à
nas periféricas, onde os fatores de riscos am- ideia da falta de oportunidades existente dian-
bientais se tornam desastrosos diante da insta- te do desemprego, da precariedade do traba-
bilidade socioeconômica da população pobre. lho, da pobreza, da falta de proteção social e

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da fragilidade das relações sociais, problemas as metodologias brasileiras que estudaram o


que afetam a todos de um modo geral. fenômeno da vulnerabilidade socioambiental
Adicionados aos problemas citados an- até o ano de 2010; 2) identificação dos fato-
teriormente, as cidades brasileiras apresentam res estudados em cada metodologia, conside-
uma concentração da população de baixa ren- rando as dimensões e indicadores; 3) compila-
da de forma desigual, numa mesma extensão ção dos indicadores, buscando identificar sua
geográfica, onde se observa a ocorrência de reincidência nos modelos; 4) comparação das
eventos naturais como enchentes, desliza- principais características; e 5) reflexões sobre a
mentos, desmoronamentos e/ou vendavais, profundidade de abrangência dos modelos pa-
que causam perdas e danos de toda ordem ra o contexto brasileiro. Com isso, foi possível
(Deschamps,­ 2004). identificar uma série de variáveis similares e
Diante deste quadro, diversos pesquisa- diferentes utilizadas para situações e contextos
dores brasileiros vêm desenvolvendo modelos diferenciados e, a partir disso, constatando-se
para estudar a vulnerabilidade socioambiental: também que tais variáveis poderiam ser utiliza-
Deschamps (2004; 2006), Hogan (2007), Alves das como marco ordenador para novos estudos
(2010a), Almeida (2010) e Alves et al. (2010b), e pesquisas relacionados ao tema vulnerabili-
os quais trabalham as famílias expostas aos ris- dade socioambientais de comunidades em es-
cos socioeconômicos e ambientais. Esses cinco paços urbanos.
modelos brasileiros trazem diferentes ferramen- Além deste conteúdo introdutório, o ar-
tas de abordagem, e cada uma delas foi aplica- tigo apresenta, nos seus demais itens, uma
da considerando fatores ambientais específicos fundamentação teórica sobre vulnerabilidade;
para cada espaço geográfico estudado. os resultados, considerando os aspectos rela-
Nessa perspectiva, busca-se, por meio cionados aos conceitos e teorias sobre as me-
deste ensaio teórico, comparar essas cinco me- todologias da vulnerabilidade socioambiental
todologias, utilizando-se os seguintes critérios estudadas; comparação das metodologias; e as
de análise: características do método, campo conclusões geradas por este estudo.
geográfico de atuação, dimensões mensuradas,
variáveis trabalhadas, tratamento dos dados
e vínculos com grupos de pesquisa, os quais
foram escolhidos para introduzir uma análise
Fundamentação teórica
mais profícua das aplicações e abrangência dos
indicadores utilizados para a realidade socio- Vulnerabilidade
ambiental brasileira.
Em termos metodológicos, o artigo pode O conceito de vulnerabilidade está correlacio-
ser classificado como um ensaio teórico for- nado a uma construção teórica, anterior a ela,
mal, para cujo estudo, depois da identificação definida como exclusão social, que serviu de
dos principais estudos e pesquisas realizados referência para a caracterização de situações
no Brasil, foi estabelecida a seguinte sequên- sociais-limite, de pobreza ou marginalidade,
cia metodológica: 1) levantamento de todas e para a consequente formulação de políticas

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públicas­voltadas para o enfrentamento destas ruptura. Afirma ainda que não somente a falta
questões (Dieese, 2007; Busso, 2005; Lavinas, de recursos materiais define os grupos como
2002; Castel, 1997). vulneráveis, mas também a instabilidade de
Dessa forma, é importante ressaltar a se- suas­relações sociais, que os fragiliza.
melhança espacial, histórica e conceitual que Kaztman (1999; 2000) analisa a vulne-
envolve a interligação entre esses dois termos. rabilidade a partir da existência, ou não, por
A exclusão social teve sua origem na França, no parte dos indivíduos ou das famílias, de ativos
século XX, e se estendeu a outros países euro- disponíveis e capazes de enfrentar determina-
peus para ressaltar situações que iam além do das situações de risco. Ele trabalha o conceito
mercado de trabalho e que representavam rup- de capital para os grupos vulneráveis, que pode­
turas de vínculos sociais e perdas da base de capacitá-los a aproveitar as oportunidades
sustentação da reprodução da vida: a casa, a disponíveis em distintos âmbitos socioeconô-
vizinhança e a família (Castel, 1997). micos, e que influencia o estado de respostas
Diante dessa conjuntura e como parte de diante das situações de risco.
um mesmo campo conceitual, há os que rela- Observa-se que os estudos de Kaztman­
cionam a perda do vínculo social como resul- não consideram as estruturas de oportuni-
tante da perda de solidariedade e aqueles que dades como um fator constante, ao contrá-
a vinculam à negação dos direitos sociais esta- rio, essas estruturas variam de acordo com
belecidos. Segundo Kowarick (2003), o interes- a área geo­g ráfica e com os fatores tempo-
se pelo campo da exclusão na Europa surge em rais históricos. Ele incorpora na sua ideia de
virtude de uma situação de mudanças tecnoló- ativos /vulnerabilidade /estrutura de opor-
gicas, reestruturação econômica e desmantela- tunidades o conceito de mobilidade social,
mento do estado de bem-estar social, em que o como fator determinante das situações de
estado de exclusão caracterizaria um conjunto ascensão e declínio da condição de vulne-
de situações marcadas pela falta de acesso aos rabilidade. Segundo o Dieese (2007), essa
meios de vida e que afetaria a plena integração noção­de vulnerabilidade­social, que conside-
social até então existente. ra a relação­ativos/vulnerabilidade/estrutura
Segundo Castel (1997), para se chegar de oportunidades, tem sido adotada para a
numa situação de exclusão social, é necessário construção de indicadores sociais mais am-
passar por três estágios distintos: uma etapa plos, não se restringindo à delimitação de
inicial de integração social, em que se teria uma determinada linha de pobreza.
uma situação de estabilidade econômica e Blaikie et al. (1994) afirma que a vulne-
social; um momento crítico de vulnerabilidade rabilidade está diretamente associada à ca-
caracterizada pela precariedade do trabalho e pacidade de um grupo ou família para resistir
a fragilidade dos apoios proporcionados pelas a efeitos nocivos e perigo e de se recuperar
relações familiares e sociais; e, finalmente, a facilmente. Assim, a vulnerabilidade envolve
chegada ao estágio final – o de exclusão so- uma combinação de fatores que determina o
cial. Nessa visão, a vulnerabilidade identifica- grau em que a vida de alguém ou de um grupo
ria a fragilidade do vínculo social antes de sua é colocada em risco por um evento discreto e

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identificável (ou uma série de tais eventos), na recursos­humanos no seio das famílias, alimen-
natureza e na sociedade. tação insuficiente e de má qualidade, alta per-
Segundo Hewitt (1997) e Lavell (2000), meabilidade aos serviços sociais, controle de-
as ameaças naturais, a destruição e sua distri- ficiente aos cuidados de saúde, falta de redes
buição social e territorial podem tornar o even- de reciprocidades e contatos, são alguns dos
to físico como um ponto de referência, mas, no fatores que determinam o grau dessa vulnera-
final, a perda é determinada pelas diferenças bilidade. Segundo Cardona (1996), no contexto
de níveis de exposição e vulnerabilidade da urbano, as zonas de riscos coincidem com áreas­
população, infraestrutura e produção. Devido a que apresentam condições de marginalidade
essa enorme variedade entre diferentes espa- ou subnormalidade, e seus habitantes têm ní-
ços e unidades sociais, será consequentemente veis de renda que impossibilitam seu acesso a
diferenciada a capacidade dos indivíduos em se instituições de crédito para habitação, quando
recuperar, porque, mesmo dentro de um único esse benefício de crédito existe.
nível de unidade espacial ou social, serão en- Essas teorias abordadas mantêm uma
contrados diferentes níveis de danos que refle- conexão entre o ambiental e o social, as quais
tem essa estruturação heterogênea da vulnera- exercem intrínseca influência no meio urbano
bilidade social. sobre uma comunidade, grupo social ou fa-
D´Ercole (1994) e Blaikie et al. (1994) mílias e, assim, essa conexão socioambiental
estabelecem uma relação de causa e efeito influencia o modo de resposta diante de situa-
gerada entre a natureza e a sociedade, reco- ções que geram vulnerabilidade.
nhecendo que os fatores de risco estão asso- D’Ercole (1994) afirma que a análise da
ciados a um certo grau de exposição a uma vulnerabilidade na cidade não pode deixar de
situação crítica, natural ou social, que gera contar com uma abordagem sistêmica que in-
vulnerabilidade em determinados grupos; es- clua: fatores socioeconômicos (êxodo rural e
sas contextualizações incorporam ao fenômeno especulação imobiliária), fatores psicossocio-
da vulnerabilidade uma perspectiva temporal lógicos (memória de risco, percepção e cultura
de futuro, quando estabelecem que os grupos de risco), fatores ligados à cultura e à história
mais vulneráveis são também aqueles que pos- das sociedades expostas (autoconstrução, lan-
suem mais dificuldades para reconstruir suas çamento de dejetos), fatores técnicos (preven-
vidas após algum desastre; consequentemente, ção), fatores funcionais (gestão de crise) e fato-
esses mesmos grupos se tornarão mais vulne- res institucionais (gestão de risco).
ráveis aos efeitos de desastres futuros. Na cidade, alguns desses fatores são
Kaztman (1999) concorda com esses elementos inerentes ao crescimento urbano,
dois autores quando considera que uma má e fortemente integrados à dinâmica urbana,
resposta a um evento potencialmente danoso principalmente em países em desenvolvimento,
está relacionada ao gradiente de vulnerabili- onde há ausência de controle, má qualidade da
dades sociais e econômicas dos indivíduos ou infraestrutura, falta de planejamento e legisla-
grupos diante do evento, e que suas condições ção urbana ineficiente, permitindo a expansão
precárias de habitação, inadequados ativos de urbana para áreas de preservação e/ou de risco.

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Vulnerabilidade socioambiental riscos­e ameaças dentro do seu sistema. Segun-


do Fournier (1985), a diferença fundamental
Segundo Deschamps (2004), Alves et al. (2008) entre o risco e a ameaça é que a ameaça está
e Almeida (2010), o quadro teórico, no qual se relacionada com a probabilidade de que se ma-
insere a vulnerabilidade socioambiental urba- nifeste um evento natural ou um evento pro-
na, contempla a sobreposição (coexistência es- vocado, enquanto o risco está relacionado com
pacial) dos processos de expansão urbana en- a probabilidade de que se manifestem certas
volvendo tanto a dispersão espacial de grupos consequências, que estão estreitamente rela-
de risco social, degradação ambiental e falta de cionadas, não só com a extensão da vulnera-
serviços de infraestrutura urbana. Dessa forma, bilidade da exposição dos elementos sujeitos,
não se pode tratar da vulnerabilidade socioam- mas ainda com a certeza que esses sujeitos
biental sem considerar a expansão urbana pa- têm de ser afetados pelo acontecimento. Nesse
ra áreas periféricas, relacionada à procura por contexto, a vulnerabilidade pode ser entendida
habitação em áreas com baixo valor da terra e como a predisposição intrínseca de um sujeito
sem infraestrutura. Essa dinâmica da expansão ou elemento a sofrer danos, devido à possibi-
urbana, para regiões periféricas e periurbanas, lidade de ações externas e, portanto, sua ava-
estabelece uma condição de ocupação dos liação contribui fundamentalmente para o co-
pobres e miseráveis de residir em áreas com nhecimento do risco por meio de interações do
más condições urbanísticas e de infraestrutu- elemento suscetível com o ambiente perigoso
ra – sem abastecimento de água tratada, sem (Cardona, 1996).
saneamento, sem coleta de lixo, etc. –, tais co- Cutter (2003) afirma que está embu-
mo: terrenos com alta declividade ou próximos tido em toda a discussão sobre a ciência da
a cursos d’água e de lixões, geralmente áreas vulnerabilidade socioambiental o requisito
públicas e/ou de preservação. Os índices de de antecipar surpresa, capturar a incerteza e
pobreza quantificam o grau da exclusão que adaptar-se às mudanças, salientando que se
fatores socioeconômicos impõem em um deter- precisa investir ainda muito no conhecimento
minado lugar a alguns grupos. sobre essa ciência, havendo a necessidade de
O nível de vulnerabilidade em que as fa- conectá-la a um campo teórico mais amplo e
mílias estão expostas aos riscos está vincula- a uma arena de ação política comprometida
do à capacidade de respostas e ajustes dian- com a justiça social e ambiental. Ela ainda
te das condições adversas ao meio, seja pela promove a necessidade de uma confluência
capacidade de mobilizar ativos para enfrentar dos conhecimentos sobre as dinâmicas so-
as adversidades, por pouco capital humano ou ciais e naturais, condição imprescindível para
pouco acesso à informação, ou seja, pelas pou- um diagnóstico e um prognóstico. Assim, a
cas habilidades sociais básicas, com falta de re- ciência da vulnerabilidade evoca uma visão
lações pessoais e com pouca capacidade para multidimensional associada a seus fenôme-
manejar recursos (Deschamps, 2006). nos geradores nos processos de distribuição,
A vulnerabilidade deve considerar algu­ gestão e experiências dos riscos, ameaças e
mas dimensões que subsidie as análises dos vulnerabilidades.

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Diante do que se expôs sobre as peculia­ modelos brasileiros, para conhecer o quadro da
ridades geográficas, temporais, socioeconô- sistemática de avaliação da vulnerabilidade so-
micas e dos fenômenos a serem estudados, cioambiental para a realidade brasileira.
pesquisadores brasileiros como Alves (2008),
Deschamps­(2004; 2006), Almeida (2010) e
Silveira­(2010) trabalham com as seguintes
dimensões em relação à vulnerabilidade das
Apresentação e análise
famílias expostas aos riscos num contexto de
dos resultados
expansão urbana: econômicos, sociais e am-
bientais. Os autores ainda descrevem caracte- Apresentação das metodologias
rísticas demográficas, que devem ser conside- estudadas
radas na unidade doméstica e que tendem a
acentuar­a vulnerabilidade: estrutura familiar, Nos meios científicos brasileiros, o estudo da
ciclo de vida e aspectos demográficos. Nesse vulnerabilidade socioambiental é tratado em
contexto social, as indagações partem da ne- âmbito local, identificando grupos populacio-
cessidade de resposta sobre quais os elemen- nais submetidos a um alto grau de risco em
tos que mais contribuem para a vulnerabilida- relação a desastres específicos de países em
de social e se esses elementos afetam de for- desenvolvimento. Nos últimos dez anos, as
ma homogênea os diferentes grupos sociais. pesquisas avançaram, e foram criadas e aper-
No contexto ambiental, os principais aspectos feiçoadas metodologias com o duplo objetivo
considerados por esses autores são os relacio- de entender como o processo de adensamento
nados à infraestrutura urbana, considerando populacional e expansão urbana influenciava e
os danos que sua falta pode trazer em termos influencia a situação de risco de forma desigual
de saúde e de qualidade de vida. a grupos populacionais específicos. Dentre elas,
Os estudos que abarcam a vulnerabilida- cinco se destacam por sua qualidade metodo-
de buscam contribuir para avaliação das dife- lógica, pelo impacto gerado e pelo campo de
renças socioambientais urbanas, porque abran- pesquisa aberto nos meios científicos.
gem todo o sistema atingido pelo adensamento Dentre os modelos analisados todos
populacional. Dessa forma, conhecer os mode- partem do método dedutivo, que faz uso do
los utilizados, suas ferramentas e seu conjunto raciocínio, a partir de fatos e indícios, para ob-
de indicadores, pode apontar a estreita relação ter uma conclusão a respeito de determinadas
entre a segregação social urbana, o sistema de premissas. No caso da vulnerabilidade socio-
infraestrutura urbana e o processo de adensa- ambiental, os níveis de risco e vulnerabilida-
mento. Esse conhecimento servirá para vislum- de são estudados tomando por base a identi-
brar soluções específicas em cada localidade, ficação de relações estatísticas significativas
porque as cidades apresentam problemas espe- dentre um conjunto de potenciais indicadores,
cíficos diante do fenômeno de transbordamento estabelecendo relações com uma proposição
urbano. Sendo assim, se faz necessário conhe- geral para, a partir de raciocínio lógico, chegar
cer os procedimentos adotados­em cada um dos à verdade daquilo que se propõe.

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Todos os modelos usam um mesmo pro- da população, considerando estudos anterio-


cedimento metodológico, baseado em dados res baseados no Censo Demográfico do IBGE
do IBGE e da sobreposição cartográfica dos ris- 2000, que já haviam determinado as áreas de
cos ambientais com os riscos sociais distribuí- alta vulnerabilidade social (para fins deste es-
dos no espaço urbano estudado, utilizando a tudo as áreas de baixa vulnerabilidade social
análise multivariada, correlação de indicadores foram descartadas). Em seguida, foi feito um
(matriz de correlação de Pearson) – Método de cruzamento dessa população com as áreas­
agrupamento não hierárquico das k-médias ou de alta e baixa vulnerabilidade ambiental,
método do núcleo de Kernel. considerando nesta dimensão o tipo de uso
do solo urbano como: assentamentos precá-
rios ou não, favelas, conjuntos habitacionais,
Modelo de Alves residencial consolidado, áreas urbanizadas e
loteamentos irregulares. Em seguida, fez-se
A pesquisa de Alves et al. (2010a) foi resulta- o cruzamento dos dados através de análise
do de um projeto desenvolvido em parceria quantitativa – em termos de área e percenta-
com o Centro de Estudos da Metrópole (CEM – gem de área – da inserção da população de
Cebrap) e a Coordenadoria de Observação da alta vulnerabilidade social nas áreas de baixa
Terra do Instituto Nacional de Pesquisa Espa- e alta vulnerabilidade ambiental.
ciais (OBT-Inpe). O objetivo do trabalho é fazer Os resultados são apresentados num
uma análise, em escala intraurbana, das inter- quadro que mostra uma classificação tipoló-
relações entre processos de expansão urbana gica de uso do solo urbano em três tipos: as-
e situações de vulnerabilidade socioambiental sentamentos não precários – constituído de
do distrito de Cidade Tiradentes e seu entorno, conjunto habitacional e residencial consolida-
no extremo leste do município de São Paulo. do; assentamentos precários – constituído de
Desenvolvida no período de 2000 a 2006, favelas e loteamentos irregulares; e áreas ur-
considerando as dimensões sociais e ambien- banizadas – constituídas de indústrias, comér-
tais das dinâmicas de urbanização que estão cios e instituições. Essas áreas são classificadas
ocorrendo na região hiperperiférica metropoli- percentualmente e em número de quilômetros
tana de São Paulo, o foco da pesquisa recai nos quadrados, em dois tipos de vulnerabilidade
processos de expansão urbana e nas situações socioambiental: baixa e alta.
de vulnerabilidade socioambiental, tendo como O diagnóstico é feito pela comparação
pressuposto que a presença de populações de evolutiva da mesma área em períodos diferen-
baixa renda em áreas sem infraestrutura, ser- tes, baseado nas percentagens do crescimen-
viços urbanos e com risco de degradação am- to de assentamentos não precários, precários
biental podem gerar novas situações de vulne- e da área urbanizada, confrontados com as
rabilidade socioambiental. áreas­de baixa e alta vulnerabilidade ambien-
A metodologia utilizada para o desenvol- tal, sendo considerada a mais crítica aquela
vimento da pesquisa partiu do levantamento que apresenta um crescimento de assentamen-
cartográfico das áreas de risco socioeconômico tos precários em áreas de alta vulnerabilidade

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ambiental. Os resultados são visualizados em janela “b” que define a vizinhança de “x” e os
mapas cartográficos. pontos que pertencem à estimação, ou seja, é
uma técnica de análise espacial que se baseia
na criação de superfícies de densidade.
Metodologia de Alves Essa estimativa é apropriada para posi-
ções de dados individuais; entretanto, pode-se
A pesquisa de Alves et al. (2010b) foi desen- adotar esta técnica se o interesse é mostrar re-
volvida, no contexto urbano do Litoral Paulis- giões menos fragmentadas de um determinado
ta, formada de 16 municípios, para identificar evento ou conjunto de eventos (Alves, 2010b).
áreas com alta vulnerabilidade às mudanças O método pode ser descrito da seguinte
climáticas, permitindo assim a construção de forma: se “s” representa uma localização qual-
indicadores em escala desagregada, que repre­ quer numa região “R” e “s1”, ..., “sn" são as
sentem as dimensões da vulnerabilidade – sus- localizações dos “n” eventos observados, en-
ceptibilidade e exposição ao risco ambiental – tão a intensidade λ(s), é estimada por:
com a integração de dados socioeconômicos,
demográficos e ambientais. A pesquisa parte
da hipótese de que os problemas recorrentes­,
associados a eventos extremos causados pe- em que “k” é uma função de densidade biva-
la mudança climática, estão relacionados a riada escolhida, conhecida como Kernel, e T o
ocupa­ç ões irregulares em encostas ou nas raio de influência. Para isso, foi considerada ca-
margens dos corpos de água, falta de abasteci- da unidade de setor censitário como unidade
mento de água potável para toda a população de análise, na qual foi estimada a densidade
e falta de saneamento básico. de eventos segundo o centróide de cada setor
A pesquisa explora a relação entre popu- censitário. Assim, a distribuição de eventos foi
lação e meio ambiente, buscando a identifica- transformada em uma superfície contínua de
ção e caracterização das áreas de maior risco e vulnerabilidade socioambiental no litoral pau-
dos grupos populacionais mais vulneráveis às lista, onde as áreas mais vulneráveis são indi-
mudanças climáticas nas áreas urbanas, utili- cadas pelas zonas de cores mais escuras nos
zando conjuntos específicos de variáveis socio- mapas cartográficos.
econômicas e ambientais.
O procedimento estatístico adotado co-
mo técnica de análise foi baseado na estima- Metodologia de Almeida
tiva da densidade de Kernel, que é um método
não paramétrico para estimação de curvas de O estudo desenvolvido por Almeida (2010) tra-
densidades, em que cada observação é ponde- ta de pesquisa que explora as vulnerabilidades
rada pela distância em relação a um valor cen- socioambientais de rios urbanos na Região Me­
tral, o núcleo. A ideia é centrar cada observação tropolitana de Fortaleza/CE. Esse estudo parte
“x” onde se queira estimar a densidade, uma da hipótese de que há uma coincidência entre

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espaços susceptíveis a processos naturais pe- explicam um percentual representativo da va-


rigosos, neste caso inundações, com espaços riabilidade total das variáveis em estudo. Nes-
da cidade que apresentam os piores indicado- ta pesquisa, os resultados da análise fatorial
res sociais, econômicos e de acesso a serviços basearam-se na matriz de correlação entre as
e infraestrutura urbana. Teve como objetivo respostas dos itens.
analisar os riscos e as vulnerabilidades socio- Após a determinação das cargas fato-
ambientais de rios urbanos no Brasil, tendo a riais de cada indicador, foi estimado para ca-
bacia hidrográfica do Rio Maranguapinho, lo- da setor censitário o valor correspondente de
calizada na Região Metropolitana de Fortale- cada fator, sendo possível verificar a situação
za – RMF, Ceará, como área de estudo de caso desses setores em relação à vulnerabilidade
para compreensão das interrelações das vulne- associada aos quatro fatores descritos a se-
rabilidades sociais e exposição aos riscos natu- guir: a) fator 1 – está relacionado à vulnera-
rais, principalmente as inundações. bilidade decorrente da educação; b) fator 2 –
Essa pesquisa foi desenvolvida em 2010 está relacionado à vulnerabilidade decorrente
e chegou-se um índice de vulnerabilidade so- das condições de infraestrutura e habitação;
cioambiental através da sobreposição de dois c) fator 3 – relacionado à vulnerabilidade em
índices: de vulnerabilidade social e de vulne- virtude do contingente populacionalde idosos
rabilidade físico-espacial às inundações. Des- (maiores de 64 anos); e d) fator 4 – relaciona-
sa forma, foram utilizados dados secundários do à vulnerabilidade decorrente do contingen-
do IBGE do Censo Demográfico de 2000, de te populacional de jovens (faixa etária de 10 a
acordo com variáveis que caracterizam am- 19 anos).
plas dimensões e desvantagens sociais e que Foi possível, ao final, dividir esses seto-
correspondem a fatores recorrentes utilizados res censitários de acordo com a média dos fa-
pelas ciências sociais. tores sendo esses assim classificados: 1) vulne-
A pesquisa trabalha com dois tratamen- rabilidade social muito alta; 2) vulnerabilidade
tos diferenciados de acordo com a dimensão social alta; 3) vulnerabilidade social média a
pesquisada: social e ambiental. No tratamento alta; 4 ) vulnerabilidade social média a baixa;
fornecido à dimensão social, foi realizada uma 5) vulnerabilidade social baixa; e 6) vulnerabi-
compilação através da junção de duas ou mais lidade social muito baixa. O intervalo para esse
variáveis do Censo 2000, resultando, de 59 in- estudo, das médias dos fatores, ficou compre-
dicadores, apenas 21. endido entre – 1,01 a 4,94, sendo os valores
Para análise estatística dos dados, ini- maiores os que representam os setores com
cialmente realizou-se análise fatorial das variá- maior vulnerabilidade.
veis. O procedimento é uma técnica estatística Os dados encontrados para a vulnera-
multivariada que, de acordo com a estrutura bilidade social foram sobrepostos com os en-
de dependência existente entre as variáveis de contrados para a vulnerabilidade ambiental,
interesse (matriz de correlações ou covariân­ resultando através do cruzamento dos grupos,
cias entre as variáveis), permite a redução tendo como resultado final seis níveis de vul-
da quantidade de variáveis para fatores que nerabilidade socioambiental: muito alta; alta;

250 Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 31, pp. 241-264, jun 2014
Avaliação das metodologias brasileiras de vulnerabilidade socioambiental...

média a alta; média a baixa; baixa e muito devem ser considerados nessa dinâmica, bus-
baixa; que podem ser representadas através de cando uma multidisciplinaridade que envolve
uma matriz. o tema da população e meio ambiente.
Os resultados são apresentados através O trabalho parte de uma tentativa de
de mapas com a justaposição dos índices de sistematizar algumas conclusões a respeito do
vulnerabilidade social e o de vulnerabilidade sentido e da importância do conceito de vulne-
ambiental, indicando com as cores para cada rabilidade para os estudos urbanos, para, em
nível o grau da vulnerabilidade socioambiental seguida, buscar sua aplicação empírica a partir
ao longo do espaço urbano estudado, mostran- do uso de dados secundários, no caso, o censo
do ser uma metodologia de fácil visualização demográfico de 2000, apresentando como re-
dos resultados, apesar dos longos cálculos para sultado uma divisão da cidade em “zonas de
se chegar aos índices. vulnerabilidade”, cuja importância reside na
possibilidade de identificar, no âmbito intraur-
bano, carências ou vantagens diferenciadas
Metodologia de Hogan que, mais além das disponibilidades materiais,
possam dar maior poder de resposta ao con-
O estudo de Hogan (2007) foi desenvolvido no junto de dificuldades que a cidade desigual im-
contexto urbano de Campinas-SP, sob o título põe a seus habitantes.
A vulnerabilidade social no contexto metro- Para desenvolvimento de seu estudo,
politano: o caso de Campinas. A intenção era Hogan vai abordar os conceitos desenvolvidos
aprofundar estudos e pesquisas para proble- por Katzman (1999): capital físico – envolven-
mas urbanos que envolvessem as relações da do todos os meios essenciais para a busca de
população com o ambiente, e na busca do en- bem-estar; capital social – inclui as redes de
tendimento dos condicionantes – além da po- reciprocidade, confiança, contatos e acesso à
breza, da diferenciação das pessoas ou famí- informação; e capital humano – que inclui o
lias –, estudar a inabilidade de resposta diante trabalho como ativo principal e o valor a ele
dos riscos. agregado pelos investimentos em saúde e
Nesse trabalho, o autor parte da hipótese educação, os quais implicam maior ou menor
de que há uma coincidência entre espaço sus- capacidade física para o trabalho. Dessa forma
cetível a processos naturais perigosos e os es- ele classifica seus indicadores de acordo com
paços da cidade que apresentam os piores in- essa nomenclatura.
dicadores sociais, econômicos e de acesso aos Para cada uma dessas três dimensões de
serviços e infraestrutura urbana, trabalhando­ indicadores, foram realizadas análises fatoriais,
numa linha moderada para analisar as relações a partir das quais foram obtidos cinco fatores:
da dinâmica demográfica, em toda sua comple­ dois para o capital físico, um para o capital hu-
xidade, com a mudança ambiental, consideran- mano e dois para o capital social. Através da
do importante romper os limites impostos pela interpretação dada aos fatores identificados,
questão da população e restringir ou não o pro- resultante de análise fatorial, é que se pode-
gresso, pois outros aspectos mais importantes­ rá analisar e interpretar os resultados obtidos,

Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 31, pp. 241-264, jun 2014 251
Mônica Maria Souto Maior, Gesinaldo Ataíde Cândido

particularmente os que se referem aos escores na determinação de espaços marcados, por


fatoriais assumidos por cada uma das áreas de abrigar grupos populacionais socialmente vul-
ponderação, chegando ao seguinte resultado: neráveis e expostos a situações de risco.
quanto maior o valor de seu escore, ou seja, Nesse trabalho, a autora parte da hipó-
quanto mais próximo de 1, piores serão as con- tese de que a intensa mobilidade intraurbana
dições relativas ao fator do indicador, na “área faz com que os deslocamentos populacionais,
de ponderação”. principalmente de grupos populacionais de
Essa metodologia apresenta seus resulta- baixa renda, atinjam áreas sujeitas a riscos
dos através de mapas cartográficos sobreposi- ambientais. Assim, parte de uma abordagem
cionando as áreas de vulnerabilidade social às que enfatiza a dimensão social dos problemas
de riscos ambientais, considerando os fatores ambientais e considera as famílias ou pessoas
quantificados pela metodologia. morando numa mesma área como unidade de
referência para o desenvolvimento do estudo.
Para o desenvolvimento desse trabalho
Metodologia de Deschamps foram utilizados somente dados secundários
disponibilizados pelo IBGE no Censo Demo-
Deschamps (2004, 2006) trabalhou inicialmen- gráfico de 2000, com informações das unida-
te em sua tese com a vulnerabilidade socio- des geográficas formadas por agrupamento
ambiental na cidade de Curitiba em 2004. No mutuamente exclusivo de setores censitários,
entanto, seu trabalho mais significativo nessa obedecendo aos seguintes critérios: 1) tama-
área corresponde a um estudo desenvolvi- nho, em termos de domicílios e população; 2)
do pelo Grupo de Pesquisa Observatório das contiguidade, garantindo o sentido geográfico;
Metrópoles, que comparava a vulnerabilida- e 3) homogeneidade, em relação a um conjun-
de socioambiental nas metrópoles brasileiras: to de características populacionais e de infraes-
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Por- trutura conhecida.
to Alegre, Brasília, Curitiba, Recife, Fortaleza, A metodologia trabalha com três di-
Campinas, Manaus, Vitória, Goiânia, Belém, mensões: econômica, social e ambiental,
Florianópolis, Natal e Maringá. Desenvolvi- abordadas na perspectiva de que o risco é um
do entre 2004 e 2009, esse estudo integrou o aspecto negativo e causador de danos a de-
Projeto Território, Coesão Social e Governança terminados segmentos sociais. Ela mensura a
Democrática, financiado pelo CNPq – Conselho dimensão ambiental através da inadequação
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec- dos indicadores urbanos, considerando a au-
nológico, sob a coordenação do professor Dr. sência combinada dos três serviços básicos –
Luiz César de Queiroz Ribeiro. esgotamento sanitário por rede geral ou fossa
Essa pesquisa está inserida no campo séptica, água canalizada em pelo menos um
teórico do meio ambiente e desenvolvimento, cômodo e coleta de lixo. Ela justifica a esco-
e apresenta os procedimentos para a constru- lha desses indicadores, salientando que eles
ção de tipologias de áreas intraurbanas nas são fatores que afetam a qualidade de vida
Regiões Metropolitanas brasileiras, avançando numa perspectiva saudável, sabendo que a

252 Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 31, pp. 241-264, jun 2014
Avaliação das metodologias brasileiras de vulnerabilidade socioambiental...

ausência de condições adequadas de sanea- Comparativo das metodologias


mento tem importante rebatimento na proli- de vulnerabilidade socioambiental
feração de doenças.
A tipologia e o agrupamento das áreas­ Devido à conjuntura política e socioeconômica
das Regiões Metropolitanas foram obtidos praticante na maioria nos países latino-ame-
por dois métodos estatísticos multivariados: ricanos, os estudos que envolvem a vulnera-
análise fatorial por componentes principais e bilidade socioambiental têm considerado os
análise de agrupamento. A análise fatorial por aspectos socioeconômicos como mais impor-
agrupamentos avalia as intercorrelações entre tantes que os ambientais. Dessa forma, Blaikie
variáveis, com o objetivo de identificar um me- et al. (1996) afirmam que as questões de raça,
nor número de fatores que apresentem aproxi- sexo, idade, educação, renda e situação de tra-
madamente o mesmo total de informações ex- balho são determinísticas para a condição de
presso pelas variáveis originais. Na análise por vulnerabilidade, porque incidem diretamente
componentes principais, calculam-se os auto- no poder de resiliência da população.
valores e a matriz de correlação entre variáveis Os aspectos ambientais, nesse contexto
originais e os fatores comuns. geográfico latino-americano, são refletidos na
Como resultado, a metodologia apre- perspectiva do adensamento populacional e
senta um quadro da vulnerabilidade socioam- da dinâmica urbana das grandes cidades, que,
biental por meio da leitura cruzada da vulnera- devido à interferência dos processos de urba-
bilidade social e risco ambiental, mostrando o nização, direcionam essa camada pobre para
resultado em quatro quadrantes, classificados as áreas periféricas ou de proteção ambiental,
em: 1) combinação de baixa vulnerabilidade como rios e encostas. Não se pode, entretanto,
social com baixo risco ambiental; 2) combina- descartar alguns fenômenos naturais específi-
ção de baixa vulnerabilidade social com alto cos de alguns países latino-americanos como
risco ambiental; 3) combinação de alta vulnera- terremotos, nevascas, vulcões, furacões, dentre
bilidade social com baixo risco ambiental; e 4) outros, que de modo esporádico e cíclico oca-
combinação de alta vulnerabilidade social com sionam danos.
alto risco ambiental. Segundo Abramovay (2002), os estudos
Os modelos apresentados neste estudo ancorados na vulnerabilidade na América La-
apontam pontos semelhantes e diferentes nas tina foram motivados pela preocupação em
abordagens que são significativos e determi- abordar de forma mais integral e completa
nísticos para a construção de um quadro de não só os fenômenos da pobreza, mas ainda,
avaliação da vulnerabilidade socioambien- as diversas modalidades de desvantagem so-
tal nos espaços urbanos. Dessa forma, cabe cial. Tais estudos buscaram observar os riscos
especificar, entender o campo teórico e os de mobilidade social que afetam a todos, in-
fenômenos estudados, para comparar os fun- dependentemente de sua classe social, abar-
damentos necessários para uma adaptação à cando a vulnerabilidade na dinâmica do bem-
realidade das diversidades urbanas específicas -estar social atrelada às dimensões associada
do caso brasileiro. a esse processo.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 31, pp. 241-264, jun 2014 253
Mônica Maria Souto Maior, Gesinaldo Ataíde Cândido

No Brasil a vulnerabilidade é tratada premissas­construídas a partir de pressupostos


utilizando uma sobreposição de riscos tanto derivados de um marco teórico consistente,
ambientais quanto sociais, considerando que testando-os, coletando dados apropriados e
os riscos sociais se relacionam com aspectos explorando as relações entre medidas que ope-
ligados, dentre outros, a dinâmica social, se- racionalizam tais conceitos.
gregação urbana, injustiças ambientais – os Dessa forma, os modelos partem em sua
vulneráveis como vítimas de uma proteção totalidade, do pressuposto de que o processo
desigual –, enquanto os ambientais são rela- de expansão urbana impulsiona a fixação de
cionados às ameaças naturais ocorrentes em famílias ou grupos populacionais em áreas am-
áreas específicas. bientalmente inapropriadas, expondo-as a si-
Nessa perspectiva teórica, os modelos tuações constantes de vulnerabilidade, porque
brasileiros que estudaram a vulnerabilidade so- esses grupos ficam sem condições socioeconô-
cioambiental mostraram uma evolução em sua micas de resposta diante das vulnerabilidades
sistematização e ferramentas ao longo do tem- e dos desastres ambientais.
po. Observa-se que os pioneiros como Hogan e
Deschamps abriram caminhos para esse tipo de
estudo, trabalhando suas metodologias com Campo geográfico de atuação
enfoque teórico próprio, se mostrando precur-
sores da abordagem. O campo geográfico dos modelos analisados
Consciente da importância desses estu- por Almeida (2010), Hogan (2007) e Deschamps­
dos para o desenvolvimento e aprimoramento (2004) diz respeito a áreas metropolitanas, se
das pesquisas que envolvem a vulnerabilidade caracterizando como um estudo local focaliza-
socioambiental, serão analisados cinco mode- do em áreas intraurbanas, buscando a articula-
los, comparando os aspectos metodológicos ção espacial com a economia, a política, a cul-
e seus campos teóricos, buscando uma apro- tura e a dominação socioespacial que o centro
ximação entre os mesmos. Considerando seis urbano exerce sobre o restante da cidade.
aspectos para análise: 1) quanto à característi- No estudo de Alves (2010a), a análise se
ca do método; 2) quanto ao campo geográfico foca no Distrito, reduzindo a área geográfica
de atuação; 3) quanto ao foco das dimensões estudada para uma região dentro do espaço
mensuradas; 4) quanto às variáveis trabalha- urbano – podendo ser chamada de microrre-
das; 5) quanto ao tratamento dos dados; 6) gião –, trabalhando sobre o aspecto das tipo-
quanto ao vínculo com grupos de pesquisas. logias de utilização do solo em áreas urbanas,
tais como: favelas; conjuntos habitacionais
(unifamiliares e multifamiliares) e áreas in-
Características do método dustriais/comerciais/institucionais. Analisa,
em escala intraurbana, as interrelações entre
Os cinco modelos analisados adotam abor- processos de expansão urbana e situações de
dagem dedutiva, em que são testadas as vulnerabilidade socioambiental.

254 Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 31, pp. 241-264, jun 2014
Avaliação das metodologias brasileiras de vulnerabilidade socioambiental...

Esse modelo pode ser analisado toman- o de Micklin (1999), que inclui a degradação
do-se como referência as teorias de Lefebvre ambiental urbana, entre os grandes desafios
(1991), que trata da segregação espacial, pro- ambientais para a América Latina, observa-se
curando, em um esforço analítico e empírico, uma semelhança nas preocupações, mas uma
uma forma de entender esse fenômeno sob distinção de enfoque por considerar como res-
três prismas, ora sucessivos, ora simultâneos: ponsabilidade única da degradação a ação do
espontâneos (provenientes das rendas e ideo- homem, que invade áreas de preservação, não
logias) – voluntário (estabelecendo espaços considerando, assim, as responsabilidades po-
separados) – programado (sob pretexto de ar- líticas e institucionais que levam o homem a
rumação e plano). No entanto, percebe-se que, essa invasão.
apesar de a pesquisa estudar os espaços urba- Considerando as teorias de Liverman
nos produzidos a partir da égide capitalista, em (1990), o estudo de Alves (2010b) concentra
que existe uma intencionalidade de ocupação esforços na caracterização da população sujei-
do solo urbano por diferentes camadas sociais, ta a risco de desmoronamentos, e considera a
não enfatiza os processos sociais, nem econô- vulnerabilidade como risco do lugar – concei-
micos que vulnerabilizam a população, como to de Cutter (2003) – e como geograficamente
também não relevam na mobilidade social ur- centrada, mas com efeitos diferentes de acordo
bana os motivos que trouxeram essa popula- com a capacidade de resposta da população.
ção para esse tipo de ocupação. Observa-se que todos os modelos, ape-
Dessa maneira, os aspectos relacionados sar do afunilamento do campo geográfico uti-
por Cardona (1997), Abramovay (2002), Lavi- lizado por Alves (2010a; 2010b), analisam as
nas (2002), relativos à exclusão e vulnerabili- áreas urbanas baseados na apropriação do es-
dade social, não são tratados de forma direta, paço por grupos sociais, no processo de trans-
e, sim, incorporados às tipologias urbanas exis- bordamento urbano, considerando as áreas pe-
tentes na cidade, servindo apenas como meio riféricas e periurbanas.
de entender a ocupação urbana sob os aspec-
tos únicos da expansão urbana desassociados
dos processos socioeconômicos que vulnerabi- Dimensões mensuradas
lizam a população da cidade de Tiradentes.
Alves (2010b) trabalha com 16 cida- Os estudos latino-americanos que envolvem
des da faixa litorânea de São Paulo, buscando a vulnerabilidade socioambiental, tais como
analisar a relação entre a vulnerabilidade am- Barrenechea (2000), Moser (1998), Gonzáles
biental, causada pelas mudanças climáticas, e (1998), Blaikie et al. (1996), D´Ercole (1994)
o processo de apropriação do espaço urbano, estabelecem que a vulnerabilidade é uma com-
pelos grupos populacionais mais vulneráveis binação de características de um grupo social
socialmente. As variáveis ambientais conside- derivada de suas condições sociais e econô-
radas nesse estudo partem de uma análise ba- micas relacionadas a uma periculosidade es-
seada nos efeitos ocasionados à natureza pela pecífica. Dessa forma, a vulnerabilidade socio-
ação antrópica. Comparando esse estudo com ambiental precisa interrelacionar a dimensão­

Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 31, pp. 241-264, jun 2014 255
Mônica Maria Souto Maior, Gesinaldo Ataíde Cândido

socioeconômica­ da população à dimensão aspecto das dimensões ambientais, vão enfati-


ambiental dos fenômenos naturais, os quais zar as questões que são consequentes dos ris-
podem ameaçar determinados grupos sociais. cos relativos às mudanças climáticas. Assim, Al-
Dos cinco modelos estudados, três tra- ves (2010b) trabalha com os riscos de desmo-
balham com duas dimensões: socioeconômica ronamento e Almeida (2010), com enchentes,
e ambiental. Em Alves (2010b), Almeida (2010) se aproximando dos estudos de Barrenechea
e Deschamps (2004), as dimensões valorizadas (2000) e Gonzáles (1999), as quais trataram
recaem no risco socioeconômico, que afligem desses mesmos aspectos na Argentina.
grupos ou famílias, sendo as variáveis sociais Apesar das especificidades na aborda-
tratadas, através de indicadores como: de- gem dos cinco modelos estudados observa-se
mografia, anos de escolaridade, reprodução, que a importância dos indicadores da dimen-
questão etária, de gênero e quantidade de de- são socioeconômica recai no pressuposto de
pendentes; sendo as variáveis econômicas tra- que, na sociedade moderna, determinadas
tadas através de indicadores relativos à renda características das famílias limitam a acumu-
e situação de emprego, os quais estão muitas lação de recursos. Nesse viés, os indicadores
vezes correlacionados com a questão educa- sociais muitas vezes determinam o nível de
cional, e, por fim, os indicadores referentes a qualidade econômica da família, porque criam
vulnerabilidade ambiental, que recaem sobre a condições de concorrência para o mercado
inadequação construtiva, aspectos de proprie- de trabalho. Assim, as famílias chefiadas por
dade do imóvel e aspectos da infraestrutura analfabetos, mulheres, idosos ou adolescen-
urbana referentes ao abastecimento de água, tes, estariam em maior vulnerabilidade do
esgoto e coleta de lixo. que famílias chefiadas por pessoas com nível
O modelo de Hogan (2007) não trabalha educacional­mais alto, do gênero masculino
com dimensões, e, sim, com o conceito de ca- ou numa faixa etária adulta, porque pressu-
pital social, humano e físico desenvolvido por põem condições de rendimento e trabalho
Kaztman (1999 ). Alves (2010a) trabalha com melho­res, ratificando os estudos produzidos
a vulnerabilidade partindo das tipologias ur- por Lavell (2005), Abramovay (2002) e Blaikie
banas, considerando os assentamentos precá- et al. (1996).
rios – favelas e loteamentos irregulares como Outro aspecto a considerar são os fato-
aqueles com maior vulnerabilidade socioam- res que indicam a vulnerabilidade sociodemo-
biental devido às características da população gráfica relacionada à quantidade de filhos,
que se alojam nesses espaços – assim prioriza agregados, presença de idosos, de jovens e
os aspectos urbanísticos tratados nos estudos adolescentes. Esse fator mostra que existe
de D´Ercole (1994). uma forte correlação com as desvantagens
Os modelos de Alves (2010b) e Almeida socioeconômicas as quais pressupõem po-
(2010) se diferenciam dos outros, porque, no breza, baixos rendimentos, informalização do

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Avaliação das metodologias brasileiras de vulnerabilidade socioambiental...

trabalho,­não sequência escolar e condições A quantidade em maior número de indi­


inadequadas de moradia. cadores sociais e sociodemográficos – 77% – re-
Os processos de exclusão social fragi- fletem diretamente nos indicadores econômi-
lizam a população de pobres e miseráveis e cos, estabelecendo uma relação biunívoca de
influem na capacidade de respostas dos in- causa e efeito, pois as famílias economicamen-
divíduos diante de situação de risco. Nessa te vulneráveis precisam que jovens contribuam
perspectiva, os aspectos sociais da vulnera- financeiramente e relevem a educação para um
bilidade são de grande importância em um segundo plano, criando assim um círculo vicio-
país onde as injustiças sociais prevalecem so de causa-efeito na propagação da vulnerabi-
(Abramovay, 2002; Lavinas, 2002; Busso, lidade das famílias.
2001), onde os direitos de muitos são colo- Dessa forma, os indicadores econômicos
cados em segundo plano para favorecer uma – 13% – utilizados nas metodologias estão, as-
minoria, confirmando a necessidade de con- sim, relacionados com outros aspectos da vul-
siderar a dimensão social da vulnerabilidade nerabilidade relativos ao mercado de trabalho,
em nosso país. Dessa forma, pode-se quanti- ou seja, refletindo a conjuntura econômica do
ficar o nível de utilização da dimensão social país, como pessoas sem carteira de trabalho
da vulnerabilidade socioambiental no Brasil, assinada, condição da desigualdade de gêne-
dada pelos modelos estudados, através do ro, informalidade do trabalho, renda não pro-
Gráfico 1. veniente do trabalho e baixos salários.

Gráfico 1 – Percentual de indicadores por dimensões


trabalhadas nos cinco modelos

Indicadores da vulnerabilidade socioambiental


Indicadores sociais

Indicadores sociodemográficos

Indicadores econômicos

Indicadores ambientais

Fonte: Elaboração própria (2013).

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Mônica Maria Souto Maior, Gesinaldo Ataíde Cândido

Na dimensão ambiental, a importância parâmetros para apontar certa deficiência nas


dos indicadores recai nos fenômenos ambien- abordagens feitas nos cinco modelos, por não
tais que foram intensificados com as mudanças considerarem em seu conjunto de indicadores
climáticas. No caso do Brasil, alguns fenômenos esses aspectos citados, além de outros, que in-
não fazem parte desse repertório, até o mo- fluenciam o processo de vulnerabilidade.
mento, como furacões, tornados, terremotos, Considerando o conjunto de indicadores
vulcões, dentre outros. No entanto, o Brasil é que compõem a dimensão ambiental, pode-
um país rico em bacias hidrográficas e em topo- -se comprovar que houve uma deficiência nas
grafia, o que gera grandes riscos de enchentes, abordagens, pois apenas 10% dos indicadores
deslizamentos, desmoronamentos e vendavais. se encontravam nessa dimensão (ver Tabela
Diante dessa realidade, duas metodo- 1), destacando que esses indicadores só foram
logias abarcaram esses aspectos, buscando encontrados em duas metodologias das cinco
aprofundar o nível que as vizinhanças próxi- estudadas, as quais buscavam objetivos dife-
mas a esses locais sofrem com esses riscos. rentes nas pesquisas. Os vendavais não foram
Alves (2010b) vai trabalhar com os riscos de considerados em nenhuma pesquisa, apesar
deslizamentos, buscando os indicadores de da maioria das pesquisas serem desenvolvidas
altimetria e declividade, e Almeida (2010) vai nas regiões Sul e Sudeste, onde a incidência de
trabalhar com os riscos de enchentes, através vendavais precisa ser considerada, pois fazem
do tempo de retorno das cheias dos rios. parte do repertório de risco.
A metodologia de Alves (2010a) buscou, Autores como Vignoli (2000), Camara-
nas tipologias urbanas, o viés da vulnerabili- no e Gahouri (1999) e Moser (1998) discutem
dade socioambiental, quando associou essas a possibilidade de uma ciência multidisciplinar
tipologias – assentamentos precários, não da vulnerabilidade, que possa abarcar diferen-
precários e áreas urbanizadas – aos aspectos tes formas de risco a que a sociedade está ex-
econômicos e de qualidade de vida das famí- posta, cujas conexões entre elas formam uma
lias moradoras do lugar, fazendo a análise e malha de causa e efeito, uma sobre a outra,
considerando apenas os mapas cartográficos. defendendo que não se pode mais analisar a
Em nenhum dos modelos explorados vulnerabilidade sobre uma dimensão somen-
são utilizadas variáveis que contemplem, em te. Diante dessa afirmação, nota-se a fragili-
um único modelo, indicadores mais comple- dade das cinco metodologias aqui expostas,
tos relativos à dimensão ambiental, mesmo que não consideram os aspectos ambientais
sabendo-se das condições geográficas brasilei- como determinísticos no processo de vulnera-
ras ricas em relevo e rios. Esses modelos con- bilidade. Esse estudo reconhece que, no país
trariam as teorias de Torres e Marques (2001) com tantas desigualdades sociais, os aspectos
que consideram que a vulnerabilidade só pode socioeconômicos são preponderantes, mas
ser vista em sua plenitude quando superpon- que os aspectos ambientais também exercem
do, em termos espaciais, os indicadores socio- grande influência para tal processo, pois ser-
econômicos, com os riscos ambientais e servi- vem como um gatilho agravador da vulnerabi-
ços assistenciais, os quais podem nos fornecer lidade socioambiental.

258 Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 31, pp. 241-264, jun 2014
Avaliação das metodologias brasileiras de vulnerabilidade socioambiental...

As características dos indicadores feitas georreferenciados­que especificam as situa-


pelos autores seguiram os seguintes pressu- ções ambientais e socioeconômicas da popu-
postos: a) utilizam variáveis mensuráveis; b) lação estudada.
são significativos para o enfoque do estudo; Na análise estatística dos indicadores
c) são relevantes para as decisões que orien- sociais e econômicos, em todos os modelos fo-
tam as políticas públicas; d) são de fácil co- ram executados três procedimentos: o primei-
municação e interpretação; e) permitem um ro, de análise multivariada para escolher quais
enfoque integrado e sistêmico; f) são de fácil as variáveis socioeconômicas e sociodemográ-
obtenção. Além desses critérios, observa-se, ficas seriam mais relevantes para estabelecer
ainda, que a diversidade dos aspectos que en- uma tipologia das áreas estudadas; a segunda,
volvem a vulnerabilidade leva à necessidade de análise fatorial, estudando as intercorrela-
de abordagens das dimensões e indicadores de ções internas de um conjunto de variáveis; e
forma abrangente e integrada. a terceira, buscando uma sumarização dos da-
dos – foi aplicado o método do agrupamento
não hierárquico das k-médias para fazer uma
Variáveis trabalhadas análise comparativa dos resultados.
As análises das variáveis ambientais são
Quatro modelos trabalham com dois tipos de feitas baseadas em mapas georreferenciados,­
variáveis. Uma independente, que se refere ao que estabelecem as áreas urbanas que apre-
processo de expansão urbana que impulsiona sentam riscos ambientais, utilizando programas
a população a se fixar em áreas impróprias a computacionais específicos para cada caso. Em
moradia; e outras dependentes relativas às seguida, os resultados dos dois procedimentos
questões socioeconômicas e ambientais rela- são cruzados, estabelecendo as áreas que apre-
cionadas com as famílias ou grupos sociais que sentam a vulnerabilidade social cruzada com a
estão condicionadas à variável independente. ambiental no mesmo contexto.
Observa-se uma correlação dessas variá-
veis trabalhadas nos cinco modelos brasileiros
com os estudos feitos por D´Ercole (1994), o Vínculo com grupos de pesquisas
qual incorporou em seus estudos sobre a vul-
nerabilidade urbana fatores inerentes ao cres- Todos os cinco modelos apresentados fazem
cimento populacional que interagem com a parte de grupos de pesquisas consolidados e
dinâmica urbana. atuantes no Brasil. Alves (2010a; 2010b) está
vinculado ao Centro de Estudos da Metrópole
(CEM-Cebrap); Almeida (2010) está vinculado
Tratamento de dados ao grupo de pesquisa da UFRN, Dinâmicas Am-
bientais, Riscos e Ordenamento do Território;
Os dados são tratados através de duas fer- Hogan (2007) ao Núcleo de Estudos Populacio-
ramentas, uma de base estatística e a outra nais (Nepo) e Deschamps (2004; 2006) ao Ob-
através da construção e análise de mapas servatório das Metrópoles (ver Quadro 1).

Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 31, pp. 241-264, jun 2014 259
Mônica Maria Souto Maior, Gesinaldo Ataíde Cândido

Quadro 1 – Comparativo dos Modelos

Modelos
Características
Alves (a) Alves (b) Almeida Hogan Deschamps

Características
Dedutivo Dedutivo Dedutivo Dedutivo Dedutivo
do método

Campo geográfico Micro urbano Micro urbano


Cidade Cidade Metrópoles
de atuação (distrito) (litoral)

Dimensões Socioeconômica Socioeconômica Socioeconômica Capital físico, social


Socioeconômica
mensuradas e ambiental e ambiental e ambiental e humano

Variáveis embutidas Variável Variável Variável Variável


Variáveis trabalhadas nas tipologias independente independente independente independente
urbanas e dependente e dependente e dependente e dependente

Georreferenciamento Georreferenciamento Georreferenciamento Georreferenciamento


Tratamento de dados Georreferenciamento
e estatística e estatística e estatística e estatística

Dinâmicas
Vínculo com grupos ambientais, riscos Observatório das
CEM/Cebrap CEM/Cebrap Nepo/Nesur
de pesquisas e ordenamento do Metrópoles
território/UFRN

Fonte: Elaboração própria (2012).

Dessa forma, observa-se que os modelos A dimensão socioeconômica, nos cinco


apresentados foram contemplados com co- estudos, foi bem abordada contemplando os
nhecimentos acadêmicos de seus autores, que principais aspectos que podem aumentar o
trouxeram suas experiências profissionais pa- processo de vulnerabilidade das famílias bra-
ra o desenvolvimento das teorias e aplicações si­leiras, sendo um caminho de diagnóstico e
feitas em suas pesquisas, contribuindo para a podendo ser abordada em qualquer localida-
elaboração do campo teórico e prático da vul- de­geográfica brasileira, pois contempla a rea-
nerabilidade socioambiental brasileira. ­­­lidade­socioeconômica comum em todos os
estados e cidades, pois esse tipo de problema
é consequência de uma situação genérica na-
Conclusões cional, ou seja, de falta de políticas públicas
nacionais voltadas para um planejamento em
Os cinco modelos foram de grande importância longo prazo que busque erradicar a pobreza de
para servir de base aos estudos da vulnerabili- forma nacional e integrada.
dade socioambiental no Brasil, permitindo um Esta pesquisa assinala para a necessi-
progresso através do uso de novas técnicas e dade de uma evolução nos procedimentos e di-
ferramentas, as quais possibilitaram um diag- mensões utilizados, se justificando pela neces-
nóstico favorável dos fatores que contribuíam sidade de uma padronização sistemática que
para vulnerabilidade socioambiental no con- permita uma análise mais profícua sobre os as-
texto brasileiro, em cada especificidade territo- pectos específicos a serem considerados sobre
rial e temporal considerada. nossa realidade, não devendo ser descartada a

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Avaliação das metodologias brasileiras de vulnerabilidade socioambiental...

evolução dos estudos anteriores feitos por es- mundo, quando o sujeito passa a pautar suas
ses pesquisadores. atitudes e suas ações dentro de uma visão de
Assim, observa-se a necessidade de mundo baseada em princípios socioambien-
aprimoramento da dimensão ambiental, tra- tais, o qual estabelece amplo conjunto de prá-
tada de forma superficial nos estudos ana- ticas proativas para a conservação da natureza
lisados, e a incorporação de outras variáveis e melhoria da qualidade de vida.
para abarcar outras dimensões não con- A dimensão política institucional tam-
templadas nesses cinco modelos estudados. bém se apresenta como de grande importância
Relacionada às variáveis ambientais, existe para o contexto da vulnerabilidade socioam-
a necessidade de considerar os indicadores biental no Brasil, porque identifica as ações
relacionados à exposição de risco naturais políticas e administrativas de contenção aos
existentes nos espaços urbanos do Brasil: en- fatores de riscos que ameaçam as populações,
chentes, desmoronamentos, deslizamentos, servindo como termômetro para mensurar as
vendavais, chuva de granizo e ciclones, pois políticas públicas necessárias para o supri-
o estudo direcionado­a uma só dimensão do mento das necessidades sociais, econômicas,
risco ambiental – como os estudados por Al- ambientais e como resposta às revindicações
ves (2010b) e Almeida (2010) – desconsidera feitas pela sociedade civil.
a existência de outras ameaças que podem Outro aspecto negligenciado, nos estu-
ocorrer no mesmo contexto geográfico, e, pior dos analisados, é a especificidade da situação
ainda, num período temporal próximo, o que de vulnerabilidade, pois grupos populacionais
acarretaria uma maior vulnerabilidade. podem estar sujeitos ao mesmo perigo, mas
Observou-se a necessidade de incor- não apresentem o mesmo risco, por não esta-
poração da dimensão psicológica referente à rem igualmente em situação de vulnerabilida-
percepção ambiental, a qual foi desconsidera- de, assim os indicadores devem ser levantados
da em todos os modelos brasileiros. Nas refe- através de dados primários que identificam, no
rências teóricas, a percepção ambiental é de lugar e tempo, as fragilidades das famílias que
fundamental importância para os estudos de estão expostas aos riscos.
vulnerabilidade, porque o nível dessa percep- Observa-se que os modelos utilizados
ção faz diferença em seu poder de mitigação e abrem espaço para a elaboração de novas
resiliência diante dos riscos socioambientais a abordagens, no entanto, deixam a desejar,
que estão expostos. porque não conseguem abranger outras va-
A percepção ambiental ajuda na forma- riáveis que são importantes para o contexto
ção cidadã de um sujeito ecológico, a qual geográfico e cultural brasileiro, e, quando
exerce uma função importante no exercício da aplicadas de forma limitada, não conseguem
cidadania e aguça a capacidade de enxergar o contemplar os reais riscos existentes.

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Mônica Maria Souto Maior, Gesinaldo Ataíde Cândido

Mônica Maria Souto Maior


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, Unidade Acadêmica de Infraestrutura.
João Pessoa/PB, Brasil.
mmsmaior@hotmail.com

Gesinaldo Ataíde Cândido


Universidade Federal de Campina Grande, Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais.
Campina Grande/PB, Brasil.
gacandido@uol.com.br

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Texto recebido em 19/maio/2013


Texto aprovado em 8/ago/2013

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