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Pegasus Lançamentos

Apresenta

London Miller
Tradução: Carol J; Márcia Andréia; Ju LoMeGe;
Lili B; Marlene, Paulinha
Revisão Inicial: Sara Avelar; Preta;
Nathycalassa; Emanu B.; Jessica M.; Jozitcha
Revisão Final: Annabya Azulzinha
Leitura Final : Marliene

Veriificação: Silvia Helena

Formatação: Sónia Campos


Até Luka...
Aleksandra Volkov escolheu o esquecimento no
álcool e nas pílulas para fugir das lembranças que
a assolavam. Mas às vezes, é preciso alguém
igualmente danificado para colar as peças quebradas
de sua vida.

Até Alex...
Luka Sergeyev deliberadamente cortejava a morte
o viver em meio a pessoas que o matariam se a
verdade sobre quem ele era fosse descoberta. Mas,
ele correria de boa vontade o risco significasse
que ela olharia para ele como alguém importante,
por apenas um pouco mais de tempo.

Quando se trata de viver dentro da Bratva


Volkov, o amor tem um preço, segredos são
comuns e acima de tudo, a sobrevivência não é
garantida.
Somente enquanto dura este cigarro

Um breve instante antes do fim total,

Enquanto as cinzas caem sobre o barro,

E a luz do fogo, tão descomunal,

Une-se à música de modo bizarro

E faz dançarem sombras, eu afinal

Recordo meu passado e a ele me garro,

Vendo que você deu-me o essencial.

E então adeus! — o sonho chega ao fim.

De teu rosto dá para esquecer a cor

E os atributos, muito embora isto

Não se dê com teu riso e teu valor:

Para você, o agora é um sol visto

Nas colinas, após o sol se pôr.

Somente enquanto dura este cigarro

Edna St. Vincent Millay

Dois de Abril de 1921


PARTE UM

Dói que eu não posso ser


O que todo mundo quer
Ou o que alguém precisa.

A.D.R
PROLÓGO

Sete meses atrás…

Fora do dive bar1 no coração do Brooklyn, três homens


olhavam para um corpo mutilado que não era mais do que uma
concha do que uma vez foi uma pessoa. A língua do homem foi
arrancada e cada um de seus dedos cortados a partir da segunda
junta, mas estas lesões não eram nada comparadas com o estado
das costas do homem.

Havia longos cortes, tão profundos e irregulares que se


alguém estivesse tentando descobrir o que aconteceu, poderiam
pensar que foi um ataque animal. Estava muito claro. Quem teve
tempo para cortá-lo dessa maneira, se divertiu muito fazendo ou
odiava o homem ferozmente.

O albanês de terno preto bem cortado sabia que era uma


combinação dos dois.

1
O termo Dive bar nasceu nos Estados Unidos no fim do século XIX e se referia aos lugares de atmosfera
sinistra, ambiente malconservado e clientela suspeita — onde, com a intenção de se proteger de uma possível
confusão, era preciso “mergulhar” embaixo das mesas.
Ele quase sorriu, orgulhoso da habilidade que tiveram ao
cortar o corpo. Apenas pelas feridas, ele podia dizer que o homem
estava vivo na maior parte do tempo. Com apenas um olhar
superficial, era capaz de discernir quem fez isso, os outros
podiam adivinhar, mas a razão por trás destas marcas
particulares era um fato conhecido apenas por si mesmo. Ele
sabia de primeira mão que cada golpe da faca era uma história
sendo contada. Nascida da fúria e derramamento de sangue.

Foi por causa dele, afinal.

Mais do que isso, ele sabia que o corpo em questão era um


cartão de visita de Valon Ahmeti. Apenas ele possuía estas
habilidades especificas, tinha a paciência e o estômago para fazer
o trabalho.

Valon era apenas um órfão quando ele entrou na Bastian,


através de uma ex-associada da Organização, uma sensata, mas
pobre alma infeliz. O órfão por sua vez, esperava por um coração
amável e um lugar para ficar.

O que ele ganhou em troca...

Ninguém jamais poderia imaginar.

Por não demonstrar medo de nada, esperando apenas


morrer por seus pecados um dia, Valon lutou no Pit durante
semanas a fio, aperfeiçoando suas habilidades até que se tornou
praticamente uma arma ambulante. Foi essa a razão que levou
Jetmir a entregar a ele um trabalho que ninguém mais queria.
Bem, ele e Valon...

Por ser seu amigo, não se assustava facilmente.

Ele ainda não sabia por que Valon escolheu se afastar de


tudo o que construíram juntos, de todas as pessoas, aliando-se
com à porra dos russos.

Os corpos que ele enterrou naquele dia...

Os outros queriam matá-lo lenta e dolorosamente, mas


Jetmir, por razões que apenas ele sabia, não permitia. Houve
rumores, é claro. Rumores de que o garoto não era o alvo certo,
mas por causa de Valon, ninguém sabia a verdade.

E agora que Jetmir estava morto, não havia mais ninguém


para contar a história. E com sua morte, Valon não estava seguro
por muito tempo já que o resto da Organização o queria morto.

— Você acha que foram esses malditos russos? — Tasirov


perguntou de sua posição logo atrás do líder do grupo de homens.
— Tentando enviar uma mensagem?

Havia uma mensagem aqui sim, mas não a que eles


suspeitavam. — Um de seus associados, na verdade. — O líder
disse, ficando de pé e alisando seu paletó. — Tenho certeza que
você se lembra de Valon Ahmeti.

— É o que... — O homem empalideceu quando olhou de


volta para o corpo, suas considerações anteriores se foram agora
que ele sabia quem era o verdadeiro culpado por trás disso.
Ainda era incrível, o efeito que o nome de Valon tinha em
alguns deles.

— Acho que é hora de trazermos Ahmeti para casa.

Ele amava a realização de determinados atos horríveis


apenas porque eram bonitos de se ver. Mas o que ele planejou
para Valon...

Não, isso seria épico.

— Fatos.

O líder virou-se como se esse fosse seu nome e tivessem lhe


chamado. Olhou para um de seus homens que não conseguia
lidar com a visão de Bastian.

— Quando começamos?

Ele esperou muito tempo para encontrar e ir atrás de Valon,


tempo suficiente para que ninguém ficasse no caminho do que ele
planejou.

Seria especial. Iria se certificar de que Valon conhecesse de


uma vez por todas, seu lugar.

Antes que terminasse completamente com ele...

“Fatos” se certificaria de que nada mais sobraria


Um

Perdida

Havia um aspecto artístico em fingir felicidade, em


cuidadosamente esconder verdades por trás de sorrisos forçados,
olhares rápidos em vez de expressões vagas e falsa alegria atrás
de piadas grosseiras. Poderia ser menos desgastante apenas
compartilhar a dor real ao invés de enterrá-la, mas essa não seria
Aleksandra Volkov.

Ela continuava dançando, mesmo quando seus pés


rachavam e sangravam, sorria quando estava desapontada e
encontrou uma maneira de perder-se em qualquer coisa quando
tudo era demais.

Funcionou, por muito mais tempo do que provavelmente


deveria, considerando todas as coisas, mas como a maioria das
ilusões, rapidamente encontrou seu fim. Quando chegou o
momento que um sorriso já não era suficiente para
consertar o que foi quebrado, não soube o que fazer, não
quando estava costumada a ignorar seus próprios
problemas.
1
Página

Mas este problema não iria embora, não quando ele se


agarrava a ela de uma forma como apenas a morte poderia.
Alex nunca pensou em si mesma como imortal ou imune
aos efeitos que a vida tinha sobre as pessoas. Mas não
havia nada mais terrível do que ver sua própria mãe
morrer na sua frente. O fato a fez ficar dolorosamente consciente
de sua própria mortalidade e de como era fácil perder alguém.

Mas, mais do que isso, ela descobriu o preço que estava


disposta a pagar para proteger aqueles que amava.

As lembranças daquela fatídica noite sempre encontravam


uma maneira de atormentá-la, não importava o quanto tentasse
ignorá-las.

Simplesmente por obrigação a seu irmão, Alex tentava sorrir


e seguir em frente, mas os dias ficavam cada vez mais difíceis. Se
não passasse a maior parte de suas noites sozinha, ficaria muito
difícil esconder sua dor de todos os outros...

Pelo menos até que encontrar outra coisa que pudesse se


tornar seu alívio.

Ela cresceu de forma relativamente rápida, especialmente


vivendo no exterior e longe de sua família. Ficou mais do que feliz
em voltar porque, mesmo naquela época, lutou contra a solidão e
depressão.

Fazia exatamente dois anos, ela lembrou de quando tomou


seu primeiro Valium. Foi uma única noite, solitária em Paris,
quando estava se sentindo particularmente nostálgica e sentindo
falta de Nova York cercada por pessoas que a amavam — ou o
mais próximo disso. Os Volkov não eram perfeitos e havia dias em
que ela questionava se eles realmente poderiam se aturar, mas
eram o seu sangue e tudo o que tinha.

Na noite em que tomou o Valium, Alex saiu sozinha no


terraço do apartamento de estilo dormitório que
compartilhava com outras duas garotas. Onde as estrelas
eram como pontinhos de luz no cobertor profundo que
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cobria o céu. Era bonito. Interminável. Mas também era um


Página

pouco vazio, assim como ela quando não estava no palco


ou no ensaio.
— Por que está emburrada? — Perguntou Josephine quando
saiu com um copo de suco de laranja na mão, seu jantar para
esta noite.

Josephine era muito parecida com Alex, ambas americanas e


com apenas dezesseis anos, vivendo como adultas em uma cidade
cheia de paixão. Ela era filha de um congressista da Geórgia e
uma mãe que atuava em conselhos e participava de eventos de
caridade sempre que possível. Seus mundos não eram totalmente
semelhantes — afinal o pai de Alex era um criminoso — mas viver
de acordo com as expectativas de seus pais era algo que ambas
compreendiam.

Alex encolheu os ombros. Ela não sabia como descrever o


que estava sentindo. Apenas queria que parasse. As coisas eram
diferentes quando você era uma criança e não compreendia a
verdadeira natureza da vida na qual sua família está envolvida,
mas depois de alguns anos, era difícil continuar cega e ingênua.

— Você está pensando demais. — Ela continuou. — Nós


estamos de férias. Por que não vive um pouco?

Depois de um show na noite anterior, elas tinham alguns


raros dias de folga. Normalmente, Alex teria a oportunidade de
voar para casa e passar tempo com Mishca, caso estivesse livre,
mas de acordo com a última conversa que teve com Anya, ele
estava vendo alguém, alguém que era ignorante ao seu mundo.
Uma vez que o Ballet Gala de Nova York estava há apenas um
mês de distância, achava que poderia esperar até lá para
conhecer essa pessoa.

As outras garotas em sua companhia estavam


celebrando a vida fora do apartamento, bebendo vinho e
flertando com homens muito mais velhos. Alex desejava ser
tão despreocupada.
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Página

— Tente isso. — Josephine sugeriu, puxando a caixa


de cigarro que ela sempre carregava. Colocou-o na
pequena mesa de ferro forjado entre elas, abrindo-o.
Dentro haviam cigarros alinhados ordenadamente em um
lado, mas do outro havia dois pequenos pacotes zipados cheios
com pelo menos uma dúzia de pequenos comprimidos amarelos
de um lado e branco do outro.

Alex sabia que a garota fumava, a maioria delas fazia,


embora apenas recentemente tivesse adquirido o hábito. No
entanto não sabia nada sobre as pílulas ou o que eram.

Mas isso não impediu sua curiosidade.

Josephine abriu o saquinho com as pílulas amarelas, que


tinham forma arredondada com um V carimbado neles,
balançando muito atrativamente um par. Ela deixou cair um na
palma da mão de Alex e colocou o outro em sua língua.

Ele se desfez em um segundo.

— Vá em frente. — Ela insistiu. — Ficará bem.

Alex poderia ter negado. Josephine muito provavelmente não


se importaria, mas quando Alex olhou para a decisão em forma
de comprimido, queria desesperadamente se sentir melhor; queria
se sentir mais do que apenas como uma alma perdida.

Então ela o tomou.

E assim o fez na noite seguinte.

E todas as noites depois.

Ou sempre que se sentia uma merda.

Isto foi esporádico por um tempo e depois se tornou


mais frequente, uma vez que Alex foi exposta a uma verdade
que ela nunca imaginou. Mas, mesmo assim, teve o cuidado
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de trocar os comprimidos por garrafas de bebidas


Página

destiladas.

Uma bebida aqui ou ali.


Foi assim que começou.

Inocente, se alguém fosse julgar.

Mas uma bebida se transformou em cinco...

E agora?

Agora ela poderia terminar uma garrafa em apenas algumas


horas sem um segundo pensamento.

Em um mundo relativamente normal isso deveria ser a pior


coisa à qual ela seria exposta, mas uma única noite mudou tudo.

A noite, quando ela matou a própria mãe.

Depois disto, nada foi suficiente, nem mesmo as garrafas a


faziam escapar de suas próprias lembranças.

Agora que o álcool não estava fazendo o que ela queria,


precisava de algo mais, mas realmente não sabia o que queria.

Foi por esta razão que Alex se encontrou inquieta vagando


pelas ruas do Brooklyn nas primeiras horas da manhã ou a altas
horas da noite, em busca de algo para acabar com sua frustração.

Vagamente, ela ouviu o toque de seu telefone, uma série de


bips interruptos que lhe dizia que era Mishca ligando. Quando
seu nome continuou dançando em toda a tela, ela rejeitou a
chamada, sabendo que não lhe faria nenhum bem responder em
seu estado atual. Apesar de sua atitude bastante fria em
relação a tudo e considerando a vida que lhe foi dada, ele se
preocupava mais do que deveria. Ele era um bom irmão,
nunca diria o contrário, mas apesar do seu intenso desejo,
ele não poderia consertar essa situação em que ela se
encontrava.
5
Página

Além disso, ele tinha uma mulher para cuidar. Assim


não deveria se preocupar como sua irmãzinha estava
lidando com o fato de matar sua mãe.
Irmã.

A noção sempre trouxe consigo uma dor agridoce porque,


embora ninguém quisesse reconhecer a verdade, ela não era sua
irmã e ele não era seu irmão.

Na verdade, eles apenas se encontraram em algumas poucas


ocasiões.

Houve um tempo em que Alex desprezou Lauren, a esposa


de Mishca e todos os problemas que ela trouxe por causa de sua
história. Quando elas se conheceram — parecia que foi há anos
atrás — ela pareceu tão inocente, muito longe do tipo de mulher
pelas quais os homens da Bratva sentiam-se atraídos. Alex gostou
imediatamente dela, talvez fosse por causa da felicidade extrema
que viu no rosto de Mishca. Apenas alguns meses depois Lauren
revelou um segredo guardado há muito tempo, que foi fatal para
algumas pessoas envolvidas.

Naquele dia, Alex perdeu uma mãe para suas mentiras.


Perdeu o homem que a criou e que agora estava muito
envergonhado até mesmo para reconhecer sua existência, ela
também perdeu um irmão, porque, apesar de suas intenções, ela
e Mishca caíram em lados opostos. E descobriu um pai de
nascimento que conheceu como tio toda a sua vida.

Alex sabia que Mishca tentou permanecer neutro por sua


causa. Ela realmente acreditava. Mas tornou-se bastante claro
que ele sempre escolheria Lauren acima de todos os outros. Uma
parte dela sabia que nem ela nem Lauren tinham culpa das
indiscrições de sua mãe, mas parecia ser a única sofrendo
por causa delas.

Assim precisava virar sua raiva para algum lugar.


6

Com o tempo, Alex ficou insensível contra isso


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também e aprendeu a ignorar tudo novamente. Ficou


realmente feliz quando eles se casaram, mas com sua
merecida felicidade veio o reconhecimento de que ela não
podia confiar em Mishca, não do jeito que queria,
porque ele iria assumir essa dor para si mesmo. Lauren também.

Alex não poderia fazer isso com eles.

Perdida em seus pensamentos, Alex encontrou-se na


esquina da Brisbane e Turner, os sons graves potentes chamaram
sua atenção para o edifício de estilo armazém, onde umas dúzias
de motos estavam estacionadas na rua e alguns homens com
coletes de couro preto estavam ao redor.

Além de alguns postes de iluminação na calçada, a


escuridão envolvia a maior parte da rua.

No tempo que Alex levou para chegar à entrada, atraída pela


música alta e a natureza perigosa bastante óbvia do lugar,
algumas mulheres saíram tropeçando, todas com saias curtas e
saltos altos, chamando a atenção dos homens que estavam
guardando protetoramente as motocicletas, dando a Alex a
oportunidade de deslizar para dentro.

A partir da rua, o armazém parecia bastante estreito, mas


depois da entrada, era muito maior do que o que ela imaginou.
Havia pelo menos quatro mesas de bilhar no lado esquerdo
embora fosse bastante claro que elas não estavam realmente
sendo usadas para os jogos, já que uma estava atualmente
ocupada por um casal fazendo sexo e uma pequena, mas
considerável multidão assistindo e torcendo por eles. As outras
pareciam reservadas para as mulheres praticamente nuas
fazerem um show. Uma delas quase caiu quando seu pé
escorregou no feltro. No outro lado, na parede do fundo
havia um conjunto de mesas e uma pista de dança
improvisada ocupando o resto do espaço. Era um bar
bastante impressionante.

Lá dentro um homem tropeçou próximo a ela, o olhar


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dele concentrado em uma mulher que parecia que iria


Página

desmaiar, Alex leu seu colete e em seguida, olhou para o


patch em suas costas enquanto ele passava.

Motociclistas?
Ela tinha muito pouco conhecimento sobre as gangues,
apenas sabia que Mishca fazia transação ocasional de negócios
com uma, embora não pudesse ter certeza de qual era em
particular.

— Perdida?

Piscando, Alex olhou para a pessoa que se juntou a ela, mas


devido ao número de shots de vodca de pêssego que tomou
anteriormente, levou um momento para se concentrar nele.

Ele era musculoso. Seus poderosos braços estavam em


exibição desde que a camisa que ele usava por baixo não tinha
mangas. Eram bronzeados, provavelmente de uma vida ao sol. Ele
tinha algumas tatuagens — um emblema preto em seu braço
esquerdo e o crânio de um touro no outro. Seu cabelo estava
cortado perto de seu couro cabeludo, consideravelmente diferente
do que ela estava acostumada, uma vez que a maioria dos
homens na Bratva mantinha os cabelos longos. Um queixo duro,
limpo de barba e olhos escuros, quase negros olhavam para ela,
esperando por uma resposta.

Ele era bonito, tipo um motociclista durão. Quando ele


notou minha leitura, seus lábios curvaram-se para cima em um
sorriso, revelando dentes realmente agradáveis, seus caninos
tampados em ouro.

Encolhendo os ombros, Alex respondeu. — Não estou


perdida, não.

Ele estava segurando uma garrafa de cerveja, a


condensação gotejando do vidro marrom. Levou até os
lábios e tomou um gole, os músculos de sua garganta
trabalhando antes que ele abaixasse a garrafa novamente,
limpando a boca com as costas da outra mão. — Sou Snow.
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— Snow? — Ela ouviu nomes piores. — Alex.


— Não acho que já a tenha visto por aqui antes Alex e
considerando que eu conheço todo mundo, isso levanta uma
questão: quem diabos é você?

Alex estava acostumada a dar seu nome completo, esse era


seu único e verdadeiro poder desde que não estava mais
dançando. Mas de pé ao lado daquele homem em um lugar
repleto de infrações, ela queria manter o anonimato, apenas no
caso dele conhecer seu irmão.e

— Ninguém especial. —Respondeu ela quando percebeu que


ele ainda estava olhando-a, embora com paciência, esperando que
respondesse. — Você interroga todas as pessoas novas que vêm
aqui?

— Talvez sim, talvez não, mas pensei que poderia lhe fazer
companhia... a menos que você queira que eu a deixe para os
lobos lá fora.

Lobos... que apropriado. — Se quiser conversar, está um


pouco alto aqui para isso, você não acha?

Seus olhos se arrastaram sobre o rosto de Alex, como se


estivesse tentando entendê-la, mas depois de uma longa pausa,
ele apenas passou um braço ao redor de seus ombros, um recado
pensou, para enviar uma mensagem uma vez que vários pares de
olhos se voltaram para eles. Guiou-a para longe do barulho — da
música — e de volta em direção a um corredor onde os sons de
tapas, carne batendo e gemidos agudos podiam ser ouvidos.

Seu coração acelerou quando chegaram ao último


quarto no final do corredor, ela também não bateu um cílio
quando entrou, fechando a porta atrás deles com um clique
firme.
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Ela olhou ao redor: a cama em um canto, algumas


Página

fotos penduradas nas paredes e sobre a mesa bem maciça


havia uma brilhante nove milímetros cromada que parecia
nova em folha. Não havia nada realmente pessoal sobre o
espaço, mas Alex não achava que esta era sua casa,
apenas um quarto disponível, onde ele trazia as mulheres que
pretendia manter por apenas uma noite.

Uma parte dela, a parte que lutava pela razão, sabia que
estar ali não era uma boa ideia e que provavelmente seria melhor
que penas se afastasse deste lugar.

Mas aonde ela iria então?

Voltar para o apartamento vazio onde não se sentia


realmente em casa? Voltar para Mishca, que estava atualmente
com sua esposa em uma lua de mel?

Havia outra pessoa, tão solitária quanto ela, a quem ela


alegremente correria. Mas, esta mesma pessoa, neste momento,
não queria nada com ela.

Não, talvez ficaria ali. Afinal, enquanto observava Snow se


mover em direção à cama, sentando-se na beirada, seu olhar
movendo-se de suas pernas nuas para o decote indecente na
frente de seu vestido, ela sentiu uma agitação. Poderia ser o fator
proibido ou até mesmo o perigo, mas estava disposta e pronta
para persegui-lo se isso significasse que podia sentir alguma
coisa novamente.

— Você...

A porta se abriu bruscamente antes que Snow pudesse


terminar seu pensamento e se sua expressão, pelo que pode
perceber, não ficou feliz com a interrupção.

— O que?

A mulher olhou para Alex por um segundo antes de


virar para Snow, seu sorriso doentiamente doce. — Você
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tem um minuto?
Página

— Porra, dê o ora daqui agora.


Ela balançou a cabeça, as mãos voando para repelir um
ataque quando Snow se levantou, parecendo como se pretendesse
removê-la fisicamente.

— Boone disse que você lhe devia.

Ele amaldiçoou, olhando para Alex que agia com fria


indiferença ao ato inteiro. Ele balançou a cabeça na direção do
banheiro. Uma vez que ambos estavam lá dentro, ele empurrou a
porta, mas não o suficiente para que se fechasse, fazendo com
que Alex se perguntasse se fez isso de propósito para que pudesse
ver o que estava acontecendo lá dentro. Ela apenas tinha uma
visão limitada, de modo que perdeu a maioria do que aconteceu
no banheiro, mas pode perceber o pequeno saquinho que ele
entregou e que a mulher habilmente escondeu em seu decote.

Ao ver a cena, seu coração acelerou.

Quando ficaram sozinhos novamente, depois que a mulher


despediu-se e agradeceu com um beijo na bochecha, Snow tinha
uma coisa em sua mente, mas a atenção de Alex ficou presa no
que ela viu.

— O que você deu a ela?

Um brilho curioso entrou em seus olhos quando ele tirou o


colete e pendurou na parte de trás da cadeira. — Por que você
quer saber?

— Apenas curiosa...

— Nah, é um pouco mais do que isso.

Em resposta, ela encolheu os ombros. — Você é um


traficante de drogas? É por isso que eles te chamam de
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Snow?
Página

Sua expressão era ilegível quando ele disse. — Você


faz muitas perguntas para alguém que está apenas
curiosa.
— Talvez eu queira comprar de você.

— Sim? E o que exatamente você acha que estou vendendo?

Alex passou os dedos pelo cabelo, sabendo que ele estava


observando o movimento. — É por isso que estou perguntando.

Enquanto o silêncio se estendia entre eles, Alex pensou que


talvez estivesse mudando de ideia, pelo menos até que começou a
rir, o que fez com que suas bochechas rosadas se transformassem
em constrangimento.

— Você não poderia lidar com isso.

Agora, foi a vez de ela rir e fez isso sem humor. — Você não
tem ideia do que eu posso ou não posso lidar.

Se ele acreditava nela ou não, foi para o seu banheiro e


voltou momentos depois, carregando outro dos saquinhos que
passou para a mulher.

Dentro havia cinco pílulas, todas estampadas com um


pequeno rosto sorridente. Com um braço enganchado ao redor de
sua cintura, ele a puxou mais perto dele, sorrindo para ela.

— O primeiro é grátis.

— O que é isso? — Quando ela fez a pergunta, se aproximou


mais dele, dedos ágeis ondulando ao redor das pílulas enquanto
ela tentava pegá-lo.

— Algo que vai te levar ao limite.

Isso realmente não era uma resposta, mas quando Alex


abriu o saco, jogando um em sua boca, ela realmente não se
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importava.
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Sua expressão era mais divertida do que qualquer


outra coisa, mas havia algo um pouco predatório sobre
isso também, mas isso e o resto da noite, foi perdida para
Alex quando a pílula começou a fazer efeito.
Começou primeiro com um formigamento em seu estômago,
em seguida o calor a encheu, enquanto a mão de Snow se fechou
ao redor de sua nuca, inclinando o rosto para esmagar seus
lábios. O que só intensificou tudo o que ela estava sentindo.

Agora, seu coração estava acelerado, suas mãos tremiam e


quando ele trabalhou o zíper de seu vestido para baixo, ela nunca
se sentiu tão viva.

13
Página
Dois

O Executor

Limpando o sangue de suas mãos com a camisa do homem,


Luka Sergeyev recuou, estalando os dedos na frente do rosto de
Donnie Jefferson para recuperar sua atenção. Ele não precisava
do cara desmaiando antes de chegar à verdadeira razão pela qual
Luka lhe fez uma visita.

Colocando a faca que usou de volta no bolso, Luka suspirou,


sabendo que provavelmente foi longe demais com a quantidade de
cortes dos quais ainda estavam escorrendo sangue, mas não
havia outra maneira de garantir que ele tivesse seu ponto. A dor
deixava as pessoas mais receptivas à persuasão.

Luka aprendeu isso da maneira mais difícil, mas isso foi há


séculos, quando ele era apenas um menino.

Colocando a mão no ombro de Donnie, apertou os dedos em


um dos cortes particularmente feio, sentindo a pele e o
músculo quando empurrou seu dedo mais profundamente.

A resposta do homem foi imediata e alta. Luka tentou


não deixar isso excitá-lo.
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— Agora que tenho sua atenção, você tem duas


opções. Diga-me onde está o dinheiro e nós podemos
terminar agora. Talvez eu o deixe em um hospital, isso é
discutível, mas pelo menos poderá ir para casa. A
segunda opção, você não me dá o dinheiro e eu te
mostro quão criativo posso ser nas próximas duas horas. Quer
dizer. — Luka gesticulou para o homem que duvidava poder ver
com o sangue vazando em seus olhos... — Você viu o que eu
posso fazer com uma faca. Imagine o que poderia fazer quando
estou inspirado.

Gemendo, Donnie tentou responder, as palavras saindo


apressadas e confusas, mas com outro aperto firme de Luka, ele
foi capaz de forçá-las a sair. — Está no cofre.

— Bom homem.

Tirando o dedo da ferida recém-feita, Luka circulou a


cadeira, colocando as mãos na parte de trás do homem, o cofre
instalado na parede não apenas tinha uma fechadura digital, mas
também era necessária uma verificação de retina.

Donnie era um empresário muito inteligente. Pelo menos


quando se tratava de ferrar seus clientes que assinavam sobre
suas economias de vida e pensavam que ele poderia administrar.
O problema era que ele estava operando em território Bratva e
quando a Bratva protegia um dos clientes que ele ferrou, era
trabalho de Luka lhe fazer uma visita.

Isso era o que significava ser um executor da Bratva.

Nem sempre Luka desfrutava ter um trabalho como este.


Muito menos a carnificina que deixava um rastro sangrento...

Às vezes, no entanto, gostava um pouco demais.

Na última meia hora, estabeleceu um novo recorde,


mesmo para ele. Fez entalhes na carne do homem, sempre
cuidadoso para não cortar muito profundo ou muito rápido,
apenas o suficiente para que a pessoa na extremidade da
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faca sentisse o corte em todos os lugares certos, mas não o


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suficiente para que desmaiasse a qualquer momento.

Considerando o fato de que estava preso a uma


cadeira, Donnie não poderia abrir o cofre por si mesmo.
Em vez disso, ele deu a combinação para Luka, que o abriu
em segundos. Havia pilhas de dinheiro empacotado, o suficiente
para saber que havia, sem dúvida, centenas de milhares de
dólares.

Luka esvaziou o cofre, despejando o dinheiro em uma


mochila velha que carregava com ele. Ele foi ali para pegar
apenas o suficiente para cobrir o que Donnie tirou de uma de
suas vítimas, mas com o humor que Luka estava levou tudo.

Terminando, ele jogou a mochila ao lado da porta, sentindo


os olhos do homem sobre ele.

Donnie provavelmente arrumaria as malas e iria para fora do


estado onde montaria outra operação semelhante a esta e
começaria tudo novamente, longe de onde Luka pudesse chegar
até ele.

Luka nunca gostava de homens como Donnie e se ele fosse


melhor em controlar-se com o cheiro acobreado de sangue em
sua boca, poderia tê-lo deixado.

Mas isso não era quem Luka era.

Não dando um segundo pensamento, Luka puxou a lâmina


do bolso, andando de volta para Donnie que estava balançando a
cabeça com força, implorando por trás de sua mordaça, mas ele
não podia fazer nada para impedir o que estava prestes a
acontecer.

Com a rapidez e eficiência de anos de prática, Luka


cortou os polegares do homem. Seus gritos eram como
música, mas Luka não ficou por lá para apreciar sua obra.

Ele fez um rápido trabalho de deixar o homem livre,


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deixando clara sua advertência quando jogou a bolsa por


Página

cima do ombro e se dirigiu para a noite viva de outono.


Recuperando as chaves do bolso, Luka subiu no jipe que
já viu melhores dias ou apenas precisava de uma boa
lavagem para limpar as camadas de sujeira que
endureceram no exterior.

O ar frio não o incomodou enquanto dirigia para a cidade,


para o clube em Manhattan, que abriu apenas alguns meses
atrás. Embora fosse propriedade Bratva, a maioria era mantido
limpo do trabalho que fazia, porque a esposa do chefe cuidava
dos livros e praticamente levava o lugar.

Se havia uma coisa que Luka sabia, era que seu chefe nunca
iria deixar esta vida, mas ele pelo menos, se certificaria de que
nenhum deles caísse sobre sua esposa.

Saindo de seu jipe, Luka dirigiu-se para a porta de trás,


inserindo um código de quatro dígitos no teclado ao lado da
maçaneta da porta. Após um incidente há alguns anos atrás, o
chefe decidiu que era melhor ter um código de bloqueio, em vez
de ter alguém de guarda.

Uma vez que ele entrou, Luka andou todo o corredor até
chegar a uma porta, subiu as escadas do outro lado para um
escritório acima do piso do clube.

Como de costume, o Pakhan, O chefe, Mishca Volkov


sentava-se atrás de uma mesa de madeira de mogno, o telefone
entre o ombro e a orelha, falando rapidamente em russo pedindo
os resultados de um de seus empreiteiros em toda a cidade.

Ao contrário de seu antecessor, Mishca estava diretamente


envolvido com todos os novos aspectos do trabalho que foi lhe
dado nem há oito meses.

Luka jogou a mochila em um canto do escritório,


sentando-se no sofá enquanto colocava os pés sobre a
mesa, com um largo sorriso quando viu o cenho franzido de
17

Mishca.
Página

Eram as pequenas coisas da vida.

Ele esperou pacientemente que o chefe terminasse


sua ligação, os olhos ao redor da sala, até que pousou
em uma foto emoldurada que ele não deixou de notar
quando entrou.

Era uma foto da única pessoa que continuamente o


atormentava, a única pessoa que se envolveu ao redor dele,
apesar de seu desejo de tirá-la da cabeça. Ele sabia que não havia
nenhuma maneira de tê-la do jeito que queria, não quando ele era
do jeito que era.

Então claro, houve a conversa que ele e Mishca tiveram


anteriormente. Que consistiu em advertir a Luka para ficar longe
de sua irmã.

Ele livremente aceitou a escuridão que havia dentro dele.


Algumas noites, alimentava essa fome que nunca poderia ser
verdadeiramente satisfeita. Regozijava-se na dor que causava a
outros. Mas essa mesma sede de sangue o desgastava. Quando
via o resultado do que fazia, não podia suportar a visão de si
mesmo e muito menos do que fazia a algumas pessoas. Enquanto
alguns eram merecedores de punição, não mereciam a ele.

Mas agora não era o tempo para pensar sobre isso.

Desligando, Mishca colocou o telefone de volta em seu lugar,


girando em sua cadeira para que ele o visse melhor. Ao contrário
de sua irmã, que era loira e tinha os maiores olhos verdes que
Luka já viu, Mishca era frio. Cabelos escuros, olhos azuis, que
não perdiam nada e a estatura de um homem que estava
habituado a ter poder.

Agora, tendo trabalhado para ele durante os últimos cinco


anos, Luka o admirava, mesmo que ele fosse um idiota.

— Como foi?

— Como você queria.


18
Página

Luka apontou para a bolsa no chão, não precisando


abri-la. Ambos sabiam que o dinheiro estaria dentro dela
ou ele não estaria lá. Nenhum deles abordou o sangue
manchando as mãos com a menção de Donnie.
— E Jefferson?

Luka sorriu, não conseguindo esconder sua satisfação.

— Como eu queria.

Mishca balançou a cabeça, sabendo muito bem o que isso


significava. — Respirando?

Encolhendo os ombros, ele respondeu. — Mal.

— Bom o bastante. As garotas passarão o dia na cidade


amanhã. Mantenha o telefone.

Embora ele assentisse, Luka se perguntou se Alex iria com


Lauren e sua amiga, Amber. Durante os últimos cinco anos, Luka
se acostumou a sua vida nas sombras, completando mais dos
trabalhos sangrentos que outros secretamente cobiçados, mas ao
longo dos últimos dois meses, seu papel começou a mudar. Sua
tarefa passou de trás das cenas, para o público quando ele se
tornava um guarda-costas por uns dias. Mas mais do que isso,
começou a frequentar reuniões com Mishca e não apenas como
alguém com músculos.

Ele nunca questionou por quê, embora fosse evidente que


todo mundo estava se perguntando a mesma coisa. Luka não se
dava bem com as pessoas em geral e ele tinha o infeliz hábito de
se tornar inimigo das pessoas cinco minutos depois de conhecê-
las, não que ele se importasse.

Achava muito melhor ser temido do que ser


ridicularizado.
19
Página
No longo trecho de estrada, o barulho estrondoso de seu
motor cortou o silêncio da noite, balançando a grama alta quando
acelerou por ela. Esta não era uma ocorrência incomum quando
Luka estava dirigindo, música explodia através dos alto-falantes.
Qualquer um no outro extremo desta estrada de terra podia ouvi-
lo a uma milha de distância.

Eventualmente, os faróis iluminavam uma casa de estilo


vitoriano à distância, apenas alguns carros estacionados ao lado
dele. Um homem gordo com o nome de Roger Pedenski deveria
estar de guarda, olhando para qualquer um que aparecesse, mas
ele estava sentado no degrau mais alto, dormindo, inconsciente
até mesmo da música de Luka.

Nem mesmo quando Luka desligou o motor e agitou o


homem, o que queria dizer uma de duas coisas.

Ou ele tomou o estoque de pílulas azuis que mantinham ao


redor para os clientes e passou as últimas horas no interior, com
uma das garotas e agora estava desmaiado ou o velho bastardo
estava morto.

Ele estava inclinado a acreditar no primeiro.

Colocando as mãos nos bolsos, Luka levou seu tempo


andando até a frente da casa, olhando mais de perto para Roger
para ter certeza de que ele estava, na verdade, ainda respirando.
Neste ponto, esperava que Roger não acordasse, apenas para que
pudesse ter a oportunidade de ensinar ao homem a nunca
deixar suas defesas baixas, especialmente considerando seu
trabalho.
20

Em vez de dar alguns passos, ele foi para o lado,


caminhando até o homem adormecido.
Página

Luka andava sempre como se tivesse plumas em seus


pés, geralmente indetectável ao lidar com alguém de
inteligência média.
Suspirando, não pode segurar seu sorriso quando levantou o
pé e chutou o homem pelos degraus.

Roger gritou quando despertou, jogando os braços para


amortecer a queda, mas seu impulso foi muito grande e ele
acabou rolando cada degrau até que caiu em uma pilha no chão.

— O que diabos foi isso? — Ele rosnou, tentando se levantar,


mas seu peso significativo tornava difícil.

Luka encolheu os ombros, andando para trás até a casa. —


Despertador, para você gordo da porra.

Quando estava de frente para a porta, Luka abriu-a e


entrou, mas não antes de ouvir Roger resmungando sobre ele ser
um lunático. Sim, sim, ele era e estava orgulhoso disso.

Três andares compunham a antiga casa vitoriana: o porão


onde eles mantinham quase todas as marcas de álcool
conhecidas pelo homem — embora os clientes do nível do solo
apenas fossem servidos com porcaria barata — onde eram
introduzidas as garotas e finalmente faziam suas seleções e no
andar de cima, onde o serviço real acontecia.

Não havia dezenas de quartos no local, mais provavelmente


por volta de sete, mas uma vez que havia apenas um pequeno
número de garotas, isso funcionava bem. Às vezes, quando
chegava uma garota nova, ela dormia no porão, onde uma cama
era colocada até um lugar permanente ser encontrado.

O homem que Mikhail — o ex-chefe da Bratva Volkov,


deixou no comando após rebaixar Luka, não estaria lá por
muito tempo desde que Mishca estava no meio de se livrar
de todos aqueles que eram leais ao ex-Pakhan — era um
21

idiota que gostava de sua posição um pouco demais.


Página

Claro, elas eram prostitutas e escolheram esta


profissão, mas isso não lhe dava o direito de tirar
vantagem delas. Trabalhar para eles era completamente
diferente do que apenas trabalhar nas ruas. Enquanto
lhes era oferecida a segurança que apenas a Bratva
poderia fornecer, elas também sabiam que precisavam manter os
chefes felizes, porque eram dispensáveis.

Mesmo Luka não era tão ruim e ele fez algumas coisas
questionáveis ao longo dos anos.

Yuri estava sentado em um sofá verde-mar, de frente para


uma grande televisão que estava atualmente em um jogo de
futebol e do jeito que ele estava extasiado observando cada
jogada, era seguro assumir que ele tinha dinheiro nisso.

Luka não se incomodou em dar ao homem uma saudação,


subiu a escada de dois em dois para o andar seguinte.

Embora a maioria dos homens que frequentava este lugar


não fosse, ele sempre foi educado. Por este motivo algumas das
garotas passaram por ele com sorrisos agradáveis. Para Luka não
importava o que elas escolheram para ganhar a vida.

Quem era ele para julgar?

Ele feria as pessoas para ganhar a vida.

Quando chegou à última porta no corredor, não se


preocupou em bater, apenas torceu a maçaneta e entrou.

As outras garotas poderiam ter que compartilhar um quarto


quando não estavam trabalhando, mas Natasha era uma das
mais procuradas e por causa disso, a ela foi dado o privilégio de
ter um dos maiores quartos casa. Ao contrário de outras garotas
que escolheram esta profissão, seja pela força ou como um
meio para um fim, Natasha escolheu isto pelo dinheiro.

Natasha era bela, como a maioria das garotas era, mas


ao contrário delas, cuidava muito bem de si mesma até o
22

ponto que, se quisesse, poderia ser mais do que era. Cabelo


Página

preto caia pelas suas costas, complementando a pele pálida


suave, com uma forma cuidadosamente esculpida que era
ideal para qualquer homem. Seu sorriso era encantador e
a primeira vez que ele a viu, se interessou.
Como outros, no entanto, isso era tudo o que lhe atraia nela.
Antes desta época, ele recorreu a longas noites com um saco
cheio de areia para trabalhar sua agressividade e cansar-se até
desmaiar de exaustão. Certo dia um cliente foi um pouco rude
com uma das garotas e foi ele quem cuidou disso. Embora até
agora, ainda não tivesse certeza de como isso aconteceu, mas
num minuto ele estava tentando explicar as regras para o homem
e no próximo, ele agarrava seu pescoço.

Ninguém falava daquela noite, embora ele soubesse quantas


pessoas sabiam o que ele fez, mas Natasha não falou nada do que
viu da janela de seu quarto. Na verdade, Luka acreditava que era
a única razão pela qual ela vinha a ele.

Uma única noite com ela foi o suficiente para que soubesse
que ela poderia aceitar qualquer coisa que lhe desse, mesmo que
pudesse deixá-la machucada. A partir de então, a visitava toda
terça-feira como um relógio. Ele trabalhava para isso.

Eles aceitavam um ao outro. Ele não a tratava como uma


prostituta, como em seu mundo onde a maioria dos homens fazia
com as garotas e ela o deixava acabar com sua frustração.

Enquanto não houvesse sentimentos envolvidos, funcionava.


Ele sempre foi cuidadoso. Sempre tentando se certificar de que
ela soubesse que ele não queria nada mais dela do que seu corpo
e na ocasião rara, companheirismo.

— Longo dia? — Ela perguntou sentada de costas na


cadeira, esticando os braços ao seu lado.

Ele encolheu os ombros, sem responder. Embora este


fosse um ritual pelo qual sempre passavam quando ele a
visitava, muitas vezes se perguntou se ela já tinha se
23

cansado dele.
Página

Jogando sua jaqueta em uma cadeira vazia, ele deitou


de costas na cama, os braços cruzados atrás da cabeça
enquanto olhava para o teto, esperando que ela
terminasse o que quer que fosse que estava fazendo.
Não demorou muito para ele ouvir o raspar de sua cadeira
empurrada para trás e ela ficou de pé, rastejando na cama,
subindo nele.

Quando a adrenalina começou a se desgastar, lentamente,


seus pensamentos passaram automaticamente para os
acontecimentos da noite, lembrando a forma como a lâmina
cortou através da pele do homem. Apenas a lembrança foi o
suficiente para ele respirar profundamente pelo nariz e soltar
através de sua boca.

As mãos dela flutuaram sobre o peito e ele estremeceu,


desejando que pudesse desligar o seu desejo sexual por causa da
dor que infligia aos outros.

— Quantos?

Essa era a pergunta que iria ajudá-la a avaliar exatamente


quanto estava reprimido dentro dele. Naquela noite, porém, ele
não respondeu.

Não era ruim, já que normalmente era.

As mãos dela flutuaram sobre seus ombros, massageando os


músculos ao longo do caminho, os lábios no ouvido. Por mais que
não pudesse, ele relaxou sob o toque dela, embora não baixasse a
guarda completamente. Ele não confiava nela o suficiente para
isso.

Por apenas alguns momentos, ele deixou sua mente vagar,


pensando em coisas que era melhor esquecer, e uma vez em
sua vida quando momentos como estes foram roubados,
sabendo que outros o queriam em ruínas, mas ao mesmo
tempo ele tinha, mesmo se não estivesse com a pessoa que
24

ele necessariamente queria, ele iria aceitá-lo.


Página

Rolando-os, ele virou-a de costas, rastejando sobre


seu corpo, puxando o sutiã que ela usava. Natasha estava
sorrindo, encorajando-o, mas mais rapidamente do que
ela pode registrar, ele novamente, deixando-a de joelhos.
Mesmo passando horas na cama com ela, ele ainda não pode
colocar para fora a tensão acumulada dentro dele.

25
Página
TRÊS
Más decisões

Embora ela tivesse passado a beber para esquecer nas suas


noites nestes últimos meses, festejando em mais de metade dos
clubes em Manhattan, passou um tempo desde que Alex acordou
com uma lembrança nebulosa da noite anterior e uma dor de
cabeça do caralho.

Empurrando-se até uma posição sentada, embora isso


trouxesse um novo nível de dor. Alex esfregou os olhos, tentando
limpar a visão embaçada. Sentindo um movimento à direita, ela
piscou, apertando os olhos, então piscou novamente, sem
acreditar no que estava vendo.

Um homem estava dormindo ao lado dela em seu estômago,


seu rosto estava na direção oposta a ela, mas ele parecia
vagamente familiar. Se não fosse por seu crânio explodindo como
se estivesse se dividindo em dois, ela poderia ter tentado com
mais força se lembrar quem ele era. Ele não era uma visão
particularmente indesejável, mas considerando as duas
outras garotas esparramadas no pé da cama, ela se sentia
como se fosse vomitar.
26

Cautelosamente, saiu da cama, tropeçando para o


Página

banheiro e agarrando a maçaneta ao longo do caminho.


Fechando e trancando a porta atrás dela, foi até o espelho,
apoiando as mãos na beirada da pia de porcelana.
Horrível era a única maneira de descrever a forma como ela
parecia.

Sua saia estava enviesada, a metade superior desabotoada, o


cabelo em desalinho, com círculos escuros ao redor dos olhos,
para não mencionar a maquiagem do dia anterior e Alex quase
não se reconheceu. Mas estava começando a se familiarizar com a
imagem.

Procurando seu telefone, ela bateu um botão no teclado para


iluminar a tela, amaldiçoando quando viu a hora. Ela deveria se
encontrar com sua nova cunhada Lauren para sair e se não
aparecesse, Lauren, sem dúvida, iria contar para Mishca e ela
realmente não estava no clima para todas essas perguntas.

Alex estava pensando em seu próximo passo quando o


telefone tocou, um nome que fez seu coração saltar uma batida
quando viu o que apareceu na tela.

Luka.

Luka Sergeyev.

A nova mão direita de seu irmão, um executor da Bratva


Volkov e a amargura de sua existência... e alguns dias, quando se
permitia pensar nas possibilidades, alguém pelo qual ela sentia
muito mais.

Por um tempo, ela sentiu como uma queda, em seguida,


parecia ser algo mais, algo indescritível, algo quando Luka
parecia voltar por um curto período de tempo, pelo menos
até Natasha aparecer e tornar-se um elemento permanente
em sua vida. Alguns dias não havia amizade, outros dias ela
sentia como se fosse quase impossível ficar longe dele.
27

Agora, ela não sabia o que estava acontecendo entre


Página

eles.

Embora não quisesse atender, ela se sentiu


impotente.
Mas isso foi antes. Antes de tudo em sua vida virar de
cabeça para baixo

— Sim?

— E aí. — Essa era sua saudação padrão para todos. —


Onde você está?

Alex olhou em volta, tentando procurar em seu cérebro por


uma resposta, mas realmente não se lembrava de onde estava,
mas não podia dizer isso a ele. Ela precisava parar. — Existe uma
razão pela qual você está perguntando?

— Ligação de família. Eu tenho que buscá-la e a melhor


amiga. Pronta?

Pressionando o telefone em seu ombro para abafar qualquer


ruído que fizesse, Alex agarrou suas coisas saindo do banheiro. —
Sou perfeitamente capaz de chegar lá por conta própria.

A cadência descontraída em sua voz foi lentamente se


esvaindo. — É verdade, mas você pode me dar o endereço ou eu
vou rastrear seu telefone. A senhora escolhe.

— Tudo bem, ligarei em cinco minutos.

Ela desligou antes que ele pudesse responder, deslizando


para fora do quarto, dirigiu-se a frente, onde podia ver o bar.
Havia corpos em todos os lugares, em diferentes estágios de
nudez. Até mesmo para ir até a porta, ela teve que passar por
cima de um homem bastante grande que estava
completamente nu, uma mulher que era menos da metade
do tamanho dele agarrada a ele.

Quando ela estava na rua, olhou para a placa na


28

esquina, rapidamente enviando uma mensagem de texto


Página

para Luka com um endereço antes que ele a rastreasse,


conforme sua ameaça.

— Aonde você vai?


Alex se sacudiu, olhando por cima do ombro para onde seu
ex-companheiro de cama correndo atrás dela, puxando sua
camisa. Embora fosse improvável que Luka estivesse chegando a
qualquer momento, ela ainda olhou para trás, verificando se
havia qualquer sinal da Mercedes preta.

— Eu tenho coisas para fazer. — Disse ela.

— Pelo menos me dê o seu número. —Continuou ele, não se


preocupando nenhum pouco que ela já não parecesse
interessada. — Esta não precisa ser a única vez que vemos um ao
outro.

Isso era verdade, mas Alex não tinha certeza se queria vê-lo
novamente, especialmente com sua memória ainda nebulosa da
noite anterior, mas tão rapidamente quanto esse pensamento se
formou, a tentação familiar de fazer algo errado a encheu... sem
mencionar que tudo o que ele deu a ela erai surpreendentemente
forte.

Não pensando em nada disso, ela lhe deu o número, os


dedos apertando seu próprio telefone, uma vez que começou a
vibrar em sua mão.

— Para onde você está indo? Posso dar-lhe uma carona de


volta.

Forçando um sorriso, Alex balançou a cabeça. — Não,


obrigada. Eu tenho um amigo que já está vindo.

Ele finalmente cedeu, embora não parecesse querer


voltar ao bar e Alex continuou correndo através da rua,
quando um jipe verde, quase todo coberto de lama,
guinchou parando ao lado dela. Ela mal o olhou, sem
29

pensar muito, mas olhou duas vezes quando viu quem


estava dentro dele.
Página

A única pessoa que a incomodava mais no mundo.


A única pessoa que poderia ficar sob sua pele sem esforço.

Luka tinha longos cabelos loiros que se enrolavam um pouco


acima dos ombros. Com um nariz régio e lábios que normalmente
transformavam-se em um sorriso, ele tinha que ser o cara mais
atraente que Alex conhecia. Para não mencionar os olhos azuis
que o fazia parecer ainda mais inocente.

Apesar de toda sua atratividade, haviam trevas que


irradiavam fora dele. Ela poderia acreditar que não o conhecia tão
bem; ninguém com um rosto como aquele deveria ser capaz das
coisas que ela sabia que ele poderia fazer com uma faca, mas
após vê-lo coberto de sangue, sempre se lembraria dele
casualmente fumando um cigarro e sabia que por baixo do humor
bruto e piadas fora de lugar havia algo que não estava certo com
ele.

Em um movimento fluido, ele estacionou, saindo e chegando


ao lado dela. Ele parecia estar sempre em movimento lento,
calculado, como se estivesse consciente de tudo o que acontecia
ao seu redor. Seus olhos fizeram uma varredura sobre ela
enquanto abria a porta e pela forma como sua boca se contraiu,
mais uma careta do que um sorriso, ele não estava feliz com o
que viu.

— Você parece uma merda.

Confiava nele para ser brutalmente honesto com ela. Luka


era ferozmente honesto e normalmente, ela gostava dele assim.
Sabendo que ele raramente escondia algo era bastante
agradável já que a maioria dos homens que trabalharam
para Mishca a mantinham no escuro sobre a maioria das
coisas. Mas agora, enquanto ela se sentia como se tivesse
sido atropelada por um carro, Alex realmente não estava
30

com disposição para isso.


Página

— Eu não pedi por um carona ou um sermão. — Ela


murmurou, agarrando a parte superior de seu jipe para
subir.
Se ela não estivesse sofrendo de uma ressaca, poderia ter
comentado sobre seu jipe. Desde que ele geralmente dirigia o
carro de Mishca, ela nunca deu muita atenção ao tipo de carro
que Luka tinha.

Enquanto a maioria dos homens de sua posição dirigia


carros esportivos elegantes, parecia quase apropriado que Luka
tivesse algo tão robusto como um Jeep Wrangler.

Ela fechou os olhos quando ele ligou o jipe, seu estômago


revirando quando começaram a se mover. Todo o trajeto para o
apartamento dela, Alex se concentrou em não vomitar o pouco
que havia em seu estômago. Ele ficou quieto, embora isso não
fosse uma surpresa, já que raramente mantinha uma conversa
ociosa.

Com a condução de Luka, eles chegaram em tempo recorde,


indo até o elevador em silêncio. Não havia realmente nenhuma
necessidade de segui-la, não que ela estivesse reclamando, ele
poderia ter tomado medidas muito cuidadosas.

Procurando as chaves em sua bolsa, ela quase as deixou cair


quando Luka estendeu a mão, seus dedos roçando nos dela
tentando agarrar as chaves quando ele as pegou, abrindo a porta.
Ele arrastou-a para dentro, e mesmo ela querendo ignorar, era
difícil não estar ciente de sua presença atrás dela. Mesmo quando
ele não estava tentando dominá-la, era apenas quem ele era.

— Eu preciso tomar um banho.

Alex não teve que apontar na direção do quarto de


hóspedes. Ele esteve no apartamento mais vezes do que
podia contar. Sem olhar para ela e levando a mochila que
ele tirou da parte de trás do seu jipe, ele a deixou sozinha
31

sem outra palavra.


Página

Embora ela não tivesse muito tempo, Alex entrou em


seu próprio quarto, tomou um banho para lavar a noite
difícil. Depois de tomar um Advil, somados ao vapor da
água quente, ela sentiu-se moderadamente melhor.
Dentro de seu armário, havia fileiras de vestidos de seda,
pendurados em cabides especiais que ela encontrou em uma
boutique especializada. Não havia muito que Alex amasse em sua
vida, mas suas roupas estavam entre eles. Em suas viagens e
graças a Deus uma vez mais, a sua indulgente mãe quando se
tratava de coisas bonitas, a aparência vinha em primeiro lugar,
ela tinha uma variada coleção de vestidos de grife. No entanto,
não tinha nada em sua coleção de sapatos.

Escolhendo um azul de chiffon com forro mais escuro que


ajudava a esconder seu peito, Alex pegou seu Louboutin favorito.
Para alguns, os saltos eram uma dor, especialmente nas ruas de
Nova York, mas se havia uma coisa que Anya instilou nela, foi a
ideia de que era preciso parecer sempre no seu melhor.

Vestida, Alex voltou para o banheiro, passando a mão ao


longo do espelho para limpar um pouco da umidade. Ela não
olhou por muito tempo antes de começar a aplicar a maquiagem.

Agora que estava moderadamente humana, não tinha mais


medo de como se pareceria, mas era difícil, sempre vendo o rosto
de alguém que todo mundo odiava.

Depois que ela terminou de aplicar base, corretivo, blush,


estava de volta na sala de estar, Luka estava saindo, vestido uma
calça jeans preta e botas, uma camiseta jogada por cima do
ombro enquanto esfregava uma toalha por seu cabelo enrolado.
Ela não queria, mesmo mentalmente aconselhou-se a não o fazer,
mas era quase fisicamente impossível não olhar para ele.

Ele era forte, tinha o corpo definido de um corredor.


Mas a maior parte deste estava escondida sob as tatuagens
coloridas que o cobriam. Algumas representando
significativamente a Bratva, particularmente a cabeça do
32

tigre rosnando no centro do peito. Ela viu outros com


Página

trabalhos de arte similares, homens que apenas gostavam


do design, mas nos círculos que corriam, era um aviso,
tanto quanto era uma promessa.
Seu olhar se desviou do tigre para as várias imagens ao
longo dos cumes de seu estômago para os recortes na cintura. Ele
realmente era muito bom de olhar...

— De onde você estava vindo? — Ele perguntou quando


jogou a toalha no sofá e puxou sua camiseta. Antes, ela poderia
ter respondido à sua pergunta com uma resposta sarcástica, mas
no momento, Alex não estava com disposição para lutar com ele.

— Nenhum lugar em particular.

Alex desviou o olhar quando disse isso e não percebeu


quando ele cruzou para o lado dela e agarrou seu braço. Apesar
da óbvia força que possuía, ele foi gentil com ela. Ele sempre era.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela pegou sua mão,
com a intenção de afastá-la, mas no momento do contato, ela
acabou segurando-a. A parte de trás da sua mão era suave, mas
a palma da mão e os dedos eram calosos e ela só podia imaginar
pelo que.

— Foi apenas uma festa. —Ela finalmente confessou, mas


não podia ter certeza por que estava dizendo a ele. Não havia
nenhuma razão para isso, não quando não havia nada
acontecendo entre eles. Não importava o que ela sentia.

— Eu não quero que você faça nada imprudente. — Disse


ele, os olhos surpreendentemente sérios. — Você tem um
problema, venha a mim e nós vamos descobrir como resolver essa
merda.

Isso era o que ela sempre gostou sobre Luka, como era
fácil ficar perto dele quando a tensão não estava lá, quando
eles estavam apenas no mesmo espaço, sem o mundo
exterior incomodando. Em momentos como este, ela podia
33

ser ela mesma, sem medo de julgamento, porque ele não


estava tentando mudá-la. Ela não precisava ser perfeita ao
Página

redor dele, mesmo se esforçando para ser.


Mas o momento foi quebrado quando seu telefone voltou à
vida e quando ele virou a cabeça em sua direção, seu cabelo
mudou e ela pode ver a mancha vermelha irritada em seu
pescoço. Como ela não notou, até este momento, não sabia, mas
agora que sim, isso pareceu como se um balde de água gelada
fosse despejado em sua cabeça.

— Como Natasha está?

Ao ouvir o tom da voz, ele olhou para ela, esquecendo-se


brevemente de seu telefone. — O que?

Ela cutucou a marca em seu pescoço, se perguntando se


fazendo isso iria machucá-lo, quase tanto quanto a machucava
ver isso nele. — Quanto é que isso custa nos dias de hoje? Ou ela
é grátis, porque você é seu chefe?

— Alex, não comece com essa merda.

— Que merda? Apenas estou curiosa. Não admira que você


precisasse de um banho. Eu não posso imaginar que...

Seus olhos se estreitaram, prometendo dor se ela terminasse


essa afirmação, mas se havia uma coisa que ela sabia sobre Luka
é que nunca iria machucá-la fisicamente. Se ele não o fez até
agora, não iria fazê-lo nunca. Emocionalmente? Bem, ele estava
fazendo um trabalho ótimo.

— Ela tinha pressa é? Talvez outro cliente estivesse


morrendo de vontade de entrar nela, antes que seu pau estivesse
mole?

O telefone foi completamente esquecido quando Luka


se voltou totalmente para encará-la e se ela tivesse que
adivinhar, ele apenas estava ficando mais irritado. Exceto,
34

que ela não se importava. Quando começava, não podia


Página

parar.

— Alex, é o suficiente.
Levantando uma sobrancelha, ela sorriu docemente. — Ou?

Um músculo tremeu sob seus olhos quando ele olhou para


ela. — Temos que fazer essa merda toda vez que eu a vejo?

— Se bem me lembro, você pediu para me pegar e não o


contrário. Por tudo o que importava você poderia ter ficado com a
prostituta amigável do bairro.

Esse era o argumento que Luka usava, pelo menos, quando


eram apenas eles e enquanto estavam despreocupados, ele
brincava com ela quando os outros estavam ao redor, mesmo
Mishca. Se ela não fosse a única a terminar, então ele poderia
continuar por mais de uma hora, uma vez por dia.

Não havia nenhum ponto em discutir com ele sobre onde ele
gostava de enfiar o pau. Especialmente se ele continuava fazendo
isso.

— Devemos ir. Há pessoas que realmente querem me ver


hoje.

Luka murmurou algo sob sua respiração, mas andou na


frente dela, quase puxando a porta de suas dobradiças quando
ele a abriu.

Colocando os seus óculos de sol, porque seus olhos ainda


estavam vermelhos, Alex seguiu atrás dele, optando por ignorar o
olhar que ele estava enviando a ela quando entraram no elevador
e desceram. O passeio para a casa de Amber foi curto e sem
incidentes, a batida no crânio de Alex finalmente
diminuindo.

Alex acenou para Amber quando ela subiu no jipe,


ainda ignorando a presença de Luka inteiramente. Ela
35

voltou para seu telefone, praticamente podendo sentir o


Página

olhar de Luka sobre ela, mas era muito boa em fingir, e


isso apenas estava se tornando mais fácil para ela. Amber
limpou a garganta, provavelmente sentindo a tensão entre
eles, especialmente com a condução imprudente de Luka e a
maneira como ele murmurava a cada poucos segundos.

No momento em que chegaram ao prédio, estacionando ao


lado da calçada e Luka olhou o relógio depois que ele saiu, ficou
claro para qualquer um ver que havia um problema, mas Alex
não seria a única a parar, não dessa vez. Se Luka pensava que
era teimoso, então obviamente deve ter se esquecido com quem
ele estava lidando.

Dentro do apartamento, Alex ficou à vontade como se em


casa, como sempre fazia quando estava ali, mas desta vez era
mais uma desculpa para evitar Luka por um pouco mais de
tempo até que eles saíssem. Ela verificou sua aparência no
banheiro, procurou na geladeira uma garrafa de água e até
mesmo se ocupou com seu telefone antes de voltar para a sala e
se sentar ao lado de Luka, certificando-se que havia uma boa
quantidade de espaço entre eles.

Não passou muito tempo até que Lauren saiu de seu quarto,
seu olhar passando pelos três até que seu sorriso vacilou um
pouco. — Tudo certo?

Alex gostava de pensar na nova esposa de seu irmão como a


pacificadora entre todos eles. Ela queria que todos se dessem bem
e se houvesse um problema, ela encontrava uma maneira de
corrigi-lo. A maioria de seus esforços eram colocados em direção a
remendar a relação entre Mishca e Klaus, o gêmeo que ninguém
sabia que existia até cerca de um ano atrás. Era quase impossível
acreditar que alguém tão escuro como Mishca ficaria com
alguém como ela. Enquanto ele tinha cabelos escuros e
olhos azuis, ela era bronzeada, com o cabelo castanho com
reflexos do sol e olhos castanhos que pareciam não perder
nada. Ao todo, Lauren era uma boa contrapartida à
36

seriedade de Mishca.
Página

Alex, feliz que ainda estivesse usando seus óculos de


sol, olhou para cima e balançou a cabeça, forçando um
sorriso antes de voltar para seu telefone, observando a
rotação de marcação enquanto brincava com um jogo
de trivia que estava atualmente dominando.

Luka, sempre alegre, parecia pronto para cometer um ato de


violência quando ele passou a mão pelo seu cabelo, seu corpo
tenso enquanto olhava para Alex, pelo menos até que ele relaxou
e sorriu para Amber.

— Acho que deixei uma camisa em sua casa.

Alex deveria saber que ele estava tentando incitá-la. Não era
como se este fosse seu primeiro round, mas ainda assim, ela
encontrou-se perguntando: — Por que você estava em sua casa?

Ela manteve a boca fechada, percebendo como isso deve ter


soado, mas o estrago estava feito. Ele ainda estava bravo com ela,
podia ver isso em seus olhos, mas teve o prazer de conseguir uma
reação dela... o idiota.

Amber, que era ignorante sobre o que estava acontecendo


entre eles, rapidamente tentou explicar. — Eu não estava...

Alex, que ainda tinha que se afastar de Luka disse. — Pelo


menos eu poderia entender por que você iria dormir com ela, ao
contrário de...

Ela pode não ter entendido que seu problema era com a
palavra puta, mas isso não a impediu de tentar usá-la.

— Poshyol ty - Vá se foder.

Agora ela teve a reação que queria.

Seu sorriso era frágil quando enfrentou Luka, mas ela


era imune a sua raiva, nunca o temeu um dia em sua vida,
apesar de como os outros reagiam a ele. Inclinando a
37

cabeça para o lado, Alex perguntou.


Página

— Sensível sobre sua puta, Luka?

— Quem estou fodendo não lhe diz respeito.


Isso era verdade, mas dizer isso ao seu coração estúpido que
realmente se importava com ele. — Tanto faz.

Ela não quis dizer isso, não era como se tivesse passado um
tempo com alguém recentemente, mas seus pensamentos
imediatamente se dirigiram para Snow, cujo nome finalmente
chegou a ela, quando ele lhe disse na conversa deles
anteriormente. Houve confusão em seu rosto por um breve
momento e algo semelhante a dor, se ele fosse capaz desse tipo de
emoção, mas tão breve como veio se foi e seu rosto mostrou raiva,
o que apenas a confundiu.

Por que ele se importava agora?

Sentindo onde isso estava indo, Lauren, sempre atenciosa,


saltou, chamando a atenção de Luka, antes que ele pudesse
responder. — Pensei que você estava com Mish hoje.

Ele olhou para ela, o olhar imediatamente retornando para


Alex. Havia uma acusação ali que ela ainda não entendia. — Uma
longa história. Vou pegar o carro.

Com ele em seus pés, indo para a porta, Alex não estava
preparada para lidar com as perguntas que sabia que Lauren
faria assim que ele saísse. Em vez disso, ela foi para o banheiro,
batendo a porta, desejando que não gostasse de ninguém, ainda
mais dele.

38
Página
QUATRO
Até logo

Com os braços cruzados sobre o peito, Luka contemplava se


valia a pena confrontar Alex como desejava. Ninguém falava com
ele do jeito que ela fazia, não quando não havia sequer uma
sugestão de sua ira. Mas ela não tinha medo quando o
enfrentava, nunca, nem uma vez recuou, mesmo quando os
outros murchavam sob seu olhar.

Isso era porque ela sabia que ele nunca a machucaria, não
dessa forma. E principalmente porque ela era uma grande dor em
seu traseiro.

Ele sabia que ela não gostava de Natasha, mas não era
porque Natasha fez algo a ela, mas porque estava com ele. Os
sentimentos que Alex tinha por ele eram complicados. Foda-se,
toda sua relação era complicada e não apenas porque ele estava
sempre a dois passos do abismo.

Ela tinha a infelicidade de ser a filha do patrão. Não


apenas isso, ela era praticamente da realeza da máfia — e
não importava quem era seu pai, ambos estavam muito
alto, mas ela era considerada intocável muito antes de Luka
39

chegar a Nova York.


Página

Foi bastante fácil para Luka se controlar ao redor dela


quando se encontraram pela primeira vez. Ela tinha
apenas dezesseis anos na época e apesar de suas
predileções em quebrar as regras, ele se recusou a
atravessar aquela. Não depois do que ele viu acontecer a Bastian.
E com essa imagem presa em sua cabeça, era fácil ignorar seus
avanços. Mas quanto mais tempo ficava perto dela desde que ela
escolheu ficar na cidade em vez de voltar para a França, onde
viveu durante a maior parte dos últimos três anos, mais ele
descobria que realmente gostava dela.

Ela era bonita, claro. Sua mãe era também, apesar de ser
uma cadela traiçoeira. Mas Alex era bastante refrescante desde
que não o coibia da maneira como os outros faziam. O nome que
adotou uma vez que ele entrou na Bratva não era para fazer
amigos e ele conseguiu manter os outros longe dele uma vez que
todos pensavam que era louco.

Por alguma razão, Alex não se importava.

E se ele quisesse admitir para si mesmo na época, estava


sozinho, mas enquanto ela era boa para conversas e apenas ficar
perto quando o silêncio era muito sufocante, ele não conseguia
dormir com ela, não quando ela queria mais dele. Foi por isso que
ele procurou Natasha. Ele fez uma promessa. Enquanto estivesse
com ela e mesmo depois, ninguém iria incomodá-la. Toda terça-
feira era sua noite com ela e o resto do tempo, ela poderia fazer o
que quisesse. Há dois anos, ele ficou com ela, saciando seu desejo
e as emoções mais escuras e isso funcionou para eles... até Alex.

Quanto mais ele tentava mantê-la longe de problemas, mais


ela os encontrava. E houve noites em que o silêncio se estendeu
entre eles, mas ele não se importou, não quando ela estava com
ele. Aquela noite foi seu primeiro erro. Ele quase fez o que
ela queria. Merda, o que ambos queriam, mas ele se afastou
antes que fosse demais. Mas com apenas aquele gostinho,
era quase impossível reverter.
40

A partir desse momento, tudo entre eles ficou intenso.


Página

Conversas. Argumentos. Merda, apenas estar na mesma


sala juntos provocava algo que quase poderia ser
fisicamente tocado.
E embora ele gostasse de Alex mais do que jamais iria
admitir nesta vida, isso não significava que gostava quando ela
agia por impulso. Antes, a bebida o incomodava, mas não era
assunto seu dizer qualquer coisa. Mas desde a noite em que ela
foi sozinha lidar com Anya, tornou-se assunto seu.

Ele a conhecia melhor agora, mais do que ele se conhecia na


verdade e podia dizer quando ela estava caindo em uma espiral.

Foi por isso que Mishca lhe pediu para cuidar dela,
certificar-se que não estivesse fazendo nada do qual iria se
arrepender mais tarde. Ao vê-la hoje... parecia que ele estava
fazendo um trabalho pobre.

Ficou claro ao ver que ela estava de ressaca. Soube no


segundo que a pegou, mas ele não chamou sua atenção do jeito
que precisava. Foi suave com ela, porque vê-la tão frágil trouxe à
tona um instinto de proteção.

Ela sempre trazia.

E ele poderia ter chegado até ela se não tivesse visto o


chupão no seu pescoço. Isso os deixou de volta à estaca zero.

Luka manteve as mãos nos bolsos enquanto se arrastava


atrás delas, seus olhos constantemente em Alex. Apesar de estar
de ressaca e parecendo uma droga nesta manhã, ela estava bem
agora. E aqueles saltos que ela insistia em usar faziam coisas
incríveis com suas pernas.

Piscando, ele notou que Lauren ficou para trás de Alex


e Amber depois de seu telefonema e ele sabia que com
apenas um olhar ela iria fazer o que fazia melhor.

Que era se intrometer.


41
Página

— Você quer a minha opinião sincera? — Perguntou


uma vez que ele se aproximou dela.
— Não. — Ele realmente não queria, porque não importava o
que ela dissesse, não o ajudaria.

Ignorando-o, como apenas ela podia fazer, ela disse. — Eu


não acho que Mish iria realmente matá-lo se você tivesse uma
coisa com uma pessoa especial que está perto dele.

Fazendo uma careta, embora a ação fosse perdida para ela,


ele respondeu. — Esqueça isso, Lauren.

— Estou apenas dizendo...

— Jesus fodido Cristo. Deixe para lá. Se eu quisesse seu


conselho, então eu teria pedido. Pare de tentar merda, você
deveria estar preocupada consigo mesma.

Ele se arrependeu de suas palavras, no momento em que


falou. Ele nunca levantou a voz para ela ou falou com ela de
qualquer maneira que não fosse respeitosa. Ela era muito
agradável, quase a uma falha. Não era culpa dela que acreditasse
em amor verdadeiro e essa besteira.

— Não vai acontecer novamente.

Merda.

Antes que pudesse corrigir o que disse, ela se afastou e


quando saíram uma hora mais tarde, não foi só Alex que estava
ignorando-o.

42
Página
Luka encontrou-se no escritório de Mishca, mais uma vez,
esperando pelas atribuições que ele teria enquanto Mishca e
Lauren estivessem em sua lua de mel. Desde que ele estaria fora
por cerca de uma semana, alguém precisava tomar as rédeas em
seu lugar.

Com seus pés apoiados obre a mesa, ele assobiava para si


mesmo, já pensando sobre o que faria mais tarde. Quanto mais
Mishca tentava falar com ele, mais alto ele assobiava até que o
som era quase ensurdecedor.

— Luka. — Havia um aviso em sua voz, mas Luka não


prestou atenção. — Isso é sério.

Luka assentiu com bom humor. — Isso é sério. Muito sério.


— Luka concordou.

— Quero ter certeza que não acontecerá nenhuma merda


enquanto você estiver fora, asfixiando o dragão.

Apertando a ponte do nariz entre o polegar e o indicador,


Mishca fechou os olhos, lutando por paciência. — Luka.

— Afogando o ganso? — Ele sugeriu em vez disso, quase


rachando outro sorriso.

— Saia.

Finalmente.

Luka estava de pé, mais do que pronto para sair de lá.

— Mais uma coisa.

Virou-se quando Mishca veio ao redor de sua mesa,


43

levantando a manga. Ele arqueou as sobrancelhas


enquanto tentava adivinhar o que Mishca diria em seguida.
Página

Mas não foi nada do que ele disse, mas o que ele fez.
Levantando o punho, ele se conectou com o nariz de Luka,
a dor rápida e absoluta.
Sua cabeça foi para trás, suas mãos indo imediatamente
para o nariz, uma risada surpresa deixando-o. Uma vez que o
choque passou, Luka limpou o nariz com as costas da mão,
espalhando o sangue.

Ainda sorrindo, ele disse. — Você bate como uma cadela.

A gravidade deixou Mishca quando ele voltou a sorrir. —


Nunca quebre meu dedo novamente.

Era disso que se tratava? Ele achava que Mishca esqueceu


esse pequeno incidente.

— Eu preciso que você faça algo mais para mim. Diga a Alex
para ficar na cobertura enquanto estivermos fora. Ela ficará mais
segura lá.

— Não era para eu ficar longe dela? Você sabe, já que ela
não precisa do meu tipo de merda em sua vida.

Mishca estava certo sobre isso, mas ele nem sequer sabia da
missa a metade.

— No entanto, eu confio nela com você mais do que


ninguém. Não me faça lamentar essa decisão.

Deixando seu humor desbotar, ele considerou Mishca


seriamente. — Se você pensou por um segundo que faria então
não estaria me atribuindo a ela.

Luka era uma das poucas pessoas que sabiam a


verdade sobre Alex. A maioria via uma menina mimada que
estava desesperada pela atenção de alguém, mas Luka
sabia o que Alex viveu quando era uma criança, mesmo que
ela não dissesse absolutamente nada a ele.
44
Página

Mikhail estava muito ocupado com a Bratva para ser


um pai adequado e Anya... bem, não tinha nada de
instinto maternal em seu corpo, mas isso não significava
que ela não tivesse expectativas, algumas que eram
quase demais para uma criança viver.

Alex ainda estava tentando se desvencilhar dessa influência,


mas isso eram anos de condicionamento que ela teria de se livrar.

— Vejo você quando voltar. — Disse Luka por cima do ombro


enquanto se dirigia para a porta.

45
Página
CINCO
Dez anos atrás...

Seu coração batia dolorosamente no peito, fios de cabelo


grudavam em seu pescoço suado e na testa, por ficar muito tempo
nas pontas de suas sapatilhas, virando-se para sua mãe com um
sorriso brilhante.

Nas últimas três semanas, ela esteve trabalhando


incansavelmente em sua rotina para sua primeira audição com
uma companhia com sede em Paris. Podia não ser capaz de
pronunciar qualquer um dos nomes das pessoas para as quais se
apresentaria. Levou tempo demais lembrar que o nome de seu
instrutor não era Sr. Grey, mas iria se certificar de que estivesse
perfeita para ele.

— Isso foi horrível. — Esta frase veio de Anya sentada em


uma cadeira de frente ao estúdio de dança, as mãos dobradas no
colo.

Ela não acreditava em vestir jeans — uma ideia que


passou para Alex — era um ultraje à sociedade, ela usava
um vestido que não seria apropriado se não pelo casaco de
pele longo que usava para combater o tempo frio de
46

Manhattan.
Página

Ao contrário das outras mães que vieram para


observar do outro lado do vidro, Anya vestia-se como se
estivesse indo para a Semana de Moda de Nova York, mas
que também poderia ser porque a maioria das meninas
que estavam neste estúdio particular eram levadas por babás ou
motoristas. Anya não acreditava na contratação de empregadas
domésticas ou quaisquer fêmeas para o assunto, embora Alex
nunca entendesse o motivo.

Hoje era a terceira prática individual de Alex na semana e se


fosse honesta, estava exausta, tanto mental quanto fisicamente.
Mas até que atingisse o nível de perfeição de Anya, iria continuar
até que seus pés sangrassem se necessário.

O instrutor de Alex, o Sr. Grey, visivelmente fez uma careta


que foi perdida por Anya enquanto ela estava muito ocupada
franzindo a testa para Alex. Tentando não deixar seu show de
frustração a atingir, Alex voltou à sua posição inicial, à espera que
o pianista recomeçasse.

Pernas preparadas, ela começou tentando ignorar a sensação


dos olhos de Anya sobre ela enquanto se movia, desejando que
pudesse perder-se nos movimentos que fazia quando estava
sozinha nesta sala. No momento em que terminou, o peito arfando
a cada respiração que dava, esperou que Anya falasse, sabendo
que não podia dizer nada negativo. Desta vez, ela não perdeu um
passo. Mas Anya apenas recolheu suas coisas, piscando uma vez
para Alex para transmitir a única mensagem que tinha para dar.

Era a hora de ir.

Desapontada, Alex agradeceu ao Sr. Grey. Ela podia ver a


pena nos olhos dele, mesmo que ele não facilitasse para ela, mas
se afastou antes que ele pudesse dar-lhe algumas palavras
de encorajamento, o que apenas iria constrangê-la ainda
mais. Ela seguiu Anya para o carro devagar, deslizando para
trás e olhando para fora da janela, quando elas se moviam.
47

— Não me envergonhe novamente.


Página

Alex nunca poderia entender como um erro da parte


dela iria envergonhar sua mãe, mas ainda assim, ela
concordou. Iria encontrar uma maneira de ser o melhor que
havia.
Não importava como.

48
Página
SEIS
Livre

Embora sua lembrança daquela noite ainda fosse nebulosa,


Alex encontrou seu caminho de volta para o armazém, desta vez
um pouco mais segura de si mesma. Snow era fácil de se
encontrar, sentado no bar com uma garota entre suas pernas, os
braços ao redor de seus ombros. Nem notou a abordagem de Alex
até que ela estava sobre eles.

— Snow?

Seu olhar se desviou para ela, aquele sorriso enquanto a


olhava de cima abaixo, rudemente empurrando a garota para o
lado enquanto ele estendia a mão para ela. — Não pensei que
estaria de volta tão cedo.

Nem ela, mas mesmo depois de apenas uma hora, ela perdeu
a euforia que as suas pílulas lhe deram. — Você tem um
segundo?

— Para você? Vários.

Ele se levantou, segurando sua mão enquanto a levava


49

pelo corredor de volta para seu quarto.


Página

Alex ignorou os olhares curiosos enviados em sua


direção.

Em seu quarto com a porta fechada, Snow deslizou


seus braços ao redor da sua cintura, puxando-a para
mais perto enquanto ele se inclinava para beijá-la. Franziu a testa
quando ela virou a cabeça, empurrando contra seu peito.

Rindo, ele parou, mas ainda estava sobre ela. — Você era
muito mais divertida da última vez que esteve aqui.

Sim, quando ela estava chapada. — Apenas estou aqui para


comprar, não para ficar na cama com você.

Isso tirou um pouco da arrogância de seus olhos. — Sim? E


o que a faz pensar que eu venderei algo para você?

Ela tirou um maço de dinheiro. — Porque eu tenho o


dinheiro.

Snow arrancou as notas de sua mão, contando-as antes de


embolsar o dinheiro.

Desaparecendo no banheiro onde sua mercadoria estava, ele


voltou alguns minutos antes de reaparecer com um pequeno
saquinho.

Ela tentou agarrá-lo quando ele estendeu, mas logo ele


afastou a mão quando ela se aproximou.

— Sabe, estou disposto a aceitar outra forma de pagamento.


Pode manter o seu dinheiro.

Alex forçou um sorriso tenso, agarrando o saquinho antes


que ele pudesse mover sua mão novamente. — Não, obrigada. Eu
tenho muito dinheiro.

Embora muito fosse um pouco exagerado, uma vez que


estava vivendo de suas economias. Claro, Mishca tinha
dinheiro e a única coisa que tinha a fazer era pedir, mas se
50

ele soubesse para o que era o dinheiro, o cortaria antes que


Página

ela mesma pedisse.

— Ei. — Ele agarrou seu braço antes que ela pudesse


sair do quarto, empurrando-a de volta quase
dolorosamente. — Da próxima vez que vier aqui, não venha com
esta atitude de merda.

Puxando o braço livre, ela não se incomodou em dar uma


resposta, saindo tão rápido quanto chegou.

A beleza de um apartamento de cobertura, especialmente


aquele neste edifício particular, era que não havia vizinhos, então
quando colocava música às duas da manhã ou mais tarde, uma
vez que estava escuro como breu lá fora, não havia ninguém para
ligar e reclamar. Não que alguém pudesse realmente reclamar
desde que o proprietário do edifício vivia nesta cobertura, mas
enquanto ele e sua esposa estivessem fora do país, Alex fazia bom
uso dela.

Quando Luka ligou e transmitiu-lhe o pedido de Mishca, ela


recusou, preferindo a santidade do seu próprio espaço. Mas
depois de uma noite bebendo sozinha e correndo atrás seu
próprio abastecimento, achou que não faria mal invadir seu
suprimento. Deixando o armazém de Snow, ela tinha dez
comprimidos, aparentemente a vinte e cinco dólares cada,
mas agora tinha apenas sete e ainda não eram quatro
horas. A este ritmo, ela estaria definitivamente de volta
como ele disse. Precisava dosar melhor.
51
Página

A música gritava pelos alto-falantes, uma voz


cantando lírico sobre promessas quebradas e sonhos
desesperados, para Alex esta era sua maneira de sentir
tudo. Não apenas porque a música era intoxicante para
ela, mas por causa das pílulas mágicas de Snow que
estavam trabalhando através de seu sistema. Ela tentou muitas
coisas em sua vida, mas não eram nada como isto. Extremamente
alta como estava, era algo que não podia descrever
adequadamente, não importava quão duro forçasse seu cérebro
para conseguir uma descrição.

Mas foi há mais de quatro horas atrás, quando ela tomou e


agora queria manter este sentimento pelo maior tempo possível e
a única coisa que tinha uma chance ao lado dessas pílulas era o
álcool e muito.

Jogando para baixo o último gole de vodca, Alex deixou a


garrafa na pia, procurando pelo armário de bebidas de Mishca
por algo melhor, sabendo que ele mantinha um estoque
impressionante. Mas isso não era o que ela queria, não
realmente. Depois de sua última visita a Snow, queria evitar e a
verdade do que ele disse. Arrogantemente ela se afastou dele
porque, no passado, foi capaz de ignorar os desejos e usar apenas
quando os sentia.

E, apesar da combinação de álcool e os comprimidos, ainda


não estava tão chapada quanto queria. Alex tocou as chaves do
Mercedes, segurando o chaveiro USB nas mãos. Se houvesse um
único objeto material que seu irmão amava, era o carro dele. Ele
tinha um cuidado imaculado com ele, certificando-se de que fosse
feita a revisão, pelo menos, duas vezes por mês e se ele soubesse
que ela estava mesmo pensando em dirigi-lo, esconderia a chave.

Mas... ele estava fora do país e o que ele não sabia, não iria
machucá-lo.

Tão rápido quanto o elevador a levou, ela desceu para a


garagem, ocasionalmente, pressionando a tecla de
desbloqueio até que avistou as luzes individuais piscando
52

na escuridão. Entrando, colocou a chave na ignição,


Página

sorrindo quando o carro ronronou a vida.

Voltando quando tinha quatorze anos, Mishca a


ensinou dirigir durante uma de suas viagens aos Estados
Unidos, mas com sua idade, ela ainda não tinha
licença, o que apenas deixava a emoção muito mais doce. Ela
facilmente dirigiu o carro pela rua, tecendo através do tráfego
enquanto ia até a ponte. Não sabia para onde estava indo, apenas
que queria sair da cidade e ir tão longe como o carro permitisse
que ela fosse... ou pelo menos até que precisasse parar para
abastecer.

Abaixando o vidro das janelas, ela riu quando o ar frio


atingiu seu rosto, chicoteando o cabelo para trás. Ela, pelo
menos, manteve ambas as mãos no volante, piscando
constantemente para limpar sua visão enquanto evitava a colisão
com um carro estacionado. Mas, felizmente, quanto mais para
fora da cidade dirigia, menos carros povoavam a rua e quando ela
deu uma guinada ao lado da Interestadual em uma das saídas,
quase não havia um carro à vista.

Com a mão sobre a alavanca de câmbio, o vento chicoteando


os cabelos para trás, Alex riu, o som abafado pelo barulho do
motor. Mesmo quando o ponteiro começou a subir no velocímetro,
pressionou mais seu pé, sentindo a mudança da velocidade.

Quando acelerou tirou os olhos da estrada por uma fração


de segundo, o toque de seu celular roubou sua atenção, mas
naqueles poucos segundos preciosos, ela não percebeu que
começou a avançar na faixa da esquerda e sua atenção apenas
retornou para a estrada quando ouviu o estrondo de uma buzina.

Ofegante, ela puxou o volante, quase batendo no caminhão


que estava agora correndo pela rua.

Ainda em excesso de velocidade, ela olhou pelo espelho


retrovisor, bombeando sangue através dela tão rápido que
mal podia respirar. Rindo, ela acelerou porque conseguiu
finalmente o que procurava. A adrenalina era tão inebriante
53

como qualquer coisa que tomava. Mas quando seus olhos


Página

caíram de volta para a rua e um animal que ela mal pode


ver disparou para frente de seu carro, ela puxou o volante,
batendo o pé no freio. O carro rodou e virou enquanto tentava
endireitar, a cerca parecendo cada vez mais perto...

54
Página
SETE
Emoções frágeis

— Você nunca me levou para um encontro. — Natasha


comentou pensativa, passando uma escova nas longas mechas de
seu cabelo molhado. Ela acabou de sair do banho quando Luka
chegou e parecia envergonhada de sua aparência. Normalmente
ela parecia impecável e eles sempre mantinham um rigoroso
calendário, mas ela nunca se queixou.

Luka já tinha tirado suas botas, caindo para trás com um


gemido, esfregando os olhos cansados. Foi um longo dia
certificando-se de que toda merda corresse bem enquanto o chefe
estava fora da cidade e ao fazê-lo, Luka se lembrou exatamente
por que nunca subir mais alto na Bratva. Enquanto ele não era
nada mais do que o músculo glorificado, preferia assim. Preferia
apunhalar alguém na mão e exigir o pagamento do que ser
forçado a pedir educadamente.

Com a declaração suave de Natasha, ele piscou,


olhando para ela embora ela não pudesse ver. Houve
momentos em que ela insinuou querer algo mais dele além
de seu acordo. Pequenas coisas, pedindo-lhe para ficar por
apenas uma hora a mais, perguntando sobre sua vida fora
55

de suas funções. Houve uma vez que ele cuidou de alguém


Página

muito parecida com Natasha, mas no final, esses


sentimentos apenas causaram mais dor a todos os
envolvidos.
Ele não iria, não podia cometer esse erro novamente, não
apenas com Natasha, mas com Alex também. Ele já estava
propenso a impulsos irracionais, quando se tratava de Alex, de
modo que era melhor se ele não incentivasse qualquer coisa com
ela, não com suas necessidades. E se fosse honesto, a garota de
tanto tempo atrás, não inspirava metade do que Alex fazia.

— Por que eu faria isso?

Ela franziu a testa, parando de escovar o cabelo por um


segundo. — Porque você gosta de mim e isso é o que as pessoas
normais fazem. — Natasha virou-se no banco delicado, a barra de
sua camisola subindo, revelando a pele cremosa que, por causa
da conversa que eles estavam tendo, não fazia nada para seduzi-
lo.

— Você não tem vergonha de mim, não é?

Uma sugestão de vulnerabilidade estava presente em seus


olhos quando ela perguntou isso. Ele nunca deu muita atenção à
forma como se sentia sobre sua ocupação, tendo seus próprios
pensamentos sobre o assunto. Ninguém a obrigava a estar ali. Se
ela não tinha problema com isso, então não seria ele que teria,
mas estava se tornando claro que ela estava começando a se
importar com o que ele pensava dela e com isso, ficou claro que
ela queria mais.

Mas esta questão também levantava pensamentos sobre sua


mãe e o que ela fez para sustenta-los durante os anos em que
viveu. Se ele não teve vergonha dela, então não poderia ter
de Natasha. Mas isso não significava que estava procurando
por algo mais do que o que estavam fazendo agora.
Precisava deixar isto claro.
56

— Não, mas não vejo o que uma coisa tem a ver com a
outra.
Página

— Então por que não me leva?

Passando uma mão pelo rosto, ele pensou em leva-


la uma noite. — Nunca levei uma mulher para um
encontro e não me vejo fazendo isso agora. Não vejo nenhuma
razão desde que eu apenas estou transando com quem quer que
seja.

O último comentário foi feito para impedi-la de seguir a linha


de questionamento mais do que era a verdade. Não, ele nunca
saiu com uma mulher, mas apenas porque sua vida nunca lhe
forneceu uma oportunidade.

Sua observação teve o efeito desejado, enquanto ela ficava


em silêncio e voltava-se para o espelho. O quarto ficou em silêncio
por um longo tempo até que seu telefone começou a tocar. Luka
suspirou, já contemplando atirar a merda e se passaram apenas
dois dias... até que ele leu o nome.

Ele não falou com Alex desde o dia anterior em que o chefe
saiu com Lauren, em parte porque ela o estava evitando e em
parte porque estava chateado com ela. Para outros, ele dizia
meias-verdades ou apenas evitava o que não podia falar, mas
nunca diminuiu a energia. Com Alex, ele sempre foi honesto,
mesmo quando poderia protegê-la de algo que acabaria a
magoando. Mas descobrir a verdade pura e simples era muito
mais fácil do que ser servido de uma mentira. Ao contrário de
Mishca, ele não achava que Alex fosse fraca ou precisava ser
mimada como uma criança.

Mesmo quando ela agia como uma.

Tocando o dedo na tela para atender a chamada ele colocou


o telefone no ouvido. — E aí.

— Luka?

Ele sentou-se ao som de sua voz. Com apenas uma


57

palavra, ele poderia dizer que ela bebeu, estava


provavelmente em uma festa, embora fosse proibida sua
Página

entrada nos clubes de Mishca. Mas mesmo se fosse esse o


caso, ainda não explicava por que ela parecia tão
assustada ou o fato de que sua mão estava ansiosa por
uma faca de modo que quem quer que tivesse feito isso
com ela saberia que mexeu com a garota errada.

— Onde você está?

— Na Highway 29. Eu... eu fiz merda e não sei quem mais


chamar, mas...

— Como aconteceu? — Ele já estava calçando as botas.

— Eu não sei.

Segurando o telefone entre o ombro e a orelha, Luka puxou


os laços apertados, amarrando.

— Com quem porra você está?

— Ninguém. E-eu peguei o Mercedes de Mish ...

Ele fez uma pausa. — Que porra.

— Luka, eu...

— Fique aí. Não faça merda. Não diga merda. Estarei aí em


breve.

Ele não esperou por uma resposta guardando o telefone


enquanto se levantava, procurando pelo quarto com os olhos para
se certificar de que não estava deixando nada para trás.

— Aonde você vai?

Luka estava tão agitado que, embora provavelmente


não tivesse dito a ela antes, ele falou.

— Alex fez merda. Eu tenho que consertar.


58

— Sabe... que vai correndo quando ela chama?


Página

Se ele estivesse realmente prestando atenção, poderia


ter ouvido a nota com ciúmes de seu tom de voz, mas,
naquele momento, estava muito ocupado concentrando-
se.
— Eu tenho que ir.

— Posso ir com você?

Ele parou na porta, olhando para ela. Às vezes, Alex não era
a única com quem ele era brutalmente honesto. — De jeito
nenhum. Alex a odeia. E não é o seu lugar. — Sem mencionar
que, enquanto ele preferia ignorá-la, era por causa dele que ela o
fazia.

— Mas você pode precisar de alguém para interferir no caso


da polícia já estar lá. — Ela, obviamente, fez uma suposição
correta do pouco que Luka disse. — Você não sabe o que estará lá
fora no momento em que sair. Eu poderia ser útil.

Havia apenas uma pequena possibilidade que ela estivesse


certa e ele realmente não funcionava bem com a aplicação da lei,
mas fosse apenas Alex, Natasha apenas iria piorar a situação.

Ele não sabia por que, mas encontrou-se hesitando.

— OK.

59
Página
OITO
Como um coração partido

Apesar da fumaça e os graves danos à dianteira do carro,


Alex estava bem sabendo que uma vez que Mishca voltasse e
visse o resultado de sua decisão de impulso, ficaria irado e
poderia muito bem acabar com ela. Ele realmente amava seu
carro.

Felizmente, a esta hora da noite, a estrada estava bastante


vazia. Ela estava sentada em uma das muretas, não a que ela se
chocou contra, olhando para cima para o carro, um cigarro
apagado na mão enquanto esperava. Ela se sentiu mal, vendo o
que fez, mas suas mãos não estavam tremendo por causa do
medo, mas a adrenalina ainda correndo através dela.

Lembrou-se do poder que sentiu enquanto corria pelo longo


trecho de estrada, facilmente empurrando o carro a cento e vinte.
Era como se quanto mais rápido corresse, mais queria conquistar
velocidades elevadas, para ver o quão rápido e até onde
poderia ir, correndo longe dos problemas que não estava
pronta para enfrentar. Levou apenas um piscar de olhos,
um segundo rápido quando seus olhos não estavam na
estrada, para iniciar o efeito dominó. Ela desviou
60

rapidamente, um milagre que o carro não capotou, antes


Página

que chocasse contra a grade, os airbags abrindo


instantaneamente.
Se alguma coisa a machucou, foram eles. O pó era sufocante
e levou toda a força que possuía para sair do carro desde que ela
mal conseguia se mover. Alex não sabia quanto tempo passou
enquanto se sentava lá fora sozinha, ainda sentindo os efeitos de
tudo o que tomou, embora não tão forte.

Faróis duplos e um motor forte a fez virar a cabeça, alívio


enchendo-a quando viu o Wrangler agora familiar se aproximando
rapidamente. Ela pulou da mureta, circulando o carro quando ele
chegou a um ponto insuportável, desligando o motor. Ele estava
ao seu lado em segundos.

— Luka...

Ele estendeu a mão para ela tão rápido que ela sentiu medo
que ele estivesse prestes a atingi-la, mas ele segurou seu rosto,
forçando-a a encontrar seu olhar zangado. Ele olhou para seu
corpo, como se preferisse confirmar visualmente que estava tudo
bem, em vez de confiar em sua palavra.

Ela nunca o viu tão furioso, nem nunca pensou ver o medo
em seus olhos. Não quando ele estava saindo para fazer o seu
trabalho ou mesmo quando voltava coberto de sangue, mas ele
estava mostrando a ela agora?

Quando ele tentou afastar as mãos de seu rosto, ela inclinou


a cabeça para que ele tivesse um melhor olhar dela e quando
seus olhos se estreitaram, ela soube que ele sabia.

— Você bebeu?

A pergunta foi tão baixa que ela não pode confundir


sua ira com qualquer outra coisa. Enquanto engolia em
seco, tentando pensar em uma boa desculpa, ele deixou cair
61

sua mão.
Página

— Que porra você estava pensando? — Ele disse


gesticulando de volta para o carro.

— Eu não acho...
— Não me diga que não estava pensando! — Ele retrucou,
levantando a voz. — Estou acostumado a esta merda, mas você
poderia ter matado alguém. Porra, poderia ter matado a si
mesma!

Alex se encolheu sob o ataque da sua ira, mas não era nada
que ela não merecesse. Ele estava certo e ela nunca deveria ter
entrado no carro, mas não pensou que estava longe demais para
chegar ao volante.

— Estou acostumado a ter que limpar toda a merda que você


faz, mas esta é a última vez que faz isso, entendeu?

Não era porque ele estava gritando com ela que lágrimas se
formaram em seus olhos. Foi porque ela sentiu-se tola e mais do
que tudo, sentia-se como a criança que ele estava sempre a
acusando de ser. Luka era muito vocal em sua ira e
demonstrativo, apontando descontroladamente ao redor deles,
mas seus movimentos chamaram a atenção de Alex para o seu
Jeep quando uma porta se fechou.

Com ele gritando, ela não conseguia ver por cima do ombro
para ver quem estava se aproximando, mas quando finalmente
chegou ao lado de Luka, Alex não esperava vê-la. Não era segredo
para ninguém que ela não se importava com Natasha e o motivo.
Ela não gostava de admitir, mas Alex estava com ciúmes da
garota.

Ela era tudo o que Alex não era. Natasha tinha o cabelo
longo, ondulado dois tons mais escuros de castanho, os
olhos da mesma cor rica e enquanto Alex era pequena e mal
tinha curvas, Natasha era praticamente a definição de
curvilínea. E mais importante, ela tinha a atenção da
pessoa que Alex queria.
62

As regras que regiam Alex e Luka não afetavam


Página

Natasha. Claro, ela estava tecnicamente trabalhando para


a Bratva, mas se Luka quisesse estar com ela, ninguém
iria impedi-lo. Houve um tempo quando Alex pensou que
Luka não se preocupava com essas regras desde que
ele descaradamente flertou com ela em várias ocasiões, mas
desde Anya, ele parou completamente.

Alex deu um passo para trás, seu olhar deslocando-se entre


os dois. Ela não pensava ao ligar para Luka, quando ela estava
em apuros. Mesmo se Mishca estivesse na cidade, ela
provavelmente teria chamado Luka primeiro, mas se soubesse
que ele estava com Natasha... não poderia ter ligado.

Natasha deslizou a mão pelo ombro de Luka, como se


estivesse tentando acalmá-lo. — Nós precisamos lidar com isso
antes que alguém passe por aqui. Tenho certeza de que Alex não
queria que isso acontecesse.

Suas bochechas ficaram ruborizadas e Alex apertou os


dentes. Não ajudava que Natasha estivesse falando sobre ela
como se não estivesse lá, isto apenas piorou que tivesse ouvido
Luka gritando com ela.

Bastava vê-los tão confortáveis juntos, que sentia como uma


facada no coração. Lembrava-se de cada vez que ela pediu por
qualquer pequeno pedaço dele, apenas para ser negado, porque
— ela não podia lidar com ele. Sabia que ele a tratava de forma
diferente do que os outros, mesmo quando brincava com ela
quando não havia mais ninguém ao redor, mas estava se
tornando evidente que algo se desligou.

Afastando o olhar deles, ela olhou para trás para o carro que
ainda estava fumegando, mas estava lentamente diminuindo.

— Desculpe. Deveria ter ligado para outra pessoa. Não


sabia que você estava ocupado.

Não foi Luka que reagiu, entretanto, mas Natasha.


63

— Não foi nenhum problema.


Página

Havia uma pontada de diversão, algo que Luka


pareceu pegar.
— Não me lembro de chamá-la, Natasha. Não tenho o
número do quarto dourado. Eu queria perguntar, você conseguiu
um número privado ou apenas liga e pede o que você quer? Talvez
haja um menu?

— Alex, isso é o suficiente. — Disse Luka.

— É? — Perguntou ela procurando em seu bolso para um


maço de cigarros e isqueiro. Puxando um, ela o prendeu entre os
lábios, acendendo-o, apenas para tê-lo arrancado de seus lábios e
jogado no chão, Luka apagando-o com a ponta da bota.

— Oh, você me irrita, porra. A menos que seja meu irmão ou


esteja comigo, o que não se aplica a você, não pode fazer isso —
Agora, ela era a única que estava louca, porra.

— Não esta noite, Alex. — Ele disse em francês, ganhando


uma careta de Natasha, como se não soubesse que ele poderia
falar a língua.

Talvez se ele não tivesse imediatamente começado a gritar,


ela poderia ter se sentido diferente, mas agora não estava com
disposição para uma conversa particular. — O que prefere, então?
— Ela perguntou ainda em inglês. — Amanhã à noite? Não queria
interromper seu compromisso. — Seus olhos se desviaram para
Natasha.

— Eu sei que pode ser difícil de encontrar. Embora eu


admita, não sabia que você reservava as noites de quarta-feira
também. Sua boceta deve ser revestida em ouro.

Natasha não pareceu ofendida com a declaração, mas


seus olhos se estreitaram.

Quando Luka abriu a boca, provavelmente para


64

castigá-la novamente, ela acenou dispensando suas


Página

palavras. — Tanto faz. Tenho certeza que quer que eu


espere no carro onde não serei capaz de estragar sua noite
ainda mais. Desculpe-me eu entendi e seguirei em frente.
Sem esperar por uma resposta, Alex foi para o seu Jeep,
acendendo outro cigarro ao longo do caminho. A nicotina
queimando em seus pulmões a manteve calma quando subiu no
banco traseiro, mas isso não ajudou quando notou que Natasha
também entrou no carro.

Ele fez algumas ligações, falando em russo rapidamente


enquanto explicava o que precisava. Primeiro alguns dos homens
de Mishca apareceram e não perceberam a presença de Alex, em
seguida, chegou um guincho que levou a Mercedes. Levou apenas
cerca de uma hora e meia, mas a esta altura, Alex estava cheia de
cigarros e começando a se quebrar. Enquanto seu corpo se sentia
exausto, mentalmente, ela estava bem acordada.

Quando Luka acabou e era hora de ir, ele parecia


consideravelmente mais irritado do que quando chegou, um
musculo pulsando forte em sua mandíbula.

— Alex, banco da frente.

Natasha olhou para ele confusa e talvez um pouco magoada,


Alex apenas olhou desinteressada.

— Estou bem aqui atrás, obrigada. — Disse ela com uma


risada, jogando seu cigarro pela janela.

Aparentemente, Luka não estava com vontade de ser


contrariado.

Circulando o carro, ele quase arrancou a porta de suas


dobradiças quando a abriu, a mão batendo em suas coxas
nuas quando a arrastou através do assento, não se
importando que estivesse expondo mais do que apenas as
pernas ao ar frio. Por apenas um momento, seus olhos
65

pousaram no ápice de suas coxas, mas ela puxou a frente


de seu vestido para baixo antes que ele pudesse ver algo.
Página

Enganchando um braço em volta da cintura, ele facilmente


a tirou, mesmo quando ela lutou contra ele, levando-a até
que ele chegou à porta do passageiro aberta e empurrou-
a para dentro.
Um olhar dele disse a ela que, se ela se movesse um
centímetro, iria se arrepender.

Uma vez que Natasha subiu na parte de trás, embora com


relutância, Luka saiu de lá. O sol estava apenas nascendo ao
longo do horizonte, tons suaves de pêssego e laranja juntando-se
no momento em que conseguiram voltar para a cidade. Natasha
foi deixada primeiro e Alex disse a si mesma para não prestar
atenção, que não havia nenhum ponto, mas não podia deixar de
olhar e imediatamente desejou que não tivesse feito.

Natasha estava abraçando-o, sussurrando palavras que


apenas ele poderia ouvir e no último segundo, seu olhar se
conectou com o de Alex enquanto Luka devolvia o abraço. Ela
poderia ter jogado de inocente, agido como se não tivesse
percebido o efeito que a visão tinha sobre Alex, mas em vez disso,
ela sorriu.

Ela queria que Alex soubesse que ela ganhou uma luta que
não percebeu que a outra mulher estava jogando. E para firmar
seu ponto, ela beijou a bochecha de Luka quando ele se afastou.

Afastando-se, Alex olhou em outra direção, sentindo-se mais


tola do que se sentiu toda a noite. Amor não correspondido, Alex
pensou quando Luka subiu de volta, sentindo seu coração
partido mais uma vez rachar.

Seguiram o caminho em silêncio. Ele ainda estava bravo, ela


pode perceber pela maneira como ele ritmicamente apertava o
volante. No momento em que e chegaram ao apartamento,
Alex estava drenada e mais do que pronta para encerrar a
noite. Parando o carro em uma vaga de estacionamento,
Luka desligou o motor, puxando o cinto de segurança, mas
não fez nenhum movimento para sair. Ela aguardou,
66

esperando que ele dissesse alguma coisa, mas quando ele


Página

não o fez, estendeu a mão para a maçaneta da porta,


voltando-se para encará-lo para dizer obrigada. Ela pode
não ter gostado, mas ainda estava grata por ele estar lá.
— Luka...

— O que você fez foi estúpido e se...

— Se estiver prestes a me dar um sermão. — Disse ela


interrompendo-o — Deixe-o de lado. Não preciso dessa merda de
você.

— Você, obviamente, precisa de alguma porra, porque é


óbvio que não entra nessa sua linda cabecinha. Não percebe que
poderia ter morrido lá fora?

— Eu sei Luka. — Ela retrucou. — Entendi. Fodi tudo.


Admito. Isso não acontecerá novamente e da próxima vez que
estiver em apuros, vou me certificar de chamar outra pessoa.

Exasperado, ele bateu com o punho no console central. —


Não é disso que se trata. Você não percebeu? Eu quero que me
chame sempre que quiser, mas não quando a merda já atingiu o
ventilador. Você está tendo um dia de merda, me ligue e vamos
trabalhar com essa merda antes de sentir a necessidade de beber
e fazer algo imprudente como destruir o carro do seu irmão. Você
percebe que ele ficará irritado quando voltar...

— Não se preocupe. Direi a ele que foi minha culpa que você
não...

Ele girou o corpo para que pudesse vê-la melhor e para que
ela pudesse ver a seriedade em sua expressão. — Você realmente
acha que eu dou a mínima para isso?

— Essa é a única conclusão que estou alcançando. —


Mas sabia que não era completamente verdade.

— Acha que eu não me importo com você? — Ele


67

perguntou, sua voz era suave de uma forma que a fez


Página

realmente olhar para ele. — Como porra é óbvio para todo


mundo, mas ainda acha que eu não dou a mínima para o
que acontece com você.
Ela nunca o ouviu dizer essas palavras em voz alta, pois se
tivesse ouvido ele falar deles em qualquer outro momento, ela
poderia ter tido uma vertigem, mas não sentia nada disso naquele
momento.

— Caso se importasse comigo, então não a traria junto. Quer


dizer, eu entendo. Está transando com ela. Bom para você. Mas
não finja que não sabe como me sinto sobre você e mesmo se não
se sente da mesma forma, pode pelo menos me dizer, assim não
irei... — Ela parou quando furiosamente limpou as bochechas,
odiando o fato de que mesmo ela estando louca, chorava.

— Então você não vai o que, Alex? — Ele perguntou,


afastando as mãos de seu rosto.

Deus, ela não o entendia. Por que ele precisava ver sua dor?
Por que não podia simplesmente dizer o que ela queria que
dissesse para que pudesse se afastar dele e acabar com tudo
isso?

— Eu vou superar Luka.

Seu aperto em suas mãos ficou mais forte. — Não diga isso.

— Por que não? — Ela de repente gritou de volta para ele. —


Porque não pode apenas dizer, Luka. Basta dizer, eu não quero
você, Alex. Talvez então eu possa passar por esses sentimentos
estúpidos.

— Porque nunca mentirei para você. Mesmo que queira.

Mais confusa agora do que estava antes, Alex balançou


a cabeça, se livrando dele quando saiu de seu jipe e se
dirigiu para o edifício sem olhar para trás. Ele não a seguiu.
68
Página
NOVE
Escondendo-se

Ela se sentia como uma merda porque quase se matou e


conseguiu quase dar perda total no carro de Mishca. Algo que ele
não ficaria feliz, uma vez que contasse a ele quando ele e Lauren
voltassem de Sardenha. Desde aquela noite, ela inflexivelmente
evitou Luka, ignorando até mesmo seus telefonemas. Ela apenas
lhe enviava um texto de vez em quando para que ele soubesse que
estava bem e não fosse procurá-la, mas sabia que isso apenas iria
mantê-lo afastado por algum tempo.

Não fazendo qualquer outra coisa e não querendo adiar o


inevitável, Alex vestiu-se, dirigindo-se ao clube onde Mishca
estaria. Enquanto queria fazer um esforço com sua aparência,
simplesmente não se sentia bem para isso e apenas colocou o
cabelo para cima em um coque bagunçado e usando uma blusa
com uma calça legging.

A viagem para o clube foi calma e parecia nunca


terminar, um pulsar afiado começando atrás de seu olho
direito com cada buzina dos taxistas idiotas. A náusea
estava retornando e neste momento, não achava que
poderia ficar longe de Snow, não com o que ele estava
69

oferecendo. Ela já consumiu as últimas cinco que ele deu a


Página

ela e embora tivesse certeza de que estava bem sem elas...


estava começando a duvidar disso.

Entrando, ela entrou acenando para um dos novos


guarda-costas enquanto passava por ele no clube.
Enquanto entrava, não perdeu o jipe que estava estacionado a
alguns quarteirões de distância, que estava sujo de lama e sentiu-
se pior sabendo que Luka estava ali. Desde a noite em que ele
deixou o apartamento, ela fez tudo para evitá-lo, recusando
também suas ligações. Não era como se ele estivesse se
hospedando no apartamento dela de qualquer maneira, por isso
não era difícil se afastar dele.

Escondendo-se. Isso era o que ela estava fazendo e uma


parte de si mesma sabia que era bobagem fazê-lo. Ela não devia
nada a ele, nem tinha que explicar suas ações, mas não podia
ignorar o fato de que, a maneira como ele a olhava a fazia se
sentir envergonhada.

Mas não o suficiente para parar o que estava fazendo.


Mesmo agora, ansiava por dirigir por toda a cidade para o único
lugar que realmente não precisa ir, para ver a pessoa que era a
pior coisa para ela. Mas ele poderia realmente ser considerado o
pior quando, pelo menos por algumas horas, sentia-se melhor?
Nessas horas, ela não pensava sobre a vida na qual nasceu ou
nas coisas que tinha que provar ou mesmo as coisas que tinha
que fazer para ficar em sua companhia. Não era como se o
dinheiro fosse um problema. Poderia facilmente ter-lhe pago
qualquer quantia que ele pedisse, então teria alguns, mas ele não
queria isso, não dela.

Talvez ele pensasse que a estava corrompendo, mas era


difícil corromper algo que já estava em decomposição. Alex foi
facilmente para a parte traseira do clube onde os escritórios
estavam e se preparou para abrir a porta de Mishca, mas as
vozes abafadas do outro lado lhe fizeram parar.
70
Página
Com o chefe e Lauren de volta de sua lua de mel, Luka foi
chamado para uma rápida reunião para que pudesse discutir
negócios e tudo o que aconteceu. Normalmente, ele teria feito um
ponto de perguntar o que fizeram, irritar Mishca para caralho
como sempre fazia, mas depois que os pegou no aeroporto,
deixando Lauren em casa, ele simplesmente não estava com
vontade disso. Não quando estava preocupado com Alex. Os
primeiros dias depois de tê-la confrontado, ela ficou calada, não
seria a primeira vez que ela se chateava com ele e não ligou por
alguns dias, mas quase uma semana e meia se passou e ainda
nenhuma palavra dela.

Mesmo quando seu telefone não estava tocando, ele se


encontrava olhando-o, desejando que emitisse um sinal sonoro ou
qualquer coisa para que pudesse saber que ela estava bem. Ir a
seu apartamento não ajudou muito, não quando ela não estava lá
ou pelo menos não estava lá quando ele foi. Isto não teria sido um
problema se ele tivesse alguma ideia de onde encontrá-la.

Quando Mishca falou sobre as transações comerciais que


precisavam ser concluídas, Luka estava olhando para o telefone,
lendo a última mensagem que Alex lhe enviou antes que verdades
dolorosas os separassem.

Ei Tigre, quer comer algum frosted flakes2?

Isso era a sua versão de um bom dia e como ela não


poderia saber que ele não comia cereal, nunca deixou de
71

sorrir. Esta mensagem foi enviada semanas atrás, antes


Página

que Mishca praticamente lhe dissesse para ficar longe dela,


antes que ela visse o chupão no seu pescoço e a dor
resultante no seu rosto. Ele nunca deu muita atenção

2 Marca de cereal.
para o quanto esperava por essas mensagens, pelo menos não até
que elas cessaram.

Ele perdeu-as e a maneira como ela sorria para ele, como se


ele fosse à única pessoa no mundo que pudesse fazê-la sorrir.
Uma parte dele desejava cair nessa tentação, dando-lhe
exatamente o que ela queria. Não era foi causa do que Mishca
disse, mas sim por causa de quem ele era e os danos que poderia
causar se ela soubesse o motivo real pelo qual ele foi parar em
Nova Iorque.

— Luka!

Ele piscou, concentrando-se no russo agora irritado na sua


frente. Guardando seu telefone no bolso, ele cruzou as mãos no
colo e finalmente, focou no que Mishca estava dizendo.

— Você estava ouvindo?

— Não.

Havia algo particularmente perturbador sobre a maneira em


que Mishca estava olhando para ele, mas Luka não deu nenhuma
atenção.

— A Sala Dourada, acabe com isso.

Agora, Luka estava piscando em surpresa.

— Fazer o que?

— Acho que não preciso repetir. Terei o gerente do


banco configurando contas para cada uma delas.
Mantenha-me atualizado.
72

Luka ficou de pé, esticando os braços acima da


cabeça.
Página

— Sim.

Ele estava indo para a porta, um pouco mais que


pronto para sair de lá. Se Alex quisesse continuar se
escondendo dele não iria mais importar. Mesmo que ela não
quisesse estar com ele, ele iria encontrá-la, mas Mishca o parou
na porta.

— Onde está meu carro?

Era a única pergunta que Luka tinha esperança de evitar


porque a Mercedes no momento estava fora. Ele a levou a uma
oficina de reparos, não percebendo que o dano feito na frente era
muito extenso para fixar o preço sem ser exuberante. Se ele
dissesse a Mishca sobre a razão por que seu carro estava do jeito
que estava, teria que explicar o que Alex estava fazendo, embora
ainda não soubesse exatamente o que estava acontecendo com
ela, mas não queria fazer isso ainda, não quando pensava que
poderia chegar até ela pela primeira vez.

— Eu o bati.

Mishca piscou incrédulo e Luka quase pode ver o momento


exato em que Mishca pensou em matá-lo. Ele colocou as mãos
espalmadas contra sua mesa, inclinando seu peso contra elas
quando disse. — Diga novamente.

Houve uma batida na porta antes que ela fosse aberta, mas
Luka estava olhando para Mishca e não viu quem estava
chegando.

— Isso novamente.

Seus olhos se estreitaram em fendas minúsculas. — Não


brinque comigo, Luka.

Esta foi a primeira vez em muito tempo que ele deixou


alguém falar com ele assim por causa de outra pessoa e
mesmo antes, ele respondeu violentamente, mas estava
73

agora mesmo pensando sobre o que faria para tomar o


Página

controle.
Um tipo diferente de irritação encheu-o enquanto tentava
não reagir. Ele desejava, desejou muitas vezes que não fosse
ninguém, exceto Alex a afetá-lo.

— Mas ambos gostamos, então tudo bem, tudo bem. —


Disse colocando as mãos para cima. — Já era tarde e estava
escuro para caralho. Virei à direita na estrada e bati em uma
árvore que saiu do nada, mas se isso te faz sentir melhor, eu lhe
comparei uma boneca de hula para o seu carro novo.

— Saia!

Luka estava sorrindo quando virou as costas para Mishca,


indo para a porta, o seu passo vacilou quando avistou Alex na
porta. Ele não precisava imaginar se ela ouviu, estava escrito por
todo o rosto.

Seu olhar evitou o seu no momento em que fez contato com


os olhos, forçando um sorriso enquanto cumprimentava seu
irmão, ignorando-o completamente. Ele não queria chamar sua
atenção aqui, mas se ela pensava que poderia evitá-lo por mais
tempo, estava muito enganada.

Andando a pé até seu carro, inclinou-se contra o lado dele e


esperou, sabendo que em algum momento, ela teria que sair. Não
sabia quanto tempo ficou lá, atraindo os olhares de curiosos, mas
não lhes deu nenhuma atenção. Depois de pelo menos uma hora,
ela finalmente saiu, seu olhar imediatamente parou sobre ele, seu
olhar de surpresa demonstrando que não esperava que ele a
estivesse esperando.

Ela se virou, indo na direção oposta, longe de onde


precisava ir, apenas para evitá-lo. Afastando-se de seu
carro, ele correu atrás dela, facilmente recuperando o atraso
74

em segundos. Felizmente, ela não tentou fugir dele, apenas


resignou-se a ouvir o que tinha a dizer. Alex não parecia
Página

melhor do que estava última vez que a viu. Na verdade, ele


pensou que ela parecia mais cansada do que o habitual.
Ela não esperou para ver o que ele queria, em vez disse.

— Você não tem que fazer isso por mim. Eu ia dizer a ele o
que aconteceu.

Ele encolheu os ombros.

— Agora você não precisa.

— O que posso fazer por você, Luka?

Ele observou seu rosto, veias vermelhas cruzavam seus


olhos, olheiras pesadas abaixo deles.

— É Anya? — Perguntou. Ele realmente queria saber o que a


deixava tão angustiada. Ele não era arrogante o suficiente para
acreditar que era por causa dele que ela estava fazendo isso a si
mesma, mas achava que não a estava ajudando a se sentir
melhor.

Quando estavam juntos e ela pediu para lhe dizer que ele
não a queria, ele disse a verdade. Ele a queria, mais do que
gostava de admitir para si mesmo, mas chegaria um momento em
que a verdade de quem ele era realmente viria à luz e ele não
queria ser o único a machucar seu coração quando ela
descobrisse a verdade.

— Estou bem.

— Você pode mentir para todo mundo. — Disse ele com uma
inclinação de cabeça na direção do clube. — Mas não minta
para mim.

— Luka, eu não lhe devo nada.


75

— Se isto é sobre Natasha...


Página

Ela olhou para longe dele, mas não antes que visse o
brilho de emoção nos olhos dela.

— Quem você fode não é assunto meu, certo?


— Alex...

— Vamos continuar fazendo isso cada vez que vemos um ao


outro? — Ela perguntou de repente. — Não há nada realmente
para falarmos.

Ele estava ficando frustrado, não apenas porque ela estava


fechando-se, mas porque ele não conseguia encontrar as palavras
para dizer o que realmente queria.

— Pare de se punir, se perdoe.

Ela riu. — É disso que você acha que se trata Luka? Não
estou me punindo porque não quero falar sobre meus
sentimentos. Talvez eu goste de beber. Talvez seja o único
momento na minha vida que fico realmente feliz, onde não estou
fingindo, por causa de todos os outros. Agora, nós dois sabemos
como esta conversa vai acabar porque ficamos correndo em
círculos durante semanas. Vamos apenas acabar com isso agora
e nos livrarmos da dor de cabeça.

Desta vez, quando ela se afastou dele, a deixou ir. Se ela


admitisse ou não, parecia que ele apenas fazia as coisas para ela
e se ele tivesse de se afastar dela para lhe dar a chance de se
curar, faria isso.

Mesmo que o matasse.

76
Página
DEZ
Fome tentadora

Seu estômago roncou por falta de comida, não conseguia


decidir o que realmente queria enquanto olhava os menus
espalhados pela bancada. Jogando o último panfleto, suspirou e
pegou seu celular para ver as mensagens. Uma de Lauren que
responderia mais tarde, outra de Luka que apagou imediatamente
sem ler.

Toda vez que pensava nele ou mesmo lia o seu nome,


lembrava-se da forma como Natasha parecia na outra noite, a
presunção ainda irritando seus nervos. Alex desejava não se
importar com isso, que Luka não fosse importante para ela.
Cristo, tinha dias que nem sabia por que gostava tanto dele.

Ele era mais do que arrogante, tinha um senso de humor de


uma virgem de treze anos de idade e quando estava de mau
humor, era um bastardo completo e total... mas, outras vezes era
amável, tendo cuidado com seus sentimentos e sempre fez
questão de tratá-la como se fosse importante.

Mesmo quando ela não queria, ele fazia questão de ver


se estava tudo bem. Nesses dias, ele a fazia sentir-se
77

especial, não de forma paternal, mas por causa dela


Página

mesma. Alex estava prestes a terminar a sua noite com


uma boa garrafa de vodca quando o telefone tocou
novamente.
Desta vez, quando o pegou, se surpreendeu ao ver um texto
de Snow. Passando seu dedo na tela, seus olhos percorreram a
mensagem. Era apenas duas palavras, um emoticon sorridente
seguindo-as, mas foram suficientes para fazer Alex agitar-se
imediatamente.

Quer sair?

Pensou nas pílulas que tomou na última vez que esteve com
ele, como tudo deixou de existir naquele curto espaço de tempo.
Mesmo não durando muito o efeito, ela definitivamente
aproveitou. No entanto, não estava com humor para lidar com
Snow. Não que ele tivesse feito algo para ela, mas a forma como
vinha agindo, a fez querer evitá-lo por completo.

Fechando a mensagem, ela olhou para os menus, depois de


volta para seu telefone. A questão era, tinha fome de que? Tentou
racionalizar, pensando e juntando as peças que a fizeram chegar
a este ponto. Sabia que Anya foi seu ponto de queda, mas quando
decidiu desistir e deixar que isso tirasse a dor?

Deveria ser mais forte do que isto. A família que tinha, era
notória por sua crueldade, eram capazes de lidar com qualquer
problema que caísse sobre eles. Cristo, aqueles problemas que o
dinheiro não resolvia, eles resolviam com brutalidade.

Mas talvez este fosse um problema que seria corrigido


facilmente. Jogando os menus, dirigiu-se para a porta e não
pensou duas vezes sobre isso. Logo, não pensaria em nada.

Em vez de dirigir, não que tivesse um carro agora, uma


vez que Mishca estava sem o dele, ela chamou um táxi,
dando-lhe o endereço antes de se sentar e ficar confortável.
78

O endereço não era conhecido, ela sabia que não era o


armazém, mas qualquer preocupação por sua segurança
Página

ficava atrás da sua necessidade de ser livre. No caminho,


eles dirigiram pela cidade, todas as luzes brilhando em
arcos brilhantes, iluminando o céu noturno. A cidade
emitia falsas promessas e glória, fazendo-a acreditar.
Não como ela era agora, que era uma apreciação totalmente
diferente, mas naquela época, ela acolheu tudo o que esta cidade
tinha a oferecer com os braços abertos.

Naquela época, viveu mais do que a maioria das pessoas fez


em suas vidas. Viajando pelo mundo, tendo uma carreira de
sonho, tudo a espera na ponta dos dedos, tudo antes de seu
aniversário de dezessete anos. O que mais poderia ter pedido?

Mas esses dias foram contados e antes que pudesse


realmente afundar-se no que era para ser sua vida de sonho, tudo
foi arrancado depois de um único dia, aquele que ela nunca iria
esquecer mesmo se quisesse.

Descansando a cabeça contra o vidro frio da janela do


passageiro, assistiu o borrão de edifícios, lembrando-se quando
se hospedou em um muito parecido com o Hilton Garden pelo
qual ela estava passando, não esperando o desgosto que iria
encontrar na suíte no último andar.

79
Página
ONZE
3 anos e meio atrás ...

— Existe uma razão pela qual estou aqui? — Alex perguntou


suavemente enquanto ela e Mishca entravam no lobby do
Península Hotel, os saltos estalando no chão de mármore.

Estava familiarizada com o lugar, sabia de suas reuniões de


família, neste mesmo edifício e desde antes de nascer. Ela não
participou nenhuma vez e não era como se estivesse a par do
funcionamento interno da própria Bratva, uma vez que sempre
fizeram questão de mantê-la ignorante de tudo e o fato de ser
trazida aqui agora, não lhe inspirava bons sentimentos.

A presença de Mishca ajudava um pouco, embora não muito,


uma vez que não demonstrava saber o motivo de sua presença.
Mas ele tentou aliviar seu medo com humor.

— Na verdade. — Disse ele com um sorriso forçado — Eu


nem sei por que estou aqui.

Eles tomaram o elevador até que chegaram ao seu


andar, Mishca permitindo que andasse na frente dele e ela
viu que alguns dos guardas de Mikhail estavam bloqueando
80

a entrada, abrindo um conjunto de portas duplas com um


Página

cartão chave que estavam segurando.

Não só eram Mikhail e Anya na sala. Alex sabia que


Anya estava aqui, porque foi ela quem chamou Alex com
a mensagem de que Mikhail a queria ali, mas Viktor
também estava. Ele podia ser o tio de Alex, mas ela preferia
limitar o tempo que passava ao seu redor.

Ele nunca fez nada para ela, mal falaram dez palavras ao
longo dos últimos cinco anos, mas algo sobre ele sempre colocava
Alex no limite. Não era apenas ela. Ele tinha a tendência a agir
como se ela não existisse, mesmo quando estavam na mesma sala
juntos.

Mishca puxou uma cadeira para ela antes de sentar ao seu


lado. Ele começou com seu comportamento frio, suas defesas
subindo quando ele olhou para seu pai. — O que é isso?

Mikhail, que sempre teve o hábito de sorrir mesmo quando


forçado, encolheu um de seus ombros enormes, os dedos
tatuados apoiados sobre a mesa.

— Agora, vamos esperar.

Cinco minutos se passaram. Dez. Quinze. Havia


definitivamente algo de errado desde que estavam todos sentados
em um silêncio tenso, os olhos baixos. Quando Alex pensou que
estavam sendo um pouco dramáticos, ouviu-se o ding suave do
elevador, pares de pés andando, em seguida, a porta sendo aberta
e em vez de um chefe ou mesmo alguém da Bratva, Lauren entrou
e as portas se fecharam atrás dela.

Alex ficou muito surpresa para falar, olhando para seu irmão
para avaliar sua reação. Era óbvio que ele estava tão surpreso
quanto ela.

Mikhail fez um gesto para que ela tomasse o assento


solitário na mesa, torcendo o anel de prata pesado em seu
dedo mindinho.
81

— Eu não esperava seu convite. Pensei, que a esta


Página

hora, você estaria morta.

Mishca ficou de pé em segundos, falando em russo


rapidamente. — Que porra você está fazendo?
Alex sabia que eles não tinham o melhor dos
relacionamentos, especialmente com os papéis que
desempenhavam, mas ela não conseguia se lembrar de uma
época em que Mishca foi tão descaradamente desrespeitoso,
especialmente não na frente dela, nem com ninguém ao redor.

Mikhail poupou a Mishca o mais rápido dos olhares,


respondendo na mesma língua.

— Sente-se ou ela morre agora.

Uma guerra de emoções se apareceu nos olhos de Mishca,


mas ele se controlou o suficiente para pegar sua cadeira, mas não
sentou, ficou de pé, apoiando as mãos sobre a mesa, apoiando o
peso sobre elas.

— Há apenas um problema com isso. — Disse Lauren,


soando muito mais calma do que Alex se sentia no momento. Era
quase como se ela não fosse afetada pelo que estava acontecendo
bem na sua frente. — Se você tivesse me matado, eles saberiam
que foi você. Além disso, tenho algo que você quer.

O “eles” a quem Lauren estava se referindo foi perdido por


Alex, mas era óbvio que todo mundo nesta sala sabia exatamente
a quem se referia. Alcançando a pasta que trouxe, ela tirou uma
pilha de papéis, soltando-os sobre a mesa.

— Meu pai mantinha um diário sobre todo o trabalho que fez


para você. — Ela empurrou a pilha através da mesa em direção a
ele. — Nomes. Encontros. É o suficiente para um homem
inteligente.

Ela... ela estava ameaçando-os?

Alex não entendia o que estava acontecendo, olhando


82

para todos na sala, por sua vez. Que porra estava


Página

acontecendo? E por que Mishca deixou isso acontecer? Era


como se ele estivesse tonto e sem palavras. Mas por não
dizer nada, estava praticamente assinando seu atestado
de óbito.
Mikhail riu como se achasse tudo engraçado. — Foi isso que
você veio fazer aqui? Ameaçar-me?

— Eu quero respostas sobre meu pai. — Ela continuou como


se ele não tivesse falado. — Tenho certeza que você se lembra
dele. — Seus olhos se desviaram para Mishca e não havia raiva
lá. — Dr. Cameron Thompson. Eu acho que você o chamava de
Doc?

Pela primeira vez em sua vida, Alex pensou ter visto


vergonha nos olhos de seu irmão. Mas esse nome, ela se lembrava
de vagamente de ouvir antes. Este médico trabalhou para eles.
Ele foi seu médico. Na verdade, se não estivesse equivocada,
antes que soubesse falar. E se Doc era o pai dela, então isso
significava que ela sabia sobre eles, uma vez que era um segredo
difícil de manter escondido, mas se fosse esse o caso, ela não
estaria tão zangada sobre isso agora. Tinha que haver algo mais
nisto do que Alex sabia.

Anya, que não disse uma palavra ainda, olhou para Lauren.
— O que é...

Mas Mikhail levantou a mão, interrompendo-a antes que ela


pudesse terminar essa afirmação.

— Você tem todas suas respostas, não é? — Ele desafiou


Lauren. — Em seu pequeno diário.

— Não, eu quero saber por que você ordenou que o


matassem.

Alex suspirou. Doc foi executado? Ninguém falou dele


em anos, não que diriam a ela qualquer coisa desde que mal
tinha idade suficiente para falar no momento. Mishca o
83

conhecia mais do que ela, mas havia algo sobre todo mundo
estar com expressões que preocupava mais Alex.
Página

Ambos, Mikhail e Mishca pareceram surpresos por


esta declaração, como se esta fosse a primeira vez que
ouviam falar disso, mas Viktor e Anya quase pareciam
agitados e Alex não conseguia entender o porquê.
Certamente, Mikhail saberia de alguma coisa. Ele era o chefe,
afinal.

— Mikhail. — Viktor falou com aquela voz de predador. —


Nós não temos tempo para as acusações desta garota tola. Mate-a
e acabe com isso.

Mikhail, que não tirou os olhos de Lauren, perguntou. — Se


eu matasse o bom doutor, eu a teria deixado perto do meu filho?

— Você pode ter pensado que eu nunca iria descobrir.

Ele balançou a cabeça, como se a sua resposta não estivesse


completa. — Então você não é tão inteligente quanto meu filho
acredita. Diga-me, por que acha que eu tenho algo a ver com a
morte do seu pai.

— Um homem, Ivan, foi levado para a delegacia porque


atacou a mim e a alguém que me interessa. Ele ofereceu as
informações ao procurador sobre um assassinato, o assassinato
de meu pai. Forneceu detalhes suficientes que reabriu seu caso.
Disse que você ordenou a morte de meu pai, mandando outro
homem e Viktor para executarem. — Lauren olhou para longe de
todos eles. — Um assalto que deu errado. Foi nisso que cresci
acreditando, pelo menos até que ouvi Viktor dizer uma frase no
café da manhã. Eu acho que você realmente não pode lutar
contra o destino.

Ela não tinha que dizer isso para Alex saber ao que ela
estava se referindo. Ela ainda conseguia se lembrar da expressão
no rosto de Lauren quando Viktor fez o seu brinde, quando
o copo de suco de laranja escorregou de sua mão e caiu no
chão, quebrando com o impacto.
84

— Como você sabe essas coisas? — Perguntou Mikhail


e o cuidado desapareceu de sua voz.
Página

— Eu estava no armário. Ninguém sabia que eu


estava lá e isso foi mantido fora do arquivo da polícia.
Para o resto deles, tudo parecia óbvio, mas para Alex, ela
ainda não tinha a menor ideia de por que estava lá em particular.

— Estes homens que você fala, são os únicos a atacá-lo e ao


policial, não é?

Ela assentiu com a cabeça.

— Por que eu faria isso? Não pode perguntar a um homem


morto.

Ela jogou a pasta sobre a mesa, da mesma maneira que fez


com os papéis, mas desta vez, a sua observação que se seguiu foi
pior.

— Meu pai descobriu que Viktor estava dormindo com sua


esposa.

O coração de Alex caiu ao mesmo tempo em que a boca de


Mishca se abriu, embora ele a fechasse com a mesma rapidez.

Anya engasgou indignada.

— Você permitirá que ela me acuse dessas mentiras? No


meu país, eu cortaria a sua língua fora.

— Não há necessidade de tais ameaças, Anya. — Mikhail


consolou sua esposa. — Deixe a garota falar. Se ela estiver errada
bem, lidaremos com ela, mas sei que nenhum dano virá a ela até
que tenha terminado. — Mas Mikhail não parecia realmente
acreditar em Lauren, como se essa última afirmação tivesse
sido dita para o benefício de Mishca. — Você afirma
conhecer essa vida, então sabe do meu título. Ninguém se
move a menos que eu peça.
85

— A menos que eles estivessem tentando esconder isso


Página

de você. — Lauren respondeu com uma frieza em sua voz,


que se tornou mais evidente. — Se não pediu, qual seria o
motivo de seu capitão para matá-lo?

— Onde está a prova?


— Não há nenhuma prova! — Exclamou Anya. — Ela está
mentindo.

Por apenas um momento, não havia tristeza nos olhos de


Lauren. —Sim há. Uma prova viva inclusive.

Desta vez Mishca falou, a confusão clara em sua voz. —


Houve uma testemunha do ato?

— Alex.

Ao ouvir seu nome, ela se sacudiu um pouco, olhando para


seu irmão por algum tipo de explicação.

— Como eu cheguei nisso? — Ela se lembrou de quando


Mishca disse que o pai de Lauren morreu, quando ela tinha cinco
anos. Com alguma matemática rápida, Alex balançou a cabeça. —
Eu era apenas uma criança quando seu pai foi morto.

Lauren olhou diretamente para Mikhail, a cabeça erguida


enquanto falava as palavras que desencadeou uma reação em
cadeia que terminaria em várias mortes e anos de sofrimento.

— Ela não é sua filha.

86
Página
DOZE
Chamando seu nome

No momento em que Alex conseguiu o endereço de Snow, ela


estava mais do que um pouco impaciente. A porta já estava
aberta, cheio de pessoas no quintal da casa, bêbados e
tropeçando entre si. Ela não lhes deu nenhuma atenção, embora
tivesse que pisar ao redor de um cara que estava enganchado
com uma árvore.

Snow estava bem no meio da ação, reclinando-se no sofá na


sala de estar, com os pés sobre uma mesa que parecia ter visto
dias melhores. A visão dele sentado lhe fez uma careta. Eles eram
completamente diferentes, não se pareciam nenhum pouco, mas
a pose lembrava-lhe muito a Luka.

Até este ponto, ela fez um grande esforço para ignorar os


pensamentos, empurrando-os para longe de sua mente, mas
agora, mesmo com o menor lembrete, lá estava ele, correndo de
volta para o primeiro plano. Eram sempre os bons
pensamentos em primeiro lugar, aqueles quando se
lembrava da maneira como ele sorria, como sempre cheirava
acolhedor e convidativo quando estava por perto. Mesmo a
maneira como ele sempre invadia seu espaço, mesmo
87

quando ela não queria que o fizesse. Esses pensamentos


Página

sempre faziam se estomago se contorcer de forma familiar,


mas depois vinham sempre lembranças de por que ela
fazia o possível para evitá-lo recentemente.
Ao contrário de todos os outros, Luka via muito. Ele tinha
uma maneira de ver através dela, como se pudesse ler seus
pensamentos... antecipar o que faria antes que fizesse.

Poderia ser porque eram duas pessoas feridas tentando


encontrar seu caminho, porque qualquer outro motivo não fazia
sentido. Era por isso que ela ficava ao redor de Snow apesar de
tudo sobre ele. Era fácil. Ele não a fazia sentir nada. Snow era
apenas um lugar para alguém que era inatingível, alguém com
quem ela queria desesperadamente estar.

Snow era uma distração boa o suficiente quando os


comprimidos não funcionavam. Contanto que ela tivesse dos dois,
Snow e o comprimido, poderia esquecer a vida que levava fora
deste lugar.

Os olhos de Snow flutuaram sobre ela, brincalhão e fora de


foco. Aparentemente, ele estava usando seu próprio produto,
embora Alex especificamente se lembrasse dele dizendo-lhe que
nunca usava. Mas de qualquer forma, não era assunto seu, desde
que tivesse sobrado para ela.

Forçando um sorriso, ela continuou andando em direção a


ele, não poupou as mulheres a seu lado um segundo de atenção.
O que ele fazia quando não estava com ele, não importava. Na
verdade, ela não se importava com o que ele fazia quando
estavam juntos, não que se lembrasse de muito de qualquer
maneira.

— Não disse que não viria? — Ele perguntou


permanecendo sentado, deixando-a vir a ele pela primeira
vez.

Alex o odiava. Odiava ainda mais desejar uma droga


88

que apenas ele poderia dar a ela e odiava mais saber o que
essa fraqueza estava custando a ela. Sabia que ele não iria
Página

aceitar seu dinheiro. Deixou isso claro da última vez que se


viram. Estava realmente disposta a oferecer-se para isso?
— Tem que ser aqui? — Ela perguntou, olhando para as
dezenas de pessoas que estavam alheias à sua agitação interna.

— Precisa de privacidade?

Sabia o que ele estava insinuando e embora cada parte dela


se rebelasse contra a ideia, balançou a cabeça.

Snow sussurrou algo para a mulher ao lado dele, deslizando


para fora do sofá. Pela segunda vez, ela encontrou-se arrastando
atrás dele, temendo o que teria que fazer para conseguir o que
queria.

Ele empurrou a porta, gritando para o casal que utilizava o


quarto sair, até ter a porta fechada e ela presa com ele. Quando
ele se aproximou dela desta vez, lábios molhados pressionando
beijos molhados em seu pescoço enquanto brincava com o zíper
de sua saia, ela não resistiu, embora estivesse rígida, incapaz de
relaxar.

— Se você relaxar, a foda será melhor para você, porra. —


Ele sussurrou enquanto tirava sua legging.

Ela mordeu o lábio, lágrimas picando seus olhos quando


virou o rosto, não querendo que ele a visse a ponto de chorar e
não querendo que ele a beijasse. Ele não parecia se preocupar
com qualquer coisa.

— Fique na cama.

Obrigando-se a mover, Alex sentou-se na beirada da


cama, concentrando seu olhar em um buraco na parede.
Ela podia ver Snow abrindo o jeans com o canto do olho e
quando seus dedos agarraram o edredom em sua cama, ela
tentou esquecer tudo isso.
89
Página

— Posso pelo menos ter as pílulas? — Ela perguntou


furiosa consigo mesma pelo abalo presente em sua voz.
Snow riu, empurrando-a de volta na cama enquanto ele
engatinhava sobre ela, empurrando sua saia até as coxas. — O
pagamento primeiro.

Quando ele pegou a mão dela, puxando-a para que pudesse


agarrar a ereção que estava se esforçando em seu jeans, ela
puxou o braço livre.

— Pare de agir como uma cadela metida. — Ele disse. —


Acha que o bagulho é de graça por aqui?

— Não, estou disposta a pagar por ele. Qualquer valor que


você pedir, estou disposta a pagar. Apenas me dê um número. —
Ela olhou para ele, tentando encontrar qualquer vislumbre do
cara que conheceu na primeira noite no armazém. Esse cara não
parecia tão ruim, mas agora que olhava para Snow, não viu nada
disso nele.

— Apenas não quero a porra do seu dinheiro. Tenho muito


do meu próprio.

Portanto, não importava o que dissesse, ele iria forçá-la a


fazer isso.

Quando ele puxou a cueca, pelas pernas, ela fechou os


olhos, ela se esforçou a fingir estar em outro lugar, não lá. Mas
ele estava entre as coxas, empurrando-as mais, e no momento em
que o sentiu entrar, ela mordeu o lábio para não gritar. Havia
tanta dor, não porque ele era grande, mas porque ela não o
queria e seu corpo não estava pronto.

Ele não se importou, no entanto, apenas a obrigou a


aceitar o que ele estava dando, não importava como ela se
encolhesse ou como lágrimas caíram uma de cada vez. No
90

momento em que tudo acabou e Snow saiu dela, Alex


sentiu-se indigna.
Página

Snow colocou a mão no bolso de sua calça jeans,


sacudindo outro pequeno saquinho. Ela segurou-o
firmemente em seu punho enquanto endireitava suas
roupas, não sendo capaz de encontrar seus olhos enquanto se
dirigia para a porta.

Mas mesmo ao sair daquele lugar, deixando para trás a


risada zombeteira de Snow e o suprimento da coisa que ela
desejava, uma parte dela sabia que estaria de volta porque os
comprimidos já estavam chamando seu nome.

91
Página
TREZE
Lugar feliz

Por um tempo, Luka viveu e respirou a Bratva, gastando


todas as suas horas de vigília trabalhando para provar a si
mesmo lealdade àqueles que estavam mais acima, querendo fazer
um nome para si mesmo em um mundo onde todos estavam
tentando fazer a mesma coisa. Ao contrário da maioria, no
entanto, ele foi capaz de fazer isso em menos tempo do que o
previsto, mas com o tipo de nome que fez, as pessoas eram menos
propensas a quebrar as regras e agora, quase ninguém estava
disposto a sair da linha apenas no caso de Mishca enviar seu
executor para endireitá-los.

No começo, Luka sentia-se orgulho disso tudo, lutar era


tudo o que sabia, afinal, mas com menos para fazer, ele tinha
muito tempo livre em suas mãos e ficar ocioso não funcionava
para ele. Permitiu também muitas oportunidades para que os
seus pensamentos ficassem à deriva até o passado, ao sangue e
caos que dava às suas mãos coceira para cometer violência.

Por esta razão Luka encontrou-se perdido em um salão


de bilhar, uma noite, um local neutro e aberto a pessoas de
cada estilo de vida, desde que nada se passasse dentro do
92

lugar. Por um tempo, os outros ficaram nervosos com Luka


Página

lá, sua predileção pela violência um fato bem conhecido,


mas depois de passar algumas semanas sem um incidente,
mesmo depois de um homem intencionalmente derramar
um jarro inteiro de cerveja nele, ele manteve a calma.
Não que não tenha procurado o homem em toda a
cidade em outra noite e quebrado ambos os seus joelhos, mas
desde que não foi no bar, ninguém deu a mínima.

Uma vez que foi a este lugar, tornou-se seu meio termo entre
lidar com suas frustrações e estar com Natasha. Ele estava
ficando cansado de procurá-la, não apenas porque ela começou a
pensar que ele precisava dela, mas isso ainda o deixava para
baixo.

— Você está jogando como um merda hoje à noite. — Disse


Raj, adversário de Luka está noite, enquanto inclinava seu peso
contra o taco de sinuca que segurava.

Olhando para o homem, Luka não ofereceu uma resposta


quando voltou sua atenção para a mesa, contemplando seu
próximo movimento. Tinha a intenção de ficar longe de seus
pensamentos, mas Alex ainda estava lá dentro.

Alguma coisa estava acontecendo com ela e ele não tinha


certeza do que. E tentar levá-la a falar sobre isso racionalmente
não parecia funcionar, mas até que encontrasse uma maneira de
chegar à verdade, iria dar-lhe espaço.

Luka olhou para a mesa com cuidado, traçando sua próxima


tacada enquanto ficava na posição, alinhando o seu taco de bilhar
com o local exato que precisava. Foi sua última bola antes de
embolsar a oito. Ele estava prestes a jogar, prestes a fazê-lo, até
que sino soou na entrada.

Foi um reflexo, na verdade, olhar para cima sempre que


alguém entrava, mas desta vez a mão apertou num punho
não conseguindo desviar o olhar. Definitivamente a sorte
não estava ao seu lado quando Alex entrou sempre
cuidadosa naqueles saltos altíssimos. Podiam não ser
93

práticos, mas eles faziam coisas incríveis para suas pernas


e ele seria um mentiroso se dissesse que não apreciava a
Página

vista.

Ela caminhou em direção do bar e seu primeiro


pensamento foi que ela estava ali para ele, mas quando
seu olhar nem sequer se desviou em sua direção pelo mais breve
dos momentos, ele baniu o pensamento. Luka queria ignorá-la,
fingir que não a viu, não que ela o tivesse notado no canto escuro,
mas ele não podia, muito consciente dela apesar da distância
entre eles.

Seu aperto no taco aumentou, estreitando seus olhos sobre


a jogada que pretendia fazer, mas agora que sabia que ela estava
lá, não poderia ignorá-la, não importa o quanto tentasse. Mesmo
agora, podia ouvi-la. Ela não falava alto o suficiente para ele
saber o que estava dizendo, porem era alto o suficiente para que
ele ficasse distraído.

E como na maioria das vezes que eles se encontravam, sua


concentração foi baleada. Seu aperto no taco era tão forte que era
um milagre não rachar sob a pressão. Como a maioria dos
homens presentes no local, seus olhos vagaram sobre Alex, tendo
cada pedaço dela e a roupa que moldava seu corpo. Se alguém
poderia chamar assim. O top que usava terminava logo abaixo
dos seios, na mesma cor de vinho que a saia que encaixava até os
quadris e coxas.

Barriga nua para qualquer um ver.

Sempre que chegava, Luka pedia uma bebida, embora


permanecesse intocada, mas esta noite, ele bebeu, precisando de
algo para acalmar os nervos. Ele queria ignorar sua presença
inteiramente, deveria tê-la ignorado, mas foi atraído por ela de
uma forma que não podia evitar. Mesmo agora, enquanto estava a
mais de cinco metros dela, Luka era consciente de cada
movimento que fazia. A maneira como jogava o cabelo
sedoso por cima do ombro, o flerte de seu sorriso... jogava
para longe sua concentração.
94

Alcançando o maço de cigarros no bolso de trás,


Página

estava prestes a sair quando ouviu o homem ao lado de


Alex falar, viu a maneira como ele olhou para ela, com um
olhar que o próprio Luka atirou em sua direção. Ele
atravessou a sala antes mesmo de pensar e todo protesto que
poderia ter pensado se calou.

95
Página
QUATORZE
Fixar-se

Embaixo do jato de água quente, Alex tentou lavar seus


pecados, querendo desesperadamente livrar-se do toque de Snow,
mas o tempo no chuveiro não importava, ainda podia senti-lo em
toda parte. No minuto em que chegou em casa após vê-lo, correu
para o banheiro para vomitar o pouco que havia em seu
estômago, mas com a evidência do que ela se tornou em suas
mãos, apenas a fez se sentir pior.

Durante dois dias, permaneceu em seu apartamento,


alternando entre banho e enrolada em uma bola em sua cama.
Sentia-se um nada, pior do que já estava. Pensamentos de Anya e
Luka desapareceram de sua mente como mais um fracasso diante
dela. Mas não importava o quão merda se sentisse, era apenas
tempo que ela passava até que o lembrete das pílulas voltasse
correndo.

Já podia imaginar a doce libertação que iria trazer e


com ela sua vontade se desmoronou. Não se incomodou em
tomar apenas uma como fez antes. Tomou três.
Infelizmente, o efeito não apareceu imediatamente.
Desligando o chuveiro, saiu, pegando uma das toalhas
96

penduradas nas proximidades. Passou por cima das roupas


Página

que cobriam o chão, juntamente com uma variedade de


outras coisas que deixou jogada.

Normalmente, era limpa e organizada, gostava das


coisas no seu devido lugar, mas agora, não importava
mais. Procurando em seu armário, pegou as roupas de forma
cega. Vestindo uma camiseta e saia. Não se incomodou com
saltos, ela não seria capaz de lidar com isso mais tarde.
Agarrando suas chaves e bolsa saiu, embora não tivesse certeza
de onde iria.

Não sabia onde estava indo, não sabia se havia algum fim
para todos, porque Alex estava, finalmente, felizmente, insensível
a tudo. Alex estava perdida nas nuvens, derivando através delas,
névoa molhando seu rosto enquanto ela descia a rua sem fim à
vista. Andava sem apreciar o caminho até chegar ao bar
iluminado no canto, olhando através das janelas, avistando um
loiro com cabelos longos e braços tatuados.

Quais eram as chances de vê-lo esta noite dentre todas as


noites? Felizmente, não viu Natasha ao redor ou muitas outras
mulheres e talvez se não estivesse flutuando em sua própria
nuvem pessoal, teria seguido seu caminho.

Mas vê-lo a fez desejar conversar, porque se havia uma


pessoa a quem poderia recorrer, era Luka. Ao estender a mão
para abrir a porta, pensou sobre toda sua situação. O que Luka
pensaria se soubesse o que fez? Ele não iria julgá-la, não tinha
um osso de julgamento em seu corpo, mas a ideia dele ficar
decepcionado, quase a fez se virar.

Mas Alex continuou porque precisava dele mais do que o


medo de Luka saber a verdade. Alex abriu a porta, sentindo a
onda de calor atingindo-a enquanto entrava no salão de bilhar.
Caminhou diretamente para o bar, sentindo vários olhares
sobre ela enquanto atravessava o salão. Era uma das
poucas mulheres ali. Talvez no passado tivesse entretido os
homens que a olhavam apreciando, mas a idéia de flertar
com qualquer homem revirava seu estômago. Encontrando
97

um lugar no bar, Alex sorriu hesitante para o barman,


Página

acenando quando ela puxou a identificação que comprou


anos atrás, mas raramente usava.

— O que posso fazer por você?


Alex examinou as escolhas limitadas em cima do balcão,
mas finalmente encolheu os ombros. — Surpreenda-me.

Quando o barman iniciou o preparo de sua bebida, Alex


cruzou as pernas, a barra de sua saia subindo, algo que parecia
muito fascinante para o homem sentado ao seu lado. Ele parecia
ser tão velho quanto Mikhail e não sentia vergonha de cobiçar
alguém, com pelo menos da metade da sua idade. Quando o
barman voltou com um trio de bebidas, cada uma delas de uma
cor diferente, Alex estava mais do que pronta para bebê-las.

Levantando a primeira, ela saudou ainda olhando o homem


ao lado, sorrindo enquanto virava a bebida. Era como engolir
ácido. A segunda caiu muito mais suave, e pelo tempo que
chegou ao terceiro copo, sua garganta estava dormente.

— Como se trata de você, deixe-me comprar sua próxima


rodada? — Ele ofereceu girando em sua direção, permitindo-lhe
um olhar melhor para ele.

Mesmo se tivesse interesse em caras mais velhos como ele,


Alex provavelmente iria para alguém um pouco mais... bem...
mais. Ela não sabia o que realmente era. Seu terno encaixava
bem, o cabelo bem arrumado e ele não era desinteressante, mas
faltava-lhe algo.

— É bom de sua parte, mas não, obrigada.

— Não? Qual é o mal em uma bebida?

Ela estava percebendo agora as consequências de


aceitar um pouco de nada.

— Eu...
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Em seu outro lado, alguém bateu para baixo uma nota


Página

de vinte e ela não teve que olhar para trás para saber que
era ele. Ele cheirava a almíscar e noites de verão, um
aroma particularmente delicioso que ela nunca poderia
confundir com qualquer outra pessoa.
— Terminou. Vamos.

Ele passou a mão cheia de cicatrizes e tatuagens ao redor de


seu braço, puxando-a do assento antes que pudesse protestar.
Seu admirador, no entanto, protestou por ela.

— Deixe a dama em paz. Tenho certeza que ela pode cuidar


de si mesma.

Era além de óbvio para ela que Luka não estava com humor
para lidar com ele, caso contrário, poderia ter feito uma piada,
mas a tensão em seu corpo aumentou apenas quando seus olhos
se estreitaram e uma perigosa energia pulsou fora dele. Ele não
teve que responder ao homem porque a expressão que Luka
demonstrava, fez o outro homem empalidecer e retornar para sua
cerveja.

Luka não perdeu mais tempo antes de arrastá-la para fora,


mas em vez de ir pela porta da frente, saíram pela parte de trás a
um beco do lado.

Uma vez que estavam fora, ele a soltou e com seu o


equilíbrio prejudicado, ela tropeçou, quase caindo com o rosto no
concreto. Podia não ter bebido muito, mas as doses, juntamente
com as pílulas começaram a deixar tudo nebuloso. Finalmente, a
auto aversão foi se afastando.

Luka, cuja raiva apenas aumentava, não pareceu notar. Ele


invadiu seu espaço, olhos azuis furiosos sobre ela. — Você está
tentando me irritar?

Embora ele fizesse a pergunta, era retórica desde que


estava bem além de irritado neste ponto. Ela balançou a
cabeça, com a intenção de responder a pergunta, mas a paz
99

que sentia trouxe um sorriso ao seu rosto, fazendo-o pensar


que ela estava zombando dele. Ela afastou o cabelo que
Página

caía em ondas caóticas de seu pescoço, deixando a brisa


fria esfriar seu corpo. Parecia que ela estava queimando.

— O que você está fazendo aqui, Alex?


Caminhando em direção a ele, ela enganchou um dedo em
seu cinto, dando-lhe um puxão e tentou trazê-lo mais perto.
Surpreendentemente, ele a deixou. — Eu não sei. — Ela não
sabia mais nada. — Mas estou feliz que tenha corrido para você,
Tigre.

Sua expressão se suavizou quando ela usou o apelido,


fazendo sua maravilha, mais uma vez, como se ele sentisse a
atração inevitável que sentia por ele.

— O que está aí embaixo? — Ela perguntou, seu dedo


apenas centímetros de seu rosto enquanto ela traçava as linhas e
contornos. — Sob as piadas, a autodepreciarão, quem é você
realmente? Você é uma pessoa comigo e alguém totalmente
diferente com todos os outros.

— O que importa? — E parecia que ele realmente queria


saber.

— Isso importa a mim.

— Por quê? Qual lado de mim você gosta mais?

Ela encolheu os ombros, sorrindo doce para ele. — Eu gosto


de tudo em você.

Ele não parecia acreditar, mas ela o queria. Precisava que ele
acreditasse.

— Porque você não pode ver isso, Luka? Eu sempre gostei.

Enquanto parecia que ele queria passar os dedos pelo


cabelo, apenas se acalmou, com os olhos atentos nela. Não
havia nenhuma dúvida sobre isso, ela poderia ter ficado lá
100

por anos tentando entendê-lo e os seus pensamentos, mas


suas inibições foram embora e enquanto ele não pudesse
Página

agir sobre ela, ela o queria.

Tomando a situação em suas próprias mãos, Alex


subiu na ponta dos pés, mesmo quando puxou sua
cabeça para baixo, pressionando os lábios nos dele. Os
lábios de Luka eram firmes e suaves, quando ela traçou a língua
sobre seu lábio inferior, ele separou-os. Alex teve o controle por
alguns segundos fugazes e em seguida, suas costas estavam
contra o tijolo, mãos firmes em seu cabelo enquanto ele assumia.

Seu coração trovejava em seus ouvidos, ela não pode fazer


mais do que se render.

Com as mãos na parte de trás de suas coxas, ele a levantou,


suas pernas circulando sua cintura, parecendo consumi-la. Sua
mão foi para debaixo da saia, em seguida, entre as pernas dela,
fazendo-a ofegar contra sua boca. Seus dedos estavam lá, a
pressão aumentando, insistente, pronta para deslizar por baixo
da fina camada de renda. Teria sido tão fácil para ele fazê-lo e
Alex estava muito disposta, ao implorar para fazer exatamente
isso, mas na entrada do beco, alguém chutou uma lata,
rompendo a neblina em que estavam.

Luka abaixou suas pernas, mantendo-a próxima a ele e pela


primeira vez, a máscara de cuidado que ele usava se foi,
substituída por uma que parecia necessidade. Estava tão perto
que ela podia sentir sua ereção através de seu jeans e mais do
que o beijo inebriante que acabaram de compartilhar, isto a
encheu de algo mais. Ela quase podia esquecer o que fez com
Snow. Mas enquanto havia uma necessidade em seus olhos,
havia também o que parecia ser uma guerra feroz dentro dele.

— O que você quer de mim? — Ele perguntou, seu sotaque o


mais grosso que ela já ouviu. As inflexões russas se afastaram,
substituídas com o que ela raramente ouvia. — Você quer
que eu te foda, é isso?

Ela ficou rígida sob suas palavras, a neblina da luxúria


101

se dissipando. Isso não era nem perto o que ela queria


dele... e se isso era tudo o que ele via, então talvez estivesse
Página

errada. Queria dizer algo para irritá-lo e segurar o pouco do


orgulho que lhe restava e ir embora, mas ela encontrou-se
respondendo à sua pergunta honestamente.
Batendo o dedo contra seu peito antes de colocar a palma da
mão, sentiu o calor dele através de sua camisa e a forte batida de
seu coração. — Eu quero estar aí. Quero que se importe comigo
do jeito que me importo com você. — Ele abriu a boca, mas ela
balançou a cabeça antes que pudesse dizer algo.

— Eu quero ser importante para alguém que não se sinta na


obrigação de me amar.

— Deixe-me levá-la para casa, Alex. — Disse ele depois de


um momento de silêncio.

Ali era ao mesmo tempo o último e o único lugar que queria


estar. Enquanto amava a santidade do seu próprio espaço, ele
ainda era apenas um quarto vazio. Mas era melhor do que
implorar por cinco minutos de sua atenção.

Recuando, ela cruzou os braços sobre o peito, olhando para


longe dele. Ela ainda podia sentir o gosto dele em seus lábios, o
fantasma de seus dedos em sua pele. Ela não queria deixar ir
esse sentimento, ainda não.

— Posso chegar em casa por conta própria.

— Você está bêbada e já é tarde. Vamos.

Toda a luta a desgastou e em vez de discutir, Alex seguiu


para seu jipe.

Fechando os olhos, ela segurou seu êxtase durante o tempo


que pode, sabendo que no momento em que descesse, iria se
perder. Eles permaneceram em silêncio, mesmo depois de
saírem e ele habilmente dirigiu de volta para seu
apartamento.
102

Poderia ter parecido como momentos para ela, mas já


Página

estavam de volta ao seu prédio, mas em vez de Luka


apenas dizer a ela para sair, ele desligou o motor e
circulou o carro. Sem uma palavra, ele a ajudou a sair,
levantando-a do chão enquanto a levava através do lobby
e elevador. Ela deitou a cabeça contra o peito dele,
ouvindo o ritmo calmante de seu coração.

Ele entrou com sua chave, fechando a porta com o pé


quando a levou para o quarto, onde a colocou na cama. — Vamos
tirar seus sapatos.

Sua voz era baixa, por uma vez, sem qualquer emoção que
pudesse sentir, mas poderia ser pelo fato de que tudo estava
lentamente começando a se transformar em um vórtice. Alex não
se lembrava de ter esticado as pernas para ele, mas ela sentiu seu
toque quando tirou um de cada vez. Com um braço ao redor dela,
ele cuidadosamente a puxou para seus pés enquanto a despia,
deixando suas roupas em meio ao caos no chão.

Seu toque era quase hesitante quando ele virou as costas,


seu olhar persistente em seu corpo.

Sorrindo para ele quase com tristeza, ela perguntou. — Só


para isso que eu sou boa, não?

— Claro que não.

Mas ela não estava escutando. — Um rosto bonito, mas não


muito mais.

Ele segurou o rosto dela, forçando-a a concentrar-se nele. —


Você não pode acreditar nisso. — Quando ela tentou se afastar,
ele segurou mais apertado. — Quanto você bebeu?

— Isso realmente importa?

— Fale comigo. Diga-me o que é.

Alex não percebeu que estava chorando até que ele


103

limpou as lágrimas com os polegares. — Não há nada aqui


para mim.
Página

— Eu estou aqui. — Sua resposta foi imediata e


sincera.

— E ainda posso sair.


— E eu gostaria de trazê-la de volta.

— Mesmo se eu estivesse feliz em outro lugar?

Ele engoliu em seco, seus olhos vagando sobre o seu rosto.


— Se eu realmente acreditasse, então iria deixá-la ir, mas você
estaria saindo porque está fugindo de alguma coisa aqui. Deixe-
me fazê-la feliz aqui.

Ela riu sem humor, saindo de seu domínio. — Você não pode
me consertar, Luka.

— Não, eu não posso. Somente você pode fazê-lo, mas isso


não significa que não quero fazer você feliz. Essa é a única coisa
que quero.

Subindo de volta para a cama, ela deixou suas palavras


navegarem por sua mente, seu rosto afundando no travesseiro
macio na cabeceira de sua cama. Ela estendeu a mão para ele,
perguntando se ele iria aceitar o que estava oferecendo e quando
o fez, não arruinou tudo falando, apenas segurou-o quando
fechou os olhos, desejando que o sono chegasse.

Náuseas tinham um jeito ordinário de manifestar-se


104

em alguém. Quando acordada, pelo menos, podia- preparar


para as consequências de absorver muito álcool, correndo
Página

para o mais próximo local disponível para vomitar, mas


perder o sono, era pior por causa do álcool que ingeriu e
era mais difícil funcionar corretamente. Mas esta não era a
primeira vez de Alex, nem provavelmente, seria a última.

Seus olhos se abriram lentamente, como se tivessem uma


mente própria, mas mesmo com o mundo girando na sua frente,
assim como seu estômago, ela sabia o que estava por vir.
Apertando a mão sobre a boca apenas no caso, Alex levantou tão
rapidamente quanto pode para sair da cama, tropeçando em
quase tudo nas proximidades, enquanto corria para o banheiro,
mal dando tempo de se abaixar, estava vomitando tudo.
Levantava o rosto de vez em quando, dando descarga no vaso
sanitário para que o mau cheiro não a fizesse vomitar mais.

Alex gemeu, mas pelo menos o enjoo se abrandou o


suficiente para que quase pudesse ver sua própria mão na frente.
Ela corou novamente, recostando-se contra a parede, de modo
que o frio pudesse infiltrar-se em seus poros e esfriar seu corpo.
Suava praticamente em todos os lugares, mas depois de alguns
minutos de apenas sentar e respirar, finalmente diminuiu.

Tomou seu tempo levantando, indo até a pia, apoiando


contra a borda, pegou o enxaguante bucal, em seguida, escovou
os dentes com tanto vigor quanto pode. Terminando, jogou água
no rosto, secando com uma toalha nas proximidades. Quando
olhou para seu reflexo no espelho, se encolheu.

Pior. Era pior do que esperava.

Ela colocou a mão no rosto esperando que talvez, a pessoa


olhando para ela fosse um estranho, mas não teve essa
sorte. Seus olhos estavam vermelhos, embora tivesse se
acostumado a esta visão com as semanas, ela bebia todas
as noites e as bolsas sob os olhos pareciam em constante
105

crescimento. Exceto, a única coisa que não estava


crescendo nela era todo o resto. Ela parecia mais magra,
Página

sua clavícula mais pronunciada, os ângulos de seu rosto


mais graves.

Ao pensar sobre isso, não se lembrava da última vez


que comeu qualquer coisa que pudesse mesmo que
remotamente, ser considerado uma refeição. Agarrando um
minúsculo short e um top que estava na sua frente e parecia
moderadamente limpos, dirigiu-se para a cozinha, sem se
preocupar em ligar todas as luzes no caminho. Ao abrir a
geladeira, franziu a testa para o conteúdo. Nada sequer
remotamente comestível. Olhou para os menus espalhados sobre
a mesa, mas levaria muito tempo para entregar, quando pensou
em algo um pouco mais importante.

Alex não percebeu que sua mão tremia até que a levantou
para passar os dedos pelos cabelos. Conseguiu facilmente passar
dias sem ver Snow no passado, talvez até mais, mas agora que
sua mente a lembrava o que ele poderia dar a ela, não podia
pensar em passar mais dez minutos sem vê-lo. Snow estaria
irritado pelo que fez no dia anterior, provavelmente agiria como
um idiota sobre isso, mas ela realmente não tinha qualquer outra
opção.

Mordendo a unha, correu de volta para seu quarto quando


um ruído no sofá a fez saltar, seus olhos correndo para a pessoa
que já estava balançando suas pernas em volta e soltando os pés
no chão. Merda. Esqueceu que Luka ficou em sua casa, embora
se lembrasse dele na cama com ela. Agora definitivamente não
concordava com isso e enquanto qualquer outro momento poderia
ter fingido estar irritada, desta vez realmente estava. Sem dúvida,
ele iria começar a fazer-lhe perguntas que não queria responder e
se ela dissesse algo que não gostasse, seria apenas mais difícil
sair.

Não precisava dessa merda agora.

— Luka, você acordou. Uh, legal. Vou me encontrar


com um amigo. Se quiser, pode ficar aqui e o encontro mais
106

tarde.
Página

Ao terminar de falar, apertou os lábios, perguntando-


se por que abriu a boca, pois a maneira como Luka a
olhava agora, ele poderia definitivamente dizer que algo
estava acontecendo.
— Quem?

Ela acenou com a mão, na esperança de se recuperar de sua


boca. — Você não os conhece. Não estão relacionados com
Bratva.

Luka se levantou, até chegar na frente dela, seu olhar


treinado no rosto. Ela, no entanto, focou em seu peito nu, não
dando tempo para apreciar. Temia o que ele diria se visse a
verdade, como sabia que ele o faria.

— Dê-me um nome e te digo se o conheço ou não.

Os olhos de Alex corriam, tentando chegar a uma resposta


boa o suficiente para Luka, mas como não esperava ser
questionada, foi lenta na produção de uma. Alex levantou a mão,
querendo empurrar o cabelo do seu rosto, mas vê-la tremendo
novamente apenas fez com a apertasse em punho. — John.

— John?

— Sim, apenas John.

Era além de óbvio que Luka não acreditava em uma palavra


que estava dizendo, mas como a agitação em seu estômago
piorou, Alex não se importava se ele acreditava ou não, queria era
afastá-lo de lá para poder sair. Optando por não estar presente
quando ele decifrasse suas palavras, passou por ele, em seu
caminho para o quarto, mas nunca foi tão fácil com Luka e não
foram apenas suas palavras que ele estava tentando fazer
sentido, mas ela completamente.

Ele a agarrou por trás, com a mão segurando o tecido


de sua camisa quando ele lhe deu um puxão forte, girando
107

ao redor dela, sua mão segurando o queixo para que não


pudesse afastar-se. Seus olhos a percorriam enquanto
Página

examinava seu rosto, olhando para o que, ela não sabia.

Seu rosto ficou mais sério, seu aperto levemente mais


forte. — O que você tomou?
Alex não resistiu. Ela riu um pouco. Não era uma pergunta
particularmente engraçada, mas sim porque realmente não sabia
o que tomou ou pelo menos parte dela. Podia relacionar o que
bebeu enquanto ainda estava aqui, mas quando ia para Snow,
tudo era um mistério.

Apesar da crescente raiva em seu rosto, ela decidiu


responder honestamente. — Um pouco de tudo. — O olhar em
seu rosto a fez balançar cabeça. — Mas não se preocupe, mesmo
que não estivesse louca na noite passada, ainda teria feito isso.
Talvez não agora, mas eventualmente. Parece que é aí que vamos
acabar em algum momento, você não acha?

Ignorando isso, ele perguntou. — Diga-me... o que você está


tomando?

— Acho que já respondi. Agora, vai falar muito sobre isso?


Tenho um lugar para ir.

— Este é o lugar aonde vai, quando não está em casa? Quem


está dando essa merda para você de qualquer maneira?

Ela sorriu um sorriso secreto, abanando o dedo. — Um


amigo.

— Não brinque comigo, Alex.

Já não achando divertido, ela se afastou dele, franzindo a


testa. — Cai fora, Luka. Eu não devo nada a você e a última vez
que chequei, nós não somos uma família, nem você está me
fodendo. Isso significa que não pode me dizer o que fazer.

— Isso não significa que não me preocupe com você e


com o fato de estar se afogando em alguma merda.
108

— Aprecio isso e se eu não estivesse atrasada, ficaria


Página

por aqui para discutirmos mais sobre o assunto, mas eu


estou com pressa, então... de verdade... — Ela disse
quando ele não se mexeu. — Estou bem. Eu sei que disse
que nunca vou chamá-lo novamente, mas se algo
acontecer, você será a primeira pessoa que eu
chamarei, ok?

Quando o telefone de Luka tocou, Alex tomou isso como sua


oportunidade de ficar longe dele. Era óbvio que queria impedi-la,
mas não podia ignorar a ligação, não quando era de seu chefe.

— Você pode ir à hora que quiser Luka.

Alex se alegrou por ser capaz de escapar sem maiores


problemas, mas não percebeu o quão difícil foi para Luka vê-la
sair.

Três comprimidos, um quinto de vodca e uma série de


outras coisas que Alex realmente não iria querer pensar mais
tarde, ela se sentiu como merda. Não apenas fisicamente, embora
isso também, pois sentia que mal conseguia manter os olhos
abertos, mas emocionalmente também, especialmente desde a
cena com Luka anteriormente. Não queria admitir que as coisas
estavam fora de controle mais do que queria admitir que agora
estava negociando oficialmente seu corpo por drogas.

Apenas mais uma coisa para adicionar à sua lista de


merdas. Uma parte dela sentia vontade de chorar, porque
fazia isso para si mesma, tinha uma escolha na matéria,
109

mas por outro lado, a dor que sentia, era merecida. Teve
tantas opções, muitas oportunidades para ir por um
Página

caminho diferente, mas cada vez, escolheu errado.

O telefone estava em uma mão, pílulas na outra e


todos os outros que estavam festejando ao redor dela
pareciam alheios à sua agitação interna. Aqui,
novamente, ela foi presenteada com duas opções. Poderia chamar
Luka, admitir que não estava lidando bem e sabia, não importa
como se sentisse sobre seu relacionamento com Natasha, que ele
estaria lá para ajudá-la. Mas sua outra opção era mais fácil.
Poderia tomar os comprimidos, cair no esquecimento e enfrentar
o problema outro dia.

Deixando cair o telefone na cama, franziu a testa, mesmo


quando levantou a mão, tomando todos os comprimidos em vez
de pensar. Alguma vez teve escolha?

110
Página
QUINZE

A morte está batendo

Mishca arqueou uma sobrancelha, olhando para Luka. — Eu


tenho que dizer-lhe como fazer o seu trabalho?

Apesar de sua mão se contrair com impulsos de um longo


tempo do passado, Luka apenas balançou a cabeça,
reconhecendo o que Mishca estava dizendo. Havia algo
acontecendo com o chefe Bratva que Luka não estava entendendo
no momento. Desde que ele voltou da Itália, se tornou um pouco
ditador e ao mesmo tempo que a sua relação foi sempre bastante
fácil antes, agora era como se ele estivesse deliberadamente
tentando apertar os botões de Luka para obter uma reação dele.

Houve apenas uma vez, quando o controle cuidadoso de


Luka deslizou, na noite em que Vlad foi morto. Mais do que os
outros que manchavam sua consciência, Luka não iria
esquecer a morte do antigo executor tão cedo,
principalmente porque ela veio por suas próprias mãos.
Claro como o dia, ele ainda se lembrava de levantar a arma,
111

disparar os tiros que o matou quase instantaneamente,


como se fosse uma segunda natureza. Na época, não
Página

importava que conhecia Vlad por anos e pudesse ter


considerado o homem mais velho quase como um amigo.
Em última análise, teve que fazer uma escolha entre a
adição de outra lembrança assombrosa ou salvar um
amigo da mesma coisa, apenas Luka sabia que ele
não teria sido o mesmo. Mishca cuidou de Vlad de uma forma que
o teria quebrado se tivesse sido ele quem tivesse tirado sua vida.

Muitos não entendiam o sacrifício que significava tirar uma


vida. Claro, alguns podem esquecer os nomes e rostos de pessoas
que eles mataram, mas Luka não era um deles e o mais
importante, ele não queria ser. Gostava de ter o lembrete,
sabendo que, durante cada momento do dia, ele não era uma boa
pessoa. Precisava se lembrar de quem era.

Mas depois do ato feito, sempre que tinha de matar alguém


para um trabalho, precisava de seu tempo para distrair ou então
tudo vinha borbulhando para a superfície e tinha medo de que,
uma vez que parte dele corresse solta novamente, não seria capaz
de conter. Foi por isso que quando Mishca golpeou contra ele,
apenas momentos depois dele ter-lhe feito um favor, Luka reagiu
da maneira como fez, quebrando o dedo do antigo capitão da
Bratva. Sua raiva foi súbita e esmagadora, mas antes que
pudesse agir ainda mais sobre ela, embora o satisfatório aperto
do osso sob sua mão lhe fez perder a razão, ele se afastou,
usando Natasha para trabalhar através dos impulsos mais
escuros que estavam o consumindo.

No momento, ele empurrou-o de volta, ignorando suas


necessidades mais básicas. Mishca era seu amigo, a coisa mais
próxima que tinha de um irmão. Ele não iria machucá-lo. Pelo
menos não intencionalmente, mas a única coisa em seus
pensamentos no momento estava rastreando Alex e chegar ao
fundo do que quer que estava acontecendo com ela.

Na noite passada…

Ele não achava que já a viu assim.


112

Não há mais lugar para mim aqui.


Página

Essas palavras o assombravam, porque se era desse o


jeito que realmente se sentia, então ele não fez um bom
trabalho em mostrar a ela exatamente o quão importante
ela era para ele. Será que não sabia que ele vivia pelo
sorriso dela para ele? Será que ela não sabe que fazê-la rir, ver o
jeito que brilhava ao redor, era uma das razões que ele amava
estar ao seu lado? Porque o fazia sentir-se como se ele fosse algo
mais do que um assassino.

— Acabamos?

Mas ele não se preocupou em ficar para ouvir a resposta de


Mishca e saiu de seu escritório. Jogando a mochila no ombro,
Luka dirigiu-se para a noite, o seu passo vacilou quando ele
avistou a única pessoa que realmente não tinha vontade de
encontrar. Ele era uma visão indesejável, não apenas por causa
do ressentimento que guardava de Luka, mas porque ele uma
lembrança de um passado que era melhor deixar esquecido.

Klaus Volkov ou Red, se você fosse infeliz o suficiente para


se tornar uma e suas marcas, era o irmão de Mishca, embora isso
fosse muito claro desde que eram gêmeos. Mas enquanto
pareciam iguais, suas personalidades eram polos opostos.

Não que Luka poderia culpá-lo por isso. Ambos eram um


produto dos homens que os fizeram. Aconteceu então que Luka
era o culpado pela raiva que Klaus transportava. Pelo menos
parcialmente culpado. Havia outros que foram usados como um
alvo.

Em comparação, Luka estava apagado, mas sempre que


Luka e Klaus se cruzaram havia uma tensão considerável entre
eles, que era ignorado. Ninguém realmente se perguntava por
que, especialmente com a personalidade de Luka e
predileção de Klaus pela raiva. Algumas semanas atrás,
Klaus lhe pediu para sair e encontrá-lo e sem outra escolha,
Luka obedeceu, mas não foi tão inocente como ele esperava.
113

Luka aproximou-se dele, com as mãos nos bolsos, as


sobrancelhas franzidas. — Tendo um dia mau?
Página

O olhar que jogou nele teria reprimido um homem


menor, mas Luka era imune. Klaus, que tinha a aparência
de um homem que chegou a este lugar com uma missão,
não se incomodou em falar. Ele apenas marchou para Luka, dando
um soco no seu rosto e deu um passo atrás, o movimento não
pareceu perturbá-lo. Com o olhar fixo em Luka, houve um incêndio
em seus olhos que normalmente era mantido escondido, mas esta
noite estava em plena força.

Um soco no rosto desequilibrou Luka, mas a força por trás


dele poderia ter acabado um homem menor. Ele cresceu lutando,
disputando jogos horríveis, quase não sentia a dor. Isso não queria
dizer que ele não foi afetado. Ele sentia, mas não processava o
mesmo e para a maioria das pessoas, isso era incompreensível.

Mas Klaus conhecia Luka melhor do que ninguém. Talvez por


causa da informação que descobriu sobre ele... talvez porque foram
cortados do mesmo tecido, forçados a uma vida que não
escolheram e por essa razão, Klaus não seria capaz de reprimir
sua raiva, simplesmente batendo nele para caralho.

Não, Klaus precisava ser melhor que ele, para provar a si


mesmo — porque ele não podia dar a mínima para o que Luka
pensava dele — ele já não era tão fraco.

Klaus deu um passo atrás, os braços caindo para os lados.


Para todas as aparências, ele poderia parecer submisso, mas Luka
sabia que a postura era o oposto. — Lute de volta. — O comando
foi dito devagar, com cuidado, como se fosse o máximo de um
pedido, quase um apelo. Quando ele retornou e Luka lhe mostrou a
marca do seu lado, uma das duas que ele realmente não tentou
cobrir, houve um entendimento entre eles. Mas havia muito que
Klaus poderia fazer. Se era qualquer coisa como Luka, então
era constantemente bombardeado por lembranças de um
tempo que preferia esquecer e a única maneira de purgá-lo
era retaliar contra aqueles que o prejudicaram.
114

Ser atingido no rosto, para não mencionar a provocação,


Página

fez a velha necessidade de violência voltar à vida dentro


dele, mas ignorou-a, mantendo as mãos dos lados, mesmo
quando se contraíram. Concordando ou não com Klaus,
Luka devia isso a ele.
Uma dívida de sangue só poderia ser resolvida respondendo
em sangue.

Luka se endireitou, encolheu os ombros, ainda sem fazer um


movimento contra ele, não estava pronto para retaliar. Chegaria o
momento em que o faria, contanto que Klaus continuasse batendo
nele, mas não estava naquele ponto ainda.

Klaus parecia levemente irritado, mas não ficou assim por


muito tempo antes que estivesse lançando seus punhos
novamente, um no rosto de Luka, o outro em seu corpo, mas em vez
de se afastar como fez antes, continuou batendo, golpe após golpe,
mais rápido do que até mesmo Luka percebeu.

Levou apenas uma fração de segundo para colocá-lo


finalmente fora e se perguntado, ele não teria sido capaz de dizer o
que foi o gatilho, mas uma vez que isso aconteceu, não forçou de
volta, alegremente e de bom grado o abraçou. Segurando o punho
de Klaus, Luka o torceu, empurrando-o de volta. Neste ponto, já
não era uma luta justa. Esta era uma questão de sobrevivência. Se
alguém conseguisse sair dessa vivo, Luka estava determinado a
ser essa pessoa, mesmo que Klaus tivesse que morrer.

Até o final da luta, no entanto, ambos estavam sangrando,


mas vivos.

E desde então, as coisas foram tensas, como provavelmente


sempre seriam, mas pelo menos eram cordiais. Klaus estava
encostado na lateral da caminhonete de Luka, vestindo seu traje
habitual todo preto, o capuz de sua jaqueta de couro para
cima, parcialmente ocultando seu rosto, mas não havia
dúvida de quem ele era. Luka sabia que poderia reconhecê-
lo em qualquer lugar.
115

— Algo que eu possa fazer por você? — Luka


perguntou quando se aproximou.
Página

Quando não estavam perto dos outros, Luka não


fazia questão de ser amigável com Klaus. Mesmo que ele
gostasse do mercenário, na verdade, era difícil saber de
que lado Klaus estava. Ele gostava de andar com cuidado, apenas
no caso de Klaus finalmente decidir pegar e matá-lo.

— Preciso de um favor.

Luka franziu a testa.

Meses atrás, quando Klaus reapareceu na cidade, trazendo


de volta lembranças que era melhor deixar enterradas, eles
inevitavelmente cruzaram seus caminhos. Em troca de manter os
segredos de Luka — o fato de que Luka foi o único a tortura-lo,
embora fosse realmente Mishca que era para estar naquela
cadeira — Luka teria com ele uma dívida a ser recolhida em uma
data posterior. Ele nunca esqueceu essa obrigação para com ele
— como poderia, uma vez que estavam constantemente perto um
do outro — mas isso não significava que não estava curioso para
saber por que estava sendo cobrada agora.

— Por quê?

Klaus franziu a testa, embora não parecesse particularmente


irritado. — Isso importa?

— Depende. Quando eu terminar o que quer que seja esse


favor, como sei o que fará depois?

Agora Klaus estava sorrindo. — Eu não o mataria. Lauren


gosta de você.

— E o que importa para você?

Em resposta, ele encolheu os ombros.

— Quer dizer, se você está apaixonado pela esposa do


116

patrão, quem sou eu para julgar? Meio estranho também,


certo? Pelo que sabe, ela poderia estar pensando em você
Página

enquanto...

— Espanta-me como tenha vivido tanto tempo.


Honestamente. — Escolhendo ignorar seus comentários,
Klaus colocou a mão no bolso de sua jaqueta, puxando uma foto.

Ele virou-a, mostrando a Luka uma imagem preto e branco,


“o assunto” não sabia que foi seguido quando estava no telefone
subindo em uma caminhonete preta, mas mais do que isso,
vendo a pessoa representada ali apertou algo no coração de Luka.

Ambos os sentimentos de ódio e carinho se apoderou dele


quando Luka preparou-se, sabendo que Klaus estava à espera de
uma reação dele. Fazia anos desde que Luka viu o homem na
imagem. Nesse tempo, Luka cuidadosamente enterrou grande
parte de sua vida anterior como podia e isso significavam tentar
fortemente esquecer essa pessoa, uma pessoa que era muito
parecida com ele, mas pior.

Uma pessoa que o ajudou a torturar Klaus, porém pode-se


dizer que gostou muito mais do que Luka o fez. Na verdade, se
houvesse alguém que gostava de ferir as pessoas, seria ele.
Ganhando tempo, Luka passou por Klaus, jogando a mochila que
ele carregava no banco de trás.

— O que tem ele? — Perguntou ele depois que teve um


momento para se recompor.

— Sua vida pela dele.

Rangendo os dentes, Luka não pode deixar de olhar para


trás em direção ao prédio que acabou de sair, perguntando se
eles estavam sendo observados. Não era incomum que estivessem
ao redor de si, especialmente com Klaus andando por aí, mas
levaria apenas uma pessoa ser um pouco mais curiosa para
um segredo ficar exposto e ele realmente não precisava
disso.
117

— Eu o ajudo a encontrá-lo e você me deixar viver, é


isso?
Página

Klaus balançou a cabeça, guardando a foto. — De


modo nenhum. Não preciso de você para encontrá-lo.
Encontrei o resto de vocês muito bem, preciso saber
tudo sobre a sua operação.

Agora, foi à vez de Luka olhar confuso. — Qual operação?

Klaus inclinou a cabeça para o lado, daquela maneira meio


estranha dele, como se estivesse tentando avaliar se Luka estava
mentindo para ele. — Você não sabe, não é?

— Saber o que?

— Seu amigo aqui assumiu para os Besniks desde sua


infeliz passagem. — Ele não soava infeliz. — E por causa disso,
cometeu o seu primeiro erro. — Klaus deu um tapinha no bolso
de sua jaqueta. — Ele saiu do esconderijo.

— Por que porra ele faria isso?

Embora ele fizesse a pergunta em voz alta, era mais para si


mesmo do que para Klaus. Desde a noite em que virou as costas
para a Organização, Klaus não deu muita atenção ao que os
outros fizeram na sua ausência... talvez com exceção de Fatos.
Não passava um dia que Luka não pensava em encontrá-lo e o
que faria quando o visse. Enquanto sentia uma raiva imensurável
contra seu velho amigo, havia aquela velha sensação persistente
de tristeza. Houve um tempo quando Fatos era o único amigo que
tinha e por vezes, especialmente porque o conhecia tão bem,
perdeu essa companhia.

Mas com Klaus querendo vê-lo morto, a probabilidade de um


reencontro feliz era mínima.

— Provavelmente procurando por você. Diga-me, tem


feito alguma coisa para chamar a atenção dos albaneses?
118

Imediatamente, ele pensou na noite em que tentou


ajudar Alex, em busca de respostas para corrigir uma
Página

situação que precisava ser tratada. Uma única noite,


quando quase foi longe demais na relação com Alex, mas
não o suficiente quando se tratava de Bastian.
Quando pensava nisso, ele ainda podia se lembrar do calor
do sangue manchando, revestindo sua pele quando cortou as
costas de Bastian, em seguida, quando ele fez questão de cortar a
língua do homem, sentiu um pouco de satisfação em observá-lo
sufocar até a morte.

Não era como se a Organização não soubesse onde ele


estava... ou talvez Jetmir que não se preocupasse em
compartilhar esta informação e praticamente todo mundo que
esteve lá naquela noite estava morto... exceto por Fatos.

Talvez ele cometeu um erro ao matar um dos membros mais


graduados da organização? Talvez.

— Você o quer? — Disse Luka. — Pegue-o você mesmo.

Sorrindo, Klaus perguntou. — É sua resposta final?

Encolhendo os ombros, Luka não se incomodou em


responder, circulando seu jipe para saltar dentro, querendo
ignorar Klaus totalmente, mas era difícil ignorar alguém como ele.

Balançando a cabeça, Klaus se inclinou na janela da porta


do passageiro. — Depois de tudo que ele fez você ainda não irá
traí-lo?

Apertando os dentes, Luka olhou para frente, pensando em


um momento em que as coisas não foram tão complicadas. —
Não mais do que eu trairia Mishca.

— No entanto, um lhe deu a vida, o outro levou


embora.

Ligando o motor, Luka colocou o carro em movimento,


119

dando a Klaus um último olhar. — Nós ainda não chegamos


ao fim. Essa resposta ainda está no ar.
Página
Luka não gostava de nada sobre moto clubes. Ele não podia
explicar a ideia, especialmente quando poderia pensar em alguns
membros que achava que estava tudo bem, mas o conceito de
vida deles não lhe atraia.

Apesar de suas reservas, Luka entrou para realizar negócios,


sentindo os olhos sobre ele enquanto seguia o presidente a um
quarto onde trabalhavam os demais. Alguns outros homens
arrastaram atrás de si, mas se havia uma coisa que tinha certeza,
era que eles não iriam tentar emboscá-lo.

Enquanto o presidente ia para um cofre embutido na parede,


digitando um código para abri-lo, Luka balançou nos
calcanhares, assobiando baixinho enquanto colocava as mãos
nos bolsos. Estava pronto para sair, nunca particularmente
gostou deste trabalho realmente, mas era um trabalho. Dinheiro
nas mãos, produtos entregues e Luka estava quase fora de lá,
mas no último momento, olhou por cima quando ouviu o som
agudo da risada vindo da sua direita.

Ele esperava ver uma garota qualquer quando olhou sobre


sua cabeça. Estava sendo observado por alguns homens que
chamavam esse lugar de casa, mas o que realmente não
esperava era que a garota fosse Alex. Ela estava sentada em
um banquinho, de costas para a parede, embora estivesse
120

na maior parte inclinada para frente, a cabeça apoiada nos


ombros.
Página

Ele podia passar por isso se ela estivesse sóbria, se


ela estivesse ciente do que estava acontecendo ao seu
redor. Ele não tinha o direito de dizer a ela o que fazer,
mesmo que a visão dela com alguém o irritasse para
caralho. Mas o fato de que ela não estava consciente quando o
idiota de pé entre suas pernas a apalpou, puxando a alça do
vestido até que ela ficou nua da cintura para cima, enviou uma
fúria familiar dentro dele, seu único foco voltou-se a ela.

Luka não se lembrava de deixar cair o saco cheio de dinheiro


no chão, nem se lembrava de puxar as armas que sempre
carregava com ele. Em um minuto tinha a intenção de sair, no
seguinte disparou um número de rodadas, perfeitamente
calculado para bater perto dos membros que estavam mais
próximo de Alex. Ele não atirou para matar, apesar de sua
necessidade, mas foi o suficiente para chamar atenção.

O caos se instalou com mulheres dispersas e homens


lutando por suas armas. Antes que qualquer um deles pudesse
sequer pensar em puxar o gatilho, Luka estava do outro lado da
sala, agarrando o homem e afastando-o de Alex, que ignorou as
balas voando.

Quando Luka girou ao redor dele, ele amaldiçoou, seus


movimentos lentos, enquanto tentava se libertar, mas implacável,
Luka espalmou a parte de trás de sua cabeça e bateu-o de cara
na mesa de bilhar.

— Você tem um desejo de morte, porra! — Ele resmungou


quando o puxou de voltar, tentando se equilibrar, tocando o nariz
enquanto o sangue fluía.

— A puta é o seu problema, russo? — Um deles perguntou.

Sem se preocupar em corrigir essa suposição, Luka


voltou-se para o presidente desta pequena gangue de
motoqueiros, não dando a mínima ter pelo menos vinte
armas apontada para ele. Talvez fosse o fato de que ele
121

parecia indiferente à ameaça contra sua vida que os fez


olhar um para o outro, sem saber do que ele era capaz.
Página

Eles não tinham ideia. Acenando com a cabeça na


direção de Alex, Luka disse. — Ela vem comigo.
— Besteira. — Aquele que estava com Alex disse enquanto
circulava a mesa, mais seguro de si mesmo, agora que tinha seu
pequeno exército. — Eu digo que ela fica, porra. Por que não
perguntamos se ela quer ficar com ele.

A pergunta apenas conseguiu irritar mais Luka. — Você não


sabe quem ela é.

— Se ela é sua cadela. — Disse o presidente. — Aprenda a


controlá-la.

Ela não era nada de Luka, mas as palavras estavam na


ponta da língua. — Ela é a irmã mais nova de Volkov.

As ações de Luka poderiam ter obtido sua atenção, mas suas


palavras foram o suficiente para colocar medo em seus corações.
Eles não eram estúpidos, nenhum deles poderia enfrentar a
Bratva e viver para ver o fim dela. Nunca houve um dia em que
Luka pensou que teria que usar o nome Volkov para tirá-lo de
uma situação. Ele saía por conta própria, mas se quisesse tirar
Alex lá com segurança, então teria que fazer isto da maneira certa
com o derramamento de sangue.

— Agora, você tem uma escolha. Vou levá-la para fora daqui
e não falarei nada meu chefe ou atiro em você e depois sairemos.

— Você não pode derrubar todos nós.

Naturalmente, esta resposta inteligente veio da uma pessoa


que Luka estava louco para matar. Arma ainda na mão, ele
diminuiu a distância entre eles, muito consciente dos
outros, visando-o, mas ele não lhes deu nenhuma atenção.
Agarrou o colete do homem, empurrando-o para frente e
fora de equilíbrio.
122

Luka segurou a arma à cabeça, sem se importar que


Página

houvesse pelo menos quatro outras apontadas para ele. Ele


não foi superado, mas tinha alguém além de si mesmo
para pensar e apesar do desejo escuro nele que estava
implorando por uma luta, precisa ignorar a situação.
— Você acha que não conhece o medo. — Disse Luka,
falando de modo que apenas ele pudesse ouvir. — Mas não sabe
do que eu sou capaz. Quando estiver novamente com você e eu
prometo que estarei, colocarei uma bala em seus malditos joelhos
e até o final da noite, irá me implorar para matá-lo.

— Snow. — O presidente disse, rompendo seu momento. —


Encontre outra cadela para a noite.

Snow ainda estava sorrindo, tentando manter o rosto de


seus irmãos ao redor dele, mas Luka praticamente podia sentir o
cheiro de inquietação sobre ele agora. Ele não sabia quanto
tempo levaria, se um dia ou um ano, mas Luka iria visitá-lo e
quando o fizesse, iria limpar todos os demônios dentro dele.

Houve uma série de leis de trânsito quebradas quando Luka


saiu do armazém, a sua mente indo tão rápido quanto tentava
pensar na melhor forma de lidar com isso. Esta não era a
primeira vez que estava ao redor de alguém que usava drogas,
mas era a primeira pessoa com quem se preocupava.

Mishca iria reagir de forma exagerada e piorar a


situação e ele não estava no humor para lidar com Klaus,
assim, sem quaisquer outras opções, ele a levou para o
123

único lugar que era afastado o suficiente para cuidar dela.


Página

Sua casa.

Ele ligou o motor, constantemente olhando para seu


colo para se certificar de que ela estivesse bem, onde a
cabeça descansava em sua perna, mas pela forma
como ela ainda estava, se preocupava que ainda estivesse
respirando. Quando sua casa apareceu, ele estacionou o jipe e
correu para o lado de Alex para puxá-la para fora.

Cautelosamente levantando-a por cima do ombro, manteve


um braço ao redor de seus pés enquanto andava a curta
distância até sua casa. Abrir a porta com uma mão foi um
desafio, mas ele conseguiu. Luka chutou a porta fechada com o
pé, sem se preocupar em trancá-la quando a levou até a escada, o
coração martelando no peito. Ele tentou focar seus pensamentos
e se concentrar na tarefa em mãos, mas tê-la por cima do ombro,
mal se movendo, deixava suas emoções caóticas. Ele estava muito
envolvido nisto, com ela, para desligar tudo como fez tantas vezes
no passado.

Não pensando mais nisso, ele a levou para o seu quarto,


deixando-a na cama, mas imediatamente agarrou seus ombros
para obrigá-la a se levantar. Mas ela ainda estava mole.

— Merda... merda.

Pegando-a de volta, ele a levou para o banheiro, quase


tropeçando em sua pressa para ligar o chuveiro, deixando a água
no gelado. Ele se sentou com ela em seus braços, a água
imediatamente encharcando suas roupas.

— Alex, acorde.

Ele estava congelando, gotas de água caindo em seus olhos,


não importava quantas vezes ele as enxugasse. Quando ela ainda
não se mexeu, ele levantou a mão para o rosto dela e bateu-
lhe, não colocando muita força, com a mão tremendo
demais.
124

Nada.
Página

Por muito tempo, Luka trabalhou com descuidado


abandono, não dando um segundo pensamento para
aqueles que ele machucava e apesar de tudo, ele
raramente sentia medo.
Mas, quando sua mão continuou tremendo quando ele a
levantou novamente, não podia negar que isso era o que ele
estava sentindo.

Medo.

Com uma batida mais forte do que as outras, ele gritou seu
nome. Ela gemeu, um som baixo que era como música para seus
ouvidos. Ela tentou empurrá-lo, mas ele a manteve firme. Luka
precisava corrigir isso, consertá-la, mas em seu estado atual,
estava em pânico e não podia fazer qualquer bem. Fechando o
punho, ele bateu-o na parede, em seguida, novamente, apenas
satisfeito quando ouviu o estalo do azulejo junto com a dor aguda
irradiando do seu braço.

A dor aguçou sua mente, ajudou-o a concentrar-se e


normalmente desligando tudo dentro dele. Contra seu cabelo, ele
sussurrou um pedido de desculpas, sabendo que o que ele
planejava fazer com ela era para seu próprio bem... mesmo a
machucando.

Deslocando-a, ele abriu a sua boca e enfiou dois dedos


dentro. Alex respondeu imediatamente, engasgando, suas mãos
delicadas se levantando para segurar seu braço, suas unhas
marcando a pele. Apenas quando ela começou a vomitar ele os
tirou.

Uma vez iniciado, não iria parar. Ela deu uma guinada para
o lado, mas não havia quase nenhum espaço para ela se mover. A
maioria percorreu todo seu jeans e suas próprias roupas,
mas ele não se importava com isso, apenas feliz por
finalmente ver algum movimento. Mas não foi até que ela
começou a chorar, sussurrando palavras entrecortadas que
125

ele não conseguia ouvir, que algo se quebrou dentro dele.


Página
PARTE DOIS

Segredos nunca morrem.


Nós os enterramos vivos,
E rezamos para que eles não
Voltem para nos assombrar.

Mia Hollow 126


Página
DEZESSEIS

Passado

22 de novembro

Luka saiu do elevador, as mãos nos bolsos enquanto


caminhava em direção à porta anotada no papel que seu antigo
chefe lhe deu. Depois de três meses trabalhando sob as ordens de
Mikhail Volkov, Luka agora estava sendo enviado para trabalhar
para seu filho, a própria pessoa que Luka fez questão de evitar,
mas não podia negar a nova atribuição, sem qualquer suspeita.

Ajudou que ele dissesse meias verdades, o suficiente para


que ninguém questionasse suas origens e que fosse capaz de
manter tudo em linha reta em sua cabeça. Enquanto ele ainda
tinha o sotaque do antigo país, agora estava mais apagado devido
ao seu tempo nos Estados Unidos, junto com sua pronúncia
do sotaque de sua mãe.

Considerando que fazia o trabalho sujo e a forma como


127

o fazia, ninguém queria prolongar seu tempo com ele, o que


ajudava no seu disfarce. Ele não tinha dúvidas de que o
Página

filho de Mikhail ouviu os rumores sobre quem ele era e o


que fazia, mas apenas esperava que a atitude que retratou
fosse o suficiente para mantê-lo longe dos
questionamentos.
Erguendo o punho contra a madeira pesada, parando um
pouco atrás para que a pessoa do outro lado fosse capaz de vê-lo
claramente. Levou alguns momentos, mas quando a porta se
abriu Luka não estava esperando quem ele viu do outro lado.

Uma garota com grandes olhos verdes e cabelos loiros.


Apesar de sua pequena estatura, ela não se parecia muito com
uma criança. Não havia uma abundância de curvas, mas apenas
o suficiente para ter conhecimento.

— Quem é você? — As palavras saíram de sua boca antes


que ele pudesse impedi-las, mas não se arrependeu de perguntar.

Um sorriso atravessou seu rosto, um de astuto divertimento,


um sem qualquer motivo oculto. Era diferente e ele não conseguia
se lembrar da última vez que alguém olhou para ele com algo
diferente de desprezo. Não... poderia, ele simplesmente não
gostava de pensar nela.

— Eu não deveria estar perguntando isso? — Perguntou ela,


sua voz leve e melodiosa puxando-o para dentro.

Francês? — Talvez. Estou à procura de Volkov.

— Essa seria eu ou Volkova se você liga para


particularidades, o que eu posso fazer por você?

Ninguém nunca mencionou a ele que o Pakhan tinha uma


filha, muito menos que ela parecia uma garotinha, mas agora
quando Luka realmente olhava para ela, ele percebeu o quanto
ela se parecia com Anya. E se ela fosse sua filha, não
poderia ter mais do que quinze.

Percebendo isso, Luka deu um passo atrás, limpando a


128

garganta. — O outro Volkov então.


Página

Ela o olhou com curiosidade, como se apenas a partir


do pouco tempo que estiveram ali de pé juntos, ela o achou
interessante. Abrindo a boca, Alex quis dizer algo mais,
mas uma voz dentro do apartamento cortou.
— O que eu disse a você sobre atender à minha porta?

Não havia dúvidas de que o rapaz que apareceu atrás de sua


irmã era Mishca Volkov. Luka era assustadoramente familiar com
esse rosto, mas ao contrário daquele que Luka torturou há alguns
meses, não havia medo nos olhos daquele homem. Apenas uma
frieza, uma raiva com a qual Luka poderia se relacionar.

— Quem é você?

Ele pensou em colocar a sua guarda para cima, mas pensou


em algo melhor, uma cobertura que iria fazê-lo menos provável de
ser apreciado.

— Luka. — Ele respondeu com um largo sorriso. — A ajuda.

Teve a reação desejada. Mishca parecia não saber o que


pensar dele, estreitando os olhos enquanto tentava determinar se
Luka estava tentando ser propositadamente desrespeitoso.

— Entre e eu vou atualizá-lo com tudo o que precisa saber.

Mishca deu um passo para o lado, permitindo Luka andar


na frente dele, cuidando para não ficar de costas para ele.
Inteligente. Mas Luka não confiava nele também, não importava
quanto tempo estivesse trabalhando para a família e ninguém
parecia o mais sábio, mas era menos visível sobre ele.

Ele foi levado a um escritório, um que era os mesmos tons


de cinza suaves como o resto do apartamento parecia ser. Antes
de entrar, no entanto, Luka encontrou-se olhando para trás,
por cima do ombro para a mais jovem Volkov, um acréscimo
inesperado que ele não contava.
129

Apenas dez minutos em sua presença e ele sabia, sabia


de uma forma que o surpreendeu que ela seria um
Página

problema. Se bom ou ruim, ele ainda não sabia.


DEZESSETE

Trancado por dentro

Estrelas cobriram o céu da meia-noite, espiando pela


cobertura esparsa de nuvens. A lua estava pesada, leve silêncio
derramando pela janela da sala escura.

Alex estava grogue quando começou a acordar, tentando se


orientar, tirando seu cabelo do rosto enquanto se sentava. Ela
não estava em casa, isso era evidente, uma vez que não
reconheceu seus arredores. Mas isso não era fora do comum
desde que a maioria das noites não se lembrava do que fez.
Também ficou claro que ela não estava com Snow, desde que
onde quer que estivesse era um local muito limpo.

Embora ainda se sentisse um pouco mau, teve cuidado


enquanto se movia — lembrando da última vez que acordou
assim — ficando de pé, franzindo o cenho para o colchão no
meio do chão aos seus pés. Lençóis cobrindo, limpos pela
aparência deles, mas além do colchão, não havia mais nada
no quarto.
130

Ela olhou para si mesma, puxando a parte inferior da


Página

camisa que usava, tentando ler a frente, mas estava tão


desbotada que não mostrava nada. De alguma forma, o
vestido foi embora e seu cabelo estava molhado. Estranho.
Ela correu os dedos sobre a camisa desbotada, certo que viu Luka
em algo semelhante.

E estava propensa à ilusão, por vezes, quando era sobre ele,


mas pensou que cheirava como ele, também. Olhando em volta,
ela observou tudo, mas não acha que, mesmo com a memória
nebulosa, esteve ali antes. Poderia dizer que não estava com
Snow no mínimo. Era muito vazio e não tinha o cheiro de um
monte de homens que viviam juntos.

Indo para o banheiro, ela invadiu os armários, encontrando


uma pequena garrafa de Listerine que precisava
desesperadamente para livrar-se do gosto ruim na boca. Depois,
lavou o rosto com água, sentindo-se moderadamente melhor, mas
não tão bem quanto esperava.

Saindo do quarto, explorou o máximo que pode, na


esperança de que pudesse encontrar alguma coisa, mesmo que
apenas uma imagem para ajudá-la a entender o lugar onde
estava. Um corredor estreito levava a uma escada em direção ao
final do mesmo, dois outros quartos neste andar. Não havia fotos
ou qualquer coisa particularmente notável que falavam de quem
vivia aqui. Tudo parecia... estéril. As paredes foram remendadas
em determinados pontos, a tinta branca destacando-se entre o
creme liso e era bastante claro que a casa estava sendo
reformada.

A sala era a mesma coisa, parecia como se estivesse cheia de


reparos.

Não havia sequer qualquer mobiliário. — Olá?

Nenhuma resposta veio. Nem ela ouviu passos


anunciando abordagem de alguém.
131

Alex virou uma esquina, indo em direção à cozinha,


Página

onde podia sentir o cheiro de comida. Havia uma variedade


de panelas e frigideiras no fogão de seis bocas, todas
borbulhando. Alex estava tentada a dar uma olhada, mas
a porta de trás se abriu e um cão enorme entrou, os
olhos indo para ela quando saltou de surpresa.

Era um Husky, se ela não estivesse enganada, de cor cinza e


branca, os olhos do mesmo azul pálido como os de Luka. A forma
como suas sobrancelhas se arqueavam sobre seus olhos o fazia
parecer demoníaco, como se estivesse conspirando sobre a
melhor forma de mastigar seu braço e transformá-lo em um novo
brinquedo, mas sua cauda abanando era outra coisa. Talvez fosse
um assassino feliz?

Luka apareceu atrás dele, sacudindo a neve de seu cabelo


enquanto fechava e trancava a porta. Quando ele a percebeu de
pé, sua expressão passou de aberto para fechado, indiferente.
Com ela, havia sempre algo em seus olhos, seja raiva,
aborrecimento e algumas vezes rara alegria ou brincalhão, mas
agora... nada. E enquanto ela geralmente ignorava isso, sentiu
mesmo ele não dizendo uma palavra que estava irritado.

Se tivesse que assumir, então tinha a ver com Snow, porque,


se nada mais, ela se lembrou de ir com ele na noite anterior. Foi
na noite anterior ou apenas algumas horas? Ela nem sabia que
horas eram. Merda. Onde estava seu telefone?

— Luka, onde...

— Você está com fome? — Ele perguntou cortando-a e


gesticulando para o fogão com um aceno de cabeça.

Não quando seu estômago estava ameaçando rolar em si


mesmo. — Não realmente, mas eu...

— Dê-me um segundo. Tenho que alimentar Loki.

Ele andou em volta dela, indo para um canto da


132

cozinha que tinha uma grande cama e duas tigelas


prateadas descansando ao lado dela. Ele encheu uma com
Página

água de um jarro que puxou da geladeira e a outra com


comida úmida de cão.
Alex nunca o viu muito como uma pessoa de animais de
estimação, não quando ele raramente estava em casa, mas era
óbvio que amava o cão, o seu nome era Loki? Viu o jeito que ele
arranhou por trás de suas orelhas antes de deixá-lo comer.

Talvez ele estivesse cuidando dele para um amigo? — Este


cão é seu? — Ela perguntou olhando entre eles.

— Sim. Loki é o seu nome.

Claro. Luka não tinha nenhum amigo que não fazia parte da
Bratva.

Alex sorriu, olhando para Loki. — Não pensei em você como


um homem de cães. Onde o conseguiu?

— Ele veio comigo desde... — Mas ele parou de falar, sua


mandíbula apertando por um momento.

Ele não tinha a intenção de dizer-lhe? — Da Albânia, quer


dizer? Você o encontrou ou seus pais lhe compraram para você?
— Neste ponto, ela estava apenas tentando conversar, não apenas
porque queria saber mais sobre ele, mas também porque queria
evitar a conversa que sabia que viria uma vez que ele dissesse a
ela porque estava ali com ele.

Ele parecia lutar uma batalha interna consigo mesmo antes


de responder.

— Eu não sei de onde ele veio, apenas apareceu um dia. O


lugar onde eu o encontrei... os cães eram treinados para
lutar e eram todos enormes. Ele não tinha uma chance
contra eles. Se alguém soubesse que ele estava lá, eles o
teriam matado... assim o adotei. Ele tem sido meu
133

companheiro desde então. — Algo sobre a maneira como


contou a história fez Alex pensar que havia mais do que
Página

isso, mas ela não estava confortável para questioná-lo


mais.
Satisfeito com a comida, Loki trotou até ela, cheirando sua
mão quando ela estendeu a ele. Quando ele considerou “ok”, ele
deixou-a acariciá-lo. — Será que o irritado Luka salvou a sua
vida?

E com toda a convicção do mundo, Luka respondeu. — Não,


ele salvou a minha.

Não sabendo como responder a isso, ela manteve o silêncio,


até que o silêncio era demais.

— É está a sua casa?

— Sim.

Era isso. Isso foi tudo o que disse. — Há quanto tempo você
mora aqui?

— Três anos, mais ou menos. — Ele encolheu os ombros,


voltando-se para o fogão quando levantou a tampa da panela e
olhou para dentro.

Ela decidiu ignorar o seu mau humor, passando por uma


janela e olhando para fora, tentando avaliar onde estavam na
cidade, mas apenas havia escuridão e árvores, não dava para ver
nada mais. Aparentemente, ele vivia no meio do nada.

— Onde estamos?

Ele olhou para ela, cruzando os braços sobre o peito. Ele não
estava relaxado, nenhum pouco, embora tentasse muito
fazer parecer que estivesse. Alex não podia explicar isso, o
jeito como estava tentando não parecer ameaçador, como
era tão cuidadoso com seus movimentos, mas havia algo
134

sobre a maneira como estava agindo que a incomodava.


Página

Ignorando sua pergunta, ele fez uma própria. — Sabe


onde eu encontrei você na noite passada?

A única coisa que ela sabia com certeza era que


estava com Snow, mas não sabia como deixou aquele
lugar, porque não teria feito sentido que Luka tê-la encontrado lá,
não quando ele não sabia onde ela estava.

— Eu liguei para me buscar ou algo assim? Se eu fiz, me


desculpe. Não queria estragar sua noite.

Que dia da semana era? Era por isso que ele estava agindo
de modo estranho, porque ela interrompeu uma de suas sessões
semanais? Ele não respondeu por um longo tempo, sua atenção
voltada sobre o que ele estava fazendo no fogão. Percebendo que
algo estava incomodando e não querendo entrar no assunto sobre
Snow, Alex o deixou, olhando para o cão que ainda estava
cuidadosamente ao seu lado, olhando-a como se ele fosse o único
a tentar entendê-la.

Além de ser enorme, a fera realmente parecia bastante


amigável e quando ela estendeu a mão para acariciá-lo
novamente, sorriu quando ele praticamente a obrigou a acariciá-
lo. Mesmo quando ela retirou a mão, o cão empurrou a cabeça de
volta, olhando para ela com olhos grandes.

Ela nunca possuiu um animal de estimação, não que


pudesse lhes dar atenção, com quão ocupada era, mesmo
durante sua infância. Mas o pensamento de ter um companheiro
à fez se sentir como se tivesse perdido alguma coisa que poderia
ter sido potencialmente divertido. A julgar pela dimensão deste,
Luka deve tê-lo por um longo tempo.

— Você não precisou me ligar, Alex.

— Então por que estava lá?

Isso não fazia sentido para ela, nenhum pouco. Tinha


certeza de que nunca mencionou Snow a ninguém, então
135

não havia nenhuma maneira dele saber sobre isso, pelo


menos não por ela. O único outro cenário em que poderia
Página

pensar era que Mishca poderia ter lhe seguido, mas se


tivesse, ele teria dito a ela sobre isso, pelo menos.
— Eu tinha uma entrega sob ordens do seu irmão. Cheguei
lá, vi você e logo estava pronta para sair, assim saiu comigo.

Isso não sova plausível... ou era?

Merda, ela não se lembrava de nada.

— Haverá muito tempo para conversar enquanto comemos.


Então, sinta-se em casa.

Ele fez o comentário casualmente, como se não estivesse


mais prestando atenção à conversa e não saber o que estava
incomodando-o e somente saber que algo estava se formando na
cabeça dele, ela não o contrariou. Subindo em uma das
banquetas, os dedos dos pés quase atingindo o chão, ela
tamborilou os dedos sobre a superfície do balcão, esperando que
ele terminasse e talvez então estaria pronto para falar.

Não demorou muito e ela não tinha certeza de quanto tempo


ele iria realmente fazer isso, mas uma vez que desligou o fogão e
tinha duas bandejas com comida, ele acenou com a cabeça na
direção da escada, indicando para segui-lo de volta para o quarto
onde acordou.

Agora que ela, pelo menos sabia onde estava, ela finalmente
perguntou. — É este o seu quarto ou um quarto extra? Se fosse
um quarto de hóspedes, poderia explicar o porquê dele não ter
decorado ou até mesmo não colocar qualquer esforço nisso. Não
havia nem mesmo uma cama adequada.

— Meu.

Enquanto havia algo peculiar sobre a maneira como ele


estava agindo, ela ainda voluntariamente entrou em seu
136

quarto, sentando-se sobre o colchão já que não havia


cadeiras no quarto... ou qualquer outra coisa.
Página

Ele entregou-lhe uma bandeja, em seguida, uma faca


e garfo, colocando uma cadeira em frente a ela. Mas
quando fechou a porta antes de se aproximar, ela não deixou de
notar que a porta não tinha tranca por dentro.

Em seu prato, a comida parecia incrível. Peixe com molho de


mostarda sobre folhas de couve ao lado de aspargos. Ela nunca
chegou a se beneficiar pessoalmente de seus talentos, mas
Lauren lhe contou sobre isso. E está noite, ela iria definitivamente
se beneficiar, mesmo que não estivesse com tanta fome.

Esfaqueando um pedaço de espargos, ela girou o garfo na


mão. — Você vai, finalmente, me dizer o que está acontecendo ou
preciso adivinhar?

— Responda a uma pergunta primeiro.

— Certo.

— Em que você está?

Seu pulso disparou, mesmo quando ela olhou para longe de


seu olhar sondando. — Do que você está falando?

— Não vou mentir. Esta merda poderia ter acabado se eu


realmente não tivesse prestado atenção, este é o meu mal. Pensei
que você estivesse apenas bêbada. Não gosto disso, beber até que
seus sentidos sejam prejudicados, mas que porra poderia dizer?
Não tinha nenhum direito sobre você e deixou bem claro que não
seria razoável sobre qualquer coisa que lhe pedisse. Então na
noite passada... não estava mentindo quando disse que tinha
uma entrega de Mish. Estava mentindo quando disse que quis
sair comigo. Sim, eu prometi nunca mentir para você. —
Disse ele ao ver a expressão no rosto dela. — Mas havia
uma chance de que se eu lhe dissesse a verdade no andar
de baixo, você teria saído da minha casa... e não podia
137

deixa-la fazer isso.


Página

— Luka, que porra... não está fazendo nenhum


sentido.
— Você estava tão chapada na noite passada que nem
percebeu quando entrei na porra do armazém deles. — Ele estava
olhando longe, como se lembrasse exatamente o que ela estava
com medo de ouvir. — Isso apenas me disse que você não sabia
que aquele merda estava despindo você na frente de todos, essa
desculpa patética para um vestido.

Alex engoliu em seco, sentindo a irritação rolando fora dele


em ondas. Colocando o prato para baixo, ela se afastou dele. —
Oh, eu te irritei? — Ele perguntou com uma voz falsamente doce,
aqueles olhos azuis duros agora fixos nela. — Imagine que porra
fez comigo.

— Que seja. — Ela se levantou, indo para a porta, mas


quando virou a maçaneta, ele não se moveu. — Que porra você
está fazendo, Luka?

— Nós ficaremos aqui um pouco e faremos isso. Oh sim. E


irá se desintoxicar um pouco. Provavelmente se sente bem agora,
mas uma vez que descer, será uma cadela. Acredite em mim.

— Você está louco? Não pode me manter aqui!

Ele sorriu e ela viu a aparência exata que sabia que ele
mostrava para aqueles a quem intimidava.

— Quem é que vai me impedir?

— Luka, você não pode.

— Não se preocupe. Estarei aqui enquanto isso. 138


Página
DEZOITO

Ultimatos

Ele viu o que o vício faz durante seu tempo com Bastian. Ele
viu os efeitos dele sobre os homens que usavam antes de entrar
no Pit e até mesmo as mulheres que Bastian comprava para os
homens. Principalmente, ele se lembrou da garota com o cabelo
preto pegajoso que ficava do outro lado da mesa, quando Bastian
estava atrás dela, empurrando em seu corpo enquanto ela ainda
permanecia na frente dele. Até hoje, ele não sabia se ela ainda
estava viva na época. O pensamento de Alex assim com Snow
apenas conseguiu irritá-lo mais e mais cedo, depois que ela
desmaiou quando ele a tirou do chuveiro, as paredes do banheiro
sofreram o pior de sua raiva.

Se Alex estava pronta para enfrentar o problema ou não, ele


iria chegar à raiz de qualquer coisa que tinha e resolvê-lo, mesmo
que tivesse que quebrá-la no processo, mas em última
análise, ele não acreditava que o faria. Ela era forte, mais
forte do que qualquer um acreditava e ele precisava lembrá-
la disso.
139

— É isso? Você está pensando em me manter aqui,


Página

como sua prisioneira? — Ela perguntou lentamente, suas


palavras cheias de sarcasmo. — Não acho que seguirá o
caminho que quer. Você trabalha com meu irmão.
Se ela achava que seria a única a mudar de ideia, então não
o conhecia muito bem. Enquanto ficou apagada por horas, ele se
preparou para esta mesma reação. Ele tinha água no armário,
para não mencionar comida suficiente para durar... não que ele
pensasse que ela iria comer muito.

— Não seria a primeira vez que você desaparece. — Ele


respondeu calmamente.

— O que isso significa? — Ela estalou os dedos antes que ele


pudesse responder. — Oh, certo. Você não irá me dizer. E por que
aqui está tão quente?

Provavelmente o lugar não era tão quente como ela percebeu


que estava, mas ele desligou o ar e até mesmo fechou as
aberturas acima na janela para se certificar de manter a sala o
mais quente possível.

— Qualquer que seja a porra que você esteve tomando, eu


tenho um palpite que você não sabe, tem que sair do seu
organismo de alguma forma.

— Não é tão grave, Luka. Ok, talvez eu tenha exagerado um


pouco ontem, mas não é como se eu fosse uma viciada. E com
certeza não lhe dá direito de fazer tudo isso.

Abandonando seu próprio prato, ele atravessou o quarto


indo até ela. — Então, diga-me, quem é Snow?

Seus olhos estavam brilhando e ele podia ver o momento em


que ela pensou em mentir, mas depois pensou melhor.

— Apenas um cara que eu conheço. — Ela fez uma


careta. — É disso que se trata? Você me viu com um cara e
140

agora está com ciúmes?


Página

— Você transou com ele?

Ela revirou os olhos para ele, mas a falta de uma


resposta disse tudo o que precisava saber.
— Você não sabe, não é? — Ele esperou até que viu a
confirmação em seus olhos, um olhar que o enfureceu. —Esse é o
problema, meu problema. Eu a deixei ter seu espaço, mas agora
você tem a minha atenção.

— O problema é... — Ela respondeu. — Eu não quero isso.

Ele sorriu, embora não fosse um sorriso amigável. — Muito


tarde.

Apertando os dentes, ela colocou o cabelo para trás, olhando


para ele, tentando reunir o pouco de coragem que tinha. — Você
não pode me obrigar a ficar aqui, Luka. Você não me possui.

— Eu apenas direi esta merda uma vez. Irá se sentar e nós


vamos descobrir isso para você. Porque se formos honestos, você
só tem três opções. Uma: sair pela janela. Talvez eu não tenha
fechado muito bem, então pode abri-la e sair, mas estamos no
segundo andar e provavelmente iria machucar sua bunda
bonitinha se pulasse. Dois: pode passar por mim e tentar quebrar
a porta, mas vou avisá-la, você teria mais sorte na janela.

Da maneira como estava falando, as inflexões russas em


suas palavras estavam sumindo e agora ela estava ouvindo partes
que ele tinha, cuidadosamente enterrado. — Três: você pode usar
o seu telefone, mas... — Ele ergueu-a, sacudindo-a para frente e
para trás com sua boca aberta, suas mãos indo automaticamente
para o seu corpo que ela podia ver claramente que ele segurava.
— Um problema com esse cenário, o seu telefone quebrou.

Naquele momento, ele lançou o telefone do outro lado


da sala, chocando contra a parede onde a tela de vidro
estilhaçou. Para piorar a situação, ele foi até lá, pegou o
aparelho apenas para ver se estava funcionando antes de
141

jogar de volta no chão, pisando nele.


Página

Definitivamente não havia nenhuma maneira de usá-


lo agora.
— Você perdeu completamente a porra do sentido, Luka! —
Ela nem sequer se incomodou em tentar ver se o telefone poderia
ser consertado. Ela poderia dizer mesmo à distância que não era
possível.

Luka voltou para sua comida, parecendo mais calmo agora


do que antes. — Agora que tenho sua atenção, quando você se
sentar, nós comemos. Eu não ralei em um fogão quente para esta
comida ir para o lixo.

Não vendo outra opção por enquanto, ela fez o que ele pediu,
pelo menos parcialmente, tomando seu lugar no colchão, mas
ficou longe dele, usando o garfo para empurrar a comida ao redor
do prato. Ela teve chances piores, pensou. Podia esperar passar o
que quer que ele estivesse planejando, depois poderia voltar para
sua vida e isso seria tudo.

Ela estava, inequivocamente, irrevogavelmente cansada.

Em algum momento adormeceu e abandonou sua


comida no chão ao seu lado, mas quando acordou um
pouco depois e viu que Luka ainda estava acordado, desta
vez girando uma faca como se fosse um esporte olímpico,
ela sabia que o subestimou. Não era como se ele estivesse
142

fazendo algo em particular, estava mostrando seu ponto e


Página

ficando de frente à porta, sentia um incômodo em seu


estômago que não estava lá antes.

Ou pelo menos pensou que não estivesse.


Levantando-se do chão, ignorando a forma como seu braço
tremia, ela perguntou: — Que horas são?

— Nove.

— Quanto tempo eu dormi?

— Oito minutos, mais ou menos.

Irritada, ela olhou para longe, esfregando os braços. — Você


estava me observando dormir? Sabe que isso é muito estranho.

— Deve voltar a dormir. Pode ajudar a refletir sobre sua


atitude.

— Ou talvez possa me deixar sair deste quarto! Isso faria


maravilhas para a porra da minha atitude.

Ele virou sua faca fechando-a, deixando no chão ao seu lado


quando se inclinou, colocando sua cabeça e costas contra a
porta. — Alguém está de bom humor...

Não havia um insulto bom o suficiente para dizer a ele


enquanto se dirigia ao banheiro, batendo a porta atrás de si,
empurrando a trava na maçaneta. A própria porta não parecia
muito resistente e se ela tivesse que adivinhar, ele provavelmente
seria capaz de quebrá-la se quisesse, mas no momento, ela
deixou a alusão da privacidade acalmar seus nervos.

Usando o banheiro, lavou as mãos, olhando para seu reflexo


no espelho, um hábito para ela hoje em dia e tentou se
recompor. Este era apenas um jogo, uma tentativa um
pouco torta de se sentir no controle. Logo, ele ficaria
entediado e a deixaria sair, mesmo que apenas para que
143

pudesse voltar a seus rituais semanais com Natasha.


Página

Esse pensamento a fez se sentir melhor, porém


incomodava.

Recusando-se a ficar escondida, voltou para o


quarto, mas só depois que pegou o colchão e puxou-o
pelo chão para o lado oposto de onde ele estava sentado. Se ele
estava falando sério sobre como fazer isso...

Ela olhou em sua direção, observando a maneira como ele


não parecia incomodado. Seria uma longa noite.

Andando pelo lugar, Alex tentou se lembrar do que ela já


gostou em Luka.

Ele estava feliz sentado, observando cada movimento dela


como se soubesse que estava lentamente começando a se
quebrar. O desejo de sair desta situação ridícula apenas
aumentava e o incômodo familiar em seu estomago apenas
piorava.

E a forma não abalada de Luka, apenas a deixava mais


irritada.

Quando ela olhou para ele novamente, ele sorriu. —


Qualquer coisa que esteja pensando, não o faça.

Ela encontraria uma maneira de sair de lá, não


importava o que ele dissesse.
144
Página
Sua quebra veio lenta e constante, outro pedaço de sua
confiança se afastando.

Ela tentou se segurar pelo tempo que pode, tentou provar


que estava no controle do que estava fazendo, mas como ele
sabia, observou sua confusão, de uma forma que fez seu peito
doer. Mas mesmo assim, ela não admitiu que precisava de ajuda.

Luka ficou do seu lado no quarto, dando-lhe tanto espaço


quanto poderia querer. Ele inclinou a cabeça para trás contra a
parede, com os braços apoiados nos joelhos erguidos.

Primeiro, ela ficou deitada na cama, olhando para o teto por


longos minutos, seus lábios se movendo silenciosamente
enquanto contava as linhas espirais. Então, se levantou, fingindo
explorar o pouco que havia em seu quarto, demorando-se no
armário, onde suas roupas estavam penduradas em sua maioria,
algumas em pilhas no chão. O banheiro foi o próximo, em
seguida, olhou para fora da janela, mas não havia quase nada a
ver desde que seu quarto era na parte de trás da casa e
quando ela esgotou todas as suas opções, voltou para a
cama, caindo nela em com um Puff.

Horas se passaram assim e somente quando desmaiou


145

mais uma vez, ele saiu do quarto e foi para a cozinha, pegar
Página

algo para ela comer, que esqueceu mais cedo. Duas


garrafas de água e suprimentos suficientes para durar
alguns dias e ele estava pronto para o longo curso, mesmo
que ela não estivesse.
Foi apenas quando a inquietação se transformou em
irritação e aborrecimento e logo em desespero que as coisas
realmente começam a mudar e foi somente quando ela estava no
limite que Alex realmente mostrou qualquer vulnerabilidade. Ele
estava esperando por isso, o momento em que iria começar a
tornar-se demais para ela. Por um tempo, Luka pensou que
poderia lidar com isso, sempre pensando que ela parecia tão
forte.

Mas apesar do que ele sentia por ela, não importava quão
forte esses sentimentos eram, levou-os para o fundo de sua
mente, desejando fazer o que precisava ser feito. Ele sabia o que
precisava ser feito. Mesmo se a machucasse, precisava fazer o
necessário.

Ninguém sabia o fardo que carregava, nem como era fácil


para ele transformar essa bússola moral fora para que pudesse
fazer o que outros não podiam. Ele estava disposto a machucá-la
se isso significasse ajudá-la.

Luka não achou que seria tão expressiva, tudo o que ela
estava sentindo e pensando aparecia por todo o rosto. Essa
máscara bem cuidada que ela mantinha no lugar se foi agora. Ele
sabia melhor do que ninguém o preço que levava para manter
tudo engarrafado dentro, sofrendo em silêncio, para não
sobrecarregar os outros com a dor, mas agora ele queria sua dor.
Ele queria tirar isso dela.

Ele não era uma pessoa boa. Realmente não merecia coisas
boas, mas ela sim. E ele queria que ela fosse feliz. Fosse
livre. Mas ele ainda tinha que chegar ao cerne da questão.
Então, muitas coisas poderiam pesar sobre ela,
especialmente na vida que levavam. Ele apenas queria que
146

ela confessasse a ele, se a ninguém mais.


Página

— Alex ...
Quando ele disse o nome dela, ela se encolheu, com os olhos
apertados fechados. Como se fosse um golpe físico que a
machucasse.

— Eu apenas preciso sair daqui. —Ela sussurrou mais para


si mesma do que para ele. O desespero, tingido com um pouco de
raiva, estava de volta. — Por favor... Luka, eu apenas preciso ir.

Ele teria dado a ela o mundo se ela tivesse pedido, mas


isso... isso, ele não podia. Tantas respostas vieram a ele,
variações sobre a forma de deixá-la com cuidado, mas ela não
precisa disso agora.

— Não.

Ela não queria essa resposta, levantou-se de uma vez.


Ignorando-o completamente, ela caminhou em direção à porta e
alcançou a maçaneta, mas ele foi mais rápido, interceptando-a.
Mesmo que ela quisesse, ele trocou as fechaduras na porta do
quarto onde era trancada por dentro e ele tinha a chave no bolso.

Quando ele estendeu a mão para ela, ela pulou para trás e
pode ver o momento exato em que a raiva assumiu. Mas isso era
bom porque, pelo menos, ele sabia que a Alex que ele conhecia e
cuidava estava em algum lugar.

Ela fez um movimento para dar a volta nele, mas bloqueou-a


novamente, desta vez alcançando para estabilizá-la quando ela
tropeçou um pouco. Esse foi o catalisador. No momento em que
ele a tocou, de forma inocente quando ele segurou seus pulsos
enquanto ela caía para trás, ela se afastou dele.

Ele permitiu que o primeiro tapa, com a palma da mão


aberta atingisse seu rosto, o suficiente para que ele sentisse
147

a picada quando se afastou para fazê-lo novamente, mas


não importava quantas vezes batesse nele, não seria o
Página

suficiente. Quanto mais ela tentava lutar contra ele,


tentando afastá-lo à força, mais ela ficava agitada,
verbalizando suas frustrações. Não importava como ele a
segurasse ou pelo menos tentou agarrá-la, ela ainda
encontrava uma forma de atingi-lo, seu joelho subindo tão rápido
que ele mal bloqueou.

— Alex, pelo amor de Deus! Acalme-se!

Ela empurrou para longe dele e ele a deixou. Nesse curto


espaço de tempo, ela o atingiu mais do que jamais permitiria a
qualquer um, mas não sentia a menor vontade de machucá-la em
troca.

— Foda-se! Eu não preciso de sua ajuda. E nem quero.


Quando você começou a dar uma merda de qualquer maneira?
Tenho certeza que sua prostituta está esperando por você em
algum lugar.

Ele não sabia do que se tratava aquele pequeno discurso


irritado. Ele fez um bom trabalho em manter uma coleira em seu
temperamento até aquele ponto, mas então ela apenas explodiu.
Seus olhos se arregalaram quando ela deu um passo para trás,
mas mesmo no auge da sua ira, ele nunca a machucaria. O braço
de Luka foi para a frente, o polegar em um lado de seu pescoço,
os dedos do outro e ele a puxou para frente, com um pouco de
força. Ela tentou olhar para baixo, longe de seu olhar, mas ele
não o permitiu.

— OLHE. PARA. MIM.

Ele poderia dizer que ela queria bondade, alguém para tirar
a dor, assim como as drogas faziam por um curto período, pelo
menos foi que ele descobriu, mas Luka não poderia dar isso a ela.
Não podia fingir que não sabia que ela estava se matando
lentamente. E sabia, pelo menos achava que soubesse que
estava em seu máximo e a única maneira dela poder se
curar disso era se finalmente enfrentasse em vez de tentar
148

fugir. Mesmo que todo este processo fosse ser cansativo, ela
teria que enfrentá-lo e não estaria sozinha.
Página

Ela sacudiu com suas palavras e ele imediatamente


suavizou o tom. — Olhe para mim.
Quando ela finalmente o fez, seus olhos lacrimejando,
lágrimas prontas para deslizar, ele soube que o pior de sua raiva
se foi, mas não duvidou por um segundo que estaria de volta.

Assim que sentiu que tinha sua atenção completa, ele disse
às palavras que estavam queimando para sair dele. — Irá doer.
Você irá me odiar. — Seu aperto ainda estava firme sobre ela. —
Ficará muito pior antes de melhorar.

Ele ficou tentado, tentado a dizer-lhe como realmente se


sentia, mas não era o momento para isso, ainda não.

Durante a última hora, ela se acalmou, além do constante


movimento que colocou Luka no limite. Ele estava nervoso, não
tendo certeza de que ela era capaz de fazê-lo em seu estado atual.
Ele não queria machucá-la, mesmo que isso fosse exatamente o
que estava fazendo no momento, mas a necessidade de contê-la
não chegou.

Loki veio para a porta, lamentando-se, tentando colocar


sua pata por baixo da porta como se isso o ajudasse a abri-
la, mas desistiu logo depois, deixando cair seu peso sobre o
chão deitando-se por lá.
149

Um observador por natureza, Luka apenas ficou


olhando enquanto ela se perdia em sua própria mente,
Página

imaginando o que estava pensando que a deixava alheia a


ele. Ele se perguntou por algum tempo, que parte de sua
vida ferrada era a razão para esta recente queda nas
drogas. Ele não se importava com o álcool, não
realmente. Todos tinham seus vícios, mas ela querendo ou não,
ele precisava intervir e corrigir o problema. Pode não ter pensado
que assumiu sua vida, mas viciados raramente o faziam.

Se ele tivesse que adivinhar, então isso tinha algo a ver com
Anya. Mikhail a muito tempo poderia ser um fator, para não
mencionar o fato de que ela raramente mostrava que o que sentia.
Isso não queria dizer que a forma como a tratava não
desempenhou um papel na sua miséria, mas não conseguia ficar
sob sua pele da maneira que Anya o fez. Havia algo lá que Luka
não sabia e provavelmente tinha algo a ver com o dia em que Alex
foi se encontrar com ela e finalmente, a matou.

Ela vivia entre pessoas que mataram, sem remorso, apenas


como estilo de vida, mas até aquela noite, Alex permaneceu
intocada pela brutalidade da vida Bratva. Luka via muitos rostos
quando fechava os olhos à noite, mais de uma dúzia, pelo menos,
mas sabia que apenas havia um que o atormentava. Ao contrário
dos homens que ele colocou no chão, ela teve um relacionamento
com Anya. Não importava que em Anya fosse uma cadela, que
tivesse pensado em silenciá-la de um modo que Mishca não
tivesse que fazê-lo, ela ainda era a mãe de Alex.

— Você já fez algo e se arrependeu depois?

A pergunta de Alex tirou Luka de seus pensamentos. Ela


estava olhando para ele com olhos tão tristes e quebrados que era
quase difícil manter esse contato.

Ele sabia o que ela estava realmente perguntando, mas


a esse respeito, ele não tinha nenhum arrependimento. Não
houve ninguém que matou que não mereceu ou tinha a
intenção de matá-lo. Será que ele tinha outros
150

arrependimentos? Muitos.

Embora a verdade fosse diferente, ele mentiu para ela


Página

porque era o que ela precisava. — Sim.

Descansando a cabeça contra a parede, ela fechou


os olhos.
— Não havia sangue sabe, bem é claro que você sabe.
Provavelmente teve que limpá-lo, livrar-se de tudo. — Ela fez uma
pausa, como se tivesse esperado que ele negasse isso. Quando
permaneceu em silêncio, ela continuou. — Um amigo meu me
vendeu GHB na noite anterior, então acho que não posso dizer
que não pensei no que iria fazer. Quer dizer, sabia que isso iria
acontecer, eventualmente, certo? Mesmo sem todo o negócio
mercenário, ela envergonhou Mikhail. Ela causou tanto dano que
foi uma surpresa para mim que já não estivesse morta.

Rindo, embora parecia forçado e cheio de dor, Alex limpou


uma lágrima de seu rosto, finalmente olhando para ele. Na
verdade, olhando para ele. Lá estava ele, o sofrimento, a única
coisa que ele esperava nunca mais ver nela.

— Ela era uma cadela, sempre, com todos. Até comigo.


Especialmente comigo, agora que penso sobre isso. Tudo foi
sempre uma competição para ela. Ela precisava do melhor, vestir
as melhores roupas e comer a melhor comida. Realmente não
importava que eu fosse sua filha. Para ela, eu era apenas outra
pessoa potencialmente em seu caminho.

Ele sentiu isso antes de vê-lo, a forma como sua tristeza


estava tomando-a, sangrando em suas palavras. Ele entendeu o
que era enquanto ouvia as lembranças que a assombravam e
quando não havia nenhum lugar para ir, sabia o que aconteceria
uma vez que a consumisse.

Ela lutou por vários momentos, mas no momento em que a


primeira lágrima caiu, foi como se as defesas que ela tanto
lutou se rompessem. Ela estava chorando, suas palavras
quase incoerentes, mas forçou-as para fora e Luka fez tudo
para não interromper e apenas ouvir.
151

— Mas ela era minha mãe e eu a amava. — Disse ela


Página

fungando, limpando o nariz com as costas da mão. — Você


entende, não é? — Sua voz se quebrou quando fez essa
pergunta, seus olhos procurando-o para a resposta que
precisava. Vê-la assim era um tipo diferente de tortura
que ele nunca experimentou. — Você ainda pode amar
uma pessoa que odeia. Ela nem sequer me queria. Eu era apenas
outra maneira para ela solidificar seu lugar. Ela ia matar sem
hesitação...

— Mas você ainda a ama. — Luka disse suavemente.

Ela chorou, com tudo nela e Luka não poderia apenas ficar
sentado ali e assistir. Ele queria abraçá-la, tirar essa dor, mas
bateu nele, tentando afastá-lo e com o primeiro ataque veio outro.
E outro. E em breve, ela estava de pé, batendo e socando-o.

Ele deixou cair os braços, recebendo o ataque, disposto a


fazer qualquer coisa para ajudá-la e se isso era o que ela
precisava, poderia bater nele e ele iria aceitá-lo.

Ele continuou por algum tempo até que ela estava muito
cansada para balançar novamente. Em seguida, ela apenas
chorou por horas e apenas então finalmente o deixou puxá-la em
seus braços, colocando a cabeça debaixo de seu queixo. Agora
que ela não estava lutando contra ele, levantou-a do chão,
levando-os para o colchão, manobrando-a até que ficou sentada
confortavelmente em seu colo, as pernas ao redor dele.

Ele segurou-a até que ela finalmente desmaiou, exausta


demais para fazer algo. Luka não se mexeu um centímetro, com
muito medo de acordá-la. Depois de manter-se desperta por
quase vinte e quatro horas, ela precisava dormir. Acariciando
suas costas, ele desejou poder tirar todas as más lembranças dela
e carrega-la ele mesmo.

Dor e sofrimento normalmente o excitavam, inspirava-o


a quebrar mais, mas nunca com ela. Ele não achava que
queria ver qualquer um sorrir tanto quanto queria vê-la.
Conteve-se antes, mantendo seus desejos sob controle,
152

deixando-a ser livre. Mas ela já estava ligada a ele agora, já


estava cansado de lutar contra.
Página

Não era como se ela fosse à única constante em sua


vida ao longo dos anos que trabalhou dentro da Bratva
Volkov. Mas não podia pensar em alguém que fazia seu
coração bater do jeito como ela o fazia, nem como o fazia sentir
como se ele fosse mais do que seu passado.

Luka daria qualquer coisa para trazê-la de volta à vida.

153
Página
DEZENOVE

Apenas um pouco mais

Ela ficava mais fraca a cada hora e logo, não podia fazer
mais do que ficar ali tremendo. Apesar do suor, ela se sentia mais
fria do que já esteve em toda sua vida. Não era capaz de reunir
energia para se virar quando sentiu o mergulhar na cama ao lado
dela, ainda à espera do pulsar em seu estômago parar. Quando
sua mão pousou no ombro dela, ela estremeceu. Mesmo esse
pequeno contato era doloroso.

— Você precisa que beber alguma coisa, Alex. — Disse ele,


sua voz quase um sussurro.

Ela balançou a cabeça, não querendo arriscar a mover-se


mais no caso da dor de cabeça que sentia piorar. Ela não
conseguia se lembrar de uma época em que sentiu tanta dor, nem
mesmo quando estava dançando sem parar por três dias.

Mas ele não aceitaria não como resposta.


Cuidadosamente deslocando-a, o que não era difícil, uma
154

vez que mal tinha energia para provocar uma briga, ele
apoiou sua cabeça enquanto cuidadosamente pressionava a
Página

garrafa em seus lábios, desviando-se apenas o suficiente


para que um fluxo fino de líquido caísse em sua boca.
Ela engoliu o máximo que pode, mas isso apenas a fez se
sentir pior, quando ele tentou dar-lhe mais, ela se virou.

— Apenas mais um pouco. — Disse ele suavemente.

Mas ela já estava caindo no sono novamente.

Seu corpo sacudia com calafrios, não importava o que


fizesse, ela não podia lutar contra o frio que lhe consumia. Agora
que não estava tentando mais lutar com Luka para escapar do
quarto, não importava quanto o desejo estava comendo-a por
dentro, com cada minuto que passava se sentia pior. Alex estava
deitada na cama, de costas para ele, ouvindo o tamborilar da
chuva contra a janela.

Sua prisão poderia ser pior. Todos os dias, pelo menos isso
era o que ela achava, Luka saia do quarto e a deixava com Loki
fazendo companhia, quando voltava trazia comida suficiente para
durar o dia. Apenas uma vez ela acordou e ele não estava no
quarto, mas quando tentou abrir a porta estava trancada, o
que a surpreendeu, pois não notou uma tranca do lado de
fora da porta, embora não estivesse muito consciente
quando chegou.
155

Luka estava do outro lado do quarto, sem camisa com


as costas contra a parede, uma garrafa fechada de
Página

Gatorade ao lado dele. Uma série de garrafas vazias


espalhadas pelo chão, a única coisa que ele parecia beber
além da água. No momento em ficaram dentro daquele
quarto, ele foi forçando-os a ela, embora nunca tivesse provado à
bebida energética antes.

Ela não teve que olhar para saber que estava olhando para
ela. Ela podia sentir seu olhar. Apertando os olhos fechados, Alex
tentou ignorar a dor em seu estômago, a forma como suas mãos
tremiam incontrolavelmente, não importando se fechasse os
punhos, o suor frio praticamente cobria cada centímetro dela.

Ela apertou os dentes, tentando parar o tremor, mas com o


silêncio do quarto, não havia muito que pudesse fazer para
ajudar. A madeira velha rangeu quando Luka chegou a seus pés e
ela rapidamente se perguntou se era o suficiente, mas em vez
disso, ele se aproximou, rastejando sobre a cama, puxando as
cobertas brevemente quando deslizou por baixo. O braço dele veio
imediatamente, serpenteando ao redor de sua cintura, puxando-a
de volta contra seu corpo. Ela provavelmente estava fedendo, sem
dúvidas, mas não restava nenhuma luta nela.

Os olhos lacrimejaram com as emoções fora de controle


quando ela tentou não pensar muito no que ele estava fazendo,
mas era difícil.

— Quer ouvir uma história? — Ele perguntou sua voz sem


qualquer emoção.

Não tendo certeza onde ele estava indo com isso, ela
balançou a cabeça de qualquer maneira.

— Eu conheci um cara uma vez, alguns pensavam que ele


era um sociopata, mas ninguém o conhecia como eu. Pensei
até que, eventualmente, alguém iria colocar uma bala em
sua cabeça uma vez que ele foi longe demais. Um dia, ele
conheceu uma garota, muito agradável com belos olhos,
156

mas ele não era bom para ela. Ele destruía tudo o que
tocava. Sabe, eu o vi fazer isso. Porra, tentei avisá-lo para
Página

deixá-la em paz, mas ele não podia. Estava feliz por ter
conhecido alguém que foi gentil com ele, mesmo que fosse
forçada a ficar perto dele.
Luka se deslocou, puxando-o mais apertado que pode, não
deixando quase espaço entre eles. Alex não se queixou.

— Eu poderia ter tentado mais fazê-lo ver a razão, apenas


para que pudesse entender o que estava fazendo e como tudo iria
não apenas afetá-lo, mas a garota também. Duas pessoas
quebradas assim? Eles eram praticamente perfeitos um para o
outro, mas acho... acho que uma parte dele sabia que nunca iria
funcionar devido à diferença de poder entre eles. Mesmo quando
ela confessou seu amor a ele, ele não acreditou nela. Ele sabia
que não era real para ela, mesmo que fosse real para ele. Por um
tempo, porém, ele não se importou. Gostava de viver naquela
ilusão. Era melhor do que admitir que ele não era nada mais do
que uma arma... que isso poderia arruinar tudo.

Luka respirou. — Ela era tudo para ele, mas ele era tudo
para outra pessoa. E ela não gostava de como ele passava seu
tempo. Mas ele não podia tocá-la claro, então arrumava outras
distrações.

Luka ficou em silêncio novamente, sua mão apertando seu


estômago. Ela estendeu a mão para ele, sentindo a tensão, mas
ela não parou, segurando seus dedos, oferecendo o pouco apoio
que ela precisava. Enquanto ele pode nunca ter mostrado
vulnerabilidade, sentia por seu amigo e ela queria confortá-lo da
melhor forma que podia. Ela não percebeu que parou de tremer,
logo que ele começou a falar.

— O que eles fizeram com ela foi brutal e um lado de mim...


porra, um lado de mim entendeu por que fizeram isso. Eles
queriam quebrá-lo novamente, lhe ensinar uma lição e
transformá-lo em um monstro maior do que ele já era, mas
não sabiam o que o amor pode fazer a uma pessoa. Eles
157

podem ter lhe ensinado que o amor vinha com um preço,


mas devolveram sua humanidade no processo. Para isso,
Página

ele seria sempre grato, mas porque machucaram a única


pessoa que o fez humano novamente, eles não eram nada
para ele.
— O que aconteceu com ela? — Alex perguntou, observando
como a chuva se transformava em um chuvisco lento.

— Eu não sei.

Ela queria se virar e encará-lo, ler as emoções em seus


olhos, mas não queria romper o momento entre eles. — E seu
amigo? O que aconteceu com ele?

— Escapou da vida e aprendeu a esconder seus monstros.

Suspirando, Alex balançou a cabeça. — Sinto muito que


tenha perdido seu amigo.

— Não sinta. Tudo acontece por uma razão.

— E os homens? Ele os matou? Isso é o que você faria.

Sentiu-o estremecer com uma risada silenciosa. — Talvez,


mas tanto quanto sei, ele apenas pegou um deles, o outro ainda
está lá fora em algum lugar.

— Espero que ele o pegue.

— A menos que alguém o encontre primeiro.

— Posso te perguntar algo?

— Claro.

— Qual era o nome do seu amigo?

Luka ficou em silêncio por tanto tempo que ela temeu


que não fosse responder, mas tão baixinho, quase para que
ela não o ouvisse, ele disse. — Valon. Seu nome era Valon.
158
Página
VINTE
Despertar

A cada duas horas, ela acordava delirando, o estômago


doendo, seus olhos lacrimejando, mas antes que pudesse se
tornar muito, Luka estava lá, seu corpo muito maior ao redor
dela, fornecendo o calor que ela não sabia que precisava até
então.

Era difícil dizer onde ela acabava e ele começava uma vez
que suas pernas estavam entrelaçadas. Seus braços firmemente
ao redor dela, como se pensasse que ela fosse escapar e em algum
momento durante a noite, ela agarrou sua mão, entrelaçando os
dedos, segurando-o como se ela fosse à única que estivesse com
medo de deixar ir.

Os desejos não pararam. A necessidade de comprimidos era


mais forte do que nunca. Mas ele parecia quase como se pudesse
ler sua mente, porque no momento que ela sentia o desejo de sair
de lá, ele a segurava mais apertado.

Ele era sua âncora.


159
Página
Após quatro dias pairando constantemente e se certificando
que ela não tentasse sair do quarto, Alex não ficou surpresa que
Luka estivesse desmaiado e enquanto ele normalmente ouvia
tudo, ela caminhou ao seu redor vezes suficiente para saber que
ele não acordaria tão cedo. Agora, ela estava finalmente acordada
e conseguia se mover.

Por um tempo, ela se sentou observando-o dormir, sentindo-


se terrível, porque mesmo enquanto ele dormia, parecia
estressado. Na verdade, ele parecia exausto, e não havia ninguém
para culpar além de si mesma. Enquanto a porta ainda estava
trancada e ela não tinha ideia do que ele fez com a fechadura,
verificou tudo antes de puxar dois grampos do cabelo. Ela ainda
sabia alguns truques.

Um pouco enferrujada, ela levou um pouco mais de tempo


antes de ser capaz de abrir o cadeado e torcer o punho, a porta se
abrindo. Loki estava deitado no outro lado, mas quando a viu
saindo, ele se animou e levantou-se, o rabo batendo
descontroladamente.

Alex o acalmou, coçando atrás das orelhas por um


breve segundo antes de se dirigir para o banheiro no
primeiro andar. Parou na lavanderia e pegou algumas de
suas roupas junto com uma toalha. Tirando a camiseta que
160

estava suja e pegajosa, ela ligou o chuveiro, esperando a


água esquentar antes de entrar, puxando a cortina
Página

fechada.

Embora o banho parecesse uma boa ideia quando


pensou nele, no momento em que terminou de lavar os
cabelos e ensaboar, sentiu-se esgotada, apensar de
querer fiar ali por mais uma hora. Estava contemplando apenas
se sentara sob o chuveiro quando a cortina foi aberta e ela deu
um grito assustado com a visão de Luka parado do outro lado.
Seus olhos estavam vermelhos pela falta de sono, mas isso não
diminuiu a intensidade de seu olhar.

— Jesus, Luka. Porra, você me assustou!

Cobrindo-se o melhor que podia, ele não pareceu ajudar


muito. A maneira como olhava para ela a fazia se sentir como se
estivesse mostrando tudo. Talvez ela o fizesse, mais do que
pensava.

— Desculpe. — Mas ele não soava como se realmente


quisesse dizer isso.

Embora ele tinha todo o direito de suspeitar dela, ainda se


sentia indignada quando descaradamente levantou as mãos,
balançando os dedos para ele. — Apenas queria tomar uma
ducha. Não há pílulas ou qualquer coisa.

Por um breve momento, ele não estava focado em suas mãos


vazias ou o tom sardônico de sua voz. Em vez disso, seu olhar
estava em cada parte que acabou de revelar. Não era a primeira
vez que ele a via nua, nem mesmo a segunda, mas a forma como
piscou fazia sentir-se como se fosse. Nas outras vezes, ele
realmente não pareceu consciente de sua nudez, agora era como
se ele estivesse finalmente vendo-a.

Não importava que ele parecesse exausto. Ele ainda reagia a


ela.

Apenas quando ela limpou sua garganta, ele


finalmente olhou para seu rosto, mas não havia nenhum
161

pedido de desculpas em seus olhos, nem mesmo perto


disso.
Página

— Eu preciso de roupas. — Ela fez um gesto de volta


para a pia onde as colocou.
— Encontre-me na cozinha.

Ele pegou a toalha, jogando-a para ela sem olhar para trás
enquanto se dirigia para fora do banheiro cheio de vapor,
deixando a porta aberta em seu rastro. Mesmo que ela não
estivesse nua, ela ainda se sentia vulnerável, após os últimos dias
e em sua condição atual, ela não estava com disposição para
lutar com ele sobre isso.

Ela se secou depressa, puxando sua camisa, que era cerca


de dois tamanhos maiores e um short que precisou enrolar
algumas vezes na cintura para mantê-los. Apesar de como a
engolia, era muito confortável.

Na cozinha, Luka estava no fogão, facas na mão quando


virava um dos queimadores. Havia uma caixa de ovos sobre o
balcão, junto com alguns outros ingredientes. Ele soube o
momento em que ela entrou, a cabeça girando para observá-la. A
porta dos fundos estava encostada e desde que Alex não viu Loki
na da cozinha, foi nessa direção, saindo para o quintal.

Ela imaginou que ele vivia no meio do nada, considerando


que ninguém chamou a polícia quando ela gritou loucamente na
primeira noite, mas subestimou seriamente o isolamento em que
Luka vivia. Havia apenas bosque atrás de sua casa, tanto quanto
o olho podia ver.

Havia um pássaro voando através do céu, Loki correndo


atrás dele, saltando de vez em quando para tentar pegá-lo. Em
sua terceira tentativa, ele finalmente prendeu-o com uma
pata. Alex se encolheu, chamando-o antes que pudesse
matar o coitado.

Ao vê-la, ele veio correndo a toda velocidade, quase a


162

derrubando quando se chocou com ela, a respiração quente


em seu rosto. Ela riu, tentando empurrá-lo mesmo
Página

enquanto esfregava sua cabeça.

Luka poderia não estar de bom humor, mas Loki


estava.
O olhar de Luka passou dela para Loki, em seguida,
novamente quando eles entraram na casa. Tudo o que ele fazia no
fogão estava agora preparado e esperando por ela no balcão. Era
estranho. Alex estava começando a perceber que, mesmo
enquanto ele cozinhava para ela e fazia o suficiente para os dois,
ele nunca comia com ela.

Ele esperou até que ela ficou na frente da comida, uma faca
e um garfo na mão, antes de começar a falar.

— Como você está se sentindo?

Isso era uma pergunta tão carregada. Era possível se sentir


completamente exausta, mas ainda se sentir bem? Sentia-se mais
leve do que antes, como menos peso caindo sobre ela, mas
também se sentia como se tivesse sido repetidamente atropelada
por um carro.

— Bem.

Ele inclinou seu peso em seus braços, as veias neles se


destacando. Apesar de não se passado mais de meia hora, ele
perguntou. — Você pode comer?

Ela assentiu, embora não tivesse certeza se isso era verdade


ou não. Mesmo assim, ela deixou a omelete para depois, pegando
um morango. Quando mordeu, foi agradavelmente surpreendida
com o sabor, especialmente desde que a fruta não estava na
temporada.

O silêncio entre eles era tenso e enquanto Alex


desejava quebrá-lo, não sabia como. Sentia vergonha e
agora que sua mente estava clara o suficiente para se
lembrar o quão ruim suas ações foram nas últimas
163

semanas, lentamente voltando para ela, não sabia como iria


olhar para Luka novamente.
Página

Ela ficou tão chateada com ele por tratá-la como uma
criança, mas ela não agiu como uma?
Fazendo birra quando não conseguia o que queria, agindo
impetuosamente apenas porque podia. Ela ainda duvidava que
Mishca teria sido tão indulgente, especialmente sobre seu carro,
se Luka não cobrisse tudo, mas por que exatamente estava
ajudando a esconder isto de alguém, era essencialmente o seu
patrão.

Quando o telefone de Luka começou a tocar, ela pulou,


olhando para ele antes de olhar para Luka.

Ela não conseguia se lembrar se seu telefone tocou durante


o seu tempo em seu quarto, o que era uma raridade,
considerando quantas vezes ele era chamado para o trabalho. Se
tivesse propositadamente ignorando-o apenas para que pudesse
ajudá-la?

Isso apenas a fez se sentir pior.

Luka levantou-se abruptamente, circulando o balcão até que


ficou ao lado dela. Sua presença era tão esmagadora como
sempre e ainda mais agora que realmente pode se concentrar
nele.

Ele estendeu a mão, como não pudesse impedir, colocando


uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, seu toque persistente
mesmo depois que ele se afastou.

Não houve decepção, nem mesmo piedade. Bastou um olhar


quebrado para fazer ela se questionar quantas vezes errou ao
pensar que ele não se importava com ela.

Quando o telefone tocou novamente, desta vez ele não


ignorou, o pegou e olhou o identificador de chamadas.
164

O telefone em sua mão parecia frágil, como se com


apenas um aperto longe poderia amassá-lo, mas em vez de
Página

fazê-lo, Luka finalmente atendeu a ligação, levantando o


dedo quando ele saiu da sala. Alex ficou no balcão,
deixando-o ter sua privacidade enquanto ela terminava
seu café da manhã. Ele e Mishca eram mais cuidadosos
agora do que antes. Não queria dizer que eles não
eram cuidadosos antes, mas precauções extras foram postas em
prática desde que Vlad acabou sendo um agente do FBI
disfarçado.

Ele não se foi por muito tempo, alguns segundos, no


máximo, mas nesse curto período de tempo, o momento entre eles
passou.

— Eu tenho que sair. Não vou demorar, mas você ficará um


tempo por sua própria conta. — Apesar do quão cansado ele
obviamente estava, seu olhar era intenso enquanto segurava seu
rosto entre as mãos grandes, forçando-a a olhar para ele. —
Prometa que ficará aqui até eu voltar.

— Luka...

— Prometa-me.

Ela suspirou, sabendo que ele não ia iria até ela prometer. —
Eu prometo.

Seus ombros visivelmente relaxaram, mas seus olhos não


perderam a intensidade. Inclinando a cabeça para baixo, ele
pressionou um beijo rápido na sua testa.

— Acalme-se. Volto em breve.

Era quase reconfortante de certa maneira, observá-lo ir


embora, sabendo que ele acreditava nela o suficiente para deixá-
la sozinha, acreditando que ela não iria sair e tentar encontrar
algo. Não tinha a intenção de procurar Snow, não depois do
que Luka descreveu, sabendo que confiava nela o suficiente.
Não importava quão pequena que a confiança fosse,
significava muito para ela.
165

Ele a soltou, olhando para Loki com um olhar


Página

penetrante que, obviamente, era uma ordem silenciosa.


Enquanto ele subiu para trocar de roupa, ela terminou seu
café da manhã em silêncio, exceto pelo movimento
ocasional de Loki.
Alex estava apenas enxaguando seu prato quando Luka
voltou, parecendo um pouco melhor do que antes. Ele atravessou
a cozinha, puxando-a em direção a ele, surpreendendo-a quando
a envolveu em seus braços. Ele não disse nada, pelo menos não
com palavras, mas a maneira como a abraçou, seus braços
apertados ao redor dela, disse a ela tudo o que as palavras nunca
poderiam.

166
Página
VINTE E UM

Corpos mortos

Luka não conseguia se lembrar da última vez que ele dormiu


tão mal... não, podia se lembrar. Na noite em que foi para o bar
no Brooklyn e executou Bastian. Estava cercado de pessoas que
desempenharam um grande papel na formação de quem ele era e
estava ali para eliminar a principal delas. Aquela noite foi muito
mais longa do que ele pensava. E deixou resíduos perturbadores.

Mas, mesmo assim, foi fácil em comparação com os últimos


dias. A preocupação o corroía enquanto ficava acordado e por
causa disso, quando chegou a desmaiar durante os poucos
minutos, ainda estava muito ligado para realmente descansar.
Não era de admirar que cronometrou o tempo que ficou sem
dormir aquela noite, considerando que foram quase setenta e
duas horas. Ele nem sequer sentiu quando Alex saiu de seu lado
e geralmente tinha um sono leve. Quando finalmente
acordou e viu a porta aberta, o pânico tomou conta dele,
correu enlouquecidamente para fora do quarto tão rápido
quanto seus pés poderiam levá-lo.
167

Não tinha a intenção de assustá-la quando chutou a


Página

porta, mas ela tomar banho foi à última coisa em sua


mente de possibilidades do que ela poderia estar fazendo
no outro lado da porta.
E pior, quando ele finalmente conseguiu seus olhos sobre
ela, água fluindo sobre cada centímetro nu dela, as drogas saíram
de sua cabeça. Não era como se nunca a tivesse visto nua antes,
uma vez foi acidentalmente, a outra foi porque ela apenas queria
obter uma reação dele, mas como cada vez antes, teve que se
lembrar porque ter qualquer coisa com ela era uma má idéia.
Agora mais do que nunca. Ela não precisava dele se aproveitando
quando estava obviamente passando por alguma merda. Agora
que havia uma possibilidade de Fatos estar voltando, apenas
tornava as coisas mais complicadas. Mas, por um momento,
enquanto estava ali, olhando cada parte dela, uma forte
necessidade de levá-la para sua cama o percorreu.

Mesmo que soubesse que era errado ter esses pensamentos,


ainda não conseguia tirar a imagem da cabeça e com ela veio uma
forte necessidade. Antes, ele foi bem-sucedido em suas tentativas
de ficar longe dela com um grande esforço, para não mencionar
Natasha, mas mesmo quando ela passou por sua cabeça, não
poderia imaginar-se indo para ela.

Quantas noites ficou acordado pensando no que Alex estava


fazendo e o que ela estava vendo. Ela o atormentava
constantemente, mas conseguiu estar lá para ela, sem se
comprometer. Ele apenas não foi suficiente e sabia que, mesmo
que não discutissem isto, iria acontecer. Se quisesse ou não, a
questão era quanto tempo continuaria evitando-a.

— Entre aqui!

Mishca estava, obviamente, com mal humor, mas Luka


estava muito cansado até para descontrair. Ele ficou fora
pelos últimos quatro dias ou mais, ajudando Alex no pior de
sua desintoxicação, mas apenas poderia evitar seu chefe
168

durante um tempo e a julgar pela expressão, não havia


nenhuma dúvida que Mishca sabia sobre o que aconteceu
Página

no armazém.
Luka entrou no escritório, passando a mão pelo cabelo para
tirá-lo de seu rosto. A porta bateu e Mishca estava em seu rosto,
fúria transbordando dele.

— Que porra você estava pensando?

Não havia nenhum ponto em se defender, se não iria contar


a Mishca a verdade sobre o que aconteceu naquela noite. E
Mishca estava puto.

— Você esqueceu como esse negócio funciona? Nós não


tínhamos problemas com os Anjos ao longo dos últimos cinco
anos e eu não quero começar agora. Qualquer que seja a porra
que foi dita para te irritar, não dou a mínima. Controle seu
temperamento e ande na linha.

Ele adivinhou que o Presidente dos Anjos lhe contou sobre


sua pequena briga ou apenas deixou claro que ele não queria
trabalhar com Luka novamente, mas era óbvio que ele deixou de
fora a razão por trás disso. Caso contrário, duvidava que estariam
tendo essa conversa.

Ele respirou fundo, seu olhar se estreitando em Luka,


olhando-o. — Que porra aconteceu com você?

— Tive que resolver algumas coisas. — E essa era a única


coisa que diria a respeito. — Você fez o seu ponto. A que horas
partimos?

O músculo na mandíbula de Mishca ainda estava pulsando e


ficou claro que ele ainda não estava feliz, mas tinha
trabalho a fazer, por isso terminou o momento.

— Há uma reunião em Las Vegas e eu preciso


169

participar.
Página

Luka seguiu atrás de Mishca enquanto deixavam seu


escritório, olhando em volta para alguns dos novos rostos
que estavam presentes. — A razão por que você não pode
trazer um dos novos músculos?
— Porque eu lhe pedi para fazer isso.

Luka sentiu uma onda de irritação atingi-lo e antes que


impedir, ele encontrou-se dizendo. — Não sou uma criança do
caralho.

Mishca arqueou uma sobrancelha, mas não ofereceu uma


resposta. Mordendo a língua, Luka não disse mais nada. Esta
seria a porra de uma longa viagem.

Cinco horas em um pedaço de metal voando não era como


Luka queria passar sua manhã e apesar de uma dor de cabeça
bater atrás de seus olhos, ele não fez nada por isso. A ideia de
tomar qualquer tipo de droga, lícita ou não, não apelava no
momento.

Mishca se acalmou mais durante o voo, depois de ter falado


com sua esposa. Luka permaneceu calado, virando o telefone em
suas mãos, tanto esperando como temendo que o telefone
tocasse. Ainda não conseguia pensar em nada além de Alex,
enquanto se perguntava se ela estava bem. Se pudesse,
teria ficado com ela, lhe dado mais tempo para se adaptar,
além dos últimos três dias. Cristo, foi apenas tempo
suficiente para levá-la a fazer o que queria, apenas para sair
170

daquele quarto com ele. Mas tomou conforto no fato de que,


Página

mesmo depois de ter desmaiado e saído do quarto sem ele


perceber, ela não foi mais longe do que o banheiro no
primeiro andar de sua casa.
Isso não queria dizer que estava milagrosamente curada. A
viagem ainda era longa e havia a possibilidade de que isso nunca
acabasse, mas se havia uma coisa que Luka sabia, era que
estaria lá para ajudá-la através disso.

— Irá me dizer com quem vamos nos encontrar? —


Perguntou Luka, focando sua atenção em Mishca, tentando
duramente manter sua irritação longe quando pensava em sua
conversa anterior. Ele não sabia o que se arrastou até a bunda do
russo, mas estava muito cansado para lidar com ele.

— Dois sindicatos queriam se encontrar em território neutro.

Luka deu-lhe um olhar divertido. — Isso ainda não me diz


merda.

Mishca, que parecia estar lutando por paciência, explicou. —


Tenho duas casas noturnas, Roman tem uma sala e você
provavelmente já ouviu falar de seus torneios a cada dois meses.

— Entre nós dois, para não mencionar a enorme quantidade


de terra que os italianos ainda têm sob controle em Atlantic City,
é mais difícil dividir território sem pisar no calo de alguém.

— Então, quanto eles estão pagando?

— Por que assume que eles estão me pagando?

Fazendo uma careta, Luka voltou-se. — Posso não ter ido


para uma escola cara, mas se estamos voando ao encontro deles,
porque um ou ambos estão tentando abrir seu próprio
ponto, então obviamente, eles estão vindo para nosso
território. A única maneira que podem fazer isso é pagando
o aluguel. Diga-me, quando porra você ficou tão
171

condescendente? Não sou uma porra de um yuppie3.


Página

— Basta ter certeza que está prestando atenção.

3 Diz-se de um jovem executivo, profissionalmente bem remunerado e que gasta sua renda em artigos
de luxo e atividades caras.
— Que porra é essa? Eu...

— Não tenho que me justificar —Mishca responde, perdendo


sua paciência. — Não terei qualquer um que não consegue lidar
com algo tão simples como uma introdução de pé ao meu lado.

— Nunca pedi para estar ao seu lado, russo. — Disse Luka,


puxando uma página do livro de Klaus. Não era realmente um
insulto, considerando a nacionalidade de Mishca, mas a maneira
como ele disse fez soar como um.

— Não? Então, como exatamente veio parar aqui, Luka?


Normalmente, a Bratva escolhe, mas você a procurou. Porque?

Algo sobre a maneira como ele fez essa pergunta fez o olho
de Luka se contrair. Tão curioso quanto poderia ter soado, seu
tom tinha um tom de desafio que não combinava com Luka. Ele
podia não saber a verdade, mais da metade dos albaneses que
estavam envolvidos nesse dia foram mortos, não queria pensar
em Fatos e se Klaus tivesse dito a ele, não estariam sentados no
avião. Não, Mishca provavelmente estava apenas curioso.

— Eu não tinha mais nada. — E isso era o mais próximo da


verdade que ele jamais poderia admitir. Mishca ficou em silêncio
por um instante antes de responder. — Você é mais esperto do
que a maioria pensa. Aprender uma língua apenas para
impressionar uma garota é uma façanha em si, oh não me olhe
assim. Apenas um idiota não saberia por que você aprendeu
francês. Pode admitir. — Mishca disse e olhou diretamente para
ele. — Eu sei do que você é capaz. Você é grosseiro, com
certeza. Mas quem não é? Você é capaz de mais e se você
realmente se colocar diante de um esforço em vez de tentar
permanecer nas sombras, seria um ótimo capitão.
172

Luka balançou a cabeça. — E se isso não for o que


quero?
Página

— Então, ficará bem? Deixando-me ser apenas o


chefe?
Não, ele odiava essa merda. Luka sempre teve um problema
com autoridade e enquanto Mishca não era tão ruim quanto à
maioria, ainda ficava puto sempre que era chamado como um cão
bem treinado.

Mishca sorriu, já sabendo a resposta. — Seja qual for sua


reserva, é hora de enfrentar essa coisa que está te prendendo ou
farei isso por você.

Aparentemente terminando seu discurso, Mishca pegou seu


telefone, verificando o tempo. A luz do cinto de segurança
acendeu e o piloto anunciou que iriam pousar. Luka ficou feliz.
Porra, o avião era muito pequeno.

O hotel no qual chegaram era grande, como todos eram na


Strip. Passaram por entre a multidão despercebida. Em parte,
porque havia dezenas de outros, vestidos com ternos caros e
também porque varriam postos de segurança com facilidade.

Mishca fez mais do que falar, Luka pairando logo atrás


dele, olhando cada ponto como o músculo que deveria ser.

Logo chegaram a um quarto privado na parte de trás


do cassino, onde dois guardas fortemente armados estavam
173

esperando para revistá-los por armas. Mishca entregou a


arma de cabo de madrepérola que sempre carregava com
Página

ele, mas Luka balançou a cabeça antes que se


preocupassem em chegar até ele.
Um deles, mais ousado do que seu amigo, fez um movimento
como se estivesse prestes a revistá-lo e fisicamente remover
qualquer arma que tivesse com ele.

— Toque-me e perderá a mão.

O músculo no olho piscou, pensando que poderia quebrar


Luka dessa forma, mas quando isso não funcionou, olhou para
seu companheiro que tocou um dedo em seu ouvido. Segundos
depois, tinham uma nova ordem.

Luka sorriu quando se moveram para fora do seu caminho.

A decoração do quarto era chamativa, apelando mais para os


empresários que estavam sentados nas poltronas de couro e
charutos na mão. Eles reconheciam o status de Mishca, mas
quando seus olhares caíram sobre Luka, houve um toque de
desaprovação.

Ele podia adivinhar o porquê. Embora ele e Mishca


estivessem ambos cobertos de tatuagens, as de Luka eram mais
flagrantes e mais do que isso era o fato de que Luka estava
vestindo calça jeans e provavelmente, parecia que se vestiu com
pressa, o que era verdade, os três deles estavam de terno, que
custavam mais do que o Luka pagaria por qualquer peça de
roupa que possuía.

Não havia muito que pudesse fazer sobre isso agora.

— Senhores. — Mishca foi recebido sem problemas, tendo


um dos dois lugares disponíveis para eles. — Vamos
começar.

Luka ficou atento a maior parte da conversa, batendo


174

com o polegar contra sua coxa. Esta era a outra razão pela
qual não achava que se mover mais alto na Bratva iria
Página

funcionar para ele. Estar sentado em frente a homens que


poderiam ser aliados ou inimigos, dependendo de como o
vento soprava naquele dia e falar de propostas e ofertas,
além de outras merdas inúteis com as quais não se
preocupava. Tudo isso o aborrecia. Gostava dos
aspectos mais ásperos do trabalho.

Talvez um dia, um dia muito distante no futuro.

Se ele focasse mais no presente em vez de deixar seus


pensamentos derivarem para outras coisas, teria notado os
olhares estranhos que estava recebendo a partir de um dos
músculos que estava na porta da sala pela qual entraram alguns
minutos mais cedo. Em vez disso, estava perdido em
pensamentos, pensando agora no que Alex estava fazendo
sozinha. O lado obediente dele sabia que teria sido melhor dizer a
Mishca, antes que embarcassem no jato, mas sua lealdade não o
deixou, para não mencionar que não queria nem contemplar
quando exatamente, ele tornou-se mais leal a Alex do que a seu
próprio patrão.

Finalmente, uma vez que a reunião chegou ao fim, cujos


resultados foram o que Mishca queria, Luka estava mais do que
pronto para sair e chegar em casa. Acenando para os homens,
Luka saiu do cômodo primeiro, mais do que um pouco irritado.
Sentado por horas em um avião apenas para ter uma reunião de
vinte minutos, apenas para ter direito de voltar em outro voo.

Eles poderiam ter resolvido isso com um telefonema.

Precisando ir ao banheiro, Luka desculpou-se e saiu. Estava


ali por alguns minutos, na melhor das hipóteses, quando ouviu a
porta se abrir, com a cabeça girando automaticamente nessa
direção, viu que o guarda, que estava na sala o observando a
reunião, estava agora, bloqueando a porta do banheiro.

Luka olhou, levantando uma sobrancelha quando foi


até a pia. — O que quer que você seja, eu não sou. Estou
lisonjeado embora... realmente.
175

— Eu o conheço de algum lugar?


Página

Luka deu ao homem um olhar calmo, embora por


dentro, estivesse em pânico. Normalmente, sua antiga
organização nunca fazia negócios mais longe do que a
Costa Leste e a maioria não entrava no país porque
era ilegal. Mas este sempre era seu primeiro instinto, se alguém
falava que o conhecia.

— Nunca estive em Vegas. — Luka disse cuidadosamente. —


E sempre me lembro de uma cara.

— Não, não. — Disse o homem inflexível, estreitando os


olhos em Luka. — Eu sei que o conheço. Oh, merda! Você é um
Ahmeti.

Luka se orgulhou de não reagir, apenas a menor contração


de suas mãos afastando suas emoções. Um canto da boca puxado
para cima quando pegou uma toalha de papel, secando as mãos e
habilmente aproximando-se do homem.

— Você foi incrível no Pit, desde a primeira luta nunca


perdeu uma luta, certo? — Perguntou ele, não percebendo o
perigo que corria. — Mas o que mais pode esperar de um dos
meninos de Bastian? Ele sempre soube como treinar. Acho que foi
assim que acabou trabalhando com os russos, por causa de suas
habilidades? A menos que... eles não saibam esse pequeno
detalhe.

Luka não chegou a falar uma palavra quando o homem


continuou fazendo suas suposições. Não, ele esperou porque no
momento em que o homem lhe desse um motivo, ele iria acabar
tudo isso.

— A notícia se espalhou sobre a rixa entre os russos e os


albaneses. Estranho que os russos deixassem alguém da própria
organização que tanto odeiam trabalhar para eles...a menos
que não saibam quem você é. Quanto acha que vale as
informações?
176

Luka balançou a cabeça, realmente surpreso com toda


essa situação. — Idiota. Deixe-me ver se entendi direito.
Página

Você vem aqui e tenta me chantagear, espera, você está


tentando me chantagear certo?

O homem olhou, mas não ofereceu uma resposta.


— Como eu disse você tenta me chantagear, mas o problema
com isto é que sabe quem eu sou e o que sou capaz. Então, o que
exatamente espera realizar aqui? Ou talvez tenha um desejo de
morte...

Ele deve ter percebido o perigo que corria, porque levantou


uma pistola, apontando-a para o peito de Luka. Agora... não
havia medo em seus olhos.

Não havia nenhuma maneira desse cara fazer isso por pouco
mais do que alguns meses, pelo menos em uma capacidade
oficial. Muita gente andava com a esperança de se tornar parte de
qualquer organização e achava que isso garantiria segurança.
Eles não sabiam de nada.

— Eu quero cinquenta mil ou vou explodir seu segredo e


assistir os russos cortá-lo em pedacinhos.

Criativo, Luka tinha que concordar.

E talvez outro dia, poderia ter ficado e continuado brincando


com ele um pouco mais, mas seus nervos estavam desgastados e
não estava no clima para esta merda. Movendo-se mais rápido do
que o homem poderia manter-se, Luka o circulou, seu braço indo
ao redor da garganta quando ele habilmente e com bastante
facilidade, começou a sufocá-lo, flexionando seus músculos
enquanto apertava, assim quando o homem se agarrou a ele,
tentando se libertar, ele não desistiu.

A arma caiu no chão enquanto ele lutava para se libertar,


caindo a seus pés, deslizando pelo chão.

Luka suspirou. — Deveria saber que nunca poderia me


ameaçar.
177

Quando o homem fez um ruído estrangulado,


Página

chutando para fora com as pernas, seu pé se conectou com


a borda da pia, Luka finalmente terminou, quebrando o
pescoço do homem.
Ele arrastou-o para uma das cabines, apoiando-o sobre o
vaso. Embora duvidasse que fosse necessário, teve o cuidado
extra de limpar tudo o que tocou, embolsando a toalha de papel
que ele usou. Deixando os banheiros, com as mãos nos bolsos,
Luka voltou para onde Mishca estava esperando na entrada do
cassino, juntamente com os dois homens que se reuniram.

Mishca franziu a testa. — Por que demorou tanto?

— Cadáver no banheiro. Surpreendente lugar.

Revirando os olhos, assim como os outros homens riram,


Mishca liderou o caminho fora para onde seu carro estava à
espera. Quando estavam no céu de novo, voltando para casa,
Mishca olhou para ele. — Você realmente deixou um corpo morto
lá dentro, não é?

178
Página
VINTE E DOIS

Conforto

Com Luka saindo, Alex sentiu-se estranha em permanecer


em sua casa sem ele lá, mas ele deixou claro que não queria que
ela saísse. Loki ainda estava sentado orgulhosamente a seus pés,
seu olhar sobre ela ou talvez fosse apenas o bacon que tinha em
sua mão. Não se sentindo mais com tanta fome, estendeu-o para
ele, surpresa com a delicadeza com que ele o tirou de sua mão,
como se tivesse praticado não o arrebatar.

Colocando o prato na pia, levou seu copo de suco de laranja


com ela enquanto explorava sua casa, não que tivesse realmente
muito para ver. Aparentemente, Luka não acreditava que era bom
ter móveis... nem mesmo em uma TV, mas uma parte dela
pensava que havia algo mais por trás disso.

Para ela, sua casa parecia refletir o tipo de pessoa que


ele retratava para os outros. Vazio. Estéril. Mas não achava
que isso era o que esta casa estava dizendo. Vazia talvez,
mas a questão era porquê. Certa vez ele disse a ela que
179

pessoas como ele não mereciam coisas agradáveis, mas se


deixasse, ela lhe daria tudo o que pudesse.
Página

Foi quando teve uma ideia. Talvez pudesse retribuir-


lhe, ajudando a decorar sua casa e torná-la mais parecida
com um lar. Se seu apartamento estava sujo, ela
contratava alguém para limpá-lo. Houve momentos em
que não se sentia com vontade de cozinhar, especialmente nos
últimos tempos e preferia comer fora. Agora que pensava nisso,
não podia lembrar-se da última vez em que fez algo para si
mesma ou a última vez que fez alguma coisa por alguém sem
receber algo em troca. Depois de tudo que Luka fez por ela ao
longo da última semana, lhe devia e enquanto sabia que ele não
aceitaria dinheiro, ela pensou em algo melhor.

Agora, a única coisa que tinha que fazer era levá-lo a


concordar.

Ou... poderia fazê-lo enquanto ele estivesse fora. Claro, ele


disse que voltaria assim que pudesse, mas às vezes viagens da
Bratva duravam dias e se ela fosse honesta, não tinha vontade de
voltar para seu apartamento vazio na cidade. Por que não
aproveitar seu tempo ali, sem o barulho e luzes brilhantes
constantes e em vez disso, passá-lo com um cão extremamente
ansioso.

Quanto mais pensava em fazer-se útil, mais a ideia a atraía.


Sem mencionar que isto a manteria distraída por um bom tempo,
já que Luka tinha muitas casas.

Desde que estava com roupas emprestadas, se certificou de


fossem relativamente velhas antes de começar iniciando pelo
quarto onde passaram os últimos quatro dias. Ela tirou o lençol
do colchão, jogando-o em um canto, passando pelo resto do
espaço para recolher embalagens vazias e garrafas que ele tinha
mais do que provavelmente jogado para o lado durante seu
processo de desintoxicação. Loki estava sempre presente,
sentado no canto, observando cada movimento seu. Limpar
o quarto levou meia hora e no momento em que terminou de
varrer e colocou os lençóis na máquina de lavar, vinte
180

minutos já tinham se passado.


Página

Terminando com este cômodo, foi para um em frente


ao hall, batendo no interruptor de luz ao entrar. Havia
estantes embutidas nas paredes do cômodo, mas não
havia um único livro adornando as prateleiras. Havia
uma série de caixas ao redor da sala, todas cheias até
a borda com livros antigos e novos, mas nem mesmo elas eram
suficientes para guardar todos os livros. Mais destes foram
colocados em pilhas arrumadas ao longo da parede. Alguns eram
de ficção, que iam desde romance até a literatura clássica, mas o
que lhe chamou a atenção foi o grande número de livros escritos
em francês, juntamente com um dicionário. Sem mencionar os
livros didáticos, alguns de filosofia, outros de psicologia e de uma
variedade de assuntos diferentes.

Teria Luka aprendido sozinho a falar francês? E se sim, por


quê? Ela nunca questionou como ele sabia a língua, achava que
aprendeu como Mishca, mas agora se perguntava. Ela ajoelhou-
se ao lado deles, correndo os dedos sobre suas capas, lendo os
títulos. Ficou surpresa ao descobrir que muitos deles eram seus
favoritos, o que trouxe à tona uma lembrança sua.

Deitada de bruços, Alex ignorou os homens que caminhavam


através do foyer da mansão, alheia a eles tanto quanto eram
indiferentes a ela. Ela estava envolvida em uma história, fazendo
uma pausa imprescindível de passar o dia com sua mãe,
que apesar dos anos, não se tornou menos irritante.

Aparentemente, todos eles estavam se preparando para


181

o jantar de Natal, uma tradição que foi colocada em


segundo plano pelos últimos anos, mas este ano era
Página

diferente porque Mishca estava trazendo sua namorada


para conhecer a família. Alex gostava dela o suficiente em
vista do tempo limitado em que esteve em sua presença,
mas isso não significava que entendia por que Mishca
sentiu a necessidade de apresentá-la, especialmente
quando não sabia nada sobre a vida da qual eles faziam parte.

— O que é isso?

Alex olhou para cima, as borboletas que sempre


permaneciam dormentes em seu estômago até Luka aparecer
vieram à vida quando ouviu sua voz. Havia homens ao redor
deles, vestindo ternos apesar do fato de que estavam fazendo
trabalho manual, carregando coisas para Mikhail e, no entanto,
lá estava Luka, vestindo jeans e uma camiseta cinza, sempre
exibindo a tinta colorida que cobria seus braços.

Ele se inclinou para o lado do sofá, sua expressão ilegível,


apesar dela conseguir detectar uma nota de curiosidade em seu
tom. Quando se virou para vê-lo melhor, seus olhos a
percorreram, demorando-se em locais delicados. Desde o dia em
que o conheceu, achou-o interessante. Talvez fosse porque ele era
tão diferente das outras pessoas que cercavam sua família ou
talvez fosse apenas porque ele falava com ela como se fosse
alguém.

Por um momento, pensou ter visto interesse em seus olhos


quando se conheceram, mas logo ficou claro que ele não estava
interessado visto que a evitava como a peste. Outras vezes, notou
que ele a observava naquele seu jeito intenso e talvez — e isso era
uma possibilidade muito ínfima — fosse por causa de sua
diferença de idade.

Alex não sabia quantos anos ele tinha, visto que muito
raramente falava sobre si mesmo e em qualquer momento
que tentava recolher qualquer informação sobre ele de
Mishca, ele não sabia ou não queria dizer a ela.

Em vez de responder, ela ergueu-o para ele ver,


182

movendo as mãos para que pudesse ler as letras douradas


na ca´pa. — “Um dos meus romances favoritos”.
Página

Ele apertou os olhos, seus lábios se movendo em


silêncio, enquanto tentava pronunciar o nome. Ela fez
isso por ele.
— É um dos meus favoritos.

Arrancando o livro das mãos dela, ele virou-o, seus olhos


percorrendo as páginas. Ela sorriu para sua confusão. — É em
francês.

— Você fala francês?

— Sim. — Disse ela impecavelmente, sorrindo quando ele se


iluminou enquanto ela falava na língua que não usava há meses
desde que voltou para Nova York. — Mas você saberia isso se
conversasse comigo.

A diversão em seus olhos não parecia nada condescendente,


mas novamente, ele sempre olhou para ela assim.

Havia um livro, no entanto, que estava de lado, longe dos


outros, sua capa gasta pelo tempo. O Pequeno Príncipe. Ela leu
muitas vezes quando criança e ela lembrou-se especificamente de
contar-lhe isso. Era uma suposição, mas se realmente pensasse
sobre isso, Alex não sabia há quanto tempo ele tinha esses
livros, mesmo que a maioria deles parecesse
moderadamente novos, não havia nenhuma garantia de que
ele tivesse aprendido a língua recentemente.
183

Mas quais eram as chances de que ele não soubesse


Página

disto quando o conheceu pela primeira vez? Ou que os


únicos livros que ele tinha na língua eram todos seus
favoritos, favoritos que ela mencionou a ele uma vez?
Era muita coincidência.

Deixando-os de lado por enquanto, organizou tanto quanto


pode, varreu o chão e limpou as prateleiras. Quando terminou
com esse cômodo, moveu-se para a cozinha, em seguida, a sala
de estar e praticamente todos os outros lugares, mas mesmo
depois de trabalhar por horas, exausta depois de tudo que foi
feito, ela encontrou-se de volta ao cômodo com os livros, sentada
no chão ao lado de uma das caixas e tirando um de dentro.

Por um momento, enquanto estava sentada ali perdida no


mundo retratado nas páginas, ela lembrou-se de como era ser
despreocupada. Lembrou-se de como era fácil se perder em um
livro, longe do sangue e da morte que costumava ser seu mundo.
Ela não podia escapar agora. Estava profundamente imersa nele.

Quando Luka não voltou algumas horas mais tarde, Alex


começou a ficar um pouco agitada e louca por estar trancada
dentro de sua casa, especialmente porque não havia mais nada
que pudesse fazer. Não era como se houvesse algo para
realmente limpar além do chão, já que ele quase não
possuía qualquer mobiliário.

Falando nisso... depois de pegar as chaves da


184

caminhonete dele, Alex aventurou-se para fora, respirando


Página

o ar fresco que rapidamente esfriava. Ela não estava


particularmente vestida para o tempo, mas isso era a
última coisa em sua mente enquanto entrava na
caminhonete e a ligava. A última vez que esteve em um
carro, não terminou bem para o carro, mas quando
saiu da garagem, em seguida, para o longo trecho de rua — sem
saber ao certo onde estava indo — estava determinada a ser mais
cuidadosa desta vez.

Não demorou muito para perceber onde estava e agora que


sabia, guardou a localização na memória, mas ao invés de voltar
para a cidade, fez uma parada do lado de fora, entrando no
estacionamento de um conjunto de lojas.

Alex se aventurou através de algumas delas, contente de que


uma delas fosse uma loja de móveis. Não queria adivinhar o tipo
de mobiliário que ele gostaria, mas sabia que precisava de
algumas estantes e lençóis novos. Até o momento em que acabou
e encontrou tudo o que queria, pelo menos no momento, voltou
para a casa de Luka, dando a Loki um afago carinhoso na cabeça
visto que ele não fez nenhum ruído desde que saíram.

Ao voltar, ela logo começou a organizar as coisas, carregando


duas estantes de livros que comprou na loja. Sem quaisquer
ferramentas, elas teriam que esperar até mais tarde, mas foi
capaz de começar a arrumar o que seria a biblioteca dele.

Foi ali onde Luka a encontrou muitas horas mais tarde.


Absorvida no que estava fazendo, ela não o ouviu entrar nem o
avistou pairando na entrada.

— Que porra você está fazendo?

Alex assustou-se, virando-se para ver Luka olhando para


ela, o rosto inexpressivo enquanto a olhava, com uma mão ao
lado dele coçando atrás da orelha de Loki. Ou ela estava
muito absorvida no que estava fazendo ou ambos eram
mestres em movimentos silenciosos.
185

Abandonando sua pergunta original quando ele moveu


seu olhar dela para onde estava sentada, seu rosto ficou
Página

mais sério. — E que porcaria é essa?

— Não é de verdade. — Ela disse em defesa do tapete


de pele de carneiro de grandes dimensões que vinha
tentando centralizar em seu quarto, tentando mover
seu colchão para descansar em cima dele quando ele entrou. — E
até mesmo Loki gosta.

— De onde veio?

— Eu comprei. — Disse ela, apressando-se a acrescentar. —


Para você. Achei que, se quisesse um quadro, então você mesmo
teria comprado um, mas pensei que poderia pelo menos usar algo
para tornar sua casa lugar mais aconchegante.

— Então você pensou que eu gostaria de um tapete?

Ela não podia dizer se ele estava irritado com o gesto ou


apenas confuso... esperava que fosse o último. — Se não gosta
dele, então posso trocá-lo por outra coisa. Sabe, se realmente
quiser um quadro.

— Você ficar aqui, não era um convite para que se mudasse.

— Eu sei, é apenas...

Ele balançou a cabeça, saindo novamente. — Seja qual for à


ideia que você teve, deixe-a de lado. Nós não somos...

— Pelo amor de Deus, eu estava apenas tentando fazer algo


de bom para você.

Claro, a única vez que ela tentou fazer algo sem qualquer
segunda intenção, isto foi jogado de volta em sua cara, mas o que
poderia esperar? Como sempre disseram, ela estava sempre
ferrando as coisas. Não importava o que fez na últimas
horas, não poderia apagar as últimas trinta e seis.

Agarrando seu casaco, porque ela ultrapassou o tempo


186

onde era bem-vinda, estava pronta para sair de lá. Estava


mais do que pronta para chamar um táxi para levá-la de
Página

volta para a cidade, mas Luka voltou-se para ela, de


repente, bloqueando seu caminho.

Foi um novo déjà vu.


— Saia da frente.

— Seus sentimentos estão feridos?

— Você tem que ser um babaca o tempo todo? — Ela


perguntou exasperada, pronta para empurrá-lo para fora de seu
caminho.

Ele encolheu os ombros, parecendo levar a questão a sério.


— Sim.

Inclinando a cabeça para o lado, ela encontrou seu olhar. —


Por quê?

Luka parecia desconfortável com a pergunta, sua língua


passando por cima do lábio inferior, seus olhos se movendo
enquanto ele contemplava uma resposta. — Nada é dado
livremente. Melhor saber o que você quer adiantado, antes que
jogue merda em mim.

Ela estava morrendo de vontade de fazer-lhe perguntas,


finalmente entrar em sua mente, mas sabia que tinha que fazer
isso gradualmente, porque no momento em que forçasse isto
muito rápido, ele iria se fechar. Então não haveria nenhuma
maneira de conseguir tirar alguma coisa dele.

— Eu sei que os últimos quatro dias não foram... fáceis para


você, então pensei em retribuir, ajudando a arrumar a sua casa.
Uma dívida por outra dívida, certa?

Seus olhos, mais suaves do que ela jamais viu,


enrugaram-se nas extremidades enquanto o mais breve e
menor dos sorrisos curvou seus lábios. — Você não tem que
fazer isso.
187

— Mas eu quero.
Página

Porque ela lhe devia pelo que ele fez por ela, não
apenas há três dias, mas pelo que fez por ela desde o
momento em que o conheceu. Realmente, era o mínimo
que podia fazer e mais do que isso, se permitisse ficar
com ele por mais um pouco de tempo, sem a interferência de suas
vidas de volta na cidade, ela aceitaria.

— Tem sido um dia de merda para mim.

Alex devolveu o sorriso. — É essa sua maneira de pedir


desculpas?

Ele pegou o casaco que ela ainda estava segurando,


lançando-o de volta onde estava antes dela pegá-lo. — Talvez.

— Não é bom o suficiente.

Sua mão direita agora vazia veio para descansar em seu


peito, logo acima do seu coração, seus dedos abrindo-se para
cobrir a área. — Desculpe.

Agora eles estavam chegando a algum lugar. Sentindo-se


com sorte, Alex cuidadosamente perguntou. — Você quer
conversar sobre o que deixou seu dia tão ruim?

Ela esperava que ele dissesse não, já se preparou para ouvir


a palavra, mas em vez disso, ele fez uma pergunta. — Você está
com fome?

188
Página

Alex observou enquanto Luka andava pela cozinha,


tirando panelas de cobre e utensílios, invadindo sua
geladeira. Frango, batatas, aspargos e uma série de ervas
e pimentas foram colocados no balcão. Apesar de ter
sido apenas naquela manhã que ela o viu preparar café da
manhã, ele já havia terminado a maior parte no momento em que
saiu do chuveiro e se juntou a ele. Agora que estava observando-o
desde o início, Alex percebeu o quão bom ele era.

Dado o seu amor por facas, não deveria ter ficado tão
surpresa em quão habilmente ele as manejava. Era como se ele
estivesse tão confortável ao cortar um limão, quanto ao cortar um
homem. Ele acabou de colocar uma panela no fogão, ligando uma
das bocas, quando falou. — O que você fez depois que eu saí?

— Comi, levei Loki para uma caminhada, aliás, você deveria


ter me dito que ele odeia coleiras, bisbilhotei um pouco, em
seguida, fui fazer compras para sua casa.

Ele demorou um pouco para processar o que ela disse, mas


assim que percebeu, voltou-se sobre ela com toda a força do seu
olhar. Com as sobrancelhas levantadas, ela perguntou. — Muito
cedo?

— O que mais?

— Nada. Fiquei aqui o dia todo me escravizando, até você


chegar com uma haste enfiada na sua bunda. Sabe, antes de
decidir agir como um idiota, poderia ter pelo menos, dado uma
olhada ao redor para ver o que eu fiz.

Por um momento, ele parecia desconfortável. — Você não


tinha que limpar a minha casa. Eu não estava pedindo um
pagamento.

— Então, não olhe para isto dessa forma. Considere


um presente.
189

Seus lábios se apertaram, mas ele não parecia ter uma


resposta para isso. Na verdade, parecia desconfortável com
Página

a ideia de ganhar um presente.

— Você não gosta de presentes? — Ela perguntou,


dobrando o punho sob o queixo.
Ele ficou quieto por um momento, ponderando sua resposta.
— Nada é gratuito. Nem mesmo os presentes. Mesmo as coisas
que deveriam ser dadas livremente vêm com uma etiqueta de
preço.

Ela franziu a testa. — Sinto muito que se sinta assim, mas


eu não fiz isso porque eu queria algo de você. Era o mínimo que
poderia fazer depois... bem, depois de tudo.

Pegando na toalha de papel em sua mão, ela rasgou em


pedaços, movendo os pequenos pedaços ao redor da mesa. —
Você vai dizer a Mish sobre Snow?

— O que eu diria? Que você estava transando com um cara


em troca de drogas e eu descobri?

— Eu não tenho certeza se isso daria certo.

Estremecendo, ela desviou o olhar. —Não foi assim que


aconteceu.

Essa foi à coisa errada a dizer. Ele virou-se para ela, de


costas para o fogão, nivelando-a com um olhar que era quase
assustador em sua intensidade. — Não? Esclareça-me.

— Você já está irritado. —Ela sussurrou, ainda olhando para


fora da janela. — Eu não quero piorar seu humor.

Ele contornou o balcão separando-os enquanto se inclinava


para frente. — Por quê? Você tem medo de mim?

Ao ouvir isso, Alex encontrou seu olhar. — Eu nunca


tive medo de você, Luka. Nunca houve motivo para ter.
190

Seu sorriso era frio e cruel. — Se você soubesse o que


eu pretendo fazer com ele, então repensaria isso. Porra, se
Página

soubesse o que eu gosto de fazer, repensaria sobre isso. —


Ele balançou a cabeça, seu sorriso escorregando. — Não
me transforme em algo que eu não sou, Alex. Não sou
uma boa pessoa. Nunca serei.
— Mas você é. — Ela respondeu suavemente. — Ninguém
mais teria feito o que fez por mim.

— É isso? — Ele perguntou, ainda olhando para ela. — Faço


uma coisa agradável para você e esquece quem eu sou?

— O que há para esquecer, Luka? Lembro-me de cada


pequena coisa sobre você.

Luka parecia... irritado?

— Você não me conhece de maneira alguma.

— Mas eu quero. — Ela pegou a mão que ele enrolou em um


punho apertado na frente dela, mas quando ela viu os tendões se
destacarem, suspirou, sem se aproximar mais. — Eu sempre
quis. Você sabe disso.

— E nunca entendi o porquê. O que você vê Alex? Diga-me,


eu quero saber. Eu não sou um projeto de caridade para você
foder até se cansar de mim.

— Isso não é...

— E você se cansa das coisas com facilidade.

— Luka!

Ele piscou como se tivesse acabado de sair de um transe.


Aquela raiva que parecia tão presente nele se foi.

— Eu sempre quis ser sua amiga, apenas isso.

Ele passou a mão através dos emaranhados e grossos


cabelos louros em sua cabeça. — Você não é minha amiga.
191

Seu coração se afundou em seu peito e ela se


Página

perguntou novamente por que se colocou nesta posição,


implorando por algo que ele não queria dar.
— Então o que sou eu? — Talvez se ele dissesse — nada —
ela seria capaz de romper esta atração que sentia por ele. Talvez
ela não se importasse tanto.

Ele soltou um suspiro, sua língua tocando o canto do lábio.


— Mais do que isso.

E tão rapidamente quanto essa conexão invisível pareceu se


afrouxar, ela ficou rígida mais uma vez. Era impotente, ela sabia,
mas não achava que poderia deixá-lo ir até que ele pedisse... e
talvez nem mesmo então.

Deixando por isso mesmo, ela o viu se mover pela cozinha


enquanto voltava para o fogão, apreciando a forma como
mergulhava no que estava fazendo. Ela já sabia que ele era hábil
no que fazia, mas não achava que alguém poderia se igualar a ele,
quando se dedicava a algo.

Havia algo de muito íntimo sobre Luka cozinhar para ela,


mesmo que cozinhar fosse algo que ele sempre fizesse. Além de
profissionais, não achava que alguém já houvesse cozinhado algo
para ela. O engraçado era que não achava que Luka pensava
nisso do mesmo jeito que ela, como se fosse um grande negócio,
mas era para ela. Não conseguia se lembrar de uma época em que
alguém cozinhou como Luka fazia e para falar a verdade, não
achava que alguma vez houvesse se esforçado para fazer algo
para ninguém além de si mesma.

No momento em que ele terminou, ela estava ansiosa para


experimentar o que fez, ansiosa para ver se a sua paixão era
tudo isso. Ela quase se ofereceu para ajudar, mas ele estava
em um mundo próprio e não queria tirá-lo de lá. Quando a
comida foi colocada em um prato e oferecida, esperou que
192

ele se juntasse a ela antes de pegar a faca e o garfo.

Lembrando-se da forma como ele parecia quando


Página

voltou e a conversa que se seguiu, Alex achou melhor não


falar sobre seus sentimentos por ele novamente, em vez
disso, focou nele.
— Você quer falar sobre isso? — Alex perguntou
suavemente, olhando enquanto dava uma mordida no rolinho
amanteigado. — O que aconteceu quando você saiu, eu quero
dizer.

Sua expressão praticamente gritou que não, mas depois de


alguns instantes, ele disse. — Um trabalho foi mal.

— Mal como em... oh, esse tipo de mal. — Ela respondeu por
si mesma quando ele a encarou com um olhar que falava alto.

Ela remexeu a comida em seu prato antes de finalmente


pegar um pouco e colocá-la na boca, mastigando metodicamente,
enquanto tentava pensar na melhor forma de abordar este
assunto. Era bastante óbvio que, quando ele disse que um
trabalho foi ruim, tinha provavelmente matado alguém. Ela
nunca pensou sobre o que isso fazia com ele mentalmente,
porque sempre pareceu tão jovial, mas uma breve imagem de seu
olhar assombrado na noite em que o viu voltar para o
apartamento de Mishca, suas mãos e roupas cobertas de sangue,
passou pelas suas lembranças.

— É... difícil para você? Fazer isso?

Ele mastigou devagar, limpando a boca com um guardanapo


antes de falar. — Depende. Eu sei o que você está pensando. —
Disse ele com um fantasma de um sorriso. — Mas não é tão preto
e branco como pensa. Não é apenas uma bala na cabeça e
acabou-se. Alguns precisam ser mantidos vivos e eu tenho que
obter informações deles. Outros recebem um indulto e
morrem rapidamente. Então claro, há os poucos com quem
eu tomo meu tempo. Não é uma questão de se eu gosto ou
não. Não é nem mesmo uma questão de se eu odeio ou não
193

isso. Machucar as pessoas é a única coisa que eu sei.

Alex não gostava da maneira como ele dizia isso. —


Página

Mas não é. Como você disse, não é apenas preto e branco.


Eu vi a violência da qual você é capaz. — Quando ele
arqueou uma sobrancelha, ela explicou rapidamente. —
Você é o principal executor de Mishca, Luka. Às vezes
um nome desliza aqui e ali e mais tarde eu posso ver o resultado
de uma visita que fez a essa pessoa durante uma conferência de
imprensa.

Ambos sabiam a quem ela se referia quando disse isso.

— Mas eu também vi o bom em você, mais vezes do que


imagina. E não é apenas o que você faz para mim, mas o que faz
para todos. Quando Mish estava no hospital depois de ser
baleado, você estava lá para Lauren. Eu até ouvi uma vez que,
quando estava encarregado da Sala Dourada, você era realmente
agradável com as garotas, mais agradável do que qualquer outra
pessoa.

Ele esvaziou o copo de água. — E isso é o que você gosta de


mim então, este fraco que tenho em ajudar as mulheres.

— É tão difícil de acreditar que eu simplesmente gosto de


você.

— Você não pode.

— Por que não?

— Por que...

—Porque você me destruiria? — Alex perguntou, reprimindo


a vontade de fazer uma careta. —E Luka, nós já tivemos essa
conversa. Não vejo como é justo que possa dizer que eu não te
conheço o suficiente para gostar de você, mas o que sabe sobre
mim? Por que acha que eu sou tão fraca?

— Eu não acho que você é fraca. — Ele respondeu com


um aceno de cabeça. — E não acho que seja fraca de
194

maneira alguma.
Página

— Se pensa que eu não posso lidar com você e tudo


que vem junto, então, sim, você acha que eu sou fraca.

Ele olhou para o relógio. — É tarde e eu tenho que


acordar cedo de manhã.
A conversa, ao que parecia, estava acabada.

Enxaguando os pratos e deixando-os na pia, ela subiu a


escada, voltando ao quarto que uma vez foi sua prisão. Ela se
dirigiu até o banheiro primeiro para lavar o rosto, percebendo o
dano no interior pela primeira vez. Se ela tivesse que adivinhar,
parecia que ele bateu seu punho contra a parede algumas vezes e
talvez até mesmo em seu chuveiro uma vez que alguns dos
azulejos estavam rachados. Ela não estava mentindo quando
disse que sua raiva não a assustava, mas talvez fosse apenas
porque não a testemunhou de primeira mão.

Mas de qualquer forma, estava cansada de lutar com ele esta


noite.

Apagando a luz, ela voltou para o quarto dele, falhando


quando o viu entrar, ainda em sua camisa, mas trocou seu jeans
por shorts. Quando ele a percebeu congelada na porta, apenas
olhando para ele, inclinou a cabeça em direção à cama, um
comando silencioso para que ela se deitasse.

Ela fez isso sem hesitação, embora se perguntasse se ele iria


se juntar a ela. Era o quarto dele e obviamente poderia fazer o
que quisesse, mas depois de ficarem confinados por três dias e
meio, ela não achava que ele gostaria de ficar em uma cama com
ela novamente. Pelo menos não tão cedo. Quando deslizou ao seu
lado, ela tentou se lembrar de respirar.

Alex era muito mais consciente de sua presença agora do


que nas últimas noites em que ele dormiu a seu lado. Ela
ficou deitada lá rígida, tentando não notar o calor de seu
corpo, no quão bom parecia esse calor em suas costas. Ela
nunca dormiu com ele tão perto. No mesmo apartamento
195

sim, mas nunca na mesma cama, especialmente não assim.


Ela não sabia quanto tempo ficou ali, quando o ouviu
Página

suspirar, evidentemente ainda acordado. Ela quase saltou


para fora de sua pele quando sentiu seu braço em sua
cintura e puxá-la contra ele, mantendo-a junto.
— Estamos apenas dormindo, Alex. — Ele murmurou sua
respiração balançando seu cabelo.

— Luka, eu não...

— Eu preciso de você exatamente onde está.

Que argumento racional ela poderia produzir com algo


assim?

Ela não se incomodou com uma resposta, apenas relaxou,


forçando os olhos, mas enquanto ele relaxava atrás dela, não
achou nada difícil cair no sono da maneira como eles estavam.

196
Página
VINTE E TRÊS

Quando você precisa de mim

Na manhã seguinte, Luka levantou-se primeiro. No momento


em que Alex acordou, sentiu-se pior do que no dia anterior. Era
como se cada parte dela doesse e não achava que era apenas por
causa de todo o trabalho que fez no dia anterior.

Deixando a dor de lado, embora não quisesse mais nada


além de ficar deitada e desfrutar do conforto da cama dele, Alex
aventurou-se no térreo, encontrando Luka parado na porta,
observando Loki correndo pelo quintal.

— Luka, eu preciso ir para casa.

Ele virou a cabeça ao ouvir o som de sua voz, seu corpo


imóvel. Ela poderia dizer apenas pela expressão em seu
rosto que ele não gostou da ideia.

— Eu não tenho nenhuma roupa aqui. Bem,


197

obviamente, você sabe disso, mas não posso continuar


usando suas coisas. Porque, obviamente, você tem que
Página

usar roupas muito... — Ela finalmente fechou a boca


quando sua expressão estoica mudou para um sorriso.
Ficar perto dele fazia com que ela se sentisse estranha. Ela
não diria que eram borboletas. Em algum momento, as sentiu,
quando ainda estava começando a conhecê-lo depois que
apareceu em sua vida de repente, mas agora, havia apenas
aquela sensação de calma quando ele estava por perto. Não era
tão fácil manter as aparências. Ele via através dela, toda vez e
talvez fosse por isso que gostasse tanto dele.

— Duvido que você possua alguma roupa que possa usar


para pintar uma casa. — Ele resmungou enquanto se afastava da
parede, atravessando até um armário próximo.

— Pintar uma casa?

Ele arrastou para fora dois contêineres gigantes, fechando a


porta atrás dele. — Você ofereceu. Vou aceitar sua proposta. Nós
podemos fazer isso hoje até eu receber uma ligação.

Traduzindo por: antes de ter que sair e lidar com negócios da


Bratva. Ela poderia ter ficado feliz com esta mudança nele, mas
suspeitava que isso tinha menos a ver em ajudá-lo e mais a ver
com mantê-la longe de problemas.

— Você não tem que cuidar de mim como uma babá, Luka.
Eu saí ontem e nem sequer pensei nisso. Terei que ir para casa
em algum momento.

Pelo menos ele não tentou negar quando disse. — Não se


trata apenas de mantê-la limpa, Alex. Muita merda tem
acontecido nos últimos seis meses. A última vez que você e eu
estivemos juntos antes... isso... nós aproveitamos bastante,
certo?

Sim.
198

Foram por apenas algumas horas, mas aquelas horas


Página

foram incríveis. Quando eram apenas eles dois, nada nem


ninguém por perto, se davam surpreendente bem. Era
apenas quando envolviam as influências externas que
tinham um talento especial para discutir.
— Certo.

Ele chegou mais perto, sua mão segurando uma mecha de


seu cabelo, aparentemente hipnotizado, enquanto observava os
fios passar entre seus dedos. — Eu sei como é sentir-se só,
mesmo quando há pessoas ao seu redor. — Ele olhou para ela,
com os olhos firmes em seu rosto e ela não se escondeu da
intensidade. Acolheu-a. — É necessário apenas uma pessoa para
preencher esse vazio.

Alex não sabia se ele estava falando sobre ela ou sobre ele
mesmo, mas de qualquer forma, concordava plenamente. —
Quando começamos?

Depois que lavou o rosto, escovou os dentes e comeu o café


da manhã que Luka preparou, embora não estivesse com muita
fome, ela ajudou a carregar a tinta, indo de volta para os pincéis e
a lona que ele usou para cobrir o chão.

Ela levantou o moletom nos tornozelos e na cintura,


sem se preocupar com a camisa desde que não havia muito
que pudesse fazer sobre isso. Escolhendo uma parede,
derramou um pouco de tinta, agarrando um rolo, e
começou. Luka estava atrás dela, podia ouvir seus passos.
199

Ela trabalhou em silêncio, seus pensamentos sobre o que


Página

estavam fazendo, pelo menos por um tempo, então se


virou, pronta para lhe fazer uma pergunta, mas foi pega de
surpresa pela visão dele sem camisa.
Alex pensou que estivesse habituada com a visão de Luka
sem camisa a esta altura, mas vê-lo realizando trabalhos
manuais era uma experiência nova. Era estranho, porém, ajudá-
lo a fazer reformas em sua casa. Tudo isso parecia tão...
mundano. Ela estava acostumada com o glamour de tudo isso,
mas trabalhar ao lado Luka — mesmo com o significado macabro
por trás da maioria de suas tatuagens, trouxesse um senso de
normalidade que ela não obtinha em qualquer outro lugar.

— Ei?

Alex piscou, seu olhar lançando-se sobre Luka enquanto ele


estava na base da escada, limpando suas mãos manchadas de
tinta com uma toalha. — Sim?

Ele sorriu, o primeiro indício real da diversão que mostrou


todo o dia. — Você está pintando no mesmo local por dez
minutos. Acho que já está coberto.

Ela olhou dele para a parede, sentindo o rubor aquecer suas


bochechas enquanto limpava sua garganta, abaixando o rolo ao
lado da lata. Estava no piloto automático, muito concentrada
nele, para ver até mesmo o trabalho que estava fazendo. Sem
mencionar o fato de que estava pintando sobre o mesmo local.

— Certo, desculpe.

Ela olhou ao redor, à procura de qualquer outro lugar que


pudesse continuar, de preferência longe dele, se quisesse
terminar o trabalho.

— O que está em sua mente?

Como ele pareceria completamente nu, mas duvidava


200

que ele quisesse saber a verdade.


Página

— Nada importante.

Ela poderia dizer que ele não acreditava, mas não


disse nada. — Você está pronta para falar sobre isso?
Desta vez, ele estava pedindo, em vez de o contrário e agora
que ela era interrogada, Alex queria encontrar uma maneira de
sair da conversa.

— Falar sobre…

— Anya? Snow? Mikhail? Viktor? Mishca? Eu? Faça sua


escolha.

— Luka...

— Viktor era um bastardo, você e eu sabemos disso.


Mikhail... — Ele sorriu desculpando-se enquanto olhava para ela.
— Ele não era muito melhor.

— Não era sobre eles. — Alex murmurou, olhando para a


parede.

— Anya foi...

— Foi apenas tudo, Luka. — Disse ela interrompendo-o. —


Muito coisa estava acontecendo e eu não soube como lidar com
isso. Apenas... não poderia tirar tudo dos meus pensamentos,
não quando estava sóbria.

Ela queria deixar por isso mesmo, mas no momento


seguinte, estava descarregando sobre ele, dizendo-lhe tudo o que
teve medo de dizer a outra pessoa. Havia algo um tanto libertador
e assustador em dizer a alguém seu pensamento mais íntimo,
esperando que entendessem, mas ela estava feliz por fazê-lo. Ao
terminar, sentiu como se um peso tivesse sido tirado de
seus ombros.

Ele deu a volta para o lado dela, puxando o rolo de sua


201

mão. — Por que não veio para mim antes?


Página

— Não é que não quisesse. Nunca houve um momento


certo. E não posso correr para você sobre cada pequena
coisa. Nem sempre estará por perto.
Ele não respondeu, apenas procurou em seu rosto por
respostas que ela não tinha para ele.

— Não posso prometer que não vou ficar sobrecarregada


novamente. Não posso nem prometer que não vou empurrá-lo
para longe, mas farei o meu melhor.

Um segundo se passou antes de Luka puxá-la para seus


braços, sua mão em seu cabelo, seus dedos alisando os fios. Seu
corpo estava quente, mas ela se emocionou com a sensação dele
junto a ela. Se alguma vez houve um momento em que se sentia
mais calma, era quando estava com ele.

— Quando você precisar de mim, estarei bem aqui. Mesmo


quando estiver sendo uma porra de teimosa. Eu estou bem aqui.

Ela bateu em seu peito, rindo, mas ele não a deixou se


afastar. — Obrigada, Luka.

Beijando o topo da cabeça dela, ele a deixou ir.

— Como você está se sentindo?

— Bem.

— Certo, agora me diga a verdade.

Não era que isso fosse uma mentira necessariamente. Ela


não se sentia tão ruim quanto se sentiu quando estava
desintoxicando, mas não estava de volta com força total ainda.
Ainda tinha um longo caminho a percorrer.

— Eu me sinto melhor. Bom o bastante?

Passando um pouco de tinta sobre a testa, ele


202

assentiu. — Por agora.


Página
Era incrível o que poderiam fazer quando não estavam
brigando e se dedicavam a uma tarefa singular. Enquanto não
fizeram muito além da pintura e jogar fora algumas coisas, o
lugar já parecia mais habitável.

— Você tem vivido aqui por anos e nunca comprou móveis,


Luka? — Perguntou na manhã seguinte quando foram explorar
uma loja de artigos para casa. Bem... ela fez a maior parte da
exploração. Ele apenas olhava para qualquer item e não mais do
que alguns segundos.

— É o que eu estou acostumado. — Ele murmurou


distraidamente, brincando com seu telefone.

Alex olhou para ele, tentando avaliar se estava falando sério,


mas quando sua expressão não vacilou, ela sentiu uma grande
tristeza por ele.

— Você merece uma cama confortável, pelo menos. E um


travesseiro.

Ele riu, embora parecesse forçado. — Obrigado pelo


carinho.

Alguma vez ela não foi carinhosa?


203

Olhando para seu telefone, ele examinou a tela, então


franziu a testa. — Eu tenho uma ligação. Você pode
Página

terminar aqui... — Ele apontou para fora da loja. — Nos


vemos mais tarde?

— Certo. Estarei na sua casa.


— Alex...

— Eu estou bem, Luka. Sinta-se livre para me checar


quando terminar se for preciso.

— Sim, tudo bem.

Ela circulou ao redor da loja um pouco mais depois que ele


saiu, fazendo uma lista do que iria pegar mais tarde, quando
pudesse conseguir que Luka voltasse lá.

Chamando um táxi, pensou em ir ao seu apartamento, mas


decidiu contra. Enquanto ainda não estava claro o que aconteceu
entre ela e Snow na outra noite, definitivamente tinha lembranças
dele... e não tinha certeza se Snow se preocupou em usar um
preservativo.

Havia uma pequena clínica de urgências perto de seu


apartamento e não havia nenhum ponto em adiar a situação por
mais tempo. A clínica era estéril e fria, como a maioria. Vários
cartazes com adolescentes sorrindo dizendo que a clamídia era
curável, estavam pendurados nas paredes. Apesar da hora, havia
poucas pessoas na sala de espera. Havia alguns assentos ali,
outra mulher segurando um bebê chorando e outra garota que
parecia absolutamente aterrorizada.

Alex perguntou brevemente como ela parecia para eles.

Quando seu nome foi chamado, ela caminhou a curta


distância até a parte de trás. Não deixou que a vergonha que
sentia a dominasse, ficou quieta quando frascos de seu
sangue foram tomados. Esses seriam os dois mais longos de
sua vida.
204
Página
VINTE E QUATRO

Solidão

De volta para casa em seu apartamento depois de deixar a


clínica, o silêncio era sufocante. Agora que estava sozinha pela
primeira vez em dias, odiava. Já sentia falta do som de Loki
batendo pelo chão e até mesmo a inquietação de Luka.
Normalmente, a essa altura, já estava longe demais para sequer
lembrar seu próprio nome e agora que tinha tempo em suas
mãos, não sabia o que fazer com ela mesma.

Nunca deu muita atenção à forma como superficial sua vida


era até agora. Se não estava bebendo, fazia compras e se não
estivesse fazendo nenhum desses, estava fantasiando sobre fazer
um ou ambos. Depois de terminar o colegial, nunca teve qualquer
interesse em ir para a faculdade. Realmente, a única coisa pela
qual era verdadeiramente apaixonada, era o balé.

Mas isso não era algo que poderia fazer atualmente.

Já era difícil o suficiente voltar para a dança depois de


ter um bebê, mas depois de deixar a companhia sem uma
205

palavra... era praticamente suicídio profissional. Se


Página

pudesse voltar atrás, mudaria muita coisa. Em vez de


permitir que o segredo de Anya nublasse toda sua vida, ela
deveria ter se movido para frente e deixado o passado onde
deveria ficar.
Mas era tarde demais para sentir pena do que foi perdido.
Apenas podia avançar a partir daqui. Não sabia o que iria fazer,
não ainda, mas já não iria apenas se sentar e sentir pena de si
mesma. Alex queria mais.

A campainha tocou, fazendo-a sentar-se, olhando para seu


telefone. Não poderia ser Mishca ou Lauren porque teriam ligado
antes. E definitivamente não era Klaus desde que ele não
demonstrou nenhum interesse em vê-la, quando ambos estavam
no mesmo lugar ao mesmo tempo.

Vestindo um short, ela se dirigiu para a porta, olhando


através do olho mágico. Seu coração pulou uma batida quando
viu quem estava do outro lado. Depois que saiu mais cedo, ele
comentou sobre como tinha coisas para fazer e a possibilidade
deles se verem era pequena... no entanto, ali estava ele.

Tentando fingir tranquilidade, abriu a porta, puxando-a


aberta, um sorriso curvando seus lábios. — Tigre.

Luka parecia cansado, mas com sua saudação, uma faísca


entrou em seus olhos. — Estava esperando ouvir isso. Posso
entrar?

Ela deu um passo para o lado para deixá-lo entrar, tentando


não parecer muito animada com sua presença em seu
apartamento. — O que você está fazendo aqui?

Ele colocou as mãos nos bolsos, balançando em seus


calcanhares quando seus olhos a encontraram. — Fui para casa,
mas você não estava lá.

Um tremor a percorreu com suas palavras e uma vez


que ela estava de costas para ele quando caminhou de volta
206

para seu quarto, não lutou contra o sorriso estúpido que


floresceu em resposta. Alex de repente ficou contente com o
Página

trabalho duro que fez em todo o apartamento, agora que


Luka estava aqui. Antes de hoje, ela não conseguia se
lembrar da última vez que limpou seus lençóis, nem a
última vez que fez nada para arrumar sua casar.
— Vai me convidar para sua cama? — Ele perguntou
casualmente, encostado na parede enquanto gesticulava para a
cama com uma inclinação de cabeça.

Subindo na cama, ela segurou o sorriso que estava tentando


forçar seu caminho para o rosto, agitando-o sobre como se um
convite fosse realmente necessário. Ele era sempre bem-vindo e
sabia disso. Puxando a camiseta sobre a cabeça, ele tirou os
carregadores, deixando cair sua mochila em uma das cadeiras
perto da porta. Observando-o caminhar em sua direção sorriu,
mas ficou ainda mais feliz quando ele estendeu seu corpo
parecendo muito maior agora que estava em seu espaço.

Ela virou de lado para que pudesse enfrentá-lo melhor.


Havia ainda alguma distância entre eles na cama, mas não queria
acabar com ela, não quando não havia um convite. Mas como se
ele tivesse lido sua mente, levantou o braço, olhando para ela
com expectativa.

Alex não iria recusar.

Ela deslizou e quando estava perto o suficiente, passou o


braço em volta da cintura e puxou-a no resto do caminho até que
eles se encaixaram, como duas peças do mesmo quebra-cabeça.

Luka suspirou seus dedos tocando seu cabelo. — Você o


cortou... novamente.

— E você não gosta?

Ele puxou um pouco, não o suficiente para machucar,


apenas o suficiente para levá-la a olhar para ele. — Não há
nada sobre você que não gosto.
207

— Exceto o meu talento especial para entrar em


situações de merda das quais precisa me tirar.
Página

Ele riu. — Apenas então.


Uma parte dela tinha medo de perguntar, especialmente
sabendo que estava ali sem ela ter que pedir... mas sei-asen
curiosa. — É terça-feira…

— Sim.

— Mas você está aqui ...

Ele assentiu. — Estou aqui.

Ela bateu em seu peito. — Pare de repetir tudo o que digo.

— Pergunte-me o que você realmente quer saber.

Mordendo o lábio inferior, ela pensou em como melhor falar,


sabendo que ele poderia ser sensível quando se tratava de
Natasha. — Você está aqui, em vez de com Natasha ...

— Ainda não é uma pergunta.

— Por quê?

Ele rolou de costas, colocando as mãos sob a cabeça


enquanto observava o fogo queimar, o som da madeira crepitando
alto no silêncio da sala. — Nunca foi assim entre nós. Além
disso... — Ele disse virando a cabeça na direção dela. — Eu
queria vê-la.

— Eu estou bem, Luka. Você não tem que ser uma babá...

— Essa não é a razão.

Ela queria simplesmente aceitar que ele estava ali por


ela, mas sua parte insegura não iria deixá-lo ir. — Eu
sempre estive aqui, mas você nunca veio antes.
208

Ele suspirou, alcançando a mão, o olhar caindo para


Página

seu quadril, onde seus dedos traçaram sua pele.

— Não pode ser as duas coisas? Não vou mentir e


dizer que não estou preocupado com você. Fez o
suficiente para que eu me preocupe, mas não é apenas
isso. — Então, tão rapidamente quanto sua seriedade caiu sobre
ele, sorriu de forma brilhante. — E talvez porque eu queira dormir
ao seu lado novamente. Seja qual for à desculpa que você tenha...
faça a sua escolha.

— Mas eu...

Ele colocou um dedo sobre seus lábios, silenciando outro


protesto, mas desta vez ela o deixou.

— Eu não quero ficar sozinha.

Pela segunda vez em algumas horas, Alex abriu os olhos,


piscando para clarear a visão, tentando ver Luka claramente. Ela
não tinha certeza se estava realmente acordada ou sonhando,
mas a versão real ou falsa dele ainda era boa de olhar.

Ele estava inclinado sobre ela, o cabelo úmido preso atrás de


suas orelhas, os olhos atentos sobre ela. — Eu tenho que ir.

— Não vá.

Pelo menos, era o que ela esperava que tivesse dito,


mas na realidade, saiu como pouco mais do que
209

monossílabos. Ele sorriu com indulgência antes de puxar o


lençol sobre ela. Seus lábios se moveram novamente, mas a
Página

esta altura, ela já voltou a dormir.

Muito tempo depois de que Luka saiu de seu


apartamento e o sol subiu no céu, Alex finalmente
acordou, sentindo-se cansada e animada, para não
mencionar os traços de medo que sentia. Não havia nada de
manchas em sua mente desta vez, sem drogas, sem álcool e por
essa razão, poderia se lembrar dele indo para ela pela primeira
vez.

Gemendo, caiu de costas na cama, apertando os olhos


fechados, porque uma parte dela desejava que pudesse voltar
para a última noite e apenas aproveitar estar com ele. Ela não
tinha ideia de como seria com ele hoje, se ele voltaria a ser como
era antes.

Mas enquanto as infinitas possibilidades corriam por sua


cabeça, isso não era motivo para se sentar na cama o dia todo.
Em vez disso, precisava sair de seu apartamento e encontrar algo
para ocupar seu tempo. Ela se lembrava vagamente dele
acordando-a uma segunda vez e percebeu que ele estaria ocupado
a maior parte do dia com Mishca. De modo que lhe dava muito
tempo para se preparar para o que quer que sua reação a sua
noite juntos foi.

Alex tomou banho e ficou pronta em tempo recorde e foi para


um café não muito longe. Felizmente ela bebeu o líquido em
chamas para ajudar a fazê-la sentir-se mais humana. Alex
chamou um táxi, indo em direção a uma de suas lojas favoritas,
uma loja que vendia roupas vintage. Ela olhou algumas das
prateleiras, de olho em um vestido especial, que ficaria ótimo com
um par de sapatos que ela já tinha quando ouviu alguém chamar
seu nome.

Apesar dos anos, ela reconheceu a voz, um sorriso


hesitante já florescendo em seu rosto enquanto enfrentou
sua velha amiga. — Amerie, o que você está fazendo aqui?
210

Amerie estava exatamente como se lembrava, porem


com uns quilinhos a mais que, no entanto, não era
Página

necessariamente uma coisa ruim. Seu cabelo estava


puxado para trás em um rabo de cavalo simples na nuca e
enquanto a maquiagem era discreta, ela ainda estava
deslumbrante.
— Eu que deveria perguntar! Onde você esteve? Depois que
saiu de Paris, não ouvi nada de você.

Essa era uma longa e complicada história, uma que Alex


realmente não podia contar. — Tive que fazer uma pausa da
dança, porque minha vida em casa estava um pouco louca
naquela época. E você?

Foi então que Alex notou uma garota de mãos dadas com
um homem caminhando em sua direção, a menina quase uma
imagem idêntica de sua mãe. Quando ela se aproximou, jogou os
braços ao redor das pernas de Amerie e olhou para Alex com um
sorriso tímido.

— Esta é a minha filha, Sophia e meu marido, Marcus.

Ele sorriu e parecia bom o suficiente, embora certamente


nada como o tipo de gente que andava durante seus dias mais
jovens. Ele pegou Sophia, levando-a para o outro lado da loja,
para que as duas pudessem terminar de conversar.

— As coisas realmente mudaram para você. — Alex


comentou baixinho, sorrindo com um leve tchauzinho de Sophia
que ainda estava observando-as com grandes olhos de corça.

— Oh, você sabe como são essas coisas. Agora que ela é
mais velha, estava esperando voltar para a dança.

Para alguns, ter um bebe era como cometer um pecado no


mundo do balé, não apenas por causa das mudanças físicas do
corpo, mas por causa do compromisso que era necessário.
Balé era um compromisso de vinte e quatro horas por
semana e ter um bebe entrava em conflito com isso.
211

Claro, Amerie não foi a primeira e não seria a última


garota que precisava fazer uma pausa da dança para ficar
Página

com sua família, mas era raro que elas voltassem a dançar.

— É isso que traz você a Nova York? — Alex


perguntou olhando de volta para ela.
— Sim, Calvin O'Fare está fazendo audições no próximo mês
com cinco pontos abertos em sua companhia. Talvez você possa ir
à audição, também?

Seu coração deu um salto ante essas palavras, batendo


ainda mais forte quando ela pensou sobre isso. Ainda podia se
lembrar o que sentia. Como a dança trazia tanta alegria em um
momento em que raramente sentia. Isso poderia ser bom para
ela, mais do que bom.

— Aqui, por que você não anota meu número e pensa nisso.
Mais tarde, eu passo um texto com o endereço e o traje.

Alex se encontrou assentindo, anotando o novo número de


Amerie em seu telefone e dando o dela, por sua vez.

— Somente entre nós. — Disse Amerie com um sorriso


quando ela se virou para ir. — Nossos pontos são garantidos.

212
Página
VINTE E CINCO

Visitas inesperadas

Foi apenas uma questão de tempo.

Considerando o quão cuidadoso Luka era com a maioria das


coisas, foi uma surpresa para ele quando finalmente parou de
resistir à atração por ela. Não poderia mesmo dizer quando
realmente aconteceu, mas uma parte dele reconheceu que estava
cansado de lutar contra ela. E não era Mishca que ele temia
tanto, mesmo sabendo que o chefe Bratva não aprovaria, mas o
que Luka poderia fazer com ela.

Ninguém realmente sabia tudo o que ele fez na Albânia, nem


mesmo Klaus. E se isso não bastasse, acabou virando as costas
para tudo e sabia que algumas pessoas queriam vê-lo morto. Ele
sempre pensou sobre a escolha que fez todos aqueles anos atrás,
o telefonema que finalmente mudou sua vida.

Mas também pensou sobre o porquê foi a este lugar,


para essas pessoas, em vez de quaisquer outras
organizações que iriam querer alguém que tivesse suas
213

habilidades.
Página

Era uma penitência? Talvez então quisesse morrer,


porém, nunca tiraria sua própria vida, mas se fosse feito
pela mão de outra pessoa, talvez então finalmente
deixasse a morte alcançá-lo...
Muitas noites ficou na cama, pensando sobre a decisão que
levou meses para considerar. E agora que as coisas eram boas
para ele e não havia tanta preocupação sobre alguém descobrir
sobre o que fez, especialmente agora que Jetmir estava morto,
deveria ser bom. Não havia mais nada que poderia precisar.

... bem, exceto Alex.

Ele sabia que suas defesas estavam desmoronando, mesmo


que não quisesse admitir para si mesmo. Mas enquanto
dificilmente travaria uma luta contra si mesmo, mesmo que tenha
feito um bom trabalho durante os últimos dois anos, precisava de
ajuda de outros lados.

Com Mishca fazendo negócios com Klaus em algum lugar,


em vez de ir para casa, Luka se dirigiu ao clube, ignorando todos
que cruzaram seu caminhou até chegar ao escritório na parte de
trás, entrando pela porta aberta e fechando-a com força.

Lauren, que estava sentada atrás da mesa de Mishca, olhou


para cima alarmada, mas um sorriso o substituiu quando ela viu
que era ele. Desde o primeiro dia em que a conheceu ela também
não o temeu, nem mesmo quando soube exatamente qual era o
seu trabalho com a Bratva. Se era uma maldição ou uma bênção,
Luka não tinha certeza.

— Eu pensei que estivesse fora fazendo... bem, o que quer


que faça quando não está aqui. — Disse ela em tom de conversa,
descansando a mão sobre o estômago, mas tão rápido
quanto o fez, ela moveu a mão para a mesa. Estranho.

— Mishca não te contou sobre isso, nada disso, não a


princípio certo? — Perguntou Luka, gesticulando em volta
214

deles, não tendo que explicar o que queria dizer.


Página

— Uh, ele não contou. Por quê...

— Sem mencionar todo o negócio com seu pai e


desculpe por isso, a propósito.
Lauren, que não tinha ideia do que porra ele estava falando,
balançou a cabeça lentamente.

— Obrigada?

— Ele não lhe disse sobre seu passado, nenhuma das


merdas que ele fez antes de conhecê-lo e não sobre quem ele era,
certo?

— Luka, sobre o que você está falando?

Desabando sobre o sofá do outro lado da sala, ele jogou o


braço sobre o rosto, suspirando forte. Ele tentou pensar em uma
resposta que englobava tudo o que queria dizer ou pelo menos o
suficiente para que ela pudesse ter uma ideia clara, mas nem
sabia como falar com Alex então, como porra iria falar com
Lauren sobre isso?

— Isso é sobre Alex? — Ela perguntou quando atravessou a


sala, sentando de frente a ele com o mais brilhante dos sorrisos.
— Você decidiu parar de lutar contra si mesmo sobre ela.

— Não é nem a metade disso. — Murmurou mais para si


mesmo do que para ela.

— Estou ouvindo.

Talvez depois que ele dissesse a ela, apenas algumas partes,


não todas, talvez ela fosse afastá-lo de Alex e então, ele poderia
tirar essa ideia estúpida de sua cabeça. Ela era a que mais
defendia este relacionamento e se soubesse mais sobre o
motivo pelo qual eles o convocavam nas horas finais do dia,
talvez não ficasse tão feliz em querê-lo perto da irmã de seu
marido.
215

— Eu matei Vlad.
Página

Ela piscou uma, duas vezes, mas tirando isso, não


reagiu ao que ele disse. — É por isso que Mish ficou com
raiva de você por um tempo.
— Ele não foi o primeiro, nem será o último. É... é no que eu
sou bom. E se você me pegar em um dia ruim, ansiarei por isso.
Tem dias que não posso ver qualquer outra coisa. O que eu posso
dar a ela que ela já não tenha?

— Esta é a parte onde eu digo que você é apenas mal


compreendido? — Perguntou ela com cuidado, na verdade
levando o que estava dizendo a sério. — Porque não farei isso.
Tenho certeza de que não é pior que Mishca... ou Klaus.

Não, não individualmente, nem mesmo combinados. Se ele


estivesse fazendo um registro, então estaria em seu terceiro
volume até agora. Às vezes, tudo o que podia ver era o sangue em
suas mãos, não importava o que fizesse, elas nunca poderiam
ficar limpas.

— Luka, eu não sei muito sobre você, então apenas posso


seguir minhas experiências. Quando precisei, você estava lá.
Quando não precisei, você ainda estava lá e não saiu. E se é
assim comigo, eu sei que faria três vezes mais por Alex. Então, se
estava esperando que eu lhe dissesse para ficar longe de Alex,
veio à pessoa errada. Tenho certeza que tem o suficiente de Mish
e metade do tempo acho que ele só diz isso porque ela ainda é
sua irmã caçula.

— Eu vou machucá-la. — Ele disse insistentemente, não


como uma pergunta, mas um fato.

— Como?

— Com a verdade.

— E como isso vai machucá-la?


216

Ele riu, o som ecoando sua frustração. — A verdade


sempre dói.
Página

Lauren assentiu. — Sim, mas você sabe o que vai


torná-lo melhor. Você dizendo a ela. Seja o que for que
esteja te assombrando, o que acha que vai, em última
análise, arruinar tudo o que os dois terão, você precisa
ser o único a dizer-lhe. Ninguém mais. Pode doer no começo, mas
será mais fácil vindo de você do que de qualquer outro.

Luka deixou cair o braço, olhando para o teto.

Não importava como tentasse racionalizar isso, não havia


nenhuma maneira dele poder lhe dizer a verdade sobre o que o
levou a Nova York. Não, ele não estava orgulhoso de sua vida
dentro da Organização e a merda que precisou fazer para
sobreviver lá, mas não podia ver que isso seria o que os separaria.

Ter que explicar a ela que ele tinha a intenção de torturar


seu irmão e finalmente mata-lo, mas por causa de detalhes
técnicos que ninguém poderia prever, acabou descontando a
maior parte disso em Klaus.

— Você está obviamente, em um estado particular de humor


hoje. — Lauren comentou, tocando seu braço para que ele
pudesse olhar para ela. — O que mudou?

Luka lambeu os lábios, pensando em como iria responder a


isso. Ele nunca iria trair a confiança de Alex, nem mesmo com
Lauren. Se ela quisesse que eles soubessem sobre os últimos
meses e os problemas que enfrentava, então era sua história para
contar, caso contrário, apenas os dois saberiam.

Mas Lauren não era idiota para pensar que ele de uma hora
para outra finalmente se cansou de ficar sentado e não fazer nada
sobre tudo o que sentia por Alex. Havia obviamente, um motivo...
mas ele não poderia pensar em qualquer mentira que não soasse
como uma mentira.

— Nada. — Ele não podia dizer que ela iria se abrir


mais com ele. Ela nunca o fez. Mas tê-la tão perto... não
217

estava pronto para desistir disso. — Nada mudou.


Página

Levantando-se, ele beijou o topo da cabeça de Lauren


antes de ir para a porta.
— Ainda bem que pude ajudar. — Ela disse enquanto ele
saía, a diversão clara em sua voz.

Agora, havia uma coisa que precisava fazer antes de dar um


foda-se a todas as regras de Mishca e fazer a única coisa que ele
disse a si mesmo que nunca faria.

A casa que Luka parou em frente era muito grande, não era
incomum no bairro em que estava. Estacionando seu jipe, ele
caminhou até a porta da frente, tocando a campainha duas vezes
antes de se afastar e esperar. Levou alguns segundos antes de
ouvir passos suaves, então a pesada porta de carvalho foi aberta
por uma menina de não mais de doze anos em um vestido de
verão verde claro. Seus olhos se arregalaram um pouco quando
ela o viu, mas sorriu.

— Oi, posso ajudá-lo?

Antes que Luka poderia chamá-lo, ele ouviu o bom médico


se aproximando, perguntando quem estava na porta.
Quando ele apareceu atrás de sua filha e viu quem estava
de pé na sua porta de entrada, ele visivelmente
empalideceu, sua mão descansando no ombro da menina.
218

— Por que você não vai ver o que seu irmão está
fazendo, Lea.
Página

Ela assentiu com a cabeça, dando uma última olhada


em Luka antes de desaparecer na casa.
As mãos do médico tremiam enquanto falava. — Por favor,
eu não fiz mais nenhum empréstimo. Nunca falei uma palavra
sobre...

— Relaxe, doutor. Esta é uma visita social. Eu preciso de um


favor.

— Que tipo de favor?

Luka encolheu os ombros, olhando ao seu redor para as


casas que alinham a rua. — Irá me convidar para entrar? —
Quando o médico demonstrou mais medo, Luka levantou a
camisa, apenas o suficiente para mostrar o cós da calça jeans. —
Se isso ajuda, não estou armado.

Isso é claro, não significava que ele não soubesse como usar
as próprias mãos para fazer o trabalho, mas achou que seria
melhor se não mencionasse esse fato.

Relutantemente, o médico deu um passo para o lado,


deixando Luka passar, a porta foi fechada e trancada atrás dele.

— Meu escritório é por aqui. — Disse ele, guiando-o através


da casa em direção a um escritório na parte de trás que estava
decorado em tons de cinza. Embora estivesse muito claro que
ainda estava nervoso, ele pareceu corajoso quando se sentou
atrás de sua mesa, tentando parecer composto enquanto
esperava Luka explicar por que estava lá.

— Eu preciso que você tire meu sangue.

— Desculpe?

Sentando-se, ele apontou para o braço. — Você


219

provavelmente precisará amarrar meu braço, esperar que


uma veia apareça, então enfiar uma agulha nela, preencher
Página

alguns frascos com sangue, você sabe o que é isso, certo? E


analisá-lo.
Limpando a garganta, o médico concordou. — O que estou
procurando?

— Preciso ter certeza que estou limpo, Doutor. — Quando ele


ainda não se moveu, Luka bateu palmas. — A qualquer hora hoje.

Ele moveu-se, indo em direção a um gabinete baixo atrás


dele e pegando um kit médico. Luka estendeu um braço quando
chegou perto. Uma vez que percebeu que Luka não era uma
ameaça, ele começou a trabalhar, embora parecesse ter cuidado
extra com seu trabalho, certificando-se de mostrar como cada
item que usava era novo, sendo aberto na frente dele.

Seu sangue retirado e o seu braço com curativo, Luka


colocou a mão no bolso de trás, puxando um maço de dinheiro,
colocando-o na beira da mesa.

— Eu apreciaria se você mantivesse isso entre nós.

Embora tenha ouvido o que Luka disse, os olhos do médico


se focaram no dinheiro. — Claro.

— Avise-me quando chegar os resultados.

Luka se levantou para sair, mas parou quando a mesma


garota estava esperando por ele na porta. Quando ele chegou
perto, ela estendeu um pirulito embalado em plástico
transparente.

— Quando eu vou ao médico, eu sempre ganho um destes.


Isso fará você se sentir melhor, também.

Sorrindo, Luka aceitou o presente, puxando o


invólucro e colocando-o na boca. Ele tinha gosto de açúcar e
220

aromatizante artificial, mas ela sorriu e ele continuou


chupando.
Página
VINTE E SEIS

Dê-me tudo

Depois de trabalhar tão duro na casa de Luka, um desejo


atingiu Alex a fazer algo com a dela própria.

Desde que ela se mudou, praticamente a deixou como


Mishca decorou, apenas trazendo suas próprias coisas, mas
agora ela queria algo mais. Planejou verificar amostras para as
paredes, pensando sobre um novo esquema de cores para o
quarto e enquanto fazia isso, ficou enraizada no armário do
corredor onde colocou a maior parte do lixo que não sabia o que
fazer e encontrou uma caixa grande que não se lembrava de
colocar lá. Era óbvio que era dela desde que rabiscou seu nome
na parte superior em sua própria caligrafia.

Puxando-a, bateu a mão na parte superior, afastando um


pouco da poeira. Era incrível o quanto acumulou no pouco
tempo que estava lá. Tirou a tampa, um aroma agridoce
enchendo-a enquanto olhava para o conteúdo.

Um velho par de sapatilhas de ponta estava no fundo,


221

cercado por outros apetrechos de sua vida em Paris. Ela


Página

esqueceu o quanto gostava de lá até este momento, quando


já não tinha isso mais. Fotos instantâneas de um momento
em que o máximo de preocupação que ela tinha era
aparecer para praticar.
Uma vida que era mais simples, sim, mas mesmo assim, não
estava totalmente satisfeita. Ainda ansiava por algo mais do que o
que tinha. O repentino som da campainha fez Alex levantar as
sobrancelhas. Ela verificou duas vezes seu telefone, certificando-
se de que não tivesse nenhuma ligação perdida antes que
deixasse cair à caixa de sapatos no chão e se dirigiu para a porta.

Sua confusão apenas aumentou quando ela olhou pelo olho


mágico para ver quem estava do outro lado.

— Luka?

— Alex? — Perguntou ele, da mesma forma que ela,


movendo-se ao redor dela para entrar no apartamento.

Suspirando, ela fechou a porta, olhando para ele. — Claro,


entre.

Ele observou a sala de estar, demorando-se sobre as caixas


que ela deixou no chão, as coisas dela que derramavam para fora
delas. Tudo o que ele pensava que ela estava fazendo, não disse
nada. Caindo em uma das três cadeiras, ele tirou a jaqueta,
imediatamente pegando uma das caixas próxima e olhou dentro.

Ela pegou dele, mas ele já viu o que estava lá dentro.

— Você está pensando no balé novamente?

— Não. — Ela disse cuidadosamente, recuperando seu lugar


no chão. — Estava apenas limpando meu apartamento.

— Graças a Deus. Parecia uma cena de crime da


última vez que estive aqui.
222

Revirando os olhos, ela olhou de volta para ele. —


Existe uma razão pela qual você está aqui agora?
Página

Ele deu a ela seu charmoso meio sorriso. — Você


acreditaria em mim se eu dissesse que eu senti sua falta?
Sim. Ela estava definitivamente encantada, mesmo que não
quisesse estar. — Talvez.

— Bom. Agora, de volta à coisa de dançar. Poderia ser bom


para você, não? Voltar a fazer algo que ama.

— Como você sabe? — Ela perguntou olhando para ele, seus


dedos apertando a sapatilha de ponta que ainda estava
segurando. — Eu gostava, mas se não gostar disso agora? Não
sou a mesma garota que era naquela época.

Movendo-se para a beirada da cadeira em que estava


sentado, ele acenou para ela mais de perto e quando ela estava ao
seu alcance, ele colocou a mão no centro do peito, sua pele
quente contra a dela. E enquanto sua proximidade a deixava
muito consciente de sua presença, o seu toque fazia seu coração
disparar. Ela não duvidava que ele pudesse sentir.

— Você sente o mesmo por mim.

— Você sabe o que quero dizer, Luka. — Ela balançou a


cabeça. — Tem sido um longo tempo desde que eu dancei...

— Não estou dizendo que não está enferrujada,


provavelmente precisa de algum treino, mas pode fazê-lo. Eu
acredito em você.

Ela se perguntou se ele sabia o que aquelas palavras


significavam para ela.

Por um capricho, ela decidiu contar a ele sobre Amerie


e sua conversa. Ela queria acreditar que lhe contou apenas
para que pudesse ter alguém dizendo que não deve fazê-lo,
que iria precisar de mais tempo. Mas Luka não era essa
223

pessoa.
Página

— Bem, merda. Nós temos que começar por aí, certo?


Não podemos ter você embaraçando a nós dois quando
tentar.
— Certo. Como se eu não tivesse o suficiente para me
preocupar.

— Eu geralmente sou a voz da razão. Enfim, vou tomar um


banho. — Quando ela franziu a testa, ele balançou a cabeça. —
Eu gosto de ficar limpo. Isso é tão ruim?

— Pelo tanto que você fica por aqui, poderia se mudar logo.

Ele zombou, indo para seu quarto em vez do quarto de


hóspedes, como sempre fazia. — Querida, você estaria se
mudando comigo e não o contrário.

— Por que todos os homens acham que a mulher tem de se


mudar com eles? — E eles estavam realmente tendo essa
conversa? Ela não tinha certeza se estavam brincando ou não.

— Você não gosta da minha casa?

— Claro, eu gosto de sua casa. — Mesmo antes de terem


arrumado tudo, ela gostou. Antes, era apenas um pouco... estéril.
— Mas...

— E você realmente quer Loki se mudando? Ele está


acostumado a ter espaço para correr.

— Claro, mas...

— Para não mencionar, eu odeio a porra da cidade.

— Bem! Entendi. Se eu quisesse morar com você, seria


na sua casa.

Indo em direção ao quarto, ele se voltou para ela com


um sorriso. — E se? É quando.
224

Quando ele desapareceu na esquina, Alex tinha que


Página

ter certeza de que isso não era tudo um sonho que estava
tendo.
Mas mais do que se ele realmente estivesse alimentando
uma possibilidade deles juntos, estava feliz por ele ser amigável
novamente. Isso era o que ela mais amava em seu
relacionamento, como era fácil conversar com ele. Não percebeu o
quanto sentiu falta até agora.

Enquanto Luka tomava banho, ela terminou a triagem no


seu armário, olhando pela sala antes dele voltar.

— O que você está faz...

Mas ela parou abruptamente quando sentiu sua presença


atrás dela, seu braço escorregando em volta da cintura, virando-a
para que agora estivesse de frente para ele. Não houve um
segundo para questionar suas ações. Ele apenas reclamou sua
boca quando tinha todo o direito de fazê-lo. Não havia nada lento
e suave sobre ele.

Sua língua tocou a ela antes dele puxar seu lábio inferior,
mordendo suavemente e finalmente, quando ela tinha certeza que
não conseguia sentir nada mais do que ele sobre ela, ele se
afastou.

— Diga sim.

Ele não pediu, ordenou. E ela não poderia lhe negar o que
queria.

— Sim.

Tão logo essa palavra deixou seus lábios, ela


encontrou-se esmagada contra ele, a boca descendo sobre a
dela mais uma vez. Qualquer resistência ou pensamentos,
foram esquecidos quando ela tentou se lembrar de como
225

respirar.
Página

Seu braço deslizou sob sua camisa, a palma da sua


mão pressionando contra suas costas, puxando-a ainda
mais, se isso era possível. Sua própria palma estava em
seu pescoço, os dedos no cabelo macio. E quando ela se
derreteu contra ele, ele gemeu, um som suave que fez
suas pernas ficarem fracas.

Não foi tão fácil por causa da diferença de altura, mas ele fez
fácil, erguendo-a de repente, suas pernas indo ao redor de sua
cintura automaticamente. A mão que não estava segurando o
rosto dela deslizou por sua coxa e ao redor de seu quadril, seus
dedos ao longo do traseiro dela, causando um suspiro quando ele
apertou.

Seu braço se apertou quando ele se afastou da parede,


levando-a através da sala de estar, cuidadosamente colocando-a
no chão enquanto descia até os joelhos. Ela sempre pensou que a
primeira vez seria suave e lento, ainda fantasiava sobre isso.

O que estava acontecendo não era nada disso. Tão ansiosa


quanto ela estava, arrancando a camisa sobre a cabeça, ele
estava duas vezes mais ansioso que ela. Quando ela não pode
tirar sua camisa mais do que até o meio do seu peito — estava
muito ocupada beijando-o — o que era muito esforço, ele se
ergueu, chegando por trás da cabeça, puxando sua camisa para
cima, jogando para longe quando ela se ocupou de forma
desajeitada de seu jeans, tentando abrir o botão, em seguida,
arrastando o zíper para baixo. Tudo o que o jeans a deixou ver foi
mais pele tatuada, a trilha de pelos sob seu umbigo indo ainda
mais para baixo.

Ele estava tão impaciente quanto ela se sentia quando ele


puxou sua roupa, ficando nua debaixo dele em segundos e assim
como pela manhã, quando ele a surpreendeu no chuveiro, olhou
para ela como se fosse à primeira vez. Quando a olhava
assim, com admiração como se nunca tivesse visto uma
mulher nua antes, ela se sentia bonita.
226

Atingindo a frente de sua calça jeans, ela colocou a


mão dentro, envolvendo seus dedos ao redor de sua ereção,
Página

sentindo-o pulsar em sua mão. Ela sempre soube que ele


seria grande, mas sentindo-o, duro e quente, na palma da
mão, não havia nada para prepará-la para isso.
— Diga-me o que você quer.

Alex não era tímida, nunca foi um dia em sua vida, mas no
minuto que ele fez essa pergunta, não podia encontrar uma
resposta para ele, especialmente quando sabia exatamente o que
queria.

— Você. Eu quero você.

— Mmm. Preciso que seja mais específica do que isso. —


Disse ele em seu ouvido. — Você quer minha língua em sua
boceta? Que a vire e a foda por trás? Diga-me e darei a você.

Seu corpo inteiro ficou vermelho de calor, conforme suas


palavras caíram sobre ela. — Ambos, por favor.

Ela teve que soltá-lo quando ele se deslocou para baixo de


seu corpo, seus braços indo ao redor de suas coxas para manter
as pernas abertas. Luka não hesitou. Não provocou. Seus lábios e
língua imediatamente encontraram seu centro e ela só teve um
segundo para tomar fôlego antes que lhe desse exatamente o que
prometeu.

Ela sussurrou seu nome, suas pernas tremendo quando


seus dedos se moveram para os grossos fios de seu cabelo e
puxou. Ela não tinha certeza se estava tentando mantê-lo lá ou
afastá-lo, mas estava claro que ele não iria parar. Não até que
conseguisse o que queria dela.

Foi todo o incentivo que precisava, porque quanto mais o


puxava, mais profundo ele colocava sua língua, até que
suas pernas tremiam e seu nome estava em seus lábios a
cada poucos segundos.
227

— Eu preciso gozar, Luka. — Era tudo o que ela


queria, seus sentidos muito sobrecarregados para ser
Página

tímida por mais tempo. Ela precisava dele. E ela precisava


dele agora.

Mas ele não estava pronto para desistir, no entanto,


não importava o que ela dissesse. Mesmo quando ela
balançou seus quadris, tentando forçá-lo a dar-lhe mais, ele
apenas rolou-os até que ela ficou praticamente sentada em seu
rosto.

— Oh Deus!

Umas de suas mãos serpentearam por seu corpo, apalpando


seu seio, então beliscou seu mamilo. A outra foi entre suas
pernas, seu polegar pressionando seu clitóris enquanto ele a
levava ao limite do prazer que estava pedindo-lhe.

O orgasmo se aproximou dela lentamente e depois de uma


vez, fazendo-a gritar seu nome em abandono, suas pernas
apertadas ao redor dele. E mesmo quando ela gozou, sabia que
não era o suficiente, nem de perto.

— Possua-me, agora.

Ele correu para obedecer-lhe e com sua insistência, ela se


moveu para baixo de seu corpo até que a ponta de seu pau estava
preparada em sua entrada. Ele estava tenso, uma forte
necessidade em seus olhos, então ela foi a única a atingir entre
eles, segurando-o e esfregando-o ao longo de todo seu sexo.

— Agora, Alex.

Ela pensou em fazer isto do jeito que ele fez por ela, mas
Luka estava muito longe. Ele não se moveu gentilmente dentro
dela. Não, ele a montou, suas mãos tão apertadas nos quadris
que ela tinha certeza que ficaria marcada.

Houve uma pontada de dor e ele pareceu perceber isso


quando se manteve imóvel, seu olhar movendo-se para o
dela. Ele deu-lhe apenas tempo suficiente para se ajustar,
228

como se pudesse ler seu corpo, como se tivesse feito isso


um milhão de vezes e quando saiu, deixando apenas a
Página

ponta em sua entrada, ele empurrou de volta, arrancando


um gemido estrangulado dela.
Com um braço ao redor de sua cintura, ele os rolou mais
uma vez e quando o fez, entrou mãos fundo, a testa suada caindo
para a curva de seu ombro e pescoço. Seus lábios encontraram
sua pele, contornando acima de sua mandíbula, a língua,
acariciando a pele, como se ele estivesse tentando acalmá-la.

— Eu não serei gentil. — Foi o mais próximo de uma


promessa, uma vez que era uma ameaça.

Ela podia até mesmo sentir como se continha, por causa


dela, mas quando o puxou para mais perto, deu a ele a permissão
que ele procurava. — Dê-me tudo.

E ele o fez.

Agarrando-lhe os pulsos, ele prendeu os braços no chão e


não importa como ela lutasse, querendo tocá-lo, ele manteve-se
firme. Com cada impulso, ela se aproximava do fim, algo que
nunca alcançou. Nunca, nem mesmo com os dois amantes que
teve, nunca gozou duas vezes em uma noite, mas foi arremessada
em direção a isso. E desta vez, queria levá-lo com ela.

Ele estava tão ocupado concentrando-se nela que não


recebia nada. Segurando o rosto com as duas mãos, ela o puxou
para um beijo, certificando-se de transmitir exatamente o que
sentia por ele. Palavras caíram de seus lábios antes que ela
pudesse impedi-las. Ela sabia que ele entendia francês, podia
sentir isso nele, mas não foi até que ele respondeu que ela se
entregou, perdida no mar de tudo o que ele a estava fazendo
sentir. Segundos depois, ele a seguiu. Luka teve o cuidado
de manter o seu peso acima dela, quando ele caiu em um
braço. Ambos estavam suados e pegajosos e ele foi
lentamente amolecendo, mas ficou onde estava.
229

Seus membros pareciam gelatina e se não fosse pela


sensação dele sobre ela, ela poderia ter pensado que nada
Página

disso era real. Mas, em seguida, ele levantou a cabeça,


olhando para ela com o mais doce dos sorrisos. —
Finalmente.
VINTE E SETE

Um Feliz Natal

Acabando a aplicação de uma camada de batom vermelho,


Alex olhou para seu reflexo no espelho, satisfeita com os
resultados, embora por dentro estivesse muito nervosa. Três dias
se passaram desde que ela e Luka terminaram em seu chão da
sala. Tentar se concentrar em qualquer outra coisa era impossível
e não quando a única coisa de que conseguia se lembrar era das
mãos sobre ela, a sensação dele dentro dela e como se sentiu. Ela
poderia ter se preocupado em não falar com ele há tanto tempo,
mas ouviu Mishca falando sobre ele ter ido a um negócio da
Bratva. Ele deveria estar lá no jantar de hoje à noite, mas não
tinha ideia do que iria acontecer. Enquanto ele não parecia
lamentar a sua noite juntos... isso não significava que não
estivesse repensando agora.

Agarrando os presentes que comprou e sua bolsa, ela


se dirigiu para fora, chamando um táxi para a cobertura. A
neve caía forte, cobrindo as ruas de Nova York com um
branco brilhante. Grinaldas e luzes de cordas penduradas
230

em postes de luz, várias decorações incluindo uma árvore


de Natal gigante no meio da Times Square fazia a cidade vir
Página

à vida e pela primeira vez, Alex estava no espírito do


feriado.

O tráfego era ainda pior quanto mais profundo na


cidade eles iam, mas ela começou a se preocupar com
isso quando pararam em uma longa fila de táxis. À distância, ela
podia distinguir o edifício de Mishca, então ao invés de esperar,
pagou o taxista e saiu, andando os últimos quarteirões.

Ela acenou para o porteiro que sorriu de volta, deslizando


dentro do interior calorosamente iluminado e indo para os
elevadores. Inserindo a chave, a luz ao lado do “P” se iluminou
quando ela a virou, as portas se fechando atrás dela.

Seu carro não estava em qualquer lugar à vista quando


passou pela rua para entrar no prédio, mas isso não significava
que ele já não estivesse esperando lá dentro. Com cada passo que
dava, seu coração batia um pouco mais rápido. Alex sabia que
estava exagerando um pouco. Não era como se alguma coisa
realmente tivesse mudado entre eles, não oficialmente ou nada.
Eles apenas fizeram sexo.

Alucinante sexo.

Ela estava tão ferrada.

O sino soou, as portas se abriram para o foyer. Ela não teve


que sair do elevador para saber que Lauren organizou tudo. O
cheiro de baunilha e canela era forte no ar, para não mencionar a
árvore enorme que Alex podia ver de onde estava.

A coisa imponente estava à altura das janelas, do chão ao


teto. Piscando lâmpadas brancas e azuis decoradas de pinho,
cordas de luzes cintilantes brancas envolvendo-se ao redor da
árvore até chegar ao topo onde uma estrela cintilante descansava.
O apartamento da cobertura parecia particularmente festivo
e Alex duvidava que Mishca tivesse feito tudo isso.

Alex sorriu com a visão de todas as decorações,


231

surpresa com quanto cuidado levou para fazer tudo parecer


acolhedor. Estava tudo ricamente decorado, mas de uma
Página

forma que apenas foi feita para o show. Este cômodo era
confortável.

Colocando os pacotes perto da árvore, ela tirou o


casaco, dobrando-o sobre o braço quando virou a
esquina para ir em direção ao barulho que ouviu no outro
cômodo.

— Alex! — Lauren exclamou quando ela passou ao redor do


balcão na cozinha, esfregando as mãos na calça jeans. Enquanto
Lauren era toda sorrisos e no espírito festivo, ela parecia ser a
única. Klaus estava sentado no sofá olhando para o teto, como se
tivesse pessoalmente irritado. Quando seus olhos se viraram para
Alex, pelo menos por um momento, sorriu, embora sumisse tão
rapidamente como veio. Ela estava acostumada a ele ser um
rabugento, embora ele fosse muito mais divertido de se ter por
perto quando estava discutindo com Mishca que, quando Alex
olhou em volta, era o grande ausente.

Alex devolveu o abraço de Lauren, olhando por cima do


ombro em direção à cozinha para ver o que ela estava
cozinhando, mas com a luz dentro do forno desligada, ela não
pode vê-lo. Fosse o que fosse, cheirava bem. Lauren se afastou
antes do que Alex estava esperando, no passado ela gostava de
abraçar, mas com a forma como ela estava vibrando ao redor,
Alex apenas percebeu que ela estava muito animada para ficar
parada por muito tempo.

— Onde está todo mundo?

— Mish está no quarto com sua última ligação do dia. Amber


está a caminho. Tristan e Matt queriam vir, mas... — Ela olhou
para Klaus. — Não posso ter certeza do que acontecerá hoje à
noite. Eu não sei sobre Luka. Ele apenas mencionou que viria,
disse que tinha que fazer uma parada primeiro.

Ela brevemente se perguntou onde ele tinha que ir e


por que ele não ligou ou até mesmo enviou um texto. E
232

embora não tivesse motivos, considerou a ideia de que


talvez ele apareceria com Natasha. Ele não mencionou que
Página

parou de vê-la.

— Ele não disse que a estava trazendo. — Lauren


disse suavemente, lendo sua expressão.
— É bom se ele fizer isso. — Enquanto ela continuou
dizendo que seria.

Ela não era dona de Luka. Ele poderia fazer o que quisesse.

Deixando cair o casaco em um dos quartos no primeiro


andar, ela deixou Lauren na sua cozinha e foi se juntar ao seu
irmão. Desabando ao lado de Klaus, ela imitou sua postura
enquanto se sentava. Ela esperou até que sentiu seus olhos sobre
ela antes de falar.

— Por que tão triste?

Klaus chutou as pernas para cima e com pouco cuidado com


o espaço pessoal, ele abaixou as pernas no colo. — Quer o meu
perfil?

Ela e Klaus não tinham muito de um relacionamento, o que


era principalmente culpa dela desde que fez questão de evitá-lo
sempre que estava no mesmo lugar. Não importava que Mishca
não a tratasse de forma diferente uma vez que Klaus entrou em
suas vidas, mas ela sempre sentiu um medo irracional de que ele
iria escolher Klaus sobre ela desde que ele era realmente seu
irmão.

Mas parecia que Klaus não se importava se ela quisesse um


relacionamento com ele ou não. Estava sempre tentando forçar
um.

— Apenas estou tentando manter uma conversa assim você


poderá parar de tramar o assassinato do gesso.

Quando suas sobrancelhas se uniram em confusão, ele


riu.
233

— Você está olhando para o teto desde que cheguei


Página

aqui. Poderia ser pior.


Ele sorriu e se inclinou para trás contra o sofá. — Ou você
está apenas esperando o albanês chegar até aqui e estou
destinado a entretê-la.

Fazendo uma careta, Alex desviou. — Qual é o seu problema


com o uso dos nomes das pessoas? Seria tão difícil dizer Luka ou
Mishca?

— Nomes são iguais a apego e eu não faço isso.

— Não? Você usou o meu nome antes. Lauren, também.

Ele franziu a testa, olhando para longe. — Nenhuma das


duas fez qualquer coisa que me fizesse querer matá-las.

Às vezes era quase desconfortável quão franco ele poderia


ser. Uma das características que ele tinha em comum com Luka.
— O que eles fizeram para você? Mishca, eu posso assumir que
foi provavelmente algo ao longo das linhas de confusão de
identidade. Estou certa? Mas o que Luka fez?

Ele bebeu o resto de sua bebida, estendendo a mão para a


garrafa sobre a mesa. — Ele me transformou nisso. — Ele disse
enigmaticamente.

— O que significa isso? — Ela perguntou, genuinamente


querendo saber. Normalmente, suas reflexões sombrias acusando
Mishca de ser a razão pela qual ele era um mercenário, mas agora
Luka?

— É Natal, Niklaus. Você não pode agir como se


estivesse feliz pela próxima hora, pelo menos? — Mishca
perguntou quando se aproximou, deslizando seu telefone no
bolso da jaqueta. — Você está com a família. Deve agir como
234

tal.
Página

Klaus provocando, jogou a tampa da garrafa que


estava segurando no rosto de Mishca. — Foda-se, sabe que
eu não suporto seu traseiro, russo.
— Certo. Você percebe que você é russo também, sim? E
sim, estou bem ciente que deveria ter sido eu em seu lugar no dia
em que foram levados e torturados. Qualquer coisa que gostaria
de expor mais? — Ele perguntou secamente, sentando-se de
frente a eles. — Talvez quando levou um tiro em Kiev depois de
uma de suas missões irem para o ralo e um dos seus homens ser
levado? Foi minha culpa, também?

Alex não sabia ao certo, mas havia algo de errado, mais do


que o que eles estavam realmente dizendo. Ela não percebeu o
quão perto da verdade estava quando ela foi até Klaus sobre
identidade equivocada.

— E o que fez? — Perguntou Klaus, quando ele deixou cair


às pernas no chão, colocando a garrafa ao lado. Ele não puxou
uma arma, mas havia algo particularmente perigoso sobre a
maneira como estava olhando para Mishca agora.

— Eu poderia tê-lo deixado naquele prédio. — Disse Mishca.


— Não esqueça que você me pediu para matá-lo, terminar com
sua miséria. Nunca virei às costas para você, nem uma única vez
Niklaus. Você saiu. Caiu no buraco do coelho por conta própria.
E estou ficando doente de você colocar toda sua merda em mim.

Alex estava chocada demais para fazer qualquer coisa mais


do que se sentar lá e olhar para eles. Ela não sabia metade do
que Mishca revelou sobre Niklaus. Mas viu o momento que Klaus
estava prestes a se lançar sobre a mesa e atacar Mishca, mas
quando ele ficou de pé, Mishca fazendo o mesmo, Lauren estava
lá no meio deles.

— Não esta noite. — Ela disse lentamente, olhando


para trás e para frente entre eles. — Vocês podem cair na
235

porrada amanhã.

Mishca a puxou atrás dele, apesar de sua resistência,


Página

mas o que apenas conseguiu irritar Klaus mais.


— Merda clássica vindo de você, russo. Apesar de tudo o que
pensa de mim, eu não iria machucá-la. Na condição atual ou não.

— E por que, Niklaus? Não é por minha causa.

Nenhum deles ouviu o elevador enquanto olhavam


mortalmente um para o outro e enquanto Alex estava certa que
Lauren poderia lidar com os dois, ela estava mais do que um
pouco feliz em ver Luka enquanto entrava no apartamento,
olhando perdido.

— Não, você está certo sobre isso. Estou cheio de você. Tome
a sua oferta e sua posição e os enfie na sua bunda.

— Porque é isso que você está mais interessado? Estive


disposto a fazer as pazes sobre a merda que eu não tinha
controle, mas caralho, minha esposa não está sobre a mesa.

— Oh, foda-se. Se eu quisesse comer sua esposa, então eu


comeria.

As bochechas de Lauren coraram e pela primeira vez desde


que este argumento começou, não havia raiva nos olhos de
Mishca.

— Cuidado.

— Ou o que, russo? — O sorriso de Klaus ficou mais amplo e


sua postura relaxada. — É isso que você pensa quando sabe que
estamos sozinhos? Se eu tenho Lauren em suas costas? Ou talvez
em seus joelhos...

Mishca não pensou, ele apenas balançou, o som de


seus dedos batendo no rosto de Klaus impossivelmente alto.
236

Luka agarrou a parte de trás do vestido de Lauren e


Página

puxou-a para fora do caminho de todos os punhos


voadores que estavam no meio da incursão. Ele acabou por
recebê-los e se Alex pensou que Klaus estava zangado com
Mishca, o momento em que percebeu quem estava entre
ele e seu alvo, ela praticamente podia sentir a fúria
sangrando fora dele.

— Isto é sobre ela, não é? — Perguntou Luka, sem tirar os


olhos de Klaus, pelo menos até que Alex deu um passo em sua
direção. — Não. — Ele disse a ela. — Fique aí.

— Diga o nome dela.

Luka voltou-se para Klaus. — Sarah. Esse era seu nome. Eu


não esqueci. — Ele manteve as mãos ao seu lado enquanto falava
de algo que apenas os três pareciam entender. — Se você quiser
descontar em alguém, então venha para mim. Eu estava lá. Eu
não fiz nada para impedi-lo.

Klaus estava vibrando com raiva, tão forte que suas mãos
tremiam, mas com as palavras de Luka afundando, ele pegou a
arma, o cano alinhado sob o queixo de Luka.

— Klaus! — Alex gritou seu nome.

— Não. — Luka disse, apontando para ela novamente. Ele


nem sequer parecia perturbado pela arma. — Eu resolvo isso.

— Klaus, foi há seis anos. Eu sei o que significa hoje para


você, e eu sei o que me ver hoje faz com você. Mas Jetmir lembra?
Nós o picamos e jogamos sobre uma ponte, sim?

Luka esperou um pouco antes de colocar a mão no braço de


Klaus, esperando até que ele voluntariamente o abaixasse antes
de se afastar.

— Vamos dar uma caminhada.

Guardando a arma, Klaus ignorou, dando-lhe as costas


237

quando voltou para onde Alex estava de pé e sentou-se no


sofá, estendendo a mão para a garrafa que deixou para
Página

trás. Alex, muito rapidamente, agarrou-a e calaram-se.

Ele suspirou. — Eu não posso matar o russo. Não


posso meter a porrada nele. E agora não posso nem
mesmo ter minha bebida? Lembre-me da próxima vez
que eu recusar um convite para esses eventos de família.

— Bem ... — Disse Amber quando ela entrou na sala. — Eu


cheguei. Não se preocupe, no entanto. — Ela olhou para Mishca,
Klaus e Luka, por sua vez. — Eu não vi nada, nem ouvi nada.
Veja. Biscoitos.

Isso foi suficiente para aliviar a maior parte da tensão na


sala.

Alex estava ficou feliz por não ter acontecido o pior. Luka
estava olhando para ela e o alívio que sentiu ao vê-lo foi de curta
duração quando Natasha apareceu, olhando para ele da mesma
forma que Alex olhava. Mishca e Lauren deixaram a sala, Alex
assumiu que foi para conversar sobre isso.

— Quando isso aconteceu?

Alex piscou, olhando para Klaus, que estava olhando para


ela. — O que?

— Você e ele. —Disse com uma inclinação de cabeça na


direção de Luka. — Suponho que é a razão pela qual você está
parecendo como se quisesse vomitar.

— Não é o que você pensa. — Era exatamente o que ele


pensava.

— Ei. — Ele disse com um empurrão para o lado dela. —


Pelo menos é melhor do que acordar com alguém prestes a
apunhalá-lo pelas costas. Literalmente. Quase não escapo
dessa.

— Primeiro de tudo, bruto. Você é como o esboço de


238

um irmão mais velho irritado que nunca tive. Eu realmente


não quero pensar sobre você fazer qualquer coisa que não
Página

seja... — Ela acumulou seu cérebro para algo que a fez


lembrar dele, mas não a fez querer vomitar. — Polir armas
ou alguma coisa. Em segundo lugar, isso aconteceu
mesmo? Ela conseguiu atingi-lo ou você saiu do caminho
a tempo.

Ela estendeu a mão para puxar para cima sua camisa, mas
ele riu empurrando as mãos dela. — Está tudo bem.

— Então... está se sentindo melhor agora? Não estou em


perigo de ser atacado por toda sua raiva?

— A não ser que não me dê a minha garrafa de volta. Odeio


os feriados e eu preferiria não recordar este também.

Por causa da tal garota sobre a qual falaram. Sarah. Alex


estava curiosa e talvez tivesse lhe perguntado sobre ela, se não
tivesse visto o tipo de reação que ele tinha ao apenas ouvir seu
nome. Ela sabia tudo sobre as más lembranças, mas se ele não
quisesseenfrentá-las, quem era ela para forçá-lo.

Entregando-lhe de volta a garrafa de uísque, o líquido


marrom brilhou na luz baixa, ela o viu tomar dois goles longos.
Ele olhou para a garrafa, e depois estendeu-a para ela, sua
pergunta no gesto.

— Não, obrigada. Eu cortei a bebida. — Significava que ela


não bebia nada atualmente.

— Não me diga? Tentando ficar sóbria?

— Esse é o plano.

— Bom para você. — E ele realmente parecia orgulhoso dela.


— Isso significa que não posso beber perto de você? Porque
eu gosto de você, mas no momento, acho que eu gosto mais
desta bebida.
239

Rindo, ela balançou a cabeça. — Sinta-se livre para


arruinar seu fígado.
Página

— É bom vê-la, Alex.

Seu sorriso congelou em seu rosto enquanto ela foi


forçada a olhar para a última pessoa no mundo que ela
queria ver. Natasha usava um vestido que acentuava
sua figura, seu longo cabelo escuro caindo pelas costas. Se Alex
não a desprezasse, então poderia ter elogiado esta escolha.

— Oi. — Alex atingiu o copo de Sprite que deixou sobre a


mesa, tomando um gole como uma desculpa para não dizer mais
nada.

O sorriso dela ainda firmemente no lugar, ela olhou para


Klaus. — Não acho que nós já nos conhecemos.

— Nós não tivemos nenhuma razão para isso. Reservo-me o


direito de dá-lo livremente.

Alex, surpresa com o comentário de Klaus, cuspiu sua


bebida, cobrindo a boca quando tentou abafar a risada que
estava lutando para escapar. Ele poderia querer matar Mishca e
Luka, mas no momento, ele era sua pessoa favorita no mundo.

Embora ela não quisesse, Alex olhou para Luka. Seu olhar
estava sobre ela, sim, mas não em seu rosto. Eles estavam
observando sua roupa e se sua expressão fosse qualquer coisa
perto, ele realmente gostava do que via. Ela conhecia aquele
olhar. Ele o tinha quando estava sob ela.

Consciência a percorreu e quando ela limpou sua garganta,


seus olhos se viraram para ela. Sim, ele estava pensando a
mesma coisa que ela. A porta fechou-se a distância, Mishca e
Lauren reapareceram. Ela parou para cumprimentar sua amiga,
mas Mishca se dirigiu para a cozinha.

Querendo escapar de Luka e as implicações de Natasha


estar lá, Alex deixou-os, fugindo para a cozinha, onde ela
encontrou Mishca em seus armários de licor. Estava de
costas para ela quando entrou, mas ele olhou por cima do
240

ombro quando o fez.


Página

— Você está tentando entrar aqui?

— Eu não bebo mais. — Disse ela a passos largos


para o seu lado.
— Desde quando?

Desde aquela noite com Snow que ela mal se lembrava e


Luka posteriormente a ajudou a passar por isso. — Apenas uma
mudança de vida.

— Bom para você, mas estou tendo uma noite ruim, então
me desculpe.

— Huh, Klaus disse algo similar. Oh, não olhe para mim
desse jeito. — Disse ela quando ele lhe deu um olhar sombrio. —
Há uma razão para vocês sempre estarem um na garganta do
outro?

— Ele desrespeitou minha esposa.

Alex franziu o cenho. — Por que você está falando assim?

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Minha esposa. Niklaus. Por que você está sendo tão


formal?

— O que você quer Alex?

— Que porra está errado com você? — Ela perguntou e desta


vez não foi uma pergunta casual. Ele estava fugindo.

— Se eu achasse que iria ajudar, então diria a você, mas não


vai.

— Você sempre me disse antes. — Disse ela


cutucando-o quando ele se virou volta. — Nós sempre
falamos de tudo antes...
241

Bem, antes que descobrisse que ela não era filha de


Mikhail. Desde então, sua relação não era a mesma.
Página

Sorrindo quase com tristeza, ele puxou-a para o lado com


um braço em volta dos ombros. — Como você está?
— Melhor recentemente. — E a pessoa a quem tinha que
agradecer por isso estava na sala de estar com outra mulher.

— Fico feliz em ouvir isso.

Antes que ela pudesse impedi-lo, ele estendeu a mão,


bagunçando o cabelo dela, fazendo-a empurrá-lo enquanto ele ria.

— Você é um homem adulto, Mishca! Quando vai parar com


isso?

— Mas você sempre será minha irmãzinha.

— Eu sei. — Disse ela secamente, cegamente tentando


arrumar o cabelo.

— Então por que está aqui comigo, em vez de lá fora?

Em vez de lá fora, com Luka, ele queria dizer. — Alguém


precisava ter certeza de que você estava bem.

— Enquanto eu não duvido que se importa o suficiente para


verificar, mas talvez esteja realmente aqui porque Natasha está
lá.

Alex encolheu os ombros, a única resposta que ela estava


disposta a dar.

— Lauren a convidou, meses atrás. Você sabe o quão boa ela


pode ser. Obviamente, isso foi antes de vocês dois finalmente
decidirem ficar juntos.

Ela olhou para ele bruscamente, balançando a cabeça.


— Nós não estamos juntos.
242

— Não? Então, por que quando eu precisei dele para


um trabalho ele deixou seu apartamento às quatro da
Página

manhã? Coincidência? Ou talvez ele estava trocando uma


lâmpada...
Como não havia uma visão clara, ela não podia deixar de
procurá-lo. — É complicado. Nós...

— Acredite em mim quando eu digo que não quero mais


detalhes.

Ela olhou para Mishca, tentando avaliar como se sentia


sobre isso, mas sua expressão permaneceu neutra. — Você não
irá lançar um ataque sobre isso?

— E o que isso mudaria? Se eu lhe dissesse para ficar longe


dele ou vice-versa, vocês iriam se juntar de qualquer maneira.
Não há nenhum ponto em gastar meu fôlego. — Ele a puxou para
um abraço mais uma vez, beijando o topo de sua cabeça. — Eu
gostaria de poder prometer que as coisas serão fáceis, mas não
vou mentir para você sobre isso.

Havia algo sobre a inflexão em suas palavras que a fez se


perguntar o que ele estava realmente tentando dizer a ela.

— Você pode me prometer uma coisa? — Ele perguntou de


repente.

— Qualquer coisa.

— Não importa o que aconteça, tenha confiança que eu


tenho o seu melhor interesse no coração. E mais do que tudo,
ainda vou para protegê-la de qualquer um que queira prejudicá-
la. — Ele suspirou finalmente, tomando um gole de sua bebida.
— Chegará um momento em que você questionará isso. É por isso
que estou te dizendo agora. Não se esqueça.

Mishca estava sendo... estranho. Tudo sobre esta noite


era estranho. O forno apitou de repente e Lauren voltou
243

para a cozinha, mas ela não estava sozinha. Luka a seguiu.


Alex, não querendo ficar no mesmo local que ele, saiu do
Página

caminho para deixá-los passar, mas Luka estava lá para


interceptá-la.
— Você está me ignorando? — Ele perguntou em voz baixa
para apenas ela ouvir.

Era isso ou reconhecer o fato de que ele trouxe sua amiga de


foda para uma festa de família apenas alguns dias depois de
terem feito sexo. Colando um sorriso, Alex balançou a cabeça. —
Claro que não. Eu estou apenas deixando você aproveitar seu
encontro.

Isso, ela disse o que queria dizer e não a chamou de


prostituta. Esse foi um passo na direção certa e ela estava
orgulhosa de si mesma.

— Eu não a convidei. Ela estava no hall de entrada vindo


para cá quando cheguei aqui.

Mishca reafirmou, mas ainda não a fez se sentir melhor. Não


quando não tinha certeza de onde eles estavam.

— Luka, você pode fazer o que quiser.

Ela deu a volta antes que ele pudesse impedi-la, voltando


para seu assento ao lado de Klaus. Desta vez, ela jogou as pernas
sobre as dele.

— Sentindo-se melhor, garotão?

Ele revirou os olhos. — Acho que você já me perguntou isso.

— Basta ter certeza. — Alex não teve muitas conversas com


Klaus, mas não era tarde demais para mudar isso. — Então,
como é ser um mercenário? Trabalho duro?

A súbita explosão de risada o deixou quando ele tomou


244

um gole de uma garrafa recém-aberta de cerveja. Isso era


melhor do que o pesado álcool que ele bebeu antes.
Página

— Nós bebemos e atiramos nas coisas, nem sempre


nessa ordem.
Ela não tinha que perguntar se ele já foi baleado. Mishca
deixou isso bem claro. — Você tem uma boa mira?

— A melhor.

— De jeito nenhum. Mostre-me a prova ou não vou acreditar


em você.

Segurando as pernas firmes, ele se inclinou para pegar uma


revista da mesa, abrindo-a, em seguida, rasgando algumas folhas
fora.

— É o máximo de coordenação olho e mão do que qualquer


outra coisa.

Ele amassou uma, jogando-a entre as mãos. Ele parecia


estar olhando para algo ao lado.

— Você tem que estar preparado para condições variáveis.


Você tem que antecipar eventuais variações no tempo, até mesmo
a menor. Em primeiro lugar, precisa de sua arma. — Ele levantou
a bola para ela ver. — Em seguida, você espera o seu alvo entrar
em posição, então finalmente...

Ele jogou, a bola de papel indo pelo ar para bater em Luka


direto na testa quando ele apareceu na sala. Alex e Amber riram,
especialmente ao ver a expressão no rosto de Luka quando ele
olhou para a bola que caiu a seus pés, as mãos em seus lados.

— Paciência é a chave. — Disse Klaus com leve sorriso.

Quanto mais tempo se sentavam ali, mais Alex


percebia que ela realmente gostava da companhia de Klaus.
Quando ele não estava a chocando ameaçando matar
245

pessoas, ele era realmente muito legal para conversar.


Página

— Eu preciso dela por alguns minutos. — Luka disse


quando se sentou ao lado de Alex, dirigindo sua declaração
para Klaus.
— Fique à vontade. — Disse Klaus, terminando o último gole
de sua bebida. — A casa é sua.

— Sozinho…

— Basta fingir que não estou aqui. — Sugeriu ele, mas


estava claro que não iria lhes dar qualquer privacidade. Na
verdade, ele se virou na direção deles, inclinando a cabeça para
trás contra o sofá.

— Tudo bem. — Luka começou movendo-se para que ele


pudesse enfrentar Klaus melhor. — Desde que você quer expor
toda nossa roupa suja. A última vez que estávamos sozinhos, não
fomos gentis. Eu lhe pedi para facilitar, você acha que eu gosto de
ser ferido? Mas não, você só precisava bater.

Alex cuspiu o refrigerante que estava tomando, cobrindo a


boca com as costas da mão quando ela riu, sentindo os olhos dos
outros sobre eles. Klaus poderia ter tentado o olhar irritado, mas
os espasmos de seus lábios diziam outra. — Eu preciso de outra
bebida, porra.

Ele se levantou, desnecessariamente dando a Luka um


empurrão quando o fez. Agora que seu lugar estava vago, havia
muito espaço para Luka mover-se e aumentar o espaço entre eles,
mas ele ficou exatamente onde estava. Apesar do fato de que ele
removeu com sucesso Klaus de seu lugar, Alex ainda não estava
pronta para falar com ele.

— Você tem cinco segundos, Alex.

Sorrindo, ela fez a contagem para ele. — Cinco, quatro,


três, dois, um. E, no entanto, ainda estou...
246

Ele levantou o copo, segurando-o precariamente sobre


seu colo como se ele tivesse a intenção de derramar sobre
Página

ela.

— Você derrama isso em mim e vou chutar o seu


traseiro, Luka.
Ele encolheu os ombros, sorrindo para ela. — Eu gosto de
dor, deixa-me excitado. Tenho certeza que você se lembra muito
bem.

Surpresa fez sua boca se abrir, mas ela se recuperou rápido


o suficiente, afastando-se dele, sentindo o calor em seu rosto. Ela
definitivamente se lembrava da forma como ele reagiu quando ela
passou as unhas pelas suas costas... ou como tudo apenas
parecia ficar mais áspero...

Tudo o que ela viu em seu rosto no momento em que foi se


aproximando, seu olhar intenso nos lábios e todos os outros na
sala pareceram desaparecer. Ela o queria novamente e...

— Luka, eu posso falar com você?

A voz de Natasha a trouxe de volta à realidade. Alex limpou a


garganta, sentando-se longe de Luka enquanto esperava para ver
o que ele faria em seguida. Embora seu rosto estivesse aberto e
expressivo em sua direção, ele desligou-se completamente quando
olhou para Natasha.

— Vá. — Alex encorajou-o.

Ele olhou para ela, como se estivesse tentando descobrir se


ela realmente queria dizer isso. Mas ela o fez e não era porque ela
estava tentando ser mesquinha. Xingando baixinho, Luka se
levantou, agarrando o braço de Natasha enquanto ele a levava
para um canto.

Eles não foram para longe, embora parecia que quando


voltaram, era hora do jantar. Alex sentou-se ao lado de
Klaus, Luka caindo do outro lado dela e Natasha ao lado
dele. Mishca sentou-se de frente a Klaus, o que incentivou o
247

último a arremessar ervilhas através da mesa para ele,


Lauren ao lado dele e Amber ao lado dela.
Página

Além da tensão estranha entre Alex, Luka e Natasha,


a guerra de comida que Klaus estava tentando iniciar,
tudo estava bem.
— Você é uma criança? — Mishca perguntou quando a
ervilha que Klaus jogou o pegou no meio da testa.

Lançando outra, o mercenário sorriu e disse. — Precisa de


uma para reconhecer outra.

Alex, tentando não rir do olhar indignado no rosto de


Mishca, estava ocupada com um pedaço de frango, quando sentiu
a mão de Luka em sua perna debaixo da mesa. Ela se assustou,
saltando levemente, mas ninguém mais sabia quando olhou para
ele, vendo a sombra de um sorriso nos lábios.

Empurrando a mão dele, ela voltou para sua comida, apenas


para ele colocá-la de volta.

— Há algo que eu possa ajudá-lo, Luka?

Ele pareceu surpreso por ela falar com ele. — O que você
quer dizer?

Fazendo uma careta, ela saltou a perna que estava


segurando. — Há uma razão para isso?

Ele encolheu os ombros, pegando o garfo com sua única mão


disponível. — Não, apenas gosto da sensação de tocar em você.

Em segundos, ela sentiu a raiva diminuir. Porra.

— Você tem companhia. Eu não gostaria de distraí-lo.

Ele sorriu. — Você sempre foi uma distração.

— Luka.

Ambos olharam para cima a Mishca que estava


248

olhando para seu executor. Se olhares pudessem matar…


Página

A reprimenda foi clara na voz de Mishca. Ele não


tinha que dizer mais.

— Apenas sentado aqui, chefe.


Mas ele deliberadamente esfregou o polegar sobre a perna
que não se moveu.

— Se eu tiver que...

— Vamos abrir os presentes! — Lauren anunciou de repente,


olhando para seu marido e seu irmão gêmeo, então para Luka.
Tudo o que ela planejou para esta noite, não estava indo do jeito
que ela queria. Jantar esquecido, todos voltaram para a sala de
estar, todos, exceto Luka que foi para um quarto, Natasha
seguindo atrás.

Apesar do que aconteceu na mesa e como seu toque ainda


persistia, ela contou cada segundo que ele ficou longe. Mas, em
vez de apenas se sentar lá, ela passou para pegar os presentes
que comprou e entregou-os.

Lauren foi à primeira, Mishca, mesmo Klaus e outro para


Amber.

De Mishca e Lauren, ela ganhou um par de sapatos muito


surpreendentes que se lembrava particularmente de ter falado
quando ela e Lauren conversaram. Klaus, surpreendentemente,
deu-lhe um anel em vez de uma arma que era o seu favorito até
agora.

Luka e Natasha voltaram, Luka carregando os presentes que


trouxe. Natasha manteve suas emoções cuidadosamente
escondidas. Luka jogou a Alex uma caixa coberta com papel
dourado, uma fita brilhante da mesma cor amarrada ao redor
dela. Ela era muito maior do que a caixa que ele jogou sobre
Lauren, mas surpreendentemente, ele não tinha um para
Natasha. Podem chamá-la de egoísta, mas Alex estava feliz
com esse fato.
249

Havia uma etiqueta enfiada na fita e quando ela a


Página

virou, estava esperando ter o nome de Luka escrito nela.


Ela riu quando viu palavras apressadamente escritas.

Você ficará grata para caralho.


Enquanto todo mundo estava ocupado, Alex soltou a fita,
delicadamente desembrulhando a caixa. Um nome de uma
empresa que nunca ouviu falar estava impresso na parte superior
e ela estava curiosa sobre o que estava dentro. Ela inclinou o topo
para cima, olhando dentro e imediatamente o bateu de volta no
lugar.

Isso não era algo que ela queria compartilhar com todos
nesta sala, não porque era inadequado, mas por causa do que
significava para ela. Ninguém, nem mesmo sua família, lhe
comprou um par de sapatilhas de ponta. Normalmente a escola
lhes emprestava por um tempo, mas se ela quisesse um par
especial, tinha que os comprar por si mesma.

Não se importando se alguém notou, carregou a caixa para a


sala onde o casaco estava, abrindo novamente uma vez que a
porta estava fechada. Ela correu os dedos sobre o delicado cetim
dos sapatos, deixando as fitas deslizarem através deles. Elas
eram bonitas, simples e a lembrou de uma vida que significava
tudo para ela ao mesmo tempo.

Apenas Luka pensaria em dar-lhe uma de presente, algo que


significava mais para ela do que todos os sapatos do mundo.
Voltando à sala de estar, Alex pegou seu copo, observando os
cubos de gelo flutuantes dentro do redemoinho ao redor.

Lauren distribuiu os seus presentes, deixando Mishca por


último. O seu era o menor, mas se o olhar em seu rosto desse
qualquer indicação, ele não se importou por este fato. Ele
sussurrou algo em seu ouvido que a fez sorrir, incentivando-
o a abrir. Soltando a fita, ele tirou a tampa, as sobrancelhas
arqueando-se quando ele levantou a chave de estilo USB do
interior aveludado. O sorriso se seguiu prometia coisas que
250

Alex realmente não queria pensar.


Página

Luka, que aconteceu de estar andando atrás dele


quando lançou seu próprio presente em Lauren, olhou
para a chave. — Oh, Sr. McLaren? Alguém tem bom gosto.
— Passe perto do meu carro, Luka e vou te esfolar vivo.

— Porquê tão sério? É Natal. Tire esse pau da sua bunda,


Mish. Agora, abra o meu presente e diga: Obrigado Luka, você é
tão generoso. Nós te amamos mais do que o mercenário com
raiva.

— Você está me estereotipando e eu não gosto. — Klaus


reclamou.

— Vocês três brigam mais do que qualquer menina que eu


conheço. — Alex disse fazendo uma careta.

Não passou despercebido que Mishca e Lauren estavam em


uma conversa particular, aquecida e ficou mais do que claro que
Lauren estava ganhando qualquer ponto que estava tentando
fazer. Quando eles finalmente chegaram a um acordo,
perceberam que todos notaram seu pequeno argumento e
estavam olhando para eles.

Lauren e Mishca ficaram na frente da árvore de Natal, este


último pensativo, mas Lauren parecia bastante animada fazendo
Alex querer saber o que estava acontecendo. Era além de óbvio
agora que o que eles estavam prestes a compartilhar era
importante.

— Vamos logo com isso. — Disse Klaus secamente. — Você


está nos mantendo todos em suspense.

Lauren olhou para ele e do jeito que ela estava olhando,


parecia que Klaus já sabia o que estava prestes a ser dito.
Estranho.

— Nós pensamos que era importante que todos


251

soubessem que... bem, o que eu quero dizer é, eu considero


toda a família e é... bem no...
Página

— Lauren está grávida. — Mishca deixou escapar.


Alex estava tomando um gole de sua bebida quando ele fez o
anúncio e ela tossiu, quase cuspindo-o de volta. Como a maioria
dos outros na sala, os olhos imediatamente caíram para o
estômago de Lauren, embora quase não houvesse qualquer
evidência de uma gravidez. Isso também explicava porque suas
roupas estavam tão largas.

Os olhos de Lauren se arregalaram quando ela olhou para o


marido, obviamente, não feliz com a maneira como ele lhes disse,
mas não importava como fosse dito, Alex tinha certeza de que
todos teriam sido atingidos sem palavras ainda.

— Isso é um pouco egoísta, não é? — Perguntou Luka,


rompendo o silêncio após seu anúncio. — Esse é o meu presente,
então? Sua gravidez? Posso, pelo menos, manter o bebe?

Alex escondeu o sorriso por trás da mão, tossindo quando


até mesmo Klaus começou a tremer de tanto rir. Lauren, que
esteve olhando triste com a maneira que todos estavam agindo,
visivelmente relaxou, uma mão indo para sua barriga
reflexivamente quando lançou um sorriso na direção de Mishca.

— Eu, por exemplo, estou animado. — Luka continuou. —


Nunca tive um bebe antes.

— E você não terá um agora. — Disse Mishca, mas ele


também não podia lutar contra seu sorriso.

Alex ficou de pé, com um largo sorriso para Lauren. — Você


deveria me deixar decorar o berçário claro, nós podemos fazer
isso juntas. Está fazendo todo o trabalho duro, afinal. Oh! E
espere até que seja hora de escolher as roupas.

Enquanto Alex estava ocupada conversando com


252

Lauren, Mishca se deslocou para Luka e Klaus. Alex estava


tão animada sobre a possibilidade de ter um sobrinho ou
Página

sobrinha que não notou quando Natasha se aproximou.


Como antes, o sorriso de Lauren congelou, o único aviso
para Alex, que chegou antes que ela começasse a falar.
— Parabéns, Lauren. Você deve estar muito animada.

— Obrigada.

Um silêncio constrangedor caiu sobre elas e em vez de dizer


algo significativo, Alex manteve seus pensamentos para si
mesma. Decidindo que era melhor apenas ignorá-la
completamente, Alex perguntou Lauren. — De quanto tempo você
está?

— Cerca de dez semanas, talvez um pouco mais agora.

Alex deu-lhe um olhar compreensivo. — Lua de mel. Pelo


menos sabemos que você teve um grande momento.

Rindo com bom humor, Lauren perguntou. — Ninguém


estava tendo um tempo melhor do que eu.

— Ei bruto, você...

— Talvez Alex teve. — Natasha cortou. — Desde que ela


bateu o carro de Mishca e tudo.

Alex congelou e Lauren parecia confusa antes que


entendesse. Ela parecia muito sem palavras para responder.

— Considerando que nada aqui é realmente é assunto seu,


não vejo por que você está mesmo falando.

Natasha se virou para ela com a cabeça erguida, o desafio


claro em sua expressão. — Luka tornou meu assunto.

— Quando foi isso exatamente? — Perguntou Alex. —


Porque eu estive em sua casa praticamente todos os dias e
ele tem ignorando suas ligações ou você não percebeu isso?
253

— Considerando que estou aqui agora, parece que eu


Página

sou seu assunto ou ele não iria me foder enquanto você


ainda era menor?
— E ultimamente? — Alex retrucou, a corrida quente de
raiva que fluia através dela fazendo-a tremer de raiva mal
contida. — Ou ele se perdeu no mar de outros homens que você
vê no dia-a-dia.

— Não quando ele é o único que importa.

— Mas você é a única que importa para ele? Porque, me


corrija se eu estiver errada, que ele não deixou uma dica antes de
sair?

Natasha deu um passo para frente, como se ela tivesse toda


a intenção de acertar Alex, mas Lauren ficou no meio e se havia
uma coisa que ela sabia, não era para balançar e bater nela.

Ela não gostaria das consequências disso.

— Isso é o suficiente! — Lauren disse em um sussurro


aquecido, mas não foi o suficiente para manter a atenção fora
deles.

Alex mal arriscou um olhar na direção de Luka, mas vendo-o


apenas reafirmou tudo o que Natasha disse.

— Alex... — Ele a chamou, mas ela o ignorou, continuando.

Claro, ela passou um tempo com Luka. Claro, ele a fodeu


como se o mundo estivesse terminando, mas nada disso
significava que ele estava oferecendo nada mais que isso.
Ninguém pode não ter questionado sua amizade, mas ela estava
começando a ver que essa amizade acabou de tomar um
único passo sobre o limite antes de saltar de volta.

Ela precisava deixar Luka ir, especialmente se a


254

mulher que ele queria ainda era Natasha. Girando em seu


calcanhar, Alex foi para o quarto de hóspedes, onde os
Página

casacos estavam sobre a cama. Mishca estava perguntando


a Lauren o que estava acontecendo por trás dela, mas Alex
não se virou para verificar. Se a verdade viesse à tona
sobre o carro de Mishca, então ela apenas teria que
deixar ser.

Luka não estava muito atrás dela embora.

— Alex.

— Oh, foda-se! Tudo o que você tem a dizer, guarde. Estou


tão cansada deste círculo que continuamos fazendo. Se não é
você lutando contra nós, é a sua... bem, que porra ela é para
você!

Agarrando seu casaco, ela empurrou os braços através das


mangas e puxou seu cabelo livre do pescoço.

— Então, você está apenas indo?

— Sim.

— E acha que eu vou deixar você?

Ela virou-se para encará-lo. — O que você vai fazer para me


impedir? Você sabe, Luka... estou cansada disso.

Luka estava na porta, bloqueando a única saída, com as


mãos nos bolsos. Era claro que ele não se moveria até que
estivesse pronto. — Disso?

— Nós. Você me perseguindo quando, obviamente, não sou


quem você quer.

— E o que te deu essa ideia, exatamente? Quando eu te


mantive estável quanto você desintoxicou? Quando eu te dei
tudo que poderia dar a alguém? — Ele empurrou a porta,
chegando tão perto dela que ela mal podia respirar sem
sentir seu cheiro. — Ou quando eu finalmente cedi e fodi
255

você como eu queria fazer nas últimas seis semanas?


Página

Ele sustentou seu olhar por vários momentos,


deixando suas palavras afundarem, então disse. — Você
não está cansada de mim, porque eu tenho certeza como
a merda que não estou cansado de você.
— E, no entanto, Natasha está aqui, disputando sua atenção
durante toda a noite. Como você acha que ela iria me fazer sentir,
Luka? Vê-la aqui com você, mesmo que não a convidou. — Ela
apressou-se a ir em frente quando se preparava para dizer mais.
— Mesmo que estivesse apenas sendo gentil em deixá-la ficar... o
que você faria se algum ex meu aparecesse dois dias depois que
você me fodeu e ficasse pendurado em mim?

Mesmo a ideia pareceu irritá-lo, fazendo-a engolir quando


seu rosto mudou de emoção. — Você sabe exatamente o que eu
faria.

E ela sabia. Ela realmente sabia.

Mas isso não mudava sua situação atual. Ela fez um gesto
para ele se mover para fora de seu caminho, mas mesmo que ela
tentasse, sabia que não havia como movê-lo a menos que ele
quisesse. Alex se preparou para fazer seu pedido vocal, até que
sua mão segurou seu rosto, seu polegar acariciando-o, sempre
gentil e ela sabia o que aquelas mãos eram capazes. Como podia
esperar seguir em frente, até mesmo para se entreter com alguém
quando, com apenas um simples toque, ele a arrastava?

— Luka...— O nome dele saiu como nada mais que um


sussurro, mas ele não parecia se importar com isso.

— Eu quero você. Eu quero você, Alex.

Lambendo os lábios, uma vez que ela não recuou. — Prove.

O pedido era egoísta. Ela sabia disso, mas por uma


vez, não se importava. Quando era em relação a ele, queria
ser egoísta. Ela queria ter cada pedaço dele, porque ficaria
feliz em dar-lhe cada vestígio de seu coração se ele quisesse.
256

— Eu a vejo em sua casa.


Página
VINTE E OITO

Beije-me

Depois de uma noite mais do que exaustiva, Alex chegou em


casa, jogando sua bolsa e as chaves no sofá. Tirou os saltos,
arremessando-os na direção de seu quarto e jogando seu casaco.
Nunca foi tão descuidada com suas coisas, no entanto, isso não
importava mais. Antes, em uma noite como esta, ela estaria mais
do que feliz em afogar seus problemas com Luka na vodca,
apenas pensar nisso era deprimente. Aos dezenove anos depender
do álcool para passar seu dia, definitivamente não era o destaque
de sua vida.

Apesar do cansaço, o relógio aproximando-se das três da


manhã e o fato de ter ficado na festa a maior parte do dia, não
achava que iria dormir tão cedo.

Em seu quarto, amarrou o cabelo, decidiu tomar um


banho antes de se arrastar para cama. Ficou debaixo do
chuveiro mais tempo, deixando a água quente lavar o
stress. No momento em que saiu, colocou o robe que usava
257

normalmente em seu apartamento e se sentiu melhor. As


palavras de Luka rodavam como um disco quebrado em
Página

sua cabeça e mesmo quando tentava não pensar sobre


isso, não podia deixar de se lembrar a maneira como seus
lábios estavam contra os dela. Mas, pensar em Luka, a
fazia pensar em Mishca.
Sua advertência ainda a confundia, mesmo que não fosse
tão surpreendente. Ninguém jamais seria bom o suficiente aos
olhos de seu irmão, mesmo chateada com isso, não podia culpá-
lo. Alex não duvidava que, se ela encontrasse alguém bom e não
na vida da máfia, ele aceitaria mais fácil, mas é claro, o cara que
fazia seu coração disparar, tinha um profundo envolvimento
dentro da Bratva e não havia nenhuma maneira dele deixá-la.

Houve uma época em que decidiu deixar tudo isso para trás,
muito envergonhada do legado com o qual nasceu. Pensou em
encontrar um cara normal em todos os sentidos, com um sorriso
amigável e que trabalhava das nove as cinco, como a maioria...
mas depois, Luka apareceu e ela esqueceu tudo isso.

E pior, uma vez que se fixou nele, não havia mais ninguém
que quisesse, não como o queria. Snow foi... Snow foi apenas
alguém que ela usou quando estava mal. Alex desejava entender
Luka, porque tentar entendê-lo era muito cansativo e não pela
primeira vez, desejou que levassem vidas diferentes, onde todas
as complicações que estavam em seu caminho desaparecessem.
Tentando colocá-lo fora de seus pensamentos, Alex pegou o
controle remoto, ligou a televisão e passou através dos canais até
encontrar um filme que não fosse aborrecê-la em vinte minutos.

Jogou o controle remoto na cama e se dirigiu para a cozinha,


pensando em fazer um chá, quando avistou Luka casualmente
descansando no sofá, com seus sapatos sujos sobre a mesa de
centro.

Seu coração bateu dolorosamente no peito ao parar


abruptamente, seu nome deslizando entre seus lábios
enquanto ela olhava para ele. Realmente, não deveria ter se
surpreendido. Sem nunca ter falado sobre isso, ela sabia
258

que ele era altamente qualificado em seu trabalho, mas


para apaziguar sua própria curiosidade, tinha que saber.
Página

— Como entrou aqui? Pensei ter pego sua chave.


Lembrou-se do dia claramente, na manhã depois que ele
passou a noite na casa dela, na mesma noite que a beijou do lado
de fora do salão de bilhar. Luka sorriu, o canto da boca,
revelando uma das covinhas nas bochechas. Reclinando mais, ele
inclinou a cabeça para trás para vê-la melhor. — Destranquei a
porta.

Luka manteve os olhos sobre ela, demorando-se em seus pés


descalços. Alex lembrou-se que vestia nada mais do que uma fina
camada de seda. Tentando manter uma aparência firme, segurou
ambos os lados do robe, enquanto seguia em direção à cozinha.
Podia sentir o olhar de Luka sobre ela.

— Que horas irá embora? — Ela perguntou para ele. —Loki


não está sozinho?

Luka levantou-se, apertando um interruptor na parede e


ligando sua lareira inflamável. Uma vez, ela ficou feliz com isso,
mas agora apenas parecia muito íntimo.

— Tomei conta dele antes de vir para cá, não se preocupe. E


quem disse que vou embora?

Engolindo em seco, ela não se preocupou em responder a


isso. — Existe algum motivo para invadir minha casa em vez de
bater?

Agarrando a chaleira de metal do armário superior, encheu-a


com água, colocando-a em um dos bocais do fogão antes de ligá-
lo. Os passos de Luke eram sem pressa quando se juntou a ela,
sua presença em suas costas deixando-a mais nervosa do
que já estava. Quando ela se virou, deslizando por ele para
conseguir algum espaço, notou que ele não vestia sua
jaqueta, junto com suas botas.
259

Luka ficar confortável no seu apartamento quando ela


Página

estava drogada demais para perceber, era uma coisa, mas


enquanto ambos estavam completamente sóbrios era algo
totalmente diferente. Ela não queria pensar sobre isso,
mas algo sobre esta noite era diferente, mesmo que ela
não quisesse reconhecer.

O apito da chaleira parecia a coisa mais interessante do


mundo, ela não tirou os olhos dela até que ele a forçou. Ele
deslizou as mãos nos bolsos da calça jeans, os músculos em seu
bíceps realçados com o movimento. Ela tentou não olhar, mas
seus olhos a traíram enquanto observava a ação, desejando poder
traçar as veias com as pontas dos dedos. Ela olhou para longe
antes que ele pudesse perceber.

Ao dar a volta no balcão, movendo-se em direção a ela em


um ritmo calmo, ela comprou tempo, entrando na despensa para
examinar as caixas de chá, tomando uma respiração profunda ao
sair. Alex não queria parecer como se estivesse fugindo dele,
então pegou uma caixa sem realmente ler o rótulo e juntou-se a
ele.

Sem olhar para ele, perguntou. — Você quer um pouco?


Pode pegar o seu próprio se não quiser... — Ela olhou para o
rótulo de... hortelã-pimenta. —No caso de você pensar que eu
poderia envenená-lo ...

— Eu não tomo chá.

— Claro que não. — Ela murmurou, voltando até o fogão


para esperar. Ele era muito exigente com suas refeições e
bebidas.

Cruzando os braços sobre o peito, ela mordeu o interior da


bochecha. Já era difícil enfrentá-lo quando estava completamente
vestida, mas com quase nada, precisava de toda a ajuda que
pudesse conseguir.

— Por que você está aqui? Não me lembro de convidá-


260

lo.
Página

Ele olhou para a chaleira assobiando, desligando o


fogo antes de enfrentá-la novamente. Arrancando a caixa
de chá de sua mão, jogou-a no balcão. Gentilmente, ele
colocou a mão em sua cintura, virando-a de modo que
ficasse de frente para ele antes de descansar as mãos
no balcão de cada lado dela, prendendo-a. Ela sentiu a frieza do
granito em suas costas, o calor de seu corpo ao redor dela. A
forma como ele sorriu quando olhou para seu robe, era demais e
ficou evidente que apreciava a vista, mesmo que não conseguisse
ver nada e nesse pensamento, o sangue correu para seu rosto.

— Eu disse que viria. — Observou ele, aproximando-se mais,


se isso fosse possível.

Ela voltou a pensar no que ele disse antes de tê-la deixado


para recuperar o fôlego depois de beijá-la. — Não é verdade. —
Disse ela finalmente encontrando seu olhar. — Você não foi muito
claro sobre isso.

— Eu não fui?

Recusando, ela disse. — Você não foi claro sobre muitas


coisas.

— Eu estou aqui agora. O que isso lhe diz?

— Absolutamente nada. Você esteve aqui duas noites atrás e


ainda não sei o que isso significou.

Ela pensava que sim, mas essa suposição foi completamente


destruída.

— Você... não, olhe para mim. — Ele insistiu, quando ela


tentou se virar, forçando-a encontrar seu olhar. — Você me
queria, eu sou seu.

Palavras bonitas, palavras que Alex desejava ouvir


desde o momento em que percebeu o que Luka era para ela.
Era quase bom demais para ser verdade. Não estava pronta
261

para acreditar que ele realmente disse essas palavras.


Página

Odiava se sentir vulnerável, mostrando mais do que


pretendia, mas com Luka, mesmo que tentasse mentir, ele
veria dela. Odiando a vulnerabilidade que sentia, apertou
a mão ao centro de seu peito para empurrá-lo de volta
um passo.

— Mas por quanto tempo?

Sempre sincero, ele disse. — Pelo tempo que quiser.

— Luka...

A mão de Luka segurou seu pescoço, puxando-a para frente


quando ele a calou com um beijo. — Você realmente quer brigar
agora? — Ele sussurrou contra seus lábios, seu outro braço indo
ao redor de sua cintura.

A resposta era não.

Não, ela não queria brigar com ele, não sobre isso. Não mais.
Seja o que for que o fez vir a ela esta noite, Alex não iria
questionar. Poderia se arrepender dessa decisão de manhã, mas
por agora, iria aproveitar sua presença tanto tempo quanto
pudesse.

— Mas isso é ainda...

— Até que alguém me arraste para longe, estou bem aqui.


Com você. Juntos. Sim? E mesmo assim, eu ainda sou seu, Alex.

Ele deve ter sentido sua luta, porque seu sorriso ficou mais
amplo e ele pegou sua mão. — Uma coisa…

O chá que ela foi tão inflexível em fazer foi rapidamente


esquecido quando ele os levou de volta para sala, sentando-
se no sofá antes de puxá-la para seu colo. Suas mãos foram
até os ombros para se firmar e ela ficou intimamente
consciente da sua nova posição e como as dobras de seu
262

robe se abriram ainda mais, mal escondendo nada.

— Isso é para você. —Disse ele, gesticulando com uma


Página

inclinação de sua cabeça para os papéis cuidadosamente


dobrados sobre a mesa na frente deles que passaram
despercebidos quando ela o viu pela primeira vez.
Sem sair do colo de Luka, Alex pegou os papéis, sua
respiração falhando quando as mãos foram para suas coxas,
deslizando por baixo do tecido e roçando os dedos sobre sua
cintura. Enquanto lia, ficou confusa, tentando decifrar o que
eram, até que foi para a segunda página.

Resultados do teste. E porque ele era o único mostrando-


lhes a ela, sabia que eram dele. Se havia alguma dúvida quanto
de como a noite terminaria, estava tudo esclarecido. A última vez
foi espontânea. Isso... era planejado.

— Isso não era necessário, Luka. — Ela murmurou,


deixando cair às páginas de volta na mesa.

— Era. — A mão na parte baixa das costas dela puxou-a


mais perto e quando ele a tocou, ela colocou as mãos sobre o
peito, sentindo o calor de sua pele através dele. — Isso foi fácil.
Existe muita atração aqui. Essa necessidade que sinto por você
sempre esteve aqui, não vou negar. Quero que confie em mim...
completamente. Isto foi apenas para que você nunca duvide.

Seus próprios exames estavam escondidos em uma gaveta


em seu quarto. Em poucas palavras como possível, ela disse a ele
do seu próprio exame e a injeção do controle da natalidade.

— Certo.

Isso era tudo o que ele podia dizer, porque realmente? O que
mais havia para dizer? Ela encontrou seu olhar enquanto suas
mãos foram para a barra de sua camisa e ficou lá.

Ele disse. — Eu nunca estive em um relacionamento,


nunca quis um, por isso não posso dizer que serei bom em
qualquer merda que estamos fazendo. Quando precisar de
263

mim, eu estarei lá. Precisa de algo? Vou me certificar de que


consiga. Como eu disse, desde que você me queira, eu sou
Página

seu.

— E você? O que você quer?


Ele hesitou, como se isso não fosse algo que ele tivesse
considerado. — Eu... eu preciso que você seja paciente comigo.
Não farei isso direito na primeira vez, mas irei tentar... por você.

Ela ficou em silêncio novamente, satisfeita com sua


resposta, mas sem saber o que dizer. Era mais fácil imaginar,
fantasiar em como isso iria acontecer, mas agora que estavam ali,
ela não sabia como proceder. Parecia que, embora não pela
primeira vez, ele estava realmente a vendo. Não como Alex, a
viciada...

Ou Alex, irmã ou filha do patrão...

Mas, como ela mesma.

Poderia ter sido mais fácil de ignorar a forma como seu


cérebro estava trabalhando horas extras se ele fosse para ela
rápido e irrestrito, rasgando suas roupas, sem tempo para pensar
em tudo realmente, completamente. Mas ele foi cuidadoso e
enquanto ela estava nervosa montando seu colo, estava muito
consciente do que estava acontecendo entre eles.

— Eu sempre quis apenas você. — Ela sussurrou, suas


palavras persistentes no ar entre eles.

Desta vez, sua resposta foi sob a forma de um beijo. Foi


lento, lânguido e ela finalmente entregou-se a ele. Uma parte dela
sempre sentiu que essa... essa faísca entre e neste momento era
inevitável.

Ela estava certa.

Suas mãos deslizaram ao redor dela para a parte de


trás de suas coxas e facilmente, ele ficou com ela em seus
264

braços, levando-a para o quarto. Ele não se preocupou em


fechar a porta atrás deles. Não era como se fosse
Página

necessário.

Alex ofegou quando foi jogada, saltando duas vezes


antes de ficar sobre a cama. Ele a seguiu, seu olhar
sobre ela como se fosse um prêmio que ele finalmente
ganhou. Do jeito que ele estava a olhando, sentia-se terrivelmente
autoconsciente, o robe se abriu e ela provavelmente estava
revelando mais do que pretendia. Não havia nenhum ponto na
tentativa de se cobrir. Ele iria vê-la nua novamente.

Agarrando a parte inferior de sua camisa, ele arrastou-a,


puxando-a sobre a cabeça, expondo a tatuagem e os músculos
que lhe tirou o fôlego. Ela observou-o, cada centímetro dele, mas
foi quando ele começou a tirar sua calça jeans, abrindo o botão,
puxando o zíper para baixo, revelando mais pele que ela não pode
recuperar o fôlego...

Aparentemente, Luka não era adepto à cueca. Um minuto,


ele estava totalmente vestido e no próximo, estava completamente
nu. Existe alguém que poderia ser mais perfeito que ele?

Ele não era perfeito fisicamente. Tinha cicatrizes para provar


isso, mesmo se fossem em sua maioria mantidas escondidas, mas
irradiava uma confiança que dizia que não se importava com as
cicatrizes, nem se importava com a opinião de ninguém. Era por
isso que ela gostava dele assim, do jeito que era.

De pé no final da cama, ele se levantava com orgulho e por


que não? Não havia nada sobre ele que não gostasse. Envolvendo
seus dedos ao redor de seu tornozelo, ele a puxou para o final da
cama. Então pegou suas mãos e ela estava de pé, tão perto que
podia sentir o calor que irradiava de seu corpo.

Quando sua boca desceu sobre a dela, ela derreteu. Isto


estava acontecendo, realmente acontecendo e mais do que
isso, não era um encontro de embriaguez. Ela iria se
lembrar. Por um momento, ficou ansiosa com o pensamento
de que tudo estava acontecendo.
265

— Está tudo bem. — Ele sussurrou contra seus lábios,


deslizando o manto de seus ombros, seus lábios descendo
Página

pela mandíbula para a pele febril em seu pescoço, seu


pulso acelerado além do normal — Nós temos a noite toda.
Quando ele a beijou novamente, ela se perdeu nas sensações
que ele inspirou nela. Sua mão descendo a frente de seu corpo,
sentindo-se dolorida enquanto esperava com a respiração
suspensa até que finalmente, finalmente, ele a tocou onde mais
precisava dele. Ela já estava molhada e dolorida para ele, quase
sensível demais quando seus dedos deslizaram por suas dobras,
conhecendo os lugares certos para tocar. No momento em que
empurrou um dedo dentro dela, esticando-a, enchendo-a, ambos
gemeram, o som incrivelmente alto no silêncio do quarto.

Inquieta debaixo dele, ela inclinou seus quadris, querendo


mais, muito ansiosa por algo que fantasiou por anos, mas Luka
estava determinado a fazê-la esperar. Ele recuou o suficiente para
que pudesse apreciá-la, seus olhos vagando sobre o rubor que se
espalhou sobre o peito, abaixo da superfície plana de seu
estômago, onde ele estava trabalhando um dedo dentro e fora
dela.

Alex estava muito consciente de tudo o que acontecia entre


eles, mesmo quando estava perdida no que ele estava fazendo
com ela. Seus olhos sobre ela apenas a deixava mais excitada,
fazendo com que apertasse as coxas. Ele balançou a cabeça, um
fantasma de um sorriso aparecendo. — Você não fará isso.

Com uma força irresistível, ele usou a mão livre para


empurrar a perna para trás, expondo-a mais uma vez, mas desta
vez ele se moveu até que ficou praticamente sobre ela. Beijando
seu corpo, ele não poupou um centímetro, fazendo-a se acender
debaixo dele. Ela era dolorosamente consciente de quão distante
abaixo de seu umbigo ele estava indo, mas a antecipação
era pior.

Ele não foi para onde ela queria imediatamente. Não,


266

ele beijou onde sua coxa encontrava seus ossos pélvicos,


lábios e dentes se arrastando sobre suas coxas, antes de
Página

chupar delicadamente a pele ali. Seu nome saiu em um


sussurro, desesperado e suplicante.

Suas mãos tinham uma vontade própria quando


agarraram seu cabelo, puxando os fios sedosos, um
comando silencioso para que ele parasse de provocá-la. No
momento em que o fez, sua boca estava em sua fenda, sua língua
empurrando.

Todo o ar saiu de seus pulmões no momento em que fez


contato e levou tudo nela apenas para lembrar de como respirar.
Suas mãos ao redor de suas coxas, mantendo-as abertas. Parecia
que ele estava em todo lugar ao mesmo tempo, tomando-a mais
do que nunca antes. Ela não podia nem mesmo encontrar
palavras para dizer, porque tudo o que ele fazia era perfeito.

E enquanto ele chupava e ela reflexivamente puxava seu


cabelo, praticamente podia sentir o arrepio através dele, as mãos
apertando sua pele e se alguma coisa, apenas parecia deixa-lo
mais faminto. Sentindo uma pequena faísca se espalhar através
dela, ela fechou os olhos, gemendo seu nome uma e outra vez
quando chegou ao limite.

Luka se ergueu, limpando a boca com o braço, seus olhos


selvagens, mas voltados inteiramente para ela. Ele moveu seu
pau, os músculos dos braços destacando-se de forma gritante.
Ele passou a língua nos lábios, seus olhos se fechando como se
sua essência fosse a melhor coisa que ele já experimentou.

Alcançando-o, ela puxou-o para baixo, beijando-o com tudo


nela, provando-o. Foi lento e lânguido primeiro, um acúmulo a
este momento porque algo explodiu dentro dele. Posicionando-se
em sua entrada, ela apenas teve um momento antes dele entrar
nela, quase grande demais para caber. Suas coxas apertadas,
desesperadamente tentando segurá-lo no lugar, a
necessidade de ajustar.

Ele gemeu, um som suave que a fez pulsar ao redor


267

dele.

— É demais? — Perguntou ele em seu ouvido.


Página

Ela nunca o ouviu soar assim, com a voz mais


profunda e mais sombria do que o habitual, o seu
sotaque o mais grosso que ela já ouviu. Ele se acalmou,
tendo o cuidado de manter seu peso sem esmagá-la. Ela esqueceu
o quão grande Luka era, mas quando ele saiu, lentamente,
centímetro e centímetro e empurrou de volta, já não importava.

Ele empurrou dentro dela novamente. E novamente, até que


ela praticamente ficou mole. Podia sentir seu sorriso contra o lado
de seu pescoço.

— Melhor?

Ela segurou-o como se ele fosse seu salva-vidas, balançando


a cabeça vigorosamente.

— Não, eu preciso ouvir você dizer isso. Diga-me.

Não era como se ele parasse de empurrar nela, quando a


mão dele segurou seu queixo e forçar seu olhar ao dele, ainda
assim ele queria que ela formulasse uma resposta real para isso?

— Não pare. — Ela disse apenas alto o suficiente para ele


ouvir. — Por favor, não pare.

Deu-lhe tudo, mais do que ela jamais poderia ter sonhado.


No final, não havia nenhuma dúvida em sua cabeça que ele era
dela.

268
Página
VINTE E NOVE

Levado a um fim

O travesseiro estava debaixo de sua cabeça loira, seu rosto


virado para o outro lado. Havia algo muito bom sobre tê-lo ali e
quando ela deslizou mais perto, as pernas se roçando, estava
ainda melhor por ele estar nu.

Ela levou um momento para apreciar a visão dele ali, por


uma vez em sua vida. Ele sempre foi tão discreto, não tanto com
ela, mas enquanto dormia, ela queria dar uma olhada melhor na
tatuagem colorida em suas costas. A primeira vez que Alex viu, as
imagens vívidas tatuadas foram perturbadoras. A maioria dos
rapazes que ela conhecia tinham apenas algumas tatuagens, no
máximo, mas nele não havia praticamente pele à mostra.

A cena selvagem era chocante.

Com cuidado, para não o acordar, ela seguiu o


comprimento de uma videira com as pontas dos dedos,
persistente em lugares que ela conseguiu visualizar melhor
269

agora que estava perto, mas hesitou quando sentiu as


diferenças na forma como sua pele era em alguns lugares.
Página

Na noite passada, envolta em uma nuvem de luxúria,


muito focada no que ele estava fazendo com seu corpo
para se concentrar totalmente em qualquer outra coisa,
mas agora que estava claro, era difícil não notar a pele
suave e todas aquelas cicatrizes que ele cobriu. Cicatrizes não
eram incomuns neste mundo, mas quando traçou uma longa
cicatriz, logo abaixo do ombro para onde o lençol descia em sua
cintura, esta não era como qualquer coisa que viu antes. E pior,
era apenas uma de muitas.

A exploração cuidadosa e inocente agora a fez estremecer


com diferentes possibilidades de como elas terminaram ali. Com
cada linha irregular que sentia, tornava-se mais evidente que
estas não eram de trabalho. Eram muito precisas, as linhas
muito limpas e pela enorme quantidade cobrindo-o, foram feitas
por muito tempo.

Em um ponto em sua vida, antes de ter chegado a esta


tatuagem, Luka foi torturado.

A mão de Alex estremeceu com essa conclusão, enchendo-a


de tristeza ao imaginar a dor que ele sofreu. Isto explicava seu
humor sombrio, mas não explicava como ele poderia ser tão feliz
o tempo todo. Não conseguia imaginar passar por esse nível de
tortura e sair a mesma pessoa.

Mas, novamente, ela não sabia se Luka era a mesma pessoa


que foi uma vez.

— Foi há muito tempo. — A voz de Luka ecoou no quarto,


rouca pelo sono.

Perdida em seus próprios pensamentos, Alex não notou o


despertar de Luka, seu corpo ficou tenso enquanto ela traçava
suas cicatrizes.

Retirando a mão, perguntou. — O que aconteceu com


você?
270

Ele ficou quieto por um tempo, ela não tinha que se


Página

perguntar se ele queria contar. Ele não queria. Sua


linguagem corporal refletia isso. Mas, em vez de ignorar a
pergunta ou desviar, como era propenso a fazer, Luka se
virou para ficar de frente, seus olhos azuis,
normalmente vibrantes, estavam apagados.

— Um pequeno desentendimento com alguns velhos amigos.

Alex franziu o cenho, não entendendo. — Você discordou de


algo e eles fizeram isso com você? Que tipo de amigos são esses?
— A ideia de alguém torturá-lo revirava seu estômago.

A sombra de um sorriso passou por seu rosto rapidamente.


— Aqueles que não tenho mais.

— Como você... — Alex não sabia como terminar essa


pergunta, não sabia exatamente como perguntar.

Mas Luka sim. — Sobrevivi? Eu aprendi a me adaptar.

Eu me excito com a dor...

Essas palavras que ele uma vez disse ela, sussurrou em sua
mente, respondendo à sua própria pergunta. Ele aprendeu a
canalizar a tortura infligida a ele por outros meios?

Isso apenas a fez se perguntar se a noite passada foi


suficiente para ele. Ela seria suficiente? Alex não podia imaginar
infligir qualquer dor nele.

— O que você pensa sobre isso?

Ela mordeu o lábio, olhando para longe. — Na festa de Natal,


você me disse que se excita com a dor...

Agora, ele sorriu, deslocando-se na cama para ficar


mais confortável. — Sim, mas não da maneira que você está
pensando. De volta ao Pit...
271

— O Pit?
Página

Seu maxilar ficou tenso e ela sabia que ele deixou


escapar alguma coisa que ainda não estava pronto para
contar. Apesar de sua curiosidade, ela preferia que ele
continuasse dizendo mais, ao invés de se fechar por
causa disso.

— Não importa, basta ir adiante.

Ele parecia mais do que um pouco grato. — Antes de Nova


York, antes... disso, eu lutava em um lugar chamado de Pit.
Pense em luta de cães, mas com seres humanos. Era sangrenta e
uma porra de terrível, mas era o que eu tinha que fazer. Tinha
apenas treze anos ou mais no momento e não poderia lutar por
uma merda. Gjarper foi instruído a tornar-me melhor da única
maneira que sabia. Por dias ele chutou minha bunda até que eu
mal podia suportar.

Alex não se atreveu a interromper novamente, não quando


ele olhava além dela, parecendo lembrar-se de um tempo que
apenas ele conhecia. Não sabia se esta era uma boa lembrança ou
não.

— Dhimpje ju bën të mprehtë - A dor o deixa mais focado.


Isso era o que ele sempre me disse depois. Na época, eu o odiava
por isso. Não entendia, mas se quisesse sobreviver naquele lugar,
precisava aprender. Então o fiz. A dor me mantinha em forma, me
moldando. Peguei uma arma que eles usaram contra mim e fiz o
trabalho em mim mesmo. Eles já não podiam me controlar e o
que não podem controlar, temem. — Ele piscou, aparentemente
voltando ao presente. — Agora, para responder à sua pergunta
original. Eu agi sem aprovação, e por isso, esta foi a minha
punição. Doeu? Sim, mas não da maneira que você pensa. E para
responder à sua outra pergunta, não, não quero que você me
bata, enquanto eu estou te fodendo.

Uma risada assustada escapou de Alex com seu


comentário e ela se sentia mais relaxada quando a tensão a
272

deixou. Segurando a mão dela, ele beijou a palma da mão.


— Eu estou bem, de verdade.
Página

Quantas vezes ela disse essas mesmas palavras para


ele, ainda que realmente não quisesse dizer?
— Você sabe por que eu tenho essas tatuagens? Não porque
tinha vergonha das cicatrizes, mas porque eu queria um lembrete
de que eu era mais do que eles eram. Eles e a história por trás
deles, não são mais quem eu sou. Então, não se preocupe, certo?

Ela assentiu com a cabeça, deixaria ir por agora. — Sinto


muito que isso tenha acontecido.

— Eu não seria metade do bastardo louco que eu sou sem


eles. Agora, tanto quanto gostaria de ficar aqui com você, tenho
algo com o qual preciso lidar.

Alex olhou para sua calça jeans no chão, onde ela sabia que
seu telefone estava. Ela não se lembrava de ouvir o toque.

— Não para seu irmão. Para você.

Agora, ela olhou confusa.

— Não podemos ter Natasha aparecendo em festas de família


novamente, certo? — Ele não esperou por uma resposta dela,
apenas jogou as cobertas de lado e pegou sua calça jeans do
chão. — Além disso, acho que Klaus pode realmente tentar me
matar se ela o fizer.

Ela sorriu para isso. — De alguma forma eu caí em suas


boas graças.

— Exatamente.

Inclinando-se, beijou sua testa e depois a beijou como


se nunca fosse vê-la novamente. No momento em que ele a
deixou, ela ficou fôlego.
273

— Eu te ligo mais tarde.

Não foi até muito mais tarde que ela percebeu que
Página

Luka realmente não disse adeus quando estava saindo,


apenas — mais tarde — como se ele tivesse certeza que
voltaria.
Luka bateu duas vezes na porta de Natasha, esperando com
as mãos nos bolsos. A merda que estourou na festa de Natal...
queria evitar isso no futuro e a única maneira de fazer isso era
cortar pessoalmente e diretamente o mal pela raiz. Natasha o
procurou todas as semanas, mas não respondeu às suas ligações,
nem enviou mensagens. Ele não se importava nenhum pouco
com isso, estava muito bem com Alex, mas se quisesse manter
essa felicidade que encontrou, teria que fazer isso da maneira
correta.

Quando a porta se abriu e Natasha apareceu de pé do outro


lado com uma túnica e pouco mais. Ele não entendeu o por que
dela sorrir até que se lembrou o dia que era. Ela acreditava que
ele estava de volta na programação. Isso era o mais distante da
verdade.

— Eu senti sua falta. — Ela sussurrou, acariciando sua


garganta, passando as mãos por seu peito. — Parece que você
não me tocou em semanas.

Isso porque ele não a tocou em semanas,


provavelmente mais. Tudo era normal entre eles por um
tempo. Ele a encontrava às terças-feiras, mas essas visitas
274

deixaram de ser apenas sexo para apenas desfrutar de sua


companhia, pelo menos para ela. Apesar do que os outros
Página

achavam, ela era agradável, mas com tudo que aconteceu


com Alex, ele não poderia mais vê-la.

Em parte, era porque sabia que Alex não iria gostar,


por uma boa razão, uma vez que ele e Natasha tiveram
um relacionamento ao longo dos anos, mas além disso, era
porque não queria mais confusão a respeito de quem ele queria.
No entanto, ainda não tinha certeza de como isso iria funcionar
de qualquer maneira. A única coisa que sabia com certeza era
que queria somente Alex.

Tirando os braços que envolviam seu pescoço, ele fez um


gesto para seu apartamento com uma inclinação de cabeça. —
Nós precisamos conversar.

— Claro, venha.

Seu novo apartamento era de bom gosto, algo que já


esperava dela.

— Posso pegar alguma coisa?

Claro, Natasha sabia que algo não estava bem. Nunca nos
anos que se encontrou com ela lhe ofereceu algo para comer ou
beber, isto não significava que ela não queria que ele a levasse
para sair.

— Não ficarei muito tempo.

Seu sorriso hesitou, mas ela manteve-se, descansando a


mão sobre o balcão, como se precisasse de apoio.

— O que posso fazer por você, Luka?

— O nosso acordo, acabou. — Não havia nenhum ponto em


rodeios.

Para seu crédito, Natasha parecia confusa, como se


não esperasse isso dele. — O que você quer dizer?
275

— Não a verei mais. Esta provavelmente será a última


vez.
Página

— Mas... Luka temos algo juntos.


Ele não queria ser frio, mas Natasha não parecia entender
suas palavras... ou talvez, ela apenas se fizesse de desentendida,
mas antes de ir embora, ele teria certeza que estivesse tudo claro.

— Eu te disse o que eu queria e paguei por isso. Mesmo


quando você me disse que não queria mais meu dinheiro.
Estamos bem, mas aparecendo onde não foi convidada, isso
termina.

— Lauren me convidou para essa festa.

— Você deveria ter recusado. Não dou à mínima se o Pakhan


convida você pessoalmente. Não aceite a porra do convite e siga
sua vida.

Um vaso, que não notou, veio voando diretamente para ele,


escapou por pouco de ser atingido na cabeça quando se abaixou,
água e flores caíram no chão quando o vidro se quebrou. Nem
mesmo quando ela foi até ele, tentando acertá-lo, Luka levantou a
mão contra ela, mas segurou seus pulsos e forçou os braços para
o lado dela, impedindo-a de causar mais danos.

— Isto é sobre ela, não é? Agora que ela te deu a boceta, você
está me deixando? O que Mishca pensaria se soubesse que você
está transando com sua irmã?

O aperto em seus pulsos ficou mais forte a ponto de Natasha


estremecer, mas ele freou seu temperamento, soltando-a.

— Eu falei sobre o que estava oferecendo, nada mais. Você


concordou. Se os seus sentimentos estão feridos, então
sinto muito. E talvez eu devesse ter terminado muito antes
de chegarmos aqui, porque queria muito evitar essa porra
de toda. Mas quero que tenha muito cuidado como fala. Eu
276

já cortei a garganta de alguém por menos. — Ela


empalideceu, afastando-se, mas ele não a deixou ir muito
Página

longe. — Nunca me ameace, porra. Você não gostará de


como posso responder.
— E daí? Eu era apenas sua puta? — A dor era evidente em
seus olhos, mas ele não estava ligando para sua simpatia agora.

— Quando eu estava com você, nunca a tratei como uma.

E essa era a única resposta que daria a essa pergunta


quando ele saiu pela porta sem olhar para trás.

277
Página
TRINTA

Fale-me de Você

Outro dia de sair e fazer absolutamente nada juntos. Pelo


menos Luka a deixava passar em casa e pegar mais roupas,
desde que eles praticamente estavam morando juntos. Estar com
ele estava se tornando um novo hábito. Luka riu vendo-a tirar os
sapatos e saltitar tentando tirar seu jeans, embora parou, quando
viu que ela vestia nada mais do que uma blusa e calcinha de
renda amarela.

Ela subiu na cama, montando-o como se eles fizessem isso


todos os dias, descansando as mãos sobre seu peito. Quando ela
mudou de posição, tentando ficar mais confortável, as mãos
voaram automaticamente para sua cintura, os dedos flutuando
sob sua camisa para tocar a cintura, desfrutando do contato
tanto quanto ela parecia.

— Sabe. — Disse ela depois de algum tempo. — Eu


quase não sei nada sobre você.

Luka sabia que isso viria eventualmente, ele próprio


278

iria resolvê-lo, mas mais do que isso, na verdade queria


Página

compartilhar seu passado com ela. Não sabia se iria contar


tudo, não agora pelo menos, mas iria compartilhar o
máximo que pudesse.

— Pergunte.
Se por nenhuma outra razão além do sorriso em resposta
que recebeu, ele daria a ela qualquer coisa que pedisse.

— Podemos começar com algo fácil. De onde você é? Eu sei


que é da Albânia, mas o que...

— Berat, é uma pequena aldeia. Pode não ter ouvido falar


dela.

Alex tentava não parecer tão ansiosa, mas ele podia sentir
praticamente a energia se agitando dentro dela. — E os seus
pais? Eles eram...

— Meu pai, sim. Minha mãe não. Ela nasceu na Rússia, foi o
que me disseram.

O rosto dela ficou sério. — Você nunca foi para lá com ela?

Luka tinha uma escolha. Podia dar-lhe meias-verdades, para


continuar vendo-a sorrir ou poderia dizer a verdade e ver como a
história tiraria sua felicidade. Queria escolher a primeira opção,
mas não era quem ele era. Se ela quisesse entender exatamente
quem era e por que agia dessa maneira, precisava saber a
verdade, não importava o quão feio fosse.

— Minha mãe foi comprada pelo meu pai, quando ele era
casado com outra mulher. Quando ela foi trazida, não pode
nunca mais deixar o país. Meu pai era... bem, ele era um homem
muito poderoso na época e sua palavra era lei.

Nada poderia matar o humor tão rápido, mas ela fez


bem, escondendo o choque da melhor forma que pode por
causa dele. Ele apreciou isso, mas sabia que parecia tão
mau como era.
279

— Mas você não pode simplesmente fazer isso. Não


Página

pode apenas comprar as pessoas.

— Ela era uma prostituta, Alex. Para alguns, não era


nem mesmo uma pessoa.
Ele viu o momento em que tudo clicou em sua cabeça. Ela
estava pensando sobre Natasha, provavelmente, sobre como ele
não tinha, necessariamente, defendido a garota, mas dos nomes
que ela foi chamada. Vergonha e pesar estavam claros em seus
olhos.

— Sinto muito.

Luka balançou a cabeça, apertando seu lado até que ela


olhou para ele. — Nós todos dizemos coisas que não queremos
quando estamos irritados. Próxima pergunta.

Ela balançou a cabeça, como se temesse fazer qualquer


outra pergunta e se a resposta da próxima questão fosse pior do
que a anterior. Deu-lhe um passe. Havia uma razão pela qual não
gostava de falar sobre o seu passado e por enquanto, ele disse o
suficiente.

— Qual é sua lembrança mais feliz? — Agora era sua vez


dele de fazer as perguntas e ele iria afugentar a melancolia que
brevemente os rodeou.

— Minha lembrança mais feliz? Eu não sei. Acho que tenho


algumas. Foi o dia que Mishca me levou para tomar sorvete
quando eu tinha seis anos ou quando encontrei uma tartaruga
em nosso quintal e a chamei de luz do sol. Em seguida, houve o
dia em que te conheci.

— Como isso poderia ter feito você feliz? — Isso realmente o


deixou perplexo. Pelo que lembrava, eles mal se falaram.

— Mas você não se lembra do seu rosto quando eu abri


a porta. Tenho certeza de que estava esperando Mish e
tinha um olhar estranho em seu rosto como se não
280

soubesse como agir, mas quando me viu você sorriu.


Página

Ele riu, com os olhos brilhando. — Porque não estava


esperando você.
Na verdade, ele se preparou para ver Mishca e o que isso
faria com ele. Nunca esperou encontrar Alex, por outro lado,
muito menos formar um vínculo com ela.

Corando, ela colocou o cabelo atrás da orelha. — Qual a sua


lembrança feliz? E não pode ser relacionado a mim.

— Mas e se você for a minha melhor?

— Não tente me encantar, Luka. Você já entrou na minha


calça.

Colocando as mãos sob a cabeça, ele procurou em sua


mente uma resposta à sua pergunta, porque a maioria das
lembranças que mantinha eram dolorosas. Antes de Alex, houve
muito derramamento de sangue, especialmente no Pit e depois...
não havia mais derramamento de sangue no ringue, mas de uma
pessoa diferente. Mas ainda…

— Eu tinha sete anos. — Disse ele, dizendo-lhe algo que


nunca disse a outra pessoa. — E a minha mãe era obcecada em
manter o meu cabelo do jeito que ela gostava. A maioria dos
meninos da escola tinham o cabelo curto, mas eu era o único lá
com o cabelo como uma menina. Fui provocado sobre isso
incessantemente e como era pequeno, não havia muito que
pudesse fazer a respeito. Um dia, simplesmente me enchi e disse
a ela que queria cortar tudo. No início, pude ver a tristeza em
seus olhos, mas no final ela concordou, mas se ela pudesse cortar
seu cabelo, também. — Ele balançou a cabeça enquanto pensava
naquele dia. — Ela me disse que algumas mulheres em seu
prédio fizeram observações que o cabelo dela não parecia
como o delas, então era pouco atraente. Fiquei com muita
raiva e tenho a certeza de que ela sabia que eu achava seu
281

cabelo lindo, que ela era bonita e não deveria deixar


nenhuma daquelas cadelas, não, eu não xingava de cadelas
Página

na sua frente fazê-la se sentir mal.

Luka chegou a tocar seu próprio cabelo. — Ela me


disse que se eu me sentia assim, então, por que não
acreditava nela quando me dizia que meu cabelo era bonito como
estava? Eu nunca reclamei novamente.

Ele olhou para cima quando o silêncio se estendeu entre


eles, querendo saber o que ela estava pensando, mas Alex estava
apenas olhando para ele com aqueles olhos arregalados.

— Não se atreva...

— Mas isso é tão doce, Luka. — E sua voz hesitou quando


ela sorriu trêmula.

— Isso não significa que deve chorar.

— Aposto que você era adorável quando criança.

— Eu parecia uma merda.

Ela balançou a cabeça. — Eu me recuso a acreditar nisso.


Então, onde está ela? Ela ainda está na Albânia?

Ele abriu a boca, pronto para dizer a ela, mas as palavras


morreram em sua língua. Ele facilmente podia falar do
assassinato dos outros, mas não podia falar do assassinato de
sua própria mãe. — Meu pai, Ahmeti... ele a matou.

Ele esperou por ela endurecer, para reagir à terrível verdade


que apenas disse a ela, mas além da leve contração de sua mão,
ela não mostrou outra reação física.

— Luka...

— Não se desculpe. Não foi você quem a tirou de mim.


—Seus dedos deslizaram livres por seu cabelo, que caia de
lado. — Era este o nome dela? — Ela perguntou em voz
282

baixa.
Página

Além da tatuagem, ao longo de suas costelas tinha o


nome dela em letras cursivas.

— Sim... o nome dela era Galina.


Lembrou-se da última coisa que ela disse a ele.

Mostre-lhe o verdadeiro você, mesmo se se o esconder de todo


mundo.

— Ela teria gostado de você. — Ele encontrou-se dizendo.

Alex ignorou. — Talvez não.

— Não, eu tenho certeza. Ela teria gostado de você, porque


você... — Ele se conteve antes que pudesse terminar essa
declaração, alterando-a no último segundo— Porque você me faz
feliz. E isso era tudo o que ela sempre quis para mim.

Ela não ignorou o deslize.

Ela teria gostado de você porque você me ama.

Estava lá, ele sabia. A emoção sufocante que sempre os


envolvia quando estavam juntos, mas ele não precisava saber o
que ela ainda precisava lhe dizer em voz alta. E não quando ele
não conseguia dizer as palavras para ela de volta.

Quando você amava alguém, podia contar seus segredos,


confiar com a verdade... mas ele ainda estava com muito medo de
realmente dar-lhe a oportunidade de aceitá-lo e ao seu passado.

Mas até os segredos serem demais, ele iria apreciar este


momento... por quanto tempo ela quisesse.

283
Página
Quando Alex acordou na manhã seguinte, ela se sentia
diferente, mas por razões que não sabia. Não que nada mudou
fisicamente, mas tendo ficado acordada a noite toda com Luka
falando sobre sua vida, ela sentia como se ela o conhecesse
melhor.

No entanto, notou que ele parecia hesitante ao redor dela.


Claro, ele falou sobre sua vida, mas apenas falou até quando
completou treze anos, em seguida, mudou-se para sua vida aqui
com a Bratva. Havia uma peça vital faltando e ela sabia que era
essencial para entender quem era Luka, principalmente por que
ele a guardava com tanta força, mas estava se abrindo mais e
quando estivesse pronto, iria dizer.

Tendo já acordado, Alex queria aproveitar o dia e fazer algo


apenas os dois, antes que ele tivesse outro trabalho e ela voltasse
a treinar. Luka estava de costas, um braço jogado sobre o rosto
para bloquear a luz do sol. Duvidava que ele estivesse ainda
dormindo. Sabia que ele mantinha uma rotina religiosa, até
mesmo quando se tratava de seus padrões de sono. Embora o
tempo que passava dormindo variava, nunca ia além de oito
horas. Sempre.

Ela cutucou seu lado, esperando que respondesse, mas


quando ele não se mexeu, ela cutucou mais forte. — Ei, Tigre.

Ele tentou fingir que ainda dormia, mas ela viu sua boca se
contorcer. — É muito cedo.

— Não podemos ficar na cama o dia todo. — Disse ela,


montando seu colo, na esperança de conseguir pelo menos,
outro tipo de reação dele. Mas ele simplesmente ignorou,
ainda fingindo estar dormindo.
284

Saindo de cima dele, ela olhou. — Luka... — Certo. Se


não queria responder, então ela tinha algo para ele.
Página

No tempo que a levou para descer a escada, encheu


um jarro com gelo e água e retornou, ele ainda não havia
se movido. Loki estava sentado em seu lugar habitual,
observando-os como se ele não tivesse coisas melhores para fazer.
Alex parou no final da cama, olhando para Luka, esperando que
olhasse para ela.

— Estou falando sério. O que você disse?

Ele resmungou algo que ela não entendeu, mas ainda não se
preocupou até mesmo em abrir os olhos e olhar para ela. Ele
merecia seu destino, Alex pensou quando levantou o jarro, mas
isso não significava que iria gostar.

Mordendo o lábio para abafar a risada, ela inclinou o jarro e


despejou o conteúdo nele. Rindo alto, ela saltou para trás
enquanto ele se ergueu, os olhos arregalados enquanto
empurrava a água dos fios molhados do cabelo loiro de seu rosto.
Ela riu ainda mais quando ele olhou para si mesmo como se
nunca tivesse visto água antes.

Aquele olhar de surpresa foi logo substituído e ela podia ver


a clara intenção em seus olhos quando ele saltou para agarrá-la,
fazendo-a dar um pulo para trás.

— Nós não temos que brigar com isso. — Ela disse entre
risadas, quase na porta. — Apenas queria sua atenção. Agora
podemos pular isso e chegar ao cerne da questão.

Mas isso não era, obviamente, algo que ele estava pronto
para fazer. Ele estendeu a mão para ela novamente, braços
incrivelmente longos quase agarrando seu tornozelo, mas ela foi
rápida, correndo para a sala antes que ele estivesse fora da cama.

Ao ouvi-lo tropeçar fora do quarto atrás dela só a fez rir


ainda mais enquanto corria pela casa tentando fugir. Mas
ele era mais rápido e mais determinado e antes que sequer
285

passasse pela sala de estar, ele tinha um braço em volta de


sua cintura, puxando-a contra ele.
Página

Alex gritou, batendo em suas costas pedindo para


colocá-la no chão, mas ele continuou se movendo,
percebeu então, quase tardiamente, de que ele
caminhava para a cozinha.

— Luka, vamos conversar sobre isso! — Não podia ver o que


ele fazia, mas conhecendo-o, não iria gostar, especialmente se ele
estivesse pensando em retaliação.

Finalmente, pareceu ver a razão quando ele a colocou no


chão. Alex respirou fundo, perto de olhar para ele quando ouviu o
barulho de água e o zumbido dele puxando a mangueira ao lado.

— Espere! — Ela jogou as mãos para cima e ele parou, seu


rosto se abrindo lentamente em um sorriso que, apesar das
circunstâncias, a fez devolvê-lo. — Nós podemos resolver isso sem
armas.

— De verdade? Explique isso para mim.

— Nós podemos...

Antes que ela pudesse terminar essa declaração, ele


pulverizou-a diretamente no rosto.

— Você estava dizendo? — Ele perguntou com um sorriso e


nenhum pouco envergonhado com o que fez.

— Luka...

Ele molhou-a novamente, rindo da tentativa de Alex de evitá-


lo. A água estava em toda parte, sobre os balcões e pisos,
encharcando a camiseta dele que ela estava vestindo.

— O que você estava dizendo? Não posso ouvi-la! É a


água, eu acho.

Ela estava rindo tanto que seus lados doíam e


286

finalmente, depois que Alex conseguiu tirar a mangueira de


suas mãos, a água parou. Ambos estavam completamente
Página

encharcados, pingando ainda mais água pelo chão. Mas


nem pareciam se importar muito com esse fato.
Alex achava nunca ter visto Luka tão despreocupado. O
sentimento que crescia dentro dela ao ver seu sorriso era
indescritível. Ela ficou na ponta dos pés, beijando-o suavemente,
sentindo seus lábios.

— Levar-me para sair por uma noite não vai te matar.

Suspirando, embora ele não parecesse nenhum pouco


irritado com a ideia, ele disse. — Provavelmente não. Então
vamos a algum lugar, só nós dois.

Um passo à frente, ela beijou o lado de sua mandíbula e


depois sorriu para ele. — Obrigada.

Em resposta, ele balançou o cabelo, jogando mais água. —


Você tem vinte minutos.

— Luka, eu nunca poderia ficar pronta em vinte minutos.

E ela estava certa sobre isso. Mesmo depois de deixá-lo na


cozinha para lidar com a bagunça que eles fizeram, ela ainda não
estava perto de pronta pelo tempo que ele voltou ao andar de
cima uma hora mais tarde.

— Puta merda, o que você está fazendo aqui? — Luka


resmungou quando entrou no banheiro, já completamente vestido
e pronto para sair.

Como no inferno ele se arrumou tão rápido?

Alex apenas conseguiu tomar banho e secar o cabelo,


encontrar um vestido e sapatos para usar e ela ainda estava
sentada na frente do espelho, um pincel de maquiagem na
mão enquanto se preparava para terminar a aplicação da
287

base que começou.


Página

Ela encontrou os olhos de Luka através do espelho. —


Eu disse que levaria um tempo.
— Poderíamos sair agora, sabe. — Ele apontou para sua
exibição de cosméticos. — Você não estivesse criando um novo
rosto.

Fazendo uma careta, ela se voltou para o que estava fazendo.


— Eu nunca ouvi você reclamar do meu novo rosto.

Ele arrancou o pincel de suas mãos, colocando-o de volta


com os outros, usando o banco em que estava sentada para
empurrá-la. Sem ter que perguntar o que fazia, ele estendeu a
mão para o lenço umedecido, puxando um pouco.

— Eu gosto quando você faz essa merda toda no seu rosto.


— Ele gentilmente esfregou o lenço ao longo de sua pele,
meticulosamente removendo todos os tons de cor que ela
acrescentou. — Mas gosto como você é natural. Calma, você pode
ser suave comigo, não vou tirar vantagem disso.

Ele puxou a presilha segurando o cabelo dela, tirando-a


também.

Seu cabelo caiu para frente sobre os ombros e os dedos


imediatamente vieram até colocá-lo atrás de uma das orelhas.

— Acho você linda, Alex. Bem assim.

Ela podia sentir o rubor em seu rosto e não pode impedir o


sorriso tímido que floresceu mesmo se quisesse. Nunca ninguém
lhe elogiou assim e mesmo que tivessem, não eram Luka. Ele
dizendo isso, deixava seus sentimentos por ele muito mais
intensos.

— Agora, podemos ir para que eu posso voltar a


dormir...
288

— Sim, vamos.
Página
O cabelo de Alex estava chicoteando atrás dela quando
aceleraram na estrada, as árvores e estrada eram apenas um
borrão quando Luka acelerou o motor.

— Para onde estamos indo? — Ela gritou para ser ouvida


sobre o vento.

Seus pés descalços estavam para cima no painel. Eles


estavam andando por um pouco mais de meia hora, e não
importava quantas vezes perguntasse, ele se recusava a
responder. Logo depois, entraram em um estacionamento de um
prédio sem sinal e ela ainda não respondeu.

Mas obviamente sabia onde eles estavam. Estacionando e


guardando as chaves, Luka saiu do carro e deu a volta para o
lado dela, abrindo a porta. Rindo do sorriso de menino em seu
rosto, ela calçou seus sapatos e aceitou sua mão quando ele a
ajudou a sair. Enquanto caminhavam lado a lado, Alex segurou a
mão de Luka, entrelaçando os dedos. Ela olhou para ele quando
sentiu seus olhos sobre ela, mas ele não se afastou, apenas
segurou mais apertado.

— Você se planejou para o encontro. — Alex disse


enquanto se aproximavam da cabine, uma vez que entrou,
percebeu que eles estavam em uma sala de cinema.
289

Mas não era como qualquer um que ela já foi. Este


Página

parecia já ter visto dias melhores, há uma década e


enquanto deveria ter olhado para a placa para ver o que
estava mesmo passando neste lugar, Luka comprou as
entradas e estava guiando-a por um longo corredor sinuoso.

Ele obviamente sabia para onde estava indo e como parecia


tão inflexível sobre isso, ela não perguntou onde a levava. Eles
chegaram a uma porta com um grande número de metal 6
pendurado acima dela. Luka andou no escuro habilmente,
levando-os em direção ao fundo da sala para a segunda última
fila de bancos. Ele sentou-se no centro, ela à sua direita.

Os trailers já estavam passando, aqueles que pareciam tão


antigos como o teatro.

— Então, o que veremos?

— Le Quai des Brumes.

— Porto de Sombras? — Ela perguntou, surpresa, olhando


para a tela reflexiva. — Eu amo esse filme.

Ele sorriu, olhando para ela. Claro, ele já sabia disso.

— Mas isso não é um pouco deprimente para um primeiro


encontro, Luka?

Porto de Sombras contava a história de um desertor militar,


Jean, que viajou para a cidade de Le Havre, onde conheceu e
finalmente, se apaixonou por uma garota chamada Nelly. Eles
teriam vivido felizes para sempre uma vez que seus inimigos
estavam mortos, mas nos últimos minutos do filme, Jean foi
baleado e morreu nos braços de Nelly.

O filme era muito bem feito e Alex chorou em mais de


uma ocasião, após vê-lo.
290

— É? — Perguntou ele, sem olhar para ela.

As luzes se apagaram, a tela ficou escura antes do


Página

quadro mudar e o filme começar.

Quando os créditos de abertura começaram, Luka


levantou o apoio de braços entre eles, estendendo-se
ainda mais. Por um tempo, quando o filme
continuou, ela pensou que ele fez isso para ficar mais confortável,
mas aa surpreendeu ao estender sua mão, tocando sua coxa, as
veias e tendões em seu braço apareceram ainda mais quando ele
a apertou. Alex olhou para ele, um sorriso nos lábios, mas sua
expressão nunca hesitou.

Com pouca força, ele deu a perna um leve puxão, não tão
largo por estar sentado, mas o suficiente para que quando seus
dedos começaram a se mover sobre sua perna, causaram
arrepios, ele pode deslizar por baixo do vestido e na parte interna
da coxa sem impedimentos.

Ela levantou a mão, com a intenção de agarrar seu pulso e


forçar a mão onde ela queria, mas ele falou, sua voz clara,
embora alto o suficiente para ela ouvir.

— Mãos para baixo.

Ele não tinha sequer olhado para ela quando emitiu esse
comando e ela não pode deixar de apertar suas coxas juntas ao
ouvir o timbre rouco em sua voz. Ele tomou seu tempo, fazendo-a
esperar pelo que planejou. Ele não sabia que ela não usava
calcinha, não quando ela sabia que isso acabaria acontecendo
entre eles, mas não esperava que fosse ali de todos os lugares.

Agora, ela era a única que queria vê-lo, ver sua reação ao
que pensou que seria uma surpresa. Quando seus dedos roçaram
contra ela, apenas o mais leve dos toques, seus lábios se
curvaram em um sorriso por apenas um momento e ela observou-
os se mover, o porra, quase inaudível com o volume do filme.

Luka tocou-a cuidadosamente, seu polegar deslizando


sobre lugares delicados que a fez estremecer toda e quando
ela se contorceu, ofegou de repente quando ele empurrou
291

dois dedos dentro dela. Ele não a tocou em qualquer outro


lugar, apenas o impulso lento e firme de seus dedos, mas
Página

era como se ela pudesse senti-lo em todos os lugares.

Seus olhos se fecharam quando sua cabeça caiu


para trás contra o assento. Ela não deveria estar tão
perto quanto estava, não quando ele mal a tocou, mas era como
se ele estivesse tentando persuadir o orgasmo fora dela e sabia
exatamente o que acaba de acertar. Como se pudesse sentir o
gozo iminente, ele finalmente se virou em sua direção.

Ela abriu os olhos, encontrando seu olhar e a fome que ela


viu ali, a fez apertar seus dedos. Pressionando mais fundo, ele
segurou-os lá, passando os dedos para cima e sobre um ponto
que nenhum outro homem tocou.

E ela gozou.

Segurando sua nuca, ele arrastou-a através do assento,


esmagando os lábios contra os seus, quando um gemido saiu
dela. Eles tinham sorte que os fogos de artifício que soltaram na
tela eram mais altos, sendo o suficiente para não serem ouvidos.
Os dedos pararam lentamente, trazendo-a suavemente de volta e
finalmente conseguiu abrir os olhos, olhando em seus profundos
olhos azuis e se perdendo ali por um momento.

Com o olhar que ele estava dando a ela, Alex não achava que
teria uma noite de sono.

292
Página
TRINTA E UM

Ensine-me

Luka jogou a mochila por cima do ombro enquanto


gesticulava inclinando a cabeça para que ela o seguisse dentro do
prédio. Se havia uma coisa que estava aprendendo sobre ele, era
que gostava de suas surpresas. Subiram quase voando pelos
lances de escadas, andaram por um curto corredor e ela não
precisava de confirmação para saber onde estavam. Ela
praticamente podia sentir o cheiro da cera nos pisos, utilizadas
para mantê-los polidos e suaves. Não importava a academia, esse
cheiro nunca era diferente.

Ele não lhe deu nenhuma indicação do local onde a estava


levando, apenas disse para se levantar e se vestir. Sua única
especificação era que usasse moletom. Agora eles estavam ali.
Puxando uma chave do bolso, abriu a porta, parou de frente,
mantendo-a aberta para que pudesse entrar. Seus olhos
observaram o cômodo todo, desde as grandes janelas de um
lado de uma parede espelhada até o outro onde uma barra
estava presa na parede. Do outro lado da sala, um piano
293

elegante preto foi colocado, longe de onde qualquer


dançarino precisaria praticar, mas perto o suficiente para
Página

que a música ecoasse.

— Você alugou esse lugar? — Alex perguntou com


espanto, voltando-se para encará-lo, seu coração
inflando por esse pensamento. Será que ela realmente
precisava de um lembrete de quão incrível ele era?

— Sua audição está chegando, certo? Precisa praticar, agora


não tem desculpa. Nas próximas seis semanas, este lugar é seu.
Mas eu só tenho algumas horas antes que tenha que ir. Então...
— Ele bateu as mãos, dirigindo-se para o piano... —Vamos
começar.

— Como, agora? — Perguntou ela.

— Não há tempo como o presente.

— Luka...

Ele olhou com expectativa, acenando quando parou de falar.


— Você não pode ser tímida. Faz isso para viver.

— Mas nunca dancei na sua frente.

— Há uma primeira vez para tudo. Agora, pare de enrolar e


vamos começar.

Decidindo que ela não seria capaz de falar com ele sobre
isso, Alex retirou seu casaco, vasculhando sua mochila, pegando
as polainas e sapatilhas de ponta. Ela se esticou, saboreando o
aperto familiar de seus músculos.

Conforme passou pelos movimentos, ela esqueceu que Luka


estava lá, tomando seu tempo enquanto preparava suas
sapatilhas de ponta, um rigoroso processo que começou com ela
arrancando o revestimento e acabamento, colocando novas
fitas nos lados dos sapatos. Puxando-as, um sorriso
floresceu e assim como elas sempre fizeram antes que as
tirasse. Elas enchiam-na de um sentimento de realização
294

diferente de qualquer outra coisa no mundo.


Página

Para cima e para baixo, ela foi equilibrando-se,


voltando ao ritmo das coisas. Cuidadosamente, levantou a
perna para o ar, utilizando a parede espelhada para
equilibrar-se. Não foi fácil, passaram-se anos desde que
fez isso, mas depois de um curto período de tempo,
estava finalmente plana contra o espelho e sentiu uma onda de
triunfo.

Luka limpou a garganta, falando do seu lado da sala.

— Você poderia ter segurado em mim.

Ela sorriu, mas ignorou-o, terminando de se aquecer.

De volta em seus pensamentos, ela ouviu as contagens


familiares de seus instrutores de muito tempo, atravessando os
movimentos que ela estaria fazendo se estivesse de volta na
prática em uma companhia. Mas a cada passo em falso e tropeço,
ela ficava um pouco desanimada. Tentou não demonstrar isso
ainda se movendo o melhor que pode, mas os passos não estavam
fluindo tão facilmente como esperava e agora estava se
perguntando, se as seis semanas que ela tinha para se preparar
antes da audição começar, seriam suficientes.

— Tudo bem, você está enlouquecendo achando que não irá


funcionar. Concentre-se.

Alex riu sem humor, empurrando seu cabelo para trás de


seu rosto enquanto sua frustração estava crescendo. Em um
ponto, ela poderia ter concluído esses giros dormindo, mas agora
estava lutando para até mesmo fazê-lo sem cair.

— Isso não está ajudando, Luka.

— Acalme-se.

— Luka!

— De verdade. — Ele disse ficando de pé, caminhando


295

até sua mochila e remexendo dentro, puxou seu telefone.


Seus dedos voaram sobre a tela e antes que ela percebesse,
Página

música suave estava tocando, mas muito diferente da


música clássica que ele estava tocando antes.

— Devo perguntar como você sabe a minha senha?


— Ela perguntou seca, juntando-se ao piano.
Sem olhar para cima, ele explicou, — Você mudou, na
verdade. Era o aniversário do seu irmão antes, agora é 1122. —
Seu sorriso era lento e fácil. — Não sabia que eu significava tanto
para você.

Engolindo, Alex de repente ficou feliz que ele não estivesse


olhando para ela. — O que você acha que essa data significa
sobre você?

Agora ele olhou para ela com a convicção de um homem feito


para ser levado a sério. — Nunca foi uma questão de saber se eu
me importava com você, Alex. Eu sempre o fiz. A questão era se
eu queria ou não me arriscar perseguindo você.

— E agora? Ainda vale a pena o risco, depois de... tudo?

— Agora mais do que nunca.

Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha quando se


virou. Era provavelmente, além de óbvio, o que essa simples
declaração significava e não tinha necessidade de expressar para
que ele soubesse.

Limpando a garganta, mudou de assunto. — Por que essa


música?

— Você a toca mais. — Disse colocando o telefone sobre o


piano, girando no banco para que ele pudesse enfrentar melhor a
ela, os cotovelos sobre os joelhos. — O objetivo não é você se
transformar em um pião hoje, mas sim começar a sentir seu
gosto de volta. Como eu disse, não há ninguém aqui, apenas
você e eu. Aja assim.

Mas, apesar do conselho, ela estava tentando segui-lo,


296

uma vez que entrou nesta sala ainda não se sentia como
ela. Mais importante, sentia-se como se estivesse forçando
Página

cada movimento que fazia e enquanto não estava cem por


cento positiva, o seu reflexo, os poucos vislumbres que ela
pegou, confirmou isso.
— Será que você... pode dançar comigo?

Não houve hesitação.

Ele ofereceu sua mão, com a palma para cima e quando ela
o pegou, ele a puxou para dentro, girando-a com cuidado e
quando ficou de costas em seu peito, Luka começou a movê-los
ao redor da sala. Mesmo quando ela se moveu para as pontas de
seus dedos do pé, ela mal atingiu seu queixo e com esta vantagem
de altura, era mais fácil ficar acima, deixando-o levar quando se
inclinava.

Mas ela logo percebeu que Luka não estava realmente


dançando, mas apenas movendo-os de um lado para outro, às
vezes girando-a como fez antes. Sem realmente tentar, ele estava
deixando-a usá-lo como uma distração de suas dúvidas e
enquanto apenas estava se divertindo com ele, foi finalmente
fazendo o que não conseguiu antes.

Ela podia sentir o rubor nas faces, o calor ficando ainda


mais quente, quando notou que ele não conseguia tirar os olhos
dela. — O que?

— Você é linda.

Ela colocou uma mecha de cabelo solto atrás da orelha,


olhando para longe dele, mas gentilmente virou o rosto para trás,
forçando-a a olhar para ele.

— Obrigada.

— Eu quero dizer isso. — Como estava propenso a


fazer atualmente, ele a puxou para mais perto pela nuca,
beijando-a na testa.
297

Alex não se sentia pequena quando ele fazia isso, não


Página

mais. Sentia-se valorizada e importante.

— Mesmo que depois de uns anos seus pés fiquem


feios e cheios de calos, você ainda será bonita para mim.
Rindo, ela o empurrou. — Você é um idiota.

Ele recuperou seu assento, esticando as pernas para cruzá-


las na altura dos tornozelos. — Apenas termine seu treino.

298
Página
TRINTA E DOIS

Permissão

— Luka, acho que o seu cão é um pouco pervertido. — Disse


Alex, com uma risada, sentindo-o sorrir contra a curva do seu
pescoço enquanto ambos ouviam Loki ofegante. Se ele não tivesse
sido treinado muito bem, Alex se preocuparia que poderia ter
saltado sobre a cama com eles e nada era mais complicado do
que ter um cão lambendo-a enquanto ela estava sentada em
Luka.

— É eu percebi isso.

Enganchando um braço em volta da cintura dela, ele rolou-


os, levantando e caminhando para a porta, colocando Loki para
fora antes de fechá-la completamente. Ele agarrou seu tornozelo,
puxando-a para o final da cama antes de se colocar entre as
pernas, a cabeça apoiada em seu estomago, seu cabelo
fazendo cócegas em sua pele.

Ela brincava com suas extremidades, observando as


ondas douradas escorregarem entre os dedos, usando as
299

pontas dos dedos para massagear o couro cabeludo. Ele


Página

relaxou sob o toque dela por um tempo, pelo menos até que
ela foi para a parte de trás de sua cabeça. A mão na
cintura dela ficou tensa, soltando lentamente quando ela
parou.
Ela não sabia o que causou a reação. Pelo que podia sentir,
não havia cicatrizes lá, mas como outras coisas com ele, talvez
fosse psicológico. Desde que ele a levou para o estúdio que
alugou, ela dava giros uma e outra vez, ficando mais confortável a
cada hora que passava lá dentro. Não estava nem perto de onde
precisava estar para a audição, mas estava indo bem.

E era tudo graças a Luka.

Ele não a curou completamente. Não estava totalmente


remendada apenas porque agora ele estava profundamente
envolvido em sua vida, mas a ajudava a lembrar que era alguém.
Agora estava lembrando o que realmente gostaria para ser feliz.

Luka se inclinou para o lado da cama, a tela de seu telefone


se iluminando quando ele pressionou um botão. Ele mal olhou
para ela quando disse. — Tenho um trabalho.

Alex franziu a testa, vendo como ele se vestia.

— É meia-noite. — Mas, mesmo que dissesse isso, sabia que


não queria dizer nada. Ele poderia ser chamado às três da manhã
e ele teria que aparecer.

300

Engolindo uma golfada de nicotina, Luka se estendeu


no banco do motorista de seu Wrangler, correntes de
Página

fumaça saindo pela janela para o ar da noite quando


exalou. Isto passou despercebido pelo homem a poucos
quarteirões de distância, estacionando sua Harley. Não,
ele estava muito ocupado com a mulher que estava quase caindo
da moto, por estar visivelmente embriagada.

Luka seguiu por um pouco mais de uma hora, perseguindo


sua presa despercebida como foi treinado a fazer. Estava ansioso
para começar com isso, mas sabia que a paciência era a chave.
Ele fez uma promessa a Snow e não queria arruiná-la, agindo
irracionalmente.

Snow pode ter esquecido essa ameaça e seguido em frente,


considerando a garota que ele estava levando de volta para o seu
clube, mas Luka nunca esqueceu. Ele não se importava que Alex
estivesse finalmente curada, que a última coisa em sua mente era
Snow... não, ele queria fazê-lo pagar, não pelas drogas, mas pelo
o que ele fez enquanto ela estava fora de si para consentir.

E com as mudanças dentro da Bratva, ele não podia


simplesmente ir e atirar em seu rosto. Os Angel provavelmente
buscariam retaliação. Luka pensou em contar a Mishca a verdade
sobre por que ele agiu por conta própria, no dia que foi fazer a
coleta, mas não precisava dele apontando sua frustração para
Alex, o que teria apenas piorado a situação.

Então ele fez o melhor que poderia.

301

— Que porra você quer? — Perguntou Klaus, quando


Página

puxou sua camisa, indo para uma toalha no chão ao lado


dele.

Klaus era uma das últimas pessoas que Luka


queria procurar voluntariamente, mas estava em uma
situação delicada que apenas ele poderia ajudar e enquanto não
poderiam ter sido mais amigáveis um com o outro, isso poderia
ser algo que ele estava disposto a ajudar.

— Preciso de um favor. — Luka sabia exatamente como isso


soou tão logo as palavras saíram de sua boca, especialmente com
a forma como Klaus agora estava olhando para ele, mas não
podia recuar agora. E mesmo se pudesse, não o faria.

E para não mencionar a maneira que Klaus agiu na festa de


Natal há algumas semanas.

— Você não está em condições de me pedir nada, Ahmeti.

Luka visivelmente se encolheu com o nome. Anos se


passaram desde que ele foi chamado assim e mesmo durante
aqueles dias, ele ainda era chamado pelo primeiro nome. Ahmeti
foi seu pai, o bastardo cruel que tomou tudo dele. Se havia uma
coisa que odiava, era a lembrança de que ele era um produto de
seu pai.

Klaus se virou, indo para o lado de seu carro enquanto se


limpava com a toalha, secando as gotas de água que
permaneceram. Enquanto se movia, Luka deu uma boa olhada
nas irregulares cicatrizes, proeminentes que cobriam suas costas,
um lembrete a respeito de porque se aproximar de Klaus era uma
aposta. Havia dias em que eles tinham uma compreensão mútua,
mas outros dias, muito parecidos com este, Luka era apenas mais
um lembrete sobre o que trouxe Klaus a esta limitação. Ao
contrário de Luka que cobriu suas marcas com tatuagens
até o ponto de não poder vê-las, somente senti-las se as
tocasse, Klaus usava as suas para todo mundo ver.

— Não é sobre mim. — Luka disse cuidadosamente.


302

Olhando para trás, Klaus balançou a cabeça. — Alex,


Página

então? O russo não lhe disse para ficar longe dela?

Ignorando sua pergunta, Luka perguntou. — Você


vai ajudar ou não?
Jogando a toalha para baixo, Klaus se inclinou contra seu
carro, concentrando a intensidade de seu olhar sobre ele.

— O que posso fazer?

— Em cerca de uma hora, há uma reunião agendada com o


Angel MC. Eu preciso de você lá.

— Para fingir ser o russo? — Um sorriso repentino floresceu


em seus lábios. — Isso deve ser divertido, mas deixe essa merda
aqui. — Ele disse, com um gesto para o jipe de Luka. — Nós
iremos no meu carro.

Luka momentaneamente piscou surpreso, não esperava


realmente que Klaus concordasse. Foi um desejo de sua parte,
porque, pela primeira vez, ele pensou antes de agir. De qualquer
maneira, Snow iria morrer. Não mudaria isso.

Klaus se dirigiu para seu quarto de motel e trocou suas


roupas. Ao contrário de seu gêmeo que tinha um armário cheio de
ternos, Klaus usava jeans e uma camisa preta simples, mas ainda
conseguia parecer bem. A viagem para a reunião foi satisfatória e
no momento em que chegaram ao seu destino, Luka estava um
pouco impaciente.

— Qualquer coisa que eu deva saber?

— O que você quer é Snow.

Balançando a cabeça, Klaus olhou para os homens que


estavam esperando por eles. — E antes de condenar à sua
bunda, me diga. Que porra é que ele fez com você?

— Como eu disse, não tem nada a ver comigo. Alex ...


303

— Ele voltou a pensar na noite em que a encontrou, a forma


em que seus olhos estavam vidrados e ela mal podia
Página

sentar-se ... não, isso nunca foi sobre ele.

Uma vez, ele disse a ela que iria mantê-la segura, não
importava o que. E isso foi antes... do que eles tinham
agora. Ele fez essa promessa porque se preocupava
com ela. Havia alguns homens que teriam pensado que fizeram
seu trabalho por apenas tirá-la dessa situação, mas Luka... Luka
tinha que ter certeza de que a situação nunca aconteceria
novamente.

Luka disse a Klaus uma versão muito condensada dos


eventos que tiveram lugar naquela noite, em seguida, disse-lhe o
que ele fez depois, mas nada mais do que a primeira noite em que
manteve Alex em sua casa.

Klaus era melhor em esconder suas reações do que Luka,


mas houve uma compreensão mútua entre eles naquele
momento. Pode não ter estado tão perto de Alex como o resto
deles... mas se importava.

Luka foi o primeiro a sair do carro, em seguida, Klaus,


ambos atravessando o estacionamento para parar alguns metros
longe dos motociclistas.

O presidente não perdeu tempo. — Qual a razão pela qual


pediu essa reunião, Volkov? E trouxe esse filho da puta...

Ele poderia ter sido corajoso o suficiente para dizer a Mishca


à verdade sobre o porquê de Luka quase matar alguns deles
naquela noite, mas mencionou que houve um problema.

— Porque nós temos um problema.

Era desconcertante como Klaus podia imitar Mishca e a


qualquer outra pessoa genuinamente. E se Luka não conhecesse
os dois, assim como conhecia, poderia não pegar as sutis
diferenças. No entanto, isso estava trabalhando em seu
favor esta noite.
304

— A reunião de rotina, mas foi ruim neste momento.


Por que?
Página

O Prez não parecia tão seguro de si mesmo, agora que


não era Luka a interrogá-lo. Mesmo Luka estava curioso
para saber como iria convencê-lo. Puxando a arma no
cós da calça jeans com uma facilidade ridícula, Klaus
apontou para a testa de Luka, sem tirar os olhos dos
motociclistas.

— Eu não tolero o desrespeito de qualquer tipo, por favor, se


suas ações forem injustificadas, colocarei uma bala em seu crânio
agora.

Desde que nada disso foi ensaiado, Luka realmente olhou


para Klaus, tentando avaliar o quão sério ele estava. Sabendo
sobre Klaus, ele iria matá-lo apenas por diversão.

— Mas sei que se você mentir para mim e acredite, saberei


se estiver, destruirei sua organização membro por membro. Você
entende?

O Prez engoliu em seco, seus outros homens olhando para


ele, mas não afastou os olhos de Klaus. — Um dos nossos rapazes
estava brincando com uma garota, mas ele não sabia que ela era
sua irmã. Ela não disse seu nome.

Klaus baixou o braço para o lado dele, olhando


impressionado. — Não? Então por que seu homem Snow se gabou
a três malditos idiotas, que ele fodeu uma cadela russa em troca
de comprimidos?

Como Klaus poderia explodir com este local, Luka não sabia,
mas estava contente, porra.

Klaus não deu ao homem uma chance de responder. — Não


dou a mínima se ele enfiou o pau em cada mulher que andou na
terra, mas dou a mínima quando é a minha família. E
definitivamente dou uma merda quando ela não concordou
com isso.
305

O Prez percebeu o perigo que corria, deslocando em


seus pés quando tentou pesar suas opções, mas sabia que
Página

só havia uma maneira de sair dessa sem ter uma guerra


em suas mãos. — O que você quer?

— Snow.
Ele poderia ter declarado guerra, tentado proteger a si
próprio, como teriam feito se as posições se invertessem, mas não
estava preparado, nenhum pouco, para o que o Bratva era capaz,
mesmo que não soubesse que ele estava apenas indo contra um
em particular. Se tivesse uma escolha entre todos morrerem e
entregar um dos seus próprios a um sociopata... a escolha seria
óbvia.

— 36th com a Lex, ele estará encontrando um contato


amanhã. — O Prez disse relutante, olhando para Luka como se
ele soubesse que, assim que ele se fosse, Snow estaria morto.

Ele estava certo.

— Foi um prazer fazer negócio com você, senhores.

Klaus e Luka voltaram para seu carro, mantendo os


motociclistas à vista, até que saíram do lugar. Enquanto dirigiam
de volta à casa de Klaus, Luka deixou sua mente vagar, como o
que ele planejava fazer com Snow quando o encontrasse, entreter-
se com imagens de sangue e caos. Não era culpa dele realmente.
Ninguém poderia saber que quando Luka fosse aquele lugar ele
encontraria alguém como Alex. Alguém inocente.

Luka não era uma boa pessoa. Ele estava na linha da morte
fazendo o que fazia todos os dias, especialmente para as pessoas
que ele trabalhava, mas Alex não deveria ter que sofrer a feiura
que este mundo tinha para oferecer. E depois do que Snow fez...

Ele iria feri-lo.

— Você irá atrás dele hoje à noite? — Perguntou Klaus,


quando parou ao lado de seu jipe.
306

— Você já sabe a resposta para isso.


Página

Klaus bateu o polegar contra o volante quando ele


desligou o motor. — Está pensando em contar ao russo?
Não, nunca iria contar essa história. Se Alex quisesse que
ele soubesse, então teria que ela mesma contar.

— Você sabe a resposta para isso, também.

Klaus assentiu, coçando a cabeça enquanto descia. — Faça-


o sangrar.

Olhando para o relógio iluminado no painel, Luka jogou o


cigarro pela janela. Já era tempo.

Cuidadosamente saindo, ele deixou a porta entreaberta


quando foi atrás do homem que merecia tudo o que estava
prestes a fazer. A garota o viu primeiro, mas ela estava muito
chapada para dar a Snow um aviso.

— À sua esquerda.

Snow, previsivelmente, olhou para a esquerda, quando Luka


virou na direção oposta, dando um soco sólido no rosto do
homem, o que fez cair, mas não o nocauteou. Dando um
passo para trás quando o motociclista se endireitou, Luka
tentou não apreciar o olhar de choque e indignação que
atravessou seu rosto quando percebeu que estava
307

sangrando. Luka não lhe deu uma chance para revidar,


quando deu outro soco, depois outro até que, finalmente,
Página

Snow estava inconsciente no chão.

Ele fez um rápido trabalho de amarrá-lo,


certificando-se que quando acordasse, não fosse capaz
de se libertar. Grunhindo, ele ergueu o homem para
cima, arrastando seu corpo para seu jipe nas proximidades,
deixando cair o corpo no assoalho do banco de trás e jogando a
manta de lã sobre ele. Com um último olhar ao redor, Luka saiu,
levando-os a um lugar onde ele sabia onde teriam mais
privacidade.

Os quartos molhados, apropriadamente chamados pelas


ferrugens, tubulações de escape que cobriam o teto de seu
edifício, era um dos inúmeros lugares que a Bratva Volkov usava
para coagir respostas fora das pobres almas, obrigados a suportar
horas lá. Atualmente, estava desocupado e desde que Luka
majoritariamente utilizava esta sala e em ocasião rara, Mishca,
ele sabia que teria uma quantidade ilimitada de tempo para se
certificar que Snow compreendesse a gravidade do seu erro.

Felizmente, havia uma garagem anexa ao lugar, assim entrar


com Snow não foi um problema.

Depois de ter passado a maior parte do dia com Alex, ele não
teve tempo para definir as coisas do jeito que queria e agora
precisava tomar um pouco de tempo extra para mover as coisas
ao redor antes que seu novo amigo acordasse.

Luka arrastou-o para uma das correntes e ganchos que


pendiam do teto, fixando suas novas restrições, mas deixando a
venda no lugar quando puxou uma cadeira na frente dele e
sentou-se. Por um tempo, Luka apenas sentou e o assistiu,
quando ele gemeu quando recuperou a consciência e o silêncio
uma vez que percebeu a situação em que estava. A princípio, não
tentou lutar e se libertar, mas parecia tentar perceber se
Luka estava na sala com ele ou não. Não era como se
houvesse algum segredo a respeito de quem o levou.
308

O único som na sala era a respiração pesada de Snow,


em seguida, os sapatos de Luka enquanto ajustava sua
Página

posição na cadeira, enganchando o pé sobre o joelho


quando se sentou de volta. Snow congelou e embora
tentasse parecer calmo, Luka podia sentir o medo nele.
Levou um momento, ambos em silêncio, até que as lutas
de Snow ficaram de cuidadosamente sutis ao
desespero total.

Luka fechou os olhos por um momento, deixando tudo se


afundar, preparando-se para o trabalho que estava prestes a
fazer. Ele rolou a cabeça em seus ombros, esticando os braços
para fora na frente dele, sentindo os músculos puxarem
brevemente antes de relaxar. Já era tempo.

De pé, tudo o mais se afastou dele enquanto estendeu a mão


para o saco na cabeça de Snow, arrancando-o em um movimento
rápido. A cabeça de Snow sacudiu de volta, não por causa da
força com a qual Luka removeu, mas pelo que ele viu no olhar de
Luka.

Luka viu esse olhar em diferentes graus ao longo dos anos,


principalmente quando estava contra alguém no Pit. Havia
arrogância, sim, mas o medo também.

— Você não pode simplesmente me matar. — Snow disse


indignado. — Meu pessoal...

— Essa é a coisa. — Luka o interrompeu, um sorriso nos


lábios. — Eu não dou à mínima. Então, agora que temos isso fora
do caminho, vamos começar.

Luka levou a lâmina do bolso, correndo a ponta de seu dedo


ao longo da borda da mesma, ouvindo grunhidos de Snow e o
ranger das pernas da cadeira enquanto ele lutava.

— Eu nem sempre fui assim. — Luka disse conversando,


voltando para o lado de Snow. — Claro, nunca dei muita
atenção ao que eu queria ser quando crescesse, mas isto?
Definitivamente não era isso. Minha mãe era uma
cozinheira, ou melhor, ela apenas gostava de cozinhar. Eu
309

aprendi, porque percebi que iria pelo menos fazer uma


coisa que a deixasse orgulhosa. Foda saber que está
Página

rolando sobre sua sepultura agora. Eu sempre fui curioso


sobre isso, sabe? Por que você tem que rolar? Não pode
apenas ficar de lado? Constantemente rolar naquele
pequeno caixão soa cansativo.
Os olhos de Snow estavam arregalados quando caíram sobre
o rosto de Luka e ele tinha uma boa ideia do que estava
pensando. Embora não pudesse ter certeza por que, tudo o que
estava dizendo fazia sentido.

— Mas isso é além do ponto. Não estamos aqui para falar de


mim. — Ele bateu a lâmina contra o peito de Snow. — Vamos
conversar sobre você. Quantas mulheres você forçou a transar
com você em troca de drogas? Aqui, deixe-me dar-lhe um pouco
de motivação. Se sua resposta for entre um e dois, então isso
acaba. Nada mais do que isso e usarei a lâmina e cortar a porra
do seu pau fora, entendeu?

— Foi apenas uma, homem. Apenas uma.

Luka suspirou, um sorriso se espalhando em seu rosto,


Snow, previsivelmente, tomou isso como um bom sinal.

— Então, apenas Alex?

Snow concordou.

Luka girou a faca na mão, observando o brilho da luz na


prata antes de mergulhar a lâmina para o lado de Snow, seu grito
de dor como música para os ouvidos de Luka.

— Você disse que iria acabar com essa merda!

— Eu fiz, mas eu não disse que eu iria acabar com isso


agora. — Luka segurou o rosto de Snow. — Ela sofreu de uma
forma que eu gostaria de não lembrar. Sentei-me em um
quarto com ela por três dias enquanto se recuperava de
qualquer droga que você deu a ela e em seguida, vi como ela
suava tudo fora de seu sistema. Observei-a rompendo, uma
310

e outra vez, impotente e Snow, eu odeio ser a porra de um


impotente. Infelizmente, não posso mantê-lo aqui por três
Página

dias como eu queria. Mas, as próximas três horas, farei


você sentir uma fração do que ela sentiu durante esses
três dias. Você entende certo? Isto é apenas um negócio.
— Que porra, porque se preocupa com aquela cadela
estúpida? — Ele gritou de volta para ele, um grito desesperado de
um homem desesperado.

Luka o empurrou. — Porque ela é minha. E eu sou um


pouco protetor com o que é meu. Porra.

Caminhando até os alto-falantes que foram colocados em um


canto da sala, ele ligou o iPod, rindo quando Snow começou a
gritar desesperado. Mesmo se alguém o ouvisse ninguém iria
denunciá-lo. Não neste bairro e especialmente não porque vinha
deste edifício. Quando encontrou uma música que gostava,
colocou-a em repetição, em seguida, virou-se para Snow.

Ele vai gostar disso, muito mais do que deveria.

O primeiro corte ao longo da pele do homem enviou euforia


através dele. Ele teve o cuidado, certificando-se de apenas infligir
a quantidade necessária de dor, não querendo exagerar muito,
mas um minuto ele estava lá, fazendo o que precisava ser feito e
no próximo, estava esculpindo nas costas do homem com uma
lâmina aquecida. Isso era o que ele sabia, a única coisa em que
era realmente bom. Luka não e sentia particularmente orgulhoso
deste fato, mas era bom em distribuir este tipo de retribuição.

Ele não sabia quanto tempo ficou lá, tirando carne do


homem. Snow já havia desmaiado por causa da dor, antes que as
portas de aço, na parte de trás da sala, se abrissem e eles já não
estavam sozinhos.

— Algumas coisas nunca mudam.

Aquela voz.
311

Luka segurou a lâmina na mão, girando lentamente.


Tentou limpar o sangue do rosto com o antebraço, mas só
Página

conseguiu manchá-lo ainda mais.

O homem, de pé na parte de trás do armazém, com o


mesmo sorriso maníaco que Luka muitas vezes usava,
pisou em um feixe de luz, a cor gritante fazendo a
magreza de seu rosto se destacar mais.

Por um momento, ele apenas olhou, deixando a realidade


afundar nele.

— Olá novamente, Valon.

312
Página
PARTE TRÊS

Meus demônios,
Apesar de serem calmos,
Nunca são completamente silenciados.

Calmos como eles podem ser,


Eles esperam pacientemente
Por uma razão para acordar,
Toma uma respiração atrasada,
E rasteja de volta ao meu ouvido.
313
Página

Autor desconhecido
TRINTA E TRÊS

Demônios do passado

Tempo deformando coisas. Recordações. Aparências. Mas


tão facilmente como as coisas pareciam diferentes, tudo, até
mesmo o mais insignificante dos detalhes, volta correndo como se
nunca tivesse ido embora.

Embora parecesse um pouco mais velho, Fatos ainda estava


como Luka se lembrava. Um homem duro, porém, ainda
conseguia ver traços do menino que um dia ele conheceu. Ele era
alguns centímetros mais baixo do que Luka, um metro e noventa
e três com o cabelo castanho escuro, que era cuidadosamente
cortado. E seus olhos... eram tão escuros como o buraco em seu
peito. Ao contrário de Luka, que ganhou pelo menos mais nove
quilos de músculos desde a última vez que o viu, Fatos era
magro. Quase muito fino. Olhando para ele agora, era difícil
racionalizar que esta era a mesma pessoa que foi seu
melhor amigo em toda a escola primária, apenas para se
transformar em um rival quando Luka mais precisou dele.
Mesmo agora, os dois lados dele estavam sempre presentes.
314

Contido e agradável do lado de fora, mas por trás desse


sorriso calmo havia um monstro que gostava de sair e
Página

jogar. Por um momento, Luka pensou em como Klaus


sempre olhou para ele e os pensamentos que ele teria com
sua visão.
Agora, enquanto estava a alguns metros de distância de seu
antigo amigo, Luka apenas podia se lembrar de como ele ficou tão
feliz em ferir aqueles que não fizeram nada para merecer. Mas
Luka não fez isso?

Ele trabalhou sob seus próprios princípios, e agora que


Fatos estava ali admirando sua obra, Luka sabia como deveria
parecer. Não importava que soubesse que Snow mereceu cada
corte de sua lâmina. Para Fatos, isso apenas parecia que ele e
Luka eram a mesma coisa.

— O que você está fazendo aqui, Fatos? — Luka perguntou


quando limpou as mãos na frente de seu jeans.

Olhando para trás, para Snow, que estava sentado caído


para frente na cadeira, era muito mais fácil ver que a sua volta foi
cortada em tiras. Mesmo que Luka pensasse na ideia de deixá-lo
vivo, como um lembrete do que sofreu, s não havia nenhuma
maneira de deixá-lo ir agora, não com Fatos por perto. Sua
verdadeira identidade era um dos seus segredos mais bem
guardados e ele não ia arriscar-se com qualquer um. Já era o
suficiente que Klaus soubesse e embora nunca pendurou isso
sobre a sua cabeça, a ameaça estava sempre lá.

E o que o mercenário faria agora com Fatos na cidade? Luka


ouvia o relógio, sabendo que era apenas uma questão de tempo
antes de tudo o que ele construiu para si mesmo desabasse. Se
Klaus estava monitorando a Organização, como Luka pensava,
em breve descobriria que Fatos era americano.

E Luka não avisou? Parecia muito tempo desde que


Klaus chegou a ele, falando de coisas que nunca
considerou. Fatos o observava perfeitamente preparado. Ele
315

estava usando um terno que, provavelmente, custava mais


dinheiro do que Luka gastou em todo seu guarda-roupa.
Página

Enquanto Luka não queria envolver sua mente ao redor de


Fatos estar no comando de qualquer organização e muito
menos a que Luka odiava, ele entendia que Fatos seria um
grande líder.
Sem dúvida, ele faria o que precisava para permanecer no
topo. Klaus perguntou se ele estaria disposto a trocar sua vida
por Fatos. Ele não lhe deu uma resposta, porque não tinha
certeza se seria capaz de fazê-lo. Agora? Ele precisava dele fora da
imagem. Parecia apropriado aparecer mais uma vez quando Luka
estava realmente feliz.

— Você não sentiu minha falta, vëlla? — Fatos perguntou


paciente, seus olhos derivando para o corpo nas costas de Luka,
um pequeno sorriso nos lábios. Não havia repugnância em seu
olhar, nenhuma surpresa no trabalho horrível. Se qualquer coisa,
ele estava orgulhoso do trabalho que viu.

— Irmão? Eu não sou seu irmão. Agora responda a minha


pergunta. Já se passaram cinco anos. O que você quer?

Depois de vários momentos apenas olhando para o corpo, ele


finalmente olhou para trás para Luka. — Você acreditaria em
mim se dissesse que eu senti sua falta? É verdade. — Ele foi
rápido em acrescentar quando viu o olhar de descrença cruzando
o rosto de Luka. — Houve rumores claro, dizendo que você se
aliou com os russos. Eu poderia entender por que iriam pensar
que, com sua mãe e tudo mais, mas nunca teria pensado que
você ficaria tão confortável com a própria pessoa que você foi
pago para matar. Como isso funciona exatamente?

Não caindo na armadilha, Luka fez uma pergunta. — Você


tem sua própria experiência com isso, então me diz.

Fatos pareceu magoado, como se o que Luka estava


insinuando realmente o ferisse. — Eu nunca teria te
machucado. Você sabe disso.

— Eu perdi isso quando você esculpiu minhas costas


316

com uma lâmina suja? Ou talvez quando estava apostando


contra mim quando lutava no Pit? — Ele pensou em falar
Página

sobre Elena e o que Fatos fez com ela, pelo olhar em seu
rosto, ele estava esperando por isso. E não importava
como tentasse sacudi-lo, tinha que admitir que o que foi
feito com ele foi o melhor em extrair informações.
Enquanto Luka nunca se quebrou, outros o fizeram. Muitos
outros.

— Mas foi o que te fez melhor, não foi? — Fatos perguntou,


apontando para Snow. — Naquele dia, fez-lhe mais. Você não
pode ainda estar com raiva por causa disso. Se bem me lembro,
você aceitou meu cuidado enquanto curava suas feridas.

Isso era porque estava fraco demais para fazer qualquer


coisa além de ficar lá em agonia. Não foi até que ele começou a ter
sua força de volta que fez Luka colocar Fatos para fora a
pontapés com ameaças de morte.

Mas este era o seu problema. Fatos, mesmo durante seu


tempo compartilhado em Berat, sempre fazia coisas que pensava
ser o melhor para Luka, mesmo desfigurando-o permanentemente
e transformando-o em algo temido.

À sua maneira, ele cuidou dele. Mas o cuidado se


transformou em um câncer. Apertando os dentes para não atacar,
Luka disse. — Você me torturou.

— Por favor. Eu te ajudei a sobreviver! — Em um piscar de


olhos, Fatos foi de surpreendentemente calmo para raiva louca,
uma expressão que para Luka era muito familiar, ver seu rosto se
contorcendo.

Ignorando a explosão, Luka passou a mão pelo cabelo, não


se importando que estivesse coberto de sangue. — Por que você
está aqui?

Limpando a garganta, Fatos parecia tentar controlar


seu temperamento quando sorriu mais uma vez. — Quero
oferecer-lhe uma oportunidade de voltar. Tenho certeza que
317

com um pouco de trabalho, a Organização vai perdoá-lo e


não haverá necessidade de falarmos mais disso.
Página

Pelo trabalho, isso significava mais porra de tortura.


Apesar de quão elegante ele colocou, Luka sabia como
trabalhavam e perdão não vinha sem um preço. — Ou?
Fatos parecia confuso, como se ele não pensasse que Luka
contemplaria qualquer outra oferta.

— Ou você será levado de volta à força. Nós sabemos sobre


Bastian, não que eu me importe com aquele gordo fodido, mas
regras são regras e você não está acima delas. Alguém tem que
responder por sua morte e considerando que deixou a sua marca
nele, esse alguém seria você.

Duas emoções diferentes guerrearam dentro dele depois que


ele atraiu Bastian para fora do bar albanês há um ano atrás.
Passando a faca no rosto e corpo do homem, sua mente
aproveitando sobre o que foi feito quando ele estava indefeso não
fazendo nada sobre isso. Na maioria dos dias, pensou que matou
com carinho, repetindo-o uma e outra vez em sua cabeça. Ele
quase podia sentir a maciez fantasma do sangue em suas mãos,
mas nos outros dias, ele sentiu-se mal com o lembrete do que
Bastian conseguiu. Ele fez Luka virar o monstro que ele era.

— Será que eles sabem? — Fatos perguntou interrompendo


seus pensamentos. —Volkov sabe que você enfiou uma faca no
corpo de outra pessoa com a intenção de matá-lo? Não acho que
ele estaria nem perto de tão indulgente como eu... mas isso é
porque eu te amo.

Ali estava... uma ameaça real.

Luka não se importava em ser arrastado de volta para a


Albânia, embora o pensamento de ir lá fizesse seu estômago virar,
mas não queria seu passado saindo do armário.
Especialmente para alguém que iria vê-lo morto se soubesse
a verdade. Luka finalmente sentiu o despertar familiar
desde que Fatos entrou no armazém.
318

— Você está me chantageando? — Perguntou Luka, a


cabeça caindo para um lado com os dedos de sua mão
Página

direita se contraindo.

Fatos, sabiamente, sentiu a mudança nele, mas ao


contrário de outros, queria se aproveitar do caos que se
seguiu. — Talvez não. Mas esta oferta não durará muito tempo.
Se vier comigo, posso consertar isso para você ou fique e
descubra como consegui me mover em nosso mundo.

A lógica seria jogada para levá-lo sobre isso, sabendo que


seria o caminho de menor resistência. Mas se o fizesse, a verdade
sobre quem era viria à luz de qualquer maneira, mostrando o que
escondeu por tanto tempo.

Mas o que Fatos não sabia era que havia alguém que
conhecia o segredo de Luka e mais importante, odiava os
albaneses mais do que Luka. Nele, tinha um aliado e
considerando o conhecimento de que Fatos estar no Estados
Unidos era desconhecido, era seguro assumir que Luka seria
capaz de invocar o mercenário para ajudá-lo com isso.

Era a única coisa que fazia sentido e a única coisa que


poderia comprar-lhe tempo suficiente para finalmente colocar seu
passado para descansar. E evitar que alguém descobrisse quem
ele era antes de vir para Nova York.

— Você pode ter sido promovido, Fatos, mas ambos


sabíamos quem era o favorito de Bastian. — Com isso, Fatos
perdeu o sorriso. — Aqui está meu aviso e você pode perguntar a
esse cara o quão sério eu sou. — Disse ele com uma inclinação
de cabeça na direção de Snow. — Você e quem quer que tenha
trazido junto de Berat podem ir embora e fingirei que isso nunca
aconteceu. Assim como não ouvir falar de mim nos últimos cinco
anos, vamos fazê-lo durar outros setenta. Se vier para mim, não
viverá para ver o fim de tudo.

— É essa a sua resposta final, Valon?

— Essa é a única resposta que sempre conseguirá.


319

Fatos suspirou, alisando sua gravata já reta. — Até o


Página

final do meu tempo neste país esquecido por Deus, você


desejará ter aceitado minha oferta. Sinto muito que tenha
que ser desta maneira. — Fatos olhou para seu relógio,
balançando a cabeça quando se virou para a porta. —
Ei o verei muito em breve, Valon. Espero, por causa deles, que
perdoem o inferno que você está prestes a trazer para suas vidas.

320
Página
TRINTA E QUATRO

Animais

Deitada de bruços, Alex ouviu a chuva do lado de fora da


janela do quarto de Luka, a água que caía acalmando quando
batia contra o vidro. O trovão ocasional soava impossivelmente
alto, mas no meio da tempestade, ela se sentiu em paz.

Eram quase três horas da manhã e ela cochilou a maior


parte do tempo, mas pela última hora, ficou apenas deitada ali, se
perguntando onde porra Luka estava. Loki deitou-se com ela por
um tempo, mas depois também ele saiu vagando ao redor,
deixando-a com seus pensamentos.

Embora agora quisesse ligar, especialmente quando não


sabia o que estava fazendo, não poderia controlar o impulso e
pegou seu telefone outra vez apenas para ver se ele ligou. Mas,
quando estava prestes a pegá-lo novamente, ouviu a porta se
abrir e fechar.

Alex não queria parecer tão ansiosa, mas estava fora


da cama em segundos, correndo para o corredor, quase
321

escorregando na escada em sua pressa para chegar ao


Página

térreo.

— Tigre pensei que você...

As palavras dela ficaram presas na garganta


quando deu uma boa olhada em Luka e o estado de
suas roupas falaram de sua noite. Ele tinha um cigarro em uma
mão, não se importando que os vermelhos do sangue em suas
mãos manchavam o filtro. Não estava apenas em suas mãos, no
entanto, mas cobria sua camisa em arcos e até mesmo algumas
partes da frente da calça jeans.

Havia também uma tensão perceptível, que não importava


quantas tragadas de nicotina ele inspirasse, não diminuiria.
Enquanto seu corpo estava rígido, seus olhos eram selvagens.
Uma fome sombria nadava em suas profundezas e agora que ela
estava ali na frente dele, toda essa intensidade estava focada
nela.

Esta não era a primeira vez que ela o via coberto de sangue e
como antes, isso particularmente não mexia com ela. Ela tinha a
muito tempo aceitado que os homens da Bratva faziam coisas
terríveis. Se isso fazia dela uma pessoa terrível, estava mais
preocupada com a forma como Luka se encontrava, do que com a
pessoa infeliz que cruzou com ele.

Mas enquanto não temia que Luka a machucasse, pelo


menos, não no sentido físico, estava cautelosa. Uma nítida
diferença existia entre a pessoa que ele era antes de sair e a
pessoa que agora estava em frente a ela.

Colocando a sua mão no braço do sofá, ela sentiu seu olhar


sobre ela como um toque físico, quando engoliu. — O que posso
fazer? — Ela sabia que não deveria perguntar a ele o que
aconteceu esta noite, mas tinha esperança de que pudesse ajudá-
lo.

Sua cabeça inclinada para o lado, como um predador


avaliando sua presa. — Você está com medo?
322

A maneira como ele fez a pergunta, o sotaque com o


qual sempre era tão cuidadoso em esconder, agora
Página

torcendo suas palavras, a fez se perguntar se deveria estar.

— Claro que não.


— Snow também não estava. — Outra longa tragada no
cigarro. — No início.

Alex lambeu os lábios, virando o rosto para longe ao ouvir o


som do nome dele. Em primeiro lugar, a vergonha a atingiu,
lembrando-a do que ela fez há algumas semanas, em seguida,
veio a implicação de suas palavras.

— Snow? Você estava com Snow esta noite?

Luka apagou o cigarro, movendo-se, seguindo em sua


direção, soltando uma baforada de fumaça. Ele chegou tão perto,
a uma respiração do cabelo dela, estendendo a mão para acariciar
ao longo de sua mandíbula. Emoção sombria irradiava fora dele,
mas ele foi gentil com ela. Por agora.

— Ele não durou muito tempo. — Disse Luka quase


pensativo. — E eu, provavelmente, gostei mais do que deveria,
mas... — Ele encolheu os ombros, segurando seu rosto forçando-
a a olhar para cima, para ele. — Valeu a pena.

— Luka...

— Eu o teria matado de qualquer maneira. Pensei sobre isso,


na verdade. Esta pessoa sem rosto, sem nome com quem você
estava passando todo seu tempo. Eu odiava essa merda. Odiava
pensar nisso. Estava obcecado sobre isso. Mas teria deixado para
lá se ele estivesse fazendo você feliz. Mesmo que não fosse eu
fazendo você feliz, teria aceitado. — Seu aperto em seu rosto
tornou-se mais firme, mas não doeu. Mesmo em seu estado
frenético, não iria machucá-la. — Mas ele não estava
fazendo você feliz. E pelo que ele fez... passar três horas com
ele não era suficiente.
323

Ela não tinha que perguntar onde Snow estava agora.


Sua presença aqui com ela e o estado de suas roupas dizia
Página

tudo o que precisava saber. Mas o que ela não sabia era o
porquê, se fez o que queria ainda estava cheio de emoção
reprimida.
Antes que tivesse a oportunidade de questioná-lo ainda
mais, seus lábios caíram sobre os dela, forçando-a aceitar o que
ele estava dando. Por um segundo, ficou chocada para fazer algo
mais do que apenas estar lá, mas sua resistência fugiu e ela
respondeu na mesma moeda, com as mãos em punho na frente
de sua camisa.

Ele a beijou como se estivesse faminto, como se fosse a


única coisa na terra que precisava. Ela se sentiu consumida por
ele. E, no entanto... ela podia sentir que ele estava escondendo
algo.

Se isto era o que ele precisava para trazê-lo de volta, ficaria


feliz em dar a ele, então teve que assegurar que ele soubesse
disso. Liberando seu domínio sobre ele, colocou as mãos sobre
seu peito e empurrou. Embora mal tivesse se movido um
centímetro, ela aumentou a distância entre eles, olhando com
ousadia, esperando para ver o que ele faria em seguida.

Suas pupilas se dilataram, o mesmo sorriso predatório se


alastrando. Cada instinto dentro dela lhe disse para correr,
mesmo sabendo que ele iria pegá-la. E quando a inundação de
consciência bateu nela, percebeu que queria isso também. Alex se
recusou a dar-lhe as costas, querendo ver sua próxima jogada e o
momento em que ela deu mais um passo para trás. Ela não teve
que dizer uma palavra para ele entender.

Ele sabia exatamente o que ela estava lhe oferecendo. Não


houve palavras pronunciadas. Antes dela sequer ter chegado ao
pé da escada, ele estava sobre ela, praticamente rasgando
suas roupas, o tecido marcando sua pele enquanto o
rasgava.
324

Ela tropeçou, caindo no chão, mas ele passou o braço


em volta de sua cintura, protegendo-a da dor. Seus lábios
Página

estavam em todos os lugares ao mesmo tempo. Flutuando


acima de sua mandíbula, os dentes mordendo o tendão
sensível de sua garganta, arrancando um grito dela, mas o
som apenas o excitou ainda mais.
Uma mão subiu entre seus corpos, puxando seu sutiã para
baixo, para que pudesse segurar seu seio, em seguida, apertando
forte e puxando o mamilo duro. Ela puxou seu cinto, tornando o
trabalho rápido quando conseguiu abrir sua calça jeans,
alcançando e puxando seu pau para fora, fazendo um punho ao
redor dele, movendo lentamente para cima e para baixo.

Grunhindo, uma maldição deixou seus lábios quando ele


tocou sua boca em outro beijo brutal. Descobrir a melhor forma
de lhe dar prazer lhe tomou algum tempo, mas agora sabia
exatamente a quantidade certa de pressão a manter. Ele puxou
seu outro braço por baixo dela, a mão indo entre suas pernas. Ele
puxou a calcinha para o lado, seus dedos deslizando ao longo de
seu sexo.

No momento que ele a tocou, estava pronta para ele, seu


corpo respondendo a sua brutalidade. Ela achava que nunca
ficou tão molhada em toda sua vida. Primeiro, um dedo foi
empurrado dentro dela, depois outro, ondulando para cima para
bater no seu ponto de prazer.

— Por favor, fode-me. — Ela disse em um gemido


desesperado, apertando seu pau para dar ênfase.

Essas palavras pareceram quebrar o resto de sua contenção.


Deslizando seus dedos fora dela, suas mãos apertaram suas
coxas com força suficiente para causar hematomas, arrastando-a
para mais perto. Um minuto, ele estava alinhando a si mesmo em
sua entrada e no próximo, estava dentro dela em um impulso
rápido.

Alex segurou a respiração com a invasão súbita, a dor


momentaneamente a fazendo muito consciente de todo o
325

seu tamanho. Mas essa dor foi rapidamente esquecida


quando ele começou a se mover. O frenesi estava sempre
Página

presente em seus olhos quando olhou para ela, mas o


pensamento racional parecia ter escapado dele.

— Sim, mais.
Ele sempre foi cuidadoso com ela, tratando-a como
porcelana. Mas, enquanto batia dentro dela, usando as mãos e
dentes para marcar sua posse, ele finalmente parecia tão perdido
nesta paixão como ela sempre se sentiu. Apenas quando ela
estava se acostumando com sua súbita invasão, ele saiu dela. Ele
a virou, sua respiração saindo rapidamente quando a colocou de
joelhos, as mãos apertando seus quadris enquanto cobria suas
costas, empurrando novamente para dentro dela.

Com cada sacudida, um gemido impotente escapava dela,


mas ele não parou. Agarrou seu cabelo e puxou, expondo seu
pescoço para sua boca quando usou seus lábios, língua e dentes
para enviar choques de prazer através dela. Mesmo assim, ela
achava que ele não estava dando tudo a ela, porque, com cada
barulho que fazia, ele se ajustava, como se estivesse sintonizado
para encontrar a melhor maneira de fazer isso bom para ela.

Com a mão em seu cabelo, ele a puxou para cima até as


costas dela encostarem no seu peito, os lábios em seu ouvido. —
Você vai gozar para mim?

As palavras eram guturais, pontuadas por seus golpes


afiados e era tudo o que ela podia fazer para responder à sua
pergunta. Não com palavras, mas com um único aceno de cabeça,
mas isso não era bom o suficiente para ele. Não, ele queria que
ela verbalizasse sua resposta.

— Responda.

— Deus, sim... por favor!

Seus dedos encontraram o clitóris, esfregando no


mesmo ritmo frenético de seus impulsos, forçando-a em
direção ao limite ao qual não estava pronta para chegar.
326

Mas não foi até que ele moveu a mão, trazendo-a de volta
com um tapa firme em sua bunda, que ela se rompeu,
Página

incapaz de lutar contra o orgasmo que a superava.


Quando ela voltou, sua consciência lentamente perfurando a
neblina, Luka ainda estava duro, enterrado dentro dela. Podia
sentir a curva de seus lábios na concha de sua orelha. — Ainda
não acabou.

Luka foi embora quando ela acordou na manhã seguinte,


mas não parecia assim. Era quase como se sua presença tivesse
assumido a totalidade do quarto e ela ainda podia senti-lo em sua
pele, dentro dela como se sempre tivesse estado lá.

Alex se esticou, encolhendo-se um pouco quando se


aproximou da camisa que usava na noite anterior, apenas para
encontrá-la rasgada, assim como sua calcinha. Quando ele disse
que não acabou, ela não percebeu que significava horas dele
dispersando sua agressividade, usando seu corpo para fazê-lo.
Eles foram do chão para a parede mais próxima, onde ela
lembrava claramente dos quadros pendurados ali chocalhando e
finalmente, até o seu quarto.

Corando com a lembrança, ela se dirigiu ao banheiro


para tomar um banho rápido. Não se preocupou em olhar
no espelho até depois que acabou e quando o fez, teve que
piscar algumas vezes para se certificar de que via
327

corretamente.
Página

Ela ficava marcada facilmente, mas não achava que


iria se marcar assim tão facilmente. Marcas arroxeadas
gritantes praticamente a cobriam do pescoço para baixo,
uma marca de mordida em seu estômago, e ela podia ver
onde seus dedos a agarraram. Não admirava que ela se
sentisse tão dolorida ao levantar. Na noite anterior, ela não se
lembrava de ser doloroso assim.

Colocando um vestido que quase chegava ao meio de suas


coxas, ela foi em busca dele, o som de água correndo a fez ir para
fora pela porta da frente. Luka estava em um jeans de cintura
baixa, uma mangueira de água em sua mão enquanto ele lavava
seu jipe, mesmo o interior, espuma se formando com cada
passagem da água. Seus ombros estavam visivelmente relaxados
e ele parecia muito mais calmo do que na noite anterior, quando
ele chegou... falando nisso, Alex ainda não sabia o que inspirou a
reação nele, especialmente desde que voltou coberto de sangue.
Agora, ela era a única preocupada.

— Luka.

Ele virou a cabeça na direção dela enquanto se aproximava e


Loki trotou de trás do carro quando ouviu sua voz. Quando ela
estava perto o suficiente para tocá-lo, desligou a mangueira,
deixando-a cair no chão, perto de seus pés. Quando Luka não
estava sorrindo, algo estava definitivamente errado.

Seus dedos se fecharam em seu queixo, inclinando o rosto


para cima, com os olhos na pele exposta, quando seu cabelo caiu
por cima do ombro.

— Devo pedir desculpas por isso?

Alcançando sua mão, ela a tirou do seu pescoço, mas


manteve a pressão. — Desculpas porquê?

Mais rápido do que teria pensado, ele a levou de volta


para a casa. Andando até o banheiro do corredor, ele a
levantou, colocando-a na beirada da pia enquanto seu olhar
328

a percorria. Ela pode não ter visto o que o perturbou em


seu pescoço, mas podia ver claramente as marcas dos
Página

dedos no interior de suas coxas, a largura das quais se


encaixavam perfeitamente nas mãos.
— Não dói. — Explicou ela, na esperança de tirar um pouco
da sua preocupação, mas suas palavras pareciam cair em
ouvidos surdos.

Ele foi cuidadoso quando traçou as marcas, aparentemente


hipnotizado por elas. Ela mordeu o lábio inferior por um segundo,
enquanto ponderava o que ele estava pensando. Não queria
machucá-la, tinha certeza e ele poderia muito bem ver isso como
a machucar.

Em vez de ponderar, porém, ela perguntou. — Luka, o que


você está pensando?

Apesar dele ter virado o rosto um pouco, ela podia ver os


seus lábios se contraírem num sorriso. — Se irá me deixar fazer
isso novamente.

Luka finalmente olhou para ela quando estremeceu, seu


sorriso se transformando de divertido em carnal.

— Eu não posso dizer que sempre serei gentil.

E ela não tinha certeza se queria que ele fosse.

— Então é isso que fazia? — Ela perguntou incerta,


brincando com as pontas de seu cabelo enquanto olhava para
além dele. — Quando você estava com Natasha, quero dizer. É
isso...

— Você realmente quer que eu responda?

Não, ela não queria. Mas, ao mesmo tempo, queria


saber a resposta, não realmente a parte sobre Natasha, mas
sobre como ele lidava com o stress. O que quer que chegou
329

a ele na noite passada foi, obviamente, um grande negócio,


porque não conseguia se lembrar de uma época em que ele
Página

perdeu o controle dessa maneira. Ele a surpreendeu ao


responder com o que ela realmente queria saber.

— Por vezes faço um trabalho que sei que vai ficar


cheio de sangue, me dá outra desculpa para trabalhar
com isso. Outras vezes, bem… você estava lá na noite passada. A
dor me ajuda a concentrar.

Ela franziu a testa, as sobrancelhas juntas. — Dor? Como é


que eu lhe causei dor?

Ele virou-se e pela primeira vez, ela viu os arranhões


profundos nas suas costas e não teve que perguntar como
chegaram lá, vagamente se lembrando de cravar as unhas nele.

Ele sorriu, um traço de humor negro na sua expressão. —


Você deu tão bem quanto recebeu.

Ela não iria corar.

— Você está bem agora?

— Melhor do que isso, amor. — Disse ele beijando sua testa.


— Melhor do que isso.

330
Página
TRINTA E CINCO

Natasha

A primavera estava no ar, o doce aroma floral da loja de


flores ao lado, combatendo o mau cheiro constante de
escapamento que pairava no ar. Natasha pagou por isso apesar,
enquanto escondeu o dinheiro que ganhou nas últimas vinte e
quatro horas, na bolsa preta que usava, parando na calçada para
chamar um táxi.

Desde que o Gilded Room fechou, Natasha teve que


encontrar trabalho por conta própria, recusando-se a ter um
trabalho de salário mínimo que não iria pagar seu estilo de vida.
As outras garotas com quem ela costumava trabalhar eram
diferentes nesse sentido. Ela não gostava de coisas medíocres.
Preferia muito mais as coisas boas, muitas vezes oferecidas
quando fazia seu trabalho corretamente.

Não era uma ocupação ruim, mesmo que não fosse o


que imaginou fazer em sua vida. Seus pais eram imigrantes.
Eles se mudaram para a América antes dela nascer. Eles
331

trabalharam duro para lhe proporcionar uma vida boa, mas


isso realmente não se refletia nas roupas que usava e nas
Página

coisas em sua casa. Num determinado momento, Natasha


começou a ressenti-los por não serem capazes de
conseguir as mesmas coisas que as outras famílias
tinham depois de viajarem através do mar.
Claro que, naquela época, não sabia o que mais as famílias
fizeram para ganhar dinheiro. Ela apenas viu o resultado. Desse
ponto em diante, sabia que queria algo mais, algo que não
possuía e toda a sua vida, ela se esforçou para encontrá-lo.

Exceto que ela não foi à procura da Bratva, a Bratva a


encontrou. A próxima coisa que soube, era que estava
trabalhando para esses caras e ganhando mais do que jamais
sonhou. Ela nunca olhou duas vezes para qualquer um dos
homens que se consideravam seus chefes, pelo menos até que ela
conheceu Luka e foi apenas depois que um cliente errou a mão.
Natasha nunca pensou que fosse realmente atraída pela violência
antes de conhece-lo, antes de ver o que ele poderia fazer somente
com as mãos. Ao vê-lo tão facilmente levar alguém à morte,
apenas para segurar no último segundo, permitindo-lhes tomar
outra respiração... ela o quis muito depois disso.

Mas ele não ficou muito perto depois disso, pelo menos até
que foi designado para ser mais ou menos o seu cafetão. Então,
foi suficientemente fácil convencê-lo a entrar em sua cama. Ele foi
relutante, pelo menos até que ela o convenceu de que não seria
nada mais do que eles desfrutando de uma hora juntos, sem
amarras. Apenas então ele pulou sobre ela. No início, sempre se
assegurou que ela entendesse que isso nunca seria qualquer
coisa mais profunda entre eles. Ela estava bem com isso também,
mas quanto mais tempo passava com ele, mais ela queria saber
sobre sua vida e mais queria ser uma parte permanente da
mesma.

E estava disposta a esperar para que isso acontecesse.


Poderia ser paciente. Ela sabia que não seria fácil convencê-
lo que valia a pena, mas isso não significava que perdeu a
esperança. Apenas queria dizer que estava nisso por um
332

longo prazo.
Página

Mas a puta, Alex Volkov, amada irmã de Mishca e a


princesa da Bratva, de alguma forma cavou seu caminho
para o coração de Luka, tornando ainda mais difícil para
Natasha permanecer lá. Ela não pensou muito nisso.
Afinal, Alex era apenas uma menina quando ela fez
sua paixão conhecida e Luka não parecia retribuir seus
sentimentos.

Natasha ainda não entendia o que mudou entre eles. A única


coisa que sabia era que Luka a deixou como se nunca tivesse
significado nada para ele. Ela ficou mais do que um pouco
chateada, desejando que pudesse fazer algo para se vingar dele
por ter levantado suas esperanças, mas até o momento, não
encontrou uma maneira. Mas logo iria e se certificaria de que ele
ficasse tão magoado com o que ele fez como ela estava.

Quando o táxi parou, ela subiu na parte de trás, batendo a


porta quando deu seu endereço para o taxista e ficou confortável.
Depois que saiu da casa com as outras garotas, ela encontrou um
apartamento perto do Bronx. Não tão grande como teria gostado,
mas serviria.

Tirando sua jaqueta, ao entrar em seu apartamento,


Natasha tirou o dinheiro de sua bolsa, contando-o enquanto se
dirigia para o seu quarto... até que ela notou o homem
casualmente bebericando sua bebida na cadeira perto de sua
janela.

— Como porra você entrou aqui? — Perguntou Natasha,


recusando-se a sair de onde estava.

Cuidadosamente, ela mergulhou a mão no bolso do casaco,


sentindo seu telefone.

— Eu sou um amigo de Valon ou você está chamando-o de


Luka? Realmente devo aprender a manter as coisas em
linha reta. Oh, não adianta ligar para ele, mas acho que
você sabe disso, desde que ele essencialmente deixou você
por uma mulher mais jovem, Aleksandra, não?
333

Raiva e algo muito parecido com ciúme, corria por ela,


Página

mas tentou não deixar transparecer. — O que você quer?

— Não muito... apenas um endereço servirá. Eu


apenas quero conversar com ela.
Ela riu, genuinamente. — Certo. Você acha que vou entregar
o endereço de Alex Volkov, a irmã do Pakhan. Ou você é muito
estúpido ou muito corajoso. Se Pakhan não o matar por chegar
perto de sua irmã, Luka definitivamente irá. — O último foi dito
com uma nota amarga e ela não poderia ter mantido fora de sua
voz mesmo se tivesse tentado. — Gosto da minha vida do jeito
que está, obrigada.

— Você tem certeza disso? — Ele perguntou, olhando para


ela com algo semelhante a pena. — Você era uma puta para os
russos, então era uma prostituta disposta para nosso amigo
Valon, mas ele trocou você, não foi? Quando encontrou algo
melhor? Não pode ter gostado disso. Ele deveria ser seu caminho
para fora. — O homem suspirou, ficando de pé, deixando para
trás um cartão branco. — Mas não poderia saber que ele nunca
iria escolher você. Ele pode desfrutar foder prostitutas, mas
nunca iria se casar com uma.

Raiva fervendo em seu sangue, ela olhou para ele. — Você


não sabe nada sobre isso.

— Eu sei mais do que você pensa. Eu sei que a única


prostituta que ele já amou foi sua mãe. Ligue-me quando mudar
de ideia.

Ele parecia tão seguro, como se apenas soubesse que


Natasha mudaria de ideia, mas apesar da forma como desprezava
Alex, valorizava demais sua própria vida. Antes que pudesse
oferecer outra resposta, no entanto, ele estava fora da porta, o
cartão de visita solitário a única lembrança que alguma vez
esteve lá.

Ela andou até ele, virando-o em suas mãos. Seu nome


334

Fatos, estava rabiscado na parte superior, um número


escrito abaixo dele. Para um homem que estava tentando
Página

fazer algo desagradável, ele era bastante ousado em deixar


seu nome.

Ela estava tentada, se isso significava que Alex


estaria fora do quadro, não haveria ninguém mais para
receber a atenção de Luka, mas também não era uma mulher
tola. A probabilidade dele voltar para ela era fraca... mas se
soubesse sobre isto, se lhe contasse sobre o homem, então ele
deveria a ela um favor.

Deslizando o cartão no bolso, voltou a vestir o casaco, saindo


outra vez. Ela chamou um táxi de volta para a cidade, vendo o
clube de Mishca não muito longe, enquanto saia, depois de pagar
sua corrida.

Se jipe não estava fora, mas pelo que sabia, ele poderia ter
estacionado na parte de trás. Quanto mais se aproximava do
clube, se viu passando os dedos pelo cabelo, verificando para
certificar-se de que sua maquiagem ainda estivesse no lugar. Não
havia nenhuma razão para Luka a afetar assim tanto, mas de
alguma forma ele estava em sua pele. E em vez de empurrá-lo
para trás, ela lhe deu as boas-vindas.

Seu erro.

Natasha estava quase na porta quando a viu, saindo, sua


atenção no telefone em sua mão. Alex parecia como qualquer
outra garota rica mimada nesta cidade. Brilhantes cabelos loiros,
grandes olhos verdes e um guarda-roupa invejado por quase toda
mulher neste país. Ela tinha tudo o que poderia provavelmente
querer, mas ainda tinha que ter mais.

Natasha queria odiá-la, mas, sobretudo invejava como tudo


vinha tão fácil para ela. Finalmente, Alex ergueu o olhar de seu
telefone, imediatamente caindo sobre Natasha como se
tivesse sentido que estava lá. Primeiro veio o olhar de
surpresa antes que o reprimisse, sua máscara no lugar.

— Natasha, oi.
335

Considerando todos os nomes de que Alex a chamou


Página

no passado era surpreendente que realmente soubesse


qual era seu nome.

— Onde está Luka?


Ela limpou a garganta, olhando para trás no clube. — Não
aqui. Há algo de errado? Qualquer coisa que eu posso ajudá-la?

— Como se eu alguma vez fosse precisar de algo vindo de


você.

— Escute, fui rude com você, mais frequentemente do que


provavelmente posso lembrar. Estava errada e não vou tentar dar
desculpas, mas eu era uma pessoa de merda nessa altura, para
um monte de gente. — Alex afastou o cabelo sobre o ombro. —
Quero me desculpar. Não, estou pedindo desculpas. Sinto muito
pelas coisas que disse, do jeito que eu te tratei. Se quiser, direi a
Luka que você está procurando por ele.

Ela estava se desculpando? A ela? Ressentimento a encheu


quando olhou para Alex. Claro que ela poderia se desculpar, ela
ficou com Luka, a única pessoa que Natasha queria para si
mesma.

— Você nunca será suficiente para ele. — Natasha não


poderia deixar de dizer, afundando baixo o suficiente para que
tivesse algo a dizer, qualquer coisa se isso significasse que
alguém mais estava sofrendo, mesmo que fosse apenas uma
fração do que ela sentia.

E suas emoções apenas foram agravadas pelo fato de que


Alex não parecia magoada com o que ela estava dizendo. Na
verdade, parecia que sentia pena dela.

— Eu vou dizer-lhe para ligar para você.

Desta vez, Alex não esperou por ela responder. Ela


simplesmente saiu, deixando Natasha na calçada com mais
raiva do que ela já sentiu em sua vida. De volta ao seu
336

apartamento, tentou não pensar sobre o albanês e as


palavras que ele disse a ela.
Página

Mas quanto mais se sentava em seu apartamento,


mais seu telefone chamava por ela e a necessidade de
ligar para Luka. Ela não falou muito com ele desde que
Mishca fechou a operação, nem viu realmente
qualquer um dos russos que ela conheceu durante seu tempo de
trabalho para eles.

Seus pensamentos se dispersaram quando seu telefone


tocou, um número que nunca viu antes acendendo na tela. Ela só
hesitou um segundo antes de atender a chamada.

— Olá?

— O que você precisa?

Luka sempre foi brusco, mas não acho que ele já soou tão
duro com ela como fez agora. Nem mesmo quando foi até sua
casa para romper com ela, depois que finalmente decidiu ficar
com Alex.

— Você podia pelo menos dizer: Olá, como você está? Isso é o
mínimo que poderia fazer, Luka.

— Olá. Como você está? Agora, o que você precisa?

Lutando por paciência, Natasha disse. — Eu estava tentando


vê-lo mais cedo...

— Alex me disse. Tudo. — Uma ponta de raiva entrou em


sua voz. — Cuidado com o que dirá em seguida. Ela me pediu
para ligar. Isso é o fim da minha obrigação.

Naquele momento, Natasha esqueceu tudo sobre dizer-lhe do


homem que a visitou. — Então, enquanto eu o deixava fazer o que
queria de mim, eu estava bem. Mas agora que está com a
princesa, eu sou apenas outra prostituta?

— Eu nunca a chamei de prostituta.


337

— Isso é tudo que você tem a dizer? Eu te dei tudo!


Éramos felizes e agora você está agindo como se eu não
Página

significasse nada, porque você finalmente teve o sabor de


sua jovem boceta?

Foi a coisa errada a dizer.


Seu silêncio disse isso a ela e era tarde demais para ela
pegar de volta, mas mais do que isso, não queria.

Foda-se Alex.

Foda-se seu irmão.

E foda-se todo a Bratva Volkov.

— Nunca fale dela desse jeito. — Disse ele calmamente. —


Não gostará do que farei se eu ouvi-lo novamente. É isso,
Natasha. Fique longe de Alex e não procure por mim novamente.

Ele desligou, o clique soando alto em seus ouvidos. Ela


estava ferida, constrangida e mais importante, ela estava com
raiva.

Ela queria a raiva, para destruir as poucas coisas preciosas


em seu apartamento, para que algo mais pudesse se sentir
quebrado como ela, mas havia uma maneira melhor de se vingar
de Luka por seu descuido. Puxando o cartão para fora, ela não
perdeu tempo ao marcar o número.

338
Página
TRINTA E SEIS

Lembretes

— Você me dirá o que está acontecendo? — Alex perguntou


quando eles pararam na frente do prédio de Lauren. Ela ainda
tinha que tirar os olhos dele, quando saíssem.

Antes, ele teria dito a ela ou pelo menos lhe teria dado
algumas informações que iriam acabar com a ansiedade que
sentia. Ele não sabia muito mais do que ela, mas sabia tanto
quanto ela, a ligação de Mishca foi enigmática e curta. A única
tarefa dada a ele, foi levar Alex para o apartamento de Lauren e
certificar-se que elas ficavam lá e então ele deveria ir de carro
para o endereço indicado.

— Eu não sei muito. — Luka respondeu, arrastando-a


através do assento para que pudesse dar um beijo em seus
lábios. — E mesmo se eu soubesse, não seria para você se
preocupar.

Fazendo uma careta, Alex afastou-se dele, sua mão


339

indo para a porta do carro. — Não você, também.

Ele sorriu, encolhendo os ombros. — Por uma boa


Página

razão. Eu não quero que nada aconteça com você.

— Sim, sabendo como você é, iria atirar primeiro e


perguntar depois. — Ela brincou.
Ele a ajudou a sair do jipe, seu sorriso tenso, mas genuíno.
— Eu queimaria esta cidade até o chão.

Uma parte dela ficou emocionada com essas palavras, mas o


novo lado racional não gostou delas. Era uma coisa dizer o que
ele estava disposto a arriscar para protegê-la, mas também estava
dizendo que iria arriscar a si mesmo e ela não queria isso.

Quando se preparava para sair, ela hesitou, querendo


chamá-lo de volta, mas não querendo parecer tola. Se havia uma
pessoa que poderia cuidar de si mesmo, era Luka. Era seu
trabalho depois de tudo, mas isso não impediu a ansiedade a
percorrer com o pensamento do desconhecido que ele iria
enfrentar.

Ele olhou para trás, hesitando antes de voltar para ela. Sua
mão segurou a nuca enquanto ele a arrastava para frente, sua
boca descendo para se conectar com a dela. Bastou um breve
toque, mas foi tudo o que ela precisava para se acalmar.

— Eu a verei em breve.

Não havia nada como o cheiro de um corpo queimado e


decomposto. No momento em que Luka colocou os pés na
340

propriedade, seu olhar procurou pela área circundante no


caso de alguém ter decidido ficar por ali, e os aromas
Página

agrediram seu nariz. Um segundo e ele estava acostumado.


Esteve ao redor de cadáveres vezes suficientes para
reconhecê-lo, mas o primeiro fez seu coração saltar uma
batida.
Ele foi o primeiro a chegar, embora Mishca tenha feito a
ligação. Enquanto esperava ao lado de seu jipe, olhando para
outro fantasma de seu passado, ele acendeu um cigarro, inalando
profundamente, esperando que a nicotina fizesse o que ele não
podia.

Luka deveria estar preparado, deveria saber que no


momento em que Fatos mostrasse sua cara, isto seria o seguinte.
Ele poderia não saber o que estava lá dentro, mas tinha uma boa
ideia. Fatos, ao contrário de qualquer um que conhecia, sabia
como foder com a cabeça de alguém.

Finalmente, depois de se passarem dez minutos, dois carros


apareceram, um moderno e elegante, o outro mais antigo e
precisando de uma lavagem. Mishca saiu de um e Klaus saiu do
outro. E vendo aquele mercenário, cujos olhos imediatamente
foram para ele, de onde estava, Luka sabia que isso não iria
acabar bem.

Todos os três compartilhavam uma história com este lugar,


Luka e Klaus mais que Mishca. E essa história era diferente para
cada um deles. Mas era seguro dizer que este lugar não era
encarado com carinho.

Ninguém falou enquanto Mishca liderava o caminho para


dentro, seguindo o caminho torcido para a porta da frente como
se estiveram lá muitas vezes. Mas era difícil esquecer um lugar
como este. Klaus quase morreu ali, sofrendo por algo sobre o qual
não tinha controle e não foi há muito tempo que Lauren foi levada
ali por Brahim para sofrer um destino semelhante. Tais
lembranças frágeis enchiam este lugar parecendo que essas
eram as únicas coisas mantendo este lugar em pé.
341

Não havia nada no primeiro andar que fosse digno de


nota e enquanto se aventuravam no andar de cima, Luka
Página

pensou sobre quantas pessoas matou neste lugar, desde a


sua primeira vez aqui até a última. Quando respirou fundo
enquanto subia as escadas atrás de Mishca, quase podia
sentir o sangue no ar do dia em que ele o cobriu.
Limpando as escadas, eles tinham apenas um breve
momento para se prepararem para o que os esperava do outro
lado da parede. Mishca amaldiçoou com o que viu, o corpo inteiro
de Luka se encolheu com a visão, mas Klaus... Klaus não reagiu.

Sua expressão era ilegível quando todos eles olhavam para


os dois corpos amarrados às cadeiras. Uma cena particularmente
brutal trouxe de volta lembranças que era melhor deixar
enterradas. Como aconteceu desde o momento em que Fatos fez
sua presença conhecida na cidade, a contagem regressiva apitava
cada vez mais alto na cabeça de Luka. Ele sabia que tudo estava
se aproximando, mas havia uma coisa que Luka sabia.

Fatos nunca seria aquele a dizer a Mishca a verdade.

Não porque sentisse medo, mas porque este era um jogo


para ele. Enquanto Luka continuasse jogando, ele iria arrastá-lo o
maior tempo possível, sem se importar com quem machucasse no
processo. Isto era uma mensagem tanto para Klaus como para
Luka, porque ele estava intimamente muito mais envolvido com
esta cena até do que Luka. Apesar dos anos, não havia nada que
pudesse ter escondido a emoção nos olhos de Klaus quando
olhou, não para o russo morto que suportou muitas das mesmas
lesões que Klaus uma vez sofreu, mas o cadáver queimado que
estava irreconhecível.

Alheio ao seu entorno ou perdido em suas lembranças,


Klaus estendeu a mão para a corrente que normalmente
mantinha escondida sob a camisa, apertando o que estava
pendurado nela. Este teria sido o seu destino se Luka não
tivesse verificado a única coisa que teria provado, que ele
estava dizendo a verdade sob o ataque de sua tortura.
Ninguém sabia sobre essa verdade simples, no entanto, nem
342

mesmo Klaus. Depois do que Luka fez com ele, duvidava


que teria feito muita diferença, então ele nunca se
Página

preocupou em revelar isso.


Percebendo que eles, também estavam perdidos em seus
próprios pensamentos, Luka rompeu o silêncio. — O que você
quer fazer?

Mas a pergunta ficou sem resposta, enquanto Klaus parecia


sair de qualquer feitiço que estava sobre ele. Nem Luka nem
Mishca disseram uma palavra enquanto observavam, com
expressões variadas, quando Klaus caminhou em direção ao
corpo queimado, ajoelhando-se diante dela.

Ele estendeu a mão pairando perto de seu rosto, mas não


podia levar-se a tocá-la. Ela foi queimada além do
reconhecimento, mas Luka achou que Klaus não se preocupava
com isso, não quando estava vendo o rosto de outra pessoa em
seu lugar.

Enquanto ele estava perdido em suas lembranças, Mishca se


virou para olhar para Luka, seu olhar furioso, mas estava calmo
enquanto falava. — Queime esta porra de lugar até ao chão. Não
deixe nada para trás.

Com um aceno curto, Luka esperou que ele saísse, o seu


telefone já na mão, antes que se atrevesse a abordar Klaus.
Lentamente, quando ele voltou a si, Luka percebeu o que muitos
temiam quando se tratava de Klaus, mas não até que foi tarde
demais. Ele não vibrava com raiva da maneira que Mishca fazia.
Ele não usava suas emoções na manga. Quando demonstrava
sua raiva, era porque realmente queria que você visse, não
porque não poderia contê-la.

Agora... Luka estava vendo o monstro escondido que


ele ajudou a criar. Todos eles o tinham, ele sabia, mas era
raro que Klaus mostrasse o seu.
343

— Ele irá morrer. — Disse ele apenas alto o suficiente


para Luka ouvir, mas isso não fez suas palavras menos
Página

poderosas. — Quer você goste ou não. Fique fora do meu


caminho ou pode morrer com ele.
Passando uma mão pelo rosto, Luka começou a trabalhar.

Luka estava excepcionalmente silencioso quando a pegou de


volta e eles começaram a viagem para sua casa. Agora que ela o
estava vendo novamente, poderia dizer que havia mais em seus
humores sombrios do que quando esteve com Snow.

Ela pegou a mão que descansava entre eles, entrelaçando os


dedos com os seus, oferecendo-lhe conforto. Quando ele apertou
levemente, ela relaxou um pouco. De volta à sua casa, ele
desapareceu no banheiro e ela lá em cima em seu quarto. O dia
seguinte seria outro longo dia de prática que ela não se podia dar
ao luxo de perder. Ela arrumou uma mochila, guardando
suéteres, fita e collant. Quando estava enrolando as fitas ao redor
das sapatilhas de ponta, colocando-os em uma mochila de lado,
ela ouviu o som inconfundível de vidro quebrar, seguido de um
latido agudo de Loki.

Déjà vu bateu nela quando saiu do quarto e voltou lá


embaixo, encontrando Loki sentado à frente da porta do
banheiro. Um rápido exame pelo quarto disse-lhe que ela
não ouviu qualquer vidro lá fora.

Respirando fundo, entrou no banheiro, fechando Loki


344

de fora. Não havia muito espaço, a estrutura imponente de


Página

Luka ocupava a maior parte do lugar. Mas ela podia ver o


que aconteceu, a julgar pelo vidro quebrado do espelho, a
mancha de sangue em seu centro.
— Luka... — Ela chamou pelo seu nome hesitante,
esperando para ver sua reação antes de se mover para mais
perto.

Seus ombros visivelmente tensos, mas ele pelo menos, parou


o impulso do que estava fazendo no espaço apertado do banheiro.
— Sim.

— Posso ajudar?

O sangue estava escorrendo no chão de sua mão ferida, mas


ele parecia alheio à lesão ou até mesmo à dor que ela sabia que
sentia. Quando ele não negou seu pedido, ela lentamente entrou.
Ela o circulou até que ficou a sua frente, cuidadosamente
pegando sua mão para que pudesse inspecionar os danos. Ainda
havia pedaços de vidro enterrados em sua carne, sangue
escorrendo para fora em volta dos fragmentos.

— Você tem um kit de primeiros socorros?

Ele estava observando-a com tais pálidos olhos sem emoção,


antes que ele apontasse para o armário debaixo da pia. Ela
retirou-o junto com um par de pinças e uma garrafa de peróxido,
preparando tudo sobre o balcão ao lado dela.

Ela teve cuidado enquanto se movia, uma vez que estava


cheio de vidro por todo o chão e ela estava usando apenas meias.
Luka, percebendo isso, enrolou um braço em volta de sua
cintura, levantando-a até que ficou sentada na pia, afastando as
pernas para que ele pudesse ficar entre elas.

Era difícil não reagir a ele, especialmente quando


estavam assim tão perto. Ele praticamente exalava uma
ameaça crua, mas ela se lembrou do que disse a ela uma
345

vez, sobre como ele gostava de um pouco de dor. Engolindo,


ela limpou sua garganta, pegando a mão dele novamente,
Página

mais do que um pouco ciente da outra que ele descansava


ao lado de seu quadril. — Você quer falar sobre isso?

Pegando a pinça, limpou-a com álcool, puxando


sua mão mais perto de seu rosto enquanto começava
meticulosamente a remover todos os pedaços de vidro que poderia
encontrar. Ele ainda estava calado, mas ela não o apressou por
uma explicação. Para ela, eles tinham todo o tempo do mundo.

— E se eu não for quem você pensa que sou?

Ela cuidadosamente controlou sua reação, não querendo


deixá-lo saber que a pergunta a pegou de surpresa. — Então,
quem é você? Pode me dizer.

Ele suspirou, como se o peso do mundo estivesse de volta


em seus ombros. — Você não gostaria da minha resposta.

— Luka, nós já conversamos sobre isso ou pelo menos eu


falei e você ouviu. O que é que acha que você fez, que faria eu te
odiar?

Com a mão livre de vidros, ela derramou peróxido sobre ela,


enxugando o excesso de líquido com bolas de algodão e em
seguida, envolvendo sua mão com gaze e fita. Ele ainda tinha que
responder à sua pergunta e não parecia que fosse fazê-lo, pelo
menos até que ela terminasse.

Segurando os pulsos dela em suas mãos, impedindo-a de


tocá-lo ainda mais, ele forçou-a a olhar para ele. Havia tanta
miséria nas profundezas de seus olhos, que desejou pela
milionésima vez, que ele apenas contasse o que estava corroendo-
o, apenas para que pudesse se ver livre disso.

Mordendo o lábio inferior, ela olhou-o com cuidado. — É


aqui que me diz que você é o homem errado para mim? Diz
que deveria ficar longe de você?

— Por que porra eu faria isso?


346

— Eu não sei, Luka. Por que você faria isto? — Ela


Página

perguntou, apontando para a mão. — Seja qual for o


segredo que você está escondendo... está obviamente
corroendo-o.
A restrição o estava corroendo e ela quase pensou que ele
fosse se quebrar, mas ele balançou a cabeça, olhando para longe.
— Foi um longo dia de merda. Eu preciso dormir um pouco.

Afastando-se dela, saiu do banheiro antes que ela pudesse


expressar um protesto. Não havia nenhum ponto em discutir com
ele, não quando não estava pronto para se abrir. Luka era
teimoso assim. Até este ponto, ficava contente de esperar por ele
vir até ela, mas agora... estava frustrada por não ser capaz de
ajudá-lo. Especialmente quando parecia não querer sua ajuda.

Suspirando em derrota, ela apagou as luzes, deixando a


bagunça para limpar em outro momento. De volta ao quarto, ela
saiu de suas roupas. Subindo na cama, desejou mais uma vez
que as coisas não fossem tão difíceis para eles.

Ela tinha apenas fechado os olhos quando Luka afastou os


cabelos de seu rosto. Ele estava ajoelhado ao lado dela. — Você
poderia me fazer um favor?

Sem hesitar, ela disse. — Qualquer coisa.

Ele saiu do quarto e desceu pelo corredor. Outra porta se


abriu, uma inundação de luz atingindo o corredor, em seguida,
Luka estava de volta tão rapidamente quanto saiu, batendo a
porta atrás de si. Ele carregava o que parecia ser uma caixa de
sapatos que era um tom de marrom e coberto com uma leve
camada de pó. Ele jogou a tampa do lado da cama, puxando uma
bolsa de seda que a fez sentar-se, segurando o lençol no peito
para ver melhor o que ele estava fazendo.

Puxando as cordas soltas, ele virou a bolsa e dois


pentes de cabelo caíram na palma da sua mão. Ele foi
cuidadoso com eles e depois de um momento, ele estendeu-
347

os para ela. Eles não eram novos, ela poderia dizer, mas
estavam em bom estado. Três pinos cônicos até um ponto
Página

na parte inferior, mas a verdadeira beleza deles eram as


delicadas flores brancas, não apenas gravadas no metal,
mas eram na verdade a maior parte dos pentes. Era óbvio
que isto significava muito para Luka enquanto ele
ainda não tinha tirado os olhos deles, mas estava preocupada
com a tristeza que irradiava dele.

— Quando você conseguir o seu primeiro papel principal,


quero que use estes.

— Luka...

— Eles eram da minha mãe. — Ele explicou quando afastou


o cabelo para o lado com uma mão, colocando cuidadosamente
um dos pentes lá. — Eles significavam muito para ela. Você
significa mais do que isso para mim. Eu não posso dar-lhe muito
que não possa dar a si mesma, mas este é um pedaço de mim que
eu não irei... — Ele parou de falar e não pela primeira vez, ela
desejou saber o que ele estava pensando. — Mantenha-os, assim
sempre terá um pedaço de mim com você.

Ela lhe deu um sorriso trêmulo, acenando embora nada


sobre isso parecesse certo. Alguma coisa estava acontecendo com
ele. Algo muito além do que suspeitou originalmente e embora
quisesse que ele fosse até ela falar sobre isso, não podia esperar
mais.

— O que está incomodando você, Luka? — Ela manteve a


mão dele antes que pudesse se afastar. — E não diga que não é
nada. Eu sei melhor do que isso.

Ele sorriu levemente, apenas o menor capricho de seus


lábios. — Tudo acabará logo.

Mas isso não respondeu sua pergunta, nem reprimiu


seus medos.
348
Página
TRINTA E SETE

O caixão de vidro

Agora mais do que nunca, Alex estava praticando, passando


longas horas no estúdio para que pudesse se preparar para a
próxima audição. E quanto mais tempo ela passava lá, mais
melhorava e logo se viu indo para lá apenas porque sentia falta.
Por vezes, se esqueceu de como vazia sua vida se tornou desde
que deixou Paris. Finalmente, depois de tanto tempo, as coisas
estavam melhorando.

Embalando suas últimas coisas, ela colocou sua bolsa no


ombro e se dirigiu para a porta. A viagem do estúdio de volta para
casa não era longa e Alex já havia feito isso muitas vezes e não se
preocupava com a distância, mas quando seus sapatos fizeram
um som alto batendo na calçada de concreto, no silêncio da noite
e os seus dedos rápidos na tela do seu telefone, estava muito
distraída com a mensagem de texto que estava tentando
enviar para notar a van em marcha lenta. Levou apenas
alguns segundos para passar por ela e quando chegou perto
o suficiente, as portas se abriram e um homem saiu
349

silenciosamente.
Página

Ela acabou de pressionar enviar, seu dedo ainda


pairava sobre esse botão, quando grandes mãos a
agarraram, um pano sujo com cheiro doce enjoativo foi
colocado em seu rosto. O telefone caiu no chão enquanto
ela reagia imediatamente e violentamente, tentando libertar-se.

Seus pensamentos correram. Cada instrução que Luka deu


a ela repente desapareceu de sua cabeça. A única coisa que podia
fazer era reagir por instinto, mas isso não era suficiente, não
quando o homem a dominava tão facilmente. Ela até tentou
prender a respiração, mas em seu pânico, apenas conseguiu
respirar mais rápido o vapor adocicado que saia do pano.

A visão começando a borrar, a força enfraquecendo, Alex


tentou um último esforço desesperado de se libertar, mas era
tarde demais.

Ela foi pega.

A consciência retornou lentamente, como se sua cabeça


estivesse cheia de algodão e ela estiva lutando contra isso. Não se
lembrava de nada, não no início. Era como se o mundo tivesse
deixado de existir, mesmo que apenas por um curto período de
tempo.

Por alguns momentos preciosos, Alex começou a


acordar, pensando que estava na casa de Luka, mas à
medida que o cheiro pungente de terra a cercava, tudo
350

voltou correndo. O pior era não saber a quanto tempo


estava ali.
Página

Escuridão a cercava por todos os lados. Há algum


tempo ela encontrou conforto no escuro, mas isto a estava
sufocando. Ela tentou sentar-se, mas conseguiu muito
pouco, pois suas mãos entraram em contato com algo
duro logo acima dela e dos lados.

Ela sabia, sem ter que ver que estava em um caixão e pelo
que podia sentir, ele era feito de algum tipo de plástico duro.
Respirando profundamente, tentou não deixar o pânico
novamente chegar até ela. Em vez disso, usou suas mãos,
procurando por qualquer coisa que pudesse ajudá-la. Seus dedos
deslizaram ao redor de algo cilíndrico e quando o agarrou e
apertou o botão na lateral, uma luz amarela apareceu de uma
extremidade à outra.

Com a mão trêmula, ela olhou acima e não conseguiu


impedir o grito de alarme deslizando para fora dela. Alguém a
enterrou viva.

Alcançando acima dela mais uma vez, colocou a sua mão


plana contra a superfície, empurrando com a pouca força que
tinha, o sangue correndo em seus ouvidos quando sentiu ceder.
Soltando a lanterna, usou as duas mãos agora, quase chorando
de alívio quando cedeu ainda mais, mas a esperança que
borbulhou dentro dela foi frustrada quando o topo não ia mais
longe do que um centímetro. Algo, algo que ela não podia ver,
estava impedindo-a de movê-lo mais.

Cada último pedaço de calma que tentou reunir


desapareceu, enquanto o desespero tomava conta dela, quando
empurrou e chutou, sem sapatos, tentando abri-lo. A única coisa
iria conseguir era desmaiar por causa do esforço, mas não
desistiria. Assim não era como iria morrer. No momento em que
preparou um grito de socorro, uma voz falou e a silenciou.

— Eu não lutaria muito, não iria querer que você


desperdiçasse o pouco oxigênio que tem.
351

Cada parte dela se rebelava em seguir esse comando,


mas o lado racional dela sabia que ele estava certo.
Página

Precisava se acalmar e imaginar que se ele estava falando


com ela, não pretendia deixá-la lá em baixo.

… talvez.
Mas talvez fosse tudo o que tinha.

Sua prisão foi empurrada quando alguém chegou acima


dela. Ela não teve que imaginar por muito tempo, enquanto a
camada de terra que pensou ser mais espessa era afastada e um
rosto surgia acima do seu.

Ele não estava franzindo a testa para ela. Não havia


qualquer raiva em seu olhar. Na verdade, ele apenas a olhava
curioso, como se ela fosse algum tipo de experimento que estava
tentando descobrir. Ela não o reconheceu e pelo que podia ver,
ele não tinha as marcas que iria deixá-la saber que era um deles.

Ele estava, no entanto, vestido em um terno, sem jaqueta, as


mangas da camisa enroladas até os cotovelos. Quem quer que ele
fosse, Alex não achava que fosse uma ocorrência aleatória. Vendo
que ele prendeu a atenção dela, sua boca se curvou nos cantos.
Seu sorriso cresceu e o que a confundiu mais foi o fato de que era
genuíno. Ele limpou mais um pouco a terra, dando-lhe uma visão
mais clara do telhado, aquilo era um telhado? Pelo que podia
dizer, ela estava olhando do chão para cima, para um buraco no
outro andar, até que apertou os olhos, tentando ver se estava
correta em seu pensamento.

— Fico feliz em ver que finalmente acordou. Eu temia a tê-la


matado.

Ela estava muito confusa e assustada para formular uma


resposta, mas ele preencheu o silêncio.

— Devo dizer que você é muito mais bonita do que a


última.

Ela não se preocupou em perguntar por que ela estava


352

lá, ouviu em mais de uma ocasião o que aconteceu com


pessoas em famílias como a dela, a única questão era o que
Página

procurava.

— Isso é sobre dinheiro? Meu irmão...


Ele balançou a cabeça antes que ela pudesse terminar. —
Por que as pessoas sempre assumem que é sobre dinheiro?
Alguns de nós, eu em particular, apreciamos as coisas boas da
vida. Angústia me dá muito mais alegria do que dinheiro. — Seu
olhar caiu para seu rosto novamente, seus dedos acariciando o
tampo de vidro como se tocando sua pele.

Desgostosa com a maneira como ele estava olhando para ela,


ela perguntou. — Quem é você?

— Fato, mas duvido que já tenha ouvido falar de mim, já que


eu não faço negócios com os russos.

Fato... esse nome soava estranhamente familiar, mas não


podia lembrar como. Quem era ele, e por que ela estava aqui?

— Então por que estou aqui? O que você quer?

Alex não sabia por que estava tão calma, não apavorada com
o fato de que estava literalmente em uma caixa de vidro com um
louco ajoelhado sobre ela. Não, ela estava com medo, mas o medo
logo a dominaria.

— Conte-me. Quanto você acha que sua vida vale?

— Por favor. — Alex disse. — Diga-me apenas o que você


quer.

Ele suspirou, levantando-se e saindo do buraco.

— Sabe o que eu gostaria? Ouvi-la implorar. Então, vá


em frente. Vamos ouvir isso.

Apenas fora da vista, ele estendeu a mão para uma


353

ferramenta no chão e quando voltou, ela viu que ele estava


segurando uma pá. Quando a primeira camada de terra
Página

desmoronou sobre ela, Alex saltou.

Uma vez, Mishca disse a ela para nunca ceder a


ninguém, mas naquele momento, a única coisa que
queria era sair daquele buraco. Ela não sabia que suas
mãos tremiam até que as levou ao vidro, tentando levantá-lo,
mesmo enquanto falava. — Por favor.

— Desculpe? — Ele colocou a mão na orelha, inclinando-se


para baixo. — Eu não posso ouvi-la.

O desespero tomou conta dela, deixando-a frenética quando


fechou as mãos em punhos, batendo-as contra a sua prisão de
vidro, apesar de que o topo não se mexeu um centímetro.

— Por favor! Posso conseguir o que você quiser! Apenas


deixe-me sair!

Lágrimas ardiam em seus olhos...

Seu coração disparou...

Sua respiração veio em rajadas afiadas...

Mas tão rapidamente quanto o pânico se instalou, ela o


afastou respirando fundo, apertando a boca fechada. Ela ignorou
a dor que floresceu quando mordeu o lábio inferior, impedindo
que saísse outra palavra.

Fazer-lhe uma oferta não estava funcionando, assim como


não estava implorar por sua vida. Se qualquer coisa, o som de
sua mendicância apenas parecia excitá-lo. Fosse qual fosse seu
verdadeiro propósito, não era para ela saber. Impotente para fazer
algo mais, ela olhou enquanto a terra chovendo sobre ela, até que
a escuridão a cercou. Com cada pá, ela se encolheu mais uma
vez.

Ela iria morrer aqui.


354
Página
— Você já conversou com Alex?

Niklaus Volkov ou Klaus se quisesse viver, franziu a testa


para a pessoa do outro lado do telefone, mesmo que este não
pudesse vê-lo. Ele esteve ocupado com o polimento do cano de
uma nova semiautomática que adquiriu para o trabalho que
vinha adiando há meses.

Com o Kingmaker, seu novo executor que se recusou a dar


seu nome a alguém, respirando no seu pescoço para fazê-lo,
estava atrasado e sem desculpas. Mesmo que o trabalho não se
encaixasse com ele, o que era raro em si mesmo, ele já aceitou o
contrato.

— Odeio dizer isso, mas não sou seu guardião. — Ele


murmurou, mais focado em sua tarefa do que em Luka. — Eu
esperaria que você soubesse desde que estão juntos.

Eles não tinham que assumir para que ele soubesse. Era
fácil o suficiente de ler sempre que estavam na mesma sala
juntos.

— Eu liguei, mas ela não atendeu.

— Ainda não tenho certeza do que você quer que eu


faça sobre isso.
355

Ficou claro que Luka estava ficando frustrado com ele.


Página

— Você conhece alguém que sabe.

Isso era verdade. Klaus tinha amigos em todos os


lugares, mas esses amigos tinham um preço.
— Você já está envolvido com o pagamento de uma dívida.
Por que você quer outra? Merda, por que eu iria aceitar outra?

Klaus não entendia lealdade cega. Ele não conseguia


entender como Luka ainda protegia os bastardos que quase
matou os dois. Se ele estivesse no lugar do albanês, teria
entregado Fatos em um piscar de olhos, nem que fosse apenas
para proteger seus próprios interesses.

Um clique soou em seu ouvido. Klaus franziu a testa,


olhando para a tela, lendo o número que estava piscando na tela.
Ele não o reconheceu.

— Segure esse pensamento.

Sem esperar pela resposta de Luka, Klaus respondeu a nova


ligação. — Sim?

— Eu deixei um presente para você.

Franzindo a testa, Klaus tentou reconhecer a voz, certo de


que já a ouviu antes, mas quando ele não conseguiu, deixou para
lá, pelo momento. — Eu não gosto de presentes.

— Você gostará deste.

A pessoa misteriosa na outra extremidade desligou. Klaus,


reconectou a chamada com Luka e levantou-se. Indo até debaixo
da cama, deslizou para fora a caixa que estava lá. Destravando as
fechaduras, ele abriu-a, puxando uma das pistolas de 9 mm.
Klaus não entreteu quem estava ligando. Não gostava de
presentes, nem gostava de surpresas.

— Onde você está?


356

— Por que isso importa?


Página

Ele mal teve tempo para encaixar o silenciador na


extremidade de sua arma quando houve uma batida na
porta. Ele não tinha uma boa sensação sobre quem
estaria no outro lado da mesma. Tomando um
momento para verificar o olho mágico, ele olhou para o homem do
outro lado, esperando até que relaxou sua guarda, antes de abrir
a porta e arrastar o homem para dentro.

Abandonando seu telefone, por enquanto, Klaus deixou-o


cair no chão quando empurrou o homem no chão, o joelho em
seu peito, a arma debaixo de sua mandíbula.

— Quem te mandou?

— Eu...

Com a mão livre, Klaus deu um soco na cara do homem. —


Um nome serve.

— Você não pode...

Klaus passou o dedo no gatilho, o desafio claro em seus


olhos.

— Fato! — Ele correu para dizer.

Se qualquer coisa, o nome apenas o deixou mais irritado. —


Você percebe que ele te mandou aqui para morrer?

Havia um traço de medo em seus olhos, mas havia também


a arrogância de um homem que achava que sabia alguma coisa.
— Você não pode me matar até ouvir o que tenho a dizer.

— Sim? — Perguntou Klaus. — E por que isso?

— Apenas eu sei onde Alex está enterrada.

Merda.
357

Merda.
Página

Agarrando seu telefone no chão, ele manteve o olhar


sobre o homem que agora estava sorrindo para ele.
— Seus albaneses estão com Alex. Venha aqui agora.
Enviarei a você um endereço.

Desligando, Klaus ligou para Mishca. — Nós temos um


problema.

Havia um caos organizado ao redor deles e através de tudo


isso, Klaus era o único a permanecer sensato. Mishca tentou
manter sua raiva contida, mas Klaus podia ver seu cuidadoso
controle se quebrando. E por que não, quando sua irmã estava
enterrada viva em algum lugar? Para não mencionar, que eles
estavam ficando sem tempo. Mas o albanês ainda não cedeu, não
importava o quanto Klaus o fizesse sangrar. Ele já resistiu à
tortura antes, a história estava incorporada em sua carne.

— Onde ela está? — Mishca exigiu, passando uma mão


agitada pelos cabelos.

Mas a questão era discutível, quando Luka irrompeu pela


porta, apenas passando um olhar neles, enquanto se
concentrava unicamente em seu prisioneiro. Agora,
finalmente, eles obtiveram uma reação dele. Era uma
mistura de medo e alegria sombria. Seja qual fosse à tarefa
que lhe foi dada obviamente, tinha mais a ver com Luka do
358

que com Mishca e a Bratva.


Página

Klaus temia saber muito bem sobre o que realmente


era tudo isto. Saindo do caminho da raiva de Luka, ele
observou com antecipação velada como Luka tirou uma
faca do bolso.
— O endereço. — Não era uma pergunta.

— Valon.

Por uma vez, Luka não hesitou ao ouvir o nome, muito


focado em sua tarefa para perceber que seu segredo estava a
apenas alguns segundos de explodir. Ao contrário de Klaus, que
ameaçou o homem, dizendo-lhe exatamente o que faria se ele não
falasse o paradeiro de Alex, Luka agiu imediatamente.

Jogando sua faca sobre a mesa, pegou um serrote, mesmo


quando os olhos do homem se arregalaram de medo, a cabeça
balançando para frente e para trás como se isso pudesse ajudá-
lo. Alinhando os dentes serrilhados em seu pulso, Luka começou
a cortar e não hesitou por um segundo quando cortou, sangue
esguichando, os gritos do homem ecoando na sala. Aqueles que
não podiam tolerar a brutalidade viraram-se, mas nem Klaus nem
Mishca se viraram.

Somente quando a mão do homem caiu no chão, Luka


soltou a serra.

— Fato não quer que ela morra. Caso contrário, ele não teria
lhe enviado. Entregue a mensagem.

Havia lágrimas nos olhos do homem, a sua dor clara. Ele


levou vários minutos para controlar sua respiração antes que ele
pudesse lhe dar uma resposta. — Eu... não sei um endereço.

Luka pegou outro instrumento de tortura, mas não foi


necessário.

— Espere! Fato... Fato disse para lhe dizer que ela


estava onde nossos caminhos se cruzaram.
359

Klaus franziu a testa em confusão, até que Luka


Página

voltou-se para ele com um olhar que lhe dizia exatamente


onde e por que ela estava lá. Estava se tornando evidente
que Fato planejava revelar a todos seus segredos.
— Que porra ele está falando? — Mishca exigiu.

— Ela está na casa. — Klaus forneceu, dirigindo-se já para a


porta.

Mishca cuspiu instruções aos soldados que ainda


permaneciam no local, saindo sem poupar a Luka outro olhar.
Luka, que já se voltou para o albanês, pegou outra ferramenta,
seus movimentos mais medidos agora que tinha mais tempo em
suas mãos. — Ligue-me quando a tiver.

Alex não tinha medo do escuro desde que ela não era mais
uma menina, mas uma vez que este a rodeava tão completamente
quase se sentia cega, ela desejou ter apreciado a luz um pouco
mais. Ela lutou, o melhor que pode para se libertar, mas suas
mãos apenas escorregavam ao longo do vidro. Apesar da dor em
suas mãos, não era forte o suficiente para quebrá-lo.

Então ela gritou até que sua voz ficou rouca, esperando que
alguém, qualquer um, a ouvisse, mas debaixo da terra ela
não tinha voz. Alex não queria chorar, realmente nem
percebeu quando começou, mas com a primeira lágrima,
logo ela estava chorando forte.
360

Era isso.
Página

Era assim que as coisas iriam acabar.

... até que ela ouviu um movimento amortecido


acima dela.
Foi o menor dos sons, mas encheu-a de tal esperança que
tentou gritar novamente, mesmo quando sua voz lhe falhou. Mais
movimento veio e finalmente, a terra se moveu acima dela,
apenas o suficiente para que a luminosidade quase perfurasse a
escuridão que a cobriu por tanto tempo.

Em seguida, uma mão sacudiu outra camada, revelando o


rosto de Mishca. Seu alívio ao vê-la espelhava seu próprio. Ela
estendeu a mão para ele, chorando mais do que alguma vez
chorou em sua vida.

— Eu estou bem aqui. — Disse ele de sua posição acima


dela, colocando as mãos contra o vidro onde a dela descansava.
— Devagar. Respire.

Mas não importava o quanto tentasse arrastar o ar em seus


pulmões, não conseguia o suficiente, a ponto de que sua cabeça
estava confusa e a imagem dele ficava turva.

— Klaus, faça alguma coisa!

Mas ela não teve tempo de ouvir a resposta de Klaus.

Ela já desmaiou novamente.

361
Página
TRINTA E OITO

Casa Segura

— Nós a temos. Estamos na casa segura, você sabe qual. —


Klaus ficou em silêncio por uma batida de coração quando ele
tomou uma respiração. — Ela vai querer vê-lo quando acordar.

Luka terminou a ligação, jogando seu telefone de volta no


bolso, olhando para o homem à sua frente. Ele não o conhecia,
não se lembrava dele de seu tempo em Berat, mas Luka tinha a
certeza que entendeu a gravidade do papel que desempenhou
nisto. Não importava que, como ele disse, apenas acompanhou
Fato e não chegou a colocar um dedo em Alex. Não, isso não
tinha importância para o monstro que o dominou.

— Como ele soube sobre ela? — Perguntou Luka e essa


pergunta o atormentou toda a viagem de volta.

Ninguém, exceto aqueles mais próximos a ele,


poderiam saber que Alex era tudo para ele. Isso apenas
podia significar que era alguém dentro do Bratva. Agora, ele
só queria um nome.
362

— Uma mulher. Isso é tudo que eu sei.


Página

E com isso, Luka tinha a resposta.


— Por favor. — Disse ele, a palavra saindo desordenada
quando Luka puxou e arrancou dele uma porção de dentes, mais
isso foi a menor coisa que ele fez no rosto do homem, para não
mencionar o resto do corpo. — Apenas me mate. Por favor.

Essas palavras lhe teriam agradado há uma hora atrás


quando ele descobriu que Alex foi sequestrada, mas agora elas
não fizeram nada para ele. Com um movimento assim corajoso,
Fato disse-lhe tudo o que estava com muito medo de reconhecer.
Ele estava sem tempo.

Pegando sua lâmina, a mesma que levou para este lugar,


Luka cortou a garganta do homem e foi embora. Com cada passo
que dava, ouvia o relógio soar.

— Pensei que iria te odiar no dia que Anya me disse que


estava grávida. — Mishca começou pensativo quando percebeu
que ela estava acordada.

Enquanto ela lentamente recuperava sua consciência,


percebeu que não estava mais no caixão de vidro, mas em
uma cama que nunca queria deixar. Além da dor de cabeça
e as lembranças da escuridão, não havia outros lembretes
de que ela foi enterrada há pouco tempo.
363

Mishca estava ao seu lado na cama, lembrando-a de


Página

um momento em que eles fizeram isto antes. Antes de


Paris, antes de ele ter seguido os passos de Mikhail...
Aqui, apesar dela não saber por quanto tempo, estava
segura. Movendo-se para que pudesse vê-lo melhor, ela esperou
que ele continuasse.

— Mas no dia em que você nasceu, mesmo que gritasse alto,


eu te amei mais do que eu jamais pensei que poderia amar
alguém. E com essa percepção, sabia que iria protegê-la de tudo,
inclusive da vida que eu acabaria por levar. — Ele olhou para ela
então e apesar do sorriso fraco, havia tristeza em seus olhos. —
Eu falhei com isso.

— Mish...

— Ainda não. — Disse ele com cuidado. — Não quero o seu


perdão. Não até acabar com isso. E mesmo assim... não tenho
certeza se estará disposta a oferecê-lo.

Não tendo a certeza de como responder a tais palavras


graves, Alex mudou de assunto. — Onde está Lauren?

— Casa.

— E ela sabe que eu... — Ela não poderia se obrigar a dizer.

— Não. Se eu lhe tivesse dito, ela teria se preocupado mais


do que o necessário.

— Bom.

O som de gritos desviou sua atenção de Mishca para a porta


fechada. Ela sabia quem estava chegando sem ter que ouvir
sua voz. E com esse conhecimento, seu coração acelerou
mais uma vez. Além de seu irmão, ele era a outra pessoa
que ela precisava desesperadamente ver.
364

Um grito agudo de dor soou do lado de fora da porta e


Página

a voz de Luka, mais alta do que ela alguma vez a ouviu, a


fez sentar-se ereta, já antecipando o momento em que ele
estaria lá ao lado dela. Mishca escorregou para fora da
cama quando a porta se abriu e Luka estava em pé na
entrada com os olhos selvagens. Apesar da companhia
no quarto, ele apenas tinha olhos para ela. Mas não foi apenas ele
que ignorou Mishca, Alex notou. Seu irmão mal poupou a seu
executor um olhar ao deixar o quarto sem um adeus, fechando a
porta ao sair. Apesar da ilusão de privacidade, ela sabia que ele
não iria longe.

Ela estava fora da cama em um instante, praticamente


jogando-se em seus braços enquanto se agarrava a ele. Ela sentiu
a tensão deixá-lo quando seus braços foram ao redor dela e
apertaram, roubando-lhe o fôlego.

— Sinto muito. — Ele sussurrou com seus lábios em seu


ouvido. Ele disse isso novamente mais suave, como se precisasse
dizê-lo novamente para que se tornasse realidade.

Mas não era ele que ela pensava que deveria estar
arrependido. Não era como se fosse culpa dele. E mesmo com os
inimigos que sua família acumulou ao longo dos anos, também
não culpava Mishca. Não, a culpa era exclusivamente da pessoa
que tentou enterrá-la.

Ela estremeceu, pensando novamente na forma como a terra


soou quando bateu em sua prisão temporária, quão pungente a
terra cheirava quanto mais e mais bloqueava os fluxos de luz
solar através do vidro, durante esse curto período de tempo.
Apertando os olhos fechados, ela forçou essas imagens fora de
sua cabeça e tentou se concentrar no presente.

Ela sentiu medo muitas vezes em sua vida, mas nunca como
sentiu naquele momento. O cabelo dele estava molhado,
assim como sua pele, como se ele tivesse recentemente
tomado banho. Ela brevemente contemplou a razão, mas os
pensamentos sobre isso fugiram, quando ele gentilmente se
365

retirou do seu abraço. Ele mal se afastou e como na noite


em que ela destruiu o carro de Mishca, olhou-a a partir do
Página

topo da cabeça até à ponta dos dedos dos pés. Suas mãos
seguiram o caminho de seus olhos, procurando debaixo de
sua camisa até roçar ao longo de seus ombros, ao longo de
seu peito e a parte de baixo de seu estômago.
Ela não notou os machucados em seus pulsos e braços até
que ele se demorou sobre eles.

— Você os viu?

Ela tinha que se lembrar, quando Luka fez essa pergunta,


não estava irritado com ela, porque a maneira assustadoramente
calma como perguntou, fez o medo deslizar por sua coluna
vertebral abaixo. — Foi rápido, mas havia pelo menos dois deles e
ambos tinham máscaras. Sinto muito, eu não...

— Respire. Você está indo bem. Apenas termine.

Mas a maneira como seu corpo endureceu, ela se perguntou


sobre o que teria dito para fazê-lo ter essa reação. Ela não teve a
oportunidade de contar a Mishca o que aconteceu, mas talvez ele
também soubesse que Luka iria tirar isso dela, em seguida, iria
retransmiti-lo a ele.

— Havia uma van branca, mas isso é tudo que eu lembro


porque um deles me bateu e me nocauteou. — Alex olhou para
longe dele, em seguida, tentou não hiperventilar enquanto
pensava sobre estar no caixão. — A próxima coisa que soube, era
que estava em um caixão e eu o podia ouvir de pé lá em cima. Ele
estava segurando algo metálico, a pá penso eu e continuou
batendo-a contra o chão. Toda vez que jogava mais terra sobre
mim, ele me dizia como seria, logo que estivesse completamente
enterrada. Ele não se importava que eu implorasse. Era como se
gostasse.

Então ele silenciou-a, pressionando os seus lábios na


testa dela por um momento, querendo acalmá-la. Ajudou,
mas não sabia por quanto tempo.
366

— Você sabe que vou encontrá-lo, sim?


Página

— Claro, mas não quero que você se machuque por


causa disso. Por minha causa.
— Aleksandra. — Desde que ela o conheceu era a primeira
vez que ele usava o nome inteiro dela. — Eu vou queimar toda
essa porra de cidade, se for preciso.

Ele beijou sua testa, uma promessa em si e em seguida,


beijou-a tão completamente que a deixou sem fôlego. Tão
rapidamente como chegou, estava saindo novamente. — Eu
preciso ir.

Alex não pretendia agarrá-lo tão apertado como ela fez, mas
no momento em que ele disse essas palavras, sua mão agarrou
seu bíceps, praticamente tentando forçá-lo a ficar. — Você não
pode sair.

— Eu tenho que acabar com isto. — Suas mãos se


apertaram em punhos quando disse isso, então de repente
parecia cansado. — Fique e descanse. Ninguém pode chegar até
você aqui.

Sem nenhuma outra escolha, ela balançou a cabeça, vendo-


o sair. Não era por si que ela sentia medo agora, mas pelo homem
que eles estavam indo atrás. Não importava as diferenças
pessoais, entre Luka, Mishca e Klaus, quando se tratava de
vingança, eles estavam todos de acordo.

367

O alívio que Luka sentiu ao ver Alex segura, foi de


Página

curta duração, enquanto sua mente trabalhava com as


possibilidades de como isso poderia ter acontecido e o que
aquilo significava. Mishca e Klaus estavam esperando por
ele no final do corredor, seus rostos cuidadosamente
vazios. Mas Mishca não era tão cuidadoso e Luka viu a única
coisa que esperava nunca mais ver nos olhos do homem.

Suspeita.

Luka ainda não conseguiu ligar todas às peças, mas era


uma certeza que esse acontecimento foi por sua causa. Se eles
quisessem machucar Mishca, poderiam facilmente ter ido atrás
de Lauren. Não Alex, porque apesar de afetar Mishca, isso visava
unicamente Luka.

— Cuidarei disso. — Ele disse simplesmente, continuando e


não se preocupando em explicar mais nada quando o telefone de
Mishca tocou.

Mas quando se dirigia para seu jipe, Klaus estava logo atrás
dele.

— O que fará sobre isso? — Perguntou Klaus.

Fingindo que não o ouviu, Luka continuou andando, mas


Klaus não era um homem a ser ignorado.

— Sobre Fato. O albanês. A pessoa que ajudou a nos ferrar.


Oh e o filho da puta que colocou Alex em um caixão.

Luka se virou tão rápido na sua direção que Klaus quase


colidiu com ele, mas parou a tempo para não bater em suas
costas. Cruzando os braços sobre o peito, ele esperou, sem ser
detido pela ira nos olhos de Luka.

— Acabarei com isso.

Klaus, que nunca pareceu se importar com as escolhas


368

que Luka fez na vida ficou pensativo por um segundo. —


Pode fazê-lo?
Página

Nunca ninguém pensou que ele seria capaz de


prejudicar Fato. Não depois de todos os anos que
passaram juntos. Nem o próprio Luka pensou.
— Era apenas uma questão de tempo para isso acontecer. —
Ele encontrou-se dizendo, enquanto subia no Jipe, ligando o
carro. — Mas eu sabia que apenas poderia fugir por algum tempo.

— Você sabe então, que os russos descobrirão o que você fez.

Ele desejava o contrário, mas sabia disso também. — Isso


também era apenas uma questão de tempo.

Antes de encontrar Fato, no entanto, ele tinha outra parada


para fazer.

369
Página
TRINTA E NOVE

Respire... apenas respire

Luka correu para o prédio, quase quebrando a chave na


ignição quando saiu e se dirigiu para a entrada. Ele não precisava
se preocupar com vigilância de qualquer tipo, não neste bairro.
Isso, pelo menos, era um pequeno favor.

Muito impaciente para esperar o elevador, ele subiu a escada


de dois em dois degraus, até chegar ao quinto andar, empurrando
a pesada porta de metal no final do corredor. Seus dedos
flexionaram quando ele ficou de frente a porta fechada que
apareceu logo à frente, mas antes que pudesse chutar a porta e
colocá-la abaixo do jeito que queria, ele segurou o impulso e
levantou o punho para bater ao invés.

Alguns segundos era tudo o que precisava e quando


Natasha abriu a porta, sorrindo para ele com surpresa, ele
conseguiu esconder sua raiva o melhor que pode. Estava lá,
370

o interesse em seus olhos e mesmo que estivesse irradiando


maldade, ela não se importava. Isso nunca a incomodou
Página

antes.

— Posso entrar?
Ela hesitou, olhando para trás dela, embora ele não
soubesse por que. Se alguém estava lá com ela, não teria
atendido à porta ou pelo menos, não longe o bastante para que
ele pudesse realmente ver por dentro. Olhando de volta para ele,
ela finalmente concordou com a cabeça e deu um passo para o
lado para deixá-lo passar.

Fechando a porta atrás deles, ela permaneceu lá e observou


todos seus movimentos. Ela poderia não saber sobre Alex, não
havia ninguém para lhe dizer, mas ele poderia ver em sua
linguagem corporal que estava nervosa sobre o porquê dele estar
em sua casa. Mesmo se tivesse tido qualquer dúvida quanto à sua
participação nisto, ela se foi agora.

Fingindo facilmente, ele levantou os braços, passando os


dedos pelo cabelo o afastando de seu rosto. A ação puxou a barra
de sua camisa para cima, o suficiente para que o olhar dela
imediatamente fosse para lá. Ele fez isso de propósito,
certificando-se que ela pudesse ver que não estava armado, não
que isso lhe fizesse algum bem, mas teve o efeito desejado. Ela
relaxou um pouco, afastando-se da porta, enquanto se dirigia
para a cozinha, onde ela tinha um copo de vinho sob o balcão.

— Por que você está aqui? — Ela perguntou, tomando um


gole. — Pensei que não me quisesse mais.

E ele ainda não queria. — Precisava vê-la.

— Oh? E Alex está bem com isso?

Foi à coisa errada a dizer e mesmo ela percebeu isso


enquanto seus olhos se arregalaram quando ele circulou o
balcão para chegar até ela. Ela sabiamente deu um passo
atrás, mas não havia nenhum lugar para onde ir com o
371

refrigerador em suas costas.


Página

— Fato. O que ele lhe ofereceu?


Ela balançou a cabeça antes que a resposta saísse de sua
boca, olhando para seus pés. — Eu não sei quem é esse.

— Você me conhece há três anos e nesse tempo, quantas


pessoas vieram até você por minha causa?

— Sim? Mas onde estava sua lealdade ar mim? — Ela


retrucou, virando-o para ela. — Eu lhe dei tudo, mas você virou
as costas para mim no momento em que ela o chamou.

Ele entendia sua dor, até se desculpou com ela, apesar de


não sentir a necessidade de fazê-lo. Porque ela quis isso dele,
mesmo quando não pediu por isso.

Apesar dela tentar se desviar do assunto, ele realmente


queria saber e essa tática não iria funcionar hoje. — O que você
disse a ele?

Ela visivelmente engoliu, encontrando seu olhar. — Ele fez


alguma coisa para você? Ele disse que não iria machucá-lo.

Ela não sabia o que ele fez. Ninguém sabia, mas ela podia
adivinhar e muitas vezes, a imaginação de uma pessoa era pior
do que qualquer história contada.

— Luka, por favor. Nunca poderia ser feliz com ela. — Ela
tentou se explicar.

Luka veio por trás dela, suas mãos deslizando sobre os


ombros, puxando-a de volta contra ele. Ela estava chorando,
pedindo desculpas, relaxando no seu abraço quando pensou
que ele estava tentando confortá-la. Mas a única coisa que
ele podia pensar era como Alex sofreu por causa dela.
372

— Eu avisei uma vez. — Ele sussurrou perto de sua


orelha, seu abraço ficando mais apertado. — Para nunca
Página

me trair.

Ela balbuciou ofegante, enquanto tentava se libertar,


mas Luka era maior e mais forte do que ela. Por um
pouco mais de um minuto, ele a segurou assim, não
soltando até mesmo quando seus braços caíram frouxamente dos
lados e seu corpo ficou mole.

Não, ele esperou até que seus batimentos cardíacos se


desvaneceram em nada, antes de deixá-la em uma cadeira. Mais
uma vez, ele não ficou e esperou que o remorso viesse acertá-lo.
Ele tinha mais alguém para ver.

373
Página
QUARENTA

Partida não dita

Ele estava segurando-a muito apertado.

Depois do encontro com Natasha e uma conversa com Fato


que não correu bem, Luka não queria nada mais do que passar
todos os momentos que podia com Alex. Eles permaneceram na
casa segura, que era o único lugar onde ele poderia garantir sua
segurança. Quando atravessou as portas, os homens deram-lhe
um amplo espaço e olhares questionadores, ele foi imediatamente
ao quarto de Alex, verificando para certificar-se de que ela estava
onde a deixou. Ela estava dormindo profundamente e ficou assim
mesmo depois que ele tomou banho e se vestiu, escorregando na
cama ao lado dela.

Luka foi cuidadoso ao deslizar o braço ao redor dela,


puxando-a para mais perto dele. Logo, ela se virou,
colocando a mão sobre seu coração, suspirando em seu
sono, como se o simples ato lhe trouxesse paz. Ele estava
exausto porque fez de tudo para acabar com Fato e os
374

outros albaneses. Mas era apenas um homem tentando


lutar uma batalha que não tinha nenhuma esperança de
Página

ganhar e finalmente estava pronto e disposto a aceitar isso.

Será que ele queria desistir?


Tudo dentro dele se rebelou contra a ideia de nunca mais ver
Alex novamente, nunca mais ver o jeito que ela sorria para ele
quando a fazia rir, a emoção naqueles grandes olhos quando
estava realmente feliz. Agora que ele finalmente conseguiu alguém
para chamar de seu, alguém novamente o fez acreditar que tinha
que abrir mão.

E ele o faria, se isso significasse mantê-la segura. Ele


conhecia os riscos. Mais do que qualquer outra coisa, ela era sua
fraqueza. Fato explorou isso e ele iria continuar a fazê-lo até Luka
ceder. Este era o jeito que ele gostava de jogar.

A vida é feita de escolhas, Fato disse a ele por telefone, uma


provocação destinada a ficar sob sua pele. E ficou. As palavras se
afundavam em sua mente e ficavam lá constantemente passando
mais e mais em sua cabeça. Ele podia ficar ali, revelar a verdade
a Alex, arriscar suas chances com o chefe da Bratva e esperar
pelo melhor. Mas se fosse por esse caminho, Fato não iria atrás
dele. Não iria nem mesmo começar a guerra contra a Bratva. Ele
iria apenas encontrar uma maneira de chegar a Alex, não
importava onde ela fosse, não importava quem estivesse lá para
protegê-la. Então, apenas porque ele queria, iria atrás de Lauren,
talvez machucá-la ou o bebe por nascer.

Ou…

Luka podia fazer o que deveria ter feito anos atrás. Entregar-
se aos albaneses e fazer o que fazia melhor. Lutar para sair e
sobreviver. Claro, se Fato pensasse que Luka faria essa escolha,
ele não iria se contentar. Não, ele tinha que sentir como se
tivesse vencido, como se tivesse superado Luka, que era
algo que nunca foi capaz de fazer desde que eram crianças.
Nesse momento ele tinha muita ganância e inveja dentro de
375

seu coração. Apenas não sabia como não percebeu isso


antes.
Página

A única coisa que poderia fazer agora, era perder de


bom grado, porque não era sobre ele, nem mesmo a
Bratva ou o que ele fez com Klaus há tantos anos, era
sobre como manter essa garota segura e longe do mal.

Mesmo que Luka fosse esse mal. Muito em breve, ele


perderia tudo.

Durante os próximos três dias, não havia nada além de


silêncio no rádio. Mishca desapareceu com Klaus, deixando Luka
vigiando Alex. Enquanto estava curioso sobre onde eles foram,
não se preocupou em saber mais, não quando poderia ficar mais
um tempinho com Alex.

Ela estava se recuperando muito bem. Ela parecia não ter


qualquer trauma persistente sobre ser enterrada viva, mas Luka
observava-a assim mesmo à espera de algum sinal de que estava
prestes a quebrar. Ele a manteve ocupada com lembretes de sua
próxima audição e desde que era no dia seguinte, pensou que
seria melhor se eles passassem sua última noite juntos do lado de
fora da casa segura.

— Vamos voltar para minha casa. — Disse ele


embalando até à última das coisas dela. — Diga-me, como
você conseguiu acumular tanta coisa se apenas esteve aqui
por alguns dias?
376

Alex fez uma careta, abotoando a calça jeans enquanto


calçava seus sapatos. — Não esqueça que foi você que
Página

trouxe tudo.

Ah, sim.
— E estou bem com ficar por aqui.

Luka não queria revelar muito, sabendo que ela poderia lê-lo
melhor do que ninguém.

— Não podemos foder aqui, tem muitas pessoas ouvindo. —


Ele sorriu embora soasse falso. — A menos que não tenha
problemas com isso.

— De qualquer maneira. —Ela respondeu com um aceno de


mão. — Vamos sair daqui. Além disso, acho que Loki sente minha
falta.

Luka hesitou por um momento, pegando sua mochila e a


colocando sobre o ombro. — Sim, ele sente. Você cuidará dele se
eu não estiver por perto?

— Por que você não estaria por perto?

— Responda-me.

Ela olhava para ele e pode ver as diferentes emoções


passando em seu rosto. Medo. Suspeita.

— Claro, que eu cuidaria. Você o ama e eu... o amo também.

Ele sabia o que ela esteve prestes a dizer e gostava tanto,


tanto que o entristecia.

Limpando a garganta, Luka olhou para outro lado. — Vamos


sair daqui.

A viagem da casa segura até a casa de Luka foi


bastante longa desde que ele tomou medidas preventivas
para garantir que ninguém os seguisse. Loki estava
377

esperando por eles, logo que abriram a porta. Ele foi


primeiro para Alex, mostrando-lhe todo o amor que sentia
Página

por ela.

Ver os dois juntos disse a Luka tudo o que precisava


saber. Quando ele fosse embora, Loki estaria em boas
mãos. Com um último afago nas orelhas de Loki, Alex
ficou de pé, olhando para Luka com uma expressão que não
poderia confundir. — Acho que você me prometeu algo, Luka.

Rindo, ele a levou até seu quarto e deu-lhe exatamente o que


ela queria. Por horas, a saboreou, querendo lembrar tudo sobre
esta noite, querendo marcar um pedaço dela em si mesmo. Ele
precisava disso. Porque poderia não ter mais isso em breve.

Por um longo tempo, Luka ficou acordado e Alex adormeceu


ao seu lado, manteve o braço ao redor dele apertado, mesmo
durante o sono, como se tivesse medo que ele escapasse no meio
da noite.

Depois desta noite, ele sabia que estava ficando sem tempo.
Fato sempre foi propenso a um comportamento imprudente, mas
o que ele fez foi longe demais. Estava determinado a se certificar
de que Luka soubesse que não iria embora tranquilamente.

Deitado no silêncio de sua casa, Luka também sabia que era


o momento de pagar por seus pecados. Ele se mexeu, trazendo
Alex mais perto, se isso fosse possível, uma mão passando nas
finas mechas de seu cabelo. Apreciando-a por quanto tempo
pudesse, porque sabia, com cada parte de seu ser, que está
poderia ser a última vez que seria capaz de fazer isso.

Embora não conseguisse distinguir as características de seu


rosto na escuridão do quarto, ele olhou para ela, mapeando-a
com seus dedos. Estava feliz com a paz que finalmente foi capaz
de encontrar. A paz que, em última instância ele foi capaz de
ajudar a dar-lhe. Se não houvesse mais nada que pudesse
levar com ele, algo que foi feito sem esperar nada em troca,
fez finalmente o bem.

Eu te amo Alex e não digo isso para me dizer de volta.


378

Digo para que você saiba no caso de nunca ter a


oportunidade de lhe dizer.
Página

Mas ele ainda não conseguia dizer as palavras em voz


alta, não porque estivesse com medo, mas porque temia
que não tivesse tempo suficiente para lhe mostrar que realmente
queria dizer isso.

No final da noite ou nas primeiras horas da manhã, Alex


acordou, rolando lentamente e abrindo os olhos. Luka ainda
estava de costas, seu peito subindo e descendo a cada respiração
que ele tomava, mas havia uma tensão dentro dele que o sono
não afastava.

Agora mais do que nunca, sabia que algo o perturbava e


estava corroendo-o. Ela não podia deixar de notar que ele a
estava inundando com mais carinho do que o habitual, não que
já não o fizesse. Luka não sussurrava coisas doces. Ele não ficava
constantemente anunciando seu amor, mas Alex não duvidava de
seu amor por ela. Ela o sentia em tudo o que ele fazia. Pela
maneira como fazia o jantar, sempre tentando novas receitas
apenas para impressioná-la. Depois, havia a maneira como ouvia
tudo o que ela dizia, de uma forma que não a fazia duvidar de que
realmente ouvia o que ela estava dizendo.

Mas mais do que tudo isso, eram suas noites juntos.


Não importava se ela adormecesse antes dele, ele iria se
deitar tomando cuidado para não machucá-la enquanto ele
379

rolava até ficar em suas costas, o seu braço a envolvendo.


Ele passava a mão por baixo de qualquer camisa que ela
Página

vestisse e as pontas dos dedos ficavam acariciando seu


estômago até que ela reagisse.

Ela podia não saber com certeza, porque ele não


estava disposto a compartilhar, mas não podia evitar
sentir que algo ruim, algo pior do que ser enterrada viva, estava
vindo em sua direção.

380
Página
QUARENTA E UM

Escolhas

— O que está errado?

Ele tentou. Deus. Era tão óbvio como tentou forçar um


sorriso para fazê-la se sentir melhor, mas agora era muito fácil
para ela ler as emoções que ele tentou esconder. Desde que foi
enterrada naquele armazém, as coisas só pioraram com ele, mas
não de uma forma que ela compreendia totalmente.

Era óbvio que ele se sentia culpado pelo que aconteceu com
ela. Não importava quantas vezes dissesse que não era culpa dele,
ele aceitava sua palavra, mas não parecia ficar melhor. A maioria
dos dias ele ficava mais tempo fora do que em casa. Ela tentou
não fazer um grande negócio sobre isso, considerando que não
queria sufocá-lo, mas estava começando a sentir como se ele
estivesse se afastando dela e não sabia como impedir.

— Você não deveria estar se arrumando? — Ele


perguntou, sem olhar para ela. — Não quero que você se
381

atrase.

Era óbvio que ele estava evitando a pergunta, mas ela


Página

se recusou a deixar isso de lado. — Luka, fale comigo.

Mas ele a ignorou, indo até a pequena caixa no canto


de seu quarto, puxando uma arma e uma revista. Isso
não fez nada para fazê-la se sentir melhor. Qualquer um que
dissesse que os cães não podiam discernir a emoção humana,
obviamente, nunca passou algum tempo ao redor de um.

Quando Luka colocou a revista no lugar, colocando a arma


na parte baixa das costas, ela praticamente podia sentir o olhar
de sondagem de Loki sobre ele, como se também ele soubesse que
desta vez era diferente. Quando ele foi para a porta, Loki, seu
companheiro sempre leal, tentou ir atrás dele.

Luka balançou a cabeça uma vez, uma ordem silenciosa


para Loki ficar, mas ele não o fez. Agachando-se, Luka chegou até
ele, alisando a mão sobre o seu pelo na parte superior da cabeça.
Partiu seu coração ver os dois dessa forma. Não importava que
nada fosse dito, ela podia sentir a mudança neles.

— Você cuidará dela, verdade? — Luka sussurrou tão baixo


que ela quase não o ouviu.

— E qualquer um que lhe fizer alguma merda, tem a minha


permissão para arrancar um pedaço de sua bunda, sim?

Ele se levantou novamente, pronto para sair mais uma vez,


mas Loki lamentou, dando um passo em sua direção.

— Fique. — O comando fez até Alex saltar. — Você não pode


ir comigo desta vez.

Pelo que ele disse a ela, Alex sabia que Loki foi sua única
companhia durante os últimos anos. Do jeito que ele estava
falando... como se ele pensasse que nunca voltaria...

— Luka...
382

— Vamos.
Página

Sem muita escolha, Alex pegou sua bolsa e seguiu


atrás dele.

Enquanto iam juntos para o estúdio no coração de


Chelsea, Alex alcançou entre eles, pegando sua mão e
segurando-a como uma tábua de salvação. Quando chegaram e
Luka estacionou seu jipe, ela se sentou com ele, soltando o cinto
de segurança para melhor enfrenta-lo.

— Você não está planejando nada muito louco, não é?


Estará aqui quando eu sair?

Luka olhou para frente, os seus olhos seguindo a linha de


carros que passavam de perto. — Isto... toda esta merda com os
albaneses... no momento que você sair daqui. — Ele apontou para
o edifício à sua direita — Estará acabado. Você estará segura.
Isso eu posso prometer-lhe.

— Luka...

Ele a cortou com um beijo, um que poderia ter feito os dedos


dos seus pés torcerem, se não fosse por sua conversa... ou a falta
dela.

— Será ótimo.

Ela queria ficar com ele, mas ele já estava se afastando dela.
Suspirando Alex saiu, fechando a porta atrás dela. Ela se virou
para olhar para trás, antes que ele pudesse ir.

— Tenha cuidado, Luka.

Ela esperou na calçada até que ele se foi e seu Jipe


desapareceu no mar de outros carros.

383
Página
Luka estacionou fora do velho tríplex, reclinando para trás
contra o assento e ignorando seu telefone celular vibrando ao
lado dele, no banco do passageiro vazio. Seu tempo acabou e
aceitou isso, mas não iria cair sozinho.

Alcançando no assento, ele tirou outra Glock, clicando fora a


trava de segurança. Ele não tinha munições suficientes para
atirar em todo mundo e não sabia quantas pessoas estavam
atualmente na casa, mas tinha o suficiente para o que precisava.

Antes de sair, ele pensou em Alex, seu sorriso, sua


gargalhada, deixando a imagem dela acalmá-lo. Se ele pudesse
escolher, então, essa seria a última imagem na qual pensaria
antes de morrer. Pulando para fora, Luka respirou calmamente,
deixando o eco dos batimentos cardíacos em seus ouvidos guiá-lo
enquanto se dirigia para a porta. Tocando a campainha, ele
esperou um segundo, outro, então recuou e chutou-a aberta,
surpreendendo o homem que vinha pelo corredor. Dois tiros no
peito tombaram-no, fazendo os restantes homens gritarem de
surpresa, ouvindo-se o som de pés correndo.

Ele disparou mais duas vezes antes que devolvessem o fogo.


Esquivando-se atrás de um canto, ele contou cada tiro, esperando
por uma pausa nos tiros antes de se inclinar para fora,
disparando mais rodadas.

Ele foi para trás e para frente, até que teve que soltar sua
arma, puxando a outra livre do coldre em suas costas. Desta vez,
ele não ficou escondido, mas corajosamente aproximou-se dos
outros, atirando em tantos quanto pudesse até a arma ficar
vazia.

Em seguida, ele apenas confiou na força bruta.


384

Batendo em um, ele caiu com um soco, seu corpo indo para
o chão, mas mais estavam sobre ele, arrastando-o para
Página

longe e batendo-lhe com a coronha de uma arma. Seu rosto


explodiu com dor, mas isso apenas o fez rir quando lutou
de volta, chutando para fora um pé para bater o homem
na virilha.
— Apenas mate-o! — Alguém gritou.

Por fim, a única coisa que Luka estava esperando. Ele não
podia derrubar todos, sabia isso antes de ir ali, mas se quisesse
as pessoas que amava seguras, tinha que entregar-se aos
albaneses... e não iria para baixo sem uma luta.

E toda luta, geralmente, acabava com alguém morto. Se ele


estivesse morto, não haveria razão para Fato e os outros
permanecerem em Nova York. Alguém brandiu uma arma e Luka
não se incomodou em olhar para o rosto do homem que iria matá-
lo. Ele não se importava.

— Espere!

Luka ficou tenso com o som da voz de Fato, levantando a


cabeça para obter uma visão dele. Quando ele entrou na sala, ele
se moveu vagarosamente, como se tivesse todo o tempo do
mundo.

... como se ele soubesse que Luka estava chegando.

— Isto é forma de tratar um velho amigo? — Ele perguntou


balançando a cabeça, parecendo decepcionado com as ações de
Luka.

Ele levantou o telefone de Luka para ele ver, dando-lhe uma


pequena sacudida. Quase, como se ela pudesse sentir o problema
em que estava, o telefone começou a vibrar novamente com o
nome de Alex aparecendo.

Balançando a cabeça, Fato silenciou a ligação. —


Conte-me. Quem está lá para proteger sua bonequinha
agora que você está aqui comigo? Poderia haver homens
385

esperando por ela fora desse estúdio agora mesmo...


Página

Quando Luka empurrou em direção a ele, vários pares


de mãos agarraram-no, forçando-o de joelhos.
— O que você quer, Fato? Por que não me mata e acaba com
isto!

— Eu não quero que você morra. Quero que você viva.


Quantas vezes ofereci-lhe um lugar ao meu lado? Tudo será
perdoado... eventualmente.

— Eu não quero isso.

Fato franziu a testa. — Você prefere entregar sua vida para


esses russos? O que eles deram a você que eu não dei? Que eu
não darei?

— Tudo.

— Tudo bem. — Ele tirou sua própria arma e encostou-a na


testa de Luka. — Então pode morrer como deseja e depois que eu
acabar com você, terei sua putinha morta também, mas não
antes de fodê-la até sangrar.

Luka não perdeu seu temperamento. Não havia nenhum


ponto. — O que você quer Fato?

— Se você não quer governar ao meu lado irmão, então pode


responder pelo que você fez contra a Organização.

Luka zombou. — Mishca não...

— Mishca? O russo que você tanto protege, vendeu-o. Como


você acha que eu sabia que iria escolher hoje para atacar contra
mim? Mesmo sem seus atos frívolos, sou livre para arrastar
seu traseiro de volta à Albânia e não há nada que você
possa fazer para me impedir.
386

As palavras falharam quando Fato falou. Não podia ser


verdade. Não depois de tudo...
Página

— Ele não faria isso.


— Não? — Fato parecia muito feliz quando puxou outro
telefone do bolso, clicando em alguns botões, antes que o som da
voz de Mishca enchesse a sala.

— Ele fez tudo isso? — Perguntou Mishca.

— Por que eu iria mentir? — Fato perguntou. — Se uma parte


de você não acreditasse em mim, duvido que ainda estivesse
sentado aqui comigo, não?

— E você quer que eu o entregue para você. Por que eu não


ficaria com ele? Tê-lo respondendo pelo que ele fez com meu irmão?

— Porque, Russo, apenas eu sei o que pode realmente quebrá-


lo. Você não entende. Valon pode resistir amais dura das torturas e
nada do que você possa pensar irá machucá-lo da maneira que eu
posso... da forma que estar em casa, em Berat irá. Isto, também,
você sabe.

Mishca ficou em silêncio por algum tempo, então disse. — Ele


não irá embora sem uma luta e eu duvido que irá sem primeiro
revidar contra você pelo que você fez com minha irmã.

— Ela nunca foi prejudicada... não realmente. Mas você lutou


contra uma série de meus homens, você e seu mercenário. Acredito
que tudo é perdoado nessa frente?

Mishca pareceu ignorar isso. — Daqui a dois dias, minha irmã


terá uma audição. Suspeito que Luka irá para você, então. Essa é a
sua única chance de levá-lo vivo. Mas, antes de sair com ele,
preciso ouvir as palavras de sua boca. Traga-o para mim.
Depois que ele me disser o que quero ouvir, você pode fazer o
que quiser.
387

A gravação terminou, Fato olhou para Luka


presunçosamente. — A lealdade é difícil de manter, não é?
Página

— Mesmo se você me levar, não há nenhuma garantia


de que qualquer um deles estará seguro.
Fato encolheu os ombros. — Verdade. Parece que seu Russo
não conseguiu se lembrar disso.

Luka olhou para ele, certificando-se de que Fato podia ver o


quão sério ele estava. — Isto não é sobre ele. Isto é sobre mim.
Você quer me levar? Você, mais do que ninguém, sabe do que eu
sou capaz e juro, não irei facilitar. — Luka lambeu os lábios. —
Mas... dê-me o que eu quero e irei com você... de boa vontade.

— O que, exatamente, você quer?

— Primeiro, ninguém afiliado com a Bratva será ferido por


você. Especialmente Alex.

— Você não pode pens...

— Concorda ou não.?

— Tudo bem. Concordo.

— E eu falo com Alex. Não Mishca.

— Você quer que ela saiba como tentou matar seu irmão?
Claro, por todos os meios.

Não, ele queria que ela soubesse a verdade. Mesmo que ele
achasse que ela não fosse capaz de lidar com isso.

388
Página
QUARENTA E DOIS

Círculo completo

Alex estava em pânico.

Não importava que todos parecessem estar no limite, mesmo


Mishca que raramente ficava esgotado. Fosse o que fosse,
duvidava que terminasse com o que aconteceu com ela. Ela sabia
que algo sério estava acontecendo, apenas por causa do fato como
Mishca chamou Celt, um amigo de Klaus, que trabalhou como
mercenário. Ele parecia bom o suficiente, seu sotaque irlandês
uma delícia de ouvir, mas Alex estava mais preocupada com Luka
do que com o que estava acontecendo ali.

Ele não atendeu o celular e ela ligou dezenas de vezes depois


de sua audição. Ela estava tão animada, especialmente quando
lhe pediram para voltar para outra performance. Ele disse a ela
no início da semana que iria passar por lá e pegá-la depois,
sairiam para comemorar, sem importar qual a resposta que
ela tivesse. Esta manhã, no entanto, ele não mencionou
nada sobre isso. Ela notou como ele parecia fechado dentro
389

de si mesmo, mas finalmente aceitou sua palavra de que ele


estava bem. Agora desejava tê-lo pressionado.
Página

Os homens foram para o lado, longe o suficiente, no


escritório de Mishca onde Lauren e ela não podiam ouvi-
los. Estavam sentados juntos e Lauren estava esfregando
sua barriga muito inchada. Ela parecia preocupada,
seu olhar focado em seu marido do outro lado da sala. Se ele não
disse a ela, então não havia nenhuma possibilidade de que
conseguiria alguma informação dele.

E pior, em seu interior, ela sentia que o que quer que


estivesse acontecendo tinha algo a ver com Luka. Procurando
através de seus contatos, ela clicou o nome de Luka, levando o
celular no seu ouvido e ouvindo-o tocar. E tocar. E tocar. Quando
ele ainda não atendeu, desta vez ela deixou uma mensagem de
voz.

Talvez isso o levasse a chamá-la de volta mais cedo.

O som do celular de Mishca tocando cortou o silêncio na


sala. A partir do momento em que ele atendeu a ligação, Alex
estava olhando para ele, esperando por algum sinal de com quem
ele estava falando. Ele sempre tinha determinado tom quando
algo o incomodava. Esse tique começava em sua mandíbula
enquanto apertava os dentes. O que quer que a pessoa do outro
lado da linha estivesse dizendo, Mishca não gostou muito.

Por um segundo, Mishca ficou tranquilo e então seus olhos


cortaram para Alex e ficaram lá. — Traga-o para mim.

Seu estômago caiu no chão. — Isso era sobre Luka? — Ela


perguntou antes mesmo que ele pudesse desligar o telefone.

Ele não respondeu, abrindo uma das gavetas e pegando a


nove milímetros que guardava dentro, verificando a trava. Agora,
era Lauren, que estava lutando para ficar de pé, olhando para o
marido alarmada. — Mish, o que está acontecendo?

O homem em questão olhou para Klaus. — Leve-a


daqui.
390

Lauren, que nunca esteve bem em receber ordens,


Página

olhou para Klaus. — Toque-me e farei você se arrepender.

Mas Alex ainda estava focada em seu irmão,


percebendo exatamente o que ele não estava dizendo a
ela. — Trata-se de Luka, não é isso? — Não era uma pergunta.

— Alex...

— O que você fará? — Ela perguntou, tornando-se muito


consciente do enorme poder de fogo e o nível de especialistas
presentes na sala. — O que ele fez?

Mishca não ofereceu uma explicação, mas Klaus sim... a


última pessoa que ela esperava. — Há muita de merda que você
não sabe sobre esse albanês.

— Como seu nome ser Valon? Ele me disse. Ele contou-me.

Choque atravessou seu rosto por um segundo, seus lábios se


separaram, embora nenhuma palavra saísse. Estranhamente, ele
tocou o peito, esfregando por cima do ombro, mas uma vez que
percebeu o que estava fazendo, deixou cair sua mão.

— O que quer que ele disse para você, provavelmente não foi
tudo.

— Se eu tiver que arrastá-la para fora daqui. — Disse ele


com um movimento de cabeça na direção de Lauren. — Então
que assim seja.

Ele tentou agarrar-lhe o braço, os dedos mal tocando sua


pele, antes que ela batesse em sua mão e desse um passo atrás.

— Que porra está acontecendo!

Mas tudo o que ela poderia ter conseguido se perdeu


porque houve uma alta comoção na sala da frente. Antes
que alguém pudesse impedi-la, Alex estava fora da sala,
391

ignorando Mishca quando ele gritou seu nome.

Até que ela se encolheu, vendo o homem que, ficou


Página

acima dela enquanto a enterrava viva. Havia uma ponta de


medo ao vê-lo, mas sabia que Mishca e Klaus e até mesmo
Celt, não iriam deixá-lo fazer mais nada com ela.
Não, foi a visão de Luka ao lado dele, que roubou o ar de
seus pulmões. Algo sobre a expressão de Luka a preocupou,
apesar das armas apontadas para ele, a maioria delas, fuzis. Era
tanto reconfortante e preocupante, que eles o temessem tanto que
precisavam ter certeza de que não pudesse piscar sem o dedo de
alguém contrair-se no gatilho.

Seu rosto estava machucado em alguns lugares, ao longo de


suas bochechas e na parte inferior de sua mandíbula, mas isso
não era nada em comparação com alguns dos outros que estavam
atrás dele. De alguma forma, eles o superaram, mas era óbvio que
ele não deixou fácil para eles.

No súbito aparecimento de Alex, um dos homens voltou sua


arma para ela, gritando algo para ela que não entendeu. Antes
que ela pudesse registrar a ameaça, no entanto, Luka jogou o
cotovelo para trás, acertando o homem no olho, desarmando-o
tão facilmente, como se fosse uma segunda natureza.

Agora no controle da arma, apontou-a para baixo na testa do


homem. — Ela não.

Sua atitude não a confundiu. Foi o fato de que todo mundo


apenas assistiu o que aconteceu. Por que não tentaram pará-lo?
Se ele era seu prisioneiro, por que ele se movia tão livremente?

Tudo sobre isto estava errado...

Havia alguma coisa acontecendo, um quadro maior que ela


não estava percebendo.

— Vamos Valon. Ninguém tocará no seu animal de


estimação. Nós sabemos o quanto você gosta de loiras.
392

— Fato. — Disse Mishca avançando, Klaus ao seu


lado. — Você veio aqui por uma razão.
Página

Pela maneira que Klaus estava olhando para o


homem, ficou claro que ele o conhecia, mas de onde, Alex
não sabia. Parecia que a única pessoa que estava perdida
quanto ao que este homem realmente era, era ela. Alex
foi atingida por uma lembrança, uma dela e de Luka, de volta a
sua casa, durante uma de suas conversas tarde da noite quando
ele revelou pedaços de seu passado para ela. Fato era meu melhor
amigo, ele disse, mas ele não era quem eu pensava que ele era.

Não…

Não podia ser...

Mas quando ela olhou para Luka, seu olhar agora nela, ele
sabia o que ela estava pensando e a resposta à sua pergunta era
sim.

Seu melhor amigo a enterrou viva.

E quando ele viu a realização nublando os olhos dela, olhou


com remorso, uma emoção que ela achava que nunca viu nele,
nem mesmo quando apareceu coberto pelo sangue de outra
pessoa.

— Luka, o que está acontecendo?

Fato, que estava olhando para trás e para frente entre eles,
seu cenho cada vez mais franzido, respondeu antes que Luka
pudesse. — Tal como acordado, pode questioná-lo, Volkov, antes
de o tirarmos de suas mãos.

Então Mishca sabia sobre isso? Os ajudou ativamente?

— Conte-me. — Disse Mishca, direto a Luka.

Apenas que não foi para ele ou realmente nenhuma


outra pessoa que Luka dirigiu sua resposta. Não, ele
explicou-se para a única pessoa na sala, que ele queria que
393

soubesse a verdade.

— Seis anos atrás, foi-me oferecido um emprego. Vir a


Página

Nova York, raptar o filho de Mikhail Volkov, torturá-lo e


depois matá-lo se ele não me desse a informação que
queria. — Ele disse isso tudo sem piscar, sem hesitação,
como se estivesse meramente recitando uma lista que
memorizou. — O problema foi, nós não pegamos o Volkov certo.
Klaus e uma garota, Sarah, vieram para Nova York. Lugar errado.
Momento errado.

Alex estava ciente de que ela estava tremendo, mas não se


sentia ligada a si mesma. Isso estava acontecendo, realmente
acontecendo e ninguém parecia surpreso com o que ele dizia.
Talvez Lauren, mas Alex não iria se virar para ver. Até o momento
em que ele terminasse de falar, ela daria a Luka sua total
atenção.

— Passei três dias torturando-o. Fiz tudo o que sabia para


fazê-lo falar, mas ele não o fez. Recusou-se, na verdade, disse que
não era quem nós pensamos que era. Acontece que ele estava
certo, mas eu não me incomodei em verificar a verdade, até
depois que Jetmir Besnik colocou fogo em sua namorada.

Mesmo Alex se encolheu com isso, tornando-se consciente


de quão tenso Klaus ficou.

— Suas estrelas estavam faltando. Era a coisa mais fácil de


verificar, mas eu não olhei até depois e então, o estrago estava
feito. Ele estava quase morto, mas no final, era inocente. Então,
eu fiz uma ligação para um dos homens de Mishca.

Agora, para isso, Mishca e Klaus olharam para Luka usando


expressões correspondentes de surpresa. Isto, aparentemente, era
algo que nenhum deles sabia.

— Ele sobreviveu. Eu matei algumas pessoas...

— Você matou dezenove dos nossos homens. — Fato


interrompeu fazendo uma careta.
394

— E eu deixei tudo para trás. Qualquer pessoa que


soubesse de mim morreu naquele dia, com exceção de
Página

Jetmir e Fato.

— Seis anos atrás. — Disse Alex, finalmente


encontrando sua voz. — Eu o conheci há seis anos. Você
era... então depois de tudo o que fez, você veio... não entendo.

E ela não entendia. Por que iria ele voluntariamente até eles,
de todas as pessoas, aceitar um emprego, trabalhar seu caminho
em seus meios, se sabia que se algum deles descobrisse a
verdade, ele seria morto?

— No começo, ninguém olhava para mim. Eles teriam


deixado enterrado, mas eu matei Bastian no ano passado.

Ela lembrou-se desse nome, se lembrou do que ele disse a


ela de sua antiga... bem, ela realmente não sabia como chamá-lo.
Foi na noite anterior em que ela foi para Anya, quando eles
estavam fora fumando um cigarro e sangue cobria as mãos dele.

Protegê-la lhe custou...

— Uma vez foi perdoado, duas vezes me custou uma dívida


de sangue. — Sua boca ainda estava aberta, como se ele estivesse
tentando encontrar as palavras, algum tipo de explicação para
dar a ela, mas no final, ele apenas disse. — Sinto muito.

Essas duas palavras, mais do que qualquer outra coisa que


ele acabou de revelar a ela, partiram seu coração.

— Agora você tem o que você queria Volkov. — Fato falou. —


Ele é nosso.

Alex tentou ir para Luka, precisando tocá-lo, certificar-se


que isto realmente estava acontecendo, mas Celt agarrou a parte
de trás de sua camisa antes que ela pudesse.

— Deixe-a ir. — Mishca e Luka, ambos disseram ao


mesmo tempo, mas havia apenas uma pessoa que Celt
395

realmente ouviu.
Página

— Sim. — Disse Fato como se tudo isso fosse um


grande evento divertido para ele. — Deixe-os ter seu
momento.
Ela não deu atenção a nenhum deles quando atravessou o
chão, as mãos se fechando na frente da camisa ensanguentada de
Luka enquanto ela se segurava nele, com medo de soltar. Ela viu
tudo o que ele não poderia dizer para qualquer um ver e não se
importava com nada ao redor deles. Porque Mishca iria corrigir
isso. Se ele soubesse o que ela sentia por ele, o que ele significava
para ela, então ele não deixaria isso acontecer com Luka.

Ela não percebeu que estava chorando até que ele deu um
beijo duro em seus lábios e se afastou apenas o suficiente para
que ela pudesse ouvi-lo dizer. — Não chore por mim. Nunca chore
por mim.

— Por favor, não...

Mas ele silenciou-a com outro beijo e este disse-lhe o que o


outro não tinha. Ele sabia que isto era um adeus e não iria lutar.

— Tudo bem, isso é o suficiente.

Fatos gesticulou para um dos seus homens agarrar Luka,


forçando-o para trás. Ela sabia, logo que seus olhos foram para
Fato e depois de volta para ela, o que ele iria dizer e ela não podia
lidar com isso. — Não diga adeus.

Luka balançou a cabeça, quando Fato sorriu.

— Não diga isso!

— Au revoir, Alex.

— É hora de ir. Foi um prazer fazer negócios com você,


Volkov. Espero nunca mais vê-lo novamente.
396

Quando dois dos homens agarraram Luka, um de cada


lado, ambas Lauren e Alex fizeram um som de protesto,
Página

mas Alex já estava tentando ir atrás deles, um braço em


volta da sua cintura impedindo-a.

Ela gritou com tudo o que estava dentro dela, lutou


tão duro quanto pode, mas não poderia impedi-los de
levá-lo deste lugar. Nem mesmo depois de terem fechado a porta,
a pessoa contendo-a a deixou ir. Não, eles esperaram pelo menos
um minuto antes de soltá-la e no momento em que ficou livre, ela
se virou, seu punho já voando antes que concluísse a volta. A
força por trás do seu soco obrigou Klaus a dar um passo para
trás, mas ele se recuperou rápido e não parecia irritado por ela
ter batido nele.

Antes que pudesse agarrá-la novamente, ela estava correndo


através das portas, para a rua, olhando em ambas as direções
procurando por qualquer sinal de Luka, mas mesmo nesse curto
período de tempo, ele desapareceu e ela não tinha ideia em que
tipo de carro eles estavam.

O desespero apertou seu peito quando ela voltou,


dificilmente poderia ver com as lágrimas borrando sua visão.
Mishca permaneceu no mesmo lugar, mas Lauren estava fora de
sua cadeira, com o rosto molhado de chorar, tentando trazer
sentido para seu marido.

— O que você está fazendo? Eles vão matá-lo! Você sabe


disso!

Mishca nunca foi cruel, não com Lauren, mas o olhar que ele
lhe deu era mais frio do que qualquer coisa que ela já viu. —
Pare.

Mas Lauren não se intimidou. — É Luka, você tem...

— O nome dele é Valon Ahmeti. Um ex-executor para o


Sindicato albanês. Um que conspirou para me matar.
Apenas por este delito, ele poderia ter sido morto aqui.

Lauren pareceu surpresa. — Eu não dou a mínima


397

para qual era seu nome! Ele é meu amigo...


Página

— Zatknis. Cale a boca! Você não me questiona ou o


que eu faço. Leve-a para casa e se ela protestar, a arraste
para lá.
Lauren recuou como se tivesse levado um tapa, o seu rosto
queimando com o calor de sua raiva em resposta, mas antes que
pudesse dizer uma palavra, Mishca virou as costas para ela e
entrou no escritório em que todos eles estiveram antes. Klaus
sussurrou algo para Lauren, sua mão em suas costas quando ele
a guiou para longe, Celt junto.

Alex permaneceu onde estava, sem saber o que fazer, mas


iria tentar. Por Luka. Ela iria tentar por Luka.

Alex ficou na entrada do escritório, observando seu irmão


pegar uma garrafa de vodca, bebendo direto da garrafa durante
vários segundos antes dele jogá-la na parede, quebrando-a,
fazendo chover vidro e álcool pelo tapete do outro lado da sala.
Ela não sabia quanto tempo ficou ali. Por tudo o que sabia, eles
poderiam estar atravessando toda a cidade, dirigindo para um
aeroporto privado. Ela sabia que não poderia ir contra eles
sozinha. Ela precisava de Mishca. Ele era a única maneira que ela
poderia ter Luka de volta.

— Mish...

Ele ergueu a mão, sem olhar para ela. — Não faça isso.

— Mas você não entende. — Alex disse, forçando as palavras


quando elas pareciam estar presas em sua garganta. — Eu o
amo, mais do que eu já amei alguém. E... você não pode deixá-los
levá-lo. Eu sei que o que ele fez foi... você não o conhece como eu
faço. Ele esteve lá para mim. Ele me ajudou mais do que você
imagina. Estou implorando a você.

— Vá para casa, Alex.

— Mesmo se estiver com raiva, então pode se vingar


398

dele aqui. O que for. Eu não me importo, mas faça isso por
mim. Faça-o porque você me ama.
Página

Ele finalmente a encarou, os seus olhos sem piscar e


com raiva. Com mais raiva do que ela já o viu. — Eu não
vou dizer novamente.
— Eu tive um problema com drogas. Estava ficando chapada
com qualquer coisa que poderia ter em minhas mãos. O que quer
que Snow me desse... — Houve um lampejo de reconhecimento
em seus olhos, mas Alex estava muito focada no que ela tinha a
dizer para questionar isso. — Eu não me importava com o que eu
tinha que lhe dar em troca. Se ele quisesse meu corpo, ele poderia
tê-lo. Eu não me importava. Luka me ajudou. Você não entende?
Ele ficou comigo por três dias, quando sofri com a abstinência.
Ele praticamente me trouxe de volta à vida. Quando mais
ninguém estava lá para mim, ele estava!

Mishca se encolheu. Na verdade, ele parecia magoado por


sua admissão. Ela não teve a intenção de machucá-lo com sua
confissão, mas já era tarde demais para voltar atrás agora.

— Sinto muito.

Por um momento, ela pensou que ele estava se desculpando


por não estar lá, não que ele pudesse saber desde que ela o evitou
naquela época.

— Sinto muito que você tenha se apaixonado por ele. Mas


todos nós respondemos pelas vidas que vivemos e aquelas que
tomamos. Talvez um dia você me perdoe por isso.

A dor em seu peito estava se expandindo, quase


consumindo-a enquanto ela se engasgava com mais lágrimas. —
Se você os deixar tê-lo. Se não o trouxer de volta, nunca o
perdoarei, Mishca. Você me ouve? Eu nunca o perdoarei.

Ele não se coibiu de sua dor, suas lágrimas. Ele


enfrentou-as com o mesmo olhar de indiferença que Mikhail
mostrou para ela, tanto tempo atrás.
399

— Já está feito.
Página
QUARTA PARTE

Amor em meu coração é um


grito eterno
Perd ido como o voo da
andorinha,

400
Página
QUARENTA E TRÊS

Fora e de volta

— Oh, você é apenas a coisa mais fofa. — Alex balbuciou


para o bebe se contorcendo, sorrindo quando ele lhe deu um
sorriso desdentado ao estender a mão para o cabelo que caiu
sobre o ombro dela.

Ele era uma coisinha travessa, amando puxar qualquer


coisa em que pusesse as mãos. E enquanto ele não se
machucasse, ela o deixava fazer tudo que queria. Infelizmente,
não o via tão frequentemente como queria, não desde que ela se
mudou para Paris há sete meses, mas esse foi apenas um
sacrifício que teve que fazer.

— Obrigada novamente por ser babá, Alex. — Lauren disse


enquanto corria ao redor da sala, embalando sua mochila
enquanto, simultaneamente, embalava um saco de fraldas.
— Eu sei que você não está de volta há muito tempo e...

Quando ela fez um movimento para pegar uma


401

mamadeira e seus livros, Alex a tirou suavemente dela.


Página

— Não se preocupe com isso. Eu e este pequeno


melequento iremos nos divertir, não vamos?

Fazendo uma cara engraçada, ela riu e ele a seguiu,


sua barriguinha movendo-se com o esforço, mas ela
perdeu o sorriso quando ele pegou um punhado de cabelos e
puxou.

— Eu não vou sair da aula até às seis, mas se você tiver


planos, posso pedir a Mish...

— Não. — Disse Alex, retirando o cabelo do seu aperto. —


Está tudo bem. Apenas me ligue quando você estiver em casa e o
levarei.

Suspirando, Lauren atravessou a sala, chegando no berço


para pegar Sacha embalando-o contra seu peito. Embora ela
estivesse sorrindo, parecia cansada, fazendo Alex se perguntar
como tudo estava por aqui. Enquanto conversasse com Lauren
uma vez a cada duas semanas desde que foi embora, não
conversou com Mishca uma única vez. No começo, ele pareceu
aceitar isso perfeitamente, mas após o primeiro mês, ele fez
questão de ligar e deixar mensagens de voz, que ela prontamente
excluiu sem ouvir, provavelmente por insistência de sua esposa.

— Eu sei que prometi não ficar no meio disso, mas não acha
que já o castigou o suficiente?

— Nem mesmo perto. — Luka passou anos sofrendo no


exato lugar para o qual Mishca o mandou de volta e para que?
Qual poderia ter sido sua razão para fazer isso com alguém que
se preocupava mais com todos nós do que ele próprio?

Alex não iria mentir. Ela sentiu falta de seu irmão, mais do
que tudo, mas seu ressentimento era muito mais forte. Ela ainda
se lembrava de implorar-lhe para fazer qualquer coisa, para
trazer Luka de volta, como ela foi para Klaus, em seguida,
Celt, apenas para ser recusada, porque eles foram
ordenados por Mishca para não a ajudar de qualquer forma.
402

Como poderia ela alguma vez perdoá-lo?


Página

Uma semana depois, esvaziou a última de suas


poupanças e escapou com as roupas na mala... e Loki. Ela
nunca poderia deixa-lo para trás. A dor apenas piorava
por causa da reação de Loki a Luka ter ido embora. À
noite, ele lamentava, por vezes, arranhando a porta para sair,
mas depois de um tempo, ele desistia, pulando na cama ao lado
dela e descansando a cabeça na sua perna.

Essas noites eram as mais difíceis.

— Eu sei e entendo a sua raiva com ele, mas...

Alex sabia que ela tinha boas intenções, mas simplesmente


não estava pronta para ter essa conversa. — Lauren, por favor.
Eu te amo, você sabe disso, mas... não posso. Não agora. Um dia,
serei capaz de conversar com ele, mas é cedo demais para mim.

Suspirando em derrota, Lauren balançou a cabeça. — Se


houver alguma coisa que possa fazer, é só me avisar.

— Obrigada.

Com vários beijos nas bochechas de Sacha, ela entregou-o,


alisando o cabelo dele. Alex não duvidava de que Lauren fosse
uma grande mãe. Ela não conseguia se lembrar de uma época em
que Anya tivesse olhado para ela com tanto carinho e com a sua
compaixão, Alex duvidava que ela iria expor Sacha à vida que
causou tanta dor em sua família.

— Vá em frente, eu o tenho.

Rindo, ela balançou a cabeça. — Tudo que você precisa está


na sacola. Você tem meu celular, obviamente, e eu escrev...

— Tudo certo. Fazemos isso a cada vez.

— Certo, certo. Desculpe. Eu sei que você disse que


não quer Klaus por aqui, mas eu ainda gostaria que você o
403

deixasse segui-la até ao seu hotel.

— Claro.
Página

Ela puxou Alex para um abraço. — É bom vê-la, Alex.

Desceram juntas, mas no lobby, Lauren se dirigiu


para a plataforma de estacionamento e Alex saiu pela
frente, com cuidado para manter o cobertor de Sacha cobrindo o
carrinho de bebe.

Lá fora, ela não teve que olhar para Klaus. Ele estava
encostado contra seu carro alugado, braços cruzados sobre o
peito, os pés cruzados nos tornozelos. Ele deixou seu cabelo
crescer um pouco desde a última vez que o viu, os fios escuros
agora puxados para trás em um pequeno coque na parte de trás
de sua cabeça. Ainda vestido com seu habitual preto, não houve
muita mudança para ele.

Ignorando-o, por enquanto, ela pressionou a tecla de


desbloqueio no controle remoto, abrindo a porta traseira para
colocar Sacha na parte de trás.

— É um pouco rude não falar, sabe.

Ainda o ignorando, ela procurou através da sacola de fraldas


pela pequena chupeta azul que era a favorita de Sacha, em
seguida, um brinquedo antes de fechar a porta novamente.

Sorrindo forçado, ela disse. — Oi.

— Essa é a maneira de tratar seu irmão há muito perdido?


— Ele perguntou, seguindo atrás dela quando ela foi para o lado
do motorista. Ele abriu a porta antes que ela tivesse a chance de
alcançá-la.

Alex virou-se tão rápido que seu cabelo lhe deu um tapa no
peito. — Você não é meu irmão, Klaus. Mishca não é meu irmão.
Pense em mim mais como uma prima distante que aparece
nos feriados e mesmo assim, por apenas uma hora.

— Está naquele momento do mês? — Ele perguntou


404

enquanto ela entrava no carro, puxando o cinto de


segurança.
Página

— Foda-se. Vá colocar sua bunda na sua


monstruosidade de carro e siga-me. Quanto mais cedo
chegarmos a minha casa, mais cedo esta reunião acaba.
Ela esperou que ele desse um passo para trás para fechar a
porta, colocando a chave na ignição enquanto ele corria de volta
para seu próprio carro. Quando o ronco de seu motor soou, Alex
saiu, apenas verificando em seu espelho retrovisor uma vez no
caminho para o hotel. A viagem foi curta e quando estacionou e
agarrou Sacha do banco de trás, Klaus estava subindo.

— Como você pode ver, nós chegamos até aqui muito bem. E
olhe. — Ela disse, apontando para a entrada, — Há ainda um
porteiro.

— Você vai agir mal-intencionada todo o caminho até seu


quarto? — Perguntou honestamente quando fechou a porta atrás
dela. — Porque resumindo, precisamos ter uma conversa.

Apertando os dentes, ela olhou para ele. — Não tenho que te


deixar entrar.

— Voluntária ou involuntariamente. De qualquer forma, vou


entrar. Sua escolha, querida.

Não havia nenhum ponto em discutir ainda mais. Ele iria


fazer o que queria de qualquer maneira. Içando a bolsa mais para
cima do ombro, dirigiu-se para dentro.

Uma vez que estavam em seu quarto, ela montou a cadeira


de balanço de Sacha, colocando-o cuidadosamente sobre ela,
certificando-se que os brinquedos pendurados estivessem ao seu
alcance. Era bastante fácil mantê-lo entretido.

Indo para a sala de estar do quarto, Alex sentou-se,


cruzando as pernas debaixo dela enquanto olhava Klaus
aproximar-se. Ela tentou não olhar para ele, concentrando-
se em seu colo, porque não importava o quão diferente as
405

suas personalidades eram, ele ainda se parecia com


Mishca.
Página

— O que você quer, Klaus?


Ele ficou confortável primeiro, tamborilando os dedos no
braço da cadeira. — Como está Paris?

— Bem.

— Balé? — Ele tentou novamente.

— Bem.

— E como você está?

— Bem.

Klaus suspirou, inclinando a cabeça contra o encosto do


sofá. — Não é bom o suficiente.

— Por que você sequer se importa? A última vez que


verifiquei, a única pessoa com quem você realmente se importava
na porra de nossa família era Lauren. Diga-me, Klaus, você
recebe esses impulsos de gêmeos? Pode senti-los quando eles
estão fodendo?

Apesar dele não ter perdido o sorriso, os olhos de Klaus


ficaram duros. — Eu já ouvi isso antes. Imagino que o albanês
passou para você.

Raiva a percorreu. — Você não fala sobre ele. Nunca.

— Não? Parece justo, desde que ele trabalhou em mim e que


a única coisa que eu queria era fazê-lo pagar por isso. Guardei
esse segredo do Russo. Você deveria me agradecer.

Alex zombou. — Deixe-me ver se entendi direito. Você


aparece do nada, ameaçando todo mundo, agindo como um
completo idiota, pelo menos até os olhos da esposa de seu
406

irmão baterem em você e então muda o coração? Oh, mas


espere, você atrai a porra do albanês até aqui e o que ele
Página

faz?
— Ele me enterra viva e a única razão pela qual estou aqui é
por causa de Luka. Então foda-se o que quer que você esteja...

— Ouça.

Ele nunca foi nada mais do que educado com ela, então a
rispidez na voz dele a pegou de surpresa.

— O albanês que você conhece, ele não era esse homem


anos atrás. — Ele visivelmente tentou controlar sua raiva, embora
se era destinada a ela, não tinha certeza. — Eu entendo sua
lealdade. Acredite em mim. Fiz o que pude, mas há...

— Esta é a parte onde eu agradeço? — Alex perguntou e


depois pensou melhor. — Obrigada, Klaus. Por tudo que você fez.
Mas isso não muda nada, porque Luka não está aqui.

Alex abaixou os pés até o chão. — Eu vi todos vocês fazerem


tudo em seu poder para deixar Lauren segura. Ninguém estava
seguro. Nunca duvidei por um segundo que quando precisasse,
você estaria lá. Mas nem um único de vocês levantou um dedo
para fazer qualquer coisa para ajudar Luka. Então,
honestamente? Poupe sua conversa ou o que quer que está aqui
para falar. Eu não quero ouvir isso.

— Você honestamente acha que eu queria que se


machucasse, Alex? — Perguntou ele, levantando-se.

— Não acho que qualquer um de vocês se importava com o


que me acontecesse, desde que Luka sofresse por quem ele era
antes. — Ela apontou para a porta. — Por favor. Apenas me
poupe de sua hipocrisia e simplesmente saia.
407
Página
QUARENTA E QUATRO

Longe de casa

Assim que ela aterrissou em Paris, o avião parou na pista.


Alex sentiu um peso sendo retirado dos seus ombros. Ela chamou
um táxi de volta para sua casa, o prazer de ver seu prédio à vista.
Pagando, ela saiu, digitando o código para entrar no portão, indo
em direção a parte de trás do pátio onde o elevador estava
localizado.

Fez uma parada em um dos apartamentos do andar térreo,


batendo suavemente, sorrindo quando ouviu os gemidos vindos
do outro lado. Demorou cerca de um minuto, mas quando a porta
se abriu, Loki veio voando para fora, seu corpo grande batendo no
dela enquanto ele lambia seu rosto, sua cauda abanando.

Ela riu, empurrando-o enquanto esfregava sua cabeça,


sorrindo para Cadessa que estava encostada na porta com
um avental em volta da cintura, um pano de prato na mão.

— Ele sentiu sua falta.


408

— Apenas porque eu o levo ao parque todos os dias.


Página

— Você deve vir para o jantar hoje à noite,


Aleksandra. Nós amaríamos ter você.
Cadessa e seu marido, Gabriel, eram o único casal em todo o
edifício perto da idade de Alex, embora ainda alguns anos mais
velhos. Quando ela se mudou, Cadessa instantaneamente a
cumprimentou, apresentando-a a Gabriel alguns dias mais tarde.
Alex não podia contar o número de vezes que foi jantar em sua
casa, pelo menos duas vezes por semana.

Eles ficavam com Loki quando Alex precisava, sabiam que


ela viajava de volta para Nova York, quando precisava, até mesmo
às vezes mostrava-lhes foto que ela carregava de Sacha e dela
dançando com Francis na companhia de balé. Pela primeira vez,
desde que era mais jovem, tinha amigos e embora eles não
soubessem nada sobre sua família, ela conhecia maneiras de
evitar falar sobre eles e estava feliz por isso.

— Certo. Precisa de mim para pegar qualquer coisa do


mercado? Eu ia de qualquer maneira.

— Não, não. Nós temos tudo.

Sorrindo, Alex se despediu, Loki em seus calcanhares


quando fizeram a curta viagem até o seu apartamento. Mudando
sua bagagem para o outro ombro, ela abriu a porta, deixando
Loki entrar primeiro antes de seguir atrás, fechando-a e
deslizando a trava no lugar. Voltando-se ao redor, ela deixou cair
às chaves na tigela em seu caminho, deixando cair suas malas no
chão.

Ela passou pelo lugar, abrindo as cortinas, deixando entrar


a luz do sol para banhar os quartos em um brilho quente.
Os pisos eram feitos de madeira cinza clara que
complementava as paredes brancas. Ela pagou uma
pequena fortuna comprando móveis e decoração para o
409

apartamento, mas valeu bem o investimento, especialmente


quando não planejava voltar para Nova York.
Página

Seu quarto estava do lado leste do apartamento, com


uma varanda conectada com vista para o Rio Sena. Era
por essa vista que este lugar era tão caro. Ele seguia o
mesmo esquema de cores como o apartamento, mas
com tons de azul do céu por toda parte.

Ela jogou o cabelo para cima, trocando suas roupas para um


short e um top. Indo para a cozinha, Loki logo atrás, ela pegou
comida para ele, rindo quando ele imediatamente sentou-se
chamando sua atenção. Lançando-lhe um, ela olhou no
refrigerador por algo para si mesma. Não havia muito e uma vez
que não pretendia jantar em casa hoje está noite de qualquer
maneira, iria ao mercado no dia seguinte.

Compras em Paris, para Alex, sempre era uma coisa


divertida. Ela adorava visitar e comprar em pequenas lojas,
passeando e pegando tudo o que precisava. Ela já passou em
uma loja e comprou pão fresco e uma garrafa de vinho para levar
para o jantar mais tarde, mesmo que Cadessa houvesse dito que
não precisava, ela queria ser educada e parou para comprar.
Escorregou pelos corredores enquanto olhava através dos stands,
esperando até encontrar o cartão perfeito, um que ela ainda não
pegou antes.

À direita no final, tinha um com um pôr do sol na parte da


frente, lembrando-a de acordar em uma casa no meio do nada em
Nova York. Ela passou o dedo ao longo da frente, sorrindo triste
antes de ir para o caixa e comprá-lo. Ela voltou para casa depois.

Chegando lá, ela deixou as sacolas na cozinha para arrumar


depois, voltando para seu quarto enquanto procurava através de
uma gaveta por uma caneta.

Normalmente, esperava até que houvesse algo


substancial para escrever, certificando-se que as notas
fossem todas boas. Mesmo agora, enquanto estava deitada
de barriga para baixo e escrevia a mensagem curta em
410

traços cuidadosos, saboreou o momento, querendo colocar


cada grama de suas emoções para ele como podia.
Página

Sempre começava da mesma forma: Querido Luka e


quando ela terminava, sempre assinava, com Amor sempre,
Alex.
Ela beijou a frente do cartão, seu batom deixando uma
marca, mas ao contrário da maioria das pessoas que compravam
estes, ela não adicionava qualquer postal, em vez disso o colocava
em uma caixa decorativa que mantinha debaixo da cama, já
preenchido com pelo menos mais uma dúzia de mensagens que
ela escreveu nos últimos seis meses. Ele nunca iria vê-los, nunca
iria ler, mas eles lhe davam esperança e no mínimo, mantinha
viva a sua memória.

Jantar com Cadessa e seu marido, era sempre agradável. A


comida era divina e a conversa era sempre boa. Ela aprendeu a
desfrutar da calma de sua vida cotidiana agora que estava longe
da Bratva. Depois de um longo dia de prática, Alex foi até um
canto do estúdio, removendo cuidadosamente suas sapatilhas de
ponta. Ela colocou um par de botas soltas, encolhendo-se quando
o tecido esfregou contra a pele sensível.

Embalando tudo em sua mochila, ela se dirigiu para a porta,


mas não antes de ser interceptada pelos poucos amigos que tinha
na companhia. Com tantos dançarinos diferentes, havia
dezenas de personalidades diferentes. Quando chegava as
audições, o local sempre se transformava em uma loucura e
isso muitas vezes trazia o pior de algumas pessoas.
411

Mas havia pelo menos alguns que Alex se tornou


Página

íntima.
— Você está pronta para a companhia? — Perguntou Robbie
com um sorriso doce, suas bochechas rosadas mais coradas após
a sua prática.

Ele era bom e se não fosse por sua necessidade consistente


de bater qualquer nova garota que entrava na companhia, ele
teria sido definitivamente o cara que você levava para casa para
conhecer seus pais. Exceto que Alex não estava interessada e
duvidava que algum dia estaria.

Forçando um sorriso, porém, ela balançou a cabeça. —


Certo. Acho que Jordan, Raj e Amerie estão vindo, também.

Ficou claro que ele pensou que seriam apenas eles, mas ela
queria colocar um fim à isso mais cedo. Avistando Amerie do
outro lado da sala, ela disse um adeus rápido para Robbie,
segurando o braço de sua amiga.

— Espero que você não esteja muito ocupada esta noite para
sair por algumas horas. — Ela sussurrou enquanto saíam do
estúdio. — Eu poderia ter mencionado a Robbie que você, Raj e
Jordan viriam.

— Você ainda está evitando dizer-lhe que não está


interessada?

— Eu lhe disse que não estava interessada. Ele apenas


pensa que estou me fazendo de difícil.

412
Página
Enquanto seus amigos gostaram de sua improvisada
armação, Alex sentou-se bem no meio deles, mas não poderia se
sentir mais distante. A nova garrafa de vinho foi aberta e as taças
cheias, mas Alex discretamente se recusou, bebeu suco de uva
espumante em vez disso. Quando todos se tornaram mais
embriagados, ela se sentia diferente sendo a única sóbria, era
uma grande mudança.

Tranquilamente desculpando-se, Alex foi para a cozinha e se


serviu outro copo de suco espumante. Ninguém mais tinha que
saber que ela não era muito de beber. Apesar da melancolia que
era viver sozinha durante os últimos seis meses, não foi sequer
tentada a tomar uma bebida. Mesmo que atualmente a rodeasse.

O desejo de bebida estava sempre no fundo de sua mente,


porque seria tão fácil apenas deixá-la tirar a dor ... mas em vez
disso, tentava algo mais produtivo, algo que pudesse se orgulhar
em vez de se sentir culpada.

— Quem era ele?

Olhando por cima do ombro para Amerie, não havia nenhum


ponto em tentar agir como se nada estivesse errado. — Seu nome
é Luka.

Descansando o copo no balcão ao lado dela, ela olhou para


Alex intrigada. — Vocês dois brigaram ... ou foi por causa de sua
família?

— Você sabe sobre minha família?

— Não acho que exista alguém que não sabe sobre sua
família.
413

Rindo, Alex balançou a cabeça. — Foi um pouco de


tudo, para ser honesta.
Página

— Tenho certeza que você não pode realmente dizer-


me qualquer coisa, mas aqui vai o meu conselho. Se ele
foi concebido para ser seu, ainda pode acontecer... não importa
as chances.

Ela sabia que sua amiga tinha boas intenções, mas não
importava o quão desesperadamente quisesse acreditar nessas
palavras, ela não iria dar-se uma falsa esperança.

— Obrigada.

— Bem, está ficando tarde. Eu provavelmente deveria ir.


Todos nós realmente.

Quando eles voltaram para a sala de estar, no entanto,


Robbie já estava desmaiado no chão. Como ele chegou lá, Alex
não sabia.

Raj se ofereceu para levá-lo, mas Alex acenou com a mão. —


Deixe-o dormir aqui.

— Tem certeza? — Perguntou Amerie.

— Sim, não se preocupe. Meu cão de guarda me protegerá se


acontecer alguma coisa.

Eles podem ter rido por essa observação, porque Loki era
dócil, mas eles não sabiam do que Loki era capaz.

Levando-os para fora, Alex se endireitou, derramando o


vinho restante da garrafa antes de jogá-la fora. Agarrando um
cobertor no armário, ela cobriu Robbie e depois deixou Loki sair
do quarto. No momento em que ele viu Robbie no sofá, suas
orelhas se levantaram, seus lábios foram para trás de seus
dentes.
414

— Calma aí, assassino. Precisamos dele para o show


de amanhã à noite. Você não pode fazê-lo seu brinquedo de
Página

mastigação.

Ela saiu na varanda, o copo na mão, tomando um


assento em uma das cadeiras de ferro forjado, enrolando
as pernas para cima debaixo dela. Era uma noite
particularmente estrelada, sem nuvens que obscureciam o céu.
Loki deitou-se do lado dela, descansando em seus pés, mas ele se
animou, de repente, a cabeça virando para o lado, gemendo,
fazendo-a franzir a testa para ele.

— O que está errado?

Alex chegou a acariciá-lo, querendo aliviar tudo o que o


incomodava, mas sua atenção estava focada totalmente na rua
abaixo. Ela tentou olhar para baixo e ver o que estava
perturbando-o, mas a rua estava quase deserta além das pessoas
ocasionais passando.

Ela quase ignorou, pensando que poderia ter sido apenas


um pássaro que viu. Então, apenas fora da vista, ela viu alguém
parado abaixo, a fumaça flutuando para o ar ao seu redor. Alex se
levantou, caminhando até a sacada, tentando obter um olhar
mais atento, mas naqueles poucos segundos, a pessoa se foi.

Apenas a fumaça deixando uma indicação de que alguém


esteve ali.

415
Página
QUARENTA E CINCO

Escravo

Sete meses atrás ...

Algemado à van e suas pernas contidas com algemas


aparafusadas no chão, Luka inclinou a cabeça para trás contra
os painéis de metal fino, se mantendo perfeitamente imóvel,
apesar dos empurrões na estrada irregular. Dois homens
sentavam-se em ambos os lados dele, armas nas mãos e dedos
contra os gatilhos.

Sentado sozinho de frente a eles estava Fato, que assobiava


uma melodia assombrosa sob sua respiração, mas ele também
tinha sua arma em seu colo.

Ele poderia ser incapaz de se mover e estava


claramente em desvantagem e desarmado, mas eles ainda
estavam com medo do que ele era capaz de fazer. Talvez não
416

Fato, embora.
Página

Apesar de tudo, ele sabia disso porque Alex ainda


estava em perigo, a menos que ele concedesse o que Fatos
queria, Luka não iria a lugar nenhum. Ao contrário da van
que usaram para agarrar Klaus na rua, está tinha
janelas, um luxo pelo qual Luka estava realmente feliz.
Ele não sabia se haveria um momento em que veria o céu
novamente, então queria aproveitá-lo por tanto tempo quanto
possível.

Olhando para fora, ele notou que, apesar dos anos, muito
mudou desde a última vez que esteve em Berat, ainda mais do
que esperava. A casa que compartilhou com sua mãe, o antigo
edifício de apartamentos em ruínas, não existia mais. Queimado
de dentro para fora, apenas uma confusão desmedida de tijolo e
argamassa soldada.

Era estranho... ele viu coisas queimadas antes, por vezes, de


perto e pessoalmente, mas nunca tinham o enchido de tal paz
antes. Eram lembranças especiais, mas também o lembrava de
um tempo que seria muito melhor esquecer. Um tempo em que
sua vida mudou de forma que moldaram o mesmo caminho que
ele estava.

Agora, pelo menos, havia uma coisa a menos para


assombrá-lo. Eles dirigiram mais, crianças contornando o
caminho quando a van passou acelerando, olhando para eles
durante vários segundos antes de perder o interesse.

Logo, eles estavam passando a casa de horrores de Bastian e


ao contrário de seu apartamento, a casa ainda estava de pé e logo
atrás dele, o celeiro estava lá. Mas este lugar que muitas vezes ele
olhou para trás com tanto desdém... não era o mau agouro como
ele se lembrava.

Deus, ele ainda se lembrava do dia em que chegou,


como assombrado o lugar parecia de longe... mesmo se
parecesse normal para os padrões de qualquer outra
pessoa. Mas talvez até mesmo em sua juventude, ele sabia
417

os horrores que o esperavam.

Para surpresa de Luka, ele contou que haviam


Página

passado, pelo menos mais uma hora na estrada antes de


chegar a outro lugar que parecia que poderia resistir ao
teste do tempo. Também havia uma porta, até mesmo os
cães que andavam no perímetro e câmeras de
segurança suficientes, que permitiam a Luka saber que este era o
lugar onde eles realizavam, pelo menos, alguns dos negócios.

Quando andou até parar, Fato gritou ordens e as portas


exteriores foram abertas, a luz solar se derramou, cegando
temporariamente Luka com sua luminosidade. Ele não resistiu
quando dois homens o agarraram e arrastaram-no para fora e
para a terra.

Ele podia sentir os olhos sobre ele, quando e foi levado de


uma prisão para outra. Enquanto a propriedade na frente parecia
estar em bom estado, o edifício por trás dele era mais velho e não
parecia ser cuidado. Se Luka estivesse com um humor melhor,
poderia ter rido do absurdo de ser levado para outro edifício de
merda, assim como fez quando ele chegou a Bastian. Naquele
chão de terra fria do velho celeiro de Bastian, Luka esperou
muitas noites se tornar algo mais.

Até que ele caiu...

Havia uma cadeira esperando por ele e um rolo de corda ao


seu lado. Apenas Fato iria desfrutar a indignidade que Luka
sentiria em ser amarrado a uma cadeira. Estava começando a
parecer como se todo o seu objetivo fosse fazer Luka reviver os
anos que antecederam o momento que escolheu para se juntar a
Bratva.

Mas havia também a lembrança do que Luka era capaz.


Poderia ter se passado um tempo desde que pisou no Pit, mas
ainda era capaz de causar danos com os punhos... e isso
não era nada comparado à quando estava inspirado.

Eles tiveram que mantê-lo contido como possível.


Empurrado para a cadeira, Luka recusou-se a dar-lhes a
418

reação que procuravam, permanecendo em silêncio


enquanto começaram a amarrá-lo. Mas antes que o
Página

fizessem, eles tiraram sua camisa.

Fato finalmente entrou em vista, seu olhar


percorrendo a sala antes de cair em Luka mais uma vez.
Ele pensou novamente por que não puxou o gatilho quando teve a
oportunidade... por que ele hesitou.

Deveria tê-lo feito. Deveria ter acabado com Fato, antes que
ele conseguisse rasgar seu mundo. Mais uma vez. Sua tinta foi
avaliada com um olhar crítico e tudo o que ele viu fez Fato ficar
rígido, circulando a cadeira até que ficou trás de Luka.

Fato estendeu a mão suavemente, passando os dedos sobre


as costas de Luka, sem esforço em encontrar as linhas marcadas
que foram enterradas sob diferentes tonalidades de tinta. Ao
contrário de Alex, ele não se enganou ao acaricia-las, mas
procurou-as ativamente com uma reverência que trouxe arrepios
a Luka.

Ele ficou quieto por algum tempo e em seguida, bateu no


ombro de Luka antes de ir para frente, balançando a cabeça como
se decepcionado. — Estou magoado que por tê-las coberto. Achei
que você mais do que ninguém iria usá-las como um distintivo de
honra.

Luka pensou em permanecer em silêncio, concentrando-se


em uma das infinitas manchas de água que complementavam a
parede, querendo se distanciar da dor inevitável que esta noite
traria. Mesmo com o tempo que passou, quando a mão de Fato
flutuou sobre as marcas que ele deixou ali, Luka podia se lembrar
vividamente da dor da lâmina aquecida deslizando ao longo de
sua carne, como sua pele parecia uma vez que foi cortada. Ele
poderia ter aprendido a canalizar sua dor de forma diferente, mas
isso não significava que a quisesse. Apenas imaginar o que
Fato faria com ele mais tarde fez seus dedos se apertarem.

Seu desgosto por estar impotente era nada comparado


419

com o que sentia enquanto observava um dos homens


aproximar-se dele com algumas tesouras. Mais do que
Página

ninguém, Fato sabia o quanto Luka odiava ter a cabeça


raspada. Ele não manteve o cabelo comprido como uma
declaração de moda, mas como outra forma de livrar-se da
vida que tinha antes que este lugar o levasse e destruísse
o pouco de humanidade a qual ainda se agarrava.

Não apenas isso, mas havia algo escondido sob os fios


enrolados de cabelo loiro, um presente que Bastian deu a ele,
assim Luka nunca iria esquecer seu lugar. Como muitas coisas,
era uma de suas maiores vergonhas.

Ao longo da parte de trás de sua cabeça, enquanto mais e


mais cabelo caia no chão, o início de uma palavra apareceu e não
até quase cada fio ir embora poderia ser lido claramente. A
maneira como Fato sorriu, como se ele soubesse que ainda
estaria lá, estava aproveitando a vergonha que era provavelmente
clara no rosto de Luka.

Depois que Luka ajudou Elena a se libertar, Bastian quis


lembrar Luka do seu lugar... lembrar-lhe que não importava o
quanto lhe agradasse com a enorme quantidade de dinheiro que
lhe trazia, ele nunca seria mais do que foi, então...

Em letras pretas grossas, cobertas quando Luka lutou com


cada fibra do seu ser para se livrar, havia uma única palavra,
escrita em inglês para que todos pudessem ler.

Escravo.

420
Página
QUARENTA E SEIS

Despertar

Aventurando-se para a varanda na manhã seguinte, seu


olhar olhando a rua abaixo, Alex se perguntou se imaginou coisas
na ontem anterior e talvez não tivesse sido uma pessoa olhando
para ela. Era certamente possível. Com as horas que trabalhava e
a enorme quantidade de tempo que passava em treinamento, a
maioria dos dias, estava exausta e na noite passada não foi
diferente.

E ainda ... apenas porque ela estava a milhares de milhas de


distância da Bratva, isso não significava que estivesse muito
longe do perigo. Sua família tinha vários inimigos nos Estados
Unidos e ela nunca deu muita atenção a quantos estavam no
exterior. Por tudo o que sabia, poderia ser um rastreador enviado
por alguém que estava tentando chegar ao seu irmão. Não era
como se estivesse sob guarda constante, e agora que L ... bem,
agora que ela não tinha ninguém por perto que era formidável em
seu próprio direito, eles poderiam pensar que ela era o elo
mais fraco.

Por um segundo, conseguiu se lembrar do cheiro da


421

terra, pungente e rico e o sorriso de Fato quando viu seu


medo. Mesmo que ela ainda estivesse com raiva, preferiria
Página

estar segura e com raiva a enterrada viva novamente.

Agarrando sua xícara de chá, voltou para dentro,


agarrando seu telefone de onde ele estava carregando ao
lado da cama e bateu no número que sabia de
memória. Não havia nenhuma garantia de que ele iria atender ou
até mesmo ser de alguma ajuda com a maneira como o tratou
quando o viu pela última vez, mas pelo menos ela poderia tentar.

Klaus já era irritado por natureza. Não tinha ideia de como


ele reagiria. A linha tocou por tanto tempo que temia que ele não
fosse responder, mas quando estava prestes a desligar, ele
finalmente atendeu.

— Fale.

Alex fez uma careta enquanto equilibrava o telefone entre o


ombro e a orelha enquanto arrumava sua mochila para os
ensaios. — Você realmente deve aprender a etiqueta de atender
ao telefone de forma apropriada.

Klaus ficou em silêncio por um instante, o sorriso claro em


sua voz quando ele disse. — Não pensei que poderia receber uma
ligação sua.

— Sim, bem, eu não estava esperando ter que fazer esta


ligação, mas acho que estou sendo seguida.

— Você ligou para o russo?

Ela suspirou, longo e forte. Foi seu primeiro instinto porque


era o que teria feito, mas era teimosa e se recusava a se curvar.
Mishca seria a última pessoa que ela ligaria se houvesse uma
necessidade.

— Não, eu liguei para você.

— Sinto-me honrado, realmente.


422

— Você não quer nada sobre isso ou eu preciso lidar


sozinha? — Ela perguntou, quase rasgando o zíper
Página

enquanto fechava a bolsa.

— Oh, acalme sua merda. Diga-me o que você sabe.


— Eu não sei. Um cara estava fora da minha casa ontem à
noite. Eu realmente não o vi, mas era óbvio que ele estava lá.
Então, recebi flores depois do meu desempenho na outra noite.

— Isso é bom. Eu gostaria de receber flores depois que eu


fizesse o meu trabalho. A única coisa que recebo é mais ameaças
de morte. — Disse Klaus, soando como se estivesse falando para
si mesmo.

Que porra? — Por que você não está levando isso a sério?

— Acredite em mim. Se eu achasse que estivesse em perigo,


eu o faria. Para mim, isso apenas parece que você tem um
perseguidor. Poderia cuidar disso também, sabe, por um preço.

Frustrada, Alex pensou em desligar na cara dele. — Eu não


posso acreditar que houve um tempo quando eu realmente pensei
que você fosse uma pessoa decente.

— Se você não achasse que sou, não teria me ligado.

Ela desligou na cara dele e mais uma vez encontrou-se


olhando para a tela, o dedo pairando sobre o ícone contatos. Uma
vez, ela contemplou apagar os números de Mishca de seu
telefone, mas percebeu que era inútil considerando que ela
guardou todos eles na memória.

Mas ... ainda não estava pronta para ligar.

Guardando o telefone, ela voltou para a sala, fechando e


trancando as portas da varanda atrás dela. Robbie
finalmente acordou, gemendo enquanto quase rolou para
fora do sofá quando se virou. Ele poderia ter se embebedado
em um estado de estupor na noite passada, mas ainda
423

acordava cedo.
Página

Ele olhou ao redor com os olhos arregalados, tentando


se orientar e apenas relaxando quando avistou Alex
enquanto ela caminhava por ele.
— Eu dormi aqui?

— Sim. — Ela sorriu. — Não acho que teria sido bom para
ninguém o levar para casa em sua condição. Você quer um café?

Ele resmungou uma afirmativa, cuidadosamente levantando-


se como se pensasse que iria tombar a qualquer momento. —
Onde é o banheiro?

— No final do corredor à sua esquerda.

Alex estava ocupada puxando para baixo duas canecas dos


armários, agarrando creme e açúcar, quando ouviu a exclamação
de Robbie e o som do baixo rosnar de Loki. Correndo atrás dele,
ela fez o possível para segurar sua risada quando o avistou.
Robbie tinha as mãos para cima, com os braços tremendo, mas
que não fez nada para apaziguar Loki que permanecia alerta e no
lugar, apenas um segundo de saltar para frente e agarrar o
pescoço de Robbie.

— Loki, se comporte. — Alex deu a volta em Robbie, batendo


Loki na cabeça. — Você sabe melhor. Não se preocupe com ele,
Robbie. Ele só não está acostumado a novas pessoas. — Ou ele
simplesmente não gostava de Robbie, mas não queria lhe dizer
isso.

Quando continuou, ela levou Loki de volta para seu quarto,


chamando sua atenção antes de fechar a porta depois que saiu.
De volta à cozinha, ela esperou por Robbie para se juntar antes
que servisse a ambos um copo, fazendo o dela do jeito que
gostava antes de lhe passar o creme e açúcar. Ele parecia
menos morto agora, mas ela não duvidava de que pelo show
de hoje, ele ficaria relativamente normal.
424

— Eu acho que o seu cão me odeia. — Robbie disse


quando tomou um gole de café. — Toda vez que eu venho
Página

aqui, ele está sempre à espera para dar uma mordida em


mim.
Alex encolheu os ombros, sem se preocupar em dar
quaisquer desculpas.

— Que horas são, afinal? — Ele perguntou, olhando ao seu


redor por um relógio.

— Não é muito cedo. Ainda temos algumas horas antes do


ensaio.

Ele deu um sorriso de parar o coração, mas não fez nada


para ela. Ela quase desejou que fizesse...

—Quer ir ao mercado comigo? — Antes que ela pudesse


responder, ele corrigiu. — Nós teremos que parar no meu
apartamento primeiro... se estiver tudo bem.

Alex não estava realmente com vontade de passar as


próximas quatro horas sozinha em seu apartamento antes que
precisasse ir para o estúdio, mesmo que não quisesse passar
tempo com Robbie, ela encontrou-se concordando.

425
Página
QUARENTA E SETE

O fim está próximo

Estava pingando. Pingando. Pingando

O plop constante de água sobre a cabeça uma vez foi um


incômodo, então uma lenta agonia e finalmente, era a única coisa
que o mantinha são, se era ele pudesse dizer algo sobre isso.
Luka não sabia quanto tempo foi deixado no buraco, nem mesmo
capaz de ver suas próprias mãos na escuridão inabalável que o
rodeava. Ele tentou pensar em tudo para manter a loucura longe,
pensando em sua antiga vida de volta a Nova York, seus amigos,
sua família, embora nunca os chamasse disso e Alex. Essas
primeiras noites, ela foi a única coisa que o manteve.

Lembrando-se do jeito que ela sorria quando estava feliz,


enquanto estavam juntos, mas quanto mais ele pensava nela,
mais a realidade de sua situação atual afundava nele. Ele não
diria que era otimista por natureza, mas esperava que iria
sair dessa e voltar para casa para a única pessoa que
precisava em sua vida. Mas a cada dia que passava, a
esperança começou a diminuir até que agora não havia
426

mais nada.
Página

Ele tinha muito tempo desde que aceitou que este era
seu destino e depois de tudo o que fez em sua vida, isso
era o que ele merecia. Luka tentou se manter o mais
confortável possível em sua nova cela, estendendo-se no
chão, ajustando tanto quanto a corrente deixava, mas de
qualquer modo ainda tinha um pouco de conforto, até que seus
algozes voltassem para retomar o que eles começaram.

Quanto tempo ele foi deixado sozinho escapou dele, mas não
foi concedido um indulto por muito tempo. A porta foi empurrada
aberta novamente e Fato estava de volta com seus asseclas. Luka
perdeu a noção de quanto tempo Fatos brincou com ele,
alternando entre torturá-lo e professar o quanto ele estava
perdido. A primeira noite foi fácil. Ele não era um estranho às
técnicas que Fato utilizava especialmente desde que ele foi o
único a ensiná-lo.

Não, isso não o incomodava. Nem a noite seguinte ou na


outra. Três dias seguidos de dor física, então, nada. Fato o deixou
sangrar na palha, a dor, sua velha amiga, a única coisa a fazer-
lhe companhia. O silêncio era a verdadeira tortura. Era
ensurdecedor, como uma força física sufocando-o. Ele sempre
odiou.

Em seguida, a tortura retornava. No meio de sua próxima


sessão, Fato parou no meio, passando as costas da mão pela
testa para limpar o suor ali, mas apenas conseguiu manchar o
sangue de Luka sobre o rosto.

— Você não se lembra a diversão que costumava ter —


Perguntou Fato, olhando para Luka com os olhos arregalados.

— Éramos uma equipe, você e eu. Não há nenhuma razão


pela qual não podemos ter isso agora.

Apesar da agonia em seu peito a partir das visitas


repetidas a ele sucedidas e sangue na boca,
427

Luka ainda riu, tossindo quando ele tentou limpar a


via aérea. — Nós nunca fomos uma equipe, você está
Página

delirante.

Fato parecia magoado. — Eu te amo como um irmão,


Valon. O que...
Em albanês, ele perguntou. — O que você quer de mim,
Fato? Quer um parceiro ou achou que eu seria uma puta como a
minha mãe? — O rosto de Fato se coloriu de raiva com o que
Luka estava insinuando, mas ao ver sua reação apenas o fez rir.
Esta não era a primeira vez que seus interesses foram
questionados, especialmente quando se tratava de Luka e assim
como agora, ele sempre cresceu furioso com a sugestão.

Mas o mais rapidamente que a raiva se manifestou,


desapareceu quando ele forçou uma risada, balançando a cabeça.

— Você sempre foi apaixonado por suas prostitutas, Valon.


Diga-me, o que elas fazem para você exatamente? Sorriem
timidamente quando está perto?

— Você não se preocupa com as prostitutas. — Luka disse


calmamente, cuspindo o sangue.

— Se você o fizesse, Natasha estaria morta. No entanto, você


a deixou em paz porque sabia que ela não significava nada para
mim.

Fato franziu a testa, olhando para Luka como se ele fosse o


único que estivesse louco. — Elas são todas meretrizes, Valon.
Você não aprendeu nada?

— Apenas que nós dois iremos morrer aqui.

O que parecia, ao menos momentaneamente, calá-lo, mas


não por muito tempo. — Eu queria, não, eu esperava mais de
você. No entanto, continua me decepcionando.

— Isso está ficando chato. Se continuar usando isso. —


Ele apontou para o chicote que Fato balançava livremente
428

em uma mão — Vá em frente.


Página

Fogo brilhou nos olhos de Fato. — Quando ele bateu,


a aterragem de um sólido golpe no rosto de Luka o fez rir
para si mesmo. Ninguém gostava de ser ridicularizado,
especialmente quando estavam tentando ser levados a sério.

— Você não vai me incitar a matar você. — Fato disse


uniformemente, certificando-se que tivesse a atenção de Luka
quando disse isso. Mas ele percebeu tarde demais que chegou
muito perto.

Com um puxão afiado de sua cabeça, a cabeça de Luka


bateu nele, sentindo a cartilagem do nariz de Fato explodir sob a
pressão. Fato tropeçou para trás, quase deslizando sobre o vidro
que cobria o chão, mas quando se endireitou, sangue escorrendo
de seu nariz, Luka viu o que ele estava esperando.

Raiva.

Pelo menos agora ele tinha a tortura real de olhar para frente
e não o som da voz Fato. Apenas um deles o ajudava a passar o
seu tempo ali, mas ele não sabia por quanto tempo.

Klaus puxou a última alça do colete à prova de balas no


lugar, alcançando as armas próximas. Celt, que estava
estoicamente no lado oposto do quarto das armas, tinha os
braços cruzados sobre o peito. Ele estava ciente disso,
praticamente podia sentir o olhar do irlandês sobre ele
429

enquanto ficou pronto, mas não se preocupou em


perguntar até agora.
Página

— O que?
Encostado a parede, Celt perguntou. — Você tem certeza que
pode lidar com isso?

Olhando para ele, Klaus verificou a câmera de sua Glock


checando o coldre dele. — Por que não?

— Mesmo eu sei que este não é um trabalho normal.

Não era, mas Klaus não iria confirmar suas palavras, não
quando estava usando toda a energia que possuía para não agir
antes da hora. Ele não iria fingir que ao longo dos últimos seis
meses não pensou em Luka e o que aconteceu com ele, mas não
tinha os recursos para encontrá-lo.

Os albaneses mudaram sua localização para a operação e


estavam praticamente trabalhando fora da grade. Então, no
momento em que ele foi para Winter, um hacker que fazia o
trabalho para eles ocasionalmente, o novo manipulador chamou
em sua equipe para um trabalho.

Klaus não pensou muito nisso no momento. Eles eram bons


no que faziam individualmente, mas juntos eram quase
imparáveis, mas não estava esperando as especificidades do
trabalho que foi dado.

O cliente, Mishca Volkov.

A atribuição, pista e recuperação e um burn-out.

Quando dado um burn-out, era para matar todos à vista e


não deixar nenhuma evidência de que uma equipe já esteve
lá. Era raro que fizessem um burn-out, apenas porque era
tão difícil garantir que todos fossem eliminados, mas com a
morte de Brahim e Jetmir, os dois chefes da Organização,
430

era muito mais fácil de destruir uma já desmoronada


infraestrutura.
Página

Não, o problema de Klaus era o fato de que não


entendia porque Mishca estava lhe dando o trabalho
oficialmente. Ele poderia ter apenas facilmente ido a
Klaus e o deixado lidar com isso pessoalmente. Mesmo
se ele pensasse que o trabalho seria demais, Klaus era
plenamente capaz de ligar para sua equipe.

Esta era outra razão que Klaus não tinha certeza se poderia
confiar em Mishca, não completamente. Ele deveria lidar com
estes albaneses em particular, isto praticamente foi por tudo o
que ele viveu. Apenas mais uma coisa que Mishca tirou dele.

Klaus olhou para trás, para o amigo. — Vamos fazê-lo.

Eles não eram os únicos indo a esta missão.

Havia também Calavera, a única mercenária feminina em


sua equipe. Sua especialidade era facas, algo que Luka teria
gostado, tanto quanto era boa com uma arma. Quando ela não
estava sendo puxada para fora em uma atribuição para trabalhos
especiais como este, ficava mais na Costa Leste, vivendo na Strip
em Las Vegas.

Em seguida, havia Payne, um nome que todos eles


coletivamente odiavam, mas aceitou. Afinal, ele era o melhor em
tiros curvos. De todos eles, era o que parecia mais com um
criminoso, em parte por causa do corvo tatuado no lado de sua
cabeça, seu moicano, por vezes, cobrindo-o e depois porque seus
caninos eram tampados em prata por razões que só ele sabia.

E, finalmente, fora do local, tinha Winter, confortavelmente


sentada com segurança atrás de uma mesa, já invadindo o
controle central dos albaneses para assumir o controle de seu
sistema de segurança. Ela não era oficialmente parte da equipe,
mas se um trabalho precisasse dela, Payne chamava sua
ajuda porque de outra forma, temia que ela iria entrar em
apuros se ele não cuidasse dela vinte e quarto horas por
semana. Não ajudava que ela fosse um hacker pelo
431

dinheiro.
Página

Haviam outros que compunham seu pequeno time de


mercenários, mas para isso, apenas alguns eram
necessários. Fretar um jato dos Estados Unidos para a
Rússia e em seguida, tendo um menor para a Albânia,
fez a viagem ser mais longa do que Klaus teria gostado, mas
estava trabalhando duro para acabar com sua ansiedade.

Para Fato, não haveria uma saída. Toda pessoa que


contribuiu para o pior dia de sua vida estaria mortos... todos,
exceto Luka, mas de alguma forma, ele deixou toda a raiva
inflamada por ele ir. Ainda não sabia por que.

Do jato, eles carregaram um jipe, Klaus e Celt na frente,


Payne e Calavera na parte de trás. Transmissores foram
colocados em seus ouvidos. Seu equipamento foi verificado
novamente, apenas para ter certeza que nada foi esquecido. Ao
darem a volta na curva da colina, Klaus tirou a máscara da
mochila, olhando para ela por alguns instantes antes de puxá-la.

Já não era sem tempo.

A dor finalmente desapareceu a uma dor surda, que manteve


Luka à margem da consciência. Muitas vezes quis apagar, para
finalmente ter alguns segundos de paz da agonia sem fim,
mas não importava o quanto tentasse, não podia escapar.

Cerca de um pé longe dele estavam grandes pedaços de


vidro quebrado da janela que Fato quebrou. Um era longo e
432

irregular o suficiente para ter prendido a atenção de Luka


durante a maior parte da noite. Ele não foi quebrado. Isso
Página

era algo que tinha que se lembrar constantemente quanto


mais tempo permanecia neste lugar.

Mas... o que mais ele tinha para viver?


Escapar dos albaneses uma vez quando não tinham
conhecimento era uma coisa, mas tentar novamente,
especialmente sem ter quaisquer armas e a enorme quantidade
de homens que Fato ali... ele iria morrer tentando. Não era como
se pudesse voltar para a vida que deixou para trás. Os russos
iriam querer vê-lo morto, e ele não pensava por um segundo que
Mishca estaria ao seu lado, não quando ele tão alegremente
ofereceu-o.

Neste ponto, o que mais tinha para viver?

Apesar de sua mão algemada, Luka se estendeu até onde


pode, em última análise, usando o pé para arrastar o pedaço de
vidro mais perto até que pudesse agarrá-lo com a mão. Era grosso
e resistente, afiado o suficiente e sabia que uma vez que o cavasse
em toda a sua carne, sua pele iria dividir.

As palavras não podiam descrever o que sentia ao pensar em


seu sangue derramando no chão de cimento sujo debaixo dele.
Ansiava por essa liberdade. Ansiava pelo fim. O rosto sorridente
de Alex brilhou em sua memória, apenas um momento fugaz, o
que o fez duvidar com o que estava prestes a fazer.

Mas o que ele poderia oferecer a ela ali?

Ela poderia ter muito mais sem ele em sua vida. Mesmo se
por algum acaso ele conseguisse ficar livre deste lugar, Mishca
nunca iria aceitá-los juntos, não agora, não depois que a verdade
foi revelada. Ele nunca iria forçá-la a escolher entre eles porque
sabia que iria escolher ele e queria que ela escolhesse seu
irmão.

Este era o caminho mais fácil, Luka percebeu quando


pressionou o vidro em sua pele. Para todo mundo. Ele
433

aplicou pressão. Apenas o suficiente para que a mordida


afiada de dor o fizesse piscar, olhando para seu próprio
Página

braço onde o sangue brotava.

Ele poderia fazer isso.


Ele poderia fazer isso.

Ele poderia fazer isso.

Mas no momento em que se preparou para puxar o vidro ao


longo de sua pele foi o mesmo momento em que ele ouviu tiros
abafados. Não havia nenhuma razão para Fato atirar em um de
seus próprios homens, o que apenas pode significar que alguém
estava ali... um inimigo que Luka não conhecia.

O Sindicato albanês tinha muitos inimigos sem ter em conta


a Bratva, provavelmente mais, uma vez que Luka deixou este
lugar. Era uma coisa ser torturado por pessoas que ele conhecia,
assim poderia, pelo menos, saber o que fariam com ele, mas outra
coisa era enfrentar uma ameaça desconhecida.

Luka não poderia passar por isso novamente.

Agarrando o vidro mais forte, ele resolveu levar a diante a


decisão que tomou. Apenas um segundo longe de acabar com
isso, a porta explodiu aberta e um rifle foi a primeira coisa que
seus olhos voltados para além da luz viram.

Ele sabia, mesmo com a máscara, que estava olhando para


Klaus. A outra pessoa que estava vindo atrás dele ainda era um
mistério. Luka não soltou seu domínio sobre o vidro, nem mesmo
quando Klaus empurrou a máscara, revelando seu rosto. Ele
deveria sentir alívio ao vê-lo ali, mas a única coisa que sentia era
confusão. Ele não sabia se o que estava vendo era realidade ou se
isso era apenas em um sonho. Mas, se este fosse o último e não
houve consequências para o que iria fazer, aceitaria feliz.

Talvez tivesse desmaiado ou então estava sofrendo sob


uma ilusão intensa porque não havia outra maneira que
434

Klaus pudesse estar ali.


Página

— Ele se foi, então? — Um homem, o que ele não


reconheceu, estava sobre ele com uma metralhadora na
mão.
— Eu o tenho, Payne. Apenas certifique-se que os outros
estejam mortos.

O inglês olhou para Klaus, encolhendo os ombros uma vez


antes de sair. Klaus deu um passo hesitante para frente e em vez
de sua habitual arrogância, estava pensativo. Agachou-se na
frente dele, seus braços descansando em suas coxas, com as
mãos entrelaçadas na frente dele. Foi o mais vulnerável que ele já
se permitiu ser, especialmente perto de Luka.

— A que estou morrendo. — Luka sussurrou entrecortado, o


som de sua própria voz soando estranho para ele. — Não acho
que você seria a última pessoa que eu veria antes de eu ir, no
entanto. — Ele olhou para longe. — Preciso do seu perdão antes
de finalmente parar de respirar? Você até mesmo vai oferecê-lo?

Klaus balançou a cabeça, estendendo a mão para Luka,


esperando. Ele não entendia o porquê ou até mesmo como seu
toque parecia tão real.

— Isso é real. — Disse ele calmamente. — Estou aqui, agora.


Mas preciso de você para colocar isto para baixo para que eu
possa ajudá-lo. — Ele disse com um aceno de cabeça para o vidro
que Luka estava segurando com tanta força, sua mão estava
sangrando.

Luka, que estava percebendo que isso não era uma ilusão,
deixou cair a mão aberta, observando o barulho de vidro no chão.
Ele olhou para Klaus com os olhos assombrados e perguntou a
única questão que podia. — Eu não estou morto?

— Hoje não. — Respondeu quando ele retirou uma


pistola de um coldre em suas costas, atirando na corrente
que unia Luka à parede.
435

Arrastando o braço sobre os ombros, Klaus ajudou-o a


Página

se levantar, suportando a maior parte de seu peso desde


que ele mal podia suportar. Ele fez um esforço
concentrado para caminhar por conta própria, mas
sempre que seu passo era hesitante, Klaus estava ali,
sem palavras endireitando-o.

Luka era bom fingindo. Fingindo que tudo estava bem agora.
Fingindo que não estava passando por cima de vários corpos
quando Klaus acompanhou-o para fora de seu próprio inferno
pessoal. Eles se aventuraram para fora da porta da frente da
casa, a luz do sol fazendo contato com os olhos de Luka
dolorosamente. Ele não sabia para onde iam e não se importava,
desde que ele fosse para longe dali.

— Você tem o pacote?

Luka forçou sua cabeça para cima com a voz, olhando para
uma garota que era uma coisa pequena, mas parecia que poderia
cuidar de si mesma muito bem desde que estava armada como o
resto deles. Tinha Klaus usado sua equipe para tirá-lo dali?

Se Klaus respondeu à sua pergunta, Luka não ouviu.

— Celt está esperando por você com o outro.

Outro?

Havia outra pessoa que Fato manteve ali como um


prisioneiro? Faria sentido uma vez que gostava de machucar os
outros, mas Luka não ouviu gritos de ninguém além dos seus
próprios. A garota, qualquer que fosse o nome dela, apoiou o
outro braço de Luka, ajudando-os a se moverem mais
rapidamente através do lote.

Rindo sem graça, embora as costelas doessem, Luka


disse. — Desculpe a sujeira, eu geralmente dou menos
trabalho.
436

— Aposto que sim. — Respondeu ela ironicamente, seu


sotaque espanhol acolhedor e simpático.
Página

Quando eles chegaram mais perto de Celt, um


mercenário que Luka realmente conhecia, ele sentiu um
arrepio na espinha com a enorme quantidade de corpos
em todo o lugar. Ele nunca duvidou da eficiência de
Klaus, mas vê-lo de perto e pessoalmente, especialmente com a
forma como a calma que toda essa gente estava, era uma espécie
de algo aterrorizante para testemunhar.

Fatos estava de joelhos, o lábio separado, o olho inchando


rapidamente. E mesmo depois de tudo o que ele fez, ainda olhava
para Luka com reverência em seus olhos. Celt deu um passo para
trás, seu olhar piscando de Luka para Klaus. — Sua ligação.

A garota saiu de debaixo de Luka, afastando-se de modo que


ficou fora de alcance, mas mais surpreendente Klaus mudou
muito, mas Luka sabia que isso precisava acontecer. Depois de
tudo o que tiraram dele, não era uma surpresa que ele queria
Fato morto. Ele disse a ele, quando suspeitou que estivesse em
Nova York.

Mas, desta vez não ficaria no caminho. Se Klaus o queria


morto, era apenas uma questão de tempo...

Alguém colocou uma arma na mão de Luka e a visão não fez


nada para mudar a maneira como ele se sentia por dentro. Não
podia deixar de olhar para Klaus, a pergunta clara em seus olhos.
Ele apenas acenou com a cabeça, não oferecendo uma resposta,
mas Luka podia adivinhar. Este era para ele, tanto quanto para
Klaus.

Quando olhou para seu ex-amigo, alguém que conhecia há


muito tempo, finalmente começou a sentir algo diferente do vazio
que tomou conta dele desde que chegou ali. Olhando para ele,
Luka não duvidava da ligação entre eles, uma que
provavelmente nunca poderia ser quebrada, mesmo na
morte. Ele sabia que Fato se importava com ele à sua
própria maneira e sempre quis seu amor e aprovação. Mas
437

Luka aprendeu da maneira dura que Fato era um pouco


obsessivo e não importa o que Luka fizesse, não seria o
Página

suficiente.
Luka deveria tê-lo matado anos antes que chegasse a isso,
mas de certa forma, Luka o amou muito para ver sua vida
terminada.

— Você não o fará. — Fato zombou de sua posição no chão.


— Nunca poderia.

Mas isso era a coisa sobre o amor. Embora nunca pudesse


desaparecer completamente, o seu amor por outra pessoa lhe deu
a força para fazer o que deveria ter feito há muito tempo.

— Você não deveria ter vindo por mim. — Disse Luka sob
sua respiração. — E nunca deveria tê-la tocado.

Fato estava perdendo seu sorriso, consciente de que havia


algo diferente desde a última vez. Antes que Luka pudesse pensar
em desistir e antes que Fato pudesse pedir clemência, Luka
puxou o gatilho.

Apenas uma vez, mas foi o suficiente, a bala rasgando


através do meio da testa, deixando-o caído no chão, com os olhos
ainda abertos, a boca congelada em um semi-sorriso.

A vida infernal e sórdida, se foi dentro de segundos.

Luka deixou cair a arma, quase como se o peso fosse demais


para ele. Ele balançou em seus pés como se a pouca energia que
tinha fosse drenada. A última coisa que viu antes que a
inconsciência o levasse foi Klaus chegando e impedindo sua
queda.
438
Página
Klaus tomou um gole de sua cerveja, o olhar ainda treinado
sobre a cama onde o caroço gigante não se mexeu desde que foi
depositado há várias horas atrás. Eles trabalharam em Luka
muito bem e a julgar pelo olhar dele, do topo de sua cabeça
raspada para a parte inferior de seus sujos pés, não teve uma
refeição decente em todo esse tempo. Ele estava visivelmente mais
magro e parecia ter sua vida drenada.

Todas as vezes que Klaus o viu, ele sempre pareceu tão duro,
a máquina de matar em que se transformou. Mas agora, Klaus
vendo-o no seu pior ou pelo menos ele achava sim. Achava que
jamais seria capaz de tirar a imagem de Luka pronto para cortar
os próprios pulsos.

Lembrando como teve que o impedir fisicamente de fazê-lo...


isso era uma coisa que ele desejava que ele pudesse esquecer.

Gemendo, Luka despertou lentamente, em seguida, de uma


só vez quando pulou na posição vertical. Imediatamente se
arrependeu da decisão quando tocou uma mão no seu lado,
sentindo as bandagens que foram enroladas ao redor de seu
torso.

— Pelo menos me diga que conseguiu sair do país, caralho.


— Ele resmungou, virando seus vermelhos, olhos lacrimejantes
para Klaus.

Balançando a cabeça, disse Klaus. — Nós saímos.

— E Fato... ele está realmente morto.

— Queimamos seu corpo apenaspara ter certeza.

Luka deitou-se, com os olhos já fechados novamente.


439

— Deve ter sido bom.


Página

Klaus sorriu. — Acalme-se. Durma um pouco. Você


provavelmente precisa disso.

Mas ele já estava fora outra vez.


QUARENTA E OITO

Adeus

A dor era a única coisa, a única entidade física que Luka


poderia contar.

Apesar de acordar em uma cama macia, a agonia em todo o


seu corpo era tão grande que não importava o conforto. Ele
tentou se orientar, virando com o maior cuidado possível. Seu
braço foi ao redor de seu torso para que pudesse sentir as
ataduras envolvidas firmemente ao redor de suas costelas.

Luka não teve o luxo de não se lembrar de seu tempo com


Fato e os outros. Lembrou-se da tortura, de cada vez que Fato
entrou naquela sala, de seu resgate, e até mesmo de colocar uma
bala na testa de Fato. Mas tudo depois era um borrão.

Olhando ao redor do espaço estéril, havia apenas uma


cama na qual ele estava, uma pequena mesa à sua direita
com algumas garrafas de água fechadas e outra que estava
vazia. Ele se lembrou de sua própria casa... pelo menos
antes de Alex a transformar em algo que valia a pena viver.
440

Movendo-se para o lado da cama, ele abaixou os pés


Página

no chão, gemendo com a pontada de dor que passou por


ele com o movimento. Respirando profundamente pelo
nariz, lutou, tentando ficar de pé, mas o som de uma
porta de metal de correr sendo aberta lhe fez parar.
— Bom. Você está acordado. Pensei que estivesse morto.

Luka virou os olhos para Klaus quando entrou no quarto,


limpando a graxa de suas mãos com uma pequena toalha de mão.

— Onde estou? — Sua voz soou estranha aos seus próprios


ouvidos, arranhada e rouca de sono.

— No esconderijo.

— Certo.

Esforçando-se para ficar de pé, Luka lentamente foi até as


janelas manchadas, olhando para fora.

Ele conhecia Nova York como a palma da sua mão, para que
pudesse perceber com um olhar que não estavam ali.

— Como está se sentindo?

Como se tivesse sido torturado incansavelmente durante


meses a fio. — Bem.

Klaus se sentou na cama, colocando as mãos sobre os


joelhos. — Olha, eu sei que você está uma merda, e a última coisa
sobre o que você quer falar é Fatos, mas nós precisa...

— O que você estava fazendo em Berat? Por que tudo isso?


— Perguntou ele com um aceno de mão, abrangendo a totalidade
da sua situação.

— Uma tarefa.

— Uma atribuição? — Luka não sabia por que o


incomodava tanto.
441

... ou, pelo menos, não queria reconhecer o porquê.


Página

Talvez uma parte dele esperava que alguém, não


importando se era Klaus ou Mishca, o ajudou porque eles
se preocupavam... não porque ele era uma atribuição.
— Olha Luka...

— É Valon, lembra-se?

Seja qual fosse a bondade no rosto de Klaus ela desapareceu


e uma máscara deslizou sobre sua feição.

— Como eu poderia esquecer? Mas você passou a maior


parte desses seis anos tentando apagar o passado, não? Na
verdade, fez questão de evitar ou matar qualquer pessoa que
poderia explodir esse passado de volta.

Luka apertou os dentes, desejando poder bloquear suas


palavras.

Se seu passado pudesse ter sido enterrado com a menor


quantidade de vítimas, Luka teria tomado essa rota anos atrás.
Mas deixou o medo, junto com lealdade equivocada, nublar seus
pensamentos. A tal ponto que, se agisse como se não existisse,
que nada daquilo aconteceu, então não iria finalmente, afetar o
que ele tinha em sua nova vida.

Deveria saber melhor. Não, sabia melhor, mas simplesmente


não agiu como deveria.

Agora, ali estava ele a milhares de milhas de distância da


vida que ele construiu para si mesmo e até mesmo mais longe da
pessoa com quem queria estar. Mas nada disso importava agora,
importava?

— Você teve sua vingança, não? Todos estão mortos. A


menos que esteja planejando me matar, também? Se assim
for, acho que esta atribuição era muito trabalho para nada.
442

— Como eu disse antes, se quisesse matá-lo, você


estaria morto. Além disso, acho que nós chegamos a um
Página

entendimento, desde então, sim?

— Então, qual o plano? Qual foi a atribuição


exatamente?
— Extrair um burro ingrato albanês e matar todos os outros.
— Klaus bateu sua perna com o punho. — E quando digo isso,
quero dizer todos.

Luka olhou para ele, incrédulo. — Não há nenhuma garantia


de que matou cada pessoa na Organização. Não é possível.

— Não? Você de verdade subestima o que minha equipe é


capaz de fazer.

— Sua equipe?

— Não me diga que não se lembra dos outros? Eles ficariam


ofendidos.

Luka começou a responder, mas se conteve, percebendo um


pouco tarde que estavam brincando.

— O que você está fazendo aqui?

— Achei que quisesse algum tempo para si mesmo antes de


voltarmos.

— Eu não vou voltar.

Klaus fez uma careta. — Repita.

— Você me ouviu.

— Sim, eu o ouvi, mas considerando que é a merda mais


estúpida que já ouvi você dizer e acredite em mim já ouvi muito,
precisava ouvir novamente para ter certeza.

— Não há mais nada para mim em Nova York.


443

— Não? Ali está sua Bratva? Lauren? E Ale...


Página

Luka riu amargamente. — Certo. Eu sei que Mishca


praticamente me embrulhou para presente para Fato.
Como é que vou trabalhar com alguém em quem não
posso confiar?
— Nós nos demos muito bem, pelo que vejo.

Ignorando seu comentário, Luka disse. — Não diga a eles.

Klaus parecia confuso, reajustando o gorro cobrindo seu


cabelo. — Você realmente ouviu a si mesmo agora?

— Após a primeira semana no buraco, pensei que talvez


ainda estivesse errado, que havia um plano em prática, alguma
merda que eu não sabia. Três semanas, comecei a duvidar de
tudo. Então, quando não podia envolver minha cabeça ao redor
do conceito de tempo, parei de acreditar em qualquer coisa. Então
não. Quando eu deixar este lugar, não me siga.

Luka não tinha mais nada. Não tinha qualquer acesso a


dinheiro e ele nem sequer tinha a energia para continuar esta
conversa por mais tempo. Portanto, virando as costas para Klaus,
ele se dirigiu para a porta.

— E sobre Alex?

Ele fez uma pausa, preparando-se. — Estou fazendo isso por


ela.

Ele a preferia acreditando nele morto a ver a decepção em


seus olhos.

444
Página
QUARENTA E NOVE

Pechinchas

Há oito meses...

Seguindo a anfitriã para uma mesa no centro da sala, longe


dos outros comensais sentados nas proximidades, Mishca puxou
seu Black Berry de seu bolso e viu o rosto sorridente de sua
esposa olhando para ele a partir do dispositivo vibratório. Antes
que pudesse tocar muito tempo, ele desligou-o. Para este
encontro, não precisa de quaisquer interrupções ou de quaisquer
distrações.

E depois havia o fato de que o homem com quem estava se


encontrando insistiu sobre isso.

Ele recusou o menu oferecido a ele, mas fez hora com dois
dedos de uísque, precisando de algo para ultrapassar o
limite. Chegar ao topo não foi difícil, o que era difícil era
permanecer lá. Mishca nunca pensou que seria fácil
começar de onde Mikhail parou. Havia o monitoramento
445

constante das contas, garantindo que tudo corresse suave,


para não mencionar a enorme quantidade de pessoas que
Página

tinha para tomar conta. E com os homens que Mikhail


tinha sob eles, Mishca passou a maior parte do ano
reconstruindo e trazendo as pessoas em quem confiava
para perto.
Mas a última pessoa que ele pensaria em duvidar era Luka.

Antes dele partir para a Itália, não havia nenhuma razão


para pensar que uma vez que seu homem tivesse cavado no
passado de todos, não haveria nada sobre Luka que ele já não
soubesse. Talvez a contagem de corpos era muito maior do que
previu, mas que era apenas o preço de trabalhar com alguém
como ele.

Exceto na noite em que recebeu o telefonema, a última noite


de sua lua de mel, na verdade, ele não acreditou. Mas não
importava como foi repetido para ele, não importava como pediu
para os fatos serem reavaliados, a resposta ainda era a mesma.

Seis anos atrás, quando ele foi a essa casa no meio do nada
e encontrou o irmão que ele não sabia que existia, a tortura pela
qual passou foi trabalho de Luka. Claro, ele nunca pensou que os
dois fossem parentes. Não era como se Luka tivesse aparecido
imediatamente após a partida de Klaus e depois de tudo, Luka
trabalhou para Mikhail mais de um ano antes de ir para Mishca.
Claro, ele podia ver. Ninguém que Mishca conhecia era tão bom
com uma lâmina quanto Luka era.

Ainda mais estranho foi o fato de que Klaus não falou uma
palavra sobre isso e sobre a animosidade existente entre ele e
Luka, Mishca apenas pensava que era por causa da
personalidade de Luka. Ele poderia ter se sentido traído pelo que
Luka fez, mas no final, não poderia ficar mais irritado do que
Klaus estaria e mais do que isso, ele foi apenas um peão no
grande esquema das coisas. Mikhail estava verdadeiramente
atrás dele. E se alguém iria meter a porrada em Luka pelo o
que ele fez, seria Mishca.
446

Mas a promessa ficou de lado quando Facto e seus


asseclas foram à caça de Luka e Mishca sabia que não era
Página

apenas por causa da morte de Bastian. Havia muito mais


história. Muita coisa ficou inacabada. Bastian foi a
desculpa. Talvez, em um mundo perfeito, se Luka não
massacrasse Bastian, os albaneses poderiam não estar
conspirando para levá-lo, mas Mishca sabia que era
tudo um jogo de espera.

Enquanto Luka vivesse, eles estariam esperando para matá-


lo. A única maneira que poderia impedir uma guerra era usar a
desculpa de que Luka matou Bastian para levá-lo de volta para
sua terra natal. Ele não achava que algum deles iria trazer o que
Luka fez a Klaus todos aqueles anos, isso era parte do acordo,
mas havia outra coisa que Mishca não entendia sobre Fato.

Por que ele estava tão determinado a pegar Luka. Mas seja
qual fosse a razão, Mishca sempre odiou fazer acordos com os
albaneses. E não teria que fazer, agora que ele estava no
comando. Havia somente uma coisa que Mishca poderia fazer
sem transformar isso em uma guerra completa. Pesou as
probabilidades e agonizou com elas, mas se quisesse Luka fora
disso e para não mencionar sua esposa, sua irmã e sua
organização, então teria que jogar da única maneira que sabia.

Foi por isso que Mishca chamou a única pessoa capaz de


fazer o que precisava. Pelo que Mishca aprendeu sobre o albanês
Fato, sua obsessão estranha com Luka poderia ser benéfica.
Quando a garçonete voltou com sua bebida, ela não estava
sozinha. O homem com quem Mishca se reuniria era tanto um
mistério como uma lenda no mercado negro.

Ao contrário de Mishca, que ainda tinha um perfil muito


público, já que ele possuía algumas casas noturnas e outros
negócios, este homem praticamente vivia e prosperava na solidão.
A única coisa que Mishca sabia sobre ele era que ele possuía o
Den, a organização em que Klaus trabalhou. Na verdade,
este homem era o manipulador de Klaus, pelo menos, foi o
que Mishca compreendeu.
447

Ele era a única pessoa que tinha poder o suficiente


para ser capaz de manter uma equipe de mercenários que
Página

eram apenas leais a eles, especialmente quando


mercenários tendiam a seguir a mais alta do dólar.

Oh e o nome que ele representava.


O Kingmaker.

Mishca se levantou por respeito, aceitando a mão estendida


antes que sentasse de volta. Ele agradeceu a garota por sua
bebida antes dela sair. O homem se sentou, seu extasiado olhar
sobre Mishca. Enquanto intenso, ainda havia algo em seu olhar
que parecia entediado com isso. — Volkov. Não acredito que
tivemos o prazer.

— Nós não... — Ele parou, sem saber do que chamá-lo.

Ele sorriu. — Nomes têm poder, Volkov. Não darei o meu.


Diga-me, como posso ajudar a sua situação. Se eu estivesse em
seu lugar, acho que teria entregado Valon Ahmeti para os homens
que o queriam. Apenas para me livrar do problema.

Mishca piscou, esperando que sua surpresa não se refletisse


em seu rosto. Ele não deveria estar, não quando este homem
estava no negócio da informação, mas ter alguém sabendo dos
detalhes sobre algo que era um segredo em curso por mais de seis
anos, especialmente quando havia tão poucas pessoas restantes
que realmente tinham conhecimento de primeira mão... bem,
Mishca não estava preparado.

— Com todo respeito, como eu trabalho o meu negócio é


problema meu.

Os homens podiam ser volúveis e alguns ainda poderiam se


ofender com as palavras de Mishca, mas o Kingmaker não era tal
homem.

— Justo. Aqui está como posso ajudá-lo, Sr. Volkov.


Eu sei que Fato tem uma paixão doentia por seu subalterno
albanês e por essa razão, nós sabemos que ele irá matá-lo
448

imediatamente. De qualquer jeito, preferiria mantê-lo vivo e


torturá-lo um pouco, apenas porque e gosta disso. Quando
Página

o calor de sua incursão se desgastar, meus homens


entrarão, o recuperarão e destruirão tudo dentro de uma
milha do composto.
— Destruir? — Perguntou Mishca. Ele precisava ter certeza
de que a enorme quantidade de dinheiro que estava colocando
nesta operação valesse a pena.

— Até o momento em que terminar, não sobrará nada. Seu


problema com o albanês deixará de existir.

Mishca assentiu, terminando o último gole de sua bebida. —


E quanto tempo depois que ele o levar a missão começará?

— Doze semanas.

Seus dedos apertaram ao redor do vidro quando o levou de


volta para a mesa, olhando dentro dos olhos do homem de frente
a ele. — Você quer que eu permita que um de meus homens seja
torturado durante doze semanas?

— Este não é uma simples quebra e pegue como vocês


russos são tão afeiçoados. É preciso ter paciência, habilidade e
conhecimento da complexa organização que deseja destruir, os
quais você não possui. Ou aceita o acordo, tal como está ou deixe
de lado, mas lembre-se que, após esses meses, ele morrerá ou
você salva a sua vida. Faça sua escolha.

Agora, Mishca entendia por que Klaus não gostava do seu


novo manipulador. O homem era um imbecil. Um poderoso e
quase intocável, mas um idiota mesmo assim. E infelizmente, ele
era a única opção de Mishca.

Acenando com a cabeça uma vez, Mishca concordou.

— Foi um prazer fazer negócios com você, Volkov. —


Ele se levantou, abotoando o paletó. — Um conselho. — Ele
não falou até que Mishca estivesse olhando para ele. — Às
449

vezes, os homens que você recebe de volta após a tortura


não são os mesmos de quando foram. Tenha cuidado para
Página

que não traga de volta algo que você não pode controlar.
Olhando para a forma adormecida de seu filho, Mishca
esperava por paz. Ansiava por ela após a tensão que esteve ao
longo dos últimos meses, mas ela não veio. Apenas por um
momento, quando Lauren entregou o bebe, enviando um sorriso
suado e cansado em seu caminho uma vez que o bebe estava em
seus braços que sentiu a emoção solitária que lhe escapou.
Felicidade. Mas foi fugaz e enquanto fazia o seu melhor para
ignorar esse anseio que sentia, era difícil.

Nenhuma única vez nos vinte anos que Alex esteve viva ela
ficou verdadeiramente zangada com ele o suficiente para cortar
todos os contatos. Chateada? Ocasionalmente e não era sequer
por alguns dias, lhe dando o tratamento silencioso, mas ela vinha
ao redor, como sempre fazia.

Agora? Ele não tinha tanta certeza.

Ele não esperava que ela entendesse seu raciocínio. Ele


esperava apenas que ela respeitasse sua decisão. Mishca não foi
ensinado a explicar todas suas ações, mesmo para Lauren. Eles
estavam juntos há quase quatro anos, casados há quase um ano
e ela ainda forçava informações dele que não poderia ter
compartilhado inicialmente. A única pessoa que não parecia
estar com raiva dele era Klaus, mas ele não falava muito.
450

Na verdade, ele não manifestou qualquer sentimento


claro sobre todo o assunto. Tirando uma mão para fora,
Página

Mishca arrastou seus dedos sobre o cabelo de Sacha,


suavemente, para não o acordar. Seus lábios estavam
entreabertos, sua respiração suave, seu peito subindo e
descendo. Sacha era perfeito em todos os sentidos da palavra.

— Mish...

Ele se virou, sorrindo suavemente com a visão de sua esposa


na porta. Ela parecia cansada, já que eles tinham um bebe de
quatro meses de idade, mas seus olhos estavam em alerta,
dizendo a Mishca que ela tinha algo a lhe dizer.

Caminhando para ela, ele poupou um último olhar para


Sacha, antes de sair do quarto atrás dela, fechando a porta atrás
deles. Ela se sentou no sofá, enrolando as pernas debaixo dela, os
braços cruzados sobre o peito. Mishca se sentou de frente a ela,
com os braços abertos. Ela parecia tentadora, mas os ombros
estavam tensos e os olhos estreitos.

Ele não conseguia conquistá-la tão facilmente,


aparentemente.

— Você é um fodido, Mish. — Ela começou suavemente, seus


olhos indo de determinados a angustiados em segundos.
Suspirando, ele passou a mão pelo rosto, afastando seu olhar
dela. — Precisarei de uma bebida para isso?

— Talvez, mas quero que você realmente me ouça. Álcool irá


apenas atrapalhar.

Ele franziu a testa, virando-se e então ela tinha toda sua


atenção. — Eu sempre a ouvi, Lauren. Sempre.

— Mas não quando se trata de Luka.

Ele deveria saber que ela queria falar sobre isso.


Parecia que ele não era a única pessoa ainda ligada naquele
451

dia a seis meses. Na verdade, ninguém sabia o quão duro


foi a decisão para ele ou tinha ideia do que foi. Não foi até
Página

muito mais tarde que ele mesmo achou que cometeu um


erro.

— O nome dele é Valon.


O fogo estava de volta em seus olhos, mesmo que sua
resposta faltasse.

— A única empresa na qual deixo você se envolver é legítima.


Eu tentei não deixar nada a ver com a Bratva tocá-la. Não
mudarei isso agora.

Ela sorriu, puxando a gola da blusa para a direita, revelando


uma das duas estrelas que ela tinha tatuadas em seu peito. Um
símbolo, tanto da vida que ele venerava e a promessa de que ele
iria protegê-la.

— Muito tarde.

— Lauren...

— Explique-me, Mish. — Ela o interrompeu. — Se Klaus não


estava irritado e não era como se ele estivesse no escuro sobre
tudo, então por que você estava?

— Não se esqueça que era suposto ser eu naquela cadeira.


Se Niklaus nunca viesse a Nova York no fim de semana, as
circunstâncias seriam completamente diferentes agora.

— Você continua pensando nisso dessa forma, mas a forma


como eu vejo, Luka te ajudou de uma maneira que você não vê.
Sim, ele fez atos condenáveis contra Klaus, não estou
desculpando isso, mas em última análise, ele foi o único a libertá-
lo. Ele o chamou e lhe disse onde encontrá-lo. Sem ele, você
nunca saberia que você tinha um irmão. Desde então, Luka fez
muito, ainda mais para você. Gosto de pensar que ele estava
fazendo isso pelo passado.

Não era como se a aparição dos albaneses aqui viesse


452

como uma surpresa. Não foi mesmo uma surpresa quando


pediram para ele entregar Luka, sabendo que teria sido um
Página

ato de guerra se tivessem simplesmente o levado. Durante


meses, desde o último dia de sua lua de mel, Mishca
agonizou com a verdade que descobriu através de um
simples telefonema sobre a única pessoa que pensou
poder confiar no Bratva. Ele contemplou uma e outra
vez o que faria, porque, apesar de seus sentimentos pessoais, um
exemplo teria que ser feito.

Pessoas em seus círculos tinham um terrível hábito de


fofocar, mesmo que a maioria deles fossem homens. Se as
palavras corressem ao redor de que Mishca aceitou alguém que
ousadamente o desafiou no passado, especialmente com o que os
albaneses planejaram fazer com ele, em seguida, o teria feito
parecer fraco. Ele já tinha uma, agora duas, fraquezas evidentes.
Ele não queria que elas continuassem se acumulando.

Mas, mesmo assim, ele aprendeu a amar Luka como um


irmão, um irmão mais novo irritante, na verdade, e não queria ver
Luka sofrer do jeito que sabia que ele sofreria. Em última análise,
ele tomou a única decisão que podia. Uma que iria preservar as
aparências na frente da sua organização e que ele acreditava que
acabaria ajudando Luka a longo prazo. Ele sabia muito bem o
perigo de ter um passado caindo sobre você.

— Ele deveria ter me contado. — Mishca disse finalmente


quando empurrou seus pensamentos para o fundo da sua mente
no momento.

Seu sorriso estava triste quando ela perguntou. — E sua


reação teria sido diferente?

Isso também, era algo em que ele pensava constantemente.


Ele teria feito algo diferente se Luka tivesse dito a ele ao invés de
uma fonte externa?

Ele respondeu com a verdade, ou pelo menos o que


sentiu ser. — Eu não sei. O ponto é discutível.

— Mas isso não. Não sei se você percebeu, mas Alex


453

está brava com você. Mais irritada do que ficou quando


descobriu sobre Anya e Viktor.
Página

Ela não ficou com raiva no início, Mishca lembrou.


Ela parecia quebrada, ferida de uma maneira que fazia o
seu coração apertar.
— Ele nunca foi quem eu queria para Alex de qualquer
maneira.

Com escárnio, Lauren revirou os olhos. — De verdade?


Tenho certeza de que Ross ficou radiante quando te conheci.

Sorrindo levemente, Mishca encolheu um ombro. — Tempos


diferentes.

— Luka a ama e ela o ama. Você não pode lutar contra isso
mais do que Ross poderia ter lutado contra você e eu. Neste
momento, a única coisa que Alex está pensando é que a culpa é
sua de Luka não estar aqui.

Mishca balançou a cabeça, teimoso como sempre foi. — Eles


viriam por ele de qualquer maneira.

— Mas você fez a escolha de entregá-lo. Observou de bom


grado enquanto o arrastavam para fora. Cristo, se eu não te
amasse tanto quanto amo, eu estaria mais brava com você do que
estou.

— Se bem me lembro, você não me deixou dormir no nosso


quarto por uma semana...

— É verdade e provavelmente teria sido um tempo maior se o


bebe não agisse como se ter sua mão sobre minha barriga fosse a
única coisa que o ajudasse dormir à noite. — Ela acenou com a
mão no ar. — Isso está além do ponto. Se quer que sua irmã volte
para casa e quero dizer realmente voltar a ficar em vez de sair na
sua maneira de evitá-lo cada vez que está em Nova York,
então você precisa fazer isso direito.

Ele suspirou. — O que quer que eu faça?


454

— Vá busca-lo.
Página

— Você quer que eu vá à guerra contra os albaneses?


— Se fosse você ali, eu teria feito pior e sabe disso. Você está
apenas com sorte que Klaus recusou-se a aceitar o trabalho
quando eu lhe pedi para fazê-lo.

Seus olhos se estreitaram perigosamente, mas seu


desagrado estava perdido no seu olhar ou ignorado, como se seu
olhar combinasse com um dos seus próprios.

— Conserte isso. — Lauren disse calmamente. — Ou Sacha


terá que crescer sem sua tia e tio, porque o papai está sendo um
idiota.

— Tio?

Agora, ela sorriu de forma genuína. — Eles são inevitáveis,


Mish. Sempre foi.

Suspirando, ele puxou-a em seus braços, beijando-a


levemente. — Eu já cuidei disso.

Seis meses depois…

Klaus voltou a colar-se ao vento enquanto se dirigia de


455

volta ao hotel. Ele passou a maior parte de sua noite de pé


do lado de fora de uma taberna no coração da cozinha do
Página

inferno olhando através das grandes janelas para a garota


atrás do bar. Ela usava um pequeno avental preto em volta
da cintura, o cabelo vermelho preso em um coque
bagunçado por um lápis. Embora ficou lá por um pouco
mais de uma hora, ela estava alheia à sua presença.
Ela estava perdida na vida, qualquer vida que ele deixou para
depois quando deixou Nova York.

Desde seu retorno, ele se contemplou indo até ela, o que


provocava a conversa que eles deveriam ter tido há muito tempo,
mas ele não era a mesma pessoa que era agora. Ainda amargo,
ainda nutria raiva contra o mundo, mas em algum momento, o
filme vermelho de raiva se levantou e ele já não era um escravo
dela. Ele sabia que tinha que lhe agradecer por mostrar-lhe
bondade num momento em que ele precisava.

Klaus nunca gostou de estar errado. Ele odiava de fato e


mais do que isso, não gostava de cometer erros. E agora,
enquanto se dirigia para casa depois de uma longa noite e o
tempo gasto desejando outras coisas, ele desejava reconsiderar a
vida que levou e pode ter cometido um erro cinco anos atrás,
quando deixou Nova York e a garota, Reagan.

De alguma forma, apesar de todas as pessoas que conheceu


e o grande volume de informações que processava diariamente,
ainda se lembrava do nome dela. O que dizia a ele tudo o que
precisava saber.

Chegando em seu hotel, logo depois, procurou a chave no


bolso. Antes de receber a marca em seu pescoço, Klaus não se
importava em qual hotel ficava, contanto que estivesse limpo.
Agora, suas estipulações eram diferentes. Enquanto ainda tinha
que ser limpo, preferia hotéis em que os funcionários
normalmente olhavam para o outro lado e apenas aceitavam
dinheiro. Ele também preferia lugares onde uma chave era
necessária para entrar no quarto. Era muito fácil duplicar
uma chave eletrônica.
456

Celt levou esse ponto para casa desde que ele era uma
aberração com a segurança. Abrindo a tranca, Klaus virou
Página

a maçaneta e empurrou, andando e batendo a porta atrás


de si. Estava escuro no quarto, todas as luzes apagadas,
mas havia luar o suficiente através das cortinas para ver
Mishca sentado à mesa de jantar pequena, mexendo um
cigarro entre os dedos. Enquanto poderia ter ficado
surpreso ao vê-lo ali, especialmente desde que não percebeu nada
fora da porta, Klaus não deixou mostrar.

Ele tirou sua jaqueta de couro, jogando-a na cama, puxando


uma cadeira para que pudesse começar a desamarrar as botas e
tirá-las. — Vai continuar sentado na escuridão ou falará logo o
que veio aqui para dizer?

Desde que os albaneses levaram Luka, Mishca e ele não se


viram muito e as poucas vezes que estiveram juntos foi por causa
de Lauren. Klaus não duvidava de que haveria sempre essa
tensão entre eles pelos pecados dos outros. Mas percorreram um
longo caminho desde que Klaus olhou para ele com o espaço de
um rifle, contemplando tirar sua vida.

Jogando suas botas para um canto vazio do quarto, Klaus


recostou-se na cadeira, cruzando os braços e estudando o homem
de frente a ele. Ele sabia muito bem como acontecimentos
singulares poderiam mudar tudo. Enquanto Mishca sempre
parecia tão frio, exceto quando se tratava de sua esposa que o
fazia baixar a guarda, havia algo quase cansado sobre sua
expressão esta noite, que provocou um pouco de piedade em
Klaus.

Ele poderia ter levado uma vida que era principalmente


morte e escuridão, mas Mishca estava sobrecarregado com um
legado que ele não estava. Ainda tinha sua habitual expressão em
branco, nunca querendo revelar seus pensamentos nem por um
momento, mas Klaus estava achando mais fácil o ler.

...ou talvez fosse porque era fácil ler seu próprio


reflexo.

Uma sobrancelha levantada, Klaus decidiu romper o


457

silêncio que Mishca estava aparentemente determinado a


manter. — O que você quer, russo?
Página

— Onde ele está?


Klaus não teve que perguntar o que queria dizer, porque
ambos já sabiam. Havia apenas uma pessoa por quem Mishca
viria a ele, especificamente, para conseguir seu paradeiro. Mas a
verdadeira questão era: por que agora? O que mudou que o fez
acompanhar Klaus nas primeiras horas da noite?

Ele tentou argumentar a resposta por conta própria, mas


não chegando a nada, decidiu perguntar. — Mesmo se eu
soubesse, por que você quer saber?

— Minhas razões são minhas.

Vaga besteira típica de russo. — Então não posso te ajudar.

O músculo na mandíbula de Mishca saltou quando ele


apertou os dentes, provavelmente em um esforço para não dar
uma resposta. — Seja qual for sua razão para manter a história
de Valon para si mesmo é o seu negócio. Não vou me intrometer.

Mas sobre isso, eu preciso de respostas.

— Por quê? — Perguntou Klaus, genuinamente querendo


saber. — Pensei que ele estivesse morto para você.

Mishca franziu a testa. — Você sabe que não é verdade.

— Quer saber o que não entendo sobre você, russo? Afirmou


que queria acabar com isso e colocar o passado para trás, mas foi
diretamente para meu chefe. — Klaus balançou a cabeça em
desgosto. — Eu poderia ter lidado com essa merda sozinho.

— Você poderia? — Mishca perguntou no tom


irritantemente condescendente dele. — Sabe o grande
número de pessoas envolvidas nessa missão?
458

— Obviamente. Acho que eu estava lá, Russo.


Página

— Então sabe sobre a equipe que invadiu o composto


Besnik em Londres? E o outro que se infiltrou em uma
reunião em um iate no meio do mar de Bering?
Na verdade... aquilo era novidade para Klaus, mas ele teve o
cuidado de não deixar sua surpresa aparecer. Mas Mishca sabia a
verdade.

— O que todos não conseguem perceber é que eu não tomei


esta decisão de ânimo leve. Quando Fato veio me pedir Luka, eu
não queria vê-lo entregue, mesmo se quisesse estrangulá-lo.

Klaus podia vê-lo, a raiva residual adormecida dentro dele,


mas estava claramente pronta para sair.

— Esses albaneses eram como porra de baratas. Mesmo


quando um estava morto, outros tomaram seu lugar. Isto não foi
apenas sobre tirar Luka de uma situação fodida, mas também
sobre como prevenir que outra acontecesse. Fato não era a única
pessoa que eu queria fora. Eu me livrei de toda a sua rede.

— Porque nem você nem ele jamais seriam capazes de seguir


em frente com sua maldita vida até que ele terminasse. Então, de
nada. Agora, se puder falar sobre o que você pensa que sabe, eu
agradeceria.

Levantando-se, Mishca passou a mão pelo cabelo, colocando


o seu temperamento sob controle.

— Você sabe onde ele está e neste momento, realmente não


me importo. Dirá a ele que se quiser qualquer merda no futuro
com Bratva ou com a minha irmã, então é melhor estar em meu
escritório no prazo de setenta e duas horas.

Klaus apenas pode piscar, enquanto observava Mishca


sair, ele nem sequer teve a coragem de bater a porta como
Klaus teria feito se as posições fossem contrárias.
459

Idiota.
Página

Agora... parecia que teria que pegar um voo.


CINQUENTA

Está na hora

— Você irá continuar perseguindo-a? — Klaus disse quando


ficou ao lado do ex-executor, não se surpreendendo nenhum
pouco ao encontrá-lo ali. — Ou não?

Ele foi honesto quando disse à Mishca que não sabia onde
Luka estava, mas ele tinha uma ideia. Eles estavam a apenas
algumas quadras do apartamento de Alex, sentados em um
pequeno café perto do mercado onde Alex, estava alheia à sua
presença, ocupada comprando em uma loja cerca de uma quadra,
conversando suavemente com um rapaz que parou ao lado dela.
Ela parecia menos irritada do que a última vez que ele a viu, mas
havia uma tristeza irradiando dela. Talvez, se ela olhasse para
cima, apenas uma vez e os pegasse ali sentados olhando para ela,
talvez essa tristeza fosse embora.

Luka parecia melhor, suas contusões desapareceram e


ele parecia ter ganhado um pouco de peso, embora não
tanto quanto provavelmente necessitava. Seu cabelo ainda
460

estava curto, embora fosse óbvio que estava crescendo.


Batendo os dedos contra a mesa em uma cadência que
Página

apenas ele sabia, Luka endureceu com a intrusão


indesejável de Klaus — embora ele mantivesse seu olhar
sobre Alex.
Klaus nunca iria admitir isso, mas ele sentia falta daquele
sorriso sarcástico e do humor bruto do Albanês sentado na sua
frente. Se não estivesse olhando para ele, não poderia tê-lo
reconhecido. Ele estava lá, como se toda sua vida tivesse sido
tirada dele e era agora apenas uma concha. Da mesma forma que
ele parecia quando eles se conheceram.

— Ela está livre.

— Que porra isso quer dizer? — Perguntou Klaus, franzindo


a testa.

— Eu precisava saber. — Ele continuou como se Klaus não


tivesse falado nada. — Eu precisava saber que ela ficaria bem
sem mim.

Luka se levantou sem aviso. Alex estava em movimento, indo


na direção oposta com seu amigo. Klaus lançou um dólar sobre a
mesa, se mantendo ao lado de Luka embora fosse claro que ele
não era desejado ali.

— Escute, precisam de você em Nova York.

— Eu não voltarei.

Pelo menos ele estava reconhecendo a presença de Klaus.


Isso era um progresso. — Apenas porque você teve uma briga,
isso não o livra de seus deveres.

Luka fez uma pausa, voltando-se para olhar para Klaus que
apenas levantou as sobrancelhas. — Cedo demais?

— Foda-se, Klaus.
461

Ele murmurou alguma coisa que Klaus não pode ouvir,


cavando a mão no bolso pegando o maço de cigarros que
Página

tinha lá. Puxando um, acendeu-o e deu uma longa tragada,


exalando a fumaça enquanto facilmente se deslocavam no
meio da multidão.
Depois de um momento, Klaus percebeu que ainda estavam
seguindo Alex, que agora estava em movimento.

— Está contente com isso? — Perguntou Klaus, deslizando


as mãos nos bolsos. — Seguindo-a como um cachorrinho perdido
quando poderia estar com ela. Quer dizer, quem mais está no seu
caminho? Que eu me lembre, você atirou em Fato à queima-
roupa. Ou talvez eu tenha imaginado isso?

— Como eu poderia? Depois de tudo que fiz.

— Ela não se preocupa com isso.

— Mas eu sim.

— E daí? Você irá embora?

Luka deu uma última tragada do cigarro que estava


fumando antes de jogá-lo no chão e pisar. — Eu tenho alguma
escolha?

Klaus não poderia explicar, mas raiva o encheu enquanto


eles atravessaram a rua, ele o empurrou para um beco. Pode não
ter percebido isso até aquele momento, mas vinha tratando Luka
com luvas de pelica desde Berat.

Sabendo em primeira mão o que a tortura poderia fazer para


uma pessoa, ele escolheu dar a Luka sua liberdade, dando-lhe
tempo para lidar com o que sofreu. Mas não teve um momento
em que pensou que Luka desistiria de tudo.

Esta vida deles... isso era tudo o que ele conhecia.


Ficou claro que Luka ainda estava se afundando na culpa
que ele poderia carregar, mas Klaus não iria deixá-lo
462

permanecer lá, não mais.


Página

Fechando o punho, Klaus se virou, dando um soco no


rosto de Luka, agarrando sua camisa com sua mão livre
para mantê-lo na posição vertical. Quando ele não reagiu
rapidamente, Klaus se virou novamente, apenas que
desta vez, finalmente conseguiu uma reação.

— Soque-me novamente e você perderá sua mão.

Klaus não duvidava disso. — Você está agindo como uma


vadia. — Disse ele, agora que tinha certeza ter a atenção de Luka.
— Dois anos a partir de agora, vamos dizer que ela esteja feliz
com quem porra aquele merda seja. Quando os inimigos dos
russos vierem para ela, quem estará aqui para protegê-la? Porque
aquele pobre desgraçado não saberá o que fazer com seu próprio
rabo quando os caras aparecerem prontos para explodir um
buraco nele para chegar até ela. E quando o russo perceber o que
está acontecendo, ela estará muito longe. No tempo que você
passou a observando, quantas vezes você já ouviu ela
conversando com ele? E com Lauren? Talvez duas ou três vezes,
mas o russo? Ela não quer nada com ele por causa do que ela
acha que ele fez com você!

— Acha? — Luka gritou em pura fúria, mal contida


irradiando dele. — Ele me entregou, porra!

— Acredite ou não, o russo tinha suas razões. E quer você


goste ou não, essas razões são a única coisa que mantiveram você
com vida.

Luka zombou. — Sim? Poderia jurar que era seu rosto que
eu estava olhando naquele dia.

— Você esqueceu tão rápido quem mais estava lá naquele


dia? Não era apenas eu, mas toda minha equipe. O russo pode ter
um monte de merda, mas não tanta.

— O que você está tentando dizer?


463

— Vá. Ver. O. Russo.


Página

Mas Luka ainda estava sendo teimoso. — Eu prometi


a ela que sempre estaria lá, que nunca deixaria qualquer
merda ruim tocá-la. Por minha causa, ela foi enterrada
viva. Precisou dormir com as luzes acesas por uma
semana depois disso. — Luka balançou a cabeça, o
ódio por si mesmo em seus olhos claros. — Que porra eu posso
dar-lhe que não acabe com ela se machucando?

— Você e o russo são irritantes como a merda. — Disse


Klaus, agitado. — Você é uma puta. Oh, eu não posso protegê-la.
Ela está melhor sem mim. Pare de ser um maricas e conserte isso.
Corrija sua merda. Fim da linha, a única coisa que a mantém
longe de você é você mesmo.

Luka não respondeu, mas ele soltou uma respiração, a


tensão deixando-o.

Colocando a mão no bolso de trás, Klaus tirou um envelope.


— Seu avião para Nova York sai em uma hora. Nunca diga que eu
nunca fiz nada por você.

Somente quando Luka o pegou e bateu no seu ombro ao sair


do beco sem uma palavra, Klaus sorriu.

Seu trabalho estava feito.

464
Página
CINQUENTA E UM

Estrelas sangrando

Sair do aeroporto foi uma experiência totalmente diferente


da última vez que fez o mesmo. Entrou em um dos vários táxis
amarelos, sentou-se no assento de couro rachado e deu ao
motorista o endereço. Ele observou enquanto o concreto
transformava-se em verde exuberante e finalmente, estava
viajando por esse caminho familiar que encontrou por acaso anos
atrás.

Ele não foi embora há muito tempo, mas quando chegou em


sua casa, parecia a estar vendo com novos olhos. Dando ao
taxista um extra de quarenta dólares, Luka entrou, deixando cair
sua mochila na entrada. Passando por cada quarto, ele levou seu
tempo, respirando o ar familiar de um lugar que não foi tocado
por sua antiga vida na Albânia. Pela primeira vez, não havia nada
em volta que trouxe de volta lembranças ruins... era o
oposto, na verdade.

A única coisa que ele poderia se aventurar a pensar era


465

em Alex e as lembranças compartilharam ali. E mais…


Página

Esperança.

Tomando um banho, Luka esfregou o dia fora, em


seguida, vestiu-se e foi para trás da casa e se dirigiu para
seu jipe. Ele sorriu para a monstruosidade suja de
lama, subindo no assento do motorista, o ligou, o barulho do
motor soando como música para seus ouvidos.

Coisas que quase o fez se sentir normal, como se tivesse


estado em um trabalho por um longo tempo e agora estava de
volta, mas havia uma pessoa vital e Loki, quem ele estava mais do
que pronto para ver.

E por ela, ele iria fazer a única coisa que jurou que não
faria...

Trinta minutos depois, ele encontrava-se fora do Clube 221,


observando as pessoas entrarem e saírem preparadas para os
acontecimentos da noite. Entrando, Luka ignorou alguns olhares
que recebeu de alguns dos funcionários. Claro, eles não teriam
que saber por que ele se foi, mas apenas souberam que não
estava mais por perto... o que poderia significar uma série de
coisas.

Não foi até que ele se aproximou da volta do corredor que


levantou sua guarda, olhando para os dois homens que o
estavam observando. Ele não se lembrava de qualquer um deles,
então tinham que ser novos, mas ambos, obviamente, tinham
opiniões pelo jeito que franziram a testa quando ele se aproximou.

Um deles foi mais ousado do que seu amigo, no entanto,


estendendo a mão para parar Luka. — Você tem um
compromisso?

Luka olhou para a mão que estava a alguns centímetros de


seu peito. Quando ele olhou para cima, relaxou sua
postura, um sorriso nos lábios.

Com um encolher de ombros, ele respondeu. — Não.


466

Era muito claro que eles iriam negar-lhe o acesso ao


Página

escritório de Mishca e enquanto poderia ter brincado com


eles antes, Luka estava trabalhando com um pavio curto.
No tempo que levaria para chegar atrás dele para pegar a
faca que tinha ali, ele pensou em quão rapidamente
poderia acabar com suas vidas... sentir a vida
escorrer para fora deles, assim como seu sangue escorreu.

— Eu realmente não estou com vontade de encontrar alguém


para limpar o sangue desse chão. — Mishca anunciou quando
saiu de seu escritório, olhando para os três. — Deixem-no antes
que vocês realmente o irritem.

O menor dos dois seguiu a ordem obedientemente, pisando


de lado, mas não parecia feliz com isso. O outro colocou a palma
da mão contra o ombro de Luka e deu-lhe um empurrão. Antes
que ele mesmo reconhecesse que iria machucá-lo, o punho de
Luka disparou, conectando-se com seu nariz. Ele sentiu a
satisfação ao esmagar a cartilagem.

Caindo como um saco de batatas, Luka passou por cima


dele, enterrando as mãos nos bolsos enquanto entrava no
escritório de Mishca. Luka permaneceu de pé até que Mishca se
juntou a ele, fechando a porta do escritório atrás dele. Seu ex-
chefe fez um gesto para ele se sentar, ele voltou atrás de sua
mesa e recuperou seu próprio assento.

Eles ficaram em silêncio por algum tempo até que Luka


finalmente falou. — Há quanto tempo você sabe?

Batendo com o polegar contra sua mesa, Mishca o olhou de


frente. — Desde minha lua de mel. Você sabia melhor do que
ninguém que, depois de Vlad, eu tinha que verificar todos. O que
incluía você. Claro, eu não esperava encontrar nada, mas quando
se tratava de você... realmente não deveria ficar surpreso.

Balançando a cabeça, Mishca parecia pensativo. — Eu


nunca duvidei de sua lealdade, mesmo depois que soube a
verdade. Mesmo Klaus estando relutante em confessar,
quando eu o confrontei sobre isso.
467

Mas nada disso fazia sentido e não importava como


Página

tentasse analisar ao longo dos últimos seis meses, ele não


estava mais perto de uma resposta. — Se sabia... por que
não disse nada?
— Eu queria que você viesse a mim.

Luka sentiu sua centelha de temperamento. — Tudo isso


poderia ter sido evitado então.

Mishca arqueou uma sobrancelha, o desafio em seus olhos


claros. — Quanto tempo você tem sido uma parte da Bratva? E
nesse tempo, quantos da sua antiga organização vêm procurando
por você? Mesmo quando Jetmir chegou e agora eu entendo a
animosidade, ele nunca mencionou o seu envolvimento. Fato
apareceu aqui... quem porra poderia ter adivinhado que ele tinha
a intenção de te arrastar de volta para Berat?

— Você os deixou me levar. Praticamente me entregou.

Suspirando, Mischa olhou sobre o ombro de Luka. — Parece


que preciso me repetir mais vezes do que eu gostaria. Ouça com
atenção, porque não direi isso novamente. Você mais do que
ninguém sabia que o que eles fizeram com Alex foi apenas o
começo. Eles não teriam parado até que conseguirem o que
queriam. Deveria ter ficado de lado e entregado minha irmã?
Minha esposa? Meu filho não nascido? Você entende que havia
muito em jogo. Antes de você decidir ir em sua pequena missão
suicida, havia um plano em prática, aquele que me levou
semanas para configurar e uma quantidade significativa de
dinheiro. — Mishca passou a mão pelo cabelo. — O contrato foi
cumprido, você está vivo e a Organização não existe mais.

— Sim. — Luka disse, lembrando-se de repente tudo o que


passou naquele complexo. — Mas a que custo?

Eles foram interrompidos por uma batida suave na


porta, que fez os dois olharem nessa direção.
468

— Mishca. — Lauren chamou quando abriu a porta. —


Sacha está exigente hoje. Você pode... — Lauren estava
Página

muito ocupada tentando consolar seu bebe se contorcendo


para notar a presença de Luka, mas quando o fez, o alívio
absoluto em seu rosto quase o fez sorrir.
Erguendo a mão, ele deu-lhe uma saudação, uma que nunca
deixou de fazê-la rir, mas nenhum deles encontrou o humor nela
agora. Ele podia ver em seus olhos como ele se parecia agora e
desejou, como fez muito ultimamente, não se importar com ela
também. Dessa forma, não se importaria de que houvesse
piedade em seus olhos.

— Lauren...

Apesar de Mishca chamar seu nome, ela simplesmente


entregou-lhe seu filho e se aproximou de Luka.

Quando ela estava perto o suficiente para tocá-lo, jogou os


braços ao redor dele, segurando-se como se tivesse medo de
deixá-lo ir. Seu corpo inteiro se esticou, não estava acostumado a
um toque suave após os meses que passou com os albaneses.
Mesmo agora, ele ainda esperava que quem se aproximasse dele o
ferisse de alguma forma.

Ela se afastou, as lágrimas em seus olhos. — Você está bem?


Parece que perdeu um pouco de peso, mas podemos consertar
isso, certo? Posso cozinhar algo para você. Estou melhor agora,
não muito embora. Você precisa de algo? Existe alguma coisa que
possa fazer por você?

Ela estava falando rapidamente e até mesmo Luka poderia


dizer que estava perto de se romper. Apesar do que ele sabia,
ainda estava perplexo por ela se preocupar tanto com ele. Lauren
era gentil por natureza, mas isso não era garantia de que ele
queria dizer alguma coisa para ela.

— Cuidado. Pensei que estávamos mantendo a nossa


relação em segredo? Mish está sentado bem ali.
469

Suas palavras podem ter chegado com o humor que ele


sempre adicionava as conversas, mas a fez rir, no entanto e
Página

desta vez, ele conseguiu um leve sorriso.

— Estou tão feliz por você estar aqui.


— Lauren, deixe-o respirar.

— Mas ele acabou de chegar aqui.

Mishca, sempre paciente, disse. — Sim, mas nós temos uma


reunião.

— De verdade, Mish? Ele acabou de chegar aqui. Depois de


tudo o que passou, ele merece uma pausa.

— Lauren...

Fazendo uma careta, deixou cair os braços para os lados


quando deu um passo para Luka. — Estou feliz por estar em
casa, Luka. Uma vez que acabar com qualquer reunião que
Mishca tem com você, deve passar por aqui e ver Sacha... depois
de ver Alex, é claro.

Era como se nada tivesse mudado.

Luka sabia, sem sombra de dúvidas que Lauren ouviu cada


palavra que ele disse durante aquele fatídico dia e ainda assim
estava na frente dele e agia como se não tivesse importância. Ele
não sabia o que deveria esperar. Raiva, talvez? Nojo? Mas não
havia nada disso.

— Mais tarde. — Sua primeira promessa do dia e quando ela


sorriu em resposta, ele sabia que fez a escolha certa.

Ele não tinha certeza a que reunião com Mishca estava se


referindo, mas quando eles chegaram ao tríplex familiar que
era a casa de Clorick, a única pessoa sancionada pela
Bratva para fazer tatuagens, Luka soube.
470

— Você sabe o que isso significa, sim? — Mishca


perguntou-lhe quando ele saiu de seu carro, abotoando o
Página

paletó enquanto andava. — Você pode usar... isso. — Disse


ele apontando para jeans de Luka e a camiseta. — Em seu
próprio tempo. Mas no meu, vista um maldito terno.
Quando eles foram autorizados a entrar por um homem
grande que parecia não fazer nada mais em sua vida do que
levantar pesos, Luka achou que antes de agora, isso foi tudo o
que ele nunca quis. Estava feliz como um executor. Prosperou na
área. Mas agora que estava sendo nomeado um capitão... não
conseguia pensar em qualquer coisa que ele quisesse mais.

Clorick estava por perto por algumas gerações, mais do que


a maioria e estava começando a parecer isso, mas todos, mesmo
Luka, tratavam-no com o maior respeito. Luka entrou na sala,
subindo sobre a mesa quando Clorick entrou, com o kit preto
familiar dobrado debaixo do braço.

— Nunca esperei ver você na minha mesa. — Clorick disse


casualmente enquanto abria sua maleta, puxando suas
ferramentas livres antes de voltar por um par de luvas de látex
preto.

Luka sorriu, mas não respondeu imediatamente ao olhar


para a máquina de tatuagem que parecia quase tão antiga quanto
Clorick era. Enquanto ele não diria que era necessariamente um
esnobe tatuador, aqueles que cobriram a maior parte do seu
corpo fizeram um trabalho de qualidade. Ele não queria estrelas
de má qualidade, mesmo que elas carregassem um significado
diferente.

— Tem certeza que sabe o que você está fazendo? — Ele


perguntou, grato que o velho, pelo menos puxou uma agulha
limpa.

Provavelmente não existia mais ninguém na história da


Bratva que questionaria Clorick, apesar de sua vida
bastante modesta agora, foi reverenciado por sua crueldade
471

por muitos anos, para não mencionar que qualquer um que


tivesse a sorte de estar no fim da recepção de seus talentos
Página

ficaram felizes por apenas estar lá.

Clorick, que ouviu rumores de Luka, entrou no ritmo,


ignorando a questão inteiramente.
Foi Mishca que, como Pakhan, situou-se assistindo com os
braços cruzados sobre o peito. — Cuidado. Ele pode colocar um
pau de joelhos. Eu, por exemplo, não quero ter que explicar isso
para ninguém.

Quando o zumbido da máquina encheu a sala, Luka olhou


para Mishca, um homem que tanto aprendeu a respeitar e cuidar.

Notando o olhar, Mishca franziu a testa, desencostando da


parede. — Não fique sentimental para cima de mim. Aquilo não
foi apenas para sua proteção.

Não importava o quão contido foi o passado de Luka antes,


todos seus segredos foram revelados agora. Ele sabia que,
enquanto aqueles mais próximos a ele poderiam deixar o que ele
fez no passado, haveria outros que não aceitariam.

Alguns poderiam ser ousados o suficiente para mencionar,


de passagem, uma vez que não pudessem fazer mais, agora que
ele tinha suas estrelas... mas eles não seriam tão cuidadosos ao
redor de Alex. Estas estrelas não apenas representavam sua
posição, mas também significava exatamente o que ele poderia
fazer para alguém que ousasse falar contra ele.

E esse tipo de poder... o fazia feliz.

Apesar de suas palavras, Mishca ficou pensativo por um


instante. — Ela me disse, sabe. Sobre como a ajudou. Estou em
dívida com você.

— Má escolha de palavras. — Disse Luka com um


sorriso, ainda olhando para o teto quando Clorick
transferiu-se de seu peito até os joelhos. Estas seriam as
piores.
472

— Sim, bem... não irei lamentá-las por algum tempo e


Página

enquanto me dói dizer isso, você não tem nenhuma maldita


ideia, estou certo de que ficará ocupado por um tempo.

— Oh?
Como Klaus fez, Mishca soltou um envelope, colocando-o em
uma cadeira próxima. — Alex ligou para Lauren e disse que
conseguiu seu primeiro papel principal. Imaginei que pelo menos
um de nós deveria estar lá para vê-la. Você tem duas semanas
para fazer o que quiser. Depois, se reporta a mim. A única coisa
que peço... — Mishca parecia surpreendentemente vulnerável
quando ficou de pé. — A traga para sua casa, mesmo que apenas
por um tempo.

Quando ele se virou para sair, Luka perguntou. — É verdade


que você não conversou com ela desde aquele dia?

— Dois meses depois que partiu para Paris, ela voltou para
visitar Lauren, apenas porque ela implorou. Aconteceu de eu
voltar para casa mais cedo. Não importava que estivesse feliz em
vê-la, ela sequer me olhou.

473
Página
CINQUENTA E DOIS

Bem-vindo a casa

Olhando para os jurados por mais de dez minutos em estado


de choque, Alex estava feliz por voltar a se lembrar que ainda
estava zangada com seu irmão. A primeira coisa que fez quando
viu o seu nome ao lado de — Principal — em seu papel, quis ligar
para Lauren. Segundos depois que sua cunhada atendeu ao
telefone, sua excitação transbordou e ela compartilhou a boa
notícia. Apenas depois que terminou a ligação que ela também
considerou o fato de que Lauren iria compartilhar esta notícia
com Mishca.

Voltando para quando ela era apenas uma garotinha que


sonhava se transformar em uma bailarina principal, ele prometeu
que iria vê-la realizar isso, não importava onde ela estivesse. Não
duvidava disso. Não importava que ele soubesse que ela não o
queria lá, ele estaria exatamente onde disse que estaria,
Lauren e Sacha também. Era muito ruim que a única
pessoa que queria ver mais do que ninguém não estivesse.

Mas isso foi há dois dias e desde então, ela deixou sua
474

raiva ir finalmente, apenas aceitava agora que não poderia


Página

mudar nada. Sentada à sua penteadeira, terminou de


aplicar a sombra preta esfumaçada, certificando-se de que
sua maquiagem fosse tão perfeita como poderia ser antes
do início do show.
Este era um dos dias mais importantes de sua vida e ao
mesmo tempo havia muito nervosismo e excitação que vinha com
ele, um pouco de medo e tristeza permanecia. Mas ela não tinha
tempo para se debruçar sobre isso. Era hora de dançar.

Mas antes de fazê-lo, pegou sua bolsa, retirando o embrulho.


Desembrulhando cuidadosamente os pentes de dentro, ela deixou
os dedos acariciar ao longo dos dentes de metal um momento
antes de levantar um, prendendo-o em seu cabelo. Pelo menos
uma parte dele estaria lá com ela.

Deixando seu camarim, ela foi em direção ao palco, em


busca de Madame Toulles para a verificação final. Havia uma
vibração no ar enquanto os outros dançarinos nos bastidores
estavam fazendo mudanças de última hora, mas Alex se forçou a
ignorar tudo ao seu redor, concentrando-se em seu próprio
coração, quando foi para a sua posição.

À medida que as cortinas se abriram, ela deu uma última


respiração calmante e se preparou para se apresentar para o
público.

Somente após o número final, quando ela terminou o último


de seus spins e cuidadosamente pousou em seus pés com uma
curva arrebatadora, Alex finalmente registrou que já não estava
perdida em seu próprio mundo.

Os aplausos começaram imediatamente, o som deles


fazendo-a sorrir apesar de si mesma. O brilho dos holofotes
tornava difícil que visse qualquer um na multidão, eram
apenas formas vagas batendo palmas.

Quando as cortinas estavam fechando, ela olhou para


a fila da frente, apertando os olhos, tentando ver o máximo
475

que pode, mas não havia muito. Pelo menos... pensou que
poderia ter visto um flash loiro quando alguém se moveu
Página

para o corredor.

Mais aplausos e comemoração a aguardavam


enquanto se dirigia de volta para seu camarim, pronta
para se trocar por algo mais confortável. Sorriu graciosamente,
permitindo-se este momento de felicidade.

Depois de uma breve conversa com Madame Toulles sobre


seu traje e as alterações que precisavam ser feitas antes de sua
próxima apresentação, Alex finalmente foi capaz de deslizar em
seu camarim, respirando um suspiro de alívio... pelo menos até
que viu o que estava esperando por ela.

— Devo perguntar como você foi autorizado a entrar aqui? —


Perguntou ela quando seu olhar saltou para seu irmão e para os
arranjos de flores que agora enchiam sua penteadeira.

Ela sabia que pelo menos um deles era de Lauren, outro de


seus amigos e talvez um da empresa, mas os outros dois, ela não
sabia.

Mishca levantou-se, passando a mão sobre a frente de seu


terno. — Eu tenho certeza que você sabe a resposta para isso.
Além disso, não teria me visto de outra forma.

— De verdade? — Alex perguntou secamente. — E por que


isto?

— Sabe... eu me lembro especificamente de uma noite, lhe


pedindo que confiasse em mim e você prometeu que o faria.

— Sim bem, isso foi antes de você virar as costas para


alguém que me importava.

Mishca parecia pensativo. — Será que eu o fiz?

Estreitando seus olhos sobre ele, Alex perguntou. — O


que você está realmente fazendo aqui, Mish? Eu o conheço.
476

Há algum motivo oculto.


Página

— Às vezes eu machuco as pessoas que amo, porque


isso é o que é necessário no momento. E se...
— Quando porra irá parar de falar em código, Mish? Apenas
cuspa para que eu possa voltar para minha vida e você possa
voltar a ser o chefe.

— Um dia entenderá que o que eu fiz... não foi apenas por


você, mas por ele também. Talvez você realmente me perdoe pela
dor que lhe causei, mas até então... parabéns. Nunca duvidei de
que você seria nada menos do que incrível.

Mesmo com a maneira como ela se sentia em relação a ele,


não pode evitar o leve sorriso que se espalhou em seu rosto. —
Obrigada, Mish.

Ele atravessou a sala, puxando-a para um abraço apertado


que não pode deixar de devolver. Ela sentia muito sua falta.
Beijando o topo da cabeça dela, ele a soltou depois de um
momento, seu olhar se desviando para as flores.

— Vejo você em duas semanas.

Franzindo a testa enquanto se dirigia para a porta, Alex


perguntou. — O que acontece em duas semanas?

Mas ele apenas sorriu e saiu da sala. Entre Mishca e Klaus,


ela não tinha certeza de quem estava passando por quem.

Por enquanto, porém, decidiu colocar a conversa ou falta


dela, no fundo de sua mente enquanto se despia, logo vestindo
uma calça de moletom e um top. Seus pés praticamente
choraram de alívio quando ela desamarrou suas sapatilhas de
ponta e cuidadosamente as puxou para fora, substituindo-
as com cuidado por sapatos que eram pouco mais do que
meias com uma sola dura.
477

Arrumando a bolsa, ela jogou-a por cima do ombro,


mas antes que saísse, caminhou até as flores, inalando o
Página

perfume delicado que flutuava a partir delas. Uma em


particular roubou-lhe a atenção, principalmente porque
não era um buquê. Era uma única flor, uma orquídea que
ela acreditava ter cordéis cuidadosamente embrulhados
ao redor de seu tronco por uma vara que a mantinha
de pé.

As pétalas brancas e acetinadas, bonitas em sua


simplicidade, mas quando olhou mais perto, passando pelas
dobras delicadas, seu coração pulou uma batida com o que
pensou ter visto dentro.

Mas... deveria ser uma coincidência.

Quais eram as probabilidades?

Mesmo assim, ela piscou para se certificar de que estivesse


vendo corretamente porque, no mar de branco haviam rajadas de
amarelo e listras da laranja e um polido vermelho, ela podia jurar
que dentro da orquídea havia o rosto de um tigre.

As outras ela deixou em seu camarim, mas a orquídea ela


não teve coragem de deixar para trás. A viagem de volta para casa
foi muito diferente do que era normalmente. Normalmente, tinha
tempo para refletir e pensar sobre seu dia, mas agora não podia
deixar de pensar em tudo o que Mishca disse e o que está
orquídea significava.

Alex não acreditava em coincidências, não desde que era


uma menina, mas simplesmente não conseguia acreditar na
esperança. Esperança de que Luka estava voltando.

Se estava de volta a Nova York ou de volta para ela, não


sabia, mas esperava desesperadamente pelo o último. Loki gemeu
quando destrancou e abriu a porta, à espera do outro lado, a sua
cauda abanando furiosamente. Ela arranhou atrás das suas
orelhas, deixando cair a bolsa no caminho enquanto se
dirigia para a cozinha, abrindo o congelador para pegar o
pequeno saco de gelo que guardou lá.
478

Com uma performance a vista, era melhor cuidar de


Página

seus pés e tomar um banho de gelo para evitar qualquer


coisa. Foi um processo de uma hora de duração e no
momento em que terminou, ela estava pronta para a
cama.
Alex não tinha certeza de quando cochilou, mas os gemidos
de Loki a acordou. Então seus latidos agudos a tirou da cama.
Ele estava sentado na porta, sua atenção exclusivamente sobre
ela. Nem mesmo quando ela o chamou pelo nome ele se virou
para reconhecê-la.

Então, alguém bateu na porta.

Apenas duas batidas curtas que fez seu corpo inteiro travar.

Ela sabia, sem ter que ver, quem estava do outro lado.
Mesmo sem a forma como Loki estava agindo, ela sabia.

Cada passo que dava mais perto parecia incrivelmente longo


desde que o tempo parecia lento. Ela queria preparar-se
mentalmente, queria pensar no que suas primeiras palavras
seriam, mas o pensamento racional fugiu de sua mente.
Finalmente, com a mão trêmula, ela agarrou a maçaneta da
porta, apenas hesitando um segundo antes de abri-la.

E lá estava ele, com uma mão no bolso, a outra levantada


como se preparado para bater novamente.

Parecia que sua garganta estava fechando, enquanto seus


olhos percorriam cada centímetro dele, tentando ver tanto quanto
possível. Ela queria verificar com seus próprios olhos que Luka
estava realmente de pé na sua frente.

Seu cabelo mais curto, as maçãs do rosto mais


pronunciadas como se ele tivesse perdido algum peso, mas não
havia dúvida nos olhos azuis e nas tatuagens coloridas. Ou
a forma como seu olhar se suavizou e seus lábios se
transformaram em um sorriso gentil.
479

— Alex.
Página

Ouvir seu nome dos seus lábios depois de tanto


tempo...
Ela sufocou um soluço, sua mão subindo para cobrir a boca.
Loki passou correndo por ela, lançando-se em Luka com toda a
alegria do mundo. Ele quase o derrubou no processo, mas mesmo
quando começou a acariciar seu mais querido amigo, seus olhos
nunca a deixaram.

Ele pareceu perceber, quase tardiamente, que ela estava


muito chocada para se mover, então foi até ela em seu lugar. Ele
não parou até que seu cheiro estivesse ao redor dela. Ele estava
tão perto que se ela estendesse a mão, poderia tocá-lo, senti-lo e
então saberia com certeza que isto era real.

Mas ele tomou a escolha dela, sua mão deslizando ao redor


da curva de seu ombro até que segurou seu pescoço, aplicando
uma leve pressão para impulsionar para frente. E um segundo
depois, seus lábios estavam nos dela, persuadindo a uma
promessa tácita de que fez seu coração cantar.

Ela não queria nada mais do que se perder nisto, nele, mas
não podia. Ainda não.

Afastando-se ela respirou se acalmando, tentando reunir


seus pensamentos.

Ele segurou o rosto dela entre as mãos, limpando as


lágrimas com os polegares enquanto sorria. Uma vez, ela pensou
que experimentou o pior tipo de dor que havia, mas vê-lo agora,
este era um tipo diferente de dor. Ainda não se sentia bem, havia
uma dor no peito, mas achava que nunca foi mais feliz.

— Como? Não estou entendendo. Achei que você foi...


— Ela não poderia mesmo terminar a frase.

— Klaus.
480

Ela esperou, surpresa nublando seu rosto. — Ele


Página

nunca disse nada, nem mesmo quando eu... quando foi


isso?
Desde o momento em que entrou no apartamento, ele
parecia seguro de si mesmo, pelo menos até agora. — Dois meses
atrás.

Ela afastou-se. — Dois meses? Onde você... espere. Você


estava aqui, verdade?

— Alex...

— Eu era a única que não sabia? Eu não entendo.

— Há muita coisa que você não sabe e coisas que não


entende, algumas das quais apenas o seu irmão pode explicar.
Não, não se afaste de mim. — Ele disse quando lhe agarrou os
pulsos, impedindo-a de recuar ainda mais. — Depois que Klaus
me tirou de lá, eu saí. Disse a ele para não me seguir e nem
mesmo para dizer a qualquer um de vocês que me encontrou. Na
época, eu não sabia tudo. Não sabia como você se sentia sobre
mim depois de tudo, depois do que eu lhe disse. Estava com medo
de como você reagiria.

— Luka...

— Não, deixe-me terminar. Como eu disse antes, queria que


você fosse feliz, mesmo que não fosse comigo. Você encontrou a
felicidade aqui. Está vivendo seu sonho. Eu não queria estragar
isso para você. — Seus polegares roçaram suas bochechas, seu
olhar sobre o rosto. — Mas alguém ou algumas pessoas, me
ajudaram a ver que apenas você poderia me dizer se não me quer
em sua vida. Então aqui estou eu, esperando que ainda seja o
que você quer. E se for, prometo não te machucar
novamente. E prometo que não haverá nada, nada que
poderia me fazer sair do seu lado, nunca mais.
481

Alex estava em silêncio. Seu coração inchando tanto


que ela mal podia respirar. Ela pensou nos últimos seis
Página

meses, a mágoa que sentia por Luka ter ido... o


ressentimento que sentia por Mishca ser a pessoa por trás
disso.
Agora que ele estava ali, ela finalmente entendeu o que
Mishca disse anteriormente. E sabia que havia uma conversa que
precisava ter, mas primeiro...

— Eu quero você, Luka. Eu sempre quis você.

Ele colocou uma das mãos sobre o peito, à direita sobre o


coração. — Sou seu.

Ela se soltou de seu abraço, envolvendo os braços ao redor


dele e segurou firme. Ainda havia muito a descobrir sobre suas
vidas. Ela estar em Paris. Suas obrigações para com a Bratva, se
ele era mesmo ainda uma parte dela.

Mas havia uma coisa que tinha certeza.

Eles iriam descobrir isso juntos.

Olhando para ele, ela lhe deu um sorriso. — Eu nunca


deixarei você ir novamente, Luka.

— Të dua, Alex. Eu te amo, Alex.

Foi a primeira vez que ele disse as palavras em voz alta e ela
sentiu até os ossos.

Mas não seria a última.

— Je t’aime, Luka. Eu te amo, Luka.

482
Página
EPÍLOGO

Seis meses depois…

— Eu sempre fui um fã dos jeans Luka, mas isso funciona


para você.

De sua posição na cama, Alex olhou para Luka quando ele


terminou de se vestir, abotoando o último dos seis botões que
cobriam a frente de seu colete. Ao contrário de seu irmão Mishca,
que usava um terno de três peças, desde que tinha dezoito anos,
Luka preferia suas camisetas e jeans a ternos, mais adequados a
sua nova função na Bratva Volkov.

Seis meses atrás, ele foi de executor a capitão Bratva. Não


era um trabalho que ele necessariamente queria, mas aceitou
depois que retornou da Albânia, deixando para trás uma vida da
qual escapou uma vez antes. Desde então, ele não falava muito
sobre o que aconteceu com ele lá, mas isso não era muito
surpreendente, considerando que Luka não era muito de
conversar.
483

Terminando com o colete, ele olhou por cima do ombro


para ela, um leve sorriso puxando seus lábios.
Página

— Aproveite isso enquanto pode. Não durará muito


tempo.
Rindo, ela saiu da cama, Loki saltando para baixo atrás dela.
— É claro que não irá.

Ela ajeitou a gravata, alisando as mãos sobre sua frente. —


Sabe, é assustador o vazio que eu vi em seus olhos. Apenas
queria te fazer feliz, trazer-lhe paz, não importava o que o estava
incomodando.

— E você faz isso. Mais do que qualquer um jamais poderia.

Ela sorriu, tocando sua bochecha. — Obrigada por me deixar


fazê-lo.

Seu sorriso era ofuscante um segundo antes de a beijar. —


Esta é a parte em que você diz que eu sou demais para suportar?

Rindo, ela o empurrou. — Por que eu diria isso?

— Você ficaria sem sorte se o fizesse. Está presa comigo.

Ela pegou a mão dele, levando-a a seu próprio peito,


colocando-a sobre seu coração. — E eu não iria querer de
nenhuma outra forma, Tigre.

484
Página

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