Você está na página 1de 19

Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Tema:

Abordagem Especifica dos Objectivos e Métodos da Didátcica de Geografia

Nome do Estudante: Celma João

Código: 708224933

Curso: Licenciatura em Ensino de Geografia


Cadeira: Didatica de Geografia I
Ano de frequência: 2º Ano

Nampula, Maio de 2023


Índice
1. Introdução.................................................................................................................................1

1.1. Objectivos..........................................................................................................................2

1.1.1. Geral...........................................................................................................................2

1.1.2. Específicos..................................................................................................................2

1.2. Metodologia.......................................................................................................................2

2. Didactica de Geografia..............................................................................................................3

2.1. Didactica de geografia e sua definição..............................................................................3

2.2. Abordagem especifica dos objectivos e Métodos da didáctica de Geografia....................4

2.2.1. Objectivos da Geografia.............................................................................................4

2.2.2. Métodos da didáctica de Geografia............................................................................5

2.3. Destaque as potencialidades e as tarefas da Displina de Didáctica de Geografia.............6

2.3.1. As potencialidades da Didáctica de Geofrafia............................................................6

2.3.2. As tarefas da Displina de Didáctica de Geografia......................................................6

2.4. As estratégias de implementação da transposição e simplificação didáctica no ensino de


Geografia......................................................................................................................................7

2.5. Relação entre o ensino da Geografia na época colonial, pôs a independência................10

2.5.1. Ensino de Geografia no Período Colonial................................................................10

2.5.2. Ensino de Geografia Pós-Independência..................................................................12

3. Considerações finais................................................................................................................15

4. Bibliografia.............................................................................................................................16
1. Introdução

Estudar didática significa desenvolver a capacidade de questionamento e de experimentação com


relação ao processo ensino-aprendizagem. Portanto, justifica-se o estudo da didática e o ensino da
Geografia, pois envolve a dinâmica da aplicação de ações que vinculam o aprendizado dos
alunos, em seus aspectos práticos e operacionais (Santos, Busato, & Dias, 2020).

Desta forma, começaremos o estudo sobre a Didática, registrando que ela sempre existiu na
história da humanidade porque o homem sempre ensinou e aprendeu (Jemuce).

A Geografia, como componente escolar, tem como centralidade a análise e a compreensão das
relações que se efetivam no espaço e a partir do contato com outros seres humanos que convivem
cotidianamente e que habitam o planeta. Entre suas incumbências, especificamente em escolas do
campo, precisa ser desenvolvida de modo diferenciado, fortalecendo as relações com o lugar,
considerando a cotidianidade e as particularidades ali evidenciadas, sem desconsiderar outras
dimensões do espaço (Copatti & Callai, 2018).

Notadamente, buscase uma releitura sobre o sentido e o significado do ensino da Geografia,


considerandose, sobretudo, os problemas e limitações dos modelos pedagógicos e curriculares
que durante a modernidade vêm legitimando a cultura escolar em geral e a Geografia em
particular. Esses problemas e limitações, a nosso ver, estão implicados tanto nas questões de
natureza teórica, ou seja, da própria concepção de Geografia enquanto campo de conhecimento e
de formação humana, quanto no âmbito das metodologias, da organização curricular e das
orientações didáticas.

Afinal, são muitos os desafios que se somam no âmbito das práticas escolares em geral e do
ensino de Geografia em particular. É, pois, sobre estes aspectos que o texto procura refletir,
inicialmente destacando algumas das categorias que consideramos essenciais para apropriação
pelos alunos em Geografia no Ensino Fundamental e finalmente apontando algumas dicas de
natureza metodológica (Thiesen, 2011).

1
1.1. Objectivos

1.1.1. Geral

 Descrever os fundamentos por de trás do desenvolvimento da disciplina Didactica em


Moçambique.

1.1.2. Específicos

 Entender o papel e o método de ensino da Didáctica de Geografia em Moçambique;


 Compreender as potencialidades e as tarefas da Disciplina de Didáctica de Geografia;
 Identificar as estratégias de implementação da transposição e implicação da didactica no
ensino da Geografia;
 Explicar a relação existente do ensino da Geografia na época colonial, pôs-independência
e na actualidade em Moçambique.

1.2. Metodologia

Para atingir o objectivo do presente trabalho e a sua materialização foi feita uma leitura e
pesquisa bibliográfica, utilizando artigos científicos, dissertações, livros, e páginas de instituições
públicas e privadas, para assim compilar o resumo teórico deste trabalho.

2
2. Didactica de Geografia

2.1. Didactica de geografia e sua definição

Disciplina em grande desenvolvimento, a didactica afirma cada vez mais a sua especificidade
perante a pedagogia (ciência da educação) e a metodologia (estudo dos métodos, técnicas e
processos de ensino). De facto, podemos defini-la como “a disciplina científica que tem por
objectivo a optimização das aprendizagens numa situação de ensino ou de formação” (Mérenne-
Schoumaker, 2016).

Está orientada de maneira preferencial para a natureza dos saberes escolares e seus modos de
transmissão, o que liga aos diferentes ramos de ensino.

Forma-se em didáctica num destes ramos, recorrendo à geografia, implica desde logo interrogar-
se paralelamente sobre a geografia (conceitos, linguagens, percursos, especificidade, …), e sobre
a maneira de organizar a sua aprendizagem no ensino. Trata-se, pois, de privilegiar no “triângulo
didáctico” a relação professor-saber, tendo também em conta a função cognitiva do formando
(isto é, a relação aluno-saber ou as investigações sobre as aprendizagens e as motivações) e as
relações entre o professor e os seus alunos (domínio da investigação por excelência da
pedagogia) (Mérenne-Schoumaker, 2016).

Onde:
A: Alunos
S: Saber
P: Professor

3
2.2. Abordagem especifica dos objectivos e Métodos da didáctica de Geografia

2.2.1. Objectivos da Geografia

Numerosas obras ou artigos consagrados à geografia e ao seu ensino tentaram formular os


grandes objectivos de um ensino novo ou renovado (Mérenne-Schoumaker, 2016).

Rejeitando um saber enciclopédico cortado e recortado aos bocados ao sabor da moda e das
reformas dos programas, a maior parte insiste numa refundação dos objectivos gerais em torno de
alguns princípios essenciais (Mérenne-Schoumaker, 2016):

1. Adquirir um conhecimento de base do espaço terrestre e da vida dos homens na terra. Este
conhecimento, que responde à curiosidade dos adolescentes sobre aqui e o acolá, deverá
também desenvolver os sentidos da observação, a imaginação e virtudes como a
tolerância a espírito cívico;

2. Saber situar os lugares e os factos não somente num mapa, mas ainda nos respectivos
meios e as diferentes escalas bem definidas a fim de saber determinar a dimensão espacial
de qualquer questão ou problema;

3. Compreender e explicar as regras do funcionamento dos diferentes territórios, e das


sociedades humanas no seio destes espaços: ambiente ecológico das sociedades, factos de
organização social, importância das culturas; compreender e explicar as dinâmicas e as
mudanças;

4. Preparar para a acção, não a acção excepcional, mas a acçao quotidiana: circular, viajar,
compreender as informações dos mais media, ser um cidadão responsável preocupado
com o meio ambiente.

A partir destes objectivos gerais, convém seleccionar a seguir a aquisição dos saberes e saber-
fazer. o que se fará nas segundas e terceiras partes do livro. Desta forma, teremos os seguintes os
objectivos específicos da didáctica de Geografia que são (Jemuce):

 Assumir a importância de ensino de Geografia;

 Dominar o complexo metodológico para o ensino de Geografia e utilizá-lo de forma


criadora na planificação e execução da actividade docente educativa;
4
 Investigar os conteúdos e os procedimentos indispensáveis a adequada realização do
ensino de Geografia de forma a desenvolver conhecimentos, capacidades, habilidades,
hábitos e valores morais dos alunos;

 Investigar as condições e particularidades que eventualmente possam influir na


assimilação dos conteúdos geográficos pelos alunos;

 Aperfeiçoar permanentemente os métodos, meios e formas de ensino;

 Assumir a importância da avaliação e ser capaz de elaborar tal instrumento;

 Dirigir correctamente o processo de ensino – aprendizagem

2.2.2. Métodos da didáctica de Geografia

Métodos de ensino são o conjunto de meios, procedimentos e técnicas através dos quais o
professor e os alunos concretizam os objectivos da aula ou são procedimentos didácticos
caracterizados por certas fases e operações para alcançar um objectivo previsto. Os métodos de
ensino estão em estreita relação com os princípios didácticos, isto é, aqueles que orientam o
professor na selecção do instrumento metódico adequado, enquanto os métodos de ensino são um
meio de acção (Jemuce).

Os métodos de ensino caracterizam-se por (Jemuce):

 Orientarem-se para os objectivos;

 Implicarem uma sucessão planificada e sistematizada de acções tanto do professor como


do aluno;

 Requererem a utilização de meios didácticos.

Eles podem-se classificar de acordo com:

 Fonte dos conhecimentos;

 Actividades do professor e do aluno;

 As funções didácticas;

5
 A autonomia do aluno;

 E o grau de actividade.

Os métodos da didáctica de Geografia são os próprios métodos de estudo de Geografia e, de uma


forma eficaz ajudam a concretização dos objectivos na aula de geografia e, entre muitos se
destacam os seguintes:

 Expositivo;

 Elaboração Conjunta;

 Trabalho Independente.

2.3. Destaque as potencialidades e as tarefas da Displina de Didáctica de Geografia

2.3.1. As potencialidades da Didáctica de Geofrafia

A Geografia tem grande potencialidade na formação do cidadão, visto que seu objecto de estudo
é o espaço. Este se constitui como político, cultural, social, como também físico. É, ao mesmo
tempo, concreto e abstracto. É, enfim, dialéctico. Portanto o espaço geográfico pode/deve não
apenas ser visto, como trabalhado como o lugar de vivência, aproximando-se, portanto, do aluno
e de sua realidade (Malua, 2014).

Segundo Jemuce, aponta que ao estudar o seu país por exemplo, o aluno desenvolve o amor pela
natureza e espírito de patriotismo: o amor pela sua pátria, pelo seu povo, pela sua cultura, o
orgulho de ser cidadão de uma pátria e nação. Simultaneamente, a geografia situa também o
aluno como cidadão do mundo, do planeta Terra e salienta a necessidade de uma ampla
cooperação entre todos os povos.

A geografia entanto disciplina escolar, dá a conhecer ao aluno o que ocorre no seu meio e ainda
tudo o que diz respeito ao seu país, à sua região, ao seu continente e ao mundo em geral.

6
2.3.2. As tarefas da Displina de Didáctica de Geografia

A didáctica de Geografia temo como primeira tarefa determinar os objectivos de ensino de


Geografia, de forma a proporcionar material necessário para a sua leccionação, por isso, permite
responder (Jemuce):

 O que estudar na disciplina de Geografia?

 Porque estudar?

 Como estudar?

 Onde estudar?

 Quando estudar?

A segunda tarefa da didáctica de Geografia visa proporcionar bases de organização do processo


de ensino de Geografia com ajuda de métodos apropriados (Jemuce):

 Como ensinar a Geografia na Escola?

E a terceira tarefa visa investigar as condições e particularidades de aquisição de conhecimentos


por parte dos alunos (Jemuce):

 Como os alunos adquirem os conhecimentos?

 Como os alunos desenvolvem as capacidades, habilidades e atitudes.

2.4. As estratégias de implementação da transposição e simplificação didáctica no ensino


de Geografia.

Partindo do princípio que o saber científico sofre um processo de transformação ao ser adaptado
ao ensino a sugestão da existência de uma epistemologia escolar fica realçada tornando-a distinta
da epistemologia em vigor nos saberes de referência.

Segundo Chevallard (1991) citado por Mafavisse (2021), define a transposição didática como
sendo o processo de reelaboração do conhecimento científico disciplinar para convertê-lo em
conhecimento escolar, tornando o último mais próximo do primeiro, na medida em que é definido

7
por quem tem poder de decisão sobre o sistema educativo, e sendo expresso principalmente por
meio de disposições oficiais (currículos, orientações, programas, diretrizes gerais, livros
didáticos…).

Em relação ao processo de transposição didática no ensino da disciplina de Geografia,


Nascimento e Oliveira (2015) citados por Mafavisse (2021), reconhecem que os textos que
constituem material de estudo teórico nas universidades são complexos e têm uma carga teórica
que precisa de um aporte inicial para a sua compreensão e leitura. Essas ideias, se repassadas ao
contexto escolar, sem que haja uma revisão adequada do conteúdo programático, interferem na
compreensão dos alunos e no processo de ensino e aprendizagem.

O pioneiro deste novo conceito foi o Chevellard yves, matemático francês (1985). A transposição
didáctica pode-se operar em 4 níveis (Jemuce): - No programa de ensino; - No professor durante
a planificação; - Na aula; - No aluno.

1º Nível
O programa de Ensino (PE), determina os conteúdos de ensino retendo uma parte do saber
científico em função dos objectivos e finalidades gerais do ensino, na formação dos adolescentes:
 Formação da sua personalidade;
 Abertura ao mundo;
 Formação cívica;
 Interesses da sociedade;
 Iniciação às disciplinas próximas que não estão representadas no ensino secundário como
é o caso da disciplina de demografia, economia, turismo, climatologia, Geomorfologia,
etc

2º Nível
O professor, a partir dos métodos, conteúdos e do programa em si, ele retém uma parte do saber
científico em função do tempo planificado, em função das expectativas dos alunos em dar-lhes
respostas, em função dos objectivos, finalidades da disciplina, conteúdos e, em função da sua
interpretação e dos procedimentos específicos (Jemuce).

8
3º Nível
É a reconstrução a nível da própria aula. As observações feitas levam a concluir que os
objectivos, métodos e conteúdos também são modificados no decurso da aula. Este procedimento
ocorre em função das dificuldades que os alunos terão, em função dos meios disponíveis e em
função da maneira de dar a aula ou transmitir os conteúdos.

4º Nível
Ocorre a nível do aluno. Este constrói o seu saber através da retenção e apropriação duma parte
dos conteúdos propostos e, segundo a sua maneira e forma de acção.

Com base nestes 4 níveis podemos concluir que há uma modificação e distanciamento entre o
saber científico e o saber escolar e/ do aluno, mas em todos os momentos deve estar patente o
rigor científico. Este distanciamento é inevitável, mas necessário, pois, corresponde a lógica
diferenciada da universidade até ao aluno (Jemuce).

Durante este processo, o professor de geografia deve ter em conta o Programa de Ensino (PE). O
PE é o documento que operacionaliza o Curriculum.

Curriculum, é o conjunto de aprendizagens considerados socialmente úteis num determinado


contexto, tendo em consideração uma certa unidade temporal e a respectiva sequência de
conteúdos e competências (Jemuce).

Programa de Ensino (PE) – é um documento político escolar que indica o caminho para a
aplicação do curriculum, para a realização de aulas duma maneira objectiva, planificada,
uniforme e adequadas as necessidades da sociedade e do educando, num determinado tempo
(Jemuce).

O PE, tem sempre o carácter duma lei, porque ele responde a determinadas exigências sociais
expressas nas finalidades da educação escolar através de objectivos e conteúdos. Por esta razão o
professor tem a obrigação de realizá-lo com a sua plenitude/integridade dentro dos prazos
9
previstos. O professor deve cumprir com rigor e responsabilidade o programa de ensino (Martins
& Piovezana, 2011). O professor de geografia deve prestar atenção na maneira de articular os
objectivos e conteúdos de ensino. Nunca deve o professor interpretar isoladamente um programa,
mas antes deve se informar e analisar os PE das classes anteriores e também posteriores com
vista a observar a progressão (avanço e sequência lógica) do processo de ensino – aprendizagem,
de ano para ano e ao longo das aulas (Jemuce).

2.5. Relação entre o ensino da Geografia na época colonial, pôs a independência.

2.5.1. Ensino de Geografia no Período Colonial

A evolução do conhecimento geográfico sobre Moçambique só pode ser plenamente apreendida


se levarmos em consideração, além das vicissitudes históricas e das dependências
socioeconómicas, os sucessivos enquadramentos (geo) políticos do país desde os mais remotos
tempos coloniais. Esta reflexão não pode descurar, também, a génese da Geografia moderna, a
evolução dos contextos científicos que a moldaram ao longo dos tempos nem a relação estreita e
cúmplice, embora nem sempre pacifica, com a Geografia portuguesa (Omar, 2010).

A Geografia de Moçambique é balizada por duas datas incontornáveis: a institucionalização em


1969 do Curso de Geografia na, então, Universidade de Lourenço Marques (Decreto Lei nº
44530, de 20 de junho) e a proclamação da independência do país, em 25 de junho de 1975. Estas
datas ajudam a definir três fases marcantes da Geografia moçambicana, com escalas temporais
bem distintas (Omar, 2010):

(i) o longo período, que se arrastou até 1969, que antecede a institucionalização do Curso
de Geogra‚a;

(ii) o período curto, breve mas intenso, compreendido entre o arranque da Geografa e os
anos de rutura, imediatos à independência da atual República de Moçambique;

(iii) o período posterior, de quatro décadas que nos separam do final dos anos setenta,
onde se distinguem ciclos mais curtos que correlacionam a história recente da
Geografia de Moçambique com a trajetória política do país.

Acompanhando o sistema educacional colonial, onde a aprendizagem foi caracterizada por um


ensino altamente racista e selectivo para a população, a matéria de ensino de Geografia era
10
fortemente dominado pelos aspectos referentes à metrópole, na sua qualidade de eixo central do
estudo geográfico, onde a realidade mais próxima do aluno no estudo geográfico era descurado
(Omar, 2010).

Num período caracterizado ainda pelo sistema colonial, a matéria de ensino de geografia, incluía
“Noções de Geografia de Portugal” até a 4ª classe, e os conteúdos mais gerais, tais como Noções
de Cosmografia; Estudo de Continentes e Oceanos, Noções de Geografia Física e Económica e
Geografia Regional e mais alguns aspectos de estudo seleccionado de países e monografias sobre
produtos do Ultramar (Duarte, 2001).

O estudo da realidade próxima do aluno, nesta altura, só era relevante “nos casos em que se
tornava necessário estudar as riquezas de Moçambique (agrícolas, florestais e outros) cujo
conhecimento era importante para fins de exploração colonial uma vez que as colónias eram
vistas como produtoras de matérias-primas” (Duarte & Língua, 1996:9).

Pode-se dizer que, neste período, assistiu-se a uma violência psicológica das crianças, ao terem
de assumir valores que lhes eram completamente alheios, podendo se identificar com um espaço
geográfico distante do seu espaço vivenciado (ibidem). Desta maneira, a escola difundia um
conjunto de valores e funções para responder às exigências da conjuntura social imposta ao povo
moçambicano (Omar, 2010).

No período colonial, o ensino de Geografia em Moçambique tinha como objectivos (Jemuce):

 Ensinar a ler, escrever e contar a população indígena, mas inibindo-a a desenvolver a


noção da sua dimensão espacial e cultural;
 Iniciar o estudo de geografia com aspectos inerentes a Portugal;
 Não tomar conta a realidade próxima do aluno, nem a observação directa;
 Utilizar mapas de Portugal de grande escala para transparecer a ideia de que Portugal era
maior que Moçambique;
 A grande escala proporcionava maior concretização, maior detalhe no estudo dos
fenómenos de Portugal em detrimento dos fenómenos geográficos moçambicanos, cujos
mapas eram de pequena escala;

11
 A exaltação da cultura, história, geografia, descobertas e conquistas portugueses,
contribui para inibir o desenvolvimento e aprofundamento do sentimento nacionalista
moçambicano;
 O ensino de Geografia partindo da realidade próxima do aluno estava relegado a um plano
secundário excepto em casos de estudo de riquezas de Moçambique cujo conhecimento
era de extrema importância para a exploração e produção de matérias-primas;
 O ensino estava virado para a memorização.

Alguns aspectos positivos (Jemuce):

 Existência de livros em quantidade e qualidade;


 Orientações metodológicas claras e objectivas;
 Programas exequíveis;
 Professores com formação prestigiosa;
 Número de alunos por turma reduzido.

Estrutura dos conteúdos (Jemuce):

 4ª Classe – Noções de Geografia de Portugal;


 1º e 2º Anos do ciclo preparatório.
o Noções de Cosmografia;
o Estudo dos Continentes e Oceanos;
o Noções de Geografia Física e Económica.
 3º, 4º e 5º Anos dos Liceus:
o Geografia Regional da Ásia, África e América;
o Geografia de Portugal.
 6º e 7º Anos (Curso Complementar);
o Cosmografia;
o Geografia Física e Económica Geral;
o Alguns Países colonizados.

12
2.5.2. Ensino de Geografia Pós-Independência

Foi depois da independência, em 1975, que a aprendizagem geográfica ligada a realidade passou
a fazer parte dos conteúdos escolares com a introdução conjunta da disciplina de Historia e
Geografia de Moçambique em substituição das disciplinas de História e Geografia de Portugal e
da Religião e Moral que continham uma forte conotação ideológica (Gómez, 1999 citado por
Omar, 2010).

Nestes programas, a Geografia aparece integrada num conjunto de disciplinas que têm por
objectivo a formação do Homem Novo, definidos por “objectivos políticos, económicos e
científicos, com uma linguagem específica de guerra, herança daquilo que tinha sido a educação
nas zonas libertadas” (Duarte, 2001:91 citado por Omar, 2010), integrando, desse modo, nos
programas, os conteúdos relacionados com os aspectos do ambiente próprio do aluno (Tabela I)

Tabela I: Distribuição dos conteúdos geográficos no período pós-independência

Classe Conteúdos

3ª e 4ª Classe Aspectos geográficos mais próximo do aluno

5ª Classe O conceito de Geografia como ciência e algumas noções sobre cosmografia e


Geografia Física de Moçambique

6ª Classe O estudo do território nacional, abrangendo todos os aspectos do país e


Geografia do Continente Africano

7ª Classe O ensino de Geografia incidia sobre algumas noções de Cosmografia,


Geografia Física Geral e Geografia Regional de alguns países do continente
Asiático

8ª Classe Geografia Regional dos Continentes Europeu e Americano

9ª Classe Geografia de Moçambique

10ª Classe Geografia Física Geral

11ª Classe Geografia Económica Geral

Fonte: (Omar, 2010)


13
Salientam Duarte e Língua (1996:12) citado por Omar (2010), infere que se pretendia
desenvolver no aluno capacidades, habilidades e hábitos novos, isentos de valores coloniais, bem
como o amor à pátria e solidariedade com os povos “irmãos”:

Com a finalidade de desenvolver capacidades e de proporcionar aos alunos habilidades e meios


para que possam aplicar em situação prática os saberes adquiridos são orientados a seleccionar,
analisar, explicar e avaliar os factos e fenómenos geográficos. Finalmente, no domínio das
atitudes, levam-se os alunos a desenvolver o espírito de solidariedade, de respeito, de cooperação
e a desenvolver valores conscientes (Omar, 2010).

Os objectivos do ensino de Geografia estavam delineados segundo três níveis (Jemuce): Políticos,
Económicos e Científicos:

 Políticos: visavam a formação do Homem Novo com ideologia que combatesse a


exploração do homem pelo homem;
 Económicos: tinham em vista a integrar o aluno no plano global de reconstrução nacional,
de modo a desenvolver esforços e dinamismo num desenvolvimento progressivo,
constante e planificado da economia do país;
 Científicos: visavam formar cientificamente o aluno de modo a constituir-se uma base
para alcançar os objectivos políticos e económicos e para uma correcta interpretação dos
fenómenos do meio em que o aluno se encontra inserido.

Foi assim que naquele período, o estudo de Geografia de África, Europa, Ásia e América, estava
centrado nos países “irmãos”de Moçambique, os que tinham auxiliado o povo moçambicano no
combate ao colonialismo português, na sua maioria de orientação socialista: Cuba, ex – RDA, ex
– URSS, entre outros (Jemuce).

14
3. Considerações finais
Estudar Geografia se tornou uma necessidade para o Império, que a exemplo de Portugal tinha
que dar conta de grandes territórios e estes constituídos por pessoas de diferentes grupos étnicos,
denominados de indígenas. Eram mais de 400 povos com idiomas específicos e que na política de
desenvolvimento do império tinham que ser civilizados, domesticados, dominados (Martins &
Piovezana, 2011). A didáctica de Geografia temo como primeira tarefa determinar os objectivos
de ensino de Geografia, de forma a proporcionar material necessário para a sua leccionação
(Jemuce).

Portanto, a evolução do conhecimento geográfico sobre Moçambique só pode ser plenamente


apreendida se levarmos em consideração, além das vicissitudes históricas e das dependências
socioeconómicas, os sucessivos enquadramentos (geo) políticos do país desde os mais remotos
tempos coloniais (Omar, 2010).

15
4. Bibliografia

Copatti, C., & Callai, H. C. (2018). O Ensino de Geografia em Educação do Campo e o Uso do
Livro Didático. Brasil.

Jemuce, L. (s.d.). Didáctica de Geografia I. Beira - Moçambique: Universidade Católica de


Moçambique .

Mafavisse, I. M. (2021). Do Conhecimento Científico ao Conhecimento Escolar: Abordagem da


Atmosfera no Processo de Ensino e Aprendizagem . Moçambique - Nampula.

Malua. (2014). Potencialidades, importância do Ensino da Geografia, como ciência que estuda a
sociedade e suas contradições usando o espaço como categoria para entendimento entre
professor e aluno. Brasil.

Martins, J., & Piovezana, L. (2011). Didática e Metodologia do Ensino de Geografia. Brasil:
Uniasselvi.

Mérenne-Schoumaker, B. (2016). Didáctica da Geografia . Brasil: ASA.

Omar, A. A. (2010). Análise do ensino de Geografia, na 10ª classe, em Moçambique, no âmbito


do currículo e educação geográfica: uma abordagem centrada nas práticas de
professores de Geografia em quatro escolas secundárias da cidade de Nampula. Portugal.

Santos, A. M., Busato, R., & Dias, M. (2020). A Didática e o Ensino da geografia: Um Olhar
Sobre A prática Docente E A Aprendizagem. Brasil.

Thiesen, J. d. (2011). Geografia escolar: dos conceitos essenciais às formas de abordagem no


ensino. Brasil: Geografia Ensino & Pesquisa.

16
17

Você também pode gostar