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Processo nº: 0106309-76.2019.8.19.

0001

Tipo do Movimento: Sentença

Descrição: Trata-se de mandado de segurança com pedido liminar impetrado por Marcos José Oliveira de Amorim
contra ato do Comandante da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Na inicial de fls. 03/11, acrescida
dos documentos de fls. 12/66, o impetrante alega que se inscreveu no concurso público para admissão no
Curso de Formação de Oficiais (CFO) do Quadro de Oficiais Policiais - Militares (QOPM) da Polícia Militar do
Estado do Rio de Janeiro. Aduz que foi aprovado na prova objetiva, na prova discursiva, no exame
antropométrico, no teste de aptidão física e exame psicológico, porém foi considerado inapto no exame de
saúde. Narra que é policial militar da ativa desde 2011 e que em 22 de fevereiro de 2015, ao sair do serviço
militar, por ter sido reconhecido por marginais como policial militar durante uma tentativa de roubo em uma
padaria, foi atingido por disparos de arma de fogo. Informa que após tal episódio fora inicialmente
considerado ´apto B´, devido à gravidade de suas lesões. Ressalta que se recuperou e voltou às suas
atividades normais, recebendo assim a avaliação na categoria ´apto A´ e está atualmente exercendo funções
operacionais na atividade fim. Sustenta que passou por todas as fases do concurso e obteve aproveitamento
máximo no exame físico. Requer que seja declarada a sua aptidão para exercer as funções inerentes ao
cargo e a continuação nas demais etapas do certame. Às fls. 13 consta a ata da Junta de inspeção de saúde
com a qualificação de ´apto categoria A´. Resultado preliminar do exame médico e toxicológico às fls. 29
indicando que o impetrante fora considerado inapto por ter sido submetido à cirurgia de osteossíntese, sem
sequelas ou limitação funcional para atividades militares ao exame físico. Decisão de fls. 69 deferindo a
gratuidade de justiça e indeferindo a tutela de urgência. Impugnação do ERJ às fls. 97 sustentando a
inadequação da via eleita por inexistência de prova pré - constituída do direito alegado; a impossibilidade de
deferimento da liminar, uma vez que as nomeações e posse no cargo ocorrem com a matrícula no Curso de
Formação de Oficiais; a legalidade do exame médico realizado pela PMERJ, a não apreciação pelo Poder
Judiciário dos critérios adotados pelo edital por integrarem o mérito administrativo. Requer dessa forma que
seja denegada a ordem. Às fls. 112/123 consta decisão proferida no Agravo de Instrumento nº 0028084-
45.2019.8.19.0000, reformando o indeferimento liminar. Manifestação do impetrante às fls. 129 informando o
não cumprimento da liminar. Parecer do Ministério Público às fls. 134/138 opinando pela concessão da
segurança. Manifestação do impetrante às fls. 143/147 requerendo a divulgação do resultado do exame
social e documental do impetrante e a sua imediata inscrição no Curso de Formação. Instada a se manifestar
quanto ao descumprimento da decisão que deferiu a liminar às fls. 155, a autoridade coatora manteve-se
inerte. Manifestação do impetrante às fls. 160/164 acostando aos autos o termo de comparecimento ao
Centro de Recrutamento e Seleção de Praças, o qual informa que foi aprovado no exame social e que
deixou de ser apresentado à Seção de Recrutamento por não haver decisão judicial expressa para a
efetivação de sua matrícula. É O RELATÓRIO. DECIDO. Cuida- se de ação para aferir a legalidade do ato
administrativo que considerou o impetrante inapto no Exame médico do Concurso de Admissão ao Curso de
Formação de Oficiais do Quadro de Oficiais Policiais- Militares, em razão de ter sido submetido à cirurgia
prévia por lesão de arma de fogo na coxa esquerda com acometimento de fratura do fêmur e cirurgia de
osteossíntese, sem sequela ou limitação funcional para atividades militares. Depreende-se dos autos que o
impetrante considera não razoável a regra editalícia que ocasionou a sua exclusão, pois apesar de ter sido
submetido anteriormente à cirurgia ortopédica, foi considerado apto e sem restrições para a função de
policial militar. Considero questão meramente de direito, sem a necessidade de dilação probatória. Desta
forma a via mandamental se mostra adequada. O impetrante acostou aos autos os documentos de fls. 13,29
e 35 que comprovam a sua aptidão para o exercício das atividades militares, tendo sido considerado ´apto A´
para o exercício das funções de Cabo PM e sendo aprovado no teste físico, sem sequelas ou limitação
funcional para as atividades militares. Os critérios de seleção para qualquer serviço público devem observar
o princípio da razoabilidade, assegurando o acesso àqueles que estejam em plenas condições de exercer o
cargo pretendido (art. 37, I e II da Constituição da República). Assim, não se pode admitir que a
Administração Pública exerça um excesso de zelo, criando limitação que não seja razoável e adequada aos
fins perseguidos. Considerando que o impetrante é considerado ´apto A´ para as atividades inerentes à
atividade policial, indubitavelmente está apto a ser oficial da corporação. A reprovação do candidato com
base apenas na realização de procedimento cirúrgico, sem sequela e sem limitações para as atividades
militares afronta os princípios constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade, motivo pelo qual há
que se reconhecer que o ato administrativo referente à sua exclusão das demais etapas do concurso padece
de nulidade, devendo em consequência ser permitido à sua reintegração ao certame. Ante o exposto,
CONCEDO A SEGURANÇA para anular o ato administrativo de reprovação do candidato e determinar à
autoridade coatora a imediata admissão/matrícula do impetrante no Curso de Formação de Oficiais Policiais
Militares da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e, em caso de sua aprovação e obedecida eventual
ordem de classificação do certame, lhe seja assegurado participar da solenidade de formatura e posse. Sem
custas processuais, em razão da isenção legal. Condeno a parte ré ao pagamento de honorários
advocatícios, que ora arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa atualizado, na forma do art. 85,
§ 3º, inciso I e § 4º, inciso III, do CPC/2015. Dê-se ciência ao Ministério Público. Cumpra-se o § 1º do Art. 14
da Lei nº 12.016/09. Expeça-se com urgência mandado de intimação para ciência e imediato cumprimento
da sentença. Certificado o trânsito em julgado, dê-se baixa e arquive-se. P.I.

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