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BIOLOGIA CELULAR
Citosqueleto
CITOSQUELETO
* Definição;
* Classificação;
* Microtúbulos;
* Microfilamentos;
* Filamentos intermédios.
* Teorias da estrutura e do suporte do protoplasma:
Fibrilar (fibras ligadas);
Reticular (rede).
* Definição:
Conjunto de estruturas filamentosas e proteicas;
Rede dinâmica e complexa (reorganiza‐se continuamente);
Interdependente.
* Classificação:
Baseada no diâmetro das estruturas.
Microtúbulos;
Filamentos intermédios;
Microfilamentos.
MICROTÚBULOS
Estruturas tubulares;
25 nm de diâmetro;
Em corte transversal têm perfil circular, apresentando:
‐ Zona central (pouco densa – 15 nm);
‐ Zona periférica (parede – 5 nm);
Em corte longitudinal têm uma trajectória rectilínea ou ligeiramente curva;
Rígidos;
Comprimento pode atingir vários μm;
Técnicas:
‐ Glutaraldeído;
‐ Imunofluorescência.
* Constituição:
Polimerização de um heterodímero de tubulina α e tubulina β, originando uma parede de 13 protofilamentos
alinhados longitudinalmente;
Tubulina γ.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
As tubulinas α e β são proteínas globulares, que nos vertabrados são codificadas por uma família de genes muito
conservados durante a evolução.
Os microtúbulos e protofilamentos que os constituem são estruturas polarizadas cujas extremidades têm propriedades
diferentes, existindo polaridade estrutural e funcional.
Extremidade mais (+) extremidade a que se associam preferencialmente novas subunidades;
Extremidade menos (‐) extremidade oposta.
A primeira é capaz de crescimento mais rápido que a segunda, tendendo esta até a perder subunidades caso não esteja
estabilizada.
* Classificação:
Estáveis – estruturas celulares (cílios, flagelos…);
Lábeis – citoplasmáticos (fuso acromático).
* Microtúbulos e ciclo celular:
Ao contrário dos microtúbulos que entram na constituição de outras estruturas celulares, os microtúbulos
citoplasmáticos são estruturas lábeis e dinâmicas podendo, por polimerização e despolimerização, formar‐se e desmontar‐se
rapidamente. Por um lado, o padrão de distribuição dos microtúbulos oscila ao longo do ciclo celular entre uma rede complexa
durante a interfase e uma distribuição restrita ao fuso durante a fase M. Por outro lado, considerados individualmente, os
microtúbulos tendem a polimerizar ou despolimerizar de modo imprevisível, uma característica conhecida como instabilidade
dinâmica, que é muito mais intensa durante a fase M do ciclo celular.
Interfase: microtúbulos organizados de modo polarizado:
‐ Extremidades (+) apontam para a periferia celular;
‐ Extremidades (‐) partem duma região, denominada centro organizador de microtúbulos ‐ MTOC (Microtubule
Organizing Center). Esta região, na maior parte das células animais, corresponde ao centrossoma.
Os microtúbulos irradiam e crescem a partir de focos de material denso (satélites) situados nas imediações dos
centríolos.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Tubulina γ parcialmente responsável pela função da polimerização ao nível dos satélites.
No início da fase M, os microtúbulos restringem‐se às zonas dos satélites, formando “ásteres” que originarão os pólos
do fuso acromático.
Condições que favorecem a polimerização:
Altas concentrações de tubulinas;
Altas temperaturas;
Baixas concentrações de Ca2+;
GTP/GDP;
Mg2+.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
* Mecanismo de Treadmill:
Mecanismo de renovação das subunidades microtubulares, que consiste na adição de dímeros à extremidade (+),
simultaneamente com a separação de outros da extremidade (‐).
* Fármacos:
Existem vários fármacos que interferem in vivo e in vitro com a polimerização da tubulina.
1. Inibidores da polimerização:
1.1 Colchicina (Colchinum autumnale):
As moléculas de colchicina ligam‐se com grande afinidade aos dímeros de tubulina inibindo a sua
polimerização.
‐ Inibe in vitro a polimerização da tubulina;
‐ Provoca in vivo a dissociação dos microtúbulos citoplasmáticos.
1.2 Vinblastina (Alcalóide extraído da Vinka rosea):
Liga‐se às moléculas de tubulina:
‐ Impede a polimerização das tubulinas;
‐ Origina a formação de agregados paracristalinos de tubulina.
1.3 Nocadazol:
‐ Liga‐se à tubulina e impede a polimerização.
2. Estabilizadores da polimerização:
Taxol:
Associa‐se a polímeros de tubulina, tendo uma acção estabilizadora.
‐ Baixa a concentração crítica de tubulina necessária à polimerização, que promove mesmo em condições
desfavoráveis (ausência de MAP e GTP, baixas temperaturas)
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
* Proteínas associadas aos microtúbulos (PAM):
Conjunto de proteínas que co‐polimerizam com a tubulina. Estas proteínas podem interferir com a ligação dos
microtúbulos a outras estruturas celulares, ou com a dinâmica de polimerização e despolimerização, permitindo, deste modo, a
modulação das suas funções.
MAP (Microtubule Associated Proteins): peso molecular compreendido entre 271 e 345 kDa. Correspondem a
projecções laterais (braços) que se observam na superfície exterior dos microtúbulos;
Tau: peso molecular entre 55 e 62 kDa;
Terceiro grupo: enzimas, outras proteínas e complexos ribonucleoproteicos.
‐ Baixam a concentração crítica de tubulinas para a formação de microtúbulos;
‐ Favorecem a taxa de crescimento;
‐ Diminuem a dissociação.
Funções:
‐ Controlam a formação dos microtúbulos;
‐ Estabilizam os microtúbulos;
‐ Participam nas ligações cruzadas entre microtúbulos vizinhos, com formação de feixes;
‐ Participam nas ligações com outras estruturas celulares.
Admite‐se que as MAP funcionam como alvos dos sinais intracelulares (cAMP, Ca2+) que regulam a organização
estrutural e funcional dos microtúbulos, sendo possível que às diferentes espécies moleculares destas proteínas correspondam
localizações e funções específicas.
* Movimento intracelular de vesículas e organelos:
Em sentido lato, podemos também considerar, como proteínas associadas aos microtúbulos, as denominadas motores
moleculares, que são enzimas que associam a energia libertada pela hidrólise de nucleótidos à parede celular de microtúbulos,
conferindo assim, movimento intracelular a vesículas e organelos (ligam‐se aos microtúbulos com a energia derivada da hidrólise
de ATP, deslocam‐se ao longo dos filamentos, transportando organelos e/ou vesículas intracelulares).
Estas enzimas ligam‐se por uma das extremidades ao microtúbulo e pela outra à estrutura que se movimenta.
Definem‐se duas grandes famílias de motores associados aos microtúbulos:
Dineínas: possibilitam o movimento em direcção à extremidade (‐);
Cinesinas: possibilitam o movimento em direcção à extremidade (+).
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
No entanto, a produção de força motriz por parte deste sistema também se pode basear na despolimerização de
microtúbulos, nomeadamente para a deslocação dos cromossomas durante a anafase A da mitose.
* Funções dos microtúbulos (e das suas proteínas associadas):
Tráfego intracitoplasmático de vesículas e organelos durante a interfase;
Construção do fuso mitótico;
Organização do citoplasma, nomeadamente na criação e manutenção de domínios citoplasmáticos com segregação e
localização específica de mRNA e proteínas.
CÍLIOS E FLAGELOS
CÍLIOS:
Diferenciações da superfície celular envolvidas na produção de movimento;
Projecções plasmáticas móveis;
0,25 μm de diâmetro;
Vários micra de comprimento (5‐10 μm em média);
Movimento em chicote.
* Funções dos cílios:
Facilitar a locomoção celular (por exemplo, nos espermatozóides, nos protozoários ciliados, etc.);
Facilitar a deslocação de fluidos ou células na superfície das células epiteliais.
FLAGELOS:
Estrutura semelhante à dos cílios, encontrando‐se nos protozoários flagelados, nos espermatozóides e em certas
células vegetais;
Mais longos e, geralmente, em menor número;
Movimento do tipo sinusoidal
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
* Estrutura – cílios e flagelos:
Axonema: organização estrutural do citosqueleto do cílio e flagelo;
Constituído por microtúbulos e proteínas a eles associadas.
Os microtúbulos dispõem‐se num círculo de 9 dupletos a rodear 2 microtúbulos centrais simples, no que se denomina
de padrão 9d + 2s.
Microtúbulos centrais:
Independentes um do outro encontram‐se separados.
Dupletos periféricos:
Microtúbulo A interno e completo;
Microtúbulo B externo e incompleto, isto é, compartilha parte da parede do microtúbulo A.
A parede dos microtúbulos é composta por 13 protofilamentos (10 no caso do microtúbulo B).
Proteínas associadas ao axonema:
Braços de dineína; Outras proteínas associadas ao axonema:
Pontes de nexina; Tectinas (A, B e C);
Projecções radiais; Calmodulina;
Bainha interna; Miosina;
Ponte central; Espectrina;
Filamentos radiais periféricos. Tubulinas livres;
Actina G livre.
Aparelhos de ancoragem do axonema:
Os microtúbulos do axonema inserem‐se a nível citoplasmático no corpo basal ou cinetossoma.
Cilindro oco com 0,4 μm de comprimento e 0,2 μm de largura;
Parede constituída por 9 tripletos de microtúbulos (A, B e C).
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
O corpo basal fixa o axonema ao citosqueleto e à membrana celular através de:
‐ fibras de ancoragem;
‐ pé basal;
‐ raiz estriada.
MICROFILAMENTOS OU FILAMENTOS DE ACTINA
Estruturas filamentosas;
5‐7 nm de diâmetro;
Observam‐se no citoplasma das células eucarióticas;
Feixes de filamentos paralelos ou redes de filamentos anastomosadas;
Particularmente evidentes no citoplasma cortical, em estreita associação com a
membrana, e no eixo de prolongamentos celulares.
* Constituição:
Constituidos fundamentalmente pela polimerização de uma proteína globular denominada
actina G, que é uma das proteínas mais abundantes nas células eucariotas, originando filamentos de
actina F.
ATP
Polimerização de actina G Filamentos de actina F
Crescem por adição de monómeros de actina em ambas as extremidades, sendo esta mais rápida na extremidade (+). A
despolimerização ocorre pela hidrólise do ATP ligado ao monómero de actina (importante na locomoção celular).
A estrutura dos monómeros não é conhecida, mas os dados existentes apontam para que tenham forma em halter.
Admitia‐se que os microfilamentos eram constituídos por duas cadeias de actina F enroladas helicoidalmente, mas a
utilização de técnicas de reconstrução de imagem e de simulação por computador indicam, como modelo mais provável, o de
um filamento helicoidal formado por uma cadeia simples de monómeros.
Os monómeros são constituídos por uma cadeia polipeptídica de 374 aminoácidos (375 no músculo esquelético).
* Principais propriedades funcionais:
Conferir a forma celular;
Localização e movimentação intracitoplasmática de organelos e vesículas (citocinese, diapedese, fagocitose);
Auxiliar no transporte intracelular (proteínas motoras);
Auxiliar no posicionamento de macromoléculas;
Promover interacções com receptores da membrana;
Permitir o estrangulamento na citocinese;
Diferenciações permanentes da superfície celular (microvilosidades, estereocílios).
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
* Actinas:
6 tipos de actinas:
4 tipos de actina A (células musculares);
1 tipo de actina B (células musculares e não musculares);
1 tipo de actina G (células musculares e não musculares).
* Organização espacial dos microfilamentos:
É muito variável e complexa nas células não musculares.
Regiões submembranares do citoplasma: organizam‐se em redes de malhas, mais ou menos apertadas, em pequenos
feixes;
Fibroblastos e células em cultura: constituem feixes longos e densos – as fibras ou feixes de stress.
Os feixes de microfilamentos que se observam no eixo dos prolongamentos celulares têm aspecto variável,
caracterizando‐se pelo número e regularidade de orientação dos seus elementos. Nas diferenciações permanentes da superfície
celular, como as microvilosidades das células intestinais e os esteriocílios das células auditivas, são compactos e têm orientação
muito irregular.
A demonstração de que os microfilamentos das células não musculares são homólogos dos filamentos de actina das
células do músculo esquelético foi obtida por duas vias:
1. Marcação específica dos microfilamentos com meromiosina pesada:
As moléculas de meromiosina associam‐se lateralmente e a espaços regulares aos filamentos de actina,
constituindo as figuras em “ponta de seta” (arrow heads). Nos filamentos de actina assim marcados podem
identificar‐se, tomando como referência as “setas”, os dois pólos dos filamentos, um correspondente à
extremidade para que apontam e outro correspondente às farpas (barbed end). Os filamentos de actina, tal como
os microtúbulos, são estruturas polarizadas. Os filamentos de actina F crescem por adição de monómeros a uma
das extremidades, ligação que ocorre a maior velocidade na extremidade em que a actina G está associada a uma
molécula de ATP (pólo de crescimento). Existe um mecanismo semelhante ao descrito nos microtúbulos, em que a
adição de monómeros a uma extremidade é acompanhada pela sua dissociação na extremidade oposta (treadmill).
2. Visualização por imunocitoquímica, utilizando anticorpos antiactina.
Os microfilamentos podem interagir com um grande número de outras
estruturas e adquirir diferentes propriedades através de várias moléculas
genericamente denominadas de proteínas de ligação à actina (Actin Binding Proteins).
As múltiplas funções celulares dos microfilamentos resultam, em larga medida, da
possibilidade de interacção das formas G e F de actina com um grande número de
outras proteínas. Globalmente, as características da polimerização da actina, bem
como das suas proteínas de ligação, asseguram que o sistema de microfilamentos
seja altamente dinâmico.
As proteínas de ligação à actina apresentam uma enorme diversidade e
podem interferir com a dinâmica da polimerização e despolimerização dos
microfilamentos, ou promover ligações entre diferentes microfilamentos,
influenciando rápida e drasticamente, a sua estabilidade estrutural. Este grupo de
proteínas pode ainda mediar a interacção dos microfilamentos com outras estruturas
celulares, nomeadamente membranas, ou funcionar como motores, agrupadas na grande família das miosinas.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
As proteínas associadas aos microfilamentos que participam na dinâmica da polimerização dos microfilamentos actuam
por vários mecanismos:
1. Sequestração dos monómeros de actina G, limitando a sua acção (por exemplo, profilina);
2. Ligação a uma das extremidades dos filamentos de actina F, impedindo o seu crescimento ou dissociação (por
exemplo, capping proteins, gelsolina, vilina, actinina α);
3. Associação lateral a segmentos dos filamentos, impedindo a sua fragmentação (por exemplo, tropomiosinas).
* Organização espacial dos feixes e redes de microfilamentos:
Depende de proteínas que estabelecem ligações cruzadas entre os filamentos,
favorecendo a formação de:
Feixes (fimbrina, fodrina, fasceína);
Redes (filamina, actinina α).
* Ligação a moléculas de adesão transmembranares:
Integrinas os microfilamentos ligam‐se à sua subunidade β1, através de várias proteínas de ligação à actina,
nomeadamente talina, vinculina e actinina α;
Caderinas clássicas ligam‐se através de outras proteínas de proteínas de ligação à actina denominadas cateninas.
Morfologicamente estas associações podem ser encontradas ao nível de:
Adesões focais ao substrato (mediadas por integrinas);
Zonula adherens (mediadas por caderinas);
Em contactos celulares sem formação de junções (mediadas por ambas).
Por mecanismos ainda mal compreendidos, os filamentos de actina encontram‐se também envolvidos na criação e
manutenção de domínios citoplasmáticos, pela localização e segregação de enzimas e mRNA.
FILAMENTOS INTERMÉDIOS
Diâmetro de 10 nm;
Formam uma rede perinuclear donde se estendem até à membrana celular;
Em cortes finos, observados ao microscópio electrónico, ocorrem sob a forma de pequenos feixes ou, como acontece
nas células epiteliais, constituindo feixes muito compactos;
Recentes na escala filogenética;
Parecem ser específicos dos organismos animais multicelulares, adquirindo grande exuberância e diversidade em
vertebrados.
* Constituição:
Proteínas fibrosas;
Conformação molecular comum:
‐ Domínio central em hélice α (310 a 350
aminoácidos). Responsável pela idêntica organização
estrutural dos diferentes tipos de filamentos
intermédios;
‐ Domínios terminais duas porções globulares em ambas as extremidades, de dimensões e sequência de
aminoácidos muito variáveis. Conferem‐lhes as especificidades próprias.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
* Organização dos filamentos intermédios:
1. Constituição de dímeros;
2. Dímeros agregam‐se em complexos de 4 cadeias, constituindo os tetrâmeros;
3. Os tetrâmeros constituem protofilamentos de 2 a 3 nm, e 4 protofilamentos enrolados helicoidalmente formam
protofibrilas de 4 a 5 nm;
4. Associação de 4 protofibrilas resulta num feixe de 10 nm, originando o filamento intermédio.
* Classificação (estrutura molecular e organização dos genes):
Tipo I Citoqueratinas acídicas;
Tipo II Citoqueratinas básicas‐neutras;
Tipo III Vimentina, desmina, proteína acídica fibrilar glial, periferina;
Tipo IV Proteínas dos neurofilamentos, nestina, α‐internexina;
Tipo V Lâminas nucleares.
As citoqueratinas apresentam a maior diversidade genética entre todas as proteínas de filamentos intermédios, e são
heteropolímeros obrigatórios entre uma molécula de tipo I e outra de tipo II, constituindo os filamentos intermédios típicos das
células epiteliais.
* Função estrutural vs. dinâmica:
Ao contrário dos microtúbulos e dos microfilamentos, os filamentos intermédios apresenta uma quase nula solubilidade
em relação à maioria das técnicas morfológicas.
Inicialmente pensava‐se que eram estruturas predominantemente estáticas, com funções estruturais (principalmente).
Actualmente já se reconhece uma grande dinâmica in vivo dos filamentos intermédios.
Ao longo do ciclo celular e da diferenciação podem verificar‐se remodelações nos padrões de distribuição e alterações
pós‐traducionais de moléculas constituintes dos filamentos intermédios. Detectam‐se, também, a existência de uma constante
troca de moléculas entre a fracção solúvel e a fracção polimerizada, embora contrariamente aos microtúbulos e aos
microfilamentos, os filamentos intermédios não pareçam apresentar polaridade.
Os filamentos intermédios são essenciais para a estabilidade mecânica das células e tecidos no seu ambiente natural de
organização multicelular tridimensional, e não em simples culturas de células isoladas.
Os filamentos intermédios distendem‐se por toda a célula, distribuindo o efeito de forças aplicadas localmente e tornando as células mais resistentes ao stress
mecânico.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Desmossomas e hemidesmossomas:
Desmossomas: junções intercelulares adesivas em forma de disco que ocorrem entre células epiteliais, células da
piamater e da aracnoideia, células do miocárdio e de Purkinje do coração e células reticulares dendríticas dos folículos linfáticos.
Supostamente, a associação entre os filamentos intermédios citoplasmáticos e os desmossomas naquelas células contribuirá
para a arquitectura e estabilidade estrutural celular dos tecidos.
Hemidesmossomas: junções mediadas por integrinas que estabelecem a adesão celular à lâmina basal em epitélios
estratificados e em certos epitélios simples. Os filamentos intermédios de citoqueratina nestas células parecem ancorar nos
hemidesmossomas de modo morfologicamente semelhante aos desmossomas, embora as moléculas de ligação envolvidas
sejam distintas. Esta associação contribuirá, também, para a resistência a tracções e estabilidade estrutural entre o epitélio e o
mesênquima subjacente.
Os filamentos intermédios podem, ainda, estar envolvidos noutros processos celulares.
Associação de proteínas e complexos nucleoproteicos (designadamente DNA, mRNA, ribossoma e
prossomas/proteassomas) a filamentos intermédios controlo da expressão genética;
Constituição de locais de ligação a vários organelos (mitocôndrias e núcleo) ancoragem e posicionamento do
núcleo. A ligação ao núcleo e à membrana celular, além de função estrutural, pode servir para a transmissão de sinais da
superfície celular para o núcleo;
Ligação a outros elementos do citosqueleto.
* IFAPs – Intermediate Filament Associated Proteins:
Exemplo – Plectina:
Pode ligar‐se às subunidades proteicas dos vários tipos de filamentos intermédios, ocorrendo, portanto, em todos os
tecidos;
As suas moléculas podem formar, por auto‐associação, redes que estabelecem ligações a maior distância entre os
filamentos intermédios e outras estruturas celulares, nomeadamente os outros componentes do citosqueleto e a membrana
celular;
Afinidade de ligação com as MAP, com a espectrina e com a lâmina B;
Pensa‐se que desempenha funções importantes na organização global do citosqueleto.
Entre as proteínas associadas com especificidade tecidular, e a que também são atribuídas a função de estabelecer
ligações cruzadas entre os filamentos, são de referir:
no tecido epitelial: filagrinas, loricrina;
no tecido nervoso: internexina, nestina, IFAPa400 e NAPA‐73.
A ligação dos filamentos a outras estruturas celulares tem sido atribuída a proteínas localizadas nas placas das
desmossomas (desmoplaquinas) e no invólucro nuclear (lâmina B). As ligações à membrana podem ocorrer directamente ou
serem mediadas por proteínas do esqueleto submembranar (anquirina, espectrina).
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
A Célula Neoplásica ‐ Oncogenes
Um organismo multicelular é constituído por várias comunidades de células (tecidos, órgãos), com um elevado grau de
organização e controlo. Quanto maior for a variação do ambiente celular, maior terá de ser o esforço de adaptação. Mais
vantagem terá a diferença e a simplicidade.
A potencialidade adaptativa das células mantém‐se actualmente, podendo levá‐las a expressões morfológicas e
funcionais diferentes. Essa célula modificada é a célula neoplásica de um organismo e, porque é uma célula diferente,
desequilibra a homeostasia.
CANCERIGÉNESE
* Iniciação;
* Promoção;
* Progressão;
* Invasão.
1. INICIAÇÃO:
Ocorre a alteração do material genético na célula;
Ainda não ocorre expressão/alteração fenotípica células indistinguíveis;
Formação de um oncogene que poderá ou não vir a originar uma célula oncológica;
Causas – factores cancerigénicos: proto‐oncogenes dão origem a oncogenes, devido a factores intrínsecos ou
extrínsecos.
* Factores oncogénicos:
F
Factores intrínsecos: relacionados com a fragilidade do material genético ou de alguns proto‐oncogenes.
‐ Genéticos;
F
Factores extrínsecos:
‐ Químicos: amianto, alcatrão, benzeno, aflatoxinas…
‐ Biológicos: vírus hepatite, HPV e EBV, parasitas…
‐ Físicos: raios X, raios UV…
* Proto‐oncogenes:
Codificam proteínas implicadas na regulação do ciclo celular que são essenciais para a célula. Sendo assim, os proto‐
oncogenes são indispensáveis para a sobrevivência de uma célula normal, não podendo ser destruídos.
Codificam:
Factores de crescimento;
Receptores de factores de crescimento;
Elementos de transdução de sinal;
Factores de transcrição nuclear.
* Factores de crescimento:
Os factores de crescimento ligam‐se a receptores da membrana até que estes estejam todos ocupados. Deste modo,
existe um aumento da velocidade de ligação e posterior estabilização (quanto os receptores já estão todos ocupados).
Problema:
Aumento da síntese de factores de crescimento (origina uma maior multiplicação das células).
* Oncoproteínas de membrana:
Proteína EGFR – proteína receptora do factor de crescimento epitelial.
Problemas:
Receptor sempre activado (mesmo não tendo ligando, enviam informação activando o 2º mensageiro);
Receptor expresso em número exagerado (todos os factores de crescimento são captados, devido ao aumento do
número de receptores de membrana).
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
* Oncoproteínas de membrana:
Proteínass da família Raas (H, K, N‐Rass), proteína G.
Problemaa:
Activaçãão permanentte desta famíllia, sem estímulo externo.
* Oncoproteínas nucleares:
Actuam ccomo factoress de transcriçãão, estimulan ndo a expressãão de genes dde proteínas eessenciais parra a progressãão do
ciclo celular.
Problemaas:
Produçãão em número o exagerado;
Activaçãão permanentte independente da transdução de sinal..
Desregulaação da célula e de qualqu uer informaçãão que provenha do exteriior (corta barrreiras com o exterior) ccélula
autóónoma (entidaade) ser un nicelular. Daí q
que um indivííduo com can
ncro não tenh ha um tecido neoplásico, mmas sim um grrande
número de seres u unicelulares –– as células fun
ncionam como seres individ
duais.
Proteínas Proteínas
muladoras
estim inibidoras
D
Divisão Apopto
C
Celular se
Proteínass
inibidorass
Proteínas
muladoras
estim
u Divisõ
ões celulares v Apoptosee
Tem que existir um equilíbrio
o entre a multiplicação celular e a apopto ose.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
* Genes supressores tumorais – Mecanismo de protecção:
Proteínas que imped dem a continu uação do ciclo o celular apóss serem detecctadas irregulaaridades no ggenoma das céélulas
(quando detectam m irregularidaddes do genomma param o cicclo celular em m pontos difereentes consoan nte o gene);
Podem actuar de duaas formas:
‐
‐ Reparação ddo DNA;
‐
‐ Destruição d
da célula por aapoptose.
Gene RB B1;
Gene P5 53;
APC.
GENE P53 – THE GATEKEEPER:
Tem mu uita importânccia no controllo do ciclo celular – transiçãão G1‐S ;
Promovve a paragem do ciclo celulaar para reparaações do DNA A ou para activvação da apop ptose;
Interage com diversas proteínas para executar a sua funçãão: ATM, p73, Bax, Bcl‐2. A
A mais imporrtante é a p21 por
inibiçção das CDKs..
Check po oint G1, detecçção de defeito
o no DNA A Aumento p53 Activação d da p21 Inacctivação comp plexos CDK/ciclinas
D e EE A célula nnão entra na faase S Reparação do DNA A ou apoptose e
REPARAÇÃÃO DO DNA:
Proteínaas Mut S e Muut Sβ ligam‐see a segmentoss do DNA comm defeito;
Com a pparticipação d
de outras protteínas dá‐se aa clivagem de 100 a 200 nuucleótidos, inccluindo o defe
eito (é retirad
do um
grande número dee codões paraa garantir que não fiquem eerros);
O espaçço é preenchiddo por DNA‐polimerases.
APOPTOSEE:
Morte ccelular programada;
Sem inflamação, sem m necrose;
É um prrocesso normaal; num adulto o, morrem poor apoptose 500 biliões de céélulas por dia;
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Necessário para complementar a actividade e o equilíbrio proliferativo normal.
Fase de execução:
Caspases cisteínas (C) + aspartato (asp) + enzimas (ases)
Clivagem
São proteases (10 tipos que destroem elementos fundamentais da célula: citosqueleto, membrana nuclear e DNA;
Provocam “morte limpa”.
Fase de controlo:
Bcl‐2;
Encontram‐se na membrana externa da mitocôndria e evitam libertação para o citosol de citocromo c que activa as
caspases.
Proteínas transmembranares:
Bcl‐2 – anti‐apoptótica;
Bax – pro‐apoptotica.
São activadas se não é possível corrigir o defeito do DNA.
Proteínas anti‐apoptóticas – IAP (Exp. Survinina‐fetal)
Fazem parte do mecanismo mesmo em células normais.
GENE RB1:
Relaciona‐se com os retinoblastomas, daí a sua denominação;
Inibe proteínas pertencentes à família E2F que activam a expressão de genes de proteínas necessárias para a fase S,
como a ciclina E e a timidilato sintetase;
Se a Rb1 não se expressar vai haver um descontrolo na transcrição destas proteínas com activação descontrolada da
mitogenese;
‐ Retinoblastomas, leucemias, sarcomas, tumor do pulmão, mama, esófago, próstata e rim.
2. PROMOÇÃO:
Expressão fenotípica dos genes – as células já apresentam alterações fenotípicas;
Existe alteração morfológica;
A alteração fenotípica celular progride ou não dependendo de vários factores.
CÉLULA NEOPLÁSICA
* Relação núcleo/citoplasma aumentada também acontece nas células jovens; uma vez que as células neoplásicas
estão constantemente em multiplicação, são sempre “células jovens”;
* Núcleos com forma e volume irregular;
* Aumento do número de ribossomas;
* Pouco retículo (pois as proteínas não vão ser enviadas para o exterior – não necessitam de passar pelo RE);
* Aumento das mitocôndrias (energia) e lisossomas (para abrir caminho nos tecidos);
* Citosqueleto organizado para beneficiar a migração celular;
* Poucas especializações de membrana;
* Aumento das proteínas de membrana para transporte de glicose (energia);
* Poucos receptores de membrana – as células não necessitam de comunicar com o exterior; não são controladas;
* Não sofrem inibição por contacto, ao contrário das células normais.
3. PROGRESSÃO:
Multiplicação das células fenotipicamente alteradas;
Acumulação de mutações;
Angiogénese: mecanismo de crescimento de novos vasos sanguíneos a partir dos existentes. Começam a aparecer
vasos entre as células neoplásicas para alimentar as massas tumorais; estes vasos permitem que as células metastizem.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Nota: se o cancro for detectado no início da progressão, ainda existem boas possibilidades de este ser controlado.
4. INVASÃO:
Ocorre quebra da membrana basal.
Nota: o tumor pode ainda ser controlado, mas as hipóteses são diminutas.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Ciclo Celular
PROLIFERAÇÃO E RENOVAÇÃO CELULARES
* Evolução e conhecimento;
* Ciclo celular e sua regulação;
* Métodos de estudo e aplicações clínicas.
* Evolução e conhecimento:
1665: Robert Hook – Micrographia;
1675: Leeuwenhoek – Células vivas no sangue;
1838: Mathias Schleiden – Vegetais constituídos por células que provêm de uma única célula;
1839: Schwann – Princípio da teoria celular: célula como unidade estrutural da vida;
1855: Rudolf Virchow – 3º Princípio: as células provêm de células pré‐existentes;
1875: Schlichten – Divisão em vegetais;
1882: Flemming – Propõe o termo mitose;
1951: George Gly – Células de HeLa (tumorais): primeira cultura de células humanas;
1953: Howard e Pelc – Ciclo celular;
Anos 80: Ciclo celular:
‐ Timothy Hunt: isola ciclinas;
‐ Leland Hartwell: estuda o start gene; Prémio Nobel da Medicina 2001
‐ Paul Nurse: descobre gene cdc2.
* No Homem, uma única célula origina um organismo complexo.
Necessário um bom controlo do ciclo celular;
* Por segundo dividem‐se 25 milhões de células. Organismo muito bem controlado.
* 100 milhões de glóbulos vermelhos são substituídos por minuto.
* Populações celulares (Leblond):
Renovantes proliferantes;
Expansívas normalmente não estão em divisão, mas quando sujeitas a um estímulo, há uma activação da
multiplicação das células (exemplo: hepatócitos);
Estáticas células altamente diferenciadas, não sofrendo divisão (exemplo: células nervosas).
CICLO CELULAR
Fenómeno biológico dinâmico que permite a todas as células
indiferenciadas originar células filhas com as mesmas características genéticas e
que, saindo do ciclo celular, se diferenciam. Corresponde ao tempo compreendido
entre a mitose de uma célula e a mitose seguinte de uma ou das duas células filhas.
Também pode ser definido como o tempo que decorre desde a formação de uma
célula até que ela própria origina, por divisão, duas células filhas. As células filhas
têm as mesmas características morfológicas, fisiológicas e genéticas que a célula que
lhes deu origem.
Dois eventos essenciais ocorrem alternadamente no ciclo celular:
Duplicação do DNA na interfase;
Segregação dos cromossomas durante a mitose.
* Organismos eucariontes:
Relacionada com o DNA tudo depende da informação genética existente no DNA;
Cromatina: organização do DNA, ocorrendo ciclos de condensação e descondensação do material genético.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
A capacidade de reprodução ou proliferação é uma característica fundamental das células indiferenciadas. A
proliferação celular normal é regulada de forma a que a produção de novas células compense, exactamente, a perda de células
pelos tecidos.
* Fases do ciclo celular:
O ciclo celular compreende duas fases:
1. Divisão celular:
‐ Mitose: células somáticas;
Observam‐se os cromossomas
‐ Meiose: células germinativas;
2. Interfase: contribui para a regulação do ciclo celular, sendo fundamental no seu controlo. Nesta fase, os
cromossomas não são visíveis. Verifica‐se o crescimento celular à custa da síntese de proteínas, ribossomas e
retículo granular. Inclui todo o tempo do ciclo celular compreendido entre duas mitoses sucessivas, o que
corresponde a cerca de 90% do ciclo celular.
G1 – Gap 1:
‐ Ocorre entre o fim da mitose e o início da fase de síntese de DNA;
‐ Intensas sínteses celulares, durante as quais são produzidos numerosos organitos, verificando‐se, deste
modo, um grande crescimento celular;
‐ Síntese de RNA a partir de DNA nuclear para a formação de proteínas que permitem o crescimento celular,
atingindo a célula o estado adulto;
‐ Não há alteração da quantidade de DNA (2Q), nem do número de cromossomas (2n);
‐ Há apenas 1 centrossoma;
‐ Os centríolos encontram‐se dispersos.
S – Fase de síntese:
‐ Único momento da vida celular em que há auto‐replicação semi‐conservativa do DNA e de histonas, passando
cada cromossoma a ser constituído por 2 cromatídeos unidos por um centrómero;
‐ No final desta fase, todos os filamentos têm uma estrutura dupla;
‐ Os cromossomas não são visíveis;
‐ Não ocorre alteração do número de cromossomas (2n), mas o DNA duplica (4Q);
‐ Dá‐se a duplicação do centrossoma (centríolos), com posterior migração para pólos opostos da célula e
formação do fuso acromático/mitótico.
G2 – Gap 2:
‐ Ocorre entre o fim da fase de síntese e o começo da mitose;
‐ Semelhante à fase G1;
‐ Ocorrência de biossínteses (particularmente RNA e proteínas), mas em menor grau do que na fase G1, o que
leva também a um menor crescimento celular;
‐ Cromossomas não visíveis;
‐ Não há alteração da quantidade de DNA (4Q) nem do número de cromossomas (2n);
‐ Existem dois pares de centríolos.
As células saem do ciclo celular quando iniciam a sua diferenciação e maturação. Após a mitose de uma célula, as
células filhas podem seguir vias alternativas:
1. Um processo conduz à diferenciação e à maturação, tornando‐se células não proliferativas, saindo do ciclo de
divisão e migrando para camadas mais superficiais (caso dos epitélios) ou diversos compartimentos celulares (caso
das células sanguíneas);
2. Iniciarem nova fase de síntese após uma fase pós‐mitótica de duração normal;
3. Entrarem numa fase pós‐mitótica prolongada (G0), reentrando, mais tarde, em nova fase de síntese do DNA e
cumprindo outro ou mais ciclos de divisão.
A fase G1 prolongada, ou fase G0, é distinta da fase G1 habitual e observa‐se em células caracterizadas por um longo
período de vida, que raramente se dividem, mas após estímulos adequados, podem efectuar um ou mais ciclos de divisão (como
é o caso dos hepatócitos em diversos tipos de lesões). A sua existência confere vantagens perante os vários agentes patolóticos.
A decisão para a entrada de uma célula no ciclo celular (o ponto de não retorno, Ponto R, Restriction Point) ocorre no
final da fase G1, visto que, depois das células terem passado este ponto, progridem para a fase de síntese e para a mitose.
* Métodos de estudo do ciclo celular:
Métodos autorradiográficos: utilização de isótopos radioactivos. Inicialmente utilizou‐se o fosfato‐P32 incorporado pelo
DNA no decurso da sua síntese. O método não é específico, pois outras substâncias podem incorporar este composto. Para além
disso, causava lesões celulares. Passou a ser utilizado outro precursor do DNA, a timidina tritiada, exclusivamente incorporada
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
pelo DNA, ao contrário do fosfato. Quando as células de DNA a incorporam, tornam‐se radioactivas. Por simples fixação dos
tecidos, toda a radioactividade é removida, excepto a que foi incorporada no DNA. Por este processo reconhecem‐se células com
capacidade de proliferação numa dada população celular e está na base do grande desenvolvimento do estudo da proliferação
celular. A timidina tritiada, sendo útil em experimentação animal, é de difícil uso no homem pois podem surgir efeitos mutantes
no núcleo.
Fluorescência;
Citometria de fluxo.
* Tempo de geração:
O tempo de geração é característico para cada população;
Normalmente, a duração do ciclo celular nas células das áreas proliferativas
do organismo humano é de cerca de 24 horas;
A fase S é de duração relativamente constante, na maioria dos casos de 6‐8
horas e parece ser independente do tempo de geração;
A fase G1 é a mais variável em duração e, geralmente, a mais longa, desde
algumas horas a vários meses. É a fase em que a maioria das células pode permanecer
por tempo indefinido. Sabe‐se que, em culturas de tecidos, as fases S e G2 são
constantes e que a duração do ciclo depende das variações de G1;
A duração da fase G2 é muito constante nas células dos mamíferos, sendo em
média de 6 horas;
O tempo de duração da mitose nas células dos mamíferos considera‐se igual
a 1 hora.
Nas células embrionárias, nas primeiras divisões, os ciclos celulares oscilam
entre a fase M e a fase S (estando suprimidas as fases G1 e G2). Não há crescimento
celular. O citoplasma dos oócitos contém os nutrientes necessários para a rápida divisão
no estádio de blástula.
* Mecanismos de regulação da mitose e meiose:
O ciclo celular é regulado ao nível molecular, sendo fundamental o conhecimento dos mecanismos de regulação para o
estudo das populações celulares normais e patológicas. Conhecendo os factores que controlam o ciclo celular, torna‐se possível
combater a proliferação anormal das células tumorais.
Os cromossomas têm funções especiais:
duplicam na fase S à custa de enzimas específicas e separam‐se para duas células filhas à custa do citosqueleto que
também contribui para a separação das duas células provenientes da mitose (citocinese);
devem expressar a mensagem genética em duas classes de proteínas:
‐ as que regulam o ciclo celular;
‐ as que formam os componentes da próxima geração de células.
Existem diferenças notáveis entre a mitose e a meiose, mas foi através do estudo do ciclo celular da meiose que foi
descoberto o primeiro factor que controla o ciclo celular. O citoplasma de oócitos maduros (activados pela progesterona)
injectado em oócitos imaturos provoca a maturação destes. O factor que induz a maturação dos oócitos foi designado de
Maturation Promoting Factor (MPF) – factor promotor da maturação – e aplica‐se aos ciclos celulares meótico e mitótico.
Aos componentes moleculares que activam e inactivam as reacções químicas do ciclo celular foi dado o nome de motor
do ciclo celular (cell cycle engine). O próprio MPF faz parte dele.
Antes de cada divisão celular (na mitose e na meiose), o MPF aumenta (fase activa), induzindo a condensação dos
cromossomas, a desorganização da membrana nuclear e a formação do fuso mitótico.
A desactivação do MPF provoca a segregação dos cromossomas e a sua descondensação, a formação da membrana
nuclear e a citocinese – seguindo‐se a interfase.
A activação do MPF está relacionada com a síntese proteica.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Há fosforilação da CDK (também é factor de
controlo do complexo ciclina‐CDK)
Cdc2 forma complexos com a ciclinaB
durante as fases S e G2. Conforme o
complexo se forma, o Cdc2 é fosforilado na
treonina‐161, que é requerida para a sua
actividade, bem como na tirosina‐15 (e
treonina‐14 nas células vertebradas), o que
inibe a actividade do Cdc2. A desfosforilação
na treonina‐14 e tirosina‐15 activa o MPF na
transição da fase G2 para a fase M. Esta
desfosforilação é da responsabilidade de
uma proteína fosfatase chamada de Cdc25.
A fosforilação na tirosina‐15, catalisada por
uma proteína chamada Wee1, inibe a
actividade do Cdc2 e leva a uma acumulação
de complexos Cdc2‐ciclinaB inactivos
durante as fases S e G2. A actividade do MPF
é então terminada pela degradação
Activação do MPF:
‐ Formação do fuso mitótico;
‐ Condensação da cromatina;
‐ Degradação do invólucro nuclear;
‐ Fragmentação do aparelho de Golgi e ER.
Enquanto que no ciclo celular das células embrionárias, a inactivação do MPF provoca, de imediato, a replicação do DNA
e a duplicação dos centros organizadores dos microtúbulos (MTOC), no ciclo celular das células somáticas estes fenómenos são
provocados, não pela inactivação da MPF, mas por outro fenómeno que surge na fase G1 e que foi designado por Start em
relação aos organismos unicelulares e Ponto de Restrição, Ponto R, nos multicelulares.
Start:
‐ Divide a interfase em 2 períodos: antes, as células estão em G1 e não tem início a replicação do DNA e do único
centrossoma; a passagem por Start induz a replicação do DNA e do centrossoma (fase S), seguindo‐se a fase G2;
‐ Actua como ponto de controlo no qual o progresso do motor do ciclo celular pode ser regulado por factores que
actuam dentro e fora da célula, tais como o microambiente e o volume celulares.
Oscilações regulares do MPF coordenam as fases do ciclo celular.
Existe uma proteína que desaparece no final de cada mitose e reaparece gradualmente na fase seguinte. Esta proteína,
por ter um comportamento cíclico, foi designada ciclina. A acumulação da ciclina, durante a interfase, activa o MPF e este,
activo, induz a destruição da ciclina; este fenómeno conduz à inactivação do MPF. Neste “modelo”, o motor do ciclo celular
oscila entre a mitose e a interfase (ciclo).
A identificação dos genes que codificam para proteínas indispensáveis à progressão normal do ciclo celular conduziu,
por fim, à identificação do MPF e dos seus componentes.
O MPF é constituído por duas proteínas (34 KDa e 46 KDa): uma proteína‐cinase ‐ CDK1 – e uma ciclina que se encontra
muito concentrada no início da mitose ‐ ciclina B. O factor MPF corresponde ao complexo CDK1‐ciclina B.
Proteínas‐cinases – Cyclin Dependent Kinases ou CDK a sua activação depende das ciclinas.
Ciclinas: activam e controlam a capacidade das CDK para fosforilar determinadas proteínas alvo, em resíduos de serina e
treonina.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
* Controlo do ciclo celular:
Existem vários pontos de controlo do ciclo celular. O Ponto R ou Ponto de Restrição ocorre no final da fase G1: as células
com anomalias ou falta de nutrientes não entram no ciclo celular e poderão ser eliminadas por apoptose.
Além do ponto de restrição existem outros pontos de controlo, na progressão de cada uma das fases do ciclo celular. A
acção destes mecanismos consiste, fundamentalmente, em verificar se existem lesões no DNA celular.
As principais proteínas que controlam o ciclo celular são as ciclinas, as proteínas‐cinases dependentes das ciclinas
(CDK) e as proteínas inibidoras (CKI) que actuam sobre as CDK.
As ciclinas activam as CDK formando complexos moleculares CDK‐clicinas. São polipéptidos cuja concentração é variável
durante as fases do ciclo celular. A primeira ciclina a ser descoberta foi a ciclinaB, que é sintetizada nas fases G1, S, G2 e destruída
no final da mitose.
O ciclo celular das células dos organismos multicelulares é muito mais complexo que o dos organismos unicelulares. Os
vertebrados possuem muitos genes diferentes para as ciclinas e vários genes para os CDK também diferentes. Os seus produtos
formam, por isso, múltiplas associações CDK‐ciclinas durante o ciclo celular.
Cada fase do ciclo celular é activada por um complexo CDK‐ciclina, se a ciclina se encontrar na concentração máxima
necessária:
Fase G1 (Ponto R): ciclinaD‐CDK2, 4, 5, 6;
Transição G1/S: ciclinaE‐CDK2;
Transição S/G2: ciclinaA‐CDK2;
Transição G2/M: ciclinaB‐CDK1.
Os complexos ciclina D‐CDK4 do ponto R e o complexo ciclinaE‐CDK2 são indispensáveis para a progressão do ciclo
celular na transição G1/S: ambos constituem o factor de promoção da fase S (SPF). Mas torna‐se necessária a acção conjunta da
fosfoproteína do retinoplastoma (pRb).
3 checkpoints principais, que correspondem às fases G1, G2 e M:
Antes da duplicação do DNA: relacionado com o ambiente que rodeia a célula (existência de nutrientes, mating factors
e tamanho da célula);
Após a fase G2: controlo mais intercelular, relacionado com a duplicação do DNA;
Durante a mitose/meiose: ao nível da prometafase/metafase, relacionado com o alinhamento dos cromossomas na
placa equatorial. É necessário que os cromossomas estejam bem localizados e alinhados para que o ciclo prossiga; caso
contrário, o ciclo celular pára, para não ocorrerem aneuploidias.
* Factores inibidores do ciclo celular:
Existem diversas proteínas inibidoras do ciclo celular:
p53, da qual depende a síntese; guardiã do ciclo celular;
família p21 (21, 27 e 57), que impede os complexos CDK‐ciclinas de se ligarem entre si;
família p16 ou INK4 (15, 16, 18 e 19), que entram em competição com as ciclinas nas ligações com os CDK.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Em qualquer das fases do ciclo celular podem ocorrer disfunções graves; é nesses casos que actuam as proteínas
inibidoras do ciclo e que podem conduzir à paragem em G0, à proliferação celular excessiva ou à morte celular por apoptose.
1. p53:
Regula os mecanismos da proliferação celular, actuando ao nível da transcrição do DNA. Em situações de lesão deste,
activa os genes da apoptose ou provoca a paragem do ciclo em G1. Esta acção é exercida pela indução de outra proteína, a p21
(CKIp21), que, por sua vez, actua sobre as CDK‐ciclinas, inibindo a replicação do DNA na fase S (podendo actuar a outros níveis).
Se a p53 não induzir a acção da p21, a célula com lesões graves continua a proliferar, provocando o cancro. Cerca de 50% dos
tumores malignos humanos apresentam mutações do gene da proteína p53.
2. p25 e p57:
Possuem também a capacidade de ligação a vários complexos CDK‐ciclinas, estando a p27 relacionada com outros
factores inibidores do crescimento celular e da cancerigénese.
3. p16 (CKIp16):
É a proteína inibidora do complexo ciclina D‐CDK4. O complexo p16‐CDK4‐ciclinaD‐pRb é essencial para a regulação da
transição da fase G1‐S e para a interpretação da cancerigénese humana. Verificam‐se alterações em um destes quatro genes nos
cancros humanos estudados.
A p21 e a p27 desempenham uma função importante na diferenciação celular: imediatamente antes do início do
processo de diferenciação, as células saem do ciclo celular e terminam a sua actividade mitótica.
A ausência de factores inibidores provoca alterações no ciclo celular, o que provoca um maior desenvolvimento celular.
* Factores extracelulares:
Actuam através de ligações existentes entre o meio extra e intracelular.
* Regulação da proliferação celular a apoptose:
Necrose;
Apoptose:
‐ homeostasia celular;
‐ modelação do orgasnismo (no período embrionário, a separação dos dedos é provocada pela apoptose das
membranas existentes entre eles);
‐ desregulação neoplasia.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Mitose
MITOSE
* A mitose dura cerca de 30 a 60 minutos;
* Complexo processo de divisão nuclear e citoplasmática, pelo qual uma célula origina duas células‐filhas, iguais à
célula‐mãe que lhes deu origem, mantendo‐se inalterável o número de cromossomas específicos;
* A perpetuação do genoma celular mantém‐se inalterável;
* Está dividida em:
Profase;
Prometafase;
Metafase;
Anafase A e B;
Telofase.
* Enquanto que uns fenómenos ocorrem simultaneamente, outros ocorrem interligados e dependentes de ocorrências
anteriores onde actuam múltiplos factores reguladores do processo;
* A seguir à mitose segue‐se a citocinese.
FASES DA MITOSE
1. PROFASE:
O seu início torna‐se visível com o aumento de volume nuclear;
Condensação dos cromossomas aparecimento da cromatina organizada sob a forma de longos e finos filamentos, os
cromossomas, distribuídos irregularmente no nucleoplasma. Cada cromossoma é constituído por 2 moléculas de DNA
rigorosamente iguais;
Formação do fuso acromático;
Desaparecimento dos nucléolos;
Ruptura da membrana nuclear.
* Formação do fuso acromático:
Dá‐se a partir dos pólos, onde se encontram os centríolos. Cada par de centríolos migra para os pólos, formando‐se os
microtúbulos (9 dupletos).
Moléculas de tubulina γ, a partir das quais se dá a formação de tubulina α e β;
Ciclo centríolar.
2. PROMETAFASE:
Ruptura da membrana nuclear: dissipação do invólucro nuclear, dando origem a fragmentos que, posteriormente, vão
servir para formar o invólucro nuclear das células‐filhas;
Ligação dos cromatídeos ao fuso mitótico através do cinetocoro.
* Cinetocoro:
Disco proteico associado ao centrómero;
Organização trilamelar estritificada, onde se encontram ligados os
microtúbulos. Nesta, distingue‐se a base cinetocoriana que liga a lamela basal à
região do centrómero. A lamela apical, à qual aderem os microtúbulos, chama‐se
coroa. As proteínas que constituem a estrutura laminar foram designadas por
proteínas A, B e C;
Associação microtúbulo‐cinetocoro;
As proteínas motoras permitem a ligação entre os microtúbulos e o
cinetocoro (movimentação).
* Alinhamento dos cromossomas:
Unem‐se a um microtúbulo;
Adição e extracção de tubulinas através do cinetocoro definem o tamanho dos microtúbulos permitem o
alinhamento ao nível da placa metafásica. É necessária a adição e extracção de tubulinas pois os cromossomas encontram‐se
dispersos no nucleoplasma, fazendo com que uns estejam mais perto dos pólos que outros, o que origina diferentes
comprimentos de microtúbulos.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Lâmina A e C dispersas;
Lâmina B associada a fragmentos da membrana nuclear
Ao nível da prometafase/metafase existe um ponto de controlo do ciclo celular: os cromossomas têm que estar
alinhados na placa equatorial para passarem à fase seguinte. Este controlo é muito importante pois caso os cromossomas não
estejam devidamente alinhados, isto pode dar origem, aquando da separação dos cromatídeos, a características genéticas
diferentes, o que não corresponde ao princípio da mitose.
Existem dois tipos de controlo:
Forças exercidas pelos microtúbulos (equalização do comprimento dos microtúbulos);
Sinal químico: mad2 este sinal só desaparece quando os cromossomas se encontram todos na placa metafásica.
3. METAFASE:
Cromossomas no plano equatorial (placa equatorial ou placa metafásica);
Cromatídeos bem alinhados;
Coesina complexo que existe ao longo da cromatida (durante a anafase é degradado);
Ligação a nível do centrómero;
Existem porções de DNA duplicado que não foram destacadas maior coesão.
Diferentes tipos de microtúbulos ao nível do fuso mitótico:
Astrais: crescem em direcção ao córtex da célula, em direcção oposta ao fuso, estando envolvidos no posicionamento
global do fuso e separação dos pólos durante a anafase B Dirigem‐se para a periferia;
Cromossómicos ou cinetocorianos: estabelecem a ligação entre os centrossomas e os cinetocoros, estando envolvidos
na organização dos cromatídeos na placa equatorial e a sua posterior segregação Ligam o pólo ao cromossoma;
Polares: parecem unir pólo a pólo. No entanto, estes partem dos centrossomas e estendem‐se em direcção ao pólo
oposto do fuso, sobrepondo‐se na placa equatorial (próxima da qual terminam). São resposáveis, durante o período inicial da
formação do fuso, por interacções com as proteínas que estabelecem pontes entre os microtúbulos provenientes dos dois pólos.
Interdigitam‐se com os microtúbulos do pólo oposto, na zona da placa equatorial.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
4. ANAFASE:
Aumento da subtracção de unidades de tubulina ao nível dos pólos e cinetocoros deslocalento do centrossoma no
sentido do pólo.
1. Anafase A:
‐ Clivagem dos centrómeros;
‐ Segregação dos cromatídeos para os pólos;
‐ Acção de uma protease (complexo coesina);
‐ Topoisomerase cliva as pontes de DNA existentes.
2. Anafase B:
‐ Ascenção polar aumento da distância entre os pólos.
APC leva à proteolise de ciclinaB destruição das ciclinas mitóticas.
5. TELOFASE:
Cromossomas atingem os pólos;
Desaparecimento do fuso acromático;
Reorganização da cromatina;
Descondensação dos cromossomas;
Reaparecimento dos nucléolos.
CITOCINESE
Separação das duas células‐filhas (do material citoplasmático);
Membrana externa do invólucro nuclear tem ribossomas relação com o RER associação dos fragmentos da
membrana nuclear ao RER;
Formação de vesículas com fragmentos de RER que depois se separam nas duas células filhas;
Aparelho de Golgi as suas membranas acumulam‐se em vesículas do RER, que depois se separam nas duas células‐
filhas;
Ribossomas e mitocôndrias as mitocôndrias dividem‐se conforme as necessidades das células por um mecanismo
próprio;
Formação de um anel contráctil actina e miosina;
Existe um sinal químico, possivelmente cálcico, que permite a activação do anel contráctil.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
G2 (interfase) Profase Prometafase
Metafase Anafase Telofase e Citocinese
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
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Fertilização
FERTILIZAÇÃO
* É um complexo fenómeno biológico que ocorre entre os gâmetas masculino e feminino, células haplóides, conduzindo
à sua fusão para se originar o ovo ou zigoto, célula diplóide, portadora dos caracteres hereditários de origem paterna e materna;
* No caso da fertilização humana, esta ocorre nas vias genitais femininas ‐ denominando‐se de fertilização interna ‐,
mais propriamente no primeiro 1/3 das trompas de Falópio.
Após a sua formação nos tubos seminíferos do testículo, os espermatozóides são transferidos para a primeira porção
dos ductos genitais excretores extratesticulares, o epidídimo. Aí, por acção de moléculas secretadas localmente, os
espermatozóides:
‐ são nutridos;
‐ sofrem alterações na composição da sua membrana que impedem a sua reacção precoce;
‐ adquirem uma ligeira motilidade.
Na ejaculação, a contracção muscular propele os espermatozóides acumulados no epidídimo para o canal deferente,
misturando‐se de seguida com as secreções das vesículas seminais e da próstata. Estas secreções (líquido seminal) fornecem
nutrientes, actuam como germicidas e bloqueiam receptores de superfície para impedir a reacção precoce dos espermatozóides.
Em contacto coma uretra, o líquido seminal coagula para proteger os espermatozóides.
No canal vaginal, a temperatura de 37ºC permite a liquefacção do sémen. A revestir o colo uterino encontra‐se o muco
cervical, uma fina rede glicoproteica que permite a passagem aos espermatozóides normais e progressivos rápidos. A barreira do
muco cervical constitui a primeira selecção contra células anormais, leucócitos e microrganismos.
Na cavidade uterina, moléculas secretadas localmente alteram a composição da membrana dos espermatozóides, tornando‐a
lábil, e induzem uma hiperactivação flagelar. Estas alterações (capacitação) permitem aos espermatozóides migrarem (1‐2 dias)
ao longo do muco que recobre o epitélio do endométrio e dos oviductos.
A interacção entre os gâmetas efectua‐se no 1/3 distal das trompas de Falópio (oviducto). O ovócito II recém‐ovulado
encontra‐se na metafase II da meiose, e está rodeado por uma camada glicoproteica denominada zona pelúcida (ZP). Agarradas
ao exterior da ZP encontra‐se um conjunto de células foliculares, o cumulus oophorus. Denomina‐se óvulo ou folículo ovárico o
conjunto formado pelo ovócito e suas células foliculares. Após a ovulação, e uma vez na cavidade do oviducto, a matriz
extracelular que rodeia as células foliculares difunde uma molécula específica de espécie, que forma um gradiente químico e
assim funciona como substância quimiotáxica que ajuda a direccionar os espermatozóides.
Quando encontram o óvulo, os espermatozóides penetram por entre as células foliculares para atingirem a ZP. A
penetração da matriz folicular é executada de modo mecânico (motilidade) e químico (digestão do ácido hialurónico da matriz
celular pela hialuronidase de superfície do espermatozóide).
A membrana pelúcida possui 3 glicoproteínas: ZP1, ZP2 e ZP3, e glicosaminoglicanos (GAG). A ZP3 e os GAG ligam‐se a
receptores específicos de espécie da membrana do espermatozóide, induzindo a reacção acrossómica. Esta consiste na
exocitose da vesícula acrossómica. Em consequência, as enzimas da vesícula acrossómica (proacrosina e hialuronidase) são
libertadas sobre a superfície da membrana pelúcida. A ZP2 activa então a proacrosina em acrosina, uma enzima proteolítica que,
em conjunto com a hialuronidase, digerem a membrana pelúcida, permitindo, assim, a penetração do espermatozóide até à
membrana citoplasmática do ovócito.
Ao contactar coma membrana citoplasmática do ovócito (oolema), o espermatozóide dispõe‐se na horizontal. Nesta
posição, os receptores transmembranares específicos de espécie e presentes na região equatorial (desintegrina) ligam‐se a
receptores correspondentes do oolema (integrina).
A interacção entre os receptores das membranas dos dois gâmetas tem variadas consequências, no seu conjunto denominadas
activação do zigoto. A mais rápida consiste numa despolarização do potencial de membrana do oolema. Esta despolarização
potencia a activação do zigoto (activação da proteína G; abertura dos canais iónicos; reacção cortical) e origina um bloqueio
primário (transitório) contra a polispermia. A interacção entre os receptores activa de seguida uma proteína G, a qual, por sua
vez, activa várias proteínas‐cinases e fosfolipases, com produção subsequente de cAMP, inositol trifosfato (InsP3; pela
fosfolipase C), e lisofosfolípidos (pela fosfolipase A2).
Uma vez estabelecida a continuidade entre as duas células, a proteína oscilina, contida na região equatorial do espermatozóide,
difunde para o citoplasma do ovócito (ooplasma). Em conjunto com o InsP3, a oscilina estimula a libertação cíclica dos iões cálcio
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
acumulados nas mitocôndrias e no REL. Cada aumento da concentração citosólica do ião cálcio livre ([Ca2+]i) é transitório e
repete‐se periodicamente, num fenómeno denominado oscilações do cálcio.
Acrossoma dos espermatozóides tem membrana interna e externa:
> Interna: mais próxima do núcleo;
> Externa: próxima da membrana plasmática da cabeça do espermatozóide.
Reacção acrossómica/capacitação
Influxo de cálcio faz com que a membrana externa do acrossoma e a membrana plasmática do espermatozóide se
fundam, o que provoca a libertação de enzimas. As mais importantes são a hialuronidase e a acrosina.
> Hialuronidase: importante para a penetração da coroa radiata (fusão das membranas do acrossoma e
espermatozóide).
> Acrosina: penetração da membrana pelúcida.
Membrana pelúcida: ZP1, ZP2, ZP3
A ZP3 tem complexos oligossacarídeos o espermatozóide tem receptores para estes complexos.
Presença de um heterodímero fertilina (desintegrina) tem afinidade para as integrinas da membrana do ovócito
Um influxo de cálcio provoca a saída das enzimas do acrossoma desencadeado o processo de reconhecimento do
espermatozóide.
É a proteína CD9 que faz a ligação da desintegrina à integrina.
Reacção acrossómica;
Acrosina;
Desintegrina‐integrina por CD9.
Junção do espermatozóide com o ovócito fusão das membranas (acrosina)
Impedimento da polispermia ‐ 2 mecanismos:
> Alteração da polimerização da membrana do ovócito (mecanismo eléctrico momentâneo e rápido);
> Contacto do espermatozóide coma membrana pelúcida libertação de enzimas electrolíticas que degradam
proteínas ZP3, o que impede a ligação de mais algum espermatozóide (não há reconhecimento de receptores).
Completa‐se a meiose II do ovócito que estava parado em metáfase II
v
Formação dos 2 pronúcleos
v
Fusão dos pronúcleos
v
Mitoses sucessivas do zigoto (segmentação)
A membrana pelúcida mantém‐se até à implantação, que ocorre quando o embrião se encontra na fase de blastocisto
(trofoblasto + botão embrionário).
O embrião leva 5 dias a percorrer a trompa até ao útero. Quando atinge a cavidade uterina está em estado de mórula
(16 blastómeros – parecem todos idênticos, mas posteriormente existe uma diferenciação: os blastómeros da periferia formam
o trofoblasto, enquanto que os blastómeros internos formam as estruturas do embrião propriamente dito).
* Implantação:
‐ A implantação precoce é impedida devido à existência de membrana pelúcida. É necessária a sua perda para que a
implantação seja possível. A membrana pelúcida mantém a integridade do embrião.
‐ As células do endométrio têm desmossomas e emitem uns prolongamentos (pinópodes), que permitem a aposição do
trofoblasto à superfície do endométrio.
‐ O trofoblasto segrega enzimas, que provocam a digestão da superfície do endométrio e destrói os desmossomas. Este
tem, então, capacidade invasiva (envia prolongamentos para o endométrio).
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
‐ Lagos de sangue envolvem o embrião alimentação do embrião por difusão. É necessária a produção de
anticoagulante (heparina) para que o sangue materno se mantenha fluido. Ao mesmo tempo que se segregam enzimas
digestivas é produzido anticoagulantes
Reacção decidual impede que o embrião seja considerado como estranho, fazendo com que a mãe não produza
anticorpos contra o embrião.
Vilosidades coriónicas (placenta) produção de hCG.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Embriogénese
EMBRIÃO
* O zigoto divide‐se, sendo origem de células totipotentes;
* Imediatamente após a fertilização, o zigoto sofre uma mudança pronunciada do seu metabolismo;
* Transporte do embrião (envolvido pela membrana pelúcida) através da trompa de Falópio, desde o local da
fecundação até à cavidade uterina, onde vai ocorrer a nidação.
Clivagem ou segmentação
Consiste em repetidas divisões mitóticas do zigoto, o que leva ao rápido aumento de células (blastómeros);
Existe um processo de compactação dos blastómeros, pois vão‐se multiplicando, mas o volume continua o mesmo
(devido à membrana pelúcida). Os blastómeros vão‐se tornando progressivamente menores;
Processo lento;
Alternância entre fase M e fase S do ciclo celular (não há crescimento celular);
Nos primeiros 3 a 4 dias dá‐se cerca de 1 clivagem por dia;
No início da clivagem, o zigoto ainda está contido pela zona pelúcida e pelas células da coroa radiata. A coroa radiata
desaparece dois dias após o início da clivagem; a membrana pelúcida permanece intacta até ao embrião alcançar o útero (ajuda
a manter unidos os blastómeros do embrião em clivagem);
Após o estado de 2 células, a clivagem deixa de ser simultânea/sincrónica, pois uma das células (blastómeros) divide‐
se para formar um embrião de 3 células. Quando o embrião é formado por aproximadamente 16 blastómeros, é denominado de
mórula (blastómeros compactados);
Continuam a ocorrer clivagens e compactação dos blastómeros, processo durante o qual os blastómeros externos
individuais aderem firmemente uns aos outros através de junções de oclusão e comunicantes (glicoproteínas de adesão da
superfície celular). Este atinge a cavidade uterina;
Cerca de 4 dias após a fertilização, começa a formar‐se dentro do embrião um espaço cheio de líquido –
blastocélio/blastocele – e o embrião como um todo é denominado blastocisto. É o trofoblasto que rodeia esta cavidade;
Apesar de as células serem todas idênticas, começa a existir um esboço de uma diferenciação: as células interiores
formarão o embrião propriamente dito e as células à periferia o trofoblasto (que origina estruturas anexas). Esta diferenciação
depende da localização das células (se se colocar uma célula da periferia na massa celular interna, esta dá origem a estruturas
características desta);
No estado de blastocisto, o embrião consiste em dois tipos celulares:
‐ Camada superficial externa/trofoblasto: camada externa de células achatadas que circunda um pequeno grupo
interno de células, denominado embrioblasto. Dá origem à parte embrionária da placenta;
‐ Massa celular interna, embrião propriamente dito ou embrioblasto.
O trofoblasto forma apenas estruturas extra‐embrionárias, inclusivamente as camadas externas da placenta. As células
da massa celular interna vão dar origem ao corpo do embrião e a um certo número de estruturas extra‐embrionárias.
O blastocisto atinge a cavidade uterina.
TRANSPORTE E IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO
A implantação ocorre 6 a 7 dias após a fertilização, na porção média da parede posterior do útero;
Após o embrião ter alcançado a cavidade uterina, a membrana pelúcida desaparece progressivamente, preparando‐se
para a implantação. A dissolução da membrana pelúcida indica que o embrião está pronto para começar o implante;
Através da produção de progesterona, o útero encontra‐se preparado para receber o embrião (ambiente celular e
nutricional adequado ao embrião);
A implantação dá‐se pelo pólo embrionário (área acima da massa celular interna), inicialmente por aposição e depois
interposição/invasão do endométrio (o embrião começa a aderir firmemente ao revestimento epitelial do endométrio. Logo
após, mergulha no estroma endometrial e o local da penetração é recoberto pelo epitélio);
O trofoblasto celular sofre uma diferenciação (ver adiante);
As células do endométrio têm desmossomas e emitem uns prolongamentos (pinópodes), que permitem a aposição do
trofoblasto à superfície do endométrio;
O trofoblasto segrega enzimas, que provocam a digestão da superfície do endométrio e destrói os desmossomas. Este
tem, então, capacidade invasiva (o sinciciotrofoblasto envia prolongamentos digitiformes que se estendem através do epitélio
do endométrio e invadem o tecido conjuntivo do endométrio, o que permite a penetração do blastocisto no endométrio);
Enquanto o embrião mergulha no endométrio, as células do estroma uterino começam a sofrer uma profunda
transformação, chamada reacção decidual. Há uma diminuição da defesa imunitária da mãe, permitindo evitar o
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
reconhecimento antigénico do novo ser até que ele esteja completamente isolado, primeiro pelo trofoblasto, e depois pela
placenta. Simultaneamente, os leucócitos, que haviam infiltrado o estroma endometrial durante o final da fase da progesterona
do ciclo menstrual, segregam interleucina‐2, que impede que a mãe reconheça o embrião como corpo estranho durante as fases
iniciais da implantação. A reacção decidual é responsável pela criação de um local imunologicamente privilegiado para o embrião
em desenvolvimento;
De 10 a 12 dias após a fertilização, o embrião está totalmente imerso no endométrio;
Cerca de 12 dias após a fertilização, começa a aparecer outro tecido extra‐embrionário, a mesoderme extra‐
embrionária;
Começam a formar‐se lacunas no endométrio. Estas lacunas vão ser preenchidas por sangue da mãe (por corrosão das
paredes dos capilares existentes no endométrio);
Lagos de sangue envolvem o embrião alimentação do embrião por difusão. É necessária a produção de
anticoagulante (heparina) para que o sangue materno se mantenha fluido. Ao mesmo tempo que se segregam enzimas
digestivas é produzido anticoagulante. Logo após a aposição, o embrião mergulha no estroma endometrial, e o local da
penetração é recoberto de epitélio de modo semelhante à cicatrização de uma ferida na pele (rodeado de fibrina).
Pouco antes do implante do embrião no endométrio, no início da segunda semana, começam a ocorrer mudanças
significativas na massa celular interna, assim como no trofoblasto.
FORMAÇÃO DAS CAMADAS GERMINATIVAS E DERIVADOS INICIAIS
Pouco antes da implantação, por delaminação da massa celular interna (rearranjo das células na massa celular interna
numa disposição epitelial), formam‐se duas camadas de células, uma superior – epiblasto – e outra inferior – hipoblasto (ou
endoderme primitivo). A massa celular interna transforma‐se, assim, num disco bilaminar, o disco germinativo. Há um rearranjo
das células do embrioblasto, numa disposição epitelial, aparecendo uma fina camada de células ventralmente à massa principal
de células
* Epiblasto/ectoderme:
Primeira camada do embrião de onde provêm todas as estruturas do embrião;
Camada mais espessa de células;
As células são mais altas (colunares), tendo características epiteliais (única camada de células muito coesas, ligadas
umas às outras por caderinas, ou seja, expressam proteínas de adesão celular;
As células do epiblasto dividem‐se, limitando a cavidade amniótica que contém o líquido amniótico (âmnio – camada
de ectoderme extra‐embrionária que acaba por envolver todo o embrião na cavidade amniótica; amnioblastos – células do
epiblasto que rodeiam a cavidade amniótica). O epiblasto forma o assoalho da cavidade amniótica, continuando‐se, na periferia,
com o âmnio;
Contém as células que vão constituir o embrião propriamente dito, mas tecidos extra‐embrionários também provêm
desta camada (como a ectoderme extra‐embrionária, que acaba por envolver todo o embrião numa câmara cheia de fluido –
cavidade amniótica).
* Hipoblasto/endoderme:
Forma‐se por delaminação do epiblasto;
Células cubóides;
As células do hipoblasto dividem‐se, originando o revestimento endodérmico da vesícula vitelina – formada pela
modificação da membrana e cavidade exocelómica (anterior blastocélio). Vesícula vitelina primitiva e definitiva: a segunda é
mais pequena e forma‐se no interior da primeira.
Depois de o hipoblasto se tornar uma camada bem definida e o epiblasto ter assumido um aspecto epitelial, a antiga
massa celular interna transformou‐se num disco germinativo bilaminar, com o epiblasto situado na superfície dorsal e o
hipoblasto na ventral.
As células continuam a sofrer delaminação, colocando‐se entre o epiblasto e o hipoblasto (ectoderme e endoderme),
originando a mesoderme (ocupa o espaço entre os dois folhetos). A mesoderme extra‐embrionária torna‐se no tecido que
sustenta o epitélio do âmnio e do saco vitelino, assim como os vilos coriónicos, que provêm dos tecidos trofoblásticos. A
sustentação dada pela mesoderme extra‐embrionária não é apenas mecânica, mas também trófica, pois a mesoderme serve de
substrato através do qual os vasos sanguíneos suprem de oxigénio e nutrientes os vários epitélios.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
* Trofoblasto:
Logo após o blastocisto se prender no epitélio do endométro, o trofoblasto começa a proliferar com rapidez: as células
sofrem mitose e migram no sentido do endométrio. Diferencia‐se em duas camadas:
Citotrofoblasto: camada interna de células mononucleadas; são mitoticamente activas, formando novas células
trofoblásticas, que migram para a crescente massa de sinciciotrofoblasto, onde se fundem e perdem as suas membranas
celulares;
Sinciciotrofoblasto: camada externa de células que tem origem no citotrofoblasto (fusão de células). Pequenas
porções do sinciciotrofoblasto inserem‐se entre as células epiteliais uterinas (tem capacidade invasiva através de secreção
enzimática – digere glândulas uterinas e endotélio capilar). É constituído por uma massa protoplasmática multinucleada formada
pela fusão de células; não se observam limites celulares no sinciciotrofoblasto. Encontra‐se em rápida expansão.
* Funções da membrana pelúcida:
Facilitar o transporte para a ampola da trompa de Falópio (juntamente com as células da coroa radiata);
Promoção da reacção acrossómica;
Bloqueio da polispermia;
Manutenção da integridade dos blastómeros;
Barreira imunológica entre a mãe e o embrião;
Impede a implantação precoce (é necessária a sua perda para que esta seja possível).
GASTRULAÇÃO E AS TRÊS CAMADAS GERMINATIVAS EMBRIONÁRIAS
No fim da segunda semana, o embrião consiste em duas camadas de células achatadas, o epiblasto e o hipoblasto. No
início da terceira semana de gravidez, o embrião entra no período de gastrulação, no qual as 3 camadas germinativas do
embrião ficam claramente estabelecidas, sendo as 3 formadas a partir do epiblasto.
Gastrulação: processo pelo qual o disco embrionário bilaminar e convertido num disco embrionário trilaminar.
Todas as camadas germinativas do embrião se originam do epiblasto. A primeira evidência da gastrulação é a formação
da linha primitiva na porção caudal da superfície do epiblasto do disco embrionário, que aparece inicialmente como um
espessamento, e a seguir como uma linha curta na superfície dorsal do epiblasto. A linha primitiva inicial é, na realidade, uma
condensação causada pela proliferação e migração de células epiblásticas em direcção ao plano mediano do disco embrionário.
A linha primitiva alonga‐se pela adição de células na sua extremidade caudal, e a extremidade cefálica prolifera, formando o nó
primitivo ou nó de Hensen. Com o aparecimento da linha primitiva, podem ser identificados facilmente os eixos ântero‐posterior
(cefalocaudal) e direito‐esquerdo.
* Formação do tubo neural:
Um grupo de células invagina ao nível do nó de Hensen as células migram em sentido cefálico, sob a linha média
(estas células têm características mesenquimais);
Forma‐se, na linha primitiva, um sulco estreito sulco primitivo;
A partir do momento em que existe notocorda, inicia‐se o processo de formação do tubo neural;
As células da ectoderme, situadas acima da notocorda, por indução desta, sofrem um espessamento, tornando‐se as
células mais altas placa neural; a notocorda é indutora do SNC (os únicos vestígios da notocorda encontram‐se nos núcleos
pulposos dos discos intervertebrais);
As células da parte lateral da placa neural dividem‐se mais activamente e são mais altas (mais largas na base do que no
pólo apical – têm filamentos de actina – bottled cells). Forma‐se um dobramento lateral da placa neural, que resulta na elevação
dos seus dois lados, passando esta a ter a forma de uma goteira goteira neural (situa‐se na linha mediana);
Ocorre divisão celular até os extremos crescerem e contactarem um com o outro, formando o tubo neural. As células
das extremidades da goteira libertam‐se antes de esta se fechar, distribuindo‐se por todo o embrião. Estas células formam o que
é considerado 4º folheto por alguns autores (dá origem, por exemplo, às células de Schwann);
O tubo neural vai dar origem ao SNC.
Notocorda tem origem ao nível do nó de Hensen. Trata‐se de um cilindro maciço que se dirige na direcção cefálica. A
notocorda vai ser o motor fundamental de uma série de episódios a partir dos quais vai ocorrer diferenciação dos tecidos e
órgãos. Vai funcionar como o indutor primário do sistema nervoso do embrião inicial (tem um papel indutor na formação do
tubo neural ‐ se não houver notocorda, não há formação do tubo neural). Representa o eixo do embrião.
Ao nível da linha média, na porção caudal do embrião, vai haver perda da expressão das caderinas que mantêm as
células coesas, o que provoca a sua queda/delaminação (as células adquirem características mesenquimais). Estas células
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
migram em todas as direcções, interpondo‐se entre as células do hipoblasto, substituindo‐as e formando a endoderme definitiva
(intra‐embrionária);
Mais células da linha primitiva migram (caem) para as bordas do disco embrionário, onde se unem à mesoderme extra‐
embrionária.
CAMADA MESODÉRMICA
Existem 3 teorias para a formação da mesoderme extraembrionária:
‐ a partir do trofoblasto;
‐ a partir da parede vitelina;
‐ a partir da invaginação de células do epiblasto.
Vai formar as vilosidades coriónicas;
Origina tecidos moles.
Durante a formação da notocorda e do tubo neural, a mesoderme intra‐embrionária de ambos os lados prolifera,
formando uma espessa coluna longitudinal de mesoderme paraxial. Ambas as colunas têm continuidade, lateralmente, com a
mesoderme intermédia, que se adelgaça gradualmente, formando uma camada de mesoderme lateral. A mesoderme lateral é
contínua com a mesoderme extra‐embrionária, que cobre o saco vitelino e o âmnio.
Organiza‐se em diferentes porções:
Mesoderme paraxial: mais próxima do tubo neural (linha média). Diferencia‐se e começa a dividir‐se em pares de
corpos cubóides, os sómitos (organiza‐se em sómitos). Estes blocos de mesoderme localizam‐se de ambos os lados do tubo
neural em desenvolvimento. Os sómitos epiteliais são subdivididos em:
> Esclerótomo (porção mais interna) dá origem ao osso (elementos do esqueleto axial). As células da porção
mais interna do sómito migram, rodeando o tubo neural;
> Dermomiótomo (por fora/porção mais lateral):
‐ Dermátomo: mais exterior/lateral/periférica. Contribui para o tecido conjuntivo subcutâneo (derme).
‐ Miótomo: porção média. Originam grande parte da musculatura do corpo.
Notas:
Cada sómito forma um esclerótomo, um miótomo e um dermátomo.
Somitómeros são um esboço dos sómitos: os somitómeros são substituídos por sómitos.
O número de sómitos permite determinar a idade do embrião.
Mesoderme intermédia: porção mais estreita e contínua à mesoderme lateral. Dá origem ao sistema urogenital;
Mesoderme lateral: porção mais periférica que acaba por se dividir em duas camadas (somatopleura e
esplancnopluera); forma a maior parte dos tecidos da parede do corpo, da parede do trato digestivo e dos membros.
> Camada dorsal, em contacto com a ectoderme, forma com ela a somatopleura;
> Camada ventral, juntamente com a endoderme, forma a esplancnopleura. Origina o peritoneu e a pleura.
‐ O espaço entre as duas camadas corresponde ao celoma.
As finas camadas de mesoderme extra‐embrionária que forram o âmnio e o saco vitelino são contínuas com a
somatopleura e esplancnopleura, respectivamente. A extremidade posterior do embrião está conectada com os tecidos
trofoblásticos através do pedúnculo do embrião mesodérmico. Este pedúnculo originará o cordão umbilical
* Ectoderme:
* Mesoderme:
Sómitos:
‐ Dermátomo derme;
‐ Miótomo muscular;
‐ Esclerótomo coluna vertebral;
Notocorda;
Mesoderme intermédia rins, ductos genitais;
Placas laterais:
‐ Mesoderme parietal parede do corpo (body wall), peritoneu parietal;
‐ Mesoderme visceral (esplancnopleura) peritoneu visceral, parede do intestino;
* Endoderme:
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Vilosidades coriónicas
Correspondem a projecções do trofoblasto e mesoderme adjacente em forma de dedo de luva.
Três níveis:
> Primárias: eixo de citotrofoblasto revestido por sinciciotrofoblasto;
> Secundárias: eixo de mesoderme extra‐embrionária revestida por sinciciotrofoblasto e citotrofoblasto;
> Terciárias: eixo de mesoderme contendo vasos sanguíneos revestidos por sinciciotrofoblasto e
citotrofoblasto.
O córion forma uma cobertura completa que envolve o embrião, o âmnio, o saco vitelino e o cordão umbilical. Com o
seu amadurecimento, o córion fetal subdivide‐se em córion liso, em que as vilosidades regridem, e córion frondoso, região mais
próxima dos tecidos basais do endométrio e que vão formar a placenta.
Córion: epitélio + tecido conjuntivo subjacente;
Frondoso: onde está mais desenvolvido (mais vilosidades); corresponde à zona mais próxima do embrião;
Liso: tem menos vilosidades.
Decídua: corresponde ao endométrio durante a gravidez.
Basal: córion frondoso;
Parietal: não tem relação com o embrião;
Capsular: córion liso.
Placenta: entre córion frondoso e decídua basal.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Matriz Extracelular
MATRIZ EXTRACELULAR
* Aparece nos metazoários (seres pouco desenvolvidos);
* Constituída por um conjunto extremamente diversificado de moléculas localizadas nos espaços intercelulares dos
tecidos, as quais têm a capacidade de:
‐ interagir formando agregados tridimensionais complexos;
‐ ligar a receptores celulares específicos.
* A sua constituição está relacionada com as funções inerentes a cada tecido;
* Influencia o comportamento das células – comanda muitas das suas funções.
Uma das primeiras funções desempenhadas pela matriz extracelular deve ter sido contribuir para a manutenção da
integridade dos organismos que a produziram (função de suporte), conferindo‐lhes determinado grau de resistência e
protegendo‐os contra agentes agressores. Tal ainda sucede, pois a matriz extracelular encontra‐se particularmente desenvolvida
em tecidos que desempenham predominantemente funções mecânicas ou de suporte, como por exemplo os que constituem os
tendões, ossos, cartilagens ou cápsulas fibrosas de diversos órgãos. Tais tecidos denominam‐se, genericamente, tecidos
conjuntivos.
* Tecidos conjuntivos:
Densos:
‐ Cápsulas de órgãos;
‐ Tendões;
‐ Cartilagem;
Laxos:
‐ Lâmina própria das mucosas.
Todos os tipos celulares têm a capacidade de sintetizar e secretar componentes da matriz, pelo que aquele território
extracelular se pode encontrar, em maior ou menor abundância, na globalidade dos tecidos. O que sucede é que, tanto do ponto
de vista quantitativo como qualitativo, a matriz varia de tecido para tecido (é mais abundante no tecido conjuntivo).
TERRITÓRIOS DA MATRIZ EXTRACELULAR
A matriz pode apresentar acentuadas diferenças regionais dentro de um mesmo tecido. Neste contexto, consideram‐se
dois grandes territórios na matriz extracelular, os compartimentos intersticial e pericelular.
* Compartimento intersticial:
Apresenta funções estruturais, sendo especialmente abundante nos tecidos conjuntivos. Encontra‐se entre as células e
afastado do núcleo.
> Nos tecidos conjuntivos densos, a matriz intersticial é fundamentalmente constituída por sistemas fibrosos
(componente fibrilar), os sistemas colagénio (atribuição de resistência aos tecidos conjuntivos) e elástico (atribuição de
elasticidade).
> Nos tecidos conjuntivos laxos predominam vastas regiões ocupadas por grandes agregados macromoleculares, os
agregados proteoglicanos (componente não fibrilar). Estes agregados desempenham um papel fundamental na manutenção de
um ambiente hidratado nos tecidos, que permite a difusão de nutrientes e catabolitos, sendo ainda o principal responsável pelas
propriedades mecânicas de tecidos, como a cartilagem. Lubrificação, mobilidade, desenvolvimento embrionário, cicatrização,
etc.
* Compartimento pericelular:
Fundamentalmente envolvido em processos de modulação do comportamento celular, nomeadamente em fenómenos
de adesão, migração, proliferação/apoptose, diferenciação celular e organização do citosqueleto. Este compartimento existe em
todos os tecidos e influencia a expressão genética das células que com ele contactam. O compartimento pericelular da matriz
extracelular inclui as matrizes de fibronectina e um número apreciável de outras proteínas “multifuncionais”, proteoglicanos e
laminina. As células interagem com os componentes da matriz pericelular através de receptores de membrana, nomeadamente
os que constituem a grande família das integrinas. São ainda exemplos de matrizes pericelulares:
> Lâminas basais: estruturas em forma de placa que unem os tecidos conjuntivos a tecidos parenquimatosos, como
epitélios e endotélios, ou a células isoladas, como as musculares e adiposas. É uma rede de colagénios tipo IV, embebida em
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
mais de 30 proteínas, entre as quais laminina e proteoglicanos. Os componentes da lâmina basal são produzidos por células
epiteliais musculares e endoteliais.
> Glicocálice: zona rica em carbohidratos, existente à periferia de praticamente todas as células, mas extremamente
desenvolvido na região aplical de algumas células epiteliais. Conjunto de glicoproteínas que se associa a todas as membranas;
> Zona pelúcida: membrana acelular que rodeia os ovócitos de mamífero e desempenha importantes funções na
fertilização (regulação).
Fibronectina:
Família de 20 glicoproteínas que têm locais de adesão para as células e para outros componentes fibrosos da matriz.
Servem de pontes de união célula/matriz. No embrião orienta a migração de células na formação da mesoderme.
Laminina:
Glicoproteína de adesão celular. Molécula constituída por 3 polipeptídeos. Tem regiões que se ligam ao colagénio IV e a
receptores celulares de laminina. Forma uma ponte de adesão entre as células e a matriz extracelular.
Integrina:
Proteínas transmembranares constituídas por duas subunidades. Ligam‐se ao citosqueleto e à matriz extracelular:
colagénio, laminina e fibronectina. Existem de uma forma especial ao nível da membrana basal.
Funções:
‐ Adesão;
‐ Transdutoras de sinal bioquímico para o interior da célula, activando a cascata do 2º mensageiro;
‐ Activação do ciclo celular (activação da proteína cinase);
‐ Diferenciação celular;
‐ Reorganização do citosqueleto;
‐ Regulação da expressão genética;
‐ Alguma influência na apoptose.
COMPONENTES DA MATRIZ EXTRACELULAR
COMPONENTE FIBRILAR
Colagénio:
Apareceu precocemente na evolução das espécies. Nos espongeários identificam‐se 3 tipos;
É a proteína mais abundante no nosso organismo;
Conjunto de proteínas extracelulares fibrosas que desempenham funções estruturais;
Constituídas por uma tripla hélice de 3 polipeptídeos;
Funções de rigidez e base estrutural.
A formação da tripla hélice está relacionada com a estrutura primária e modificações pós‐tradução que ocorrem nas
três cadeias polipeptídicas existentes em cada molécula de colagénio – cadeias α. Estas cadeias, além de contribuírem para a
formação e estabilização da tripla hélice, contêm informação necessária para o estabelecimento das ligações intermoleculares
típicas dos colagénios.
Os colagénios são habitualmente secretados sob a forma de precursores, os procolagénios (são exocitados para fora da
célula), sendo estes posteriormente clivados extracelularmente para dar origem às moléculas de colagénio propriamente ditas,
também designadas tropocolagénios. As moléculas de colagénio têm a capacidade de polimerizar espontaneamente e de forma
ordenada, originado estruturas muito alongadas, as fibrilas de colagénio. Embora mantendo a sua individualidade, é habitual tais
fibrilas organizarem‐se lateralmente, formando fibras, agrupando‐se estas, por sua vez, em estruturas de maior espessura,
denominadas feixes de colagénio.
Passos relevantes da biossíntese dos colagénios:
Síntese das cadeias α;
Hidroxilação e glicosilação de alguns aminoácidos;
Formação da tripla hélice;
Condensação das moléculas de pró‐colagénio, assim formadas, em vacúolos e subsequente secreção;
Clivagem extracelular dos propéptidos, dando origem às moléculas de colagénio;
Polimerização ordenada destas moléculas sob a forma de fibrilas e estabilização das fibrilas por ligações covalentes
intra e intermoleculares.
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Etapas relevantes da degradação dos colagénios:
Os processos de degradação, por sua vez, iniciam‐se extracelularmente, com a disrupção parcial das fibrilas de
colagénio por um conjunto de colagenases da grande família das metaloproteinases da matriz (MMP);
É completado intracelularmente após fagocitose dos resíduos inicialmente obtidos.
Vitamina C (ácido ascórbico) necessária à polimerização. Caso exista em menor concentração que a devida, as fibras
são muito fracas, o que se nota nos dentes e nas gengivas escorbuto.
Ainda que a polimerização possa ocorrrer, espontaneamente, a temperatura e pH fisiológico, sabe‐se hoje que as
células controlam, de um modo bastante rigoroso, a fibrilogénese. Por um lado, a deposição das fibrilas parece ocorrer,
fundamentalmente, em compartimentos pericelulares especializados, de forma tubular, sendo a subsequente incorporação das
fibrilas em fibras ou feixes guiada pelos prolongamentos fibroblásticos. Por outro lado, as células também controlam a
velocidade e ordem pela qual os propéptidos são clivados. Secretam ainda várias moléculas que modulam o crescimento em
espessura versus longitudinal das fibrilas (por exemplo, pequenos proteoglicanos de corina e fibromodulina, os quais se ligam à
superfície das fibrilas competindo com a deposição de novas moléculas de colagénio).
Tipos de colagénios:
Reconhecem‐se, presentemente, cerca de duas dezenas de tipos
de colagénios, distintos tanto na constituição das suas cadeias ±Һcomo na sua capacidade de polimerização, na sua localização e
nas suas funções específicas.
Tipo I, II, III, V e XI: entram na composição de fibrilas cilíndricas que apresentam uma periodicidade transversal de
cerca de 67 nm e se designam fibrilas nativas;
Tipo I: é o mais abundante nos organismos, coexistindo geralmente com o colagénio de tipo III. O colagénio de tipo I
existe na derme, tendões e osso. O colagénio de tipo III existe no músculo liso e nervos.
Tipo II: tem uma distribuição mais restrita, existindo, nomeadamente, nas cartilagens e no humor vítreo;
Todos estes colagénios, organizados sob a forma de fibrilas nativas, são os principais responsáveis pela atribuição do
carácter de resistência aos tecidos.
Tipo VI: tem uma distribuição ubiquitária, associando‐se sob a forma de fibras “em rosário” com uma periodicidade de
100 nm. Pensa‐se que tais fibras formam uma rede flexível que engloba células, feixes de colagénio, nervos e vasos, unindo‐os
de um modo laxo.
Tipos IX, XII e XIV: não polimerizam, associando‐se, porém, à superfície das fibrilas nativas de colagénio. Parecem
mediar a interacção entre fibrilas nativas adjacentes. Estas moléculas recebem a designação comum de colagénios FACIT (Fibril‐
Associated Collagens with Interrupted Triple‐helices);
Tipo IV: é um dos principais constituintes das lâminas basais. Da sua polimerização não resultam fibrilas, mas sim uma
malha molecular que interage com as redes de laminina e perlicano, outros dois constituintes maioritários das lâminas basais,
formando conjuntamente uma estrutura pericelular em forma de placa. Associado também à fibronectina, grandes
proteoglicanos, microfibrilas elásticas.
Sistema elástico:
As fibras do sistema elástico são morfologicamente distintas das fibras resultantes da polimerização dos colagénios:
Apresentam contorno e espessura irregulares;
Não exibem periodicidade transversal;
Disposição longitudinal;
Grande densidade de fibras;
Formadas por dois compartimentos:
‐ Componente amorfo: não exibe qualquer subestrutura demonstrável por abordagens morfológicas convencionais. É
constituído por elastina. Esta proteína é das menos solúveis e de mais lenta renovação do organismo, apresentado na sua
estrutura primária uma grande percentagem de resíduos de aminoácidos hidrofóbicos. Está presente nas fibras elásticas sob
uma forma insolúvel, a qual resulta da polimerização de moléculas solúveis de tropoelastina, e sua posterior estabilização por
ligações covalentes promovidas por uma enzima denominada lisil‐oxidase.
‐ Componente microfibrilar: constituído por fibrilas com cerca de 12 nm de diâmetro, frequentemente descritas como
“tubulares” por apresentarem, em cortes ultrafinos, uma região central menos densa aos electrões. Dados recentes evidenciam
um outro tipo de organização: as microfibrilas são formadas pela repetição periódica de uma estrutura globular unida por finos
filamentos. Estas não se encontram sempre associadas a um componente amorfo, nem se organizam invariavelmente sob a
forma de feixes. O componente fibrilar do sistema elástico é apenas um dos padrões de organização que pode tomar uma
estrutura fibrosa frequentemente observada na matriz celular – microfibrila conjuntiva. C
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Contêm pelo menos 5 proteínas, das quais se destaca a fibrilina. Relacionado com o colagénio tipo IV (fibras
oxitalânicas).
Tipos de fibras:
Elásticas;
Elauninicas;
Oxitalânicas
Fibras elauninicas arranjo em colchão de molas (existem nas cordas vocais, permitindo que estas vibrem).
COMPONENTE NÃO FIBRILAR:
Não tem fibrilas.
* Glicosaminoglicanos:
Polissacáridos complexos, de cadeia linear (polímeros de dissacarídeos). Têm um radical amino e um ácido urónico;
Entram na constituição das lâminas basais e do glicocálice;
Têm carga negativa elevada, atraindo, deste modo, nuvens de catiões (normalmente de sódio), ficando muito
hidrofílicos e atraindo água
forma‐se um gel;
Têm importância: desenvolvimento embrionário, cicatrização, etc;
Quando os glicosaminoglicanos se encontram associados a componentes proteicos (por ligações covalentes)
denominam‐se proteoglicanos (o ácido hialurónico é talvez o único glicosaminoglicano que, nos sistemas biológicos, não se
encontra associado a proteínas).
* Proteoglicanos:
Grandes proteoglicanos – agrecam; versicam:
‐ Possibilitam a formação de grandes agregados com ajuda de uma proteína de ligação;
‐ Retenção de água que facilita várias propriedades, como compressão e relaxamento de cartilagens.
Pequenos proteoglicanos – decorim; biglicam:
‐ São muito semelhantes, diferem apenas pelo facto de o primeiro se ligar a um glicosaminoglicano e o segundo
a dois;
‐ Associam‐se à superfície das fibrilas de colagénio, inibindo a adição de novas moléculas, regulando assim a
fibrilogénese.
COMPONENTE MICROFIBRILAR
Colagénio tipo IV;
Sistema elástico (fibras oxitalânicas).
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
Morte Celular e Proteólise
MORTE CELULAR
* Processo fisiológico;
* Essencial no desenvolvimento embrionário, sistema imunitário e homeostasia;
* Disfunção origina patologias (por exemplo, cancro);
* Identificação de alvos terapêuticos.
* Existem vários mecanismos de morte celular, entre eles:
Apoptose;
Autofagia;
Necrose.
APOPTOSE
* Programa de suicídio celular;
* Condensação da cromatina, shrinkage citoplasmático, formação de corpos apoptóticos;
* Característica fundamental: activação das caspases (proteases cisteínicas, que são produzidas pela célula na sua forma
inactiva – pro‐caspases (controlo));
* Duas vias de activação:
‐ Extrínseca: mediada por receptores da morte;
‐ Intrínseca: resposta a vários tipos de stress (oxidação); diferença de potencial ao nível da mitocôndria
(citocromo C).
* Actuam também vias alternativas interacção entre vias.
* Há morte para além das caspases:
Oxidação lipídica;
Degradação do DNA morte celular.
* Independentes das caspases:
Necrose:
‐ Ausência de condensação da cromatina;
‐ Vacuolização;
‐ Degradação de orgalelos;
‐ Ocorre em condições patológicas, como infecções e inflamação.
Autofagia:
‐ Condensação da cromatina;
‐ Formação de autofagossomas.
Outras:
‐ Senescência celular;
‐ Catástrofe mitótica.
* Receptores da morte:
São de dois tipos:
Fas;
TNF.
Ligação do ligando ao receptor;
Desencadeia uma série de reacções;
Culmina na apoptose.
* O papel da mitocôndria na morte celular:
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
DEGRADAÇÃO PROTEICA
Paradigma: proteínas celulares são estruturas estáveis e estáticas;
Proteínas da dieta são completamente metabolizadas e os seus produtos são excretados;
Os níveis de proteínas são apenas regulados pela sua síntese.
Importante: as proteínas estão num estado dinâmico de síntese e degradação. O equilíbrio entre a síntese e a
degradação destina a quantidade de proteínas.
* Lisossoma: o Holy Grail da degradação proteica?
Descoberto nos anos 50 (Christian de Duve);
Estrutura vacuolar contendo enzimas hidrolíticas;
Membrana lisossomal como regulador da degradação proteica;
Fusão das membranas coloca os substratos em contacto com as enzimas.
O tempo de semi‐vida das proteínas é muito variável (10 min – 15 horas);
A taxa de degradação de algumas proteínas varia em diferentes condições fisiológicas;
Inibidores do lisossoma têm efeitos distintos em diferentes classes de proteínas;
Importante: mecanismo de degradação proteica intracelular independente de lisossomas.
* Via de degradação proteica dependente de ATP:
Sisttema proteolítico de reticulócitos:
‐ Não possui lisossomas;
‐ Actua a pH neutro;
‐ 2 fracções: I e II;
‐ Degradação dos substratos é dependente de ATP.
Fracções:
Fracção I:
ATP‐dependent Proteolysis Factor 1 (APF‐1) Ubiquitina;
Fracção II:
E1 (enzima activadora de ubiquitina);
E2 (enzima conjugadora de ubiquitina);
E3 (ligase de ubiquitina).
Proteassoma – um “caixote do lixo” molecular:
‐ Complexo de proteases parte catalítica dentro do cilindro;
‐ Proteína desnaturada entra para o cilindro e é degradada;
‐ E3 confere especificidade (existe uma para cada proteína);
‐ Ubiquitina é reciclada.
UPP: uma via multifacetada:
Diferentes modificações por ubiquitina:
‐ Endocitose, endosomal sorting, regulação de histonas, reparação do DNA, virus budding, exportação nuclear;
‐ Endocitose;
‐ Reparação do DNA, endocitose, activação de cinase K‐63;
‐ Proteosomal degradation K‐48.
UPP: a mastermind of apoptosis:
‐ A ubiquitina também entra em vários passos da apoptose;
‐ UPP e a via NF‐KB;
‐ UPP e H1F‐1α (factor de transcrição).
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
A Morte por Apoptose
APOPTOSE
* Mecanismo normal de morte celular, absolutamente essencial para a homeostasia;
* Independente dos estímulos desencadeadores, a apoptose procede, ou executa‐se, através de um conjunto de
reacções responsáveis por um tipo particular de destruição celular;
* Alterações morfológicas típicas da apoptose incluem:
Condensação da cromatina;
Degradação do DNA;
Destruição do citosqueleto;
Modificações da membrana plasmática, com projecções em forma de bolha (blebs);
* Culmina na fragmentação celular em corpos apoptóticos, posteriormente degradados após fagocitose por células
vizinhas;
* Processo intrínseco e programado;
* Ocorre em circunstâncias globais compatíveis com a viabilidade, sendo um fenómeno individual alguns autores
chamam esta característica de “suicídio” ou “auto‐destruição” celular, pois a célula “decide morrer”, podendo, aparentemente,
viver.
* Degradação do DNA:
Decorre da activação de endonuclease(s) específica(s), designada por CAD (Caspase Activated DNase), responsável pela
clivagem das moléculas de DNA nas regiões entre os nucleossomas, o que produz fragmentos de tamanhos diferentes.
* Modificações da membrana citoplasmática:
Incluem a exteriorização de fosfatidilserina que normalmente reside na face citoplasmática da membrana celular, mas não
acarretam alterações funcionais, de permeabilidade selectiva, da membrana celular.
Durante o desenvolvimento embrionário, a morfogénese requer perda celular por apoptose. Uma vez completadas as
etapas do desenvolvimento embrionário, a vida de um organismo depende da manutenção e da renovação de diferentes tipos
celulares. A manutenção de populações estáveis, como os neurónios que permanecem ao longo da vida de um indivíduo, implica
um grau mínimo de apoptose, enquanto a renovação quase constante de vários tipos de células sanguíneas implica um processo
activo de morte celular, igualmente quase constante.
Anomalias do processo apoptótico, por excesso ou por defeito, podem estar subjacentes a vários tipos de processos
patológicos desde malformações congénitas a doenças neurodegenerativas e a disfunções imunológicas, e podem ainda
contribuir para a persistência de células anormais, facilitando o desenvolvimento de tumores.
A apoptose também pode ser chamada de morte celular programada, significando um processo intrínseco que, uma vez
desencadeado e independentemente dos estímulos desencadeadores, conduz sistematicamente a um tipo específico de
destruição celular. A natureza intrínseca da execução apoptótica traduz que a célula normal dispõe dos instrumentos necessários
à sua desintegração. Por outras palavras, a capacidade de executar este processo de morte é parte do património genético
normal das células.
Existem outras formas de morte celular que resultam também da expressão normal do genoma, uma vez que as células
estão programadas para viver entre limites (de pH, temperatura, diferentes concentrações iónicas, etc.). As formas de morte
celular não‐apoptótica, globalmente designadas por necrose, resultam sempre de uma alteração súbita que leva a(s) célula(s) a
transpor os limiares, geneticamente condicionados, compatíveis com a manutenção da viabilidade. Qualitativamente diferente,
a apoptose decorre entre esses limiares de viabilidade possível, resulta de diversos passos executados, organizadamente, por
componentes celulares específicos e participa no equilíbrio homeostático através da morte celular electiva.
Mais alguns aspectos essenciais da apoptose:
Em condições biológicas, a apoptose é uma resposta celular a variações subtis originadas no meio extracelular, na
membrana plasmática ou no interior da célula;
O mesmo estímulo pode desencadear apoptose num tipo de célula, ser inócuo para outro tipo de célula e modificar o
ritmo proliferativo de ainda outro tipo de célula;
A resposta de um determinado tipo celular a um dado estímulo pode ser variável, pois depende de factores adicionais,
quer celular, como a fase de maturação das células ou a sua posição no ciclo celular, quer ambienciais, como a eventual
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR
coexistência de outros estímulos.
A apoptose não é um processo autónomo e rígido. De facto, a apoptose resulta de estímulos; no entanto, em condições
biológicas, não há um estímulo universal de apoptose e, apesar de numerosos estímulos poderem desencadear apoptose, o
efeito de um dado estímulo num determinado tipo de células pode não ser sistemático. Assim, a apoptose surge como uma
resposta celular entre várias respostas celulares possíveis (decisão celular). A célula integra vários sinais extrínsecos e
intrínsecos, e dessa integração pode resultar (ou não resultar) a activação do processo de execução apoptótica.
Uma vez iniciada a execução apoptótica, a destruição celular é extraordinariamente rápida pois todas as alterações
morfológicas que caracterizam o processo apoptótico decorrem em escassos minutos. Os corpos apoptóticos são degradados
por fagocitose, pelo que se dá o total desaparecimento de qualquer vestígio da morte celular por este processo.
O mesmo estímulo letal pode desencadear necrose ou apoptose em função da sua intensidade, isto é, como
consequência do grau de alteração celular induzida. A maioria dos estímulos que podem desencadear apoptose original
alterações celulares contidas entre os limiares da viabilidade possível e, consequentemente, incapazes de causar necrose.
* Necrose:
Resulta, obrigatoriamente, na perda da estancicidade da membrana celular com extravasamento de componentes
citoplasmáticos;
Estes são responsáveis por alterações tecidulares que decorrem ao longo de horas ou dias (processo inflamatório e
infecções) e que, frequentemente, originam modificações tecidulares permanentes (cicatrizes);
Ausência de condensação da cromatina;
Vacuoliação;
Degradação de orgalelos;
Ocorre em condições patológicas, como infecções e inflamação.
Mecanismos reguladores da apoptose
APONTAMENTOS BIOLOGIA CELULAR