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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 0110579-46.2019.8.19.0001


APELANTE: ALEXANDRE DE FREITAS VIEIRA FILHO
APELADO: ESTADO DO RIO DE JANEIRO
JUIZO DE ORIGEM: 10ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA
RELATOR: JDS. DES. ÁLVARO HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA

DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL.


MANDADO DE SEGURANÇA. EXIGÊNCIA DE
EXONERAÇÃO DO CARGO DE INSPETOR DE
SEGURANÇA E ADMINISTRAÇÃO
PENITENCIÁRIA PARA PARTICIPAÇÃO DE
CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA POLÍCIA
MILITAR. EXONERAÇÃO QUE SE FAZ
DESNECESSÁRIA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO DE
SER AFASTADO SEM PREJUÍZO DE SUA
REMUNERAÇÃO. ART.11, X DO DECRETO-LEI
ESTADUAL Nº 220/195 ACRESCENTADO PELA LEI
COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 110/2005.
PARECER DA PROCURADORIA DE JUSTIÇA
PELO PROVIMENTO DO RECURSO QUE SE
ACOLHE. SEGURANÇA CONCEDIDA. RECURSO
PROVIDO.

1)Mandado de segurança impetrado contra ato


que teria condicionado a matrícula do impetrante
no Curso de Formação de Oficiais da Polícia
Militar do Estado do Rio de Janeiro ao pedido de
exoneração do cargo público atualmente por ele
ocupado.

2) O Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do


Estado do Rio de Janeiro permite, em seu art. 11,
X, o afastamento por motivo de “prestação de
prova ou exame em concurso público”.

3) É facultado ao candidato do Curso de Formação


de Oficiais de Polícia Militar optar pela bolsa-

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AB

ALVARO HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA:16081 Assinado em 15/07/2020 22:55:10


Local: GAB. JDS ALVARO HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA
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auxílio do curso ou a remuneração do cargo


efetivo.

4) Não há cumulação de cargos efetivos, eis que o


Curso de Formação da Polícia Militar é parte do
processo seletivo, tanto que o Edital do concurso
dispõe que a matrícula no Curso de Formação
de Oficiais não assegura a posse do candidato
no cargo de 2º Tenente PM, sendo
denominado aquele matriculado no Curso de
Formação de Oficiais como Aluno-Oficial – PM.
5) Precedentes desta Corte de Justiça.

6) Recurso provido par conceder a segurança para


que o impetrante seja reintegrado ao Curso de
Formação de Oficiais e que lhe seja assegurado o
direito de ser afastado do atual cargo civil de
Inspetor Penitenciário percebendo a respectiva
remuneração até que sobrevenha eventual
nomeação ao posto de Aspirante a Oficial PM ou
2º Tenente PM, contando integralmente o
respectivo tempo de serviço para todos os efeitos.

ACÓRDÃO

Vistos, discutidos e relatados estes autos de Apelação Cível,


processo nº 0110579-46.2019.8.19.0001, que figura como Apelante
ALEXANDRE DE FREITAS VIEIRA FILHO e Apelado ESTADO DO RIO DE
JANEIRO.

A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 24ª Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de
votos, em DAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do voto do Relator.

RELATÓRIO

Trata-se de apelação cível interposta pelo impetrante ALEXANDRE


DE FREITAS VIEIRA FILHO, contra sentença proferida pelo MM Juízo da 10ª
Vara de Fazenda Pública que, em mandado de segurança, teve julgado
improcedente o pedido, nos seguintes termos: (índice 199)

“Trata-se de mandado de segurança impetrado por


ALEXANDRE DE FREITAS VIEIRA FILHO contra ato
imputado ao CHEFE DO CRSP – CENTRO DE
RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DA POLÍCIA MILITAR DO
2
AB
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ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Sustenta que, ocupando


o cargo de agente penitenciário na Secretaria de
Estado de Administração Penitenciária, inscreveu-se em
concurso público para a Polícia Militar, sendo convocado
para matrícula no curso de formação. Embora o curso de
formação seja mera fase do concurso, antecedendo a
nomeação e posse, razão por que a frequência não
importaria em acumulação de cargos, o impetrado
condiciona a frequência à prévia exoneração do cargo
atualmente ocupado. Pede a concessão da ordem para
assegurar a frequência no curso de formação
independentemente da exoneração do cargo ocupado (fls.
03/10, 101 e 114). A petição inicial veio acompanhada dos
documentos de fls. 11/92. Notificado, o impetrado
prestou informações ressaltando que o curso de
formação não é etapa do concurso público. Assim,
haveria o ingresso na carreira militar desde o momento
em que nele há a matrícula, quando o candidato passa
à condição de Aluno-PM. E havendo o ingresso em
cargo da carreira militar, a acumulação pretendida não
seria possível (fls. 147/160). Impugnação da Fazenda
às fls. 176/180 reiterando as alegações do impetrado.
Parecer do Ministério Público pela concessão da
segurança (fls. 190/192). É o relatório. Decido. O
Estatuto do Servidor Público Civil do Estado do Rio de
Janeiro (Decreto-lei Estadual nº 220/75) assegura o
afastamento do servidor já ocupante de um cargo público
para frequentar estágio experimental. Diz o artigo 11,
incisos IV e X: “Art. 11 - Considerar-se-á em efetivo
exercício o funcionário afastado por motivo de: IV - o
estágio experimental; (...) ... X - prestação de prova ou
exame em concurso público.” A norma não agride,
nessas situações, a regra constitucional da
inacumulabilidade de cargos públicos (arts. 37, XVI, 42, §
1º e 142, II e III, da CF), eis que o estágio experimental é
previsto no artigo 2º, § 1º, nº 3, do DL nº 220/75 como
mera etapa do concurso público. Seu teor é o seguinte:
“Art. 2º - A nomeação para cargo de provimento efetivo
depende de prévia habilitação em concurso público. § 1º -
O concurso objetivará avaliar: (...) 3) desempenho das
atividades do cargo, inclusive condições psicológicas,
mediante estágio experimental, ressalvado o disposto no §
11 deste artigo.” Reconhecendo ser o estágio experimental
mera etapa do concurso público, leia-se o precedente
abaixo do Superior Tribunal de Justiça: “RECURSO
ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO.
CONCURSANDO EM ESTÁGIO EXPERIMENTAL.
DESLIGAMENTO MOTIVADO. LEGALIDADE.1. O estágio
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experimental é etapa do concurso público para provimento


do cargo de Agente de Segurança Penitenciária do Estado
do Rio de Janeiro e precede a investidura no cargo público,
não se confundindo, por isso, com o estágio probatório.
(inteligência dos artigos 9 a 13 do Regulamento dos
Funcionários Públicos Civis do Estado do Rio de Janeiro).
2. Inexiste ilegalidade no ato motivado que desliga
concursando em fase de estágio experimental, fazendo-se
desnecessária a instauração de processo
administrativo 3. Recurso improvido.” (RMS 13.808/RJ,
Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA,
julgado em 18/12/2002, DJ 04/08/2003, p. 427). Logo, se
o estágio experimental é mera etapa do concurso
público, antecedendo a nomeação e posse no cargo
efetivo, então, durante sua frequência não há acumulação
de cargos em relação àquele servidor já integrante do
serviço público. Daí a norma lhe assegurar o direito ao
afastamento sem necessidade de pedir exoneração. Resta
examinar, porém, à luz do Estatuto dos Policiais Militares
do Estado do Rio de Janeiro (Lei Estadual nº 443/81), se o
curso de formação na Polícia Militar é mera etapa do
concurso público – equiparável a um estágio experimental
– ou se, ao contrário, quem nele se matricula ingressa de
imediato na carreira militar. Dispõe o seguinte a Lei
Estadual nº 443/81 sobre o candidato convocado à
matrícula em curso de formação na Polícia Militar: “Art. 3º -
Os integrantes da Polícia Militar, em razão de sua
destinação constitucional, formam uma categoria de
servidores do Estado e são denominados policiais-
militares. § 1º - Os policiais-militares encontram-se em uma
das seguintes situações: 1. na ativa: (...) d) os alunos de
órgãos de formação de policiais-militares da ativa .Art. 10 -
O ingresso na Polícia Militar é facultado a todos os
brasileiros natos, sem distinção de raça ou de crença
religiosa, mediante inclusão, matrícula ou nomeação,
observadas as condições prescritas neste Estatuto,
em lei e nos regulamentos da Corporação. Art. 11 -
Para a matrícula nos estabelecimentos de ensino policial-
militar destinados à formação de oficiais, de graduados
e de soldados, além das condições relativas à
nacionalidade, idade, aptidão intelectual, capacidade física
e mental e idoneidade moral, é necessário que o candidato
não exerça, nem tenha exercido, atividades prejudiciais ou
perigosas à Segurança Nacional. (...) Art. 16 - A
precedência entre as praças especiais e as demais praças
é assim regulada :I - Os Aspirantes-a-Oficial PM são
hierarquicamente superiores às demais praças; II - Os
Alunos-Oficiais PM são hierarquicamente superiores aos
subtenentes PM. (...) Art. 18 - Os Alunos Oficiais PM são
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declarados Aspirantes-a-Oficial PM, ao final do curso da


Escola de Formação de Oficiais, pelo Comandante Geral
da Polícia Militar, na forma especificada em seu
regulamento. Art. 50 - Os policiais-militares são
alistáveis, como eleitores, desde que oficiais,
aspirantes-a-oficial, alunos-oficiais, subtenentes e
sargentos.” A leitura dos dispositivos transcritos não
deixa margem a dúvida: no caso da Polícia Militar, o
curso de formação não constitui etapa do concurso.
Ao invés disso, desde a matrícula no curso há o
ingresso na carreira militar, passando o candidato à
condição de Aluno PM, posto integrante da carreira. E
se há o ingresso na carreira militar, então, não pode
haver a acumulação do posto de Aluno PM com outro
cargo, como pretende o impetrante. Isto posto, DENEGO
A SEGURANÇA, condenando o impetrante ao
pagamento das despesas processuais, observadas as
regras aplicáveis ao beneficiário da gratuidade de
justiça (art. 98, §§ 2º e 3º, do CPC). Sem honorários
advocatícios. Dê-se ciência à autoridade impetrada. Com
o trânsito em julgado, dê-se baixa e arquive-se. P.R.I.”
(ênfase nossa)

Apelação do autor (índice 213), requerendo a reforma da sentença,


ao argumento de que a mesma se encontra em desacordo com a jurisprudência
desta Corte que entende ser cabível o afastamento do seu cargo de origem, qual
seja, INSPETOR DE SEGURANÇA E ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA ( e
não exoneração), até que o impetrante conclua o Curso de Formação de Oficiais
da Polícia Militar, que possui natureza de prova, constituindo apenas uma etapa
do concurso. Pugna pela concessão da segurança para que o apelante seja
reintegrado ao CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS e que lhe seja
assegurado o direito de ser afastado do atual cargo civil de INSPETOR
PENITENCIÁRIO percebendo a respectiva remuneração até que seja nomeado
ao posto de ASPIRANTE A OFICIAL PM ou 2º TENENTE PM, contando
integralmente o respectivo tempo de serviço para todos os efeitos.

Não houve apresentação de contrarrazões pelo apelado, conforme


certidão no índice 247.

A Procuradoria de Justiça opinou pela reforma da sentença e pela


concessão da segurança. (índice 485)

VOTO

O recurso é tempestivo, estando presentes os demais requisitos de


admissibilidade.
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Reexaminando a questão posta, verifica-se que o recurso deve ser


provido, a fim de que a segurança seja concedida ao impetrante/apelante.

In casu, restou evidenciado o direito líquido e certo do impetrante ao


afastamento do cargo de Inspetor de Segurança e Administração Penitenciária,
sem prejuízo de sua remuneração para participar do Curso de Formação de
Oficiais da Polícia Militar, sem que seja exonerado.

O Curso de Formação Profissional do Concurso Público para


provimento do cargo almejado pelo impetrante corresponde a uma ETAPA
DO CONCURSO PÚBLICO, possuindo caráter eliminatório, conforme
previsto no edital do certame, sendo aplicável, portanto, a regra do inciso X,
do artigo 11, do Decreto- Lei Estadual nº 220/1975, acrescentado pela Lei
Complementar Estadual nº 110/2005. Confira-se:

Art. 11 - Considerar-se-á em efetivo exercício o


funcionário afastado por motivo de:

(...) X - prestação de prova ou exame em concurso


publico.

Com efeito, o candidato que obtém aprovação no concurso público


para o Curso de Formação de Oficial da Polícia Militar, como o próprio Estado
informa, é um “Aluno-Oficial”.

Tanto que o item 17.1.2. do Edital do Concurso dispõe que: “a


matrícula no Curso de Formação de Oficiais não assegura a posse do
candidato no cargo de 2º Tenente PM, sendo denominado aquele
matriculado no Curso de Formação de Oficiais como Aluno-Oficial PM (...)”.
(ênfase nossa).

A posse é o ato que completa a investidura no cargo público.

Dessa forma, a matrícula em Curso de Formação não pode ser


equiparada ao ato de posse, porque constitui uma parte do certame, que
somente se concluída com êxito, permitirá que o Aluno-Oficial venha a ser
empossado.

O art. 18 do Estatuto dos Policiais Militares do Estado enuncia que


“os Alunos Oficiais PM são declarados Aspirantes-a-Oficial PM, ao final do
curso da Escola de Formação de Oficiais, pelo Comandante Geral da
Polícia Militar, na forma especificada em seu regulamento” (ênfase nossa).

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Logo, forçoso reconhecer que o Impetrante pode optar pela


remuneração de seu cargo originário, bem como a contagem do referido
tempo como efetivo exercício, até que seja nomeado e empossado no
cargo de 2º Tenente PMERJ, caso seja aprovado em todas as etapas do
certame.

Neste cenário, é inequívoco o direito líquido e certo do


Impetrante, devendo-se considerar como tempo efetivo o período de
afastamento do servidor para participação em exame de concurso público.

Outro não é o entendimento desta Corte de Justiça:

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 0057519-


40.2014.8.19.0000 OITAVA CÂMARA CÍVEL
RELATOR: DES. AUGUSTO ALVES MOREIRA
JUNIOR DATA DO JULGAMENTO: 05/06/2018.
MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
PÚBLICO. CURSO DE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL, DE CARÁTER ELIMINATÓRIO E
CLASSIFICATÓRIO. ETAPA DO CERTAME
PREVISTA NO EDITAL. AFASTAMENTO DO
CARGO SEM PREJUÍZO DA REMUNERAÇÃO. O
ARTIGO 11, INCISO X, DO DECRETO-LEI Nº
220/75 PREVÊ COMO EFETIVO EXERCÍCIO, O
AFASTAMENTO DO SERVIÇO POR MOTIVO DE
PRESTAÇÃO DE PROVA OU EXAME EM
CONCURSO PÚBLICO. DECRETO LEI Nº 220/75,
EM SEU ARTIGO 20, QUE TAMBÉM PREVÊ AS
HIPÓTESES EM QUE O SERVIDOR DEIXARÁ DE
PERCEBER, AINDA QUE PARCIALMENTE, SUA
REMUNERAÇÃO, NÃO SE ENQUADRANDO O
PRESENTE CASO EM NENHUMA DESSAS
HIPÓTESES. ESTE EGRÉGIO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA ESTADUAL CONSTRUIU O
ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL, NO
SENTIDO DE QUE O AFASTAMENTO DO
SERVIDOR PARA A REALIZAÇÃO DO CURSO DE
FORMAÇÃO É LEGALMENTE PERMITIDO, UMA
VEZ QUE REFERIDO CURSO É ESPÉCIE DE
PROVA OU EXAME DE CONCURSO PÚBLICO. O
ARTIGO 14, §1º, DA LEI Nº 9.624/98 CONFERE
AO SERVIDOR DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
FEDERAL O DIREITO DE OPÇÃO ENTRE O
VENCIMENTO E AS VANTAGENS DO SEU
CARGO ATUAL E O AUXÍLIO FINANCEIRO
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PREVISTO NO EDITAL DO CONCURSO, RAZÃO


PELA QUAL SE JUSTIFICA A EXTENSÃO DO
DIREITO DE OPÇÃO TAMBÉM AO SERVIDOR
ESTADUAL APROVADO PARA CARGO PÚBLICO
DE QUAISQUER DAS ESFERAS. DE SE VER,
PORTANTO, QUE HÁ DIREITO LÍQUIDO E CERTO
AO AFASTAMENTO PARA REALIZAÇÃO DE
CURSO DE FORMAÇÃO, SEM A SUSPENSÃO
DO PAGAMENTO DA REMUNERAÇÃO DO
SERVIDOR, TENDO EM VISTA A
POSSIBILIDADE DE ESCOLHA ENTRE
RECEBER OS VENCIMENTOS DO CARGO
EFETIVO QUE O SERVIDOR JÁ DETÉM EM
LUGAR DA BOLSA AUXÍLIO. PRECEDENTES
JURISPRUDENCIAIS DESTA COLENDA CORTE DE
JUSTIÇA ESTADUAL. CONCESSÃO DA
SEGURANÇA, COM A CONFIRMAÇÃO DA LIMINAR
DEFERIDA.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0119241-04.2016.8.19.0001,


REL. DES. ELTON MARTINEZ CARVALHO LEME,
JULG. EM 21/03/2018 - DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA
CÍVEL. APELAÇÃO. DIREITO CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO
ESTADUAL. APROVAÇÃO EM CONCURSO
PÚBLICO PARA POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL.
SEGUNDA FASE. CURSO DE FORMAÇÃO. ETAPA
CONCURSAL. AFASTAMENTO DO CARGO
EFETIVO. POSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DOS
ARTIGOS 11, X, E 20 DO DECRETO-LEI Nº 220/75.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO AO AFASTAMENTO,
COM OPÇÃO PELA REMUNERAÇÃO.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA EM REMESSA
NECESSÁRIA. DESPROVIMENTO DO RECURSO.
1. Pretende o impetrante o afastamento do cargo de
inspetor de segurança penitenciária, sem prejuízo da
remuneração, a contar do início do curso de formação
em maio de 2016 para o cargo de policial rodoviário
federal, até o seu final, com a percepção de
vencimentos. 2. Inobstante o impetrante ter pedido a
exoneração do cargo estadual no curso do presente
mandamus, tal fato não afasta o direito de obter o
provimento jurisdicional de mérito, subsistindo o
direito do impetrante de pleitear o afastamento do
cargo e a percepção da remuneração que entende
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AB
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devida. 3. O curso de formação profissional


constitui fase do concurso público para o cargo de
policial rodoviário federal e é remunerado apenas
com bolsa-auxílio, nos termos do edital do
concurso. 4. O curso de formação profissional,
onde não há remuneração em favor do
candidato, mas tão somente o pagamento de
uma bolsa auxílio, possui a mesma natureza
de qualquer outra prova ou exame de
concurso público, sendo insuficiente para
transmutar sua natureza o fato de ser
ministrado ao longo de vários meses. 5. Nesse
contexto, esse afastamento deverá ser
considerado como de efetivo exercício,
facultando-se, portanto, ao servidor a opção
pela remuneração que for de seu interesse,
com aplicação do disposto no art. 11, X, do
Decreto Lei nº 220/75 (Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis do Poder Executivo
do Estado do Rio de Janeiro), com a nova
redação dada pela Lei Complementar 110/2005.
6. O servidor público estadual, ante a situação
anômala no âmbito deste Estado, tem direito ao
afastamento para participar de curso de formação
profissional decorrente de aprovação em concurso
para outro cargo público, devendo optar pelos
vencimentos ou pelo recebimento de bolsa-auxílio.
7. Manutenção da sentença em remessa
necessária. 8. Desprovimento do recurso. (ênfase
nossa)

Assim, acolhendo o Parecer da Procuradoria de Justiça, deve ser


reconhecido ao Impetrante o direito de poder optar pela remuneração de seu
cargo originário, bem como a contagem do referido tempo como efetivo
exercício, até que seja nomeado e empossado no cargo de 2º Tenente PMERJ,
caso efetivamente seja aprovado em todas as etapas do certame.

Por força de tais fundamentos, voto no sentido de DAR


PROVIMENTO ao apelo do autor para CONCEDER A SEGURANÇA para que
o impetrante/apelante seja reintegrado ao CURSO DE FORMAÇÃO DE
OFICIAIS e que lhe seja assegurado o direito de ser afastado do atual cargo
civil de INSPETOR PENITENCIÁRIO percebendo a respectiva remuneração
até que seja nomeado ao posto de ASPIRANTE A OFICIAL PM ou 2º
TENENTE PM, contando integralmente o respectivo tempo de serviço para
todos os efeitos.
9
AB
508

Rio de Janeiro, 15 de julho de 2020.

JDS. DES. ÁLVARO HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA


RELATOR

10
AB

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