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Volkov Bratva 3
In the beginning
Volkov Bratva 3
atacar.
sangue.
William Shakespeare.
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Volkov Bratva 3
1
Eufemismo é uma figura de linguagem que emprega termos mais agradáveis para suavizar
uma expressão.
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Volkov Bratva 3
E realmente não sabia... mas podia adivinhar. O que
Mishca encontrou no edifício industrial, não tinha palavras
para descrever. Klaus estava quase irreconhecível no
momento em que chegaram a ele, e dias depois que Mishca o
tirou daquele lugar, ele ainda se negava a falar disso, a
amargura em seu coração só aumentando.
Especialmente no último dia.
— Diga-me o que sabe.
— Honestamente? Não sei muito a respeito de Klaus,
só o que pude descobrir no curto tempo que passei com ele, e
da gente que cruzou seu caminho com o passar dos anos,
mas mesmo eles não perceberam com o que lidavam. Ainda
não. Os mercenários ganham a vida permanecendo nas
sombras — explicou — nem sequer posso descobrir para
quem trabalha.
— Mish, ele estava pronto para matá-lo. Quero dizer,
ao menos, os albaneses tinham sua própria razão, mas desta
vez gostaria de saber o que estou enfrentando.
Já sacudia a cabeça antes que terminasse. — Ele não
teria você como alvo.
— Mish...
— Falarei, mas hoje não.
Ela se arrastou no seu colo, envolvendo seus braços
ao redor de seu pescoço enquanto se agarrava a ele.
— Estou feliz que não esteja ferido.
Ele soltou o cabelo dela, passando seus dedos por
eles antes de soltá-los na nuca, massageando-a para aliviar a
tensão. — Eu deveria dizer isso a você.
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Volkov Bratva 3
— O que aconteceu com Jetmir?
— Pelo que percebi, não sabia nada do que Brahim
planejava. Ao menos isso foi tudo o que pude tirar dele. —
Ante sua expressão confusa, explicou — quebrei sua
mandíbula.
— Às vezes me esqueço de quão volátil você é quando
alguém cruza seu caminho.
— Só quando usam você para chegar a mim. Mas
podemos falar disto outro dia. Devo te levar para casa.
2
Fazer ou dizer alguma coisa que tornaria impossível voltar a essa situação ou circunstância.
Renunciar a todas as outras coisas, para atingir um objetivo maior.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Já que não pensava em contar a Susan — e
definitivamente tampouco a Ross — sobre isso, a melhor
pessoa era ela.
— Não quer falar sobre isso? — Perguntou Amber,
mantendo a voz baixa, embora não houvesse ninguém ao
redor que pudesse escutar.
— Não posso te dizer muito, mas pelo que entendi
Naomi — a garota da qual te falei — roubou algo deste
mafioso albanês, que por sua vez veio atrás de Mishca.
Suponho que a melhor maneira de chegar a ele era através de
mim.
Amber já adivinhou que ele era algo mais que um
proprietário comum de um clube — provavelmente era óbvio
para todos, exceto para Lauren — e desde que falou
claramente com Mishca há algumas horas, não sentia que
era um segredo muito grande para não dizer a ela.
— Tem certeza que não está ferida? Quero dizer, o
que aconteceu lá.
Lauren passou o polegar sobre a borda da xícara,
imagens da cabeça de Brahim sacudindo-se para trás,
quando a bala o atravessou, cintilavam em sua memória, a
felicidade absoluta e o desprezo total dos albaneses que a
rodeavam, mais que dispostos a torturá-la só porque
queriam.
Mas isso não era algo que simplesmente poderia lhe
dizer. Não queria pôr esse tipo de imagens em sua cabeça, em
vez disso, viveria sozinha com elas.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Mish chegou antes que algo ruim pudesse
acontecer. — Lauren mentiu facilmente, já vendo a expressão
no rosto de Amber mudar. — Isso foi durante a luta para me
tirar do apartamento. Juro, estou bem.
Tentando mudar de assunto, Lauren olhou ao redor
do ambiente, percebendo como estava limpo, mas também
havia uma série de pinturas apoiadas no balcão da cozinha.
— Telas novas?
Amber parecia receosa em falar a respeito, enquanto
olhava para as telas, mas como qualquer artista que
valorizava seu trabalho, teve que compartilhar um pouco
sobre elas. — Sim. Uma galeria está abrindo na cidade, e me
pediram que levasse algumas amostras. Com sorte, gostarão
de algo, do contrário não sei como viverei.
— Serão idiotas se não gostarem — disse Lauren
enquanto saltava do banco ao escutar seu telefone tocar,
sabendo instintivamente que era Mishca.
— Vá atender — falou Amber — já estou atrasada
para minha entrevista, mas queria falar contigo antes de ir.
Lauren lhe deu um abraço rápido, apertando-a com
força antes de soltá-la. — Boa sorte, e quando conseguir isso,
definitivamente direi: "eu avisei".
Efetivamente, era ele do outro lado, e soava mais que
aliviado que ela atendeu. Só podia imaginar o pânico que
sentiria se não respondesse, sobretudo depois do número de
chamadas perdidas, que fez quando foi capturada.
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Volkov Bratva 3
— Onde está? — Perguntou subindo novamente na
cama, sentindo-se toda dolorida. Ouviu o som de carros
passando rapidamente, e pôde adivinhar que estava no carro.
— Acabo de sair de uma reunião e estou voltando
para você. O Doc deve se encontrar comigo aí.
Não passou muito tempo desde que Lauren soube
que seu pai foi substituído por outro médico, que estava em
dívida com a Bratva. A informação a surpreendeu no
momento, não porque pensasse que seu pai era especial para
eles, mas porque nunca pensou muito no que eles faziam
para manter os cuidados médicos depois de que ele se fora.
O novo médico foi suficientemente amável na única
ocasião em que Lauren o encontrou. Naquele momento, ela
ofereceu veementemente pagar a dívida dele com a Bratva,
para que fosse livre para estar com sua família, e não
sofresse a mesma sorte que a dela. Ainda não sabia se
Mishca a apoiaria nisso ou não.
Lauren rodou na cama, esfregando os olhos
enquanto escutava Mishca discutir com alguém no fundo.
Deus, passou só um dia desde que ela esteve naquela casa
segura? Dois?
— Quão longe está? — Talvez pudesse voltar a dormir
um pouco antes que ele chegasse.
— Há dez minutos daí. — Perguntou — está com
fome?
Realmente não estava, embora nem soubesse quando
comeu pela última vez. — Não.
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Volkov Bratva 3
Ele não gostou do som disso, já que gritou palavras
em russo que soavam como maldições. — Lauren...
Revirando os olhos, e sem nenhum ânimo para
discutir com ele, cedeu. — O que seja que escolher está bem.
Sabe o que eu gosto.
— Eu te vejo logo.
Depois de desligar a chamada, agarrou um dos
travesseiros de sua cama, e se acomodou até que esteve
satisfeita, suspirando quando se acalmou.
Em um minuto parecia que tinha acabado de fechar
os olhos, e no seguinte os abria, quando Mishca entrou em
seu quarto com uma sacola em uma mão, e um copo de café
na outra. Deu-lhe um sorriso sonolento, virando-se para
olhá-lo.
Ele colocou tudo em cima de sua mesa, aproximou-se
e reclinou-se sobre ela, pressionando um doce beijo em sua
testa. Os olhos dele estavam fechados, a tensão em seu corpo
desapareceu. Esse simples ato significava tanto para ele como
para ela.
— YA lyublyu tebya, Mish — Eu te amo, Mish.
— Moye serdtse tvoye — Meu coração é seu.
Piscou para ele confusa, só entendendo uma parte do
que lhe disse. Tornou-se mais fácil entender quando falava
em russo, em parte porque usava sempre as mesmas frases.
— Tradução?
Ele apenas sorriu. — Como se sente?
— Acredito que já me perguntou isso, Mish. Estou
bem, de verdade. Você está em apuros?
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Volkov Bratva 3
Mishca olhou para longe, mas não antes que ela visse
a raiva em seus olhos.
— É assim tão ruim? O que fez para irritá-lo... ou fui
eu?
— De qualquer forma, isso não importa. Ele não
importa.
Ela não sabia se estava pronta para acreditar.
Mishca não tinha o hábito de ser irracional, exceto quando se
tratava dela. Não queria que ele se metesse em mais
problemas por sua causa.
— Esqueça-o — insistiu Mishca, saindo de seu
quarto quando a campainha tocou.
— Espera! — Não quis gritar, mas sua voz ecoou ao
redor do quarto, fazendo-o voltar imediatamente.
Ele pode ver o medo em seu rosto, exatamente o que
tentou lhe esconder. Isso era razoável, não como se esperasse
que ela se recuperasse rápido, mas queria seguir adiante.
Alcançando atrás dele, Mishca tirou a arma que
costumava levar, estendendo-a para ela. Quando hesitou,
colocou-a em sua mão, envolvendo seus dedos nela.
— Atire em qualquer um que não seja eu.
Isso foi suficiente para aliviar o medo que a oprimia,
fazendo-a rir alto. — Os vizinhos ouviriam.
Caminhando de costas fora do quarto, encolheu-se
de ombros. — E eu cuidaria disso.
Lauren sorria, mas se afastou alguns passos da
entrada, com suas mãos úmidas de suor enquanto esperava.
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Volkov Bratva 3
Pensou no que Ross lhe ensinou, repassando o que
poderia acontecer, mas Mishca voltou em segundos, com o
doutor atrás. Ele se afastou quando viu a pistola nas mãos de
Lauren.
— Sinto muito — disse ela rapidamente, lançando a
pistola, que por sorte estava travada, para Mishca.
Isso ajudou a dissipar um pouco de seu medo
enquanto colocou sua maleta no chão. Quando iniciou seu
exame superficial, Lauren fez questão de mencionar que não
achava que fosse realmente necessário, porque se sentia bem.
— Mesmo assim, não faz mal. Além disso, esse
parece ser um hematoma muito doloroso.
Lauren instintivamente tocou seu rosto, sentindo a
dor na mandíbula. — Às vezes Mish tem uma mão pesada.
O doutor ficou em choque, Mishca franziu a testa
para ela, com uma promessa de dor em seus olhos. — Eu...
né, Lauren.
— Sinto muito — disse com um sorriso em direção a
Mishca. — Só estava brincando.
A julgar pela forma em que ele cuidadosamente se
moveu, duvidava que acreditasse nela. Quando terminou — e
estava tudo bem como ela disse — ele arrumava a mala para
ir, quando Mishca finalmente falou.
— Sua dívida com a Bratva foi paga.
Ambos o olharam surpresos, o médico mais que
Lauren.
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Volkov Bratva 3
— Não receberá mais ligações de ninguém, e espero
que nosso acordo seja mantido em segredo. — Agora essa
parte soava mais como uma ameaça.
Ele parecia atordoado demais para fazer qualquer
outra coisa, além de concordar, mas logo esse choque se
transformou em alívio e em uma inegável felicidade, que até
sorriu para Lauren.
— Eu... obrigado. — Ele correu, agarrando a mão de
Mishca entre as suas. — Obrigado.
Com um aceno para Lauren, praticamente saiu
correndo pela porta. Mishca foi trancá-la, tropeçando um
passo para trás quando Lauren jogou seus braços ao redor
dele, abraçando-o com força.
Ele devolveu o abraço, beijando o lugar bem abaixo
de sua orelha. — Isso está saindo de sua conta, só para que
saiba.
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Café mais forte
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Volkov Bratva 3
Ela o olhou curiosa, sua perna ainda ricocheteando
por baixo da mesa, enquanto ele pegava sua bolsa, a visão
dele assim a fez sorrir, pois usava um de seus ternos.
— Não terminei — disse sacudindo a cabeça. —
Ainda tenho dois capítulos para repassar.
— Posso te ajudar quando voltarmos.
Realmente não lhe dava muita escolha, e não tinha
humor para brigar com ele sobre isso, apesar de sentir como
se pudesse. Recolheu seus poucos pertences deixados sobre a
mesa, seguindo Mishca para seu carro ligado.
Vlad acenou do banco do motorista, sua expressão
usualmente estoica derretendo-se quando Lauren subiu no
carro com exuberância. Mishca era mais moderado, mas era
claro que se divertia com ela.
— Quantos desses tomou? — Perguntou Mishca
enquanto partiam.
Lauren deu de ombros, agitando a mão como se não
fosse grande coisa. — Algo como dois copos.
Tentou não parecer muito orgulhosa dessa resposta,
mas estava escrito em todo seu rosto, e ele tinha a sensação
de que não lhe dizia tudo.
— Quantos expressos tinha cada um?
— Talvez três ou quatro, mas precisava deles. —
Enquanto ele deixava cair a cabeça para trás com sua
resposta, continuou rapidamente. — Não dormi muito ontem
à noite, sua culpa por sinal. Só te perguntei como a posição
era possível, não que me desse uma demonstração.
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A tosse de surpresa de Vlad fez com que Mishca
sorrisse, sacudindo sua cabeça. — Lauren, agora seria um
bom momento para parar de falar.
— Mas...
Cobrindo gentilmente sua boa com a mão, atraiu-a
para mais perto. — Talvez fosse uma boa ideia se
conseguisse dormir um pouco agora, não?
Ela balançou a cabeça, afastando sua mão. — Mas
não estou cansada. Dê-me umas três horas e estarei pronta.
Quando chegaram ao apartamento, Lauren colocou
seus livros no sofá, Mishca foi à cozinha pegar um copo de
água para ela. No momento em que retornou, embora se
passassem uns poucos minutos, encontrou-a profundamente
adormecida.
4
Brighton Beach é um bairro do distrito do Brooklyn, em Nova York.
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O jogo para o Range Rover estava pendurado bem ao
lado de sua cabeça, e sem pensar duas vezes, Lauren pegou-
o, pondo as chaves do Mercedes em seu lugar. Mishca não fez
comentários sobre isto — não lhe importava o carro que
dirigisse — apenas sorriu.
— Prefiro não fazer perguntas. Leve Luka.
— Mas é só Brighton Beach.
Isso o fez olhar para ela, garantindo que visse a
seriedade de sua expressão. — Precisamente por isso que
quero que o leve.
— Você é o chefe.
Ele franziu o cenho enquanto ela saía, mas
simplesmente soprou-lhe um beijo. Luka se arrastou atrás
dela.
— Quer que eu dirija? — Perguntou, já alcançando
as chaves na mão de Lauren, mas ela pegou-as de novo,
pressionando o botão para destravar as portas.
— É obvio que não.
Olhou-a com nervosismo, e a contragosto subiu no
lado do passageiro, puxando o seu cinto de segurança. —
Devo ficar nervoso?
Ligando o carro e saindo, sorriu, embora não o
olhasse. — Absolutamente.
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Volkov Bratva 3
Quando finalmente estacionou perto do cais, Luka
pegou as chaves do contato antes mesmo que tirasse o cinto
de segurança.
— Oh, vamos, Luka, não foi tão ruim.
Só foi pior porque Luka era um passageiro terrível, e
passou todo o tempo expressando sua opinião sobre como
dirigia. Ela poderia não ter alimentado o assunto, imitando
sua maneira de dirigir.
Ele grunhiu algo baixinho enquanto saía, já em
direção ao edifício de tijolo onde se supunha que Alex
esperava por eles. A julgar por sua expressão, não era a única
perguntando-se o que Alex fazia ali.
Elas saíram algumas vezes nos últimos meses, e
normalmente ficavam entre Manhattan e o Village5. Alex
tinha gostos caros, Lauren não a culpava por isso. Duvidava
que Mishca tivesse enviado Alex para fazer algum trabalho
para ele, e realmente duvidava que permitisse vir sozinha, o
que a deixou ainda mais curiosa.
Antes que chegassem a entrada, Alex saiu correndo,
uma sacola sobre o ombro, com brilhantes óculos de sol,
trajando um vestido reluzente que se ajustava ao seu corpo.
Se Lauren tivesse que adivinhar, ainda usava a roupa de uma
noite de festa.
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Greenwich Village, muitas vezes referido pelos habitantes locais simplesmente como Village, é
um bairro tradicional e residencial no lado oeste de Lower Manhattan, New York
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Ao contrário de seu irmão mais velho — que sempre
parecia caminhar rigidamente em público — Alex andava com
a graça de bailarina, resultado de uma longa vida de balé.
Seu cabelo também estava diferente. Embora sendo loira,
tinha várias mechas nele. Na opinião de Lauren, parecia que
procurava sair da sombra de Anya.
— Por que trouxe o musculoso? — Perguntou Alex,
Luka mal olhando enquanto ela passava lentamente por ele,
jogando a bolsa no porta-malas.
— Ordens do Mish.
— Você deve lembrar-lhe quem veste as calças em
sua relação6.
— O que fazia ali? — Perguntou Luka, enquanto
abria a porta primeiro para Alex, depois para Lauren.
— Nada que não faria, Tigre.
Ele revirou os olhos a isso, como se estivesse
acostumado que o chamasse assim. Às vezes, parecia que
irritavam um ao outro, mas outras, como esta, era como se
divertissem se provocando.
Luka obrigou ambas a sentarem no banco de trás,
indo para o assento do motorista. Nada se comparava a estar
no carro quando Luka dirigia.
6
Quer dizer que Lauren é quem manda no relacionamento.
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Quando voltavam para casa, passaram pelo clube de
Mishca. Era a primeira vez que Lauren o via, desde o dia em
que esteve ali com o assassino albanês. E, sem querer,
pensamentos sobre isso trouxeram de volta Naomi e o que ela
lhe mostrou. Estava tão orgulhosa de suas estrelas, exibindo-
as descaradamente, sabendo o efeito que teriam sobre
Lauren.
Antes dela, nunca soube que as mulheres na vida
dos homens na Bratva podiam ter essas estrelas, e ainda não
compreendia claramente o que significavam, já que não eram
Capitães da Bratva.
Parecia muito estranho perguntar a Luka sobre isso,
e não tinha nenhuma garantia de que lhe daria uma resposta
direta. Sua única outra opção — porque não queria perguntar
a Mishca — era Alex.
— Alex, posso te fazer uma pergunta? — Ela
assentiu. — Conhecia Naomi, quando estava com Mish?
— É claro — disse Alex lixando uma de suas unhas.
— Odiava-a. Por que pergunta?
— Mostrou-me algo. As estrelas.
Estiveram na mente de Lauren por um tempo. Nunca
pensou tocar no assunto com Mishca desde o dia em que
soube delas e, conhecendo-o, ele minimizaria exatamente o
que elas significavam.
Alex a olhou pelo canto do olho, fazendo uma pausa
em suas unhas. — O que tem elas?
— O que significam exatamente?
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Alex suspirou, pondo seus pés no chão. — São como
uma ordem de proteção, normalmente estendida aos mais
próximos aos Bratva — permite que os outros saibam que
não podem ser tocados e, se houver algum problema, você vai
para a pessoa que colocou as estrelas lá. — Alex deu de
ombros, como se não fosse um grande problema. — Não
posso dizer por que Mishca as deu a ela, não quando sabia a
história de Naomi.
— Qual era sua história? — Lauren não queria soar
tão desesperada como o fez, mas queria saber o que
aconteceu entre os dois.
— Só para que saiba, tenho um aniversário
chegando. Quero que se lembre de quão útil fui quando pedir
esse vestido que vi.
Rindo por ter sido pega, Lauren concordou. — É
óbvio!
— Naomi é uma ladra de joias, bastante boa pelo que
ouvi. Claro que ninguém queria me dizer nada, sendo tão
jovem como era, mas também esqueceram que eu possuía
ouvidos. Idiotas. — Ela revirou os olhos. — De qualquer
maneira, eles tinham sua pequena coisa...
— Pequena coisa? — Perguntou Lauren
interrompendo-a.
Seu rosto se enrugou. — Realmente tenho que entrar
em detalhes?
Ah, a isso se referia. — Não, continue.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— De qualquer forma, tinham sua coisa, e, se Mishca
não estivesse completamente bêbado, teria visto a cadela
furiosa que era, mas infelizmente, quando se pensa com seu
pau — isto parecia ser para Luka — não há nada que
possamos fazer para mudarem de ideia. O que é tudo isso,
afinal? Você as quer, as estrelas?
Lauren deu de ombros, na realidade não se
comprometendo a uma resposta. — Só queria saber mais
sobre elas.
— Se quiser as estrelas, exija-as — disse Alex com
um sorriso. — Ele lhe dará o que você desejar.
7
In the beginning
Volkov Bratva 3
Enquanto comiam, debaixo da mesa, a mão de
Mishca permaneceu na parte de sua coxa nua que se
sobressaía do vestido, como o fez tantas vezes. Era difícil
concentrar-se em qualquer outra coisa quando seu polegar
acariciava sua pele. Não que ele fizesse de propósito, já que
conversava com os outros, mas isto era a única coisa no que
podia se concentrar.
— Eu já volto — disse Mishca, em um momento,
pressionando um rápido beijo em sua têmpora.
Não o questionou, mas olhou seu trajeto pelo
restaurante fazendo uma linha reta para o bar.
8
Samuel Frederick "Sam" Smith é um cantor e compositor inglês.
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Volkov Bratva 3
provavelmente estaria reservado com meses de antecedência,
o que apenas fez sua vida mais difícil.
Atravessavam a rua quando Lauren notou.
A arquitetura do edifício foi o que chamou sua
atenção — Amber ensinou-a a apreciar a boa estética — e
enquanto olhava para ele todo, viu apenas algumas pessoas
movendo-se ao redor do terraço, uma bonita vegetação
aparecendo sobre a borda.
Um casamento no terraço.
Esse pensamento nunca passou pela sua cabeça
antes. Pensou em um salão de baile ou algo grande, mas não
um terraço de tamanho modesto, poderia ser mais íntimo,
assim como queria.
Apertando a mão de Mishca — a quem de todas as
formas esteve arrastando — já que ele quase não prestava
atenção, atravessou a rua, passando pelas portas giratórias
do hotel.
Deixando-o com sua conversa, Lauren se aproximou
da recepção, sorrindo ao atendente que estava ali de pé. Era
um homem no final de seus cinquenta anos, com o cabelo
branco como a neve, e parecia que trabalhou no hotel desde
que abriu.
— Bem-vindos ao Gran Berlim, em que posso lhe
ajudar?
— Vocês celebram casamentos aqui?
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Volkov Bratva 3
Se não fosse pelo terraço, poderiam definitivamente
fazê-lo no átrio. Foi desenhado para a realeza, pelo menos foi
o que Lauren supôs. Suaves tons pêssego e amarelo
manteiga, assim como cores mais ousadas como o bordô e o
azul meia-noite adornavam as superfícies da maioria dos
móveis na sala. E ainda pilares dourados, e luminárias
elegantes penduradas ao longo das paredes.
— Sim senhora. Estamos orgulhosos de sediar
muitos eventos em qualquer um de nossos salões de baile,
assim como — mediante pedido especial — acesso aos jardins
no terraço.
— Qual seria o melhor momento para visitar esses
jardins?
Ele se aproximou do computador no outro lado da
mesa, digitando pacientemente. Tomou um minuto, e quando
terminou, Mishca finalizou sua chamada, e se juntou a ela.
— Temos uma abertura na próxima semana. Estaria
bom assim?
Lauren deu seu nome e conseguiu tempo para estar
disponível para fazer o passeio. Ela e Mishca retornaram na
semana seguinte, com Alex a reboque, ainda levando sua
lista do que precisaria para aprovar o lugar.
A gerente do edifício, Abigail, levou-os até o terraço,
recitando a história do hotel enquanto caminhavam. Falou
sobre tudo com Alex, já que se deu conta que teria que
conquistá-la para fechar o negócio.
Abigail sorriu, com uma mão na porta enquanto se
virou para eles com um sorriso. — Estão preparados?
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Volkov Bratva 3
Sem esperar resposta, abriu a porta e a luz do sol
cegou momentaneamente Lauren, dando um passo trás para
ver mais claramente, e o que viu deixou-a fascinada.
Apesar de que sem dúvida foi limpo da última vez
que estiveram ali Lauren só vislumbrou pessoas, ela podia
ver o que poderia ser, quão diferente ele ficaria com as
cadeiras arrumadas, um corredor no meio, o altar no final.
Ainda melhor, havia cerejeiras em cada extremidade.
Concordou antes que alguém mais pudesse expressar
sua opinião. —Convenceu-me.
— Excelente. Nossa próxima data não é antes de seis
meses, mas...
Foi então quando Mishca falou. — Preciso para a
próxima semana.
— Sinto muito, mas não temos o tempo para
prepará-lo, e...
Ele suspirou, como se estivesse acostumado a esse
tipo de resposta. — Qualquer que seja a quantia que precisar
em sua cabeça, está feito. Basta escrever isso, sim?
— Começarei com a papelada.
Passou por ele, deixando-os que olhassem o resto
enquanto esperavam que retornasse.
— O dinheiro faz girar o mundo — disse Lauren com
um aceno de cabeça.
Nem mesmo vinte minutos mais tarde, Abigail voltou
com o contrato para assinar, e solicitou um depósito não
reembolsável.
Um passo mais perto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Acho que sua irmã está mais emocionada com isso
que todos nós juntos — comentou Lauren depois de que
deixaram Alex em casa, Mishca lhe disse que tinham que
fazer mais uma parada.
— Provavelmente por que supõe que ganhará este
apartamento.
Lauren franziu a testa, sem compreender. — Por que
pensaria que ficaria com seu apartamento?
Mas ele não respondeu.
Eles foram para um edifício de estilo antigo, com o
nome escrito em letra cursiva dourada em uma placa. Ela
olhou para Mishca, perguntando por que eles estavam lá,
mas o seguiu para dentro de qualquer maneira, em direção
aos elevadores de um lado da recepção.
Mishca colocou uma chave em uma ranhura ao lado
de um botão marcado com a letra "C"9. E quando se iluminou
e subiu lentamente, música clássica soava através dos alto-
falantes.
— Devo perguntar ou...?
— É uma surpresa.
As portas não se abriram para um corredor, mas o
hall de entrada de um apartamento. Ele gesticulou para que
entrasse primeiro, seguindo atrás. Ela olhou em volta,
maravilhada, a luz do sol brilhava através das janelas,
tornando o já grande lugar, enorme.
9
Cobertura.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Isto é uma loucura — murmurou Lauren enquanto
entrava na cobertura.
Era como entrar em um sonho. O apartamento em si,
tinha um piso de planta aberta, igual ao apartamento de
Mishca, mas com quase o dobro de tamanho.
O piso de madeira escura contrastava com as
brilhantes paredes brancas. As portas duplas francesas
levavam ao quarto principal — um dos três que estavam no
primeiro andar — mas Lauren não estava cativada pelo
amplo espaço ou a varanda com vista para a ponte de
Manhattan, apaixonou-se pela banheira clássica com pés no
banheiro. Tinha sua própria área, no lado oposto do chuveiro
de arenito em que caberiam seis pessoas.
— Você gosta?
— Sim, eu adoro, mas, o que estamos fazendo aqui?
Ele enfiou as mãos nos bolsos, dando-lhe um
encantador sorriso torto. — Pensei que desde que concordou
em morar comigo, e ser minha esposa, deveríamos ter nosso
próprio lugar.
Ela ficou eufórica, mas conseguiu manter uma cara
séria quando perguntou — Você já comprou, certo?
— Tecnicamente, sou o dono do edifício.
— Mish!
— Estou dentro do mercado imobiliário.
— É obvio que sim, porque ter dois clubes não é
suficiente.
Ele encolheu os ombros, olhando por uma das
janelas. — Não posso reclamar quando posso te dar o mundo.
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Volkov Bratva 3
— A próxima vez que você olhar, eu estarei descalça e
grávida na cozinha.
— Amor, você não sabe cozinhar.
Ela deu um tapa em seu braço quando ele riu. —
Poderia aprender.
Lauren não pôde evitar andar em círculo, olhando
tudo ao seu redor apenas uma vez mais.
— Então, este é realmente nosso? — Perguntou.
— Sim.
Ela segurou o rosto com as duas mãos, e ficou na
ponta dos pés para beijá-lo. — Ya tebya lyublyu. Eu te amo.
— Ya tebya lyublyu. E eu te amo. Bem-vinda ao lar.
— Então, quanto você...?
— Não.
Riu, incapaz de fazer outra coisa. — O que quer dizer
com "não"? Nem sequer terminei a pergunta.
— Seja o que for, não. Você não tem que pagar por
nada.
— Mas eu quero. — Insistiu Lauren, colocando o
braço na dobra de seu cotovelo. — Sei que nunca estaremos
em igualdade de condições, mas ao menos posso sentir que
estou contribuindo.
Ele parecia ainda querer discutir, mas depois de
olhá-la, vendo que era implacável, finalmente concordou. —
Tudo bem, os mantimentos para o apartamento.
— Bem.
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Volkov Bratva 3
Eles estavam muito longe do edifício quando Lauren
pensou no que ele disse. — Espere, não comemos fora a
maior parte do tempo?
Ele apenas sorriu.
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Volkov Bratva 3
10
Sigla para Divisão de Crime Organizado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando chegou pela primeira vez, os homens
estavam mais que felizes em entregar seus arquivos da
Volkov Bratva. Não era nenhum segredo que a Vory v Zakone
era notoriamente difícil de se infiltrar, e apesar do que outros
poderiam ter dito sobre eles, eram muitos membros, e
igualmente mortais — se não mais — que a Cosa Nostra.
Saboreando o desafio, Green aceitou de boa vontade
o caso, e trabalhou nele desde então. Avançando rápido por
cinco anos, agora estava a ponto de derrubar uma
organização que conseguiu evitar a lei durante mais de duas
décadas.
Mas não iria parar até chegar a seu final.
Pegando toda a informação que recolheu de seu
informante confidencial — o que não era muito para começar
— entrou no escritório de seu superior, com uma máscara de
indiferença no rosto. Em sua mente, não tinha nenhuma
razão para se preocupar.
Apesar de não estar na DCO há muito tempo,
trabalhou para o escritório de campo de Nova York por pouco
mais de dez anos, e era conhecida por sua inabalável
capacidade de atingir seu alvo. Já que trazia resultados, seus
superiores frequentemente faziam vista grossa quando
contornava a margem da lei para acabar com os criminosos
mortais que procurava, embora duvidasse que continuassem
assim se soubessem o quão longe ela se desviou.
Mas era apenas como trabalhava.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela era atraente, e não se enganava acreditando que
os outros pensavam que a única razão pela qual tinha seu
próprio grupo de trabalho era porque parecia muito bem em
uma saia. Trabalhou até o cansaço para chegar onde estava e
não deixaria que nada nem ninguém ficasse em seu caminho.
Em um escritório cheio de homens, destacou-se, e
com frequência era ignorada simplesmente por ser mulher.
Por isso, tentou manter seu trabalho, e fez questão de estar
um passo à frente de seus colegas.
— Como justifica o processo contra os russos? —
Taylor era um homem que levava muito a sério seu trabalho,
e esperava resultados.
— Fizemos progressos. Espero que nos próximos três
meses, tenhamos provas suficientes para processá-los. —
Mentiu sem esforço.
Taylor golpeou seus dedos contra a mesa, parecendo
cético. —Recebemos informação confiável que o problema
entre os russos e os albaneses está se agravando. O que seu
homem reportou?
A Agente Green pigarreou, negando-se a se inquietar
sob seu olhar. Não havia razão para sentir-se intimidada. —
Temos tudo sob controle. Espero uma ligação no final desta
semana.
— Mantenha-me informado.
Concordando, Green deixou seu escritório.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O que seu superior não sabia era que seu contato na
Volkov Bratva não forneceu toda a informação como deveria.
No começo, quando se infiltrou se reportava em cada
oportunidade que podia, mas agora, tinha sorte de obter
informação dele uma vez ao mês.
Depois do tiroteio no clube, decidiu removê-lo —
outra razão pela qual apareceu lá — mas ele pediu mais
tempo, querendo obter o máximo de informações que pudesse
de todos eles, pelo menos esse foi o motivo que lhe deu.
Duvidava que houvesse mais alguma coisa que pudesse
conseguir depois de estar com eles durante tanto tempo, mas
ela permitiu, pensando no bonito escritório do canto que teria
quando este caso terminasse, e Volkov Bratva estivesse em
ruínas.
11
Nome do copo usado para tomar tequila.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Então tivemos martinis — talvez uma margarita
em algum momento. Oh! E esta genial bebida que se chama
Aviation12. Não tinha nem ideia do que levava, mas era
impressionante.
Com Lauren divagando, Mishca olhou para sua irmã.
— Não se preocupe, Mish ela vai estar bem amanhã
cedo — interveio Amber caminhando de volta, com um
pedaço de papel na mão.
— Com uma ressaca, sem dúvida. A culpa é de vocês
duas por isso. Não deveriam deixá-la beber tanto.
— Não tente arruinar minha noite — disse Lauren
bêbada, cutucando-o no peito com o dedo — Esta noite foi
maravilhosa.
Tentando não rir, pegou-a no colo — Vamos.
Não tentaram argumentar, seguindo-o até seu carro,
subindo no banco de trás. Mishca colocou Lauren no banco
do passageiro, ajustando o cinto de segurança em torno dela
para que pudesse deitar.
Para dirigir com conforto, teve que ajustar o banco
para trás, não querendo ter que mover Lauren.
Quando saíam, Mishca olhou pelo retrovisor para as
garotas na parte de trás — Agora entendo por que vocês
fazem a despedida dois dias antes do casamento.
— Siimm, porque ela definitivamente não está
andando pelo corredor para o altar assim — disse Alex com
um sorriso — Acho que nossa noite foi um sucesso.
12
Um cocktail clássico feito com gin, licor de maraschino, crème de violette, e suco de
limão. Algumas receitas omitem o crème de Violette.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Elas bateram o punho, deixando Mishca balançando
a cabeça.
Não demorou muito para voltar ao hotel, e enquanto
Luka escoltava Amber e Alex aos seus quartos, Mishca levou
Lauren ao dele. Uma vez que eles passariam o dia seguinte
separados, queria que ela ficasse ao seu lado, mesmo que ela
dificilmente estaria ciente disso.
Lauren riu de como Mishca a levou para sua suíte,
colocando-a gentilmente sobre a cama. Estendeu a mão
tentando fazer com que ficasse com ela, mas ele facilmente se
soltou, ajudando a tirar os sapatos.
— Eu poderia fazer isso — disse Lauren, sem jeito
para alcançar o zíper do vestido.
Mishca foi paciente com ela, movendo suas mãos
para que pudesse ele mesmo tirá-lo. Pensou em tentar vestir
algo nela, mas era um homem afinal de contas, e gostava
muito de como estava vestida no momento.
Quando a deixou confortável, Mishca tirou suas
próprias roupas, puxando-a para seu lado.
— Você tem um sorriso bonito, Mish — disse Lauren
caprichosamente, suas palavras fazendo-o sorrir mais ainda
— Eu estou feliz que eu consegui ficar com você.
— O sentimento é mútuo.
Ela desenhou sobre uma de suas estrelas com seu
dedo mindinho e enquanto ele estava feliz com seu afeto,
sabia que ela iria ter uma manhã infernal.
In the beginning
Volkov Bratva 3
13
Fazer algo antes que deva ser feito, iniciar antes do sinal.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca chegou até ela, seu polegar acariciando sua
bochecha antes de se inclinar e mover sua boca sobre a dela.
A princípio era bem suave, só um leve toque contra seus
lábios, mas não importava que tivessem uma grande plateia,
Mishca aprofundou o beijo.
Não a soltou até que os assobios começaram, e uma
suave risada vibrou em seu peito. Deram a volta para ficar de
frente para suas famílias, de mãos dadas.
Um ponto brilhante no edifício em frente do outro
lado da rua chamou a atenção de Lauren que estreitou seus
olhos nele, mas desapareceu no instante seguinte. Sem dar
muita importância, Lauren sorriu, apertando a mão de
Mishca quando todos aplaudiram.
Começaram a andar em direção a saída e brilhavam
de felicidade, duvidando que algo pudesse arruinar este dia.
Até que tudo virou um inferno.
Ouviu os gritos de surpresa quando todos se
atiraram no chão, os brigadeiros imediatamente pegaram
suas armas, mas o único que Lauren podia ver era Mishca
quando sua mão foi arrancada dela quando ele cambaleou
caindo de costas. O sangue correndo em seus ouvidos
afogando todo o resto quando se jogou sobre ele, tropeçando
em seu vestido quando caiu de joelhos ao seu lado.
— Mish, o que... não, não, não.
Uma mancha escura começou a aparecer no meio do
seu peito, aumentando até o branco de sua camisa, o
surpreendente tom vermelho fazendo com que ela prendesse
a respiração. No mesmo instante, estava gritando por alguém,
In the beginning
Volkov Bratva 3
qualquer pessoa que a ajudasse colocar pressão com as mãos
sobre a ferida.
Sua boca abriu e fechou em vão, como se quisesse
dizer algo, mas ela negou com a cabeça, sua garganta se
fechando enquanto lágrimas caiam de seus olhos. — Você vai
ficar bem, eu prometo. Você não pode morrer — disse, com a
voz fraca quando viu lágrimas rolar pelo lado de seu rosto.
As pessoas gritavam em russo, correndo ao redor.
Ela sabia que alguns estavam lá fora do prédio correndo, se
espalhando para caçar o atirador nos edifícios ali perto.
Lauren não se moveu de seu lugar ao lado de Mishca,
nem mesmo quando chegaram os paramédicos. Alguém teve
que puxá-la para trás, a afastando para que fizessem seu
trabalho. Moviam-se rapidamente, pegando e o colocando na
maca, ajustando uma máscara de oxigênio sobre seu rosto.
Seus olhos ainda estavam nela ainda quando
começaram a removê-lo do salão. Ela nem se preocupou em
olhar para trás para ver quem a segurava, só se sacudiu para
se soltar, segurando a parte da frente do vestido para correr
atrás deles. Quando conseguiu alcançá-los, estavam
fechando as portas do elevador. Virando à direita, abriu com
um puxão a porta da escada, jogando seus saltos no
caminho. Não se importava que estivesse no nono andar,
estava decidida a chegar lá.
Quando chegou lá fora, a ambulância já estava
saindo. Luka logo estava atrás dela, guardando sua arma nas
costas. O manobrista estava ali parado olhando em estado de
choque.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não sei onde está meu ticket — disse Lauren
nervosa — Estamos com um Mercedes preto.
Ele ficou ali olhando, especificamente para o sangue
que cobria suas mãos e o vestido onde ela segurou o tecido.
Luka agarrou a camisa do homem, seus olhos
semicerrados enquanto o puxava para frente, chegando tão
perto do rosto do homem que seus narizes estavam quase se
tocando. — Mexa-se!
O empurrou para longe, sem se preocupar que
estivesse atraindo atenção demais. Pela primeira vez, Lauren
estava contente de Luka estar por perto. Quando o
manobrista estacionou o carro — muito mais rápido do que
faria sem Luka — estava para entregar as chaves para
Lauren quando Luka as arrancou de sua mão, assumindo o
banco do motorista.
Lauren não podia argumentar enquanto entrava no
carro, Luka saindo antes mesmo que a porta estivesse
fechada. Suas mãos tremiam tanto que foi bem difícil
conseguir colocar seu cinto de segurança. A ambulância não
estava muito longe, mas por causa das sirenes eles foram
capazes de desviar do trânsito com facilidade.
Quando os carros começaram a realinhar, Lauren
temia que perdessem a ambulância, mas subestimou a
determinação de Luka de manter-se com ela. Pisou fundo no
acelerador, apertando os dois contra seus bancos, com o
carro em alta velocidade. Motoristas irritados buzinaram,
desviando do caminho para evitar serem atingidos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Estavam quase no hospital quando um tipo diferente
de sirene soou atrás deles, luzes azuis se refletiam no espelho
retrovisor. Lauren se virou em seu banco, olhando primeiro
para o carro de polícia tentando alcançá-los, em seguida para
Luka.
— Não se preocupe com eles. Eu resolvo. Só entra lá.
Lançando o volante para a direita, Luka quase subiu
na calçada, assustando as pessoas caminhando. Lauren
saltou do carro em um movimento rápido, batendo a porta
atrás dela enquanto corria para o hospital. Olhando para
trás, viu que a polícia finalmente chegou até Luka. Sacando
suas armas, mandaram que saísse do carro. Com seu sorriso
habitual, Luka saiu, com as mãos sobre a cabeça enquanto
se apressavam em colocar as algemas nele. Quando ele se
deu conta de que ela continuava olhando, ele fez um gesto
com a cabeça, uma mensagem silenciosa para que fosse logo.
Girando nos calcanhares, Lauren correu através das
portas corrediças, até a recepção. A mulher sentada ali
parecia que esteve de plantão toda a noite e esta manhã, o
cansaço era claro em seu rosto, mas quando viu Lauren em
seu vestido de noiva, sangue em suas mãos e no vestido, se
prontificou em seguida.
— Estou procurando alguém que acabam de trazer —
disse Lauren nervosa — Ele foi baleado...
Não fazia sentido, podia dizer pelo olhar no rosto da
mulher, assim como nas outras enfermeiras que estavam se
reunindo ali perto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Está comigo, Irene — uma doutora disse correndo,
seu uniforme de cirurgia coberto de sangue.
— Onde ele está? — Exigiu Lauren, quando a
doutora a puxou de lado.
— Em primeiro lugar, preciso saber quem é você.
Lauren sabia que a mulher estava legalmente
obrigada a perguntar isso, protegendo a privacidade do
paciente e tudo, mas estava tão perto de perdê-lo, e fazer
perguntas estúpidas só iria irritá-la ainda mais.
— Sou sua esposa.
E lá estava, a primeira vez que foi capaz de dizer as
palavras. Infelizmente, também tinha que ser o dia em que a
vida de Mishca estava em perigo.
— Tudo bem, seu marido está na cirurgia agora, o
Dr. Clarke é o cirurgião chefe que fará...
— Mas, como ele está, quando eu posso vê-lo? Ele vai
ficar bem? Vai não vai?
A médica sorriu gentilmente. — Não saberemos com
certeza até que saia da cirurgia.
— Mas, quanto tempo vai demorar? — Insistiu
Lauren.
— Sinto muito, mas neste momento, não há nada
mais que eu possa dizer. Quando o Dr. Clarke tiver
terminado a cirurgia, virá e conversará com você.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não havia mais nada que Lauren pudesse fazer a não
ser olhar a médica ir embora, deixando um silêncio horrível
enquanto as pessoas passavam por ela, tentando esconder
sua tristeza em ver seu vestido de noiva todo manchado de
sangue.
Deixou-se cair em uma das cadeiras desconfortáveis
da sala de espera, sentindo como se todo o peso do mundo
estivesse sobre seus ombros agora. Às vezes, quando
confrontados com uma situação terrível, que não parecia real,
isso seria empurrado para o fundo da consciência, mas
Lauren não tinha como fazer isso. Pela primeira vez em todo o
dia, tudo parecia muito real.
Ainda podia ouvir os gritos quando as pessoas
abaixaram e gritaram, a sensação de Mishca sendo atirado
para trás com a força da bala.
O medo em seus olhos porque ele sabia que se
estivesse morrendo...
Lauren fechou os olhos, tentando esquecer tudo, mas
desta vez, não havia nenhum lugar para onde pudesse
escapar.
Minutos mais tarde, todo mundo começou a chegar.
Não foi difícil de encontrá-la — a única mulher que usava um
vestido de noiva. Susan e Ross foram os primeiros, ambos
com diferentes expressões de ansiedade. Lauren evitou o
olhar de Ross, não querendo ver o julgamento em seus olhos.
Sem dizer uma palavra, Susan a pegou nos braços,
tentando acalmá-la e logo começou a chorar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
14
Trecho do poema “The Happiest Day, the Happiest Hour”, escrito por Edgar Allan Poe, em
1827.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quatro horas.
Esse foi o tempo que demorou a Lauren reunir a
coragem para chamar Luka, pedindo-lhe que viesse a seu
encontro no quarto de Mishca. O hospital estava
relativamente tranquilo, só a enfermeira ocasional fazendo
suas rondas. Sempre ouviu que o medo levava às pessoas a
fazerem coisas loucas e nesse momento, Lauren concordava
completamente.
Vlad era sua primeira opção, mas Lauren sabia que o
que lhe pediria seria muito, e era mais que provável que
tentasse convencê-la a se manter fora do assunto, mas
precisava fazer isso.
Não queria viver com medo.
Luka entrou pela porta, com um saco de uvas na
mão. — O que posso fazer por você?
Sabia que o que estava a ponto de pedir não seria
bom para ele, especialmente pela pessoa com a qual trataria.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Preciso que encontre Klaus. — Assim como
pensou, não parecia contente com a ideia, mas precisava que
entendesse a razão — Mishca disse que Klaus era um dos
melhores — se não o melhor — franco-atirador no mundo.
Assim, ou foi ele que atirou, ou sabe quem foi. De qualquer
maneira, temos que achá-lo.
Luka esfregou sua mandíbula, sua expressão
fechada. — Nyet. Não é uma boa ideia.
— É o que faz, entretanto — argumentou Lauren — É
um executor. Encontra gente, para lhe dar surras ou para
entregá-los. Quero que o traga, e se te faz sentir melhor, pode
lhe dar um murro na cara pelo que te fez.
— Tentador, sim, mas o Cap teria minhas bolas se
me incomodasse em trazer alguém como ele para você.
Especialmente com ele fora de serviço — disse movendo a
cabeça para Mishca.
— O que Mishca te disse para fazer exatamente? —
Perguntou Lauren, negando-se a voltar atrás no que queria.
— Que cuidasse de você... — mas sua voz foi se
apagando, e sabia que ele sabia exatamente ao que se referia.
— E o que mais?
Revirando os olhos, coçou a cabeça. — Dar-lhe tudo
o que pedisse.
— E preciso do Klaus aqui.
— Bem. — Levantou as mãos no ar — Mas não te
moverá deste lugar até que volte. E se não puder pegá-lo, só o
deixe assim, ok? Não preciso de você ferrando essa merda
mais.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Vlad inclusive pode me fazer companhia — disse
alegremente, olhando ao estoico homem que acabava de
entrar no quarto.
Olhou entre os dois, curioso a respeito do que
falaram, mas não perguntou. Luka foi ter uma conversa
privada com Vlad. Com eles no quarto, Vlad se aproximou,
sentou-se junto a ela e acariciou seu ombro.
Ela sabia o muito que Mishca significava para ele,
embora nunca dissesse as palavras em voz alta. Mishca
sempre falou positivamente sobre ele e antes de Luka, era e
sempre seria Vlad.
— Acredita que vai despertar? Esteve dormido por
muito tempo— ela perguntou em voz baixa, essa questão
ecoava em sua mente.
Nunca teve a coragem de perguntar a ninguém mais,
por medo do que pudessem dizer. Susan e Ross a teriam
adoçado, duvidando de que realmente queria saber o que
pensavam. Ross poderia ter querido, mas Susan o teria
detido, sobretudo depois da forma como Lauren falou com ele
antes.
— É muito teimoso para morrer — respondeu depois
de algum tempo.
E isso era tudo o que podia esperar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Passou um dia após o outro, e Mishca ainda não
despertara. Alex veio com Amber e os outros, inclusive Susan
e Ross. Luka ainda não voltou nem chamou ninguém, mas
Lauren queria esperar um pouco mais antes de enviar Vlad
atrás dele.
Tornou-se um elemento permanente no hospital, as
enfermeiras de Mishca em suas rondas a saudavam por seu
nome. Mais tarde nesse mesmo dia conseguiu as respostas
que precisava.
Lauren saiu do lado de Mishca por poucos minutos,
mas quando retornou ao seu assento, sentiu sua presença
sem vê-lo. Não teve tempo de perguntar-se como passou pelas
enfermeiras ou inclusive por Vlad, que ficou dormindo na
recepção, estava contente de que ele estivesse ali.
— Não acreditei que realmente aparecesse —
sussurrou, sem incomodar-se em tirar o olhar de Mishca
enquanto dormia.
Klaus fez um som quando saiu das sombras, seu
olhar saltando dela a Mishca, parando por um momento
antes de virar para ela. Tinha a esperança de ver algo, algum
indicio de emoção em seus olhos para demonstrar que se
importava com o que aconteceu com Mishca, mas não havia
nada, como se nem sequer fosse humano.
— Você chamou por mim, aqui estou. O que quer?
A primeira vez que Lauren conheceu Klaus, estava
muito emocionada pelo fato de que Mishca tinha um gêmeo,
não notando realmente as desigualdades entre eles, mas
agora que o olhava, tinham sutis diferenças entre eles.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Klaus não tinha barba, pelo menos durante o tempo
em que eles cruzaram seus caminhos, seu cabelo era muito
mais curto, que mal caía abaixo de suas orelhas. E existia
tanta ira em seu rosto. De fato, não havia absolutamente
inflexão em sua voz para descobrir sua origem.
— Preciso de sua ajuda.
— Não há nada que possa fazer pelo russo — disse,
colocando as mãos nos bolsos enquanto permanecia de pé
junto à janela, com as costas contra a parede — E, quem
pode dizer que não pus essa bala nele?
— Não teria aparecido se tivesse feito, e se
aparecesse não falaria comigo. Além disso, há muitas
testemunhas.
Sorriu como se a achasse engraçada. — Poderia
partir seu pescoço antes que fizesse algum ruído. Diria que
pergunte a seu russo, mas... — deu de ombros como se não
tivesse nenhuma preocupação no mundo — não pode
responder neste momento.
Provocava-a, igual Luka fazia no dia a dia, mas
diferente dele, Klaus não fazia isso para que sorrisse.
— Mishca disse que é o melhor franco-atirador que
conhece, o que me diz que se fosse você que disparasse, não
teria errado o seu coração.
— É verdade, mas ainda não vejo por que estou aqui.
— Quero que encontre a pessoa que fez isto.
— Não é meu problema.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren franziu o cenho, apertando suas mãos
quando tirou os olhos de Mishca para olhar para ele. —
Independente do que se passou entre vocês dois, ele continua
sendo seu irmão.
Revirando os olhos, espetou-lhe — Se pensa apelar
para mim dessa maneira, claramente não sabe de nada. Um
conselho afaste-se antes que esteja em uma cama junto a ele.
Ela sacudiu a cabeça antes mesmo que terminasse.
— Não posso fazer isso.
— Então é muito mais estúpida do que pensava.
Terminamos aqui?
Com passos largos, estava quase fora da porta, mas
ficou de pé rapidamente lhe fazendo uma oferta antes que
pudesse dar um passo mais.
— Vou pagar! É só dar o preço.
Não sabia muito sobre mercenários, ou a forma em
que trabalhavam, mas se fossem como o que pensava, estaria
disposto a prestar seus serviços por dinheiro, não importava
se odiasse à pessoa para a qual estaria trabalhando.
Deu a volta, descaradamente rindo dela. — Você não
poderia me pagar.
Fortalecendo sua determinação, levantou o queixo
um pouco, olhando-o com ousadia. — Ponha seu preço.
— Meio milhão.
Ele não parecia esperar que ela concordasse com
essa quantia — isso era muito mais do que cobrava
normalmente por um trabalho parecido — mas não lembrava
o que o medo fazia às pessoas desesperadas.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Feito.
Klaus a observou durante uns momentos antes de
sacudir a cabeça, parecendo desconcertado por sua resposta.
— O que fará na próxima vez? — Perguntou-lhe
Klaus enquanto parava ao seu lado, fazendo-a esticar seu
pescoço para olhá-lo no rosto — Tem que saber que este não
será o único atentado contra sua vida.
— Farei o que tenha que fazer — disse com
convicção.
— Com que facilidade está disposta a eliminar
alguém mais para salvar seu precioso amante? E se a pessoa
que está caçando é um pai com esposa e filho, ainda irá
querer que faça o disparo?
Suas palavras tiveram o efeito desejado, fazendo-a
estremecer, perdendo algo de sua presunção.
— Não é melhor que eles, verdade?
Desta vez, Lauren não tentou detê-lo enquanto saía
do quarto. Voltou a sentar-se ao lado de Mishca, tentando
tirar de sua cabeça o que Klaus acabava de dizer.
Porque uma parte dela temia que fosse verdade.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Algumas horas mais tarde, Lauren piscou abrindo
seus olhos, não muito segura de que tivesse despertado. —
Luka, que porra?
Estava agachado frente a ela, seu rosto a poucos
centímetros dela, mastigando lentamente uma fatia de
laranja, um sorriso estendendo-se em seus lábios quando
finalmente percebeu que estava acordada. Desde que estava
de bom humor — considerando como ele era — duvidava que
soubesse a respeito da presença de Klaus na noite anterior.
Decidiu que podia esperar até mais tarde para lhe dizer.
Empurrou-o para trás com relutância, sentando-se
para ela poder olhar a seu redor, então para Mishca. Tudo
permanecia igual.
— O que quer? E onde esteve? Já ia enviar uma
equipe de busca.
— Fazendo meu trabalho, porém não pude encontrá-
lo. Mas basta de mim, esteve aqui durante três dias e você
tipo cheira...
— Tomei banho ontem, e considerando que você
acabou de me acordar, tenho uma desculpa válida.
Só continuou como se não tivesse falado. — E
poderia ser bom que conseguisse preparar algo para quando
o Cap for para casa.
Lauren se endireitou, olhando para onde Mishca
seguia dormindo tranquilamente. — Houve notícias? Os
médicos disseram alguma coisa? E por que não despertou?
— Convenci a uma enfermeira de que me dissesse
isso. Ela foi surpreendentemente flexível considerando...
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Luka!
— Bem, você não é divertida. A inflamação baixou, e
eles pararam o blá, então ele vai despertar e blá, blá, blá,
boas notícias. Além disso, alguma outra merda que me
pareceu chata.
Lauren tocou seu ombro, fazendo-o parar em meio de
suas divagações. — Luka, por favor. O que disseram?
E surpreendentemente, voltou a citar o que lhe
disseram, textualmente, inclusive utilizou a terminologia
médica com a qual ela se atrapalhou um pouco. Quando
terminou não podia fazer nada mais que olhá-lo assombrada,
deu-lhe um pequeno e triste sorriso, que a fez se perguntar o
que acontecia com ele.
— Nunca me esqueço de nada. — Mas logo que a
tristeza repentina se apoderou dele, saiu subitamente desse
estado — Pronta para ir?
Decidindo que era melhor não discutir, recolheu suas
coisas, e depois de dar um beijo em Mishca, foi com ele.
Depois do tiroteio, não esteve na nova casa, em vez
disso passou todo seu tempo no hospital, não que alguém
parecia se importar. E assim foi mais fácil que sua babá
cuidasse dela, ou ao menos essa foi a desculpa de Luka,
embora Lauren duvidasse disso.
Luka respeitou o limite de velocidade no caminho, já
que tinha uma multa com a que tratar. No momento em que
chegaram e subiram no elevador, Lauren fez uma contagem
regressiva desde vinte, tentando não pensar em tudo o que
teria que fazer, quando estivesse no apartamento.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Surpreendeu-se ao ver que os presentes lhe davam
as boas vindas, empilhados em toda a sala, variando em
cores e tamanhos, um lembrete do que deveria ser o melhor
dia da sua vida.
Seus passos eram dolorosamente altos quando foi
mais para dentro, Luka atrás dela. Pensou em voltar para o
hospital, mas precisava enfrentar isto primeiro. E se...
quando Mishca viesse para casa, queria torná-lo mais fácil
possível para ele.
Deixou cair suas chaves e bolsa sobre a mesa,
ignorou os presentes no momento, dirigindo-se a seu quarto.
Os lençóis ainda estavam enrugados de sua última noite
juntos, outra lembrança dolorosa.
Fechando a porta — deixando Luka por sua conta —
tirou a roupa e foi para o banheiro tomar uma ducha. Ali,
deixou que a água lavasse seu sofrimento, sabendo que tinha
que ser forte, embora fosse só por Mishca. Tinha que
acreditar que ele seria o mesmo uma vez que despertasse,
dando-lhe esse sorriso tranquilizador e sem que o pedisse,
prometer que não levaria um tiro de novo, mesmo que ele não
pudesse controlar algo assim.
Lauren ficou sob o jorro de água até que esfriou,
pegando uma toalha da barra a envolveu em seu corpo,
pegando outra para seu cabelo.
Tinha muita roupa para escolher, mas em vez disso,
optou por uma camiseta de Mishca e uma de suas calças de
moletom, dobrando a cintura algumas vezes para mantê-la
no lugar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Voltando para a sala de estar, viu Luka sentado no
bar, com um estranho pedaço de comida em sua mão, uma
que nunca viu antes, mas, sem dúvida, era uma fruta. Não
parecia comer qualquer outra coisa.
— Sente falta do bordel? — Perguntou, caminhando a
seu redor para pegar uma garrafa de água da geladeira.
— Que nome tão feio, não? Eu gosto de pensar que é
como meu lugar feliz.
— Como está Natasha? — Lauren só esteve com ela
duas vezes, uma delas na casa segura e a outra na despedida
de solteiro, por isso perguntava sobre ela.
— Não gosta de me compartilhar.
— O que quer dizer?
Piscou.
Esperando um segundo, ela perguntou — Vai
responder?
Ele sorriu.
Claramente, ele não ia explicar-lhe isso. — O que
está comendo? — Perguntou assinalando a fruta estranha
que Luka ainda comia.
Olhou para ela como se nunca a tivesse visto antes.
Segurando-a, semicerrou os olhos, girando-a em várias
direções antes de lhe dar finalmente uma grande dentada. —
Chamam-na a fruta do dragão — disse com a boca cheia, por
isso foi difícil para ela entendê-lo. — Está boa.
— Sabe, nunca te vi comer nada mais que fruta. Há
alguma razão para isso?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Precisa ajuda para desempacotar qualquer dessas
coisas? — Perguntou, e pela primeira vez desde que o
conheceu, seu tom a fez pensar.
As perguntas pessoais estavam claramente fora dos
limites. Seja qual for o motivo para sua escolha de comida,
estava claramente fora de discussão.
— Não, posso fazer isso sozinha.
— Faminta?
Sinceramente, não podia lembrar a última vez que
comeu algo substancial. Esteve sobrevivendo unicamente de
batatas fritas e energético das máquinas automáticas. Não
seria ruim comer algo.
— Há algum lugar do qual deseje pedir?
Luka zombou, atirando a casca da fruta no lixo
enquanto contornava a ilha, abrindo a geladeira. — Não como
fast-food15.
Com o cenho franzido, perguntou-lhe — O que come?
— Cozinho.
Começou a tirar vários mantimentos das prateleiras,
logo procurou uma faca nas gavetas. Nem sequer se deu
conta de que havia comida ali desde que ela e Mishca
raramente comiam em casa.
— Não sabia que sabia cozinhar Luka.
15
Comida rápida, no sentido de comer besteiras, comer mal.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Olhou-o, surpresa quando se virou com uma faca
bem grande em suas mãos, tirando outra ferramenta para
afiá-la. Movia-se a grande velocidade, completamente
confortável com o que fazia.
— É por isso que sempre come frutas, não é? Porque
não come fast-food.
Assentiu, cortando um pimentão e uma cebola. — Já
sabe. Assim, me deixe fazer meu trabalho e vá procurar algo
que fazer.
Com muito poucas opções, Lauren se voltou para as
dezenas de caixas, levando-as a um dos quartos vazios em
que não teria que vê-las. Não se sentia com direito de abri-las
sem Mishca, e até que melhorasse, podia esperar.
Em seguida, ela trocou a roupa de cama,
substituindo por lençóis limpos, revisando o banheiro ao
lado.
No momento em que terminou, realmente tinha fome.
Luka ainda estava no fogão, apagando o fogo
enquanto tirava dois pratos do armário superior, pondo-os
lado a lado. Logo que notou sua presença, começou a servir
sua criação. Parecia animado enquanto trabalhava, a
frequente tensão em seu corpo esquecida quando habilmente
pôs as porções nos pratos.
Para tão caprichoso adornando os pratos, limpando
qualquer excesso da borda com a toalha de seu ombro.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Assinalando para que se sentasse, empurrou um dos
pratos para ela, uma faca e garfo, com um amplo sorriso. —
Bon appétit16.
— O que é isso? — Desde que ficou doente, pensou
que seria bom perguntar para saber ao menos o que era.
Encolheu os ombros, e começou a falar em um
perfeito francês, apontando para cada coisa no prato,
assentindo como se ela soubesse o que dizia. Claramente, ela
teria que aprender mais que russo se conviveria com eles.
— Não sabia que falava francês. — Estava
aprendendo mais a respeito de Luka esta noite do que nos
meses que o conhecia.
— Estou aprendendo.
— Quanto tempo esteve estudando?
— Cerca de uma semana.
Lauren olhou-o com os olhos arregalados, cortando
uma das maiores costeletas de porco que viu. — Pensei que
diria alguns meses.
Olhou-a, aparentemente antecipando o momento em
que finalmente desse uma mordida. — Aprendo rápido.
Finalmente pondo fim a seu sofrimento, ela mordeu,
mais que disposta a controlar suas reações e assim não
feriria seus sentimentos, mas não havia necessidade, não
com a forma em que foi cozido.
16
Bom apetite dito em francês.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Se alguma vez desistir desta vida — disse Lauren
enquanto comia umas batatas — definitivamente poderia ser
chef.
Se Luka fosse capaz disso, pensaria que corava nesse
momento. Pôs uma mão sobre seu coração, inclinando-se
ligeiramente. — Humildemente obrigado.
— Alguma razão em particular pela qual escolheu
estudar francês? — Perguntou Lauren inocentemente,
tentando não sorrir quando os lábios de Luka contorceram.
— Não é de sua maldita conta.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Escuridão.
Era tudo o que Mishca via, tudo o que podia sentir
já que estava perdido em sua própria mente. Houve breves
lampejos de imagens, mas nada que tivesse sentido para ele,
não ao menos até que a dor retornou.
Quando chegou, sentiu o ardor, a sensação da bala
rasgando sua carne quando o atravessou, quase tirando seu
ar enquanto lutava contra a agonia. Queria agarrar-se a algo,
qualquer coisa além da dor inimaginável que inundou seu
peito.
Mish, não morra.
Essas palavras foram como uma âncora para ele,
puxando-o para longe do abismo, de volta à superfície. Foram
as últimas palavras que lembrava, e com isso veio seu
sorriso, seu rosto. Tinha que despertar, embora só fosse
porque ela pediu.
Ele...
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca tomou uma respiração irregular, seus olhos se
abriram pela primeira vez, suas pálpebras parecendo como se
estivessem se rasgando separadas, sua mão indo
imediatamente a seu peito onde sentia o fantasma da bala
que o atravessou. Apesar de ter sido alvejado, Mishca nunca
sentiu o rasgo de uma bala em seu corpo, especialmente não
com esse calibre.
17
Hell's Kitchen, traduzido como Cozinha do Inferno e também conhecido como Clinton e
Midtown West é um bairro de Manhattan, na cidade de Nova Iorque, que inclui a área entre as Ruas 34
e 59, e entre a 8ª Avenida e o Rio Hudson.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Cuide dos seus assuntos Red. — resmungou
tomando metade de seu chá.
Rindo, Klaus perguntou — O que tem para mim?
— Nada sobre o russo.
Klaus franziu a testa, esfregando o queixo. Não
duvidava da palavra de Celt, nem por um momento, mas
tinha certeza que o atirador tinha que ser um deles.
Precisava voltar e verificar o terraço. O relatório da
polícia não dizia nada proveitoso, e duvidava que houvesse
alguém por aí que pudesse lhe dar uma informação útil.
— Quer me dizer no que você está envolvido? —
Perguntou Celt assinalando para a garçonete trazer uma nova
bebida.
— Um pouco de trabalho enquanto estou
desocupado. Pensei que você pegaria outro contrato depois
que terminasse o último — disse Klaus mudando de assunto.
Celt levou um momento paquerando a garçonete, que
chegou com uma nova xícara. Ela limitou-se a sorrir de seus
flertes antes de se voltar para Klaus e perguntar se queria
algo.
— Nada para mim, obrigado. — Ela começou a se
afastar quando Klaus a chamou. — Sabe se Reagan está
trabalhando hoje?
Olhou-o com curiosidade, de cima abaixo, antes de
negar com a cabeça. — Não, hoje não.
Não sabia se isso era verdade ou não, julgando pela
forma que ela o olhava, mas poderia comprovar depois. Assim
que ele assentiu, ela se foi.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Celt tirou o olhar da garçonete que estava saindo, e
começou a colocar açúcar outra vez. — Bem, então. Não
tenho ideia se isso tem algo a ver com o que você está
trabalhando aqui, mas Rayne está na cidade.
Klaus imediatamente começou a esfregar sua testa,
sinal de que uma enxaqueca começaria. Havia poucas
pessoas no mundo que Klaus fazia questão de evitar.
Rayne estava no topo da lista.
Era conhecida entre os mercenários como Rayne
Sangrenta, não só porque sua pela era pálida como a de um
vampiro com lábios cor de rubi, mas também por ter o hábito
de cortar as gargantas de suas vítimas com sua lâmina de
ouro especial em forma de “s”.
Não sabia se era boa com uma arma, todos tinham
uma especialidade, mas ainda assim duvidava que ela tivesse
algo a ver com o tiroteio, mas se estivesse envolvida, isso
tornaria seu trabalho um pouco mais difícil.
A última vez em que se encontraram, eles não
terminaram exatamente em bons termos.
— Creio que ela tentou cortar suas bolas — disse
Celt com um sorriso irônico, lembrando-se do dia.
Tudo porque Klaus não teve vontade de transar com
ela.
As mulheres eram malditamente estranhas.
— O que vai fazer? — Perguntou Celt.
— Evitar encontrá-la tanto quanto possível, ao menos
até que termine esse trabalho.
— Precisa de ajuda com isso?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Seus olhos percorreram a lanchonete, Klaus pensou
por um segundo antes de concordar. — Mantenha seu
telefone ligado. De fato, poderia precisar de você.
— Poderia? Não me lembro de você dizendo essa
merda em Budapeste.
Rindo, Klaus disse — Odiava Budapeste.
— Bom, então me chame quando souber de algo.
Batendo na mesa com o punho duas vezes — o
paranoico bastardo — Celt ficou em pé e saiu pela porta
principal.
Klaus ficou onde estava, repassando o pouco que
sabia sobre o tiroteio. Sem verificar o terraço — e só com o
que Lauren lhe disse — assumiu que Mishca era o alvo
principal, mas se ninguém reagiu à notícia de que ainda
estava respirando, isso deveria significar algo mais do que
parecia. Apesar de secretamente adorar quando os casos não
eram tão simples, este era um que queria superar o mais
rápido possível.
E ainda assim, não sabia por que aceitou esse
trabalho.
Ou pelo menos não quis admitir para si mesmo que,
vendo a mulher do russo revoltando-se quando se negou a
ajudá-la, lembrou-se de Sarah. Não que se parecessem, pois
Lauren e ela eram muito diferentes, mas Sarah sempre
esperava o melhor das pessoas, e se não conseguisse, podia
fazer que seus olhos se enchessem de lágrimas até que
convencesse a pessoa de que não havia opção senão ceder.
Foi por isso que se esforçou para fazê-la feliz.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Klaus esfregou seu peito, um costume que adquiriu
cada vez que pensava nela. Debaixo de sua palma e da
camisa de algodão que a cobria, havia uma cicatriz em forma
de meia lua que um dos homens de Jetmir fez, enquanto
outro ficou ocupado machucando Sarah em sua frente.
Clareando os pensamentos antes que fossem nessa
direção outra vez, Klaus esperou um pouco mais, com
esperança de que pudesse ver se Reagan chegava para
trabalhar no turno da noite, mas quando não chegou depois
de algumas horas, deixou cair uma nota de vinte sobre a
mesa e saiu.
— Merda.
Mishca não estava levando muito bem o que Klaus
lhe disse. Desde sua volta, Lauren tentou manter as
discussões mínimas, mas eram como fogo e gelo, e não havia
nada que pudesse fazer para separá-los.
— Oh, claro — replicou Klaus, olhando para Mishca
como se ele fosse a desgraça da sua existência. — Porque
você é perito na porra de rifles. Diga-me que outras
habilidades você tem?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não importa. Você não pode ter certeza.
— Mais uma vez. Como você poderia entender? Você
não sabe de merda nenhuma.
— Muito bem — Mishca ladrou, tomando um assento
de frente para ele. — Explique-me.
— Eles só falharam de te dar um tiro no coração por
muito pouco. O tiro foi limpo, mal havia vento nesse dia, e
nenhum obstáculo do outro terraço. Portanto, você só está
vivo porque você não era o alvo.
— Mas isso não significa que Lauren fosse.
— De acordo com o meu contato, ela é.
Lauren e Mishca olharam para Klaus esperando que
ele continuasse. Lembrou-se dele ao telefone fazendo uma
chamada quando eles voltaram, mas não tinha ideia de com
quem falava. Assim começaram a discussão. Uma vez que
Klaus sugeriu que atingir Mishca foi apenas para feri-lo, que
eles provavelmente estavam atrás de Lauren, e tirar Mishca
do caminho deixaria isso mais fácil, Mishca não gostou de
como isso soou.
— Mas se isso estiver certo — disse Lauren — por
que dispararam em Mishca? Não era como se eu fosse deixá-
lo sozinho no hospital.
— Assumiram que Mishca teria te enviado para
longe, você estaria mais segura longe dele. Provavelmente não
acreditavam que ficaria cuidando dele cada segundo do dia.
Com ele fora de circulação, seria bastante fácil lidar com
você, mesmo com o pessoal medíocre do russo te vigiando.
Quer dizer, isso é o que eu faria.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Isso não importa — interveio Mishca — o que você
fará a respeito?
— Nós a utilizaremos como isca — disse Klaus.
— Você está tentando ferrar comigo de propósito? —
Perguntou Mishca com uma advertência nos olhos.
Lauren preparava-se para se envolver, pensando em
dar sua opinião sobre o que eles deveriam fazer, mas não via
sentido em se intrometer na discussão de dois irmãos, não
quando havia questões para resolver entre eles.
— De verdade, quer que eu responda essa pergunta?
Mishca entrecerrou os olhos nele, um olhar que
prometia dor. — Nyet. Ela não irá sozinha.
— Oh, absolutamente não. Estou morrendo de medo
de sua ameaça. Fique calmo, seu merda, estarei ali com ela.
Isso não fez com que Mishca se sentisse melhor.
Revirando seus olhos, Klaus caiu sobre o sofá,
colocando seus pés sobre a mesa. Mishca só os chutou pra
baixo, mas ele os pôs para cima novamente.
— Ela é minha empregadora, o que isso te diz? Não
vou deixar que a machuquem.
— Você não pode garantir isso.
— Então que porra você sugere? — Perguntou Klaus
secamente. — Esperar que o mercenário bata na porta da
frente? Por certo, fiz isso uma ou duas vezes, mas por mais
que eu goste de pôr a prova minhas habilidades, não é tão
fácil como parece. De qualquer forma, se quer que isso acabe,
terá de fazê-lo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Ainda não gosto dessa ideia. — Mishca soava
menos seguro agora.
— Não tem que gostar, mas sabe que tenho razão.
In the beginning
Volkov Bratva 3
casa.
18
Jägermeister é uma bebida alcoólica produzida na Alemanha desde 1935. É o nono destilado
mais consumido no mundo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Tem certeza de que não te conheço de algum
lugar?
— Tenho um rosto muito familiar.
Era hora de sair dali. Não queria ser pego em
território inimigo se Bastian se lembrasse de como se
conheciam, e definitivamente não queria que gritasse.
Luka olhou para o seu relógio, fingindo ver a hora.
— Merda, eu tenho que ir me encontrar com Naz.
— Espera. — Bastian o chamou quando se levantou,
indo em direção à saída dos fundos, sem olhar para trás.
Conseguiu o que veio buscar, agora só precisava apresentar
um relatório para que pudessem elaborar estratégias.
No beco, Luka ouviu Bastian tentando se manter em
silêncio enquanto se esgueirava atrás dele, mas ele foi
treinado para escutar inclusive o mais suave dos passos —
odiando a qualquer um às suas costas — Luka era capaz de
ouvir o que parecia como um caminhão de lixo atrás dele. A
ansiedade disparou por seu sistema, o velho terror tentava
pegá-lo, mas não podia ferrar isso, não com o que estava em
jogo.
Continuou caminhando.
Bastian o atacou, usando seu peso para empurrar
Luka contra a parede de tijolo, com uma mão segurava seu
cabelo enquanto mantinha sua bochecha pressionada contra
ela. Luka respirou profundamente pelo nariz, tentando
manter a calma. Jurou a si mesmo que não ia matá-lo,
apesar de tudo o que lhe fez no passado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Pensou que não me lembraria? — Bastian
grunhiu, seu hálito azedo abanando o rosto de Luka.
Com suas palavras, a tensão no corpo de Luka
disparou enquanto lutava na defensiva.
— Eu me lembraria de você em qualquer lugar.
Não importava mais. Luka não era o mesmo menino
pequeno indefeso que foi naqueles tempos, mas Bastian
continuava sendo a mesma merda doente.
Tinha a informação que precisava dele, e Luka sabia
que na manhã seguinte, quando encontrassem o corpo de
Bastian, não seria reportado.
Naquele momento, ele limpou a mente, bloqueando
tudo para fora enquanto mudou sua postura ligeiramente,
lançando seu cotovelo para trás no intestino do homem,
acertando-o com uma ridícula facilidade. Bastian o olhou
com surpresa por todo um segundo antes que tentasse se
lançar sobre ele, fazendo-o rir enquanto se esquivava de seus
inúteis golpes. Estava surpreso com o quão diferente Bastian
parecia, agora que Luka tinha força.
Derrubando-o, Luka bateu na traqueia — como
Klaus fez com ele — cortando seu grito de alerta. Com um
chute só, Luka quebrou sua perna. Bastian caiu no chão,
com um estrondo, enquanto tentava em vão gritar por
socorro, mas ninguém poderia ajudá-lo agora.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Está com medo? — Luka perguntou enquanto se
agachava junto a ele, seus lábios subindo nos cantos
enquanto pegava a faca borboleta 19 de seu bolso. — Shh, não
vai doer por muito tempo.
As palavras eram como uma segunda natureza para
ele quando via o familiar medo finalmente entrar nos olhos.
Falaram com ele tantas vezes, que podia combinar
perfeitamente ao tom e o timbre da voz de Bastian. Era uma
sensação inebriante ter este tipo de controle sobre a vida de
outro. Não era algo que Luka dava como certo.
— Se isso faz com que seja mais fácil, eu vou
devagar.
E isso foi o que fez. Em primeiro lugar, pegou a
língua do homem, então cortou cada um de seus dedos até
que as mãos eram simplesmente pedaços sangrentos. Por
último, cortou a garganta de orelha a orelha.
O ato não necessariamente fez com que Luka se
sentisse melhor, apesar do que acreditou no princípio, mas
havia uma bendita dormência que deslizava através dele,
pondo seus pensamentos em repouso. Não duraria muito
tempo, provavelmente até que terminasse o corte através do
corpo do homem, mas desfrutaria a paz de espírito o tempo
que durasse.
19
In the beginning
Volkov Bratva 3
-
Luka ficou feliz que Mishca mudou-se para um lugar
mais seguro, que era dirigido pelos homens em sua folha de
pagamento. Não que ele não gostasse do último apartamento,
mas não podia ficar lá fora fumando, coberto do sangue de
alguém.
A nicotina esquentava seus pulmões quando a
aspirava, exalando lentamente enquanto perseguia a calma
que sentiu antes. Assim era como sempre foi.
Toda vez que tirava uma vida, ficava de braços
cruzados escutando suas súplicas gritando em sua cabeça, e
fumava até que já não pudesse ouvi-las. Perguntavam-se por
que falava bobagens, mas encontrava a paz na constante
conversa, nas risadas... Tudo menos no silêncio.
Odiava o silêncio.
— Merda, o que aconteceu com você?
Luka se virou, observando Alex se aproximando,
passando seus olhos lentamente sobre ele. Eles nunca
estiveram muito um ao redor do outro, em parte porque ela
esteve na França durante anos, mas também porque Mishca
preferia que nenhum deles chegasse perto dela.
Não que Luka nunca tivesse feito isso, apesar do
prazer de encher o saco de Mishca. Era sabido que algumas
coisas estavam fora dos limites.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas ele amava testar esses limites... E os próprios.
— Pombos — respondeu, dando outra tragada em
seu cigarro. — Eles são pequenos animais sanguinários.
Esperava que ela revirasse os olhos, chamasse-o de
louco e saísse, mas não fez nada disso. Pelo contrário, apoiou
seu quadril contra a parede de tijolo ao seu lado. Não era que
Luka estivesse tentando notá-la — na verdade fazia um
esforço consciente para não fazer isso — mas ela tornava
difícil para ele... desde que a levou para a casa segura há
alguns meses.
Nunca contou a Mishca como a encontrou,
valorizando muito seu rosto para ter essa conversa, mas a
imagem ficou gravada em seu cérebro, e duvidava que fosse
capaz de esquecê-la tão cedo.
— Certo. Há algo que possa fazer? Uma toalha,
talvez?
Sorriu, divertindo-se por sua pergunta, entretanto
por dentro estava um pouco surpreso por sua oferta. A sua
família na Bratva não se importava com o que acontecia a ele
depois que o trabalho era feito, não que realmente pudesse
culpar a qualquer um por isso, já que tornou um hábito
ferrar com eles quando não era necessário.
— Nyet. — Não.
O que realmente queria era ficar sozinho, acalmar
seus pensamentos caóticos por conta própria, mas uma
pequena parte dele ficou feliz que ela estivesse ali. Não...
tinha que estar contente por alguém estar ali, não só porque
era Alex.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— O que está fazendo aqui?
Usava um daqueles seus vestidos, embora nos
últimos tempos, todos se tornaram mais curtos. Ele teria
gostado de pensar que não percebeu, mas o fez, e não se
envergonhava disto.
— Esperando por você.
Ela lhe deu um pequeno sorriso, arqueando sua
sobrancelha enquanto dava uma longa tragada no seu
cigarro. — Sim?
Com um puxão de seu ombro, ela caminhou para
frente, tão perto que podia cheirar o aroma quente de qual
fosse o perfume que usava, mas não o suficiente para que ela
realmente o tocasse. Tirando-lhe o cigarro da boca, colocou-o
entre seus lábios, não afastando o olhar enquanto dava uma
tragada, sem importar o sangue manchando o filtro.
Sim, todos estavam completamente loucos.
— Desde que não está com cara de “cometi-um-
assassinato”, eu acho que você ouviu o que eu disse.
Ele assentiu. — Ouvi.
— Então, vou sair de cena por um tempo. Tenho
certeza de que você tem que planejar a queda da minha mãe.
Agitou a mão como se isso significasse pouco para
ela, mas Luka sabia a verdade. Ela baixou o olhar do seu,
olhando um pouco além dele para a rua quase vazia, salvo
uns poucos pedestres que caminhavam por lá.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Ela vai morrer de qualquer maneira. — Luka disse
honestamente, mesmo que ela tenha estremecido por ouvir
suas palavras frias. — Anya não sabe, mas Jetmir pensa só
em si mesmo e quando suas costas estiverem contra a
parede, vai sacrificar qualquer pessoa para se manter vivo.
Alex deixou cair o cigarro, apertando com a ponta de
seu salto. — Parece contraditório, não acha? Quero dizer,
Mish pensa que está preparado para ir à guerra por seu
irmão.
— Porque ele não é o único que vai fazer, é óbvia esta
coisa de gêmeos.
— Então, acha que os albaneses estão planejando
algo?
— Tenho certeza.
— Magnifico.
Luka tentou não ser divertido enquanto Alex
murmurava a respeito de "precisar de uma bebida". — Você
deve ir.
— Ah, é? — inclinou a cabeça para um lado, um
brilho perigoso apareceu em seus olhos. — Não vai me levar
de volta para dentro? Desde que, você sabe, é bom nisso.
Foi uma tentação. — Não esta noite.
— Tem certeza? — Ela correu os dedos delicados por
ele, por cima de seus bíceps, até o antebraço, onde seguiu as
veias que se destacavam em sua pele. — Não foi isso o que
disse da última vez.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele sorriu para ela, tentando se lembrar de por que
isto era uma má ideia, que a promessa que fez, mas quando
se preparava para responder, Luka ouviu um pequeno
movimento no beco que o fez ficar em estado de alerta.
Sabia quem era, estava esperando que se
aproximasse desde que Lauren lhe pediu ajuda.
— Deve ir. — Luka disse.
Quer tenha escutado a advertência em sua voz ou só
terminou de jogar com ele, Alex o deixou ali, mas não antes
de se esticar para beijar sua bochecha.
Em outro momento, poderia tê-la impedido de sair,
mas sua atenção estava voltada para o mercenário que
espreitava na escuridão. Luka já sabia quem era.
Além dos outros, ele foi o único que não ficou
surpreso que Mishca tivesse um irmão. Eles já se
encontraram.
— Imagina minha surpresa ao te encontrar aqui. —
Klaus disse caminhando para frente, com os braços cruzados
sobre o peito enquanto olhava para Luka.
Não houve um comentário engraçadinho com o qual
Luka pudesse atingi-lo, não quando se confrontava com
Klaus. Ele tinha toda a razão para odiar os albaneses, ainda
mais do que Mishca, mas o que este não sabia era que Luka
esteve envolvido diretamente com o que fizeram a Klaus.
— Ouvi que foi levado como prisioneiro pelos sírios
no leste do Egito. — Luka disse.
— Só um rumor.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Luka tentou fazer um inventário da quantidade de
armas que Klaus levava. Havia a nove milímetros na parte
baixa das costas, facas atadas aos seus braços, mas eram as
armas que Luka não podia ver que o preocupavam.
— Realmente, por que está aqui? — Perguntou a
Klaus.
— É um rastreador de merda. A notícia que os russos
novamente estavam me procurando se espalhou, então... —
ele deu de ombros. — Eu te segui. Será que ele sabe sobre
você?
Antes que Luka pudesse pronunciar uma palavra,
Klaus tinha sua mão ao redor de sua garganta, empurrando-
o para trás até que estava pressionado contra a parede de
tijolos. — Ele sabe que você me torturou?
— Vse my raby nashikh masterov, net? — Todos
somos escravos dos nossos mestres, não?
— Passei anos colocando todos e cada um de vocês
no chão.
E agora seria o momento perfeito, pensou Luka. Não
era como se Alex tivesse realmente visto Klaus, Mishca
assumiria que foram os albaneses.
— Uma coisa antes de me matar. — Luka disse,
levantando um dedo.
Forçado, Klaus realmente retrocedeu uns
centímetros, dando espaço para Luka fazer o que pretendia. A
contragosto, Luka teve que admirar a confiança com que
Klaus se moveu ao redor, como se não tivesse nenhuma razão
para temer o que ele pudesse fazer.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas ele viu a contração do dedo de Klaus quando
subia a bainha da sua camisa, continuando puxando na
beirada de sua calça jeans, certificando-se de que Klaus
pudesse ver a extensão completa da tatuagem em seu
quadril.
Depois de olhar fixamente para Luka desconcertado
por vários momentos, o olhar de Klaus baixou lentamente,
tendo em vista a tatuagem bastante feminina que tinha ali...
não precisava explicar, Klaus passou tempo suficiente o
estudando para saber o que representava.
— Quem? — Klaus disse.
— Bastian.
Luka meio que esperava exigir que virasse para ver
se as cicatrizes estavam ali, a evidência de suas afirmações,
mas pela forma como os olhos de Klaus escureceram com
fúria, Luka soube que estava se lembrando do padrão exato
em suas próprias costas.
A única coisa é que Luka tinha colocado lá.
— E o russo não sabe disso?
Não, não sabia e Luka queria manter isso dessa
maneira.
Ficou mudo, mas ambos sabiam que Mishca gostaria
de ver Luka morto do que ficar ao seu lado.
— Você é suicida? — Klaus fez a pergunta mais
óbvia. A maioria estaria a ponto de chegar a essa conclusão
se soubessem que Luka queria andar nesta cova de lobos,
sabendo o que fez.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Eu gosto de pensar que sou um masoquista. —
Luka disse encolhendo os ombros.
— Isto não terminou entre nós, mas não vou contar
seu segredo ao seu Capitão — Klaus disse. — Mas está em
dívida comigo.
— E quando a conta chega?
— Toda vez que te chame.
Luka aceitou, não tendo outra opção. Já considerou
matá-lo, mas duvidava de que seria fácil e, merda, seria
sangrento.
— É possível que deseje seguir adiante e me dar seu
número uma vez que, já sabe... — Luka tirou seu telefone,
olhando para Klaus "esperando" — você vai me ligar.
A boca de Klaus tremeu, mas se negou a sorrir. —
Está realmente tão louco como dizem?
Luka olhou ao seu redor, um sorriso em seu rosto
enquanto fazia um gesto ao seu entorno com seus braços. —
Todos aqui estamos loucos.
Sacudindo a cabeça, Klaus virou-se de costas —
bastardo arrogante. — apontando com o polegar para trás em
Luka. — É possível que queira chegar logo até lá, disse ao
russo que retornou.
Então, ele não planejou matar Luka.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Observou atrás dele, vendo a familiaridade entre
Mishca e Klaus. Ambos eram arrogantes, e acreditavam estar
no topo da cadeia alimentar, mas nunca poderiam governar
juntos. Especialmente, quando não podiam ficar juntos em
um lugar por mais de alguns minutos sem apertar a garganta
um do outro.
Luka respirou fundo, enfiando as mãos nos bolsos
enquanto entrava no elevador, ignorando a maneira como
Turner olhou o sangue em sua roupa.
Não havia muito que pudesse ter feito realmente para
ajudar nisso.
E enquanto se preparava para entrar no
apartamento, Luka deixou sua mente à deriva de volta ao
passado, onde foi vítima, implorando por uma vida que não
tinha muita certeza se queria.
Lá, o ritmo caótico de imagens desordenadas brilhava
em sua cabeça, a tortura, o treinamento, o medo. Então sua
mente finalmente parou de pensar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
20
Joseph John Campbell, (1904 - 1987) foi um estudioso norte-americano de mitologia e
religião comparada.
In the beginning
Volkov Bratva 3
21
In the beginning
Volkov Bratva 3
Os pisos foram feitos de um caro mosaico de arenito,
a casa em si decorada com tons quentes de vermelho,
castanho e laranja. A sala onde entraram, estava quase sem
móveis, e os convidados já se misturavam.
Uma garçonete, carregando uma bandeja de prata
com taças de champanhe e copos de uma bebida com aroma
frutado, parou na frente deles.
— Querem uma bebida?
Mishca declinou, mas pegou uma para Lauren.
Diante de seu olhar interrogativo, ele disse — Sangria,
ninguém faz melhor que Lucia.
Nunca tomou uma, mas sabia mais ou menos o que
pensar delas. Tomou seu primeiro gole, engoliu e tossiu,
surpresa por quão forte era, mas gostou.
Existia muita diferença entre os russos com os quais
se reuniu na mansão e os "empresários" que estavam aqui
hoje. Eles não eram tão duros e formais, vestidos
casualmente ao contrário dos ternos nos quais costumava vê-
los. Luka se encaixaria mais neste grupo do que com a
Bratva.
Eles estavam à vontade como todos conversando
casualmente, Mishca a apresentou a alguns deles, mas a
mulher que roubou a cena era a que realizava o leilão.
Lâmpadas alógenas têm o mesmo princípio das lâmpadas incandescentes; porém, são mais
elaboradas, tem uma luz mais brilhante.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lucia Cortez, não era a típica beleza, mas tinha um
sorriso largo que tanto significava felicidade ou desgraça
iminente, e, enquanto ela parecia extremamente agradável
quando Lauren a viu pela primeira vez, seu humor mudou
em um segundo, principalmente quando viu gente que não
queria ali.
Quando ela e Mishca saíam, escutaram-na gritar em
um rápido português com um dos garçons, mas ao ver
Mishca pôs fim a discussão sorrindo calorosamente a ele.
Logo veio para eles, com seu vestido de renda
ondulando atrás dela, então agarrou Mishca pelos ombros e o
beijou em ambas as bochechas. Mesmo Lauren teve o mesmo
tratamento, como se tivessem sido amigas por anos em vez de
praticamente estranhas.
— Estou tão feliz que veio — disse Lucia em um
inglês com um forte sotaque, e um agradável sorriso em seus
lábios pintados de ameixa — e você deve ser Lauren, tão linda
como Mishca descreveu.
Corando, Lauren agradeceu, olhando para Mishca
que deu de ombros.
— Mishca Volkov. — Um homem corpulento chamou-
o alto, abrindo seus braços enquanto cruzava a sala em
direção a eles.
Aceitando seu abraço com um forte tapa nas costas,
Mishca afastou-se dele com um sorriso, apontando para
Lauren vir a seu lado.
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Volkov Bratva 3
Ao contrário de Lucia, a mulher que estava ao lado
dele não sorriu para ela, estreitando os olhos, como se
achasse que Lauren era uma ameaça. Mal evitando revirar os
olhos, Lauren aceitou a mão estendida do homem.
— Marco, esta é minha esposa, Lauren.
— Ah, ela é um tesouro.
Lauren sorriu amavelmente, e quando ia lhe
agradecer, a condescendente voz de Lucia interrompeu antes
que pudesse fazê-lo.
— Oh, pare com isso, Marco. Ela não é uma de suas
putas. Não vai se apaixonar por seu charme.
Ele não parecia zangado com o comentário, só
divertido. Isso foi algo que Lauren notou em relação aos
velhos sócios de Mishca. Ou eles não ficavam com raiva, ou
aqueles sorrisos que eles deram foram aviso suficiente.
— Minha esposa, tão graciosa como sempre.
Um garçom soou um sino chamando a atenção de
todos. — Se quiserem passem à sala, o leilão está a ponto de
começar.
Ao invés de vitrines, as joias eram apresentadas em
mulheres jovens, havia de tudo: desde broches de diamantes,
brincos de esmeraldas, colares de rubis, algumas pedras
próximas ao tamanho do punho de um bebê.
Os convidados andavam ao redor, observando,
comentando, e já selecionando suas favoritas, antes do leilão
começar.
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Volkov Bratva 3
— A metade das joias ela nem sequer usou, eram só
presentes de quando Marco tinha um caso — explicou-lhe
Mishca quando foram a seus assentos.
Lauren tossiu, dando um gole em sua bebida. Havia
pelo menos umas trinta modelos na sala. — Se me passar a
perna, o que me dará?
— O mundo, e se não for isso, deixaria me bater.
Essa parece ser a sua resposta favorita
Ela revirou os olhos, mas finalmente sorriu. — Foi só
uma vez.
Lucia caminhou pela entrada lateral, e todas as
conversas morreram quando subiu ao pódio. Quanto ela
começou o leilão, não demorou muito tempo até que vendesse
as primeiras peças. Tinha uma interessante maneira de levar
o evento, quer dizer, não importava quantas vezes a nova
namorada de Marco levantasse a mão para fazer alguma
oferta, sempre a ignorava, e da mesma forma, cada vez que
Mishca levantava a mão por Lauren, não importava que outra
pessoa oferecesse mais, sempre a vendia a ele.
Ao final, Lauren saiu com um colar trabalhado em
forma de flores, e grandes brincos compridos como lágrima
feitos de diamantes negros. Uma vez que o leilão terminou,
Lauren falou com Lucia, e Mishca se desculpou para sair a
uma reunião privada com Marco.
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Volkov Bratva 3
22
O cartão SIM é um circuito impresso do tipo smart card utilizado para identificar, controlar e
armazenar dados de telefones celulares de tecnologia GSM (Global System for Mobile Communications),
como informações do assinante, agenda, configurações, serviços contratados, SMS e entre outras.
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Volkov Bratva 3
Lauren não percebeu que tremia até que ele foi até
ela, passando as mãos de seus ombros até suas mãos,
segurando-as. — Não se preocupe.
A campainha do elevador soou, fazendo com que
Lauren olhasse para a porta fechada do quarto, e para
Mishca com os olhos arregalados. Ainda tinham um pouco de
tempo antes que os oficiais estivessem ali, mas não era
suficiente, não para Lauren.
— Não tenha medo — sussurrou enquanto a beijava
rapidamente, dando uns passos para trás.
Ele deixou o paletó na cama. Os agentes de equipe
tática entraram correndo, com rifles apontados para ambos,
ele levantou as mãos sem dizer uma palavra, não caindo de
joelhos — suas estrelas não o permitiriam. Enquanto alguns
agentes observavam-na constantemente, sabia que não
estavam ali por ela.
Só uma das agentes que caminhava ao final, com um
colete a prova de balas, sua placa pendurando de uma
corrente de prata ao redor de seu pescoço, era familiar para
Lauren. Seu nome era Tabitha Green se não se equivocava,
do tiroteio no clube há quase um ano.
Ela sorriu enquanto entrava, segurando um maço de
páginas dobradas, sem dúvida, a ordem que tinha para deter
Mishca.
— Ele não está resistindo! — Gritou Lauren enquanto
dois dos agentes empurravam Mishca ao chão, puxando
bruscamente seus braços para trás de suas costas, para
colocar as algemas.
In the beginning
Volkov Bratva 3
A agente Green bateu a ordem de prisão nas mãos de
Lauren enquanto Mishca era forçado fora de seu
apartamento, liderado por vários dos homens da equipe
tática. Lauren quis ir atrás deles, só para manter Mishca em
sua mira, mas a agente Green estendeu uma mão, obrigando-
a a parar.
— Ele é a menor de suas preocupações neste
momento.
23
RICO: Lei contra extorsão criminal e as organizações corruptas (por suas siglas em inglês:
Racketeer Influenced and Corrupt Organizations Act), é uma lei federal que sanciona prisão contra toda
atividade criminal realizada como parte de uma organização criminal contínua.
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Volkov Bratva 3
ela estava mais que contente com sua decisão de não dizer a
eles sobre Jetmir e os albaneses.
Aparentemente, a Bratva não só estava na imprensa
de Nova York, também em todo o país. Susan estava em
pânico, pensando que Lauren estava em problemas, e apesar
de Ross estar irritado, também estava mais preocupado com
a forma como o caso de Mishca parecia. Podia ser que não
gostasse de Mishca pelo que era, mas o respeitava o
suficiente.
A detenção de Mishca, além da metade da Volkov
Bratva, foi a notícia mais importante na televisão.
Aparecendo durante a maior parte do dia, transmitindo em
cada meio de comunicação que havia. Agora, Lauren não
suportava escutar o que cada repórter na cidade dizia sobre
Mishca e a "vida secreta que levava".
Ela sabia que havia algumas coisas que ignorava da
vida da Bratva, e sabia das atividades ilegais, mas a forma
como a mídia retratava o assunto a fez estremecer.
Lauren não entendeu por que Alex exigiu que usasse
óculos escuros e um chapéu de aba larga, ao menos não até
que estavam fora do tribunal. A imprensa estava em toda
parte. Alex tentou explicar em seu caminho até lá, falando
que esta foi uma das maiores apreensões da Bratva na última
década.
Segundo ela, o FBI nunca tentou tocar nos Volkovs
porque tal como a maioria dos problemas que enfrentavam,
seus obstáculos simplesmente desapareciam. Ela não prestou
muita atenção, mas quando ouviu isso, imediatamente
In the beginning
Volkov Bratva 3
pensou em Ivan, no modo como foi morto na prisão, e como
perderam sua declaração.
Não, não duvidava de que eles resolvessem seus
problemas.
Logo que saíram do carro, os repórteres estavam
sobre elas, tirando fotos, disparando perguntas rápidas como
se pudessem fornecer alguma resposta. Seguindo o exemplo
de Alex, Lauren manteve a cabeça baixa e a boca fechada
enquanto se apressava a subir os degraus, ignorando tudo.
Entrar em um tribunal de justiça por uma licença de
casamento era muito diferente de assistir a isso, por uma
leitura de acusações. Então, ela mal percebeu seu entorno.
Agora se sentia vazia. Uma vez que as portas se fecharam
bloqueando os gritos dos repórteres, Lauren respirou
profundamente, fechando suas mãos para evitar que
tremessem. Agora mais que nunca, sentia o peso de seu anel
de casamento.
O verdadeiro local no qual a leitura das acusações
seria feita estava cheia de gente, um punhado a cada lado.
Lauren e Alex se sentaram atrás da mesa da defesa,
saudando Jessica, que preparava os documentos em sua
mesa. Quando estava pronta, cumprimentou Lauren,
dizendo-lhe o que esperar da audiência.
Uma porta do lado se abriu, e um guarda entrou
escoltando Mishca, com as mãos algemadas na frente dele.
Para alguém que enfrentava acusações RICO, parecia
estranhamente tranquilo, e Lauren não podia evitar se
perguntar se ele sabia algo sobre o que acontecia que ela não.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Seus olhos percorreram a multidão, parando nela enquanto
franzia sua boca.
Mas para sua surpresa, Mishca não foi o único
escoltado. Luka foi o seguinte, sempre alegre, falando
abertamente com o guarda que o trazia. Ele parecia mais que
feliz de abandonar a Luka na mesa.
— Suponho que estão sendo julgados juntos —
sussurrou Alex, parecendo tão confusa quanto Lauren
estava.
Mikhail estava ao lado com seu próprio advogado,
sentado no outro extremo da mesa. Se ele estava preocupado
pelo iminente julgamento, não se notava em seu rosto.
Alguns mais chegaram, a maioria Lauren nunca viu,
embora houvesse alguns que Lauren pensou ter visto
anteriormente.
Uma vez que todos estavam acomodados, embora
não houvesse muito que fazer sobre o nível de ruído já que
todos falavam ao mesmo tempo, tentando ter a opinião dos
numerosos advogados na sala.
— Todos de pé! — O oficial de justiça anunciou em
uma voz potente. — O honorável Juiz Larry Dobson preside.
Outra porta se abriu e um homem vestido de preto
entrou. Não era muito alto, com o cabelo branco como a neve
e um bigode espesso. Sua boca parecia que estava
permanentemente franzida e quando sentou — todos outros
fizeram o mesmo quando acenou com a mão — ele falou com
a autoridade de um homem com anos de experiência.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Senhoras e senhores, não vamos perder o meu
tempo. Como se declaram os acusados?
Coros de respostas soaram quando os homens se
apressaram a responder, sem esperar que seus advogados
falassem por eles. Mishca tamborilava seus dedos sobre a
mesa, parecendo irritado quando ele se inclinou para
sussurrar ao ouvido de Jessica.
Golpeando seu martelo algumas vezes, o juiz Dobson
chamou por ordem, silenciando a manifestação.
Jessica limpou a garganta. — Acredito que é um
coletivo "não culpado", vossa excelência.
— Considerado. — Voltou para o procurador do
Estado. — E o estado assim tem a liberdade sob fiança?
— Protesto, vossa excelência — disse o homem em
um terno listrado — Os acusados foram acusados sob a lei
RICO, e dois deles são membros do alto escalão da
organização criminal russa: Vory v Zakone. Eles têm recursos
ilimitados, e deveriam ser considerados um risco de fuga.
— Meritíssimo, meus clientes nunca foram
condenados por nenhum delito. Mishca Volkov possui vários
clubes na área de Manhattan, doou dinheiro a dezenas de
instituições de caridade locais, e se casou recentemente.
Luka Sergeyev trabalha como segurança pessoal da esposa
do senhor Volkov. A menos que o procurador geral gostaria
de acusar a senhora Volkov, duvido muito que ele pudesse
cometer qualquer crime enquanto a segue.
— Vossa Excelência! — Não tinha que gritar "objeção"
era evidente em sua voz.
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Volkov Bratva 3
— Guarde suas palhaçadas para o julgamento,
senhorita Turney. A fiança está fixada em quinhentos mil
dólares cada um, em efetivo ou bônus. Algo mais?
Jessica procurou em sua maleta e tirou outro
conjunto de documentos. — Neste momento, eu gostaria de
apresentar uma moção para anulação.
Passou as páginas ao oficial de justiça, que
rapidamente as entregou ao juiz, que assentindo, disse —
darei minha decisão na próxima audiência. — Ele bateu o
martelo. — Próximo.
Isto demorou uma eternidade para chegar através de
todos os outros, alguns sairiam em liberdade sob fiança,
outros detidos por causa de seus antecedentes penais.
Quando terminou, Jessica se aproximou de Lauren.
— Por que sua fiança é tão alta? — Perguntou
Lauren.
— É comum em casos como este, mas não há razão
para se preocupar Lauren. Temos sorte de que uma quantia
foi fixada.
Aceitando isso, Lauren assentiu, olhando para Alex.
— O que faremos agora? Como posso pagar a fiança?
— Não se preocupe, encarrego-me disso. E seu
apartamento deve ser limpo agora. Mishca deve estar lá em
algumas horas.
Jessica estava pronta para se afastar, mas Lauren
não a deixou ir. — E o que acontecerá com Luka?
— Quer pagar a fiança dele também? — Perguntou
quase como se estivesse surpresa pelo pedido.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— É óbvio. Sei que eles têm as contas congeladas,
alguém tem que fazer.
Inclinando a cabeça, Jessica disse. — Vou ver por
ele.
Era a hora.
Mishca entrou na casa de sua infância, para o que
seria a última reunião realizada em seu porão. Agora que
Mikhail se foi, e considerando que Alex se sentia da mesma
maneira sobre isso, Mishca colocou o lugar à venda.
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Volkov Bratva 3
Não havia nenhuma garantia de que se venderia pelo
preço que Mikhail pagou por ela, mas Mishca não se
importava com isso. Ele só queria se desfazer dela. Lá dentro,
os móveis estavam cobertos por lençóis brancos, a preciosa
arte antes pendurada nas paredes, já foi enviada à nova casa
de Mikhail na Rússia, exceto um quadro.
O retrato da Catja seguia pendurado na parede fora
do escritório dele, Mishca o deixou lá ao menos até que a
reunião acabasse. Não lhe importava que Mikhail o pediu,
estaria indo com ele para sua casa, onde lhe pertencia por
direito.
Luka foi atrás de Mishca, suas mãos enfiadas em
seus bolsos. Mishca sabia que era estranho para o executor
subir de posto tão rápido, especialmente quando era algo que
não queria, mas não cometeria os mesmos erros que Mikhail.
Somente aqueles em quem confiava implicitamente estariam
ao seu lado.
Mas, também pensava se o ex-assassino sentiria
saudades de seu curto tempo no The Golden Room.
— Preparado, Chefe? — Perguntou Luka enquanto
abria a porta do porão.
Mishca bateu-lhe no ombro, mas não respondeu,
andando na frente dele. Perdido em seus pensamentos,
enquanto descia as escadas, ouvindo o sussurro baixo de
vozes.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando Mishca apareceu no topo, representantes
das outras três famílias se levantaram em sinal de respeito.
Mishca olhou a sua antiga cadeira, um lugar onde se sentou
por oito anos. Já não era um deles.
Ele era seu chefe.
Ele era seu Pakhan.
Indicando-lhes que se sentassem, Mishca tomou seu
próprio assento encabeçando a mesa, certificando-se de
encarar individualmente a cada um deles.
— Nossa organização sofreu no último ano e meio
devido às decisões que alguns de nós tomaram. Temos que
viver com isso. A única coisa que podemos fazer agora é
seguir em frente, fazer novos investimentos para voltarmos a
estar seguros sobre nossos pés, e nos fortalecer.
Bateu com seu polegar contra a mesa, querendo ter
certeza que tinha a atenção de todos antes de continuar.
— Mikhail voltou para seu país natal e não pode
atuar como Pakhan de lá. Portanto, está de acordo com que
eu tome seu lugar no conselho.
Não havia nenhuma razão para se discutir, desde
que era um ponto irrelevante, pois a decisão já foi tomada,
por isso, poucos franziram a testa. Mishca já esperava. Não
esperava que todos estivessem de acordo com alguém tão
jovem como ele liderando uma organização que era mais
velha que ele, mas o aceitariam.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Se for um problema para vocês, ou se pensam em
desafiar minhas regras, a porta está ali — indicou sobre seu
ombro — mas saibam que não viverão outro dia se o fizerem.
Atuem contra mim, e morrerão. É simples.
Inclinou-se para frente, cruzando as mãos sobre a
mesa. — E se qualquer um de vocês pensar em ir atrás de
minha mulher, não há lugar no mundo onde não possa
encontrá-los. Morrerão, dolorosamente. Considerem isto uma
advertência.
Mishca saiu de casa pouco tempo depois, dirigindo
de volta à cidade. Só em seu carro, começou a pensar em seu
tempo com Vlad, mesmo se esse tempo foi uma mentira.
Sentia falta dele, tanto quanto sentiu saudades de Lauren
nos meses em que ficou longe dele. O único problema era que
Lauren voltou para ele. Vlad nunca voltaria.
As coisas seriam muito diferentes neste ponto, agora
que tinha que refazer a estrutura da Bratva totalmente. As
novas posições precisariam ser distribuídas, e teria que
decidir quem queria ao seu lado... além de Luka. Não falou
com ele desde o motel, mas isso não significava que ele
planejava rebaixá-lo.
Ele era o melhor em seu trabalho, e Mishca não
podia culpá-lo por fazê-lo. Uma coisa que teria que aprender
como fazer era manter seus sentimentos pessoais fora disso.
Saindo de seu carro, Mishca jogou suas chaves a um
de seus associados — que atualmente trabalhava como
manobrista em seu edifício — acenando para as mulheres na
recepção, que sorriam em sua direção.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Tomou o elevador ao apartamento de cobertura,
desabotoando seu paletó enquanto entrava, pendurando-o no
suporte em seu caminho.
Lauren estava na cozinha, sua cabeça enfiada na
geladeira enquanto procurava algo em uma das gavetas.
Sorriu ao vê-la, cantarolando baixinho. Ele limpou a
garganta, fazendo-a virar surpresa.
Do primeiro dia que a viu, soube que seria dele. Não
sabia por que, não sabia como, mas não podia negar o que
sentia.
Seu rosto se abriu em um grande sorriso quando o
viu. Não acreditava tê-la visto tão feliz em um longo tempo,
mas agora eles estavam aqui, livres do passado, e teria
certeza de que estivesse sorrindo todo o tempo.
— Terminou sua reunião? — Perguntou rodeando a
ilha indo para ele.
— Sim. — Antes que pudesse lhe perguntar sobre
isso, ele puxou-a para frente, levantando-a para um beijo.
Ela se derreteu embaixo dele, sorrindo contra seus
lábios por um segundo. — Nunca tivemos a nossa lua de mel
— disse Lauren enquanto envolvia seus braços ao redor de
sua cintura, olhando para ele. — Agora poderia ser um bom
momento.
Sorriu, colocando uma mecha de cabelo atrás da
orelha dela. — Aonde quer ir?
— Desde que estejamos juntos, podemos ir a
qualquer lugar.
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Volkov Bratva 3
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