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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO / FACED


PEDAGOGIA – EAD

NOVA VISÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO


ENSINO FUNDAMENTAL

 TEMÁTICA DO ESTUDO: ESPAÇO GEOGRÁFICO NOS ANOS INICIAIS. 

Maria Beatriz Lemos Dornelles


Orientadora: Denise Comerlato

Porto Alegre, Rio Grande do Sul


2010

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO Pag.

2. O ENSINO DA GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS


Pág.

2.1 A IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS Pag.

2.2 O APRENDIZADO DA LEITURA EM UM CONTEXTO


SÓCIO-CULTURAL Pág.

3. INTER-RELAÇÕES DA GEOGRAFIA COM AS OUTRAS


ÁREAS DO CONHECIMENTO Pág.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pág.

5. REFERÊNCIAS Pág.

6. ANEXOS

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INTRODUÇÃO 

O principal objetivo quando escolhi o tema, foi trazer à escola a


importância de se aprender a geografia nos anos iniciais. Pois é através dela
que podemos observar o mundo e compreender que as paisagens e as formas
que podemos ver são resultado da interação do homem com a sociedade, seja
ela do passado ou do presente. E, portanto quando iniciei o meu estágio,
apesar de não estar teoricamente fundamentada para realizar uma metodologia
transdisciplinar, tinha convicção de que não poderia continuar fragmentando o
conhecimento. Precisava abrir para eles também um leque de possibilidades. E
foi com este propósito que me aventurei a sair da escola e ir conhecer a casa
de um coleguinha da turma. Realizei a saída de campo. Uma estratégia que
torna compreensível o que poderia ser apenas um assunto de reconhecimento.
Este recurso utilizado nessa aula auxiliou e muito a relação do aluno com o seu
cotidiano, superando os limites da sala de aula, indo além da disciplina. E foi
isso que proporcionei buscando na disciplina de geografia a noção de espaço,
mas trabalhando de forma lúdica, contextualizada e integrada (não
fragmentada), com as disciplinas de matemática, português, artes, educação
física e a própria geografia com um único objetivo: a compreensão do mundo
presente.  Acredito que não podemos compreender o espaço sem interagir com
ele, com o que pode ser percebido e construído. Segundo, Milton Santos “A
história não se escreve fora do espaço, e não há sociedade a-espacial. O espaço, ele mesmo,
é social” (Milton Santos, 1988.p.9-18)..
Investigar uma metodologia transdisciplinar utilizando estratégias como
a saída de campo será uma forma de reestruturar com fundamentação o meu
fazer pedagógico. Por tanto o presente trabalho teve como local a Escola
Estadual de Educação Básica Professor Gentil Viegas Cardoso com
minha turma de 2º ano. A classe era composta por 30 alunos, sendo 13
meninas e 17 meninos. A faixa etária ia dos sete aos oito anos. Com exceção
de dois alunos que eram repetentes e, portanto possuíam idades superiores
aos mesmos, sendo o menino com 12 e a menina de 9 anos. A sala de aula era
ampla, bem iluminada, arejada e com mobílias adequadas para realizar
trabalhos em grupos, rodinha e posso dizer que ela é uma sala que deveria ser

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para todas as salas de aula, pois nele podemos realizar qualquer tipo de
atividades. Como titular da turma, desde o primeiro ano, desenvolvia os
conteúdos de uma forma fragmentada em disciplinas, centralizando mais a
alfabetização na disciplina de Português. O importante para mim era a leitura e
escrita sem, necessariamente uma contextualização com o meio social.
Como aluna do PEAD, estudando à interdisciplina Representação do
mundo pelos Estudos Sociais,  refleti muito esse meu fazer docente no ensino
de Estudos Sociais, pois foi somente após as leituras indicadas" E se não
houvesse Estudos Sociais nas séries iniciais? "De Antônio Castrogiovanni e
Beatriz T.D.Fischer e " Do acaso à intenção em Estudos Sociais" de Maria
Aparecida Bergamaschi que passei a rever minha prática pedagógica.
 “se desejamos ensinar conhecimentos da área de estudos
sociais, temos que pensar, sim, em planejar efetivamente esse
ensino, não como um roteiro que antecipa todas as ações, subtraindo
os improvisos necessários diante do inusitado, mas como um
instrumento impulsionador da prática pedagógica”. (Maria
Bergamaschi)
Tendo como princípio essa constatação, “um instrumento
impulsionador” foi que durante o estágio encaminhei minha proposta
metodológica centralizando-a na área sócio-histórica, especificamente na
disciplina de geografia. Como professora titular da turma tinha ciência que os
alunos precisavam operar com as relações espaciais, assim como, a
representação de distância da casa x escola e localizar graficamente as
dependências da escola ou o que está em torno dela. Foi a partir deste que
direcionei o meu objetivo pessoal para ensinar o conhecimento da área de
Estudos Sociais, partindo do pressuposto de que esta área é muito
importante na alfabetização de nossos alunos, assim como as demais  para
ajudá-las na compreensão, interpretação e raciocínio de situações do nosso
dia-dia, pois segundo Maria Bergamaschi,
 O planejamento deverá partir das experiências e saberes dos alunos,
relativos a conceitos a serem trabalhados, para que se chegue a concretizar
aquelas intenções... Mas, esse planejamento deverá ser por princípio, flexível e
aberto, porque deve incorporar a dinâmica sociocultural do processo histórico,
da história presente, que se mostra no dia-a-dia. Também

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pretendia contextualizá-la com as demais disciplinas, facilitando a
aprendizagem... a não fragmentação das disciplinas. Escolhi como tema a
frase, “Além de minha casa", pois o propósito era estimular nos alunos a
observação crítica da realidade que o cerca, fora da convivência familiar, uma
leitura do espaço real/concreto assim como a leitura da representação gráfica.
Abordar os temas como minha casa, minha escola, posso dizer que são
basicamente os “conteúdos” do 1º ciclo e já havia apresentados às diversas
turmas em quais já trabalhei neste tempo de profissão. Mas durante o estágio
esses temas foram abordados, buscando a fundamentação teórica e os
conhecimentos prévios dos alunos inserindo as especificidades da área, como
a construção da noção de espaço, partindo dos objetivos sugeridos por
Bergamaschi: “o planejamento deve prever situações diárias, em que a busca da realização
dessas intenções se materializem em propostas concretas, que não se oponham ao sonho
maior”
Foi através dos registros e observações que foram realizadas durante
esta prática de estágio que me propus a realizar este trabalho de investigação,
baseando-me nas seguintes questões que me impulsionaram, a saber, ainda
mais, Como os alunos interpretam o  meio social? E como eles compreendem
o espaço onde vivem?
Este trabalho de pesquisa será fundamentado em estudiosos que se
preocupam com resoluções de problemas e a análise crítica. Terá uma
proposta metodológica centralizada em uma arquitetura pedagógica com o
objetivo pessoal de ensinar o conhecimento de Geografia, partindo do
pressuposto de que esta disciplina assim como as demais, é importante na
alfabetização de nossos alunos.
Para tanto, terei que me apropriar dos meus registros do diário de
classe, do pbwork, e da pesquisa participante, evidenciando as teorias de
Milton Santos, Straforini, Kaercher e Helena Callai.

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2. O ENSINO DA GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS

No ensino de geografia nos anos iniciais do ensino fundamental, ainda


predomina uma prática pedagógica tradicional, mesmo sendo uma questão que
já foi tema de vários artigos e mencionada por teóricos como Milton Santos, ou
especialistas geógrafos como Helena Callai, Rosângela Almeida, Nestor
Kaercher, Rafael Straforini, que foram a base de fundamentação teórica neste
trabalho de conclusão científico, ainda é uma questão a ser compreendida e
desenvolvida pela maioria dos educadores como afirma Natanael Reis Bomfin
em seu artigo publicado sobre as representações sociais da geografia e do
ensino da geografia, que foi construída por estudantes-professores do curso
PROAÇÃO (Programa de Formação Continuada para Professores das Séries
iniciais).
“Nas escolas, do Brasil e do mundo, percebe-se que o
ensino de geografia mantém, ainda, uma prática tradicional, tanto no
ensino fundamental quanto no médio. Para a maioria dos alunos, a
aprendizagem da geografia na escola se reduz somente à
memorização, sem fazer referência às experiências sócio-espaciais:
Assim, o ensino e a aprendizagem da geografia escolar se
caracterizam pela utilização excessiva do livro didático, pela aplicação
dos conteúdos mais conceituais que procedimentais, como também
pela utilização descontextualizada e estereotipada das cartas
geográficas” (?)
E esta colocação foi prevista em 2004, sendo que em 2006, quando
iniciei minha especialização em Pedagogia nos anos iniciais ainda não tinha
esse conhecimento. Portanto, posso afirmar que nos primeiros anos iniciais de
escolaridade, o trabalho com geografia, em sala de aula, se resume em
desenhos para pintar relembrando datas comemorativas, ou figuras alusivas ao
tema que é proposto nos conteúdos programáticos.
Enquanto professora, deste nível de ensino, nunca fiz relação entre a
escola e a vida, muito menos entre esta área e outras. Nestor André Kaercher,
em seu artigo, no livro, Ler e escrever-compromisso de todas as áreas (2004,
p.73), já mencionava esta questão. “Parece-nos claro que, o ensino de geografia, como,
aliás, o de qualquer outra área, só será válido se conseguir fazer um diálogo com o mundo

real”. Se não dermos aos nossos alunos a oportunidade de interagir com o

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objeto de estudo, fazendo uma relação com o seu meio, eles jamais poderão
construir o seu espaço.
A geografia tradicional se traduziu e ainda, podemos dizer assim que
se traduz, pois tenho ciência de que a bem pouco tempo atrás, realizava desta
maneira minhas aulas, de forma dissociada do espaço vivido por eles e sem
uma relação de produção e organização deste espaço. E quando realizava, era
uma geografia neutra, centralizada em folhinhas mimeografadas com pequenos
textos sobre família, bairro, cidade, escola, meios de transporte, meios de
comunicação, Dia do Meio Ambiente, da árvore, do índio, dos pais, das mães e
outros “Dias” que transcrevesse uma “data importante”, designadas pela
própria mídia ou pela listagem de conteúdos. Todos estes assuntos eram
abordados de forma não contextualizados com a realidade do espaço vivido,
pois o mais importante naquele momento era o que “meus alunos” precisavam
saber e não o que eles já sabiam. Retomando a minha análise de dados,
percebi que no meu planejamento não tinha claro os pressupostos teóricos que
iriam nortear minha prática, pois a turma já estava desenvolvendo desde o
primeiro ano uma proposta pedagógica fundamentada em conhecimentos
procedentes da Ciência Cognitiva da Leitura, do programa Alfa e Beto. Neste,
as aulas eram planejadas pelo próprio programa, sem fazer um diálogo com o
mundo real, vivido pelos alunos.
Segundo Kaercher (2004), precisamos mudar essa visão, sairmos
deste pedestal conservador, assumindo uma postura mais comprometida com
a realidade de nossos estudantes.
“Precisamos superar essa visão ingênua,
descompromissada, aparentemente apolítica, pois ela é justamente
um modelo politicamente conservador, produto de uma cidadania
contemplativa, inerte, do tipo “em sala de aula eu dou informações, os
alunos que façam as conexões lá fora”. (Kaercher, 2004, p.73)

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Tomo a liberdade de reescrever aqui os problemas citados nos
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (2001, p.4-5), pois percebo que os
mesmos ainda acontecem em minha escola. Segundo a análise feita pela
Fundação Carlos Chagas, observa-se, sobretudo nas propostas curriculares
produzidas nas últimas décadas, que o ensino de Geografia apresenta
problemas tanto de ordem epistemológica e de pressupostos teóricos como
outros referentes à escolha dos conteúdos. No geral, cito os que mais
identificam a realidade de minha escola, são eles:
 Abandono
de conteúdos fundamentais da geografia, tais como as categorias de
nação, território, lugar, paisagem e até mesmo espaço geográfico, bem
como do estudo dos elementos físicos e biológicos que se encontram aí
presentes;
 A
adaptação forçada das questões ambientais em currículos que ainda
preservam um discurso da Geografia /tradicional e não têm como
objetivo uma compreensão processual e crítica dessas questões, vindo
a se transformar na aprendizagem de slogans;
 A
memorização tem sido o exercício fundamental praticado no ensino de
geografia, mesmo nas abordagens mais avançadas. Apesar da proposta
de problematização, de estudo do meio, da forte ênfase que se dá ao
papel dos sujeitos sociais na construção do território e do espaço, o que
se avalia ao final de cada estudo é se o aluno memorizou ou não os
fenômenos e conceitos trabalhados e não aquilo que pode identificar e
compreender das múltiplas relações aí existentes.
Iniciar o estudo da geografia no inicio da escolarização é poder fazer
uma relação com o espaço vivido. Segundo Callai,
“a leitura do mundo é fundamental para que todos nós, que
vivemos em sociedade, possamos desenvolver a nossa cidadania.
Uma forma de fazer a leitura do mundo é por meio da leitura do

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espaço, qual traz em si todas as marcas da vida dos homens”.
(Campinas, vol.25, n.66, p. 228).
Em análise de dados, observei que desde a primeira semana fui
criando condições para que meus alunos pudessem fazer uma leitura do
espaço onde estavam inseridos, os alunos puderam refletir sobre o que era
lugar. Através dos desenhos1 por eles realizados pude constatar que os
mesmos demonstravam ter uma visão própria de lugar. Esta é a geografia que
devemos aplicar nos anos iniciais. Uma geografia contextualizada com o meio
onde vivem que possam apresentar seus conhecimentos na forma como
observam o espaço, ”Os lugares, são, pois, o mundo, que eles reproduzem de modos
específicos, individuais, diversos. Eles são singulares, mas também são globais, manifestações

da totalidade-mundo, da qual são formas particulares”, (Santos, 2000.p.112). Os alunos são


portadores de idéias sobre o lugar onde estão inseridos, pois convivem em
família e esta já possui um conhecimento próprio que é passado aos filhos e
também pelo acesso de informações que recebem pelos meios de
comunicação. Mas atualmente, esse ensino ainda continua atrelado às práticas
de um contexto histórico, como pude refletir com Santos em seus escritos no
livro, Por uma Geografia Nova.
“Diante da marcha triunfante do imperialismo, os geógrafos
dividiram seus pontos de vista. De um lado, aqueles que lutavam pelo
advento de um mundo mais justo, onde o espaço seria organizado
com o fim de oferecer ao homem mais igualdade e mais felicidade
(...). Por outro lado, aqueles que preconizaram claramente o
colonialismo e o império do capital e aqueles, mais numerosos, que
se imaginando humanistas não chegaram a construir uma ciência
geográfica conforme a seus generosos anelos”.
“Nascida tardiamente como ciência oficial, a geografia teve
dificuldade para se desligar, desde o berço, dos grandes interesses.
Estes acabaram carregando-a consigo. Uma das grandes metas
conceituais da geografia foi justamente, de um lado, esconder o papel
do Estado bem como o das classes, na organização da sociedade e
do espaço” (Santos, 2004, p.30-31).

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2.1. A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS
INICIAIS

Ensinar geografia nos anos iniciais é inserir o dia-a-dia dos alunos nas
atividades de sala de aula. É transformar as dúvidas que os alunos possuem
sobre os fenômenos que eles vêem ou os questionamentos que surgem em
nossa aula em objetos de estudos. Assim começamos a construir as noções de
espaço e tempo. Isso ocorre quando nós professores formamos em nossos
alunos a criticidade, um componente importante no desenvolvimento da
cidadania.
A importância do ensino de geografia nos anos iniciais se dá quando
possibilitamos ao estudante, a compreensão de que ele é parte integrante nas
relações de nossa sociedade com o meio natural onde vive. Quando
realizamos atividades de observação do lugar vivido, refletimos sobre os fatos
que ocorreram ou ocorrem nas mudanças do ambiente social. À medida que o
aluno aprende sobre o lugar onde vive, ele se coloca diante dele. E somente
sentindo-se participante poderá perceber que as suas ações individuais ou
coletivas podem trazer conseqüências para si ou para o meio onde está
inserido. (PCN-Geografia-Ensino Fundamental, p.8).
Ensinar geografia no inicio da escolarização é possibilitar ao estudante
que ele compreenda a sua atuação como contribuinte nesta construção da
sociedade, pois segundo Callai (2005), uma forma de fazer a leitura do mundo
é por meio da leitura do espaço, ou seja, através do que vê e participa em seu
meio. Para isso, é necessário aprender a ler o espaço e para fazer essa
compreensão demanda uma série de condições, como a necessidade de
aprender as noções de espaço desenvolvendo a localização e a representação
gráfica. Sendo assim, este “é um processo que se inicia quando a criança reconhece os
lugares, conseguindo identificar as paisagens”. (Castelar, 2000, p30).
Portanto esta é uma questão que devemos considerar quando vamos
planejar nossas atividades nos anos iniciais, pois ensinar geografia não é
apenas realizarmos um texto com o tema proposto. É antes de tudo conhecer
como nossos alunos compreendem o lugar onde vivem. Como percebem o

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espaço onde moram. Na análise de dados, evidenciei essa prática na primeira
semana quando iniciei o projeto “Além de minha Casa”. Com eles pude
estabelecer relações com o conhecimento prévio que tinham sobre o conceito
Lugar. Proporcionei aos meus alunos desenvolverem a capacidade de
identificar e refletir sobre diferentes aspectos da realidade onde viviam.
Partindo da questão proposta: O que é Lugar? Surgiram várias situações, onde
alguns pensavam como um espaço fechado (casa, escola, cozinha), como
espaço ocupado (onde o colega senta) ou mesmo como espaço aberto, natural
(floresta). Solicitei que registrassem através de desenho a resposta que
encontraram e então voltei a questioná-los qual era o desenho que podíamos
considerar lugar. A maioria respondeu a casa. E observei que esta tinha sido a
escolhida por ser o desenho mais repetido.

Quando apresentei a questão: Em que lugar gosta de ficar? A turma


toda respondeu rapidamente que era a casa, o lugar preferido para estar.
Diante deste posicionamento da turma combinamos, em outro dia,
visitarmos a casa de um coleguinha.
Portanto o ensino de geografia requer um educador que esteja pronto a
mudanças. Que olhe para seus alunos e veja o quanto ele tem a contribuir na
busca de um conhecimento. E este como professor de anos iniciais pode
proporcionar essa vivência, preparando os alunos a compreenderem as
mudanças ou transformações que ocorrem neste universo de estudo.
Os conceitos de lugar, paisagem, espaço e território, devem ser
introduzidos na vida dos estudantes de maneira que façam relações com suas
próprias concepções sobre sociedade e a natureza. Com Kaerche, pude
analisar melhor esse fato, quando menciona que:
“precisamos exercitar nossos alunos a escrever, ler e dizer
a sua palavra em sala de aula e nas aulas de geografia. É espantoso
que deixemos para os professores da língua portuguesa essa tarefa

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absolutamente comum a todos os professores, independente de sua
área de atuação. Ok, sei que nossos alunos “não gostam de ler”! Mas
não falo apenas de ler palavras, livros! Falo de ler o mundo”.
(Kaercher, 2004, p.77).
Pois ao visitarmos a casa de um coleguinha da turma, puderam
observar registrar, problematizar, pesquisar fenômenos sociais, culturais ou
naturais que compõem a paisagem e o espaço geográfico onde vivem. Mas
antes de sairmos para observarmos o objeto de estudo (a casa do colega)
precisei analisar o que meus alunos sabiam ou como viam o lugar (como
espaço geográfico).
Depois na rodinha, ao final do turno, conversamos sobre possíveis
visitações aos espaços da escola e do entorno dela. “Eu queria conhecer a sala
da direção”, “Eu quero ver a sala de vídeo”, “Dá pra levar filme”, “Que dia a
gente vai”.
Como constato em minha análise de dados, na segunda semana, os
estudantes foram levados a olhar atentamente para a nossa escola. Nesta,
informei que iríamos até a rua para observarmos a entrada da escola.

Solicitei que olhassem com muita atenção e quando eu fosse tirar a


foto que eles também registrassem em sua memória o que viram.
Depois entramos para o pátio e ficamos de frente para o saguão. Ali fiz
as seguintes perguntas: O que você vê na sua frente? O que você vê do lado
esquerdo? O que você vê do lado direito?
Durante essas aulas pude exercitar a lateralidade. Desta forma fui
entrelaçando aqui, uma leitura do ambiente ocupado por eles no qual tinham
conhecimento e vivenciavam tal situação. As palavras escritas eram retiradas
deste momento, tornando compreensiva e utilitária. Isso é ler o mundo, pois
com Santos (2004) pude refletir e analisar minha prática. Agora mais
especificamente como definição de espaço.

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“é uma tarefa extremamente árdua, já que cobre uma
variedade tão ampla de objetos e significações. Quando olhamos os
utensílios comuns à vida doméstica, como um cinzeiro, um bule; é
espaço. Ou observando uma estatueta ou uma escultura, qualquer
que seja sua dimensão, são espaço; uma casa é um espaço, como
uma cidade também o é.Ainda menciona Santos que há o espaço de
uma nação ( sinônimo de território, de Estado) de espaço terrestre, da
velha definição de geografia, como crosta do nosso planeta; e há,
igualmente, o espaço extraterrestre, conquistado pelo homem, e, até
mesmo o espaço sideral, parcialmente um mistério, como menciona
Santos. Em suas afirmações, Santos deixa claro que o espaço que
interessa é o espaço humano, aquele que contém ou é contido por
todos esses múltiplos de espaço”.
“Não há grande dificuldade em definir um vaso de flores, um
arranha-céu, um planeta ou uma constelação. O espírito humano
rapidamente se satisfaz com tais definições. Mas, quando a nossa
curiosidade se transfere para o espaço humano, enormes dificuldades
se levantam porque é a morada do homem, é o seu lugar de vida e de
trabalho”. (Santos, 2004, p.151)
Portanto o ensino de geografia requer um educador que esteja pronto a
mudanças. Que olhe para seus alunos e veja o quanto ele tem a contribuir na
busca de um conhecimento. Straforini, baseado em argumentos de Callai
(1998) apresenta três motivos para o ensino da geografia, no sentido de
compreender o mundo como totalidade.
“Assim o primeiro motivo trata de
conhecer o mundo e obter informações a seu respeito. O segundo
motivo é conhecer o espaço produzido pelo homem, as causas que
deram origem às formas na relação entre sociedade e natureza.Por
fim, o objetivo maior de ensinar Geografia é fornecer ao aluno
condições para que seja realmente construída a sua cidadania”
(STRAFORINI, 2004.p.53)

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2.2. O APRENDIZADO DA LEITURA E ESCRITA EM UM CONTEXTO
SÓCIO-CULTURAL

Em minha análise de dados percebi que a casa era para meus alunos,
muito presente, parti deste pressuposto para sair com eles e visitar a casa do
coleguinha. Neste momento queria levá-los a olhar o caminho que o colega
fazia, ou eles próprios, com outro olhar. Levá-los a observar o que havia na
rua, quais os tipos de casas, como era o espaço em que a escola estava
inserida... Em fim queria fazer meus alunos verem o que nunca tinham visto.
Mesmo passando todos os dias por esse caminho, tinha certeza de que eles
não relacionavam ou problematizavam as situações ali existentes. Neste
aprendizado, consegui fazer com que os alunos observassem os buracos da
rua, as casas que eram de madeira ou alvenaria, que a casa do colega era
pequena para o número de pessoas ali presentes e também a comparação
entre as peças da sua casa com o do colega. Como menciona Kaerche,
Pude construir com os alunos (e não apenas mostrar, falar,
”catequizar”) a idéia de que espaço não é (só) sinônimo de física
(=espaço sideral), de matemática (a casa mede 4mx8m), mas sim
sinônimo de território, espaço geográfico, local onde ele vive, anda,
enxerga, toca, estaremos trazendo a geografia para o mundo dele.
(Kaerche, 2004, p.79).
Desta forma os alunos foram observando, fazendo trocas dos erros
pelas ações mais correta, aguçando a sua curiosidade e já mencionava Paulo
Freire.
“O exercício da curiosidade a faz mais criticamente curiosa,
mais metodicamente perseguidora do seu objeto. Quanto mais a
curiosidade espontânea se intensifica, mas, sobre tudo se rigorisa,
tanto mais epistemologicamente ela vai se tornando” Freire (1996,
p.87)
E desta maneira pude inserir os alunos nesta busca constante de suas
curiosidades, trazendo para eles uma geografia funcional contextualizada com
a leitura que eles fizeram do seu meio de convívio. Como relato em minha
análise de dados: Levei meus alunos para fora do espaço escolar. Esta
atividade veio a ser a mais importante e prazerosa das atividades que realizei

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em meu estágio. Eles não estavam saindo da escola para um passeio ou visitar
o coleguinha, mas observar o trajeto que o colega faz para vir de sua casa até
a escola. Isso que faz a diferença, estudar fora da escola. Perceber o sentido e
significado da palavra moradia, cômodos da casa no seu cotidiano. Como vive
os moradores, com que material foi construída, observando, descrevendo
indagando...
Depois realizamos uma atividade em sala de aula, a representação em
maquete do trajeto que percorreram até a casa visitada. Para esta realização
precisaram de informações. Que iam buscando junto ao colega que teve a casa
visitada. “Vamos precisar de duas cartolinas,” diziam para os colegas do grupo.
“A rua da escola é muito comprida”. ”Tem uma rua depois da parada ou duas”?
“Tem a Rua do Eduardo, depois a da Jennifer” "Vamos colocar essa árvore
aqui, pois tem árvores na rua". Assim, desta forma, trocando entre eles os
conhecimentos adquiridos iam realizando a maquete. Essa troca, onde
colocam suas dúvidas para os colegas é o canal para uma aprendizagem
significativa que realizaram através do contexto sócio-cultural vivido por eles.
"Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um
ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, as
suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa
que tenho- a de ensinar e não a de transferir conhecimento” (Freire,
2001, p.520)
Com isto pude constatar que ao observarmos o objeto em estudo,
sendo este da realidade do aluno, torna-se, certamente um aprendizado muito
significativo. Uma atividade extraclasse, com objetivos definidos e um roteiro,
fornecem um grande auxilio pra a aprendizagem do aluno e também ao
professor, pois se trata de uma prática do real, da experiência. Isso o professor
(a) não tem como saber, somente poderá prever. E com certeza em cada
situação, mesmo oportunizando os mesmos objetivos, ele (professor) terá
diferentes resultados. Cada um possui um estilo próprio de ver o objeto em
estudo. Pois segundo, Santos, “é a realidade de cada indivíduo que o autoriza e o leva a
ver as coisas sob um ângulo particular”. (Santos, 2004.p.161). Mas em grupo a interação
favorece o conhecimento, o diálogo, como foi o que percebi entre os grupos.
Havia algumas preocupações quanto às ruas que tiveram que passar. “Deste
lado tem a rua atrás da escola”. “Depois da parada tinha mais uma rua”. “Não

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eram duas”. “Não eram três”. “Pergunta para o Gabriel, ele sabe”. Neste
momento o “professor” era o Gabriel. “Aqui tem uma árvore”. “Na casa do
Gabriel, também tem uma árvore”, Qual é a tua árvore?”E neste diálogo, foram
desenvolvendo a maquete do percurso que levava a casa do Gabriel,
interagindo com os conhecimentos adquiridos de cada um deles. Tenho
certeza que se meu objetivo fosse amplo, como por exemplo: Representar o
que vimos durante a caminho da casa do Gabriel, as representações seriam as
mais diversas, pois cada um teria uma observação de um ponto do caminho.
Comprovando assim a particularidade de observação e análise do espaço
humano. Mas meu objetivo era conhecer o caminho que os levava da escola
até a casa do coleguinha, o percurso, o trajeto e com este, novas palavras
passaram a fazer parte do vocabulário dessas crianças em seu segundo ano
na escola.
Nesta análise de dados posso confirmar com a idéia de Kaercher
(2004) que precisamos exercitar nossos alunos a escrever, ler e dizer a sua
palavra, pois somente através do diálogo que realizamos em nossa aula
podemos prepará-los para a vida, uma das tarefas fundamentais da escola.
“Se conseguirmos construir com os alunos (e não apenas
mostrar, falar, “catequisar”) a idéia de que espaço não é (só) sinônimo
de física (espaço sideral), de matemática (à sala mede 4mx8m), mas
sinônimo de território, espaço geográfico, local onde ele vive, anda,
enxerga, toca, estaremos trazendo a geografia para o mundo dele,
tirando-a dos livros didáticos e do quadro-verde, dois entes tão
distantes (afetivamente falando). Se mostrarmos que este espaço
esta impregnado de sua ação, que é a constante relação sociedade-
natureza, então teremos mais chances de realizar um diálogo real
entre professores e alunos”. (Kaercher, 2004.p.79)
“Se percebermos que o espaço, essa categoria especial a
Geografia, está no nosso dia-a-dia e não só nas aulas de Geografia e
nos mapas. Perceber que as contradições sociais são fundamentais
para entendermos a Geografia e que elas são imprescindíveis para
lermos o mundo. Perceber que os conflitos (políticos, econômicos,
culturais) são elementos produtores/reorganizadores do espaço.” ”.
(Kaercher, 2004.p.82)

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Por esse motivo acredito ser o professor dos anos iniciais o mais
indicado a iniciar esse diálogo, porque tem oportunidade de estar mais próximo
e, portanto com condições de construir uma leitura de mundo, como menciona
Kaercher. Através desta leitura de mundo pode-se realizar a leitura das
palavras que estão sendo colocadas durante as observações. Poderia existir
algo mais significativo do que a palavra que é falada por eles durante as suas
indagações ou suas percepções do lugar vivido?
Outra atividade desenvolvida seguindo este contexto foi no laboratório
de informática, onde os alunos foram observar os diferentes tipos de moradias
segundo as classes sociais. Primeiro pedi que escrevessem no
google MORADIA (antes apresentei como chegar lá. 15 alunos já possuíam
internet e por isso tinham esse conhecimento, os demais fui ajudando-os e os
coleguinhas que sabiam, também) E quando apareceu as diversas casas pedi
que escolhessem uma para ver em tamanho maior. Neste primeiro momento
cada um que encontrou uma casa, dizia quais os materiais que foram utilizados
para fazer a casa. - Tem vidro, tem tijolinho, tem grades de ferro.  Dois alunos 
buscaram olhar uma imagem de casa simples. Feita de madeira, pequena. O
outro olhou uma moradia feita de restos de materiais. Neste momento pude
levá-los a pensar sobre a situação de pessoas que não tem onde morar ou que
fazem suas "casas" com sobras de materiais. Então pedi para todos digitar a
palavra FAVELA . E fizemos a mesma proposta de ver o material. Observaram
que eram feitas em morros, todas muito juntas umas das outras. Também um
aluno abriu a imagem onde aparecia uma obra de Tarcila do Amaral. Olhamos
e já pensei em desenvolver com eles uma releitura desta obra. No momento
não questionei nada, apenas pensei na proposta.
Após deixei-os livre sem questioná-los, e pude perceber que muitos
voltavam para as imagens de mansões. E falavam: - Olha só a minha casa! - A
minha é esta! - Olha a sala desta casa! - Eu quero uma casa assim! "o
sincretismo, ou seja, a liberdade de associar elementos da realidade segundo
critérios pessoais, pautados principalmente por afetividade, observação e
imaginação" como vi durante a interdisciplina de Didática e Educação sobre
Práticas de Leitura, escrita e oralidade no ambiente doméstico e escolar com o
texto de Thais Gurgel, As histórias, sob a Ótica das crianças. Segundo o

17
psicanalista e pesquisador da infância Donald Winnicott (1896-1971), as
simbolizações se enquadram no que ele chamou de espaço potencial.
"Trata-se de uma área de experiência em que os pequenos
podem brincar com a realidade, em que dão um sentido pessoal aos
elementos do ambiente e os elaboram à sua maneira para com eles
poder lidar", explica Ana Paula Stahlschmidt, doutora em Educação e
estudiosa da obra do pesquisador.

A leitura visual proporciona ao aluno observar com mais detalhe a


imagem, desenvolvendo assim um olhar mais critico ao mundo que o rodeia.
Eles perceberam objetos que no primeiro momento não havia percebido, como
o cachorro e a sombra de uma possível ave. Para eles estava claro as casas,
as plantas e as pessoas. O que eles queriam era descobrir o que não
"aparecia". Queriam ser os primeiros a "descobrir" coisas novas na gravura.
Quando perguntei por que as casas foram desenhadas juntas uma das outras.
O aluno Arthur respondeu "Para não sentir frio". No primeiro momento
achei sem sentido, pois estava esperando uma resposta que falasse em
favelas, mas depois analizando, pude então perceber que ele pensou nas
condições das pessoas que moravam na favela. Realmente, esse momento
passou sem que eu o questionasse mais sobre a sua resposta. Poderia ter
explorado mais, mas escapou-me este momento.
 Lembro que outro aluno mencionou algo como "Para desenhar um
espaço com areia." e outro "As casas ficam de um lado da rua" Quando
perguntei: - Como assim? Ela respondeu: -"Ela estava, deste lado!" (apontando
com a mão o lado em que estava). Como se dissesse, "Ela não estava
vendo as casas deste lado". Neste momento pude perceber que a aluna já
estava relacionando a posição dos objetos no espaço. Que podemos
representar algo do nosso ponto de visualização. A fonte que busquei como
recurso nesta reflexão foi de um texto da Eva Furnari:
 "É como se houvesse uma leitura silenciosa, às vezes
vaga, outras vezes precisa, feita não por nosso lado racional, mas por
nossas sensações e emoções. Parece algo natural, espontâneo,
universal, independente da cultura e da linguagem verbal de cada
povo".   

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A maioria das produções foram realizadas coletivamente no grupo.
Observei que mesmo os que não sabiam escrever, davam idéias para os
outros. Escreve aí, tem muita areia...

3. INTER-RELAÇÕES DA GEOGRAFIA COM AS OUTRAS ÁREAS


DO CONHECIMENTO.

A educação do século XXI é uma visão voltada para a globalização.


Para Straforini, (2004, p.82),

“O mundo
irreal construído nas aulas de Geografia é resultado da ação do
professor que não estabelece relações entre a escola e a vida, ou
seja, com a realidade dos alunos. Nas aulas de Geografia, a
fragmentação do conteúdo em Geografia humana, econômica e física
é irreal, que só existe nos livros didáticos e nas cabeças dos
professores de Geografia. Para mudar esse quadro de alienação”,

E foi isso que proporcionei buscando na disciplina de geografia a noção


de espaço, mas trabalhando de forma lúdica, contextualizada e integrada (não
fragmentada),
Em minha análise de dados pude perceber que promovi a
interdisciplinaridade integrando a geografia com as outras disciplinas como
artes, educação física, português, matemática e música. Isso ocorreu em
diversas aulas desenvolvidas, como por exemplo, na semana VIII onde
desenvolvi a releitura da obra de arte “Morro da Favela” de Tarsila do Amaral,
como evidencio na foto abaixo.

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Nesta atividade os alunos fizeram uma observação detalhada da obra
para uma leitura visual. Os alunos apresentaram para o grupo suas
compreensões a respeito das cores, personagens, paisagem e formas
geométricas.
“Estar alfabetizado em Geografia significa relacionar espaço
com natureza, espaço com sociedade, isto é, perceber os aspectos
econômicos, políticos e culturais entre outros, do mundo em vivemos.
Ler e escrever em geografia é ler o mundo de maneira que o aluno
saiba situar-se (e não só localizar-se e descrever) e posicionar-se.
Que assuma um posicionamento crítico com relação às
desigualdades sócio-espaciais”.
“Eu vi esta figura no Google” “Eu também vi” “Tem um cachorro ali” Ia
percebendo que os alunos observavam detalhadamente a imagem, e desta
forma estava desenvolvendo neles, um olhar mais crítico do mundo que os
rodeia. Pois segundo Kaercher,
“É preciso exercitar nossos alunos a escreverem, lerem e
dizerem a sua palavra em sala de aula e nas aulas de Geografia. (...)
falo de ler o mundo, a partir de suas realidades” (KARCHER, 2004,
p.).
"Como realizar a leitura da palavra por meio da leitura do
mundo? E como fazer a leitura do mundo por meio da leitura da
palavra? Esse pode ser o desafio para pensar um aprendizado da
alfabetização que seja significativo. Partindo do fato de que a gente lê
o mundo ainda muito antes de ler a palavra...” "E aprender a
representar o espaço é muito mais que simplesmente olhar um mapa,
uma planta cartográfica. Saber como fazer a representação gráfica
significa compreender que no percurso do processo da
representação, ao se fazerem escolha, definem-se as distorções. As

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formas de projeção cartográficas e o lugar de onde se olha o espaço
para representar não são neutros e nem aleatórios. Trazem consigo
limitações e, muitas vezes, interesses, que importa manter ou
esconder.” (Maia, 2010, p.3)

Mas para continuar contextualizando os saberes com a interdisciplina


de Geografia iniciei a semana com música o que levou meus alunos a
perceberem melhor as palavras do texto apresentado. A música escolhida foi a
Casa, de Vinícius de Moraes. Amaram aprender a letra, principalmente quando
os direcionei a lembrar do programa da  Globo Lar Doce Lar, com
apresentador Luciano Huk, onde a música é usada como tema musical na
apresentação do antes e depois. E aqui foi um “gancho” para comentar com
eles os trabalhos realizados sobre as diferentes classes sociais na semana
anterior, As perguntas lançadas para eles foram: “A casa da poesia existe?”
“Pode existir casa sem teto e sem parede?” “Quem são os moradores de uma
casa assim?” No primeiro momento a maioria respondeu que não, que não
tinha uma casa como aquela, mas depois, quando mencionei, será mesmo que
não? Alguns alunos foram dando como  resposta que poderia ser de pessoas
que não podiam arrumar a casa (Fernando), ou de pessoas que moram na rua
(Eduardo), então a partir deste momento, foram  muitas as suposições. Até
incêndio apareceu como sugestão. Aqui posso refletir com Helena Callai sobre
a importância dos professores terem clara a sua teoria metodológica para que
possa contextualiza r os seus saberes, os dos seus alunos, e de todo o mundo
a sua volta. Pois segundo ela
“No nível de ensino em que a criança está processando a
sua alfabetização, o ideal seria que houvesse uma unidade em que
supere a fragmentação das disciplinas e das responsabilidades em
práticas orientadas por e para linhas e eixos temáticos e conceituais
interdisciplinares, não apenas uma justaposição de disciplinas
enclausuradas em si mesma, mas de uma maneira que em cada uma
se impliquem as demais regiões do saber. (Marques 1993)

Nesta busca pela interdisciplinaridade tenho por base os argumentos


de Santos, onde menciona que:

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“uma interdisciplinaridade que não leva em conta a
multiplicidade de aspectos com os quais se apresenta aos nossos
olhos uma mesma realidade, poderia conduzir a construção teórica de
uma totalidade cega e confusa, incapaz de permitir uma definição
correta de suas partes, e isso agravaria, ainda mais, o problema de
sua própria definição como realidade total.

Em minhas atividades pude evidenciar que me apropriei deste


fundamento mencionado por Santos quando realizei a construção da casa de
doce no site www.atividadeseducativas.com.br na página de Artes: Construa
sua casa em Zuzubalândia. Perguntei por que o lugar chamava Zuzubalândia?
O que tinha em comum em todas as casinhas ali construídas? Que moradores
podiam viver ali e por quê? Eles  perceberam logo, a relação de todas as casas
serem feitas de doces, e que seriam moradores como abelha, confeiteiros,
padeiros. A maioria apresentou pessoas relacionadas com alimento. Cada um
construiu a casinha seguindo as suas preferências. Esta foi uma atividade que
utilizei como suporte para realizar a produção textual em sala de aula. Cada
aluno, de seu jeito, colocaria através da escrita o que havia construído e por
quê? (Texto Anexo) e a outra foi a atividade de dobraduras para construção
de uma casinha em um espaço formado por eles (Pátio).Houve aluno que até
apresentou rua, calçamento, muro, cerca, animais, árvores. Nesta atividade
com em todas as outras tive o espaço como centro principal da disciplina, pois
segundo Santos (2004) “em realidade, para ter sucesso é, antes de tudo,
preciso partir do próprio objeto de nossa disciplina, o espaço tal como ele se
apresenta”.
Busquei com esta atividade proporcionar uma experiência de ir ao
teatro, pois assim teriam oportunidade de desenvolver as emoções,
pensamento e reflexões.
Logo que saímos da escola, os alunos iam comentando:

-Profe eu moro aqui! Esta é minha casa.


Nesta rua fica a casa do Gabriel. (ele não estava presente, mas os
colegas lembraram quando o ônibus passou na avenida transversal a ela) Logo
após essa colocação da coleguinha outros começaram a dizer: “Aquela casa é

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de madeira”. ”Esta tem dois pisos” Começaram a levantar questões de
semelhanças e diferenças entre as moradias que iam observando durante a
viagem. Quando saímos do bairro em direção a Porto Alegre. Percebi que
alguns pontos eram conhecidos dos mesmos. O BIG, O Mac Donald no
shopping Strip Center. Teve um aluno que me mostrou a loja em que seu pai
trabalha, a Colombo, quando passamos em frente. Pude observar que estavam
satisfeitos em poder compartilhar de suas vivências comigo e com os colegas.
Em aula os questionamentos feitos por mim foram respondidos com
muita empolgação. Todos queriam contar aos que não puderam ir o que tinham
visto. “O teatro era muito longe” “A gente andou bastante, mais que no Gabriel”
“Hiiii! Muito mais”!” ” Passo do “BIG” “Passo do MAC’ DONALD”! “Casa tem
cômodos teatro não”. “Mas tinha banheiro”. “Tinha porta”. “Tinha janela”. “Não,
estava muito escuro” “ Parecia um cinema”.
Diante destas comparações e diferenças, um levantou a questão, e
logo puderam ver que não eram a mesma coisa “Não tinha cama” “Mas a
vovozinha de chapeuzinho estava na cama”. “Era uma cadeira, para fazer de
cama”. “Parecia uma cama”. Neste momento de reflexão e análise eles
puderam perceber que casa a gente dorme (como disse o Luan) e o teatro não,
a gente vai para olhar a peça e volta (falou a Mariana).
Tenho certeza que pude contribuir na construção das noções de
espaço, pois no texto de Karen Roberta Soares da Silva BRINCAR E
GEOGRAFAR COM BONECOS, ela menciona que “Procurando desenvolver o
raciocínio geográfico e o senso crítico a partir do cotidiano é que construímos o
conceito de lugar na geografia. Existe no espaço geográfico uma parte que tem
sentido para nós, com a qual temos uma relação de identidade e de
sentimento. Estas porções do território chamaram de lugar”. Ainda a autora
menciona que segundo Piaget (1987),
"os alunos com idade entre 7-8 a 11-12 anos estão no
período do desenvolvimento Operatório Concreto e, portanto esses
alunos têm um nível de linguagem pautada no diálogo, o que
possibilita a troca e a comunicação entre eles, socializando-se e
organizando-se, praticando uma vivência pautada no coletivo".
Ao realizar a tabela, no quadro, ia promovendo um feedback das
atividades levando meus alunos a refletirem sobre suas aprendizagens. Com

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isso pude realizar uma avaliação mais voltada para o desenvolvimento do
raciocínio, onde puderam considerar o que foi mais significativo e por que.
Neste primeiro momento onde podiam escolher três opções, a saída a casa do
Gabriel teve mais votos. Souberam justificar que as produções textuais, não
foram colocadas como a que mais gostaram porque "escrever",  já faziam
sempre em aula. Como falou Eduardo. "A gente está sempre escrevendo", o
mesmo foi mencionado para os desenhos. "O desenho eu faço todo o dia,
profe". Referindo-se aos desenhos de palavras. "Aprendi a procurar palavras
no computador". Referindo-se a procurar as imagens da palavra moradia e
favela. "Adorei fazer a casinha de doce"! "Eu gostei da maquete"!  "Achei tudo
muito divertido"! Perguntei. Por que não mencionaram o teatro? Ficaram me
olhando como se não tivessem relacionado o teatro com as nossas atividades,
da turma. E logo um aluno respondeu. "Eu não fui" "Eu também não". Disse
outro. Por isso resolvi deixar de fora da tabela, pois muitos não poderiam
opnar. Após, cada um foi dizendo uma atividade que mais gostou. E neste
momento percebi que ficavam em dúvida para escolher apenas uma. Mas
escolhiam e desta vez, as massinhas tiveram mais votos. Cada um pintou no
gráfico as quantidades escolhidas em cada atividade e deveriam escrever qual
foi a sua escolha e por quê?
Aqui a minha avaliação não foi para o domínio de conteúdos, mas para
verificar a capacidade de relatar o que aprenderam e/ou vivenciaram. E eles
me surpreenderam em seus relatos, lembraram de atividades que eu já havia
esquecido como a visita as dependências da escola e o fato de não voltarem
para a entrevista aos responsáveis dos setores, como havíamos
combinado, mas não foi possível, pois todos dos setores estavam ocupados
com a organização do aniversário da escola. "Mas agente faz outro dia".
Argumentou o aluno que se lembrou da atividade.
Surpreenderam-me também com a construção do texto coletivo. Iniciei
o texto com a seguinte frase: O tema além da minha casa foi... E pedi que
continuassem. Todos queriam falar e formaram o seguinte texto que coloco em
anexo.
Depois de lermos o texto coletivamente, partimos para o título, que foi
também, por escolha. Deveriam escolher o título que mais ficava de acordo

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com o assunto do texto. "Colégio legal, A Massinha de Modelar, As formas,
Casa do Gabriel, É muito legal e divertido, A visita foi legal" e outros. Mas a
Ana Luisa foi quem falou a frase vencedora. "Atividades Legais e Divertidas".
 "A avaliação (...) tem de adequar-se à natureza da aprendizagem,
levando em conta não só os resultados das tarefas realizadas, o produto, mas
também o que ocorreu no caminho, o processo. Para isso é preciso observar:
Que tentativas o aluno fez para realizar a atividade?
Que dúvidas manifestaram?
Como interagiu com os outros alunos?
Demonstrou alguma independência?
Revelou progressos em relação ao ponto em que estava?"
"A avaliação deve servir para subsidiar a tomada de decisões em relação à
continuidade do trabalho pedagógico, não para decidir quem será excluído do
processo.”

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio desenvolvido acrescentou em minha formação como


professora dos anos iniciais, uma nova visão para a educação do século XXI.
Uma educação voltada para a globalização.
Mesmo, durante o planejamento do Projeto de Estágio, tinha muitas
dúvidas em relação aos conceitos de interdisciplinaridade, multidisciplinaridade
e transdisciplinaridade, conceitos estes que vem sendo ainda analisados por
vários estudiosos. Morin mencionou:
“sabemos cada vez mais que as disciplinas se fecham e
não se comunicam umas com as outras. Os fenômenos são cada vez
mais fragmentados, e não se consegue conceber a sua unidade. É
por isso que se diz cada vez mais: “Façamos interdisciplinaridade”.
Mas a interdisciplinaridade controla as disciplinas como a ONU
controla as nações. (...) É necessário ir mais longe, e é aqui que
aparece o termo transdisciplinaridade”. (1991, p.50).
E foi através deste parâmetro que busquei concluir o meu estágio. O
tempo foi pequeno, mas me proporcionou um leque de informações, pois a
cada reflexão e comentários procurava teoria para justificar as minhas
atividades. E durante as pesquisas mais informação recebia mais
conhecimento adquiria. Acredito que se partisse no início do meu estágio com
informações ‘prontas’ ainda estaria vivenciando aqueles planejamentos com
começo, meio e fim, determinados. Nenhuma mudança teria ocorrido em minha
carreira profissional. Quando compreendi que a Transdisciplinaridade é como
afirma Nicolescu (1994):

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"Como o prefixo "trans" indica, a transdisciplinaridade diz
respeito ao que está, ao mesmo tempo, entre as disciplinas, através
das diferentes disciplinas e além de todas as disciplinas. Seu objetivo
é a compreensão do mundo presente, e um dos imperativos para isso
é a unidade do conhecimento".
 A partir daí comecei a refletir sobre a prática que estava
desenvolvendo com os meus alunos e também na minha como estudante do
curso do PEAD, todas as interdisciplinas integradas ao Seminário Integrador
que nos impulsionava a ir além, buscando a unidade do conhecimento.

6. REFERÊNCIAS

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6. ANEXOS

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