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Janete, 25 anos.

Encaminhada pelo psiquiatra com o diagnóstico de transtorno do pânico. Foi


diagnosticada no final de 2012, e faz acompanhamento psiquiátrico desde então, tomando
medicamentos para ansiedade. Janete diz que sempre foi uma criança muito ansiosa,
vomitando sempre que tinha que viajar, e ficando muito nervosa antes de provas e
apresentações. No final de 2012, após seu intervalo de almoço do serviço, começou a ficar
enjoada e teve um grande medo (relatado como desespero) de passar mal no serviço,
vomitar na frente de todo mundo, passar muita vergonha e ninguém ajuda-la. A partir desse
dia, começou a ter mais episódios em que se sentia enjoada, tinha medo de passar mal em
locais públicos e começou a ficar desesperada, tendo que vomitar sempre antes de sair de
casa para não correr o risco.

Após a morte da mãe em 2015, assumiu muitas responsabilidades em casa e sentiu


que seu pânico piorou muito, e agora dificilmente consegue sair de casa, e se sai, toma
vários remédios para o estômago, vomita antes e suporta tudo com muito desespero (na
maioria das vezes só sai se o namorado for junto). Relata que em casa fica bem, mas é só
pensar em sair que já começa a passar mal (enjôo, sensação de calor, mão fria, e desespero).
Seu pai não entende muito e acha que ela é um pouco louca (normalmente fala em tom de
brincadeira) e a pressiona muito a procurar emprego, mas ela tem medo de não conseguir
continuar no emprego por causa dessas sensações.

Seu namorado é a pessoa que mais lhe acalma e entende, e sempre que ela começa a
se desesperar sobre passar mal, ele fala num tom sério com ela que ela não vai passar mal e
para se segurar, e então ela pensa “Não posso passar mal, tenho que conseguir” e assim se
acalma. Janete não consegue sair para comer uma pizza, ir em aniversários infantis, festas
ou pegar ônibus. Relata realizar poucas atividades prazerosas, possuindo, um humor um
pouco deprimido, sendo que no máximo vai a locais com poucas pessoas e que lhe tragam
certa segurança (casa de amigas mais íntimas, por exemplo), mas sempre prefere ficar na
sua casa ou do namorado. Janete diz que só de pensar em sair já começa a ter taquicardia:
“É um pesadelo pensar em sair de casa, sinto que onde eu vou as pessoas estão me
olhando e isso faz com que eu fique com muita ânsia de vomito e tremula. Odeio que as
pessoas reparem em mim, sou toda desajeitada, nunca sei o que dizer ou fazer e na maioria
das vezes estou me esforçando muito para não vomitar no meio de todos. Toda vez que
tenho que sair eu prefiro vomitar antes, assim apesar de ficar nervosa sei que não vou ter
nada no estomago me dando ainda mais enjoo”.

Durante as sessões, Janete falou que, na infância, não ia para a escola se sua melhor
amiga não fosse, e que nunca saia sozinha, sendo sempre seus pais que escolhiam suas
roupas, mesmo na adolescência. Além disso, contou que seu namorado a leva de surpresa
para os lugares, pois se ele a avisa muito antes, ela fica muito ansiosa e não vai. Em uma
dessas vezes, estava com uma blusa não passada e um moletom por cima, e não havia
passado a blusa pois achou que iria num lugar bem rápido e voltar, e por fim, ele a levou ao
centro da cidade para fazer compras. Ela passou muito calor, mas não tirou o moletom, pois
não iria conseguir andar com a blusa amassada na frente das pessoas, uma vez que não
suportaria que as outras pessoas pensassem que estava mal vestida.

Por fim, relata que se tem que sair a tarde, faz jejum o dia todo para não correr o
risco de ter algo no estômago para vomitar. Conta que desde que começou a tomar o
remédio de ansiedade, engordou muito, e que às vezes seu jejum também tem o intuito de
emagrecer, mas relata que nunca provocou vômito com esse propósito. Desde pequena,
ficava ansiosa nas interações sociais, em que temia ser avaliada de forma negativa pelas
pessoas e nunca conseguiu falar em público. Além disso, seu maior medo é o de ficar
ansiosa, passar mal na frente das pessoas e “pagar o mico do século”. Segundo Janete, as
coisas mais temidas em sua vida são, em ordem hierárquica: ficar em lugar cheio; sair para
comer; fazer uma avaliação de trabalho; sair sozinha; começar coisas novas; fazer novas
amizades; ter que falar “não” em algumas situações, e andar de ônibus.

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