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Herculano Cachinho*
Percepção
O Quê?
Geografia Distribuição
Porquê? Escolar
Distância
Para Quê?
Tempo histórico
Que fazer?
Interacção/causalidade
3 Para uma reflexão sobre estes e outros conceitos chave da geografia ver, nomeadamente, os
trabalhos de J.-L. Nembrini (1994), B. Mérenne-Schoumaker (1985, 1994) e X. Souto
Gonzalez (1990; 1998).
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2. Como ensinar?
A renovação da geografia escolar de forma alguma se poderá limitar à
simples redefinição dos conteúdos, elaborada de acordo com os princípios
sumariamente expostos. Naturalmente, esta pressupõe também uma profunda
alteração da metodologia directamente implicada nos processos de ensino e de
aprendizagem dos referidos conteúdos e procedimentos. Responder à questão
«como ensinar?», exige, assim, uma intervenção em dois campos, sem dúvida
distintos, mas intimamente relacionados. O primeiro, prende-se com a selecção
de um método de trabalho que oriente a praxis didáctica, condicionada, neces-
sariamente, pelos modelos educativos e as concepções da aprendizagem. O
segundo, diz respeito ao leque de procedimentos inerentes ao saber-fazer teóri-
co e prático da geografia, ao raciocínio geográfico e aos conteúdos abordados
nas aulas, que para serem apreendidos pelos alunos se torna necessário delinear
Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 79
4 A distinção entre a investigação científica e escolar foi bem explicitada por Cañal e Porlan
(1987: 90). Segundo estes autores, enquanto a primeira consiste num «processo orientado
para a identificação, formulação e resolução de problemas, sendo um problema, qualquer
dificuldade que apenas pode ser superada mediante o desenvolvimento de actividades com
vista à sua resolução (Bunge, 1983), a segunda refere-se ao «processo de aprendizagem
fundamentado na exploração e na capacidade para o pensamento racional, comum no ser
humano desde o nascimento, bem como nos traços fundamentais do espírito científico que se
aperfeiçoa progressivamente na prática, em interacção dialéctica com o desenvolvimento das
estruturas conceptuais e operatórias do indivíduo e que é concebida como um instrumento ao
serviço dos objectivos gerais da educação, no marco de uma opção didáctica global».
80 Inforgeo 15 – Educação Geográfica
Conceptualização
de problemas sociais
Formulação de problemas e ambientais
Núcleos conceptuais
Conceitos estruturantes
Espaço
pensado, racional,
. Verbais
. Icónicos
Construção da explicação
. Estatísticos
. Cartográficos
Rifon (1983) e Souto Gonzalez (1998), são realçados três grandes conjuntos
de actividades que, numa perspectiva construtivista, deverão presidir à orga-
82 Inforgeo 15 – Educação Geográfica
5 O conceito de unidade didáctica é aqui usado na acepção de Souto Gonzalez (1998: 215-216),
isto é, «uma sequência ordenada de conteúdos, de métodos de aprendizagem e de atitudes
escolares relativos a problemas sociais, que ocorrem em lugares concretos». Nesta se
relacionam os problemas escolares com os conceitos e os procedimentos explicativos
derivados dos núcleos conceptuais da geografia, as informações básicas para entender os
problemas seleccionados, os métodos que se utilizam para aprender e as atitudes que se
espera que os alunos desenvolvam. Trata-se de uma concepção que se opõe à visão
tradicional, segundo a qual esta não é mais do que uma lista de lições, em que os temas
reflectem, de forma justaposta, um conjunto de conceitos e assuntos culturalistas.
Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 83
6 O conceito de próximo não tem aqui qualquer conotação espacial ou geográfica, mas sim
cognitiva. Próximo significa nesta acepção tudo aquilo que o aluno conhece, sobre o qual pode
ter opinião, que controla com os seus meios. Trata-se por isso de um conceito relativo: o próximo
estende-se, «alonga-se» com o acréscimo dos meios de conhecimento (Tonucci, 1985: 43).
7 Os núcleos conceptuais, referem-se aos postulados, princípios explicativos e conceitos
84 Inforgeo 15 – Educação Geográfica
das, pois todas, sem excepção, têm algo a dizer sobre os problemas, nos forne-
cem uma visão distinta do mundo e, na nossa opinião, mais do que alternativas
se afiguram complementares. Neste sentido, as investigações desenvolvidas
por Capel, Luis e Urteaga (1984; 1986), pela preocupação que manifestam com
a pluri-referencialidade e a poli-vocalidade geográfica, são uma excelente base
de trabalho. Apesar das suas limitações relativamente aos novos paradigmas
que se desenvolvem a partir de meados dos anos oitenta, nomeadamente, o
realismo, o estruturacionismo e o pós-estruturalismo, estes têm pelo menos o
mérito de reunir em torno de dezoito núcleos conceptuais os principais
postulados e conceitos dos três enfoques já clássicos do pensamento geográ-
fico; o estudo das distribuições na superfície terrestre, a análise da localização
dos fenómenos no espaço e a reflexão sobre as relações homem-meio.
No Quadro I apresentam-se alguns postulados e conceitos propostos por
estes autores, seleccionados de acordo com as suas afinidades em relação aos
temas organizadores das Orientações Curriculares para o 3.º Ciclo do Ensi-
no Básico. Naturalmente, outros podem ser tomados em conta, e o ideal seria
que os professores os interpretem e adaptem às exigências dos seus projectos
curriculares, ou até que a partir destes criem outros mais adequados aos pro-
blemas escolares e à natureza das experiências que querem promover com a
educação geográfica. Uma vez seleccionados, estes núcleos devem então ser
convertidos em conceitos específicos e a partir de questões pertinentes esta-
belecidas as redes conceptuais mais significativas.
A segunda etapa da conceptualização prende-se com a planificação das
actividades, ou se preferirmos a linguagem das orientações curriculares do
3.º Ciclo do Ensino Básico, a concepção das experiências educativas, a pro-
porcionar aos alunos para que estes se tornem pessoas autónomas e «cida-
dãos geograficamente competentes». Fazendo o elo de ligação entre a teoria
e a prática, esta constitui um momento fundamental do processo de ensino-
-aprendizagem, ao qual as sucessivas reorganizações curriculares, demasiado
preocupadas com os conteúdos e as técnicas a ensinar-aprender, raramente
têm prestado a devida atenção, ou apresentado propostas inovadoras.
A concepção da aprendizagem como uma prática investigativa do aluno
implica que as experiências educativas sejam entendidas como uma parte
fundamental da metodologia e, por conseguinte, reflictam as diferentes eta-
pas necessárias à resolução dos problemas sociais no espaço geográfico.
Neste sentido, tendo conta a variedade de códigos linguísticos usados pela
geografia para expressar o seu conhecimento (cartográficos, estatísticos, icó-
nicos e verbais), Souto Gonzalez (1998: 151) agrupa as mesmas em três
grandes domínios: o primeiro, prende-se com as experiências susceptíveis de
ajudar o aluno a compreender a informação que lhe chega do exterior,
nomeadamente, a proveniente da escola, da família, do círculo de amigos ou
8 Para uma análise pormenorizada da relação dos diferentes tipos de procedimentos com os
níveis de desenvolvimento cognitivo dos alunos consulte-se o capítulo 6 do excelente
trabalho de Souto González (1998). Didáctica de la Geografía: Problemas sociales e
conocimiento del medio, Ediciones del Serbal, Barcelona.
86 Inforgeo 15 – Educação Geográfica
que estes se dêem conta que é graças ao conhecimento das convenções, dos
símbolos e dos códigos da linguagem geográfica que o seu trabalho pode ser
lido, entendido e partilhado por outras pessoas, e no fim de contas, que utili-
zem o saber geográfico correctamente no seu quotidiano.
mundo dos negócios, no planeamento das férias, nas múltiplas relações que
estabelecemos com os outros e que exigem de nós uma tomada de posição.
Figura 3 – Geografia escolar e o desenvolvimento das competências gerais
4. Conclusão
Neste artigo procurou-se fazer uma reflexão sobre os procedimentos
epistemológicos e metodológicos da geografia escolar, bem como as finali-
dades que devem nortear a sua prática nos níveis de ensino básico e secundá-
rio. Tendo por suporte a diversidade de paradigmas geográficos e as mais
modernas teorias da aprendizagem, defende-se uma renovação conceptual e
metodológica susceptível de permitir à disciplina alterar radicalmente a sua
identidade na escola e na sociedade, vencer aos novos reptos colocados pela
formação dos jovens e justificar a sua relevância na vida quotidiana de todos
os cidadãos.
Para educar geograficamente as pessoas, participar na criação de cida-
dãos reflexivos, autónomos, com uma atitude crítica face ao mundo em que
vivemos, não basta, como se fez noutros tempos, discursar sobre os referen-
ciais culturais de mundos pouco conhecidos, próximos ou distantes das expe-
riências de vida dos alunos. Trabalhos recentes elaborados no nosso país
(Alberto, 2001; Esteves, 2001) demonstram que a geografia ensinada nas
nossas escolas, mesmo quando orientada para o tratamento de temas sobre o
ambiente, se mostra ineficaz na alteração de atitudes dos alunos face aos
Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 91
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