Você está na página 1de 486

In the beginning

Volkov Bratva 3
In the beginning
Volkov Bratva 3

Tradução – Angel, Maggies, Claudia S, Lady Li,


Daniela B, Cici Rosso, Nata Morena,
Bruna M, Annale, Bella Reader, Anjinho
Revisão Inicial: Gislaine Vagliengo & Anna Azulzinha
Revisão Final: Monikyta
Formatação: Vivi
In the beginning
Volkov Bratva 3
In the beginning
Volkov Bratva 3
Três meses passaram sem incidentes, deixando

Mishca e Lauren acreditarem que podem finalmente

deixar o passado para trás e construir uma vida

juntos... Mas inimigos tanto antigos como novos estão à

espreita nas sombras, esperando a oportunidade para

atacar.

Quando uma perigosa ameaça aparece, Lauren

se vê obrigada a recorrer à única pessoa que prefere

ver Mishca morto que tendo um “felizes para sempre”...

Ela agora terá um papel que exige o pagamento com

sangue.

Formam-se alianças, um lado lutando pela

sobrevivência e outro pela vingança.

Não se pode confiar em ninguém.

Ninguém está seguro.


A guerra se aproxima.
...E nem todos viverão para ver o final.
In the beginning
Volkov Bratva 3

William Shakespeare.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Ele concordou, mas antes que pudesse chamar Luka


e Vlad, fortes passos na escada o detiveram.
Eram deliberados, destinados a chamar a atenção
para quem chegava, e enquanto Mishca olhava da janela,
para o cadáver, e de volta ao corredor, ficou rígido.
Sabia quem vinha.
Doze passos a mais trouxeram o estranho à entrada.
Ele era distintamente masculino com um rifle de
franco-atirador em suas costas, facas atadas as suas coxas, e
vestido com uma roupa tática completa, que era tão escura
como a alma do homem.
Seu rosto oculto por uma máscara preta, o desenho
bastante singelo com somente os olhos recortados, e um
espaço para o nariz e a boca.
Não era só um homem com uma arma, Mishca sabia,
mas um mercenário brutal, que vivia e respirava sua
ocupação, tudo para alimentar sua vingança. Era tão
misterioso como uma lenda.
Nos últimos anos, depois de usar múltiplos contatos
que tinha ao redor do mundo, e abusando de cada recurso
que possuía, Mishca rastreou este indivíduo em particular,
um que sabia que se transformou em uma arma letal.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Especialmente conhecido por disparos como o que
tirou a vida do albanês no chão.
O mercenário parou, inclinou sua cabeça de lado
como se os olhasse com casual desinteresse, despreocupado
com as armas apontadas para ele.
Não que precisasse estar, pois certamente era o
melhor atirador ali, mesmo sendo só ele.
Conhecendo as habilidades do homem e a falta de
saídas, Mishca empurrou Lauren atrás dele, garantindo que
cada parte dela estivesse protegida por seu corpo.
Ela tentava ver além dele, mas ele não permitiu
porque, no momento, não existia explicação que pudesse lhe
dar que a ajudasse a entender a delicada situação em que
estavam agora. Nenhuma suficientemente curta pelo menos.
Sentindo o dilema de Mishca, o mercenário inclinou
sua cabeça na outra direção suspirando pesadamente atrás
de sua máscara.
Mishca não via sua expressão, mas podia adivinhar
que se divertia. — Onde estão meus homens? — Perguntou.
— Vivos.
Agora, apesar do perigo que representava, Mishca
estava irritado de um jeito que só este homem podia causar.
— Por que está aqui?
— Eu te fiz uma promessa — disse o mercenário em
um tom monótono, suas palavras distorcidas. — Que quando
morresse, seria pela minha mão.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Luka tendo um particular ódio pelos mercenários e
as autoridades, não gostou de suas palavras, mas Mishca
não podia lhe permitir sacar sua arma, não contra o homem
diante deles.
— Ostav' eto — Deixe-o — disse severamente — ele
não está aqui para me matar.
Lauren apertou a parte de trás de sua camisa, seu
medo por ele tornando isso muito mais difícil.
— Não? — Perguntou o mercenário olhando ao redor,
tirando uma arma da parte de trás de suas calças. — Sente-
se dessa maneira.
— Você não joga com seus alvos — respondeu
Mishca calmamente, embora nunca tivesse certeza desse fato.
Sempre supôs, devido à precisão com a qual acertava
todos os alvos, sem nenhuma evidência deixada para trás,
que quando ele conseguia um trabalho, completava-o rápida
e eficientemente.
— Não tenha tanta certeza disso, russo — disse o
mercenário com um toque de diversão em sua voz.
Mishca o olhou fixamente, tentando ver através da
malha preta que protegia seus olhos, embora isto fosse
impossível dessa distância. Sabia muito bem que olhos se
escondiam ali atrás.
— Não enquanto ela esteja aqui para ver — disse
Mishca indicando Lauren — principalmente, não nesse lugar.
Isso pareceu abalar a determinação do mercenário.
Já não parecia casual. Seu corpo se retesou, seus dedos
apertando a arma que segurava.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca nunca voltou aqui desde aquele dia, mas
podia recordá-lo como se tivesse acontecido só há algumas
horas.
Onde há um buraco hoje, foi onde ele mesmo
encontrou o mercenário fraturado e ensanguentado.
Uma época que odiava lembrar.
Parecia que muitos anos de raiva saíam do
mercenário, sua atenção concentrada agora só em Mishca.
Sem esperar uma ordem — uma que não viria — Luka foi até
ele, mas sem esforço, o mercenário saiu do caminho, girou
para fora a palma de sua mão ao mesmo tempo, dando um
golpe na sua jugular, enviando-o ao chão ofegando por ar.
Vlad, sabiamente ficou onde estava. Afinal, conhecia
o homem atrás da máscara.
Mishca afastou-se, tentando puxar Lauren para
frente e para longe dele, não querendo que se machucasse
acidentalmente se algo acontecesse, mas ela se agarrou a ele,
negando-se a ir.
Não percebia que, nesse momento, estavam na frente
da única pessoa que mais odiava Mishca no mundo.
De perto, o mercenário era somente um centímetro
mais alto, se tanto, mas sua presença o fazia parecer maior,
embora às vezes também pudesse parecer menor, um bom
traço para ter em seu tipo de trabalho.
— Cuidado — disse com fúria mal contida. — Não se
incomodou em apontar a arma, porque sabia vinte e três
maneiras de matar Mishca sem uma, e essas eram as poucas
que não obteria seu sangue.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Havia homens que se acovardariam na presença de
Mishca, mas este não, não temia nada.
Não podia saber com certeza, mas pensou no olhar
do mercenário indo além dele, para onde Lauren estava de pé
em suas costas, fazendo que seu braço a apertasse mais
forte.
Pôde pensar que sabia o plano dele, mas nunca
poderia estar seguro.
— Só seria justo, não é assim, se eu tomar seu amor
— disse o mercenário, embora não houvesse uma ameaça
real em seu tom.
Agora, só que rapidamente, soava aborrecido —
exceto que, só mato aqueles que se enganam comigo.
— Não o fiz — disse Mishca, lembrando quando lhe
disse algo parecido há tantos anos.
— Culpado por associação.
Sentiu que Lauren ficava rígida atrás dele, e Mishca
por pouco não amaldiçoou. Precisava terminar com isso.
— Não temos tempo para isto — disse Mishca. — Não
percebe o que fez? Os albaneses vão querer sangue por isso.
O mercenário encolheu os ombros. — Um problema
pessoal.
— E você pensa que não saberão que foi você? —
Replicou Mishca, tentando fazê-lo ter bom senso. — Alguém,
em algum lugar viu seu rosto.
Rindo, o mercenário levantou sua máscara, sobre a
boina de lã que usava para cobrir seu cabelo, revelando seu
rosto pela primeira vez.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O suspiro de Lauren foi audível no decrépito edifício.
O mercenário olhou para Mishca, com uma fúria
ardendo nos idênticos olhos azuis que compartilhavam, tão
diferente do espírito avariado que Mishca viu antes.
— Não sou o menino que você conhecia — disse,
ecoando seus pensamentos. — Se alguém pode me
identificar, bem, conto com isso.
— Klaus.
Era a primeira vez que Mishca dizia seu nome no que
pareciam anos e teve o efeito desejado, já que perdeu seu
sorriso maníaco.
— Nunca diga meu nome.
— E como vão nos diferenciar? — Perguntou Mishca
solenemente. Ninguém foi capaz de dizer a diferença entre
eles até que estivessem um ao lado do outro, e mesmo assim,
ainda era um jogo de adivinhações.
— Sempre poderia te matar, e depois continuar
minha missão.
— Não vai me matar — repetiu Mishca.
— Por que não? — Perguntou Klaus com genuína
confusão em seu rosto, como se isso sempre fosse uma parte
de seu plano.
— Porque apesar de seu ódio por mim, irmão, seria
como matar a si mesmo.
Mishca pensou que fez o seu ponto e finalmente,
tinha a razão, mas se equivocava.
— Talvez, mas você não sou eu — disse Klaus
tranquilamente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca não se deu conta da faca oculta em sua
palma.
Lauren Thompson pensou que sabia tudo sobre
Mishca depois de estar com ele por um ano e meio, mas havia
muito mais segredos que desconhecia.
Um em particular, estava de pé em sua frente.
Quando Mishca endureceu em frente a ela, Lauren
não sabia por que teve essa reação ao homem que caminhava
para eles, mais confusa desde que tinham uma acalorada
discussão, enquanto que o homem usava uma máscara. Era
óbvio que se conheciam, mas não sabia se era amigo ou
inimigo.
À medida que empurrou a máscara até o topo de sua
cabeça, Lauren conteve o fôlego, surpresa ao ver seu rosto
pela primeira vez.
Era Mishca, mas numa versão mais furiosa.
Lauren viu com horror quando o gêmeo virou a ponta
da faca, em um movimento rápido, segurando-a no pescoço
de Mishca. Há apenas cinco minutos descobriu que o homem
que amava tinha um irmão gêmeo — um irmão gêmeo
homicida se suas ações fossem algo a julgar.
Não só isso, mas que também odiava Mishca com
uma paixão ardente que Lauren não podia entender.
— P- Por favor — gaguejou Lauren, chamando a
atenção de Klaus, que estava fixa em Mishca.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Havia uma fúria ardendo nesses olhos azuis, mas ela
não quis voltar atrás, não importa o quanto o temesse. O
braço de Mishca a rodeou, segurando-a as suas costas, uma
mensagem clara para Klaus, que se pensasse em fazer um
movimento contra ela, teria que passar por ele.
Klaus falou algo dela em outro idioma, que
definitivamente não era russo porque se acostumou à língua,
e ela viu pela confusão no rosto de Luka que ele também não
entendia.
— Eles nos conhecem — disse Mishca ganhando de
novo a atenção de Klaus. — Sugiro que vá. Agora.
— Pensa que temo aos albaneses? — Disse Klaus
rindo. — Duvida de minhas habilidades, russo.
— Não importa o que penso, mas não tem sentido
continuar de pé aqui e argumentar um ponto discutível.
Ambos sabemos que os albaneses vão querer vingança, por
isso, estar aqui esperando por eles não é nossa melhor
vantagem. Guarde sua raiva para outro dia.
Lauren não pensou que ele iria, apesar do pedido de
Mishca, mas o fez. Embainhando sua faca, fez um gesto que
tinha a Luka cambaleando em direção a ele, só retido pelo
braço de Vlad como uma faixa através de seu peito.
Em segundos, Klaus se foi, mas Lauren não duvidava
que o veria de novo.
— Poderia tê-lo levado — falou Luka, evidente.
— Por que ele não te derrubou com um só golpe? —
Perguntou Vlad secamente, surpreendendo a todos com seu
humor.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren podia contar com uma mão o número de
vezes que escutou Vlad fazer uma brincadeira.
— Tenho uma dívida com ele — disse Mishca
explicando, voltando-se para Lauren, seus olhos procurando
os dela.
Apesar do que havia entre eles, Klaus salvou sua
vida, mesmo não sendo sua intenção.
— O que você quer fazer com ele? — Perguntou Luka
apontando para Brahim.
Mishca o olhou durante um segundo antes de dizer.
— Deixem-no.
Ao sair do armazém, Lauren deu um último olhar a
Brahim, desejando poder esquecer seus olhos sem vida.

À medida que o edifício desaparecia atrás deles,


Lauren tentou ao máximo colocar isso no fundo de sua
mente, querendo esquecer a experiência toda. Agora que
estavam fora deste lugar, sentiu todo seu corpo dolorido.
Fechou seus olhos por um segundo, feliz por estar a
salvo com ele... embora só fosse por um momento. Conforme
os abriu, ele passou rapidamente seu polegar por sua
bochecha, seu olhar aliviado a fez se sentir bem.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Pôde ver a pergunta nele, a única que lhe dava medo
fazer, embora parecesse que ele a fez muitas vezes nas
últimas semanas.
— Estou bem — respondeu de qualquer jeito,
tentando pôr suficiente verdade nessa declaração para
convencê-lo.
Tranquilizado, ao menos no momento, procurou em
seu bolso por seu telefone, entregando-lhe. — Prometi a
Amber que você ligaria.
E durante os próximos vinte minutos de sua viagem,
foi o que fez. Apesar das circunstâncias, Lauren sorriu,
tentando garantir a sua amiga que estava bem. E
surpreendentemente, estava. Acabava de ver um homem ser
assassinado, descobriu que Mishca tinha um irmão gêmeo
bem hostil, e que teriam um novo problema com os
albaneses, mas se negava a pensar mais nisso, empurrou
tudo no fundo de sua mente.
Por agora, só podia agradecer por conseguir sair só
com algumas contusões.
No momento em que viu seu prédio, Lauren virou
para seu lado no carro, desfrutando silenciosamente do sol
em seu rosto, enquanto se apoiava contra a janela. Desta vez,
quando desceu, Mishca e os outros a seguiram de perto, não
quis subir sozinha, deixando Vlad ir primeiro, Mishca e Luka
indo atrás.
In the beginning
Volkov Bratva 3
A porta de seu apartamento estava estilhaçada, e o
dono de pé na entrada, coçando a cabeça enquanto avaliava o
dano. Lauren só esteve com o homem em duas ocasiões, e
ambas foram bem e sem incidentes — em parte porque ele
raramente deixava seu próprio apartamento.
Tucker, Lauren pensou que esse era seu nome, não
parecia muito contente com o dano que viu. — Isto sairá de
seu depósito de segurança.
— Entendi nas primeiras dez vezes que me disse —
rebateu Amber do interior do apartamento.
— Eu me encarrego disto — interrompeu Mishca.
Lauren passou por ele, para o apartamento. Amber
tinha seu telefone na mão, falando em voz baixa, ao menos
até que viu Lauren na soleira. Sem um adeus, desligou o
telefone, deixando-o cair no sofá enquanto corria para ela.
— Poderia não fazer isso outra vez! — Gritou Amber,
enquanto a abraçava, quase cortando seu oxigênio como a
apertava, mas não podia reclamar, não quando estava
contente por voltar ao apartamento.
Ela a olhou, assegurando-se de que Lauren não
estava mais ferida do que já viu.
— Cheguei ao apartamento e estava um desastre,
você não estava aqui, sabe como foi para mim?
Lauren riu, fungando as lágrimas tentando não se
desesperar. Era fácil ser forte com Mishca por perto, sentia-se
assim, mas quando ele não estava, algumas vezes era difícil
suportar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não me faça isto outra vez. Quase tive que
apunhalar Mishca na coxa.
Ele tossiu, escondendo um sorriso atrás de seu
punho.
— Com um de seus pincéis, sem dúvida — disse
Lauren atirando-se para trás.
Amber zombou. — Não critique meus pincéis, amiga.
Eles podem fazer danos graves. — Mas sua expressão ficou
séria quando notou uma das contusões no rosto de Lauren.
— Posso perguntar, ou é uma daquelas situações "não
pergunte, não diga"?
Ambas olharam a Mishca.
— Se for isso o que quer, mas terá que ser mais tarde
quando te trouxer de volta.
— Espera, vai sair outra vez? — Perguntou Amber
alarmada.
Lauren olhou-o, não tendo certeza do que falava, mas
não o questionou. — Temos que conversar, mas prometo que
estarei de volta em poucas horas.
Concordando, Amber olhou Mishca. — Mish?
Ele assentiu para ela. — Tem minha palavra.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren foi em silêncio ao seu lado, perdida em seus
pensamentos enquanto olhava pela janela do passageiro.
Estava muito tranquila, calma até o momento, mas com Luka
e Vlad no carro, ele queria esperar até que ficassem sozinhos
antes de falar com ela.
O telefone de Mishca tocou, foi a única vez que
Lauren o olhou. Não teve que olhar para baixo para saber que
era Mikhail chamando, mas não a deixaria, não importava
quão zangado ficaria por não atendê-lo imediatamente.
Deixando cair na caixa postal, virou no modo vibrar,
colocando o celular no bolso sem pensar duas vezes. Quando
chegaram ao seu edifício, Mishca olhou sobre seu ombro para
Lauren, em seguida para Vlad e Luka.
Em russo, disse — Vlad, eu preciso que vá, e se
apresente por mim a Mikhail. Luka ficará comigo.
Enviaria Luka para fazer isso, mas duvidava que
Mikhail estivesse com humor para ele. Saindo do carro,
Mishca ajudou Lauren, mantendo seu braço ao redor dela
enquanto entravam no edifício. Lançando a Luka uma chave,
enviou o executor para a parte de trás, não querendo chamar
a atenção mais do que precisavam, especialmente com ele
cheio de sangue seco.
Na viagem até lá em cima, Mishca chamou-a,
inclinando seu rosto para cima para que pudesse avaliar
melhor a contusão. Ao vê-la, podia sentir a dor ecoando nele
mesmo.
— Não dói — disse Lauren suavemente, suas mãos
cobrindo as dele.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Isso foi ele tentando confortá-la, e ela querendo
acalmar a tempestade dentro dele. — Não deveria ter deixado
isso acontecer.
— Não havia nada que pudesse fazer, Mishca. Se não
fosse eu, então seria outra pessoa.
A campainha soou quando chegaram à cobertura, as
portas de correr se abriram. Retirando as chaves, Mishca
abriu a porta, entrando primeiro para fazer uma busca na
sala antes de deixá-la entrar.
Indo à cozinha, pegou um pequeno saco plástico,
enchendo-o com gelo e uma toalha de mão para envolvê-lo.
Quando retornou, ela estava sentada na cadeira favorita dele,
com seu rosto em suas mãos enquanto sussurrava baixinho.
Ela olhou para cima quando se aproximou, sorrindo apesar
de que não chegou a seus olhos.
Estendeu o gelo, balançando a cabeça quando a
alcançou, pressionando-o suavemente em seu rosto, antes
que pudesse protestar. Sentaram-se em silêncio durante um
momento, com os olhos um no outro.
— Sabe, vão pensar provavelmente que está me
batendo agora — riu de sua própria piada, mas não fez com
que Mishca se sentisse melhor. — Mish, estou bem. Juro.
— Isto é minha culpa. Deveria ter feito melhor,
deveria ter te avisado o que esperar deles.
Lauren negou. — Não há nada que pudesse ter feito
de outro jeito, Mish. Deveria ter te escutado quando me disse
que ficasse na casa segura até que resolvesse as coisas. Em
poucas palavras, já passou, vamos esquecer isso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela gentilmente empurrou sua mão, ficando de pé. —
Vou tomar um banho, então vamos conversar. Está bem?

No momento em que Lauren saiu do banho, sentia-se


muito melhor, pronta para esta conversa com Mishca, e com
a mente limpa. Realmente precisava deste tempo para si
mesma, para conseguir pôr em ordem seus pensamentos, e
descobrir quais perguntas eram mais importantes.
A maioria delas era sobre o irmão que não conhecia.
— Nunca mencionou que tinha um irmão —
comentou Lauren em voz baixa, vestindo uma camisa e uma
bermuda, e prendendo seu cabelo molhado em um rabo-de-
cavalo.
Não podia dizer quanto tempo esteve naquele edifício
com o gêmeo de Mishca, mas sabia que tudo em que
acreditou, antes desse curto período de tempo, era só uma
parte da história.
O rosto de Mishca era óbvio nesse momento. Estava
claro que Klaus era a última pessoa sobre a qual Mishca
queria falar. — Apenas três pessoas no mundo na realidade
sabem dele. Agora quatro.
— Mas, como? São gêmeos idênticos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Para ser honesto, não sei. Não conheci Klaus até
que fiz vinte e um anos, e não nos encontramos nas melhores
circunstâncias. Antes que entrasse em minha vida, assumi
que era filho único de minha mãe.
— Mas alguém tinha que saber, não? No hospital?
— Minha mãe não deu à luz em um hospital. Foi um
parto em casa no meio do nada, na Rússia. Como ela nunca
falou dele, só posso supor que fez de tudo para tirá-lo do país
antes que Mikhail o encontrasse.
— Mas se não cresceram juntos, por que te odeia
tanto?
— Quando te disse que não nos encontramos sob a
melhor das circunstâncias, não exagerava. — Passou uma
mão pelo cabelo, olhando por cima de seu ombro. — A
primeira vez que encontrei Klaus foi o dia que conheci os
albaneses.
Isso era um eufemismo1. Klaus era a razão dos
russos e os albaneses terem uma disputa de longa duração,
não por ter feito algo em particular, mas sim porque em uma
noite solitária, confundiram-no com Mishca, e queriam
torturá-lo por informações. Mas isto não foi nada perto do
que fizeram a Klaus naquela noite.
— O que aconteceu com ele? — Perguntou uma vez
que parou de falar.
— Não sei.

1
Eufemismo é uma figura de linguagem que emprega termos mais agradáveis para suavizar
uma expressão.
In the beginning
Volkov Bratva 3
E realmente não sabia... mas podia adivinhar. O que
Mishca encontrou no edifício industrial, não tinha palavras
para descrever. Klaus estava quase irreconhecível no
momento em que chegaram a ele, e dias depois que Mishca o
tirou daquele lugar, ele ainda se negava a falar disso, a
amargura em seu coração só aumentando.
Especialmente no último dia.
— Diga-me o que sabe.
— Honestamente? Não sei muito a respeito de Klaus,
só o que pude descobrir no curto tempo que passei com ele, e
da gente que cruzou seu caminho com o passar dos anos,
mas mesmo eles não perceberam com o que lidavam. Ainda
não. Os mercenários ganham a vida permanecendo nas
sombras — explicou — nem sequer posso descobrir para
quem trabalha.
— Mish, ele estava pronto para matá-lo. Quero dizer,
ao menos, os albaneses tinham sua própria razão, mas desta
vez gostaria de saber o que estou enfrentando.
Já sacudia a cabeça antes que terminasse. — Ele não
teria você como alvo.
— Mish...
— Falarei, mas hoje não.
Ela se arrastou no seu colo, envolvendo seus braços
ao redor de seu pescoço enquanto se agarrava a ele.
— Estou feliz que não esteja ferido.
Ele soltou o cabelo dela, passando seus dedos por
eles antes de soltá-los na nuca, massageando-a para aliviar a
tensão. — Eu deveria dizer isso a você.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— O que aconteceu com Jetmir?
— Pelo que percebi, não sabia nada do que Brahim
planejava. Ao menos isso foi tudo o que pude tirar dele. —
Ante sua expressão confusa, explicou — quebrei sua
mandíbula.
— Às vezes me esqueço de quão volátil você é quando
alguém cruza seu caminho.
— Só quando usam você para chegar a mim. Mas
podemos falar disto outro dia. Devo te levar para casa.

— Eu me sentiria melhor se você passasse a noite


aqui — sussurrou Lauren quando voltaram a seu
apartamento.
Poderiam ter ido a um hotel, especialmente com a
lamentável situação com a porta, mas queria algo familiar
depois de tudo o que passou.
Ela sabia, antes que ele abrisse a boca, que ficaria.
Esse era o tipo de relação que tinham. E depois de tudo o que
passaram, não queria estar mais longe dela, que ela dele.
— Não posso dizer que esteja reclamando —
comentou Amber depois que entraram, Luka já estava lá,
tirando a calça apertada que usava, e deitando-se no sofá.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren sempre achou Luka atraente, mesmo com
suas loucuras, mas nunca se deu conta de como era debaixo
da roupa que usava. Tinha um pouco mais de músculos que
Mishca, e era coberto com uma grande variedade de
tatuagens. Não havia quase nenhuma parte de pele que não
estivesse revestida com tinta. Uma era desbotada, mas
tomava muito espaço em seu quadril, estendia-se para suas
costelas, ficando diretamente no centro de seu peito, e era
impressionante: a cabeça de um tigre rugindo.
Sabia o que significava, mas nunca pensou
realmente em Luka nesse sentido. Ele sempre era tão
brincalhão, tão relaxado, que não podia de fato imaginá-lo no
papel de executor, mas as aparências enganam, e algumas
vezes viu um vislumbre dessa natureza perigosa nele.
Sua cueca mal cobria alguma coisa, chegando logo
abaixo das linhas diagonais de seu abdômen. Não tinha
cabelo no peito, mas havia uma linha de cabelo loiro
encaracolado que começava em seu umbigo, desaparecendo
debaixo do elástico de sua cueca.
Luka era...
Mishca delicadamente, mas com firmeza, virou a
cabeça de Lauren até que seus olhos estavam nele. Ela quase
sorriu ante o olhar indignado em seu rosto.
— Você só tem um russo.
— Vá em frente — disse Luka, esticando os braços
bem abertos, descaradamente exibindo-se, mas só porque
queria incomodar mais a Mishca.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Como é que alguém vai levá-lo a sério? —
Perguntou Amber, olhando longe dele.
Luka sorriu, lenta e amplamente, prestando atenção
em Amber, seus olhos dançando sobre ela. — Poderia te
mostrar.
Mishca revirou os olhos, provavelmente acostumado
com o comportamento de Luka, mas Lauren suspeitava que
seu avanço realmente não significasse nada, pensando que
ele sentia algo completamente diferente por alguém.
— Por mais que eu adorasse tomar essa oferta, não
posso. Renunciei aos homens no momento, especialmente
aos que provavelmente poderiam matar alguém com suas
próprias mãos.
— Na verdade, só preciso uma mão. É bastante
simples. Eu uso...
— Boa noite, meninos — disse Amber interrompendo-
o. — Estou feliz que esteja em casa a salvo, Lauren. —
Dando-lhe um olhar mordaz, fazendo-a saber, que falariam
disso de manhã.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Na escuridão do quarto, Lauren se agarrou a Mishca,
negando-se a deixá-lo ir. Aqui, não tinha que ser forte. Ele
não esperava que fosse depois do que sofreu, e porque
merecia deixar seus medos saírem, mas isso só piorou sua
culpa.
Sentindo seu corpo estremecer, ele esfregou suas
costas lentamente, tentando acalmá-la. Desculpou-se, e sabia
que ela não o culpava pelo que aconteceu, mas não tinha
nem ideia do que podia dizer para melhorar isso para ela.
— Naomi te fez uma armadilha, ou nos fez uma
armadilha muito boa.
Ele ficou quieto, só por um segundo, antes de
deslizar sua mão debaixo de sua camisa, desejando o contato
de pele com pele. — Eu sei.
— Infelizmente, realmente não te culpo. Percebi que
tem péssimo gosto para mulheres.
Ele tentou não rir, sem saber se era ou não sério,
mas não pôde evitar. — No entanto, você me faz melhor.
— Talvez um pouco, mas estou feliz que chegou lá a
tempo.
Beijando o topo de sua cabeça, ele concordou — eu
também. Agora, vamos dormir um pouco. Há bastante tempo
para conversarmos amanhã.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Vlad só pode protelar por certo tempo até que Mikhail


ficou impaciente. Mishca sabia, mas não esperava o recado
irritado de seu pai. Deixando Lauren na cama, foi à mansão,
olhando ocasionalmente seu telefone quando se iluminava.
Com o sequestro de Lauren, e todo o medo que
sentiu depois, Mishca estava cansado de Mikhail. Havia duas
coisas que venerava acima de tudo. Antes, a Bratva esteve em
primeiro lugar em cada aspecto de sua vida, mas agora, era
Lauren. Ela tinha prioridade, e apesar do muito que
incomodava a Mikhail, isso não mudaria absolutamente nada
para ele.
Havia outros carros estacionados ao longo da ampla
entrada, um que ele reconheceu como o de Alex. Não teve
tempo de perguntar por que estava lá enquanto entrava,
assentindo com respeito aos que falavam com ele.
Mishca não tinha que perguntar aonde ir. Para
Mikhail, o único local em que praticamente vivia era seu
escritório. Levou um momento para ver se Alex estava por
perto, mas viu que Vlad parecia pensativo, e ele nunca estava
assim.
— O Chefe espera.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Deu a Mishca um olhar aguçado, dizendo-lhe tudo o
que precisava saber. Mikhail estava zangado. Suspirando —
porque estava mais que cansado de ser chamado como a um
menino — bateu uma vez à porta fechada antes de entrar.
Mikhail estava junto às janelas, com seus tenentes
de pé ao redor dele como idiotas incompetentes. Por cima de
seu ombro, ele apenas deu uma olhada em Mishca.
— Deixem-nos.
Os tenentes se apressaram a fazer o que Mikhail
disse, não poupando Mischa de um olhar em que eles todos
pensavam a mesma coisa.
O Capitão Bratva estava até o pescoço de merda.
— É assim que você se digna a se reunir comigo? —
Perguntou Mikhail, tamborilando seu dedo indicador contra o
copo que segurava.
— Desculpe, eu não pude me trocar depois de quase
ser assassinado por seus sócios — disse secamente Mishca,
sentando no banco em frente à lareira.
— Suas grosserias não serão toleradas hoje, Mishca
— grunhiu ele, batendo de repente seu copo na borda da
mesa. — Tem ideia do que causou? Durante cinco anos esse
trato foi reconhecido e, o que faz...? Cospe em minha cara.
— Lauren foi...
— Zatknis. — Cale-se! Não poderia me importar
menos com sua mascote. Isto são negócios.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca não gostou de seu tom, e ainda mais da
forma como se referiu a ela. — E ainda assim você custou
mais a nosso negócio devido a sua puta, que por causa da
minha relação com Lauren.
— Ela te tornou valente — disse Mikhail com fogo em
seus olhos. — Dei essas estrelas e tomarei-as de você. Deixei
isso acontecer por muito tempo. Termine com esta aventura
antes que eu acabe por você.
Antes, Mishca escutaria a advertência de Mikhail, de
fato obedeceria, mas isso era antes. Agora, a diferença de
poder entre eles era mínima. E mesmo se não fosse, ele ainda
não aceitaria.
— E por que exatamente eu faria isso? — Perguntou
Mishca sem alterar a voz, reclinando-se na cadeira,
tamborilando seus dedos no apoio do braço. — Por que você
me ordena? Não é mais assim como funciona.
— Não? — Mikhail não pode ocultar a surpresa com
sua audácia. — Você segue minhas ordens.
— Mas nem todos o fazem. Você se considera
indiferente às emoções, mas matou seu próprio irmão por
transar com sua esposa. Como acha que os outros veem isto?
A cara de Mikhail se avermelhou de raiva, seu
temperamento mal contido. — Ele agiu sem a minha bênção
e...
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele acenou com a mão, cortando a seu pai. — Pode
ser que te importe menos com Lauren ou sua família. Essa foi
sua desculpa, mas ambos sabemos a verdade, como a metade
dos homens que controla. Quão rápido acha que os boatos se
espalham, pai?
— Não se esqueça, moço, foi você quem o matou.
Mishca deu de ombros. — Meus motivos eram claros.
Tirou vantagem de Lauren, o que significa que tirou de mim.
Mas isso é irrelevante. O que pensa que direi aos outros
Pakhans se me perguntarem?
— Acha que vai me ameaçar? Eu sou seu Pakhan!
Você me obedece! Já te falei isso, as mulheres não têm lugar
em nosso mundo, mas você acha que está por cima das
regras. Sua vida é...
— Precisamente — Mishca explodiu — minha vida.
Enquanto não esteja afetando a Bratva, não é de seu
interesse.
Tão rapidamente como a sua explosão de raiva veio,
Mikhail se acalmou consideravelmente, curvando seus lábios
em um sorriso divertido. — Então só te tratarei como um
Pakhan trataria a seu Capitão.
Mishca ficou de pé, abotoando seu paletó. Saindo,
olhou por cima do ombro — Alguma vez fomos algo mais?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren saiu tropeçando da cama, meio adormecida e
pronta para cometer um assassinato, se quem quer que fosse
não parasse de fazer todo esse barulho. Para sua confusão,
vários homens entravam e saíam de seu apartamento, um
substituindo as fechaduras da porta, outros tirando e
colocando móveis.
Amber estava na cozinha olhando casualmente, com
um copo de limonada em uma mão. Parecia mais que feliz a
esta hora da manhã — apesar de que já passava do meio-dia
— sorrindo a um dos trabalhadores mais jovens que
repetidamente olhava para ela.
— Que droga está acontecendo? — Perguntou Lauren
quando entrou na cozinha, quase se atirando no café fresco
no balcão.
— Parece que o russo favorito de todos queria
aumentar a segurança por aqui. Não que esteja me
queixando, é claro.

Lauren olhou aos homens ao redor, realmente nada


surpresa pelo que via. Ele prometeu que as coisas seriam
diferentes a partir de agora, mas não percebeu que falou
sério.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Recordava vagamente dele saindo essa manhã,
beijando-a antes de ir, mas nada depois disso. Estava claro
que, ao menos, falou com Amber antes.
— Luka foi com ele?
—Não, está no meu chuveiro.
Lauren tossiu, por pouco cuspindo seu café enquanto
virava com os olhos arregalados para sua amiga. — Você
não...
— É obvio que não, mas não tenho vergonha de
admitir que o segui lá dentro.
Rindo, Lauren perguntou — Qual foi sua desculpa?
— Deixei uma caneta em cima da pia.
Mesmo os trabalhadores olharam quando a risada de
Lauren ficou mais alta. — Essa é uma desculpa terrível.
— Ele não pareceu se importar. Droga, acenou com a
mão enquanto usava minha esponja vegetal, aliás. — Amber
se inclinou para frente conspirando, baixando a voz para
dizer — Viu seu pacote?
Sorrindo alegremente, utilizou suas mãos para
mostrar uma estimativa aproximada do que viu. — E nem
sequer estava duro — disse, fingindo assombro.
— Realmente não preciso ouvir sobre Luka e seu...
— Meu o quê? — Perguntou o homem em questão,
saindo do quarto de Amber. Uma toalha em seu ombro, o
jeans caindo na cintura, e com as botas.
— Sua horrível personalidade — disse Lauren, com a
esperança de que seu rosto não retratasse do que falavam.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Eu tenho uma atitude impressionante, na verdade.
— Foi até a mochila que trouxe na noite anterior, tirando dela
uma camisa limpa. — Mas não é tão grande como meu pau,
assim que isso deve servir.
Fingindo que ele não acabou de dizer isso, Lauren
perguntou — Onde está Mish?
— Em reunião com o Chefe. Queimamos umas
quantas pontes2 para chegar a você a tempo.
Lançou um olhar de esguelha para Amber, sem
explicar o que queria dizer.
— Quanto tempo ficará?
— Até que terminem, logo fingirei atender uma
ligação e escapulirei.
Ela negou com a cabeça. — Por que você precisa
fazer isso?
— Não é o que todo mundo faz? — Perguntou,
piscando.
E isso foi o que fez. Tão logo a porta foi instalada e a
nova tranca colocada, Luka atendeu seu telefone
dramaticamente, piscando enquanto saia.
Lauren estava pronta para que Amber iniciasse seu
interrogatório sobre tudo o que aconteceu, especialmente
desde que ela sem querer se tornou parte disso, mas ela não
o fez, apesar de estar bastante claro que queria.

2
Fazer ou dizer alguma coisa que tornaria impossível voltar a essa situação ou circunstância.
Renunciar a todas as outras coisas, para atingir um objetivo maior.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Já que não pensava em contar a Susan — e
definitivamente tampouco a Ross — sobre isso, a melhor
pessoa era ela.
— Não quer falar sobre isso? — Perguntou Amber,
mantendo a voz baixa, embora não houvesse ninguém ao
redor que pudesse escutar.
— Não posso te dizer muito, mas pelo que entendi
Naomi — a garota da qual te falei — roubou algo deste
mafioso albanês, que por sua vez veio atrás de Mishca.
Suponho que a melhor maneira de chegar a ele era através de
mim.
Amber já adivinhou que ele era algo mais que um
proprietário comum de um clube — provavelmente era óbvio
para todos, exceto para Lauren — e desde que falou
claramente com Mishca há algumas horas, não sentia que
era um segredo muito grande para não dizer a ela.
— Tem certeza que não está ferida? Quero dizer, o
que aconteceu lá.
Lauren passou o polegar sobre a borda da xícara,
imagens da cabeça de Brahim sacudindo-se para trás,
quando a bala o atravessou, cintilavam em sua memória, a
felicidade absoluta e o desprezo total dos albaneses que a
rodeavam, mais que dispostos a torturá-la só porque
queriam.
Mas isso não era algo que simplesmente poderia lhe
dizer. Não queria pôr esse tipo de imagens em sua cabeça, em
vez disso, viveria sozinha com elas.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Mish chegou antes que algo ruim pudesse
acontecer. — Lauren mentiu facilmente, já vendo a expressão
no rosto de Amber mudar. — Isso foi durante a luta para me
tirar do apartamento. Juro, estou bem.
Tentando mudar de assunto, Lauren olhou ao redor
do ambiente, percebendo como estava limpo, mas também
havia uma série de pinturas apoiadas no balcão da cozinha.
— Telas novas?
Amber parecia receosa em falar a respeito, enquanto
olhava para as telas, mas como qualquer artista que
valorizava seu trabalho, teve que compartilhar um pouco
sobre elas. — Sim. Uma galeria está abrindo na cidade, e me
pediram que levasse algumas amostras. Com sorte, gostarão
de algo, do contrário não sei como viverei.
— Serão idiotas se não gostarem — disse Lauren
enquanto saltava do banco ao escutar seu telefone tocar,
sabendo instintivamente que era Mishca.
— Vá atender — falou Amber — já estou atrasada
para minha entrevista, mas queria falar contigo antes de ir.
Lauren lhe deu um abraço rápido, apertando-a com
força antes de soltá-la. — Boa sorte, e quando conseguir isso,
definitivamente direi: "eu avisei".
Efetivamente, era ele do outro lado, e soava mais que
aliviado que ela atendeu. Só podia imaginar o pânico que
sentiria se não respondesse, sobretudo depois do número de
chamadas perdidas, que fez quando foi capturada.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Onde está? — Perguntou subindo novamente na
cama, sentindo-se toda dolorida. Ouviu o som de carros
passando rapidamente, e pôde adivinhar que estava no carro.
— Acabo de sair de uma reunião e estou voltando
para você. O Doc deve se encontrar comigo aí.
Não passou muito tempo desde que Lauren soube
que seu pai foi substituído por outro médico, que estava em
dívida com a Bratva. A informação a surpreendeu no
momento, não porque pensasse que seu pai era especial para
eles, mas porque nunca pensou muito no que eles faziam
para manter os cuidados médicos depois de que ele se fora.
O novo médico foi suficientemente amável na única
ocasião em que Lauren o encontrou. Naquele momento, ela
ofereceu veementemente pagar a dívida dele com a Bratva,
para que fosse livre para estar com sua família, e não
sofresse a mesma sorte que a dela. Ainda não sabia se
Mishca a apoiaria nisso ou não.
Lauren rodou na cama, esfregando os olhos
enquanto escutava Mishca discutir com alguém no fundo.
Deus, passou só um dia desde que ela esteve naquela casa
segura? Dois?
— Quão longe está? — Talvez pudesse voltar a dormir
um pouco antes que ele chegasse.
— Há dez minutos daí. — Perguntou — está com
fome?
Realmente não estava, embora nem soubesse quando
comeu pela última vez. — Não.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele não gostou do som disso, já que gritou palavras
em russo que soavam como maldições. — Lauren...
Revirando os olhos, e sem nenhum ânimo para
discutir com ele, cedeu. — O que seja que escolher está bem.
Sabe o que eu gosto.
— Eu te vejo logo.
Depois de desligar a chamada, agarrou um dos
travesseiros de sua cama, e se acomodou até que esteve
satisfeita, suspirando quando se acalmou.
Em um minuto parecia que tinha acabado de fechar
os olhos, e no seguinte os abria, quando Mishca entrou em
seu quarto com uma sacola em uma mão, e um copo de café
na outra. Deu-lhe um sorriso sonolento, virando-se para
olhá-lo.
Ele colocou tudo em cima de sua mesa, aproximou-se
e reclinou-se sobre ela, pressionando um doce beijo em sua
testa. Os olhos dele estavam fechados, a tensão em seu corpo
desapareceu. Esse simples ato significava tanto para ele como
para ela.
— YA lyublyu tebya, Mish — Eu te amo, Mish.
— Moye serdtse tvoye — Meu coração é seu.
Piscou para ele confusa, só entendendo uma parte do
que lhe disse. Tornou-se mais fácil entender quando falava
em russo, em parte porque usava sempre as mesmas frases.
— Tradução?
Ele apenas sorriu. — Como se sente?
— Acredito que já me perguntou isso, Mish. Estou
bem, de verdade. Você está em apuros?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca olhou para longe, mas não antes que ela visse
a raiva em seus olhos.
— É assim tão ruim? O que fez para irritá-lo... ou fui
eu?
— De qualquer forma, isso não importa. Ele não
importa.
Ela não sabia se estava pronta para acreditar.
Mishca não tinha o hábito de ser irracional, exceto quando se
tratava dela. Não queria que ele se metesse em mais
problemas por sua causa.
— Esqueça-o — insistiu Mishca, saindo de seu
quarto quando a campainha tocou.
— Espera! — Não quis gritar, mas sua voz ecoou ao
redor do quarto, fazendo-o voltar imediatamente.
Ele pode ver o medo em seu rosto, exatamente o que
tentou lhe esconder. Isso era razoável, não como se esperasse
que ela se recuperasse rápido, mas queria seguir adiante.
Alcançando atrás dele, Mishca tirou a arma que
costumava levar, estendendo-a para ela. Quando hesitou,
colocou-a em sua mão, envolvendo seus dedos nela.
— Atire em qualquer um que não seja eu.
Isso foi suficiente para aliviar o medo que a oprimia,
fazendo-a rir alto. — Os vizinhos ouviriam.
Caminhando de costas fora do quarto, encolheu-se
de ombros. — E eu cuidaria disso.
Lauren sorria, mas se afastou alguns passos da
entrada, com suas mãos úmidas de suor enquanto esperava.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Pensou no que Ross lhe ensinou, repassando o que
poderia acontecer, mas Mishca voltou em segundos, com o
doutor atrás. Ele se afastou quando viu a pistola nas mãos de
Lauren.
— Sinto muito — disse ela rapidamente, lançando a
pistola, que por sorte estava travada, para Mishca.
Isso ajudou a dissipar um pouco de seu medo
enquanto colocou sua maleta no chão. Quando iniciou seu
exame superficial, Lauren fez questão de mencionar que não
achava que fosse realmente necessário, porque se sentia bem.
— Mesmo assim, não faz mal. Além disso, esse
parece ser um hematoma muito doloroso.
Lauren instintivamente tocou seu rosto, sentindo a
dor na mandíbula. — Às vezes Mish tem uma mão pesada.
O doutor ficou em choque, Mishca franziu a testa
para ela, com uma promessa de dor em seus olhos. — Eu...
né, Lauren.
— Sinto muito — disse com um sorriso em direção a
Mishca. — Só estava brincando.
A julgar pela forma em que ele cuidadosamente se
moveu, duvidava que acreditasse nela. Quando terminou — e
estava tudo bem como ela disse — ele arrumava a mala para
ir, quando Mishca finalmente falou.
— Sua dívida com a Bratva foi paga.
Ambos o olharam surpresos, o médico mais que
Lauren.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não receberá mais ligações de ninguém, e espero
que nosso acordo seja mantido em segredo. — Agora essa
parte soava mais como uma ameaça.
Ele parecia atordoado demais para fazer qualquer
outra coisa, além de concordar, mas logo esse choque se
transformou em alívio e em uma inegável felicidade, que até
sorriu para Lauren.
— Eu... obrigado. — Ele correu, agarrando a mão de
Mishca entre as suas. — Obrigado.
Com um aceno para Lauren, praticamente saiu
correndo pela porta. Mishca foi trancá-la, tropeçando um
passo para trás quando Lauren jogou seus braços ao redor
dele, abraçando-o com força.
Ele devolveu o abraço, beijando o lugar bem abaixo
de sua orelha. — Isso está saindo de sua conta, só para que
saiba.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Os primeiros meses foram tensos, parecia que


caminhavam sobre cascas de ovos, enquanto esperavam que
Jetmir retaliasse. Há algum tempo, Mishca voltou ao prédio
— mas Lauren preferiu sentar do lado de fora — e descobriu
que o corpo de Brahim sumiu. Não houve nenhuma fita na
cena do crime, nem qualquer conversa sobre um corpo sendo
encontrado.
Desde então, Mishca decidiu ter Luka como sombra
de Lauren, onde quer que fosse. Ao contrário de Vlad, no
entanto, ele não ficava atrás, mantendo o ritmo ao lado dela.
Não foi tão ruim a princípio, pelo menos não até ele
começar a irritá-la.
— Quando disse que tinha que me vigiar, não acho
que ele quis dizer para você realmente me seguir dentro da
classe — falou Lauren secamente enquanto Luka ficava mais
confortável no assento, esticando suas longas pernas diante
dele, alheio aos olhares de alguns de seus colegas de sala.
Quando Mishca lhe disse que Luka seria seu novo
guarda-costas até que pudesse encontrar alguém em quem
confiasse mais, não discutiu, sabendo que tinha sentido
depois do que enfrentaram. Era realmente grata por isso, mas
quase esqueceu que Luka mal oscilava à beira da sanidade,
pelo menos, até que se mostrou hoje.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não era sua roupa, que era relativamente normal.
Calças jeans e uma camiseta, com botas desgastadas em
seus pés. Não, era o fato de que parava para olhar qualquer
pessoa que chegasse a um metro deles. Havia dois assentos
vazios em todas as direções, ninguém se atreveu a sentar
mais perto. Quando a aula terminou, Lauren tinha certeza
que o professor lhe diria que abandonasse a classe ou
deixasse Luka em casa na próxima vez.
— Só faço meu trabalho — disse com um grande
sorriso, inclinando-se para trás em sua cadeira e cruzando
suas mãos atrás da cabeça, enquanto assobiava baixinho
uma canção com a qual começava a se acostumar, embora
parecesse que o ruído só irritava seu professor.
Ele era um cara pequeno, barrigudo e com óculos
grossos, e, apesar de sua irritação pela interrupção constante
de Luka, não disse uma palavra. Se Lauren fosse ele,
provavelmente, também não falaria.
Entretanto, ele não se limitou a parar na classe.
Luka literalmente ficou com ela o dia todo, propositalmente
deslocando-se em seu espaço, abrindo as portas antes que
ela fizesse — isso não lhe importava tanto. No momento em
que voltaram ao apartamento de Mishca, Lauren estava
pronta para se livrar dele ela mesma.
Mishca falava ao telefone quando entraram no
apartamento, mas bastou um olhar em seu rosto para que
dissesse à pessoa na outra linha que chamaria de volta. — O
que é?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Por mais que aprecie o que Luka está fazendo —
isso o fez levantar o queixo com orgulho, acenando para que
não tivessem nenhuma dúvida de que se referia a ele — talvez
possamos encontrar outra pessoa.
Mishca parecia divertido enquanto negava com a
cabeça. — Não há mais ninguém. Só existem duas pessoas às
quais confiaria sua vida: Vlad e Luka. E preciso de Vlad para
trabalhar.
Lauren deu um passo mais perto dele, não querendo
que Luka escutasse o que ia dizer. — Percebe que é louco,
não?
Mishca mordeu o lábio, arranhando a barba,
enquanto tentava reprimir um sorriso. — Essa é sua maneira
de dizer que gosta de você.
Ela entrecerrou os olhos, batendo-o no peito com seu
dedo. — Isso não é engraçado, Mish. Sabe como parece
ameaçador? Droga, provavelmente pensaram que ia matá-los.
— Não é esse o ponto?
— Não. Faria mais sentido se não parecesse
ameaçador, porque, se for assim, as pessoas se perguntarão
por qual razão preciso um guarda-costas o tempo todo,
atraindo mais atenção.
— Isso pode estar certo, mas é tudo o que tenho
neste momento.
— Mish.
— Lauren.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não era a primeira vez que tentava intimidá-la para
que aceitasse seus termos, mas se negava a ser coagida. Ela
poderia ser a única pessoa que não temia sua ira.
— Não.
— Isto não está em discussão — disse Mishca
lentamente, sua diversão anterior desaparecendo. — Não vai
sair sozinha.
— Tem razão nisso. Não está em discussão.
Ele beliscou a ponte do nariz com o polegar e o dedo
indicador, lutando por paciência. — Por que está tornando
isto difícil para mim?
— Faz com que pareça que digo que não quero
ninguém absolutamente. Não disse isso.
Luka limpou garganta, levantando a mão. — Tenho
um...
— Quieto, Luka! — Gritaram-lhe ambos.
O executor não se ofendeu, ao invés disso, sorriu de
bom humor e pegou uma das maçãs de Lauren, estendendo-
se no sofá para ver a briga que acontecia.
— Só escuta o que tenho a dizer — falou Lauren.
Concordando, Mishca acenou para que continuasse.
— Se Luka for ficar, tem que fazê-lo parar de fazer o
olhar da morte para qualquer um que se aproxime de mim.
— O olhar da morte?
Lauren olhou para Luka. — Mostre.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Qualquer outra pessoa poderia ficar confusa com o
pedido, mas não Luka. Ao invés disso, repetiu a expressão
exata que fez quando estavam em sua classe, demonstrando
que fazia de propósito.
— Algo mais?
— O que acontece com minhas exigências? —
Murmurou Luka.
Mishca parecia estar perigosamente perto machucar
os dois, mas, gentilmente se virou para Luka, acenando sua
mão da mesma maneira como fez com Lauren.
— Oh, merda... Não pensei que realmente fosse me
ouvir.
Mishca reclamou algo em russo, fazendo Luka rir,
enquanto voltava a comer sua maçã. Às vezes, Lauren se
perguntava se tudo era uma encenação, ou se, de fato, havia
algo de errado com ele.
— Está recebendo pagamento por isso?
— Não.
— Sério? — Olhou para Luka para sua confirmação.
— Por que não?
— Foi uma ordem.
— Mas, o que acontece com seus outros deveres,
como the Gilded Room?
Olhando a Luka, Mishca simplesmente disse — Foi
realocado.
— Estou me divertindo muito — interveio Luka. —
Também poderia ser pela camiseta.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca, como sempre fazia, ameaçou Luka, quando
ele começou a desabotoar sua jaqueta, virando-se para
mostrar a Lauren a camiseta que usava, apesar dos protestos
de Mishca.
Impresso em letras vermelhas brilhantes lia-se:
"MINION DO MISHCA". Isto quase tomava toda a frente da
camiseta, e, virando-se de costas, Luka mostrou a parte de
trás. Uma cara sorridente, com estrelas nos olhos e uma
língua para fora, tinha que ser a melhor parte.
Rindo, Lauren disse — Quero uma.
— Vou queimá-la — ameaçou Mishca.
— Tudo bem, não comprarei a camiseta se fizer algo
para me ajudar. — Quando ele entrecerrou os olhos, ela
soube que ganhou.
— Trabalharei nisso. Por agora, Luka é tudo o que
tenho.

Em pouco tempo, os primeiros meses viraram seis, e


esses seis quase um ano. Sem nem sequer ter notícia de
Jetmir em todo esse tempo, Lauren deixou pouco a pouco o
medo de vê-lo na rua. Mishca, não. Ainda era tão vigilante
como sempre. E, enquanto Luka fazia outras coisas para
Mishca, não só vigiando-a, ela sempre tinha alguém por
perto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Durante este tempo, compreendeu completamente a
verdadeira rede de Mishca. Tinha gente em todo lugar.
Ao invés de aproveitar o verão — como fez desde o
início da faculdade — ela ficou na escola, tendo quinze horas
de aula extras, e outras dezoito para os semestres de outono
e primavera. Por isso, iria se formar mais cedo. Mal foi capaz
de passar tempo com Mishca, com a quantidade de trabalho
que tinha em seu último semestre, mas valeu a pena,
sabendo que, somente em umas poucas semanas, iria se
graduar, estando um passo mais perto da escola de medicina.
Dizer que estava estressada era pouco. A maioria de
suas noites passou na Biblioteca Pública de Manhattan,
estudando para preparar-se para a graduação em maio. Com
frequência, tinha xícaras vazias de café em sua frente, mas
na época de exames finais, já não era só café comum, como
também várias xícaras de expresso3.
Em uma noite em particular, consumiu tantos, que
literalmente saltava em seu assento, seu polegar tremendo.
Estava tão ligada, que sentia como se corresse, pura
adrenalina.
Eram só quatro da tarde.
Como combinou passar a noite no apartamento de
Mishca, ele veio buscá-la uma hora depois, suas
sobrancelhas subindo quanto mais se aproximava dela.
Retirando cuidadosamente o copo de seu férreo controle,
jogou-o em um lixo próximo.

3
Café mais forte
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela o olhou curiosa, sua perna ainda ricocheteando
por baixo da mesa, enquanto ele pegava sua bolsa, a visão
dele assim a fez sorrir, pois usava um de seus ternos.
— Não terminei — disse sacudindo a cabeça. —
Ainda tenho dois capítulos para repassar.
— Posso te ajudar quando voltarmos.
Realmente não lhe dava muita escolha, e não tinha
humor para brigar com ele sobre isso, apesar de sentir como
se pudesse. Recolheu seus poucos pertences deixados sobre a
mesa, seguindo Mishca para seu carro ligado.
Vlad acenou do banco do motorista, sua expressão
usualmente estoica derretendo-se quando Lauren subiu no
carro com exuberância. Mishca era mais moderado, mas era
claro que se divertia com ela.
— Quantos desses tomou? — Perguntou Mishca
enquanto partiam.
Lauren deu de ombros, agitando a mão como se não
fosse grande coisa. — Algo como dois copos.
Tentou não parecer muito orgulhosa dessa resposta,
mas estava escrito em todo seu rosto, e ele tinha a sensação
de que não lhe dizia tudo.
— Quantos expressos tinha cada um?
— Talvez três ou quatro, mas precisava deles. —
Enquanto ele deixava cair a cabeça para trás com sua
resposta, continuou rapidamente. — Não dormi muito ontem
à noite, sua culpa por sinal. Só te perguntei como a posição
era possível, não que me desse uma demonstração.
In the beginning
Volkov Bratva 3
A tosse de surpresa de Vlad fez com que Mishca
sorrisse, sacudindo sua cabeça. — Lauren, agora seria um
bom momento para parar de falar.
— Mas...
Cobrindo gentilmente sua boa com a mão, atraiu-a
para mais perto. — Talvez fosse uma boa ideia se
conseguisse dormir um pouco agora, não?
Ela balançou a cabeça, afastando sua mão. — Mas
não estou cansada. Dê-me umas três horas e estarei pronta.
Quando chegaram ao apartamento, Lauren colocou
seus livros no sofá, Mishca foi à cozinha pegar um copo de
água para ela. No momento em que retornou, embora se
passassem uns poucos minutos, encontrou-a profundamente
adormecida.

— Preciso de um favor — disse Mishca pressionando


um jogo de chaves na mão de Lauren quando chegou em casa
no dia seguinte. — Alex está em Brighton Beach4. Preciso que
vá pegá-la.
— Por que está lá? — Perguntou Lauren, olhando
para o logotipo nas chaves que segurava.

4
Brighton Beach é um bairro do distrito do Brooklyn, em Nova York.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O jogo para o Range Rover estava pendurado bem ao
lado de sua cabeça, e sem pensar duas vezes, Lauren pegou-
o, pondo as chaves do Mercedes em seu lugar. Mishca não fez
comentários sobre isto — não lhe importava o carro que
dirigisse — apenas sorriu.
— Prefiro não fazer perguntas. Leve Luka.
— Mas é só Brighton Beach.
Isso o fez olhar para ela, garantindo que visse a
seriedade de sua expressão. — Precisamente por isso que
quero que o leve.
— Você é o chefe.
Ele franziu o cenho enquanto ela saía, mas
simplesmente soprou-lhe um beijo. Luka se arrastou atrás
dela.
— Quer que eu dirija? — Perguntou, já alcançando
as chaves na mão de Lauren, mas ela pegou-as de novo,
pressionando o botão para destravar as portas.
— É obvio que não.
Olhou-a com nervosismo, e a contragosto subiu no
lado do passageiro, puxando o seu cinto de segurança. —
Devo ficar nervoso?
Ligando o carro e saindo, sorriu, embora não o
olhasse. — Absolutamente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando finalmente estacionou perto do cais, Luka
pegou as chaves do contato antes mesmo que tirasse o cinto
de segurança.
— Oh, vamos, Luka, não foi tão ruim.
Só foi pior porque Luka era um passageiro terrível, e
passou todo o tempo expressando sua opinião sobre como
dirigia. Ela poderia não ter alimentado o assunto, imitando
sua maneira de dirigir.
Ele grunhiu algo baixinho enquanto saía, já em
direção ao edifício de tijolo onde se supunha que Alex
esperava por eles. A julgar por sua expressão, não era a única
perguntando-se o que Alex fazia ali.
Elas saíram algumas vezes nos últimos meses, e
normalmente ficavam entre Manhattan e o Village5. Alex
tinha gostos caros, Lauren não a culpava por isso. Duvidava
que Mishca tivesse enviado Alex para fazer algum trabalho
para ele, e realmente duvidava que permitisse vir sozinha, o
que a deixou ainda mais curiosa.
Antes que chegassem a entrada, Alex saiu correndo,
uma sacola sobre o ombro, com brilhantes óculos de sol,
trajando um vestido reluzente que se ajustava ao seu corpo.
Se Lauren tivesse que adivinhar, ainda usava a roupa de uma
noite de festa.

5
Greenwich Village, muitas vezes referido pelos habitantes locais simplesmente como Village, é
um bairro tradicional e residencial no lado oeste de Lower Manhattan, New York
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ao contrário de seu irmão mais velho — que sempre
parecia caminhar rigidamente em público — Alex andava com
a graça de bailarina, resultado de uma longa vida de balé.
Seu cabelo também estava diferente. Embora sendo loira,
tinha várias mechas nele. Na opinião de Lauren, parecia que
procurava sair da sombra de Anya.
— Por que trouxe o musculoso? — Perguntou Alex,
Luka mal olhando enquanto ela passava lentamente por ele,
jogando a bolsa no porta-malas.
— Ordens do Mish.
— Você deve lembrar-lhe quem veste as calças em
sua relação6.
— O que fazia ali? — Perguntou Luka, enquanto
abria a porta primeiro para Alex, depois para Lauren.
— Nada que não faria, Tigre.
Ele revirou os olhos a isso, como se estivesse
acostumado que o chamasse assim. Às vezes, parecia que
irritavam um ao outro, mas outras, como esta, era como se
divertissem se provocando.
Luka obrigou ambas a sentarem no banco de trás,
indo para o assento do motorista. Nada se comparava a estar
no carro quando Luka dirigia.

6
Quer dizer que Lauren é quem manda no relacionamento.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando voltavam para casa, passaram pelo clube de
Mishca. Era a primeira vez que Lauren o via, desde o dia em
que esteve ali com o assassino albanês. E, sem querer,
pensamentos sobre isso trouxeram de volta Naomi e o que ela
lhe mostrou. Estava tão orgulhosa de suas estrelas, exibindo-
as descaradamente, sabendo o efeito que teriam sobre
Lauren.
Antes dela, nunca soube que as mulheres na vida
dos homens na Bratva podiam ter essas estrelas, e ainda não
compreendia claramente o que significavam, já que não eram
Capitães da Bratva.
Parecia muito estranho perguntar a Luka sobre isso,
e não tinha nenhuma garantia de que lhe daria uma resposta
direta. Sua única outra opção — porque não queria perguntar
a Mishca — era Alex.
— Alex, posso te fazer uma pergunta? — Ela
assentiu. — Conhecia Naomi, quando estava com Mish?
— É claro — disse Alex lixando uma de suas unhas.
— Odiava-a. Por que pergunta?
— Mostrou-me algo. As estrelas.
Estiveram na mente de Lauren por um tempo. Nunca
pensou tocar no assunto com Mishca desde o dia em que
soube delas e, conhecendo-o, ele minimizaria exatamente o
que elas significavam.
Alex a olhou pelo canto do olho, fazendo uma pausa
em suas unhas. — O que tem elas?
— O que significam exatamente?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Alex suspirou, pondo seus pés no chão. — São como
uma ordem de proteção, normalmente estendida aos mais
próximos aos Bratva — permite que os outros saibam que
não podem ser tocados e, se houver algum problema, você vai
para a pessoa que colocou as estrelas lá. — Alex deu de
ombros, como se não fosse um grande problema. — Não
posso dizer por que Mishca as deu a ela, não quando sabia a
história de Naomi.
— Qual era sua história? — Lauren não queria soar
tão desesperada como o fez, mas queria saber o que
aconteceu entre os dois.
— Só para que saiba, tenho um aniversário
chegando. Quero que se lembre de quão útil fui quando pedir
esse vestido que vi.
Rindo por ter sido pega, Lauren concordou. — É
óbvio!
— Naomi é uma ladra de joias, bastante boa pelo que
ouvi. Claro que ninguém queria me dizer nada, sendo tão
jovem como era, mas também esqueceram que eu possuía
ouvidos. Idiotas. — Ela revirou os olhos. — De qualquer
maneira, eles tinham sua pequena coisa...
— Pequena coisa? — Perguntou Lauren
interrompendo-a.
Seu rosto se enrugou. — Realmente tenho que entrar
em detalhes?
Ah, a isso se referia. — Não, continue.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— De qualquer forma, tinham sua coisa, e, se Mishca
não estivesse completamente bêbado, teria visto a cadela
furiosa que era, mas infelizmente, quando se pensa com seu
pau — isto parecia ser para Luka — não há nada que
possamos fazer para mudarem de ideia. O que é tudo isso,
afinal? Você as quer, as estrelas?
Lauren deu de ombros, na realidade não se
comprometendo a uma resposta. — Só queria saber mais
sobre elas.
— Se quiser as estrelas, exija-as — disse Alex com
um sorriso. — Ele lhe dará o que você desejar.

De volta para casa, Mishca saía do banho, com uma


toalha ao redor da cintura, outra em suas mãos enquanto
secava os cabelos. Embora tivesse razões para esperar que
terminasse, não significava que não podia apreciar a vista
enquanto isso. Mishca nunca foi tímido, não desde que
começaram a sair e ela quase se acostumava a isso. Quase.
Olhou-a nos olhos brevemente, lendo seu rosto antes
de entrar no closet para se vestir. — Teve uma boa viagem?
— Sim, foi boa. Por que Alex estava lá?
— Não tenho ideia. Não me conta nada. — Saiu,
fechando o zíper de seu jeans. — Por quê? Onde estava?
Sorriu impotente, dando de ombros. — Não saberia
dizer. Um edifício realmente grande?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Assentiu e ela não duvidava de que, se realmente
quisesse saber, poderia descobrir, mas atualmente não era
sobre isso que queria falar com ele. Se falar era a palavra
correta.
Mishca era notoriamente teimoso e, mesmo que ela
pensasse que ter as estrelas era uma boa ideia, ele poderia
não concordar, e isso só o levaria a tentar fazê-la mudar de
ideia. A melhor maneira de agir era exigir que as desse, assim
como Alex disse.
— O que é? — Perguntou, interrompendo sua linha
de raciocínio.
— Hã?
— Tem esse olhar no seu rosto quando quer algo com
o qual não estou de acordo. O que é?
Era agora ou nunca.
Colocou sua mão sobre uma das estrelas,
assegurando-se de olhá-lo diretamente nos olhos enquanto
dizia — Quero-as.
Para ser honesta, não precisava delas realmente,
sabia disso. Não era como se houvesse alguma dúvida na
mente dos outros do que ela significava para ele, mas
também lembrou a maneira que Naomi se portou quando os
albaneses vieram à cidade. Eles não foram imediatamente
atrás dela, ao invés disso, vieram atrás de Mishca.
Ela não foi sequestrada, não apanhou, não foi
ameaçada.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Com elas, Lauren esperava evitar não só o que lhe
aconteceu, mas também demonstrar a Mishca que não
fugiria. Era com ele que queria estar.
— Não podem ser retiradas — disse Mishca — a
menos que eu o faça. Coisa que, deve estar avisada, eu nunca
farei.
— Entendi.
— Não tem que fazer isto — disse Mishca, olhando
seu rosto, esperando alguma reação de que se sentia
insegura, mas parecia decidida, e não importava o que
dissesse, não mudaria de ideia.
Puxando duas cadeiras, colocou-as perto da mesa,
pegando seu kit. Não eram todos na Bratva que sabiam como
fazer as estrelas, e menos ainda os que podiam tatuar outros.
Era uma tradição que se mantinha rigorosamente, não
deixando ninguém de fora fazê-lo.
Quando ela estava sentada na sua frente, com seu
braço apoiado na mesa entre eles, ele calçou as luvas,
limpando o lugar onde poria sua marca. Mishca tinha apenas
vinte e um anos, quando tatuou as estrelas em Naomi, e era
parte dos Bratva há poucos meses, apesar de ter feito
trabalhos para seu pai durante anos. Na época, não sabia a
importância das estrelas, e o que significavam para outra
pessoa que não estivesse autorizada a tê-las. Só fez o que
Naomi lhe pediu.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Era jovem e lhe importava pouco que ela as quisesse.
Foi só mais tarde que Mishca compreendeu por que
as queria, e como isso afetaria a Bratva por causa de seu
mau julgamento.
O que fazia agora era diferente. Não foi enganado
para pôr as estrelas em Lauren, estas eram mais como um
presente. Também ajudou que copiava especificamente as
que tinha em seu peito. As estrelas de Naomi ficaram
ligeiramente alteradas — ele estava bêbado, confuso e era
surpreendente que estivessem bem-feitas — mas estas seriam
perfeitas. Ainda tinha alguns moldes das estrelas de Clorick,
o homem que fez as suas.
Agora, colocando cuidadosamente o desenho a cada
lado de seu peito, bem abaixo da clavícula, alisando para se
certificar que estavam em seu lugar. Primeiro, ela quis que
pusesse em seus punhos, mas ele a fez mudar de ideia,
sabendo que entraria no campo da medicina. Inclinou-se
para trás quando terminou o desenho, estudando sua
posição e linhas.
— Você parece feliz — disse, sorrindo para ele.
Parecia? Tinha que admitir que o enchia de
satisfação que usasse orgulhosamente suas estrelas, e saber
que ela não queria nada em troca, só fazia isso melhor.
— Isto vai doer — avisou-a, agarrando a parte
inferior da cadeira arrastando-a para aproximá-la.
— Estarei bem.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Sorriu. É obvio que estaria. Ligando sua máquina,
inundou-a na tinta, voltando-se para ela, fazendo uma só
linha, esperando para ver se era capaz de lidar com a dor
antes que continuasse. Ela assentiu e começou, sem pressa
enquanto fazia seu trabalho. Foi muito atento, conforme
terminava a primeira estrela, vendo suas reações para saber
como se sentia.
Lauren mal fez um som.
Em pouco tempo, a primeira estrela estava feita, a
pele ao redor de um vermelho ardente. Desligando a
máquina, limpou-lhe gentilmente, esfregando pomada por
cima enquanto observava seu rosto.
— Como foi?
— Os primeiros dez minutos não foram tão difíceis,
mas estive planejando sua morte pelos últimos vinte e cinco.
Ele riu, sacudindo sua cabeça. — Entretanto, não foi
tão ruim, não?
Ela zombou, fazendo uma careta enquanto girava seu
ombro. — Porra, se não foi. E as que tem em seus joelhos?
Você é insano.
Embora nunca admitisse isso para ela, quando as
estrelas foram tatuadas em seu joelho doeu muitíssimo, com
o osso lá, foi dez vezes pior.
— Mais uma.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela respirou profundamente, assentindo para que
continuasse. Ele terminou com a mesma rapidez e, quando se
sentou de novo para observar seu trabalho, não pôde conter o
sorriso que se abriu em seu rosto. Era como um lembrete
visual que ela era sua, e qualquer um que se atrevesse a lhe
fazer mal enfrentaria a fúria de toda a Bratva, não só de
Mishca.
Desligando a máquina, guardou-a e limpou
cuidadosamente o excesso de tinta, antes de passar pomada
sobre ela. Tentou disfarçar — embora estivesse claro através
da máscara — mas estava orgulhoso de ter estas estrelas
nela.
Durante vários momentos se limitou a observá-las,
como se fosse a primeira vez que as via. Finalmente a olhou,
ainda sorrindo enquanto tirava as luvas.
— Pronta para vê-las?
Ela assentiu, aceitando sua mão para ajudar a se
levantar e ir ao banheiro. Moveu-se atrás dela, suas mãos em
seus quadris enquanto olhava sem pressa seu reflexo.
Lauren não olhou imediatamente, preparando-se
para o que veria.
Não se decepcionou.
Enquanto sua pele estava avermelhada e irritada, as
estrelas de Mishca pousavam graciosamente abaixo da
clavícula, parecia ainda mais belo, já que ele estava atrás
dela. Fez um ótimo trabalho, colocando as suas quase no
mesmo lugar onde as dele foram tatuadas.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Eu gosto — disse Lauren. — Suponho que me tem
presa.
Ele se inclinou, beijando carinhosamente o ponto
abaixo da orelha. — Você nunca teve uma opção.
In the beginning
Volkov Bratva 3

O auditório estava cheio de gente, mas isso não


importava para Lauren, já que passou a maior parte da
cerimônia procurando entre todos, por sua família. Como seu
sobrenome estava no final do alfabeto, tinha muito tempo
para olhar.
Quando começaram a chamar a sua fila, quase
perdeu a esperança de encontrá-los. À medida que
atravessavam o corredor, Lauren viu alguém fazendo gestos
no ar. Todo mundo olhava para a pessoa que gritava e se
agitava de maneira irritante, mas ela só podia rir de suas
travessuras.
Isto, absolutamente, era uma das razões pelas quais
amava Luka. Era tão estranho.
Com ele alegremente fazendo um espetáculo de si
mesmo, Lauren encontrou todos os outros que o rodeavam,
inclusive ele recebeu um relutante sorriso de Ross, que
sacudia a cabeça ante seu comportamento.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca estava sentado na frente deles e, quando seus
olhos se encontraram, um enorme sorriso iluminou o rosto
dele. Ela acenava quando escutou o sutil som de alguém
limpando a garganta atrás dela.
Voltando a prestar atenção, ela seguiu a fila de
pessoas à sua frente para o palco, todo o seu corpo trêmulo
de nervoso enquanto esperava seu nome ser chamado. Anos
de trabalho, só por esses ínfimos minutos, e o frágil papel em
suas mãos... mas tudo valeu a pena. E mesmo sendo apenas
um passo, estava mais perto do sonho que significava tanto
para ela.
Instintivamente, tocou o colar pendurado em seu
pescoço, escondido debaixo do vestido. Podia sentir também
como se sentiria por ela. Por mais que isto fosse para ela,
também era para ele.
Quando a chamaram, Lauren respirou
profundamente, levantou seu traje de graduação, para evitar
tropeçar ao andar — não haveria nada mais embaraçoso que
cair de cara no chão em frente a centenas de pessoas.
Tentou secar discretamente o suor de sua mão antes
de estendê-la ao decano, em seguida, aceitou seu diploma da
mulher que estava ao lado dele. Duvidava que isto tivesse
levado mais que alguns minutos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren voltou para seu assento, aplaudindo como
todos os outros quando os últimos nomes foram chamados.
Ao final da cerimônia todos os graduados retiraram o capelo,
jogando-o ao ar, enquanto todos comemoravam.
Lauren observou o dela se agitar, virando-se sobre a
ponta antes de cair no chão, entre um mar de outros.
Eles conseguiram.
Quando Lauren percorreu a multidão de estudantes
e suas orgulhosas famílias, tirou seu telefone, pronta para
chamar Mishca e descobrir onde estavam, mas então viu
Susan e Ross, que a esperavam afastados, com seus olhos
iluminados e sorrisos contagiantes em seus rostos quando
correu para abraçá-los.
Chegaram no dia anterior e se hospedariam no hotel
Waldorf por algumas noites. Mishca ofereceu-se para recebê-
los, mas Ross recusou terminantemente. Conhecendo
Mishca, provavelmente o fez somente porque Lauren os
queria junto a ela.
Primeiro abraçou Susan, beijando ambas as
bochechas antes de fazer o mesmo com Ross, que a levantou
e girou a seu redor.
— Trouxemos um presente para você — disse com
orgulho, enquanto lhe entregava uma bolsa com um urso de
pelúcia com capelo e balões.
— Obrigada. Estou tão feliz que vieram.
— Não perderíamos isto por nada no mundo —
Susan interrompeu. — Não se preocupe, ele já está vindo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren corou, sentindo-se culpada por ser tão
evidente na procura por Mishca e os outros. — Ele te contou
sobre a festa desta noite? — Perguntou, tentando obter
qualquer informação que pudesse.
Sabia que Mishca planejava algo especial para sua
formatura, mas não fazia nem ideia do que era, e ele não quis
compartilhar qualquer detalhe também.
— Estamos sob ordens estritas de não revelar nada
— disse Susan, estendendo sua mão para alisar o cabelo de
Lauren sobre seus ombros.
Não acreditava que quaisquer outros pais no mundo
parecessem tão orgulhosos como Susan e Ross, que tomaram
o diploma de sua mão para olhá-lo, sorrindo um para o outro.
Lauren estava feliz por ser a causa desses sorrisos.
— Ei, ei!
Mishca, Luka, Alex e Amber vinham em direção a
eles. Mishca revirando os olhos ante o arrebatamento de
Luka.
— Quem é ele? — Perguntou Ross, claramente
referindo-se a Luka.
— Luka é meu guarda-costas. — Pensou que isso
soava melhor que dizer que era um executor de Mishca.
Duvidava que Ross gostasse de Mishca, mas desde que
chegaram, pelo menos tentava ser cordial.
— Tem um montão de tatuagens, não? — Perguntou
Susan. — E é um pouco... estranho.
Lauren só podia rir. — Isso é somente a metade da
história.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não importava que ela viu Mishca algumas horas
antes, ainda reagia como se fosse a primeira vez. Ele veio, e
apesar do gélido olhar de Ross, ela ficou ao seu lado,
envolvendo um braço ao redor de sua cintura. No mínimo, a
relação entre eles piorou desde a última vez que se
encontraram graças ao telefonema de Lauren para sua casa,
logo depois do que aconteceu com Brahim.
Susan estava disposta a deixar Mishca lidar com
isso, mas Ross ainda era um policial até a medula. Depois de
um rápido abraço e parabéns, Amber foi falar com Susan, e
foi a única a conseguir um sorriso genuíno de Ross.
Alex foi para o lado com Luka, ambos discutindo em
voz baixa, como se não notassem que tinham audiência.
Logo depois que Lauren advertiu-os disso, Luka
virou, presenteando-a com uma brilhante e verde maçã, que
parecia recém-colhida de uma árvore. — Para você.
— Obrigada, Luka. — Um dia ela iria chegar ao fundo
de sua obsessão com frutas. — Minha mãe estava curiosa a
seu respeito.
Ele endireitou-se, ficando assim ainda mais alto. —
Vou tentar não te envergonhar — disse enquanto acariciava
sua cabeça, logo passando diante dela.
— Por que vocês dois discutiam? — Perguntou
Lauren a Alex, em seu ouvido.
— Porque é um idiota.
— Acredito ter ouvido isso antes, mas vou deixar você
lidar com ele. Conheceu minha mãe e Ross?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren tentou levá-la e apresentar-lhes, mas Alex
ficou imóvel, olhando-os, envergonhada.
— Tem certeza que é uma boa ideia? — Perguntou
num sussurro, olhando para a ponta de seus sapatos.
— O que quer dizer?
Alex se balançou de um pé a outro, parecendo
preocupada, como se quisesse estar em qualquer lugar,
menos ali.
— Sou a razão pela qual...
— Não, não é — Lauren falou antes que sequer
pudesse terminar — Nunca culpei você, sequer uma vez e
duvido que eles o façam. Não precisa ficar incomodada.
— Mamãe, Ross, esta é Alex, a irmã de Mishca...
Alex, estes são meus pais.
Susan não perdeu o tempo e abraçou Alex
calorosamente, que ficou surpresa. Lauren quase podia ver
como a tensão diminuía, enquanto Mishca permanecia a um
lado em silêncio.
— Luka te levará de volta — disse Mishca enquanto
Susan e Alex continuavam falando.
— Que não leve muito tempo — disse Ross com olhos
entrecerrados. — Sei onde vive, moço.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Riverpark7, na Baía do Kip, foi um dos muitos
restaurantes que Lauren desejava ir desde que chegou a Nova
York. Quando Mischa perguntou, Lauren fez uma lista, e
precisou apenas um único telefonema para reservar o pátio
do restaurante para a noite. Os funcionários decoraram o
espaço para que ficasse ainda mais mágico do que já era,
acrescentando a vista que o East River oferecia.
Toda a festa acontecia como planejado, até que
Lauren tirou o casaco e seu vestido deslizou com o
movimento, revelando uma das estrelas tatuadas em sua
pele.
Dizer que Ross não levou bem, era um eufemismo.
Tinha certeza que o copo que segurava quebraria
pela força de seus dedos. Encolhendo-se ligeiramente, Lauren
se endireitou, escondendo as estrelas, mas era tarde demais.
Surpreendentemente, Ross não reagiu, mas sua
expressão dizia que o faria ante a menor provocação.
O jantar transcorreu tranquilamente, considerando
tudo, e se não fossem os guardas sentados a seu redor,
poderia ser um jantar em família.

7
In the beginning
Volkov Bratva 3
Enquanto comiam, debaixo da mesa, a mão de
Mishca permaneceu na parte de sua coxa nua que se
sobressaía do vestido, como o fez tantas vezes. Era difícil
concentrar-se em qualquer outra coisa quando seu polegar
acariciava sua pele. Não que ele fizesse de propósito, já que
conversava com os outros, mas isto era a única coisa no que
podia se concentrar.
— Eu já volto — disse Mishca, em um momento,
pressionando um rápido beijo em sua têmpora.
Não o questionou, mas olhou seu trajeto pelo
restaurante fazendo uma linha reta para o bar.

Enquanto Lauren se preocupava, Mishca levou um


momento para apenas observá-la. O jeito que ela sorriu
quando falou suavemente com Amber, como seus olhos se
iluminam com humor quando Luka contou uma piada, e
como, mesmo quando ele prometeu voltar em breve, seu
olhar ainda o procurava no meio da multidão. Todas essas
coisas eram a razão pela qual queria que isto funcionasse.
Disse especificamente a Vlad e seus homens de
segurança que estivessem ali essa noite com ela, sabendo que
quando ele se aproximasse de Ross, provavelmente levaria
um murro na cara pelo que perguntaria. Mishca gostava de
pensar que, se estivesse no lugar dele, seria mais
compreensivo se sua filha quisesse estar com um conhecido
In the beginning
Volkov Bratva 3
criminoso, mas, novamente, se tivesse uma filha, seria o pai
mais superprotetor do mundo.
Mishca chamou o garçom, precisando um de gole de
vodca, enquanto esperava Ross sair do banheiro. Essa foi a
única oportunidade que conseguiu de estar a sós com o
detetive, e mesmo que pudesse ter perguntado por telefone,
onde a probabilidade de ser golpeado seria baixa, faria isso
frente a frente, gostasse Ross ou não, porque não era um
covarde.
Enquanto estava mergulhado em seus pensamentos,
Ross veio andando, seus olhos focados na festa. Mishca
tomou um gole de sua bebida, que desceu queimando sua
garganta, e logo pigarreou para chamar a atenção de Ross.
Essa foi a primeira vez em muito tempo — além de
com Lauren — que Mishca se sentia nervoso.
Ross não parecia feliz, mas parou quando Mishca se
aproximou dele, seu cenho franziu ainda mais quando o viu
tocar o bolso da camisa. Fez aquilo várias vezes durante o
jantar, mas Ross foi o único a notar.
— Fez isso toda a noite, que porra está escondendo?
— Perguntou Ross desconfiado.
Só ele perceberia que Mishca fazia isso e, na verdade
lhe chamaria a atenção sobre o fato. — Tenho uma pergunta
para lhe fazer.
— Sim? Bom, então faça.
— Eu sei que você não gosta muito de mim...
— Não gosto nada.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele quase sorriu. — Mas Lauren e eu estamos sérios
e eu... — hesitou, limpando a garganta. Ross olhou em
expectativa enquanto Mishca tentava lembrar se era destro
ou não. Decidindo que não importava, qualquer das duas
mãos doeria, finalmente disse as palavras — Queria te pedir a
mão de Lauren em casamento.
Ross ficou em choque por uns segundos, enquanto o
olhava, pensando que fosse uma brincadeira. Quando não
riu, inclinou-se e deixou cair seu pesado punho sobre ele, as
pessoas que observavam deram um grito de surpresa,
chamando a atenção. Mishca se endireitou e, em silêncio,
levantou a mão para seus homens, que já se aproximavam.
Entretanto, não podia deter Susan.
— Que droga há com vocês? — Perguntou em um
sussurro, olhando ambos. — Devem estar contentes de que
Lauren não viu isto.
Mishca tocou o rosto, fazendo uma careta quando a
dor o percorreu. Porra, isso deixaria uma marca. Ross parecia
muito zangado por suas palavras.
— Pedi-lhe a mão de Lauren.
— Não posso... Oh! — Ela parou, entendendo o que
Mishca dizia. Tentou manter seu rosto sério, mas em sua
boca aparecia timidamente um sorriso. — Thomas, falamos
sobre isto. Concordamos em não interferir.
— Bem, não vou dar minha bênção em algo que não
estou de acordo e, definitivamente, nunca concordarei em ter
um Volkov em minha família.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca o entendia, mas isso não lhe impediu de
perder a paciência. — Eu não sou meu pai.
— O caralho que não é. Olhe no que você a colocou
desde que ela esteve aqui. Porra, albaneses... e, merda,
nunca estará segura contigo.
Susan o fez calar, notando que ainda eram o centro
das atenções, apesar de falarem em voz baixa.
— Não leve isso em consideração — disse Mishca
tentando manter a calma. Se a perdesse, nunca conseguiria
suas bênçãos, ou que Ross particularmente concordasse. —
Eu a protegeria com minha vida, não tenha nenhuma dúvida.
Mesmo se Ross não soubesse o que isso significava,
Susan sim. Mishca sabia que nunca poderia conquistá-lo,
mas ela era outra história. Nunca disse, mas acreditava que
tinha uma queda por ele.
— Conheci seu pai — disse Susan — e conheci sua
mãe. Não importa quão breve foi, mas vejo mais dela em você,
que de Mikhail Volkov. Mas o mais importante é que ama
Lauren e sei que ela te ama. Se você é o que a faz feliz, não
vamos ficar no seu caminho — mas ela não terminou ainda,
notando o sorriso triunfante dele — porém, a partir de agora,
eu quero alguém com ela quando você não estiver por perto.
— Isso já foi feito — prometeu-lhe.
Assentiu, parecendo aliviada. Ross só parecia mais
furioso.
— Eu te odeio — disse com amargura.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca olhou ao homem fixamente e disse — isso
pode ser verdade, mas seu amor por ela ofusca seu ódio por
mim.
— Quero falar com Lauren, primeiro — disse Ross,
com o olhar fixo nas janelas. — Responderei a você depois.
Mishca não teve outra escolha a não ser ficar ali com
Susan, e ver Ross se afastar com seu destino em suas mãos.

Lauren estava apoiada na grade com uma taça de


champanhe rosé na mão, enquanto olhava para a noite,
notando como era linda a ponte de Manhattan quando
iluminada corretamente, mas absolutamente tudo a respeito
desta noite parecia mágico. Não podia descrevê-lo.
Pela primeira vez em sua vida, tudo parecia estar no
lugar. Todo mundo que ela amava estava aqui, e não podia
lamentar os acontecimentos que a levaram até este ponto.
— Aí está minha garota.
Lauren sorriu, virando-se ao som da voz de Ross. Ele
parecia tão orgulhoso, as linhas de seus olhos se enrugando
com seu enorme sorriso. Parou atrás dela, olhando a água,
como ela fez momentos antes.
— Como se sente?
Ela riu. — Indescritível. Não parece real ainda.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— E ele é a quem você quer? — Perguntou
calmamente Ross, como se estivesse com medo de sua
resposta.
Sabia que nunca aprovaria Mishca, não só pelo que
aconteceu consigo, mas também pelo que era e representava.
Ross passou sua carreira pondo homens como ele atrás das
grades. Lauren entendia isso, mesmo amando Mishca com
todo seu coração.
— Sim — disse finalmente, olhando-o. — Ele é.
Ross tomou o resto de sua bebida. — Então não
posso me meter em sua vida.
— Ross...
— Não, não, deixe-me terminar. O que falei antes,
disse sério. Posso te advertir pelo perigo que está
enfrentando... merda, você sabe quão perigoso é, mas não me
serviria de nada. Nós queremos que seja feliz.
Colocando sua taça sobre o corrimão, ela envolveu os
braços a seu redor, abraçando-o fortemente. — Obrigada.
Quando se afastou, acreditou ver lágrimas nos olhos
dele.
— Posso te dar um pequeno conselho?
Ela assentiu.
— Negação plausível. Tenho certeza de que aquele
menino ali já sabe que não te deve dizer nada sobre seus
negócios, mas eu lhe direi isso. Não faça nenhuma pergunta.
Quanto menos souber, melhor. Romperia o coração de sua
mãe se fosse presa.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— E Deus sabe o que poderia me acontecer lá. — Riu
quando ele a olhou. — Não, mas te escuto, Ross.
Ele beijou sua testa. — Bom. — Suspirou longa e
profundamente, um pouco derrotado, embora Lauren não
soubesse por quê. — Deixe-me ir procurar sua mãe.
Ele desapareceu no restaurante, mas Lauren pode
vê-lo falando com Mishca. O que quer que disse, Mishca
assentiu, depois os dois desapareceram de sua vista.
Agora, Lauren estava realmente curiosa. Finalmente,
encontrou Mishca no meio da multidão, caminhando para
ela, mas em vez da expressão despreocupada que viu em seu
rosto por toda a noite, agora parecia realmente nervoso.
Segurava cuidadosamente uma caixa de presente,
envolta com uma fita de prata brilhante em cima. Ela deveria
saber que, apesar do que lhe disse, ele faria o que quisesse.
— Pensei que tínhamos dito sem presentes — disse
Lauren enquanto tentava olhar como punha o bracelete em
seu pulso, tão logo pôde encontrar sua mão.
Alguns meses atrás, ele o pegou de volta, dizendo que
poria outro pingente nele, mas eventualmente se esqueceu de
que ainda o tinha.
— Antes que olhe — disse Mishca olhando em seus
olhos, fechando sua mão em seu pulso gentilmente. —
Preciso te dizer algo primeiro.
Insegura do que seria, ela simplesmente assentiu.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Nunca falamos a respeito da noite em que foi ao
clube e eu não estava lá. Quando voltei, vi o telefone de
Naomi no chão e soube o que provavelmente estaria
pensando, mas não me encontrei com ela aquela noite, ou
qualquer outra. O aparelho foi deixado naquele dia que você
viu Naomi com Luka ali. Deixou-o cair quando saiu.
Seu polegar deslizou sob os elos da pulseira,
acariciando a parte inferior sensível de sua pele, onde seu
pulso se acelerava. — Não pensei muito nisso, mas
analisando a cena de novo... apenas não quero que tenha
uma ideia equivocada.
Lauren sorriu. — Mish, não importa agora. Está no
passado.
— Ainda não, só... me dê um minuto para explicar. —
Ele parecia ansioso, e ela começou a se preocupar com o que
o incomodava tanto. — Na noite que ela foi até lá, eu estava
na mansão, olhando o conteúdo de umas velhas caixas que
estavam no sótão, que é onde meu pai mantém as coisas
antigas de minha mãe. Achei que voltaria em menos de uma
hora, mas levou mais tempo do que esperava.
Mishca não divagava. Era sempre muito cuidadoso
com a forma como falava. Mas, fazendo-o agora, estava
ansiosa.
— Mish, o que está tentando falar?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Tenha paciência — disse com uma risada
incômoda. — Tem que escutar toda a coisa e, acredite ou não,
estive praticando isto. Tem alguma ideia da quantidade de
coisas que há lá? — Perguntou de repente. — É como um
maldito museu e...
— Mish...
— Certo. De qualquer maneira, precisava encontrar o
que procurava para esta noite. Por minha vida, não posso te
dizer por que tinha que ser essa noite, mas me recusei a sair
até que o achasse. Finalmente, depois de duas horas abrindo
caixas, encontrei-o. — A expressão confusa em seus olhos
sumiu, agora se enchendo de vergonha. — Eu estava no carro
dirigindo de volta quando tentei ligar para você. Sinto muito
por deixar que isto te acontecesse.
— Não foi sua culpa — disse-lhe, sussurrando cada
palavra.
Nunca se incomodou em lhe perguntar, porque sua
presença ali não teria feito qualquer diferença para o albanês
que foi atrás de Naomi. Ela só estava no lugar errado na hora
errada.
— Deveria ter tido mais cuidado. Não pensei
suficiente em seu bem-estar antes. Não é que não tenham me
avisado, apenas pensei que, se mantivesse você longe de
tudo, não tentariam chegar a mim através de você. Por isso,
me perdoe.
Agora, realmente não tinha nem ideia de onde ele
queria chegar. Quase parecia que estava se preparando para
terminar com ela.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Mish, o que está tentando me dizer?
— Eu te amo — disse num só fôlego, como se
estivesse contendo seu nervosismo — e me comprometo a não
deixar que nada disso aconteça de novo, não enquanto estiver
comigo. — Sua mão deslizou por seu pulso, unindo suas
mãos às dela, apertando-as firmemente. — Acredita nisso?
— Sim, é obvio.
— E confia em mim?
— Mish, sim, mas...
— E me ama?
Então notou que se afastava ligeiramente dela, seus
olhos focados diretamente em seu rosto. Nesse momento,
soube. Sabia exatamente qual era a seguinte pergunta.
— Sim, amo você — disse de novo, vendo como se
apoiou em um joelho.
Seu coração batia dez vezes mais rápido, ao vê-lo
ajoelhado diante dela. Tudo a seu redor estava absolutamente
silencioso, soube, então, que os olhavam, mas não se
importava, não agora.
Um pequeno sorriso apareceu no canto de seus
lábios enquanto encolhia os ombros e lhe perguntou — Ty
vyydesh' menya — Quer se casar comigo?
A forma que propôs tão inocente foi o que a fez rir
sinceramente, sem nem se incomodar que já tivesse
começado a chorar. Ele soltou sua mão direita, a mesma em
que pôs a pulseira e, em um dos elos havia um lindo anel de
diamantes, com um único solitário no centro.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren encontrou seus olhos e viu a vulnerabilidade
que tentava esconder. Nunca houve uma dúvida em sua
mente sobre o que diria — Sim, sim, eu vou casar com você.
O maior e mais brilhante sorriso iluminou seu rosto,
abraçou-a e a levantou, girando com ela, quando todos
aplaudiram. Não podia dizer quem sorria e torcia mais
intensamente entre Amber e Alex, seus gritos de emoção
unindo-se ao dos outros.
Finalmente, Mishca a pôs no chão, sorrindo como se
fosse o homem mais feliz do universo. Ela ficou na ponta dos
pés e o beijou, e não podia dizer qual dos dois era mais feliz.

A noite foi chegando a seu fim, de uma maneira que


Lauren não previu, a dinâmica entre eles mudou. Sentiu-o
tão logo os aplausos terminaram, e Mishca se afastou o
suficiente para ela recuperar o fôlego. Em seus olhos viu uma
crua necessidade, que a fez corar.
A partir desse momento, Mishca segurou sua mão,
nunca deixando que saísse de seu lado. Todo mundo pensou
que era só por seu noivado surpresa, mas o conhecia melhor
que isso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
No momento que finalmente saíam do restaurante,
subindo na Range Rover — que ele conduzia frequentemente
agora, já que era a favorita dela — Lauren estava mais que
pronta para chegar em casa. O tráfego era tão impressionante
como costumava ser, e ao invés de manter ambas as mãos no
volante, Mishca mantinha uma sobre sua coxa nua.
Provavelmente, não queria dizer nada com isso, já
que o fez muitas vezes no passado, mas no ânimo em que
estava, o calor de seu toque a esquentou completamente. Às
vezes esquecia quão perceptivo era com ela, assim quando se
moveu no assento do passageiro, ele separou seus dedos um
pouco mais, para ocupar mais espaço, com seu polegar
acariciando a parte de trás de sua coxa.
Mishca nem sequer a olhava para saber o efeito que
tinha sobre ela.
Lauren entrecerrou os olhos nele, sabendo que
brincava com ela, mas dois podiam fazer esse jogo. Afinal, ele
lhe ensinou a melhor maneira de agradá-lo.
Mas esse não era o verdadeiro objetivo. Não, queria
fazê-lo sofrer.
Pôs sua mão sobre a dele, quase podia vê-lo olhando-
a pelo canto do olho, então, lentamente deslizou sua mão sob
a barra de seu vestido, abrindo suas pernas apenas o
suficiente, para que pudesse sentir a renda úmida que cobria
seu sexo.
Lauren queria rir em triunfo, pela forma como sua
mão apertou o volante até que seus dedos ficaram brancos,
ou até mesmo como amaldiçoou em voz baixa.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas ele não acelerou como pensou que o faria, tomou
seu tempo.
Com dedos ágeis, deslocou a lateral de sua calcinha,
procurando-a com seus dedos. Não tinham muito espaço
para fazê-lo, mas Mishca estava determinado. Com um
pequeno empurrão, silenciosamente ordenou-lhe que abrisse
ainda mais suas pernas, e ela não teve escolha a não ser
obedecer.
Foi difícil para ele, tentando prestar atenção à
direção e a ela, e Lauren achou sua crescente frustração
divertida, mas não por muito tempo.
Pararam bruscamente em um sinal vermelho, e
Mishca puxou-a rapidamente para seu colo, apesar de seu
espaço limitado. Ele estava dolorosamente duro, ela podia
sentir seu comprimento através de suas calças.
As mãos dele se enredaram em seu cabelo, sua boca
a beijou ferozmente. Ela dava tanto como conseguia, moendo
seus quadris contra ele.
Lauren agarrou seu cinto, quase no mesmo momento
em que ele empurrou a saia de seu vestido, pronto para
rasgar sua calcinha, mas o sinal abriu e a insistente buzina
do carro atrás deles — apesar do carro poder passar ao redor
deles — pôs Lauren de volta a seu assento, rindo baixinho
quando Mishca pôs o carro em movimento, dirigindo quase
com excesso de velocidade para sua casa.
— Alex não vem para cá? — Perguntou Lauren no
caminho de volta ao apartamento, tirando seus saltos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Disse que queria passar mais tempo com um
amigo.
Sorrindo, Lauren o encarou. — Ou talvez disse a ela
para te dar a noite?
Ele encolheu ombros. — Não com essas exatas
palavras.
Sabendo que estariam sozinhos, notava a tensão no
ar, que fez Lauren prender a respiração quando Mishca a
olhou. Não se sentia como ela mesma quando ele a olhava,
sentia-se como mais.
Caminhou diante dele ao sair do elevador, abrindo a
porta. Olhando por cima do ombro para lhe sorrir. A
curiosidade iluminou seu olhar enquanto a seguia, fazendo
uma pausa para fechar e trancar a porta.
Lauren o esperou, enquanto passava a mão pelas
costas, apalpando o puxador do zíper, que baixou com
facilidade. Os olhos dele deslizaram por ela mal o vestido caiu
a seus pés.
Pelo olhar em seu rosto, agradeceu a visita que fez a
boutique com Amber. Enquanto se sentava na beirada da
mesa, fez-lhe um gesto para que se sentasse na cadeira em
frente a ela.
Uma vez que se sentou, ela se inclinou para frente,
desfez o nó de sua gravata-borboleta, vendo-o sorrir
lentamente. — Pensei em você quando comprei isso — disse-
lhe, quando deixava a gravata cair no chão, desabotoando
sua camisa.
— Não estou decepcionado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando foi para frente, tentado puxá-la para mais
perto, ela pôs o pé em seu peito, pressionando apenas o
suficiente para conseguir o que queria.
— Ainda não — ela disse, mas tinha um ar de desafio
em seu tom de voz que ele captou imediatamente.
Envolvendo o tornozelo dela com seus dedos, ele
virou o pé ligeiramente, beijando seu dorso. — Não quer jogar
esse jogo, Lauren — disse enquanto a segurava.
— E se quiser?
Com uma ridícula facilidade — não que ela
dificultasse — ele ficou de pé, movendo-se entre suas pernas,
apoiando as mãos sobre a mesa a cada lado de seus quadris.
Podia senti-lo contra si, duro e pronto.
Em seguida sua mão estava em seu cabelo, os fios
em volta do seu punho quando ele a puxou para trás,
obrigando-a a olhá-lo. — Antes que isto termine, farei você
implorar.
Suspirou, tentando não parecer afetada, embora todo
seu corpo se contraia com vontade. — Promessas, promessas
— disse.
O sorriso dele era brilhante, seus olhos se
iluminaram de excitação. Soltou-a somente o tempo
necessário para despir-se. Quando chegou a ela novamente,
manteve suas mãos percorrendo seu corpo, nunca parando
em um lugar, enquanto beijava, com sua boca quente, do
pescoço aos lábios, mordendo suavemente o inferior.
Terminou o beijo só quando ela se agitava ligeiramente,
silenciosamente implorando por mais.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas isso não foi o suficientemente para ele.
— Mostre-me — ordenou.
O coração de Lauren corria a mil por hora, seus
pensamentos se dispersando, enquanto obediente e
timidamente, abria suas pernas para ele. Era diferente, como
foi quando invadiu seu apartamento depois da conversa sobre
Naomi.
Tomou seu tempo olhando-a, enquanto sua mão
avançava por sua coxa. Ela não podia deixar de olhar sua
mão subindo lentamente, a antecipação de senti-lo onde mais
precisava dele deixando-a desesperada para chegar mais
perto.
— Estas têm que ir — disse em voz baixa, rasgando
fortemente suas inúteis calcinhas com ambas as mãos.
Poderia ter tomado somente uns segundos sair delas,
mas obviamente esses segundos eram muito longos para ele.
Mishca não perdeu mais tempo, tocando-a intimamente, seus
dedos deslizando entre suas dobras enquanto esfregava
acima e abaixo, arrancando gemidos dela.
Abriu suas pernas um pouco mais, finalmente
introduzindo somente um dedo dentro dela, logo outro. Todo
o tempo olhava seu rosto, sua outra mão segurando seu
cabelo. — Daria tudo para que me olhasse assim cada noite
— disse-lhe em um suave sussurro, deslizando seus dedos
dentro e fora.
O que viu em seus olhos... não conseguia desviar o
olhar, mesmo quisesse. — Que olhar? — Perguntou.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Como se precisasse disso, como se somente eu
pudesse dá-lo, não tem ideia do que isso me faz.
Ele estava tornando difícil para ela falar, o que dizia,
a maneira em que tentava fazê-la chegar ao orgasmo.
— Preciso de você, Mish. Sempre. — E realmente
queria dizer essas palavras, mais do que somente por esse
momento.
—Você me tem.
Tomou seus lábios de novo, tirando-lhe o fôlego com
sua urgência, aproximando-a mais do limite, mais rápido do
que tivesse imaginado.
Suas pernas tremiam quando finalmente gozou, mas
ainda podia sentir a urgência nele, quando a levantou
girando-a para que estivesse de frente para a mesa. Podia
sentir sua ereção lutando contra o tecido de suas calças, e ela
se moveu para trás para pressionar contra ele, sorrindo de
satisfação por seu grunhido de aprovação.
Com uma mão suave, mas firme, pressionou-a até
que seu estômago estivesse apoiado sobre a mesa e sua
bunda, perpendicular a seu corpo. O calor de sua palma
queimou-a quando percorreu suas costas parando na nuca.
O som do zíper de sua calça soou incrivelmente alto
em seus ouvidos. Nos poucos segundos em que não o sentiu
contra ela, girou sua cabeça para poder vê-lo. Ele tirava o
resto da roupa.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Depois de uns segundos de tortura, suspirou ao
senti-lo de volta atrás dela. Mishca se posicionou em sua
entrada, introduzindo apenas a cabeça, contendo o impulso
de se meter total e imediatamente dentro dela. Não importava
como ela tentou se mover, ele não avançaria mais até que
estivesse pronto.
Nem sequer se preocupou com um preservativo, já
que falaram a respeito — e ele lhe deu todos seus exames
médicos, se estivesse preocupada.
Ela tentava respirar normalmente, esperando,
sofrendo para que prosseguisse, mas ele se limitou a calar
seus suaves gemidos, tirando-a quase totalmente da mesa até
que eles estavam encostados por inteiro.
Sua língua riscou seu lábio inferior, enquanto se
introduzia mais dentro dela. Nem sequer estava
completamente em seu interior, mas as pernas dela tremiam,
não pensava em nada e se concentrava somente nele.
Ela estava de costas à sua frente, seu corpo sólido
atrás dela. Nesta posição se sentia vulnerável, como se ele
fosse quão único a estivesse sustentando e apoiando.
A pior parte, é que ainda não se movia.
Depois de introduzir-se totalmente dentro dela, ele se
manteve firme e imóvel, apesar do bem que se sentia ela se
recusou a fazer o que ele queria: implorar.
— Vamos ficar aqui a noite toda — sussurrou em seu
ouvido, e ela podia ouvir o sorriso em sua voz.
Apertou os dentes, tentando mover a si mesma, mas
ele imobilizou seus quadris com uma mão.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Você não faria isso.
— Provoque-me.
Ela abaixou a cabeça, respirando profundamente
quando ele apertou seus quadris contra ela, dando-lhe uma
prova de como seria se o obedecesse. Queria esperar um
pouco mais, para ver se resistia ficar assim, mas sua
necessidade dele era muita.
— Por favor, Mish...
Foi um simples sussurro, mas suficiente para que
começasse a se mover. Moveu-se fora dela, até que somente a
ponta de seu pau estava dentro e logo se empurrou
novamente nela, sua umidade tornando isso mais simples.
Mishca não foi gentil com ela, era raro que fosse,
desde aquela noite em seu apartamento uns meses atrás
depois de brigarem por causa de Naomi. Tinha razão em uma
coisa, Mishca esteve se contendo com ela, nas demais coisas
também, não só nisso, mas uma vez que lhe pediu —
praticamente ordenou — não o fez mais.
Ela teve o que pediu.
Ele levou sua mão com a dele ao seu seio, apertando-
o possessivamente, enquanto lhe dizia ao ouvido — Diga-o.
Exalando, queria seguir suas ordens, sabendo
exatamente o que lhe exigia dizer, mas a maneira como ele
estava ao seu redor e dentro dela, era impossível formar um
pensamento coerente, não até que suas investidas se
desaceleraram, deixando-a mais consciente dele.
— Diga — exigiu novamente, com a mão em seu
cabelo puxando um pouco mais forte.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Sou tua.
Foi o suficiente. Era o que ele precisava.
Aliviou o agarre que mantinha nela, obrigando-a
novamente a estar contra a mesa, suas mãos foram para seus
quadris, puxando para trás, para satisfazer seus impulsos.
Lauren não podia pensar em só uma palavra para
tentar descrever o que sentia nesse momento, do toque de
suas mãos sobre ela, as palavras saindo de seus lábios,
mesmo a maneira que tremia a cada investida.
Mas quando a mão dele deslizou por suas dobras,
sentiu como se caísse sobre a borda de algo, e ele
rapidamente a seguiu.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Alex estava à mesa na manhã seguinte, comendo


uma tigela de cereal quando Lauren saiu do quarto. Não era
tanto que estivesse comendo ali... mas o lugar onde estava
sentada.
De todos os lugares, tinha que sentar-se na
extremidade da mesa?
Notando-a, Alex levantou sua colher em saudação. —
Por que me olha assim? — Perguntou, observando a
expressão incrédula em seu rosto.
Lauren tossiu, limpando a garganta, balançando a
cabeça enquanto sentia o rubor subindo pelo pescoço.
Mishca estava atrás dela, abotoando a camisa.
— Alex, você está... — Ele parou quando viu a forma
em que todos olhavam, mas ao contrário de Lauren, não
conseguiu evitar que um sorriso aparecesse em seu rosto.
— Que porra está errada com vocês dois? Sei que
estão comprometidos — viva, viva — mas parecem
enlouquecidos.
— Você, uh, talvez queira se mover — balbuciou
Lauren, estendendo cegamente suas mãos atrás dela para
bater em Mishca, quando escutou sua suave risada.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Por que eu deveria... — Olhou para a mesa em
primeiro lugar, então para eles dois. — Realmente? Comemos
aqui! Deus, Mish mantenha-se em suas calças. Se eu posso
restringir meus convidados ao meu quarto, pode fazer o
mesmo.
— Esta é minha casa.
— E quando isso me importou?
Mas Mishca acabou de perceber o que disse. —
Quem maldito você trouxe aqui?
Levantando a tigela sobre a mesa, e pegando a caixa
de cereal, Alex sorriu docemente indo para seu quarto. — Não
queira saber.
— Droga, Alex.
Ignorando-o, Alex perguntou. — Ainda está de pé?
— Assim que chegue a babá residente — respondeu
Lauren, pegando a mão de Mishca quando ele se moveu para
seguir Alex. — Só está te provocando, Mish.
— Conhecendo-a, provavelmente quis dizer isso. O
que planejaram para o dia?
— Aparentemente minha mãe sugeriu que
percorrêssemos a cidade em busca de coisas para o
casamento. — Tomou sua gravata, colocando o nó em seu
lugar, endireitando-a e alisando-a. — Alex vai buscá-la.
Procurou atrás dele, tirando sua carteira,
entregando-lhe um cartão American Express preto. — Para o
que queira.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Suponho que não adianta que o rejeite? —
Perguntou enquanto o pegava. A julgar pela expressão dele,
acertou.
— Oh, Mish — exclamou Alex no que virou a cabeça
para olhá-los. — Qual é meu tempo limite?
— Duas semanas.
— O quê? — Exclamaram Lauren e Alex.
Mas elas ouviram bem enquanto repetia — Duas
semanas.
— Isso não é tempo o bastante — disse Alex
horrorizada, enquanto Lauren dizia — É muito cedo.
— Além disso, não me dá tempo suficiente para pôr
tudo em ordem.
— Está bem. — Mishca emendou suas palavras
anteriores — Quatro semanas.
— Dois meses.
— Quatro semanas.
— Bom!
— Posso dizer algo? — Perguntou Lauren secamente.
Mishca e Alex disseram juntos. — Não.
Lauren levantou suas mãos, sabendo que nunca
poderia dar sua opinião com eles dois. Enquanto Alex foi para
seu quarto, presumivelmente para vestir-se, Lauren virou-se
para Mishca alerta com outra preocupação.
— Não deveríamos falar sobre um orçamento ou algo
assim? —Perguntou Lauren enquanto ia a seu lado, girando
em suas mãos o cartão que ele lhe deu, observando sua
assinatura mais que legível na parte de trás.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não.
— Não? O que quer dizer com não?
Deu de ombros. — O que você queira.
— Mish... — Ele a olhou duramente. — Obrigada.
— Estou pronta! — Declarou Alex, seu cabelo loiro
preso em um rabo-de-cavalo, tinha uma caneta atrás de sua
orelha e um fichário embaixo do braço.
— Enfim, o que fará hoje? — Perguntou Mishca
depois que beijou a testa de Lauren.
— O sonho de toda garota, — disse Lauren embora
realmente não soasse tão entusiasmada. — Ir comprar um
vestido de noiva.

Em cada programa sobre casamento que Lauren viu


alguma vez, as futuras noivas sempre passavam por
múltiplos vestidos antes de encontrar o escolhido, seguido
por lágrimas de alegria. Lauren não sabia se experimentaria
algo assim, ou se conseguiria essa grande epifania que a
maioria tinha, mas estava emocionada, e um pouco nervosa
com toda a experiência.
Entraram na boutique na Quinta Avenida, a que Alex
insistiu em ir. Um andar era apenas para vestidos de noiva,
outro com vestidos para dama de honra, e outro para
arranjos. Já que custaria uma fortuna consertar seu vestido
In the beginning
Volkov Bratva 3
se precisasse — embora Mishca estivesse pagando a conta —
Susan ofereceu voluntariamente seus serviços.
As janelas da frente proporcionavam luz natural
suficiente, fazendo com que o espaço parecesse mais
brilhante e maior graças às paredes brancas, compensando
as luminárias pretas. Havia alguns grupos esperando ao lado,
sua impaciência era evidente.
Enquanto elas estavam ansiosas e entusiasmadas
com isso, Lauren não sabia o que sentia.
Elas só esperaram por alguns minutos no máximo,
quando uma mulher veio até elas.
— Bom dia, sou Mariah Lawrence. Estarei as
ajudando. A quem temos aqui hoje? — A consultora era uma
mulher gordinha de meia idade, com um sorriso quente e
uma personalidade amável.
Lauren apresentou a todas — seu pequeno grupo
consistia nela, Alex, Amber e Susan.
— Pode me dizer o que está procurando hoje?
Todas a olhavam com expectativa, deixando Lauren
sem saber o que dizer. Realmente não fazia ideia de que tipo
de vestido procurava.
Percebendo, Mariah sugeriu — Que tal se trouxer
uns quantos estilos diferentes, assim poderemos ter uma
ideia mais precisa sobre o que você gosta e o que não?
— Soa bem.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren a seguiu de volta a um quarto privado,
tirando a roupa e ficando em uma das túnicas brancas
enquanto esperava que Mariah retornasse. Até que provou o
primeiro vestido, não parecia real para ela, não até que viu
seu reflexo.
Isto era tudo. Realmente ia se casar com o amor de
sua vida.
— O que você acha? — Perguntou Mariah enquanto
dava um passo atrás.
Era absolutamente impressionante, com um corpete
bordado e uma volumosa saia, mas para Lauren não pareceu
que era para ela.
— Podemos mostrar-lhes para ver o que acham.
Antes que Lauren chegasse sequer onde a
esperavam, viram-na, seus rostos se iluminaram.
— Eu gosto! — Falou primeiro Alex.
Rindo Lauren disse — Pensei que você gostaria.
— O que parece para você? — Perguntou Susan.
— É bonito.
— Mas...
— Talvez algo um pouco mais apertado. — Lauren
alisou a parte da frente do vestido, até que não havia nada
que pudesse fazer para domar a metade inferior. — Eu gosto,
eu gosto da parte superior, mas eu gostaria do mesmo na
parte inferior. Talvez uma cauda?
— Ok, podemos fazer isso. Vamos mudá-lo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Sete vestidos depois não estavam mais perto de
encontrá-lo do que quando começou. Sentiu esse mal-estar
familiar surgindo, preocupando-se de não poder encontrá-lo.
Poderia ter sido mais fácil se tivesse mais tempo, mas já que
o casamento era em apenas algumas semanas, e Susan ainda
precisava de tempo para realizar as modificações, sentia que
precisava encontrar um vestido hoje.
Lauren estava sozinha no provador, esperando que
Mariah voltasse quando alguém bateu na porta.
— Sua família quis que provasse este — disse
Mariah, entrando na sala com um saco para roupa em cima
de seu ombro.
Enquanto a ajudava a colocá-lo, Lauren soube que
era diferente de todos os outros.
Desta vez, quando Lauren saiu não pôde conter seu
sorriso, e ao ver seu entusiasmo as demais se iluminaram
enquanto exclamavam.
— Eu amo este — disse Lauren alegremente, indo
para ficar diante dos espelhos.
Não importa que estivesse usando um dos vestidos
mais feios do planeta, ninguém poderia lhe dizer isso, do
modo como sorria.
Este era o vestido.
A camada de baixo era feita de cetim, e a de cima, de
renda. Tinha um decote adorável que chegava até abaixo na
frente, mas o laço de revestimento que cobria seu peito e se
estendia até a parte de trás onde havia uma longa fila de
botões de pérolas da nuca até a parte baixa de suas costas.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— É incrível. — Alex concordou, e tirou uma foto com
seu telefone.
— Parece que acertamos com este — disse Mariah
com um sorriso, juntando as mãos diante dela.
Antes que Lauren pudesse concordar, Susan se
aproximou, querendo ver o vestido de perto para se certificar
de que poderia fazer as mudanças necessárias no tempo que
lhe restava.
— Você tem que ficar parada, Lauren. Já sabe como
é isto.
Sabia, depois de anos vendo Susan fazê-lo com
inúmeras noivas, mas isso não o tornava mais fácil. Estar ali
de pé enquanto sua mãe a cutucava e alfinetava era
exaustivo, mas Susan estava decidida a ter certeza que o
vestido ficaria perfeito, mesmo que para isso Lauren tivesse
que suportar a tortura de estar lá parada.
Quando terminou, Lauren soube que era este ao ver
lágrimas acumulando-se nos olhos de sua mãe.
— Ah, Cameron teria gostado de te ver neste vestido
— disse Susan secando os olhos com um lenço de papel.
Se Lauren não estivesse chorando antes, choraria
agora, mas eram lágrimas de felicidade porque em seu
coração sabia que ele também ficaria feliz.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando voltaram — e Mishca surpreendentemente
não estava ocupado trabalhando na abertura de seu novo
clube — estavam reunidos na sala, olhando os mostruários
de convite que Alex havia posto juntos.
— Por que precisamos de convites de casamento? —
Perguntou Lauren enquanto folheava o livro de amostras, e
depois para Alex. — Já sabemos quem virá.
— Mas nós não sabemos. Não temos nenhuma ideia
de quem tem filhos, ou se vêm da Rússia, sem mencionar as
pessoas que precisam confirmar as datas.
— Que tal este? — Perguntou Lauren enquanto
levantava um dos cartões, segurando para que Mishca desse
uma olhada, esperando ver sua reação antes de dar sua
opinião em voz alta.
Ele observou por um momento, piscou, então olhou
mais de perto. Finalmente, ele disse — É rosa.
Isso foi tudo. Isso foi tudo o que disse.
— Para que harmonize com as flores de cerejeira —
Explicou Lauren, apontando para o livro onde centenas de
diferentes flores estavam presentes.
Ele tentou esconder, mas seu desgosto era evidente.
— Mas há rosa por todos os lugares.
Tentando esconder seu sorriso, removeu o cartão e
colocou sobre a mesa. — Se você não gostar, é só dizer.
— Ok. — Juntou suas mãos dando um aplauso,
recostou-se novamente contra o sofá e fechou os olhos. — Eu
não gosto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Pela maneira que estava agindo quase parecia como
se ele fizesse todo o trabalho, quando esta era a primeira
coisa em que se envolveu no planejamento do casamento.
— Você não gosta de nada do que faço! — Explodiu
Alex, virando de sua posição no chão, onde também estava
esperando sua resposta.
Mishca sacudiu a cabeça. — Está sendo um pouco
dramática, não é?
— Que cor prefere? Cinza? Preto?
Ele deu de ombros. — Talvez algo mais escuro.
Se Mishca não tivesse cuidado, Alex poderia
simplesmente estrangulá-lo por não levar isto a sério.
— Mas isso é muito chato. Supõe-se que este seja o
dia mais feliz de suas vidas, e está tentando fazê-lo escuro e
deprimente. Assim como você.
— Pergunte a Lauren se gosta. — Disse,
imediatamente olhando para ela, sabendo que a única razão
pela qual lhe mostrou era porque não queria ferir os
sentimentos de sua irmã.
Alex piscou para ela, sorrindo docemente e só por
esse olhar Lauren queria lhe dizer que gostava do design,
mas realmente nunca foi uma boa mentirosa, e era seu
casamento.
— Talvez um toque menos rosa? — Perguntou em
modo de acordo, sem querer descartar a cor por completo.
— Bem, vou usá-lo para o meu. O que querem então?
Algo negro como o coração de Mishca?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Embora parecesse ferido, cobrindo o coração com a
mão, não se preocupou em comentar.
— As flores de cerejeira seriam fantásticas se
pudesse incorporá-las. Talvez um pouco de vermelho, em
papel ligeiramente acinzentado.
— Se isso era o que queria, por que simplesmente
não disse?
Alex saiu num acesso de raiva, embora Lauren
duvidasse que ela estivesse realmente chateada, agora que
tinha algo com o qual trabalhar. Seria um processo longo e
exaustivo.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Apesar do pouco tempo que restava para o


casamento que se aproximava rapidamente, Lauren tirou um
dia livre, em parte porque precisava um descanso de todo o
entusiasmo de Alex, e porque Mishca pediu que passasse um
tempo com ele.
Ele ainda estava nu na cama, com o lençol ao redor
de sua cintura, um braço sobre seus olhos bloqueando a luz
da brilhante manhã.
— Alex foi pegar a minha mãe no hotel. — Disse
Lauren enquanto penteava seu cabelo, fixando-o em seu
lugar. — Estão procurando buffet e tudo isso.
Esteve de pé há poucas horas, preparando-se para
quando tivessem que sair, mas parecia que Mishca não tinha
nenhuma pressa para começar a se mover.
Resmungou algo incoerente, não parecia muito feliz
por ser acordado.
— Deveríamos ir. — Insistiu, tocando seu lado. —
Lembra-se de todas as coisas que disse que precisava fazer?
Estendeu sua mão cegamente, puxando-a para baixo,
em cima dele. — Dez minutos.
— Amor, dez minutos nunca são dez minutos com
você.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Seus lábios se levantaram nos cantos, mas não fez
nenhum movimento para levantar-se. Ela deslizou sua mão
do seu peito para baixo, levantando-a apenas o suficiente
para envolvê-la ao redor dele, sua ereção cresceu quase
imediatamente.
— Poderíamos ficar — sussurrou Lauren e percebeu
que Mishca era favorável a essa ideia — mas Ross disse que
queria vir aqui, e talvez passar um momento conosco.
Não podia evitar jogar a cabeça para trás e rir
quando ele agarrou sua mão, e parou seus movimentos, sua
ereção morreu.
— Bem, estou levantando.

— Pensei que você gostaria de vir aqui. — Comentou


Mishca enquanto segurava a porta aberta da cafeteria onde
se conheceram.
Quando entraram no carro, Mishca esteve bastante
calado sobre o lugar aonde iriam. Mas Lauren não se
importava, especialmente quando entraram nessa rua.
— E está vestindo branco. Isto será divertido.
Uma vez que pediram e se sentaram à mesa onde
tiveram sua primeira conversa, Mishca começou com as
mensagens de texto em seu Blackberry, foi quase engraçado
como uma inocente manhã os levou a esse ponto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Você acha que estaríamos aqui se eu não tivesse
feito o primeiro movimento? — Perguntou Lauren
inocentemente, olhando por cima do pôster gigante que ainda
tinha os nomes das bebidas em diferentes tiras coloridas.
— Se pôr primeiro movimento se refere a jogar uma
xícara de café em cima de mim, possivelmente não. Não acho
que teria tido o mesmo efeito se eu tivesse feito isso com você.
Era verdade.
Ele pegou sua xícara sem pensar duas vezes, e ela
mordeu o lábio, sabendo que ele não ia gostar. Ele preferia
sem açúcar com um único toque de creme.
Tomando um gole, seu rosto inteiro se enrugou e se
inclinou para um lado, quase cuspindo quando pigarreou
ruidosamente, ganhando olhares confusos das pessoas
sentadas ao seu redor.
— Que droga você colocou nisso?
Ela riu, recuperando sua xícara. — Não tome minha
bebida, Mish.
— Não sonharia com isso — disse com sinceridade...
mas seus lábios se curvaram. — Se apenas fosse realmente
uma bebida e não açúcar líquido.
— Então, o que há na agenda para hoje?
— Clubes. Banco. Surpresa.
— Nessa ordem?
Ele assentiu, olhando para seu relógio. — Sim.
Deveríamos ir, não quero chegar atrasado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
A primeira parada foi no 221, onde recolheram os
depósitos da semana. As reformas finalmente terminaram e o
clube estava de volta a sua antiga glória, talvez até melhor do
que era antes.
Em seguida, foram ao mais recente investimento de
Mishca, um que mantinha em segredo por razões não
compreendidas até que chegaram. Era um imóvel grande, em
um dos pontos mais quentes da cidade de Nova York. Do lado
de fora, os trabalhadores estavam ocupados usando um
guindaste, içando uma letra gigante que ficaria na frente do
edifício, que seria o nome do lugar.
Só uma letra, que foi suficiente para dizer a Lauren
tudo o que precisava saber sobre o segredo que ele esteve
guardando.
"L".
Poderia ser associado com qualquer coisa, mas
Lauren não era suficientemente estúpida para pensar que
não era para ela.
— Tentando mandar uma mensagem aqui, Mish? —
Perguntou Lauren enquanto se aventuravam dentro e viu,
pela primeira vez, no que ele esteve trabalhando durante
meses.
Não havia muito no interior — estavam ainda a
alguns meses da abertura — depois de tudo, mas pelo que
podia ver, havia elementos semelhantes a seu outro clube.
— Pensei que estaria lisonjeada.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Eu estou de verdade. — Um pouco surpresa com o
gesto seria uma melhor descrição, mas não lhe disse isso. —
Não é uma tatuagem, é claro. — Tocou uma das estrelas em
seu peito, sorrindo quando ele fez o mesmo. — Mas isto o
fará.
Levou-a para dar uma volta pelo lugar,
apresentando-a a algumas pessoas que estavam
trabalhando... em sua maioria garotas. Imediatamente voltou
por um momento quando se perguntou o efeito que ele tinha
nas mulheres, mas havia algo reconfortante na forma em que
só tinha olhos para ela.
No momento em que saíram — muito mais tarde do
que Mishca planejou — o banco estava perto de fechar, mas
abriu uma exceção para ele.
Lauren estava acostumada ao tratamento cinco
estrelas que recebiam onde quer que fossem, parou de se
surpreender com isso, mas não estava tão admirada pelo
modo como os funcionários o trataram até que entraram no
cofre de Mishca.
O gerente saiu, dando a privacidade que Mishca
solicitou. Ele não pareceu notar como o observava enquanto
tirava maços de dinheiro de uma bolsa azul, colocando-os no
cofre onde mais dinheiro estava empilhado.
Ao perceber que ela o observava a seu lado, deu-lhe
um meio sorriso, retornando ao que fazia. — Não há
necessidade de se mostrar tão surpresa, Lauren. Isto vai ser
seu em breve.
— Quanto tem aí?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Fechando o cofre, guardou a chave, segurando sua
mão enquanto isso. — Um pouco menos de vinte.
— Vinte... — Ela fez uma pausa, pensando no
número antes arregalar os olhos. — Milhões?
Ele sorriu, descaradamente. — Você me ama um
pouco mais agora?
— Talvez.
— Ah, é por isso que você concordou com isso então?
— Perguntou delineando uma das estrelas.
— Por favor. Aceitaria isso muito antes se tivesse me
comprado entradas para o concerto de Sam Smith 8. Sou fácil,
Mish.
— Claro.
Foram interrompidos pelo telefone de Mishca, seu
tom mudou para o modo de negócios quando respondeu.
Lauren se desconectou, seus pensamentos se voltaram para o
casamento.
Era muito estranho para ela, planejar tudo sem ter
primeiro um lugar. Parecia que isso deveria ser o primeiro na
lista, porque se não pudessem encontrar um espaço para a
cerimônia, todo o resto não poderia continuar, mas não
conseguia pensar em uma boa localização qualquer que fosse
suficientemente apropriado.
Nenhum dos dois era particularmente religioso, e ela
não acreditava ter o direito de casar-se em uma igreja, não
com sua multidão de pecados. Qualquer outro lugar,

8
Samuel Frederick "Sam" Smith é um cantor e compositor inglês.
In the beginning
Volkov Bratva 3
provavelmente estaria reservado com meses de antecedência,
o que apenas fez sua vida mais difícil.
Atravessavam a rua quando Lauren notou.
A arquitetura do edifício foi o que chamou sua
atenção — Amber ensinou-a a apreciar a boa estética — e
enquanto olhava para ele todo, viu apenas algumas pessoas
movendo-se ao redor do terraço, uma bonita vegetação
aparecendo sobre a borda.
Um casamento no terraço.
Esse pensamento nunca passou pela sua cabeça
antes. Pensou em um salão de baile ou algo grande, mas não
um terraço de tamanho modesto, poderia ser mais íntimo,
assim como queria.
Apertando a mão de Mishca — a quem de todas as
formas esteve arrastando — já que ele quase não prestava
atenção, atravessou a rua, passando pelas portas giratórias
do hotel.
Deixando-o com sua conversa, Lauren se aproximou
da recepção, sorrindo ao atendente que estava ali de pé. Era
um homem no final de seus cinquenta anos, com o cabelo
branco como a neve, e parecia que trabalhou no hotel desde
que abriu.
— Bem-vindos ao Gran Berlim, em que posso lhe
ajudar?
— Vocês celebram casamentos aqui?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Se não fosse pelo terraço, poderiam definitivamente
fazê-lo no átrio. Foi desenhado para a realeza, pelo menos foi
o que Lauren supôs. Suaves tons pêssego e amarelo
manteiga, assim como cores mais ousadas como o bordô e o
azul meia-noite adornavam as superfícies da maioria dos
móveis na sala. E ainda pilares dourados, e luminárias
elegantes penduradas ao longo das paredes.
— Sim senhora. Estamos orgulhosos de sediar
muitos eventos em qualquer um de nossos salões de baile,
assim como — mediante pedido especial — acesso aos jardins
no terraço.
— Qual seria o melhor momento para visitar esses
jardins?
Ele se aproximou do computador no outro lado da
mesa, digitando pacientemente. Tomou um minuto, e quando
terminou, Mishca finalizou sua chamada, e se juntou a ela.
— Temos uma abertura na próxima semana. Estaria
bom assim?
Lauren deu seu nome e conseguiu tempo para estar
disponível para fazer o passeio. Ela e Mishca retornaram na
semana seguinte, com Alex a reboque, ainda levando sua
lista do que precisaria para aprovar o lugar.
A gerente do edifício, Abigail, levou-os até o terraço,
recitando a história do hotel enquanto caminhavam. Falou
sobre tudo com Alex, já que se deu conta que teria que
conquistá-la para fechar o negócio.
Abigail sorriu, com uma mão na porta enquanto se
virou para eles com um sorriso. — Estão preparados?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Sem esperar resposta, abriu a porta e a luz do sol
cegou momentaneamente Lauren, dando um passo trás para
ver mais claramente, e o que viu deixou-a fascinada.
Apesar de que sem dúvida foi limpo da última vez
que estiveram ali Lauren só vislumbrou pessoas, ela podia
ver o que poderia ser, quão diferente ele ficaria com as
cadeiras arrumadas, um corredor no meio, o altar no final.
Ainda melhor, havia cerejeiras em cada extremidade.
Concordou antes que alguém mais pudesse expressar
sua opinião. —Convenceu-me.
— Excelente. Nossa próxima data não é antes de seis
meses, mas...
Foi então quando Mishca falou. — Preciso para a
próxima semana.
— Sinto muito, mas não temos o tempo para
prepará-lo, e...
Ele suspirou, como se estivesse acostumado a esse
tipo de resposta. — Qualquer que seja a quantia que precisar
em sua cabeça, está feito. Basta escrever isso, sim?
— Começarei com a papelada.
Passou por ele, deixando-os que olhassem o resto
enquanto esperavam que retornasse.
— O dinheiro faz girar o mundo — disse Lauren com
um aceno de cabeça.
Nem mesmo vinte minutos mais tarde, Abigail voltou
com o contrato para assinar, e solicitou um depósito não
reembolsável.
Um passo mais perto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Acho que sua irmã está mais emocionada com isso
que todos nós juntos — comentou Lauren depois de que
deixaram Alex em casa, Mishca lhe disse que tinham que
fazer mais uma parada.
— Provavelmente por que supõe que ganhará este
apartamento.
Lauren franziu a testa, sem compreender. — Por que
pensaria que ficaria com seu apartamento?
Mas ele não respondeu.
Eles foram para um edifício de estilo antigo, com o
nome escrito em letra cursiva dourada em uma placa. Ela
olhou para Mishca, perguntando por que eles estavam lá,
mas o seguiu para dentro de qualquer maneira, em direção
aos elevadores de um lado da recepção.
Mishca colocou uma chave em uma ranhura ao lado
de um botão marcado com a letra "C"9. E quando se iluminou
e subiu lentamente, música clássica soava através dos alto-
falantes.
— Devo perguntar ou...?
— É uma surpresa.
As portas não se abriram para um corredor, mas o
hall de entrada de um apartamento. Ele gesticulou para que
entrasse primeiro, seguindo atrás. Ela olhou em volta,
maravilhada, a luz do sol brilhava através das janelas,
tornando o já grande lugar, enorme.

9
Cobertura.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Isto é uma loucura — murmurou Lauren enquanto
entrava na cobertura.
Era como entrar em um sonho. O apartamento em si,
tinha um piso de planta aberta, igual ao apartamento de
Mishca, mas com quase o dobro de tamanho.
O piso de madeira escura contrastava com as
brilhantes paredes brancas. As portas duplas francesas
levavam ao quarto principal — um dos três que estavam no
primeiro andar — mas Lauren não estava cativada pelo
amplo espaço ou a varanda com vista para a ponte de
Manhattan, apaixonou-se pela banheira clássica com pés no
banheiro. Tinha sua própria área, no lado oposto do chuveiro
de arenito em que caberiam seis pessoas.
— Você gosta?
— Sim, eu adoro, mas, o que estamos fazendo aqui?
Ele enfiou as mãos nos bolsos, dando-lhe um
encantador sorriso torto. — Pensei que desde que concordou
em morar comigo, e ser minha esposa, deveríamos ter nosso
próprio lugar.
Ela ficou eufórica, mas conseguiu manter uma cara
séria quando perguntou — Você já comprou, certo?
— Tecnicamente, sou o dono do edifício.
— Mish!
— Estou dentro do mercado imobiliário.
— É obvio que sim, porque ter dois clubes não é
suficiente.
Ele encolheu os ombros, olhando por uma das
janelas. — Não posso reclamar quando posso te dar o mundo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— A próxima vez que você olhar, eu estarei descalça e
grávida na cozinha.
— Amor, você não sabe cozinhar.
Ela deu um tapa em seu braço quando ele riu. —
Poderia aprender.
Lauren não pôde evitar andar em círculo, olhando
tudo ao seu redor apenas uma vez mais.
— Então, este é realmente nosso? — Perguntou.
— Sim.
Ela segurou o rosto com as duas mãos, e ficou na
ponta dos pés para beijá-lo. — Ya tebya lyublyu. Eu te amo.
— Ya tebya lyublyu. E eu te amo. Bem-vinda ao lar.
— Então, quanto você...?
— Não.
Riu, incapaz de fazer outra coisa. — O que quer dizer
com "não"? Nem sequer terminei a pergunta.
— Seja o que for, não. Você não tem que pagar por
nada.
— Mas eu quero. — Insistiu Lauren, colocando o
braço na dobra de seu cotovelo. — Sei que nunca estaremos
em igualdade de condições, mas ao menos posso sentir que
estou contribuindo.
Ele parecia ainda querer discutir, mas depois de
olhá-la, vendo que era implacável, finalmente concordou. —
Tudo bem, os mantimentos para o apartamento.
— Bem.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Eles estavam muito longe do edifício quando Lauren
pensou no que ele disse. — Espere, não comemos fora a
maior parte do tempo?
Ele apenas sorriu.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Enquanto Mishca e Lauren planejavam seu futuro,


havia alguém ansioso para pôr fim a liberdade de Mishca,
assim como derrubar tudo o que os Volkov Bratva
construíram. A Agente especial do FBI Tabitha Green
trabalhou para a Divisão de Crime Organizado durante os
últimos cinco anos, tentando desesperadamente fazer um
nome por si mesma entre os experientes homens, que ainda
eram adorados na agência.
E sabia que o caso contra Volkov Bratva seria o que
faria sua carreira. Desejava a fama, o reconhecimento por seu
árduo trabalho, e faria qualquer coisa para que acontecesse,
não importa as linhas que teria que cruzar e que regras teria
que driblar.
Quando entrou na DCO10, era um mundo de
homens, mas começava a ser uma presença feminina mais
importante na equipe. Não era nenhum segredo que alguns
deles tentavam conseguir o próximo grande caso, esperando
por seus próprios dez minutos de fama, e um escritório no
canto.

10
Sigla para Divisão de Crime Organizado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando chegou pela primeira vez, os homens
estavam mais que felizes em entregar seus arquivos da
Volkov Bratva. Não era nenhum segredo que a Vory v Zakone
era notoriamente difícil de se infiltrar, e apesar do que outros
poderiam ter dito sobre eles, eram muitos membros, e
igualmente mortais — se não mais — que a Cosa Nostra.
Saboreando o desafio, Green aceitou de boa vontade
o caso, e trabalhou nele desde então. Avançando rápido por
cinco anos, agora estava a ponto de derrubar uma
organização que conseguiu evitar a lei durante mais de duas
décadas.
Mas não iria parar até chegar a seu final.
Pegando toda a informação que recolheu de seu
informante confidencial — o que não era muito para começar
— entrou no escritório de seu superior, com uma máscara de
indiferença no rosto. Em sua mente, não tinha nenhuma
razão para se preocupar.
Apesar de não estar na DCO há muito tempo,
trabalhou para o escritório de campo de Nova York por pouco
mais de dez anos, e era conhecida por sua inabalável
capacidade de atingir seu alvo. Já que trazia resultados, seus
superiores frequentemente faziam vista grossa quando
contornava a margem da lei para acabar com os criminosos
mortais que procurava, embora duvidasse que continuassem
assim se soubessem o quão longe ela se desviou.
Mas era apenas como trabalhava.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela era atraente, e não se enganava acreditando que
os outros pensavam que a única razão pela qual tinha seu
próprio grupo de trabalho era porque parecia muito bem em
uma saia. Trabalhou até o cansaço para chegar onde estava e
não deixaria que nada nem ninguém ficasse em seu caminho.
Em um escritório cheio de homens, destacou-se, e
com frequência era ignorada simplesmente por ser mulher.
Por isso, tentou manter seu trabalho, e fez questão de estar
um passo à frente de seus colegas.
— Como justifica o processo contra os russos? —
Taylor era um homem que levava muito a sério seu trabalho,
e esperava resultados.
— Fizemos progressos. Espero que nos próximos três
meses, tenhamos provas suficientes para processá-los. —
Mentiu sem esforço.
Taylor golpeou seus dedos contra a mesa, parecendo
cético. —Recebemos informação confiável que o problema
entre os russos e os albaneses está se agravando. O que seu
homem reportou?
A Agente Green pigarreou, negando-se a se inquietar
sob seu olhar. Não havia razão para sentir-se intimidada. —
Temos tudo sob controle. Espero uma ligação no final desta
semana.
— Mantenha-me informado.
Concordando, Green deixou seu escritório.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O que seu superior não sabia era que seu contato na
Volkov Bratva não forneceu toda a informação como deveria.
No começo, quando se infiltrou se reportava em cada
oportunidade que podia, mas agora, tinha sorte de obter
informação dele uma vez ao mês.
Depois do tiroteio no clube, decidiu removê-lo —
outra razão pela qual apareceu lá — mas ele pediu mais
tempo, querendo obter o máximo de informações que pudesse
de todos eles, pelo menos esse foi o motivo que lhe deu.
Duvidava que houvesse mais alguma coisa que pudesse
conseguir depois de estar com eles durante tanto tempo, mas
ela permitiu, pensando no bonito escritório do canto que teria
quando este caso terminasse, e Volkov Bratva estivesse em
ruínas.

Lauren sabia que tudo não ia ser sempre perfeito


enquanto planejava um casamento rápido, mas não percebeu
o quão estressante seria obter tudo. Embora deixasse Susan
e Alex no comando das coisas, ainda recebia telefonemas
constantes sobre detalhes de última hora, e parecia que não
acabaria nunca.
Agora estava deitada com um travesseiro sobre sua
cabeça, seu telefone tocava na cômoda ao lado dela. Dez
minutos de paz, era tudo o que precisava. Uma vez que o som
estridente diminuiu, deixou escapar um suspiro de alívio.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Embora só fosse por um momento...
Quase imediatamente, começou de novo. Lauren
pensou em puxar seu cabelo, até que pensou na única coisa
que teria resolvido seu problema horas atrás.
Desligou o maldito som.
Era um conceito tão simples, entretanto, não passou
por sua cabeça até esse momento. Agora que estava livre
disso, poderia ter uma hora para si mesma.

Lauren não sabia quanto tempo ignorou seu telefone


enquanto se perdia em seu livro, mas o som de uma porta
batendo a trouxe de volta. Alcançando seu telefone,
estremeceu quando se deu conta das numerosas chamadas
perdidas, especialmente quando a maioria delas era de
Mishca. Prometeu atender sempre que ele ligasse, ou pelo
menos, um texto em resposta.
Enquanto ele poderia não ter se preocupado no
início, depois do sequestro, sabia que se preocupava mais.
Quando entrou no quarto, por uma fração de
segundo, havia alivio em seus olhos enquanto a examinava
da cabeça aos pés, mas foi rapidamente substituído pela ira,
já que estava acordada e tinha seu telefone na mão.
Sim, podia entender como parecia.
— Por que não atende ao telefone? — Ele gritou,
fechando a porta atrás de si.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Talvez fosse o fato de que ele falava bruscamente, ou
porque estava cansada, mas não estava com ânimo para sua
atitude, e o deixou saber.
— Não sabia que precisava fazê-lo depois de falar
com você há algumas horas.
— Seis horas atrás, Lauren — disse, elevando a voz.
— Alex me ligou em pânico porque não respondia!
— Não saí de casa, Mish! — Ela gritou de volta,
sentando-se. — Só queria uma maldita hora para mim, sem
ter que me preocupar se você queria uma mesa de centro alta
ou uma baixa.
Sentia-se tão irritada que não viu Mishca alcançá-la,
até que ele agarrou seu tornozelo, arrastando-a até o pé da
cama.
— Que porra você está fazendo?
Mas ele não respondeu, ao invés disso, demonstrou
com suas ações. Ele puxou as calças dela, despindo-a em
poucos minutos. Sua intenção era clara, fazendo que toda a
luta saísse dela quando sua mão se moveu entre suas
pernas, esfregando seus dedos sobre o centro de sua
calcinha.
Cada protesto que poderia pensar morreu, sua
atenção também se concentrou em como ele puxou a delicada
renda para o lado, usando seus dedos para esfregar contra
ela.
— Está estressada, não é? — Perguntou, fazendo-a
sentir como se estivesse queimando na maneira que a olhava
tão diretamente no rosto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Mish...
— Sim ou não?
— Sim.
Assim que a palavra passou por seus lábios,
pressionou um dedo dentro dela, tirando-o devagar,
adicionando outro dedo empurrando de volta para dentro.
Alcançou-o, querendo tocá-lo, senti-lo sob suas mãos, mas
ele negou com a cabeça.
— Mãos para baixo. — Sua voz era dura, mas havia
uma capa de necessidade em seu tom de voz que fez tremer
todo seu corpo.
Quando obedeceu, seu rosto desapareceu entre suas
pernas. Suas coxas tremiam enquanto aceitava o que ele
dava, mas não era o quão incrível ele estava no ato em si,
mas os profundos e guturais gemidos que fazia como se
sentisse exatamente como ela.
A cabeça dela caiu para trás, logo que sua língua se
curvou contra ela, seu braço ao redor de sua cintura para
mantê-la no lugar.
Ela enfiou os dedos em seu cabelo, agarrando as
mechas quando lutava para não gozar enquanto ele
continuava com seu ataque, mas não fazia sentido tentar
contê-lo, não quando estava decidido a fazê-la se desintegrar.
Ele não parou, não até que lhe implorou, mas ainda
assim, não parecia pronto a terminar com ela.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Nunca se preocupou em se despir, no máximo se
livrar de suas calças jeans deslizando-as abaixo de suas
musculosas coxas, Mishca a atraiu para a beira da cama,
seus movimentos urgentes.
Súplicas ofegantes saíram de seus lábios enquanto
esfregava a cabeça de seu pênis entre suas dobras, então,
finalmente, mas lentamente, entrando nela.
Seus lábios estavam em seu ouvido, pronunciando
palavras em russo que mal podia esperar compreender, mas
isso não impediu que seu corpo respondesse a elas.
Seus dedos cravaram em seus quadris enquanto a
usava, assim como ela o usou, para liberar-se. Segundos,
minutos, horas, o tempo não importava quando deixou tudo
ir, deleitando-se no momento com ele.
Ele se Inclinou para trás, seu olhar atento no rosto
dela enquanto girava seus quadris, mudando para um ângulo
mais profundo. Ela não precisava dizer que estava perto para
que ele soubesse, sempre sabia.
Lauren se agarrou em seus ombros, suas unhas
cravando em sua pele enquanto se levantava para beijá-lo. —
Eu te amo. — As palavras foram apenas um sussurro contra
seus lábios, mas ele estremeceu, batendo com mais força.
Seu orgasmo a golpeou de repente, seu corpo inteiro
em espasmos. Mishca continuou agarrando-a firme até que
gozou, ambos respirando com dificuldade, quando caíram de
volta na cama.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Suas pernas tremiam em cada lado dele, mas estava
muito ocupado acariciando a garganta dela para notar. —
Melhor?
Se ela apenas pudesse se deitar com ele pelo resto do
dia, assim como estavam, duvidava que qualquer coisa a
incomodaria. — Sim.
— Da próxima vez, apenas me fale.
Sentia-se cansada, realmente exausta, mas tinha
energia suficiente para rir, encostando-se mais perto dele. —
Não, eu acho que gostei bastante como você fez isso.

— Essa merda é cinza claro? — Perguntou Luka,


olhando através de uma coleção de tecidos por qualquer
indicação.
Alex deixou claro que cores os padrinhos foram
autorizados a usar, e garantiu que Mishca fizesse cumprir as
regras. Seus ternos seriam de cor cinza claro, de botões
brancos, e gravata-borboleta azul royal.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Já que era fim de semana, neste momento, Mishca,
Luka, e Vlad estavam em uma boutique, tirando as medidas
para seus smokings. Vlad foi primeiro, e agora foram Luka e
Mishca. Com a data do casamento aproximando-se
rapidamente, as coisas se tornaram mais imprevisíveis do
que estiveram nas últimas três semanas. Agora que Lauren
estava mais aberta com ele, era a pessoa que atualmente
resolvia os pequenos detalhes, e se algum deles estava muito
agitado... bem, descobriram uma maneira que ajudaria a
ambos.
Roger estava medindo o comprimento do braço de
Mishca quando a porta da loja se abriu. Os olhos de todos se
voltaram para Mikhail quando entrou sozinho. Como sempre,
estava impecavelmente vestido, parecendo cada pedaço do
chefe da máfia que era.
Através do espelho, Mishca observava seu pai,
perguntando-se por que estava ali, quando deixou bem claro
o que sentia sobre a relação dele com Lauren. Com um olhar,
enviou Luka e Vlad para fora.
Quando estavam sozinhos — Roger era um amigo da
Bratva por anos — Mikhail se sentou, estudando Mishca com
um sorriso satisfeito.
— Lembro-me de uma época em que negou se vestir
como um homem na sua posição. Agora está aqui, sendo
equipado por outra roupa de quatro mil dólares.
— Não desta vez. Este tem um significado diferente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mikhail fez um som de desaprovação, balançando a
cabeça. — O que é isso, Mishca? Eu ouvi sobre isso, este
casamento por meus tenentes, mas não por meu único filho.
— E o que você disse? Que estou cometendo um
erro? Que o amor não tem lugar em nosso mundo? — Ele
então lhe deu um olhar que só podia ser interpretado como
irritado. — E ambos sabemos que não sou seu único filho.
Mikhail, descaradamente ignorando o sarcasmo,
rindo de boa vontade. — Não é verdade?
— Nem sempre.
Quando Roger terminou com as medidas, deu um
passo para trás, calmamente desculpando-se para deixar
Mishca apreciar seu trabalho, e lhes deu a privacidade que
tanto precisavam.
— Pensei que aprenderia com meus erros, mas você é
um tolo. Herdou essa característica de sua mãe.
— O que exatamente você veio fazer aqui? Duvido
que fosse só para me incomodar, poderia ter feito isso pelo
telefone.
Às vezes, Mishca não se dava conta de quão bom
soldado foi durante os dias em que seguia cegamente as
ordens de Mikhail. Ainda não entendia completamente por
que ele permitia isso, ou se era só porque procurava alguém
para desafiá-lo. De qualquer maneira, não recuaria agora.
— Anya está desaparecida.
Mishca suspirou porque preferia escutar qualquer
coisa menos isso. Anya era a última pessoa na qual tinha
vontade de pensar. — Há quanto tempo?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Quem pode dizer.
— E o que aconteceu com os idiotas que cuidavam
dela? — Perguntou Mishca, desejando que fumasse, assim
poderia acender um cigarro e encontrar um pouco de alívio.
— Dois foram encontrados mortos, os outros estão
desaparecidos, provavelmente mortos. — Mikhail não soava
particularmente perturbado pela notícia. Ficava mais
chateado quando arranhava um par de seus sapatos.
— O que vai fazer a respeito?
— Nada. Você vai encontrá-la. Deveria ter terminado
com ela quando tive a oportunidade, mas isso é para o que
você está aqui.
Mikhail ficou de pé, alisando a frente de sua roupa
enquanto sorria para Mishca.
— Diga-me, contou-me isso só porque quer que eu a
faça pagar pelo que fez, ou só por que é a mãe de Alex?
Tal como fez tantas vezes no passado, Mikhail
simplesmente sorriu e saiu.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Lauren se achava bonita, mas Mishca parecia não


apreciar sua roupa. Raramente usava algo revelador, mas
Amber insistiu, e com Alex como sua acompanhante, não
poderia mudar de ideia.
— Você não gostou? — Perguntou Lauren com um
sorriso, girando para que pudesse ver tudo.
— Está linda — apesar de parecer como quem diz
“que tal ir e trocar de roupa”, porém apenas disse — Mas tem
que usar isso?
— Ah! Para de reclamar, Mish — Alex levantando a
voz, revirando olhos. — Está até comportada demais,
considerando o que eu queria que vestisse.
Mishca estava de mau humor, mas Lauren sabia o
porquê.
Esta noite era sua despedida de solteira.
Apesar de suas reservas iniciais e negação absoluta
de que ela poderia participar, Amber a convenceu de que era
seu direito — um que se negava a deixar que Lauren
perdesse.
Elas tentaram ir em segredo, com a esperança de
saírem sem serem vistas, mas Alex deveria saber que seu
irmão sabia, antes mesmo delas terem planejado. Ele
apareceu na porta exatamente na hora em que saíam.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não há razão nenhuma para que fique com
ciúmes, Mish. Lauren deve ser a menor de suas
preocupações.
Isso não ajudou que se sentisse melhor. Cruzou os
braços sobre o peito, olhando entre Alex e Lauren.
— Luka vai...
— Não pode — Lauren protestou. — Não sei quantas
vezes tenho que te lembrar de que ele fará algo que vai
escandalizar as pessoas, ou apenas ir em frente e matá-las.
Alex foi rápida em concordar, embora por razões
totalmente diferentes. — Luka não pode ir, e se nós
quisermos strippers?
Isso fez com que Mishca ficasse mais irritado — Luka
vai e não haverá malditos strippers. Eto moi Prikaz — esta é a
minha ordem.
Alex e Amber riam no fundo, Lauren lutou com seu
próprio sorriso, seus olhos se estreitaram para Mishca. —
Você acabou de me dar ordens?
— Luka pode ser o stripper, se isso faz com que se
sinta melhor — interveio Alex, piscando para o executor que
sorriu de volta.
— Tire esse maldito sorriso da cara — retrucou
Mishca irritado — E sim, aquilo era uma ordem.
— Não se preocupe, querido. Vamos ter uma
acompanhante.
— Teremos? — Perguntaram Alex e Amber em eco.
— Ah, esqueci-me de mencionar que Natasha está
chegando.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Amber não teve nenhuma reação ao nome, mas Alex
e Luka pareciam um pouco surpresos com isso. Lauren não
esteve muito com ela, mas pensou que seria divertido para
ela ir também.
Enquanto via Mishca se acalmar aos poucos, via o
desconforto de Alex aumentar. — Como pode confiar nela
mais que em mim?
Uma batida na porta interrompeu Mishca antes que
pudesse responder. Como Luka era o mais próximo, abriu,
vendo Natasha de pé do outro lado.
— Estou contente que pode vir — disse Lauren feliz
antes de abraçá-la.
— É bom te ver, Lauren. Estou contente que esteja
feliz. — Sorriu gentilmente a Mishca, assentindo em sua
direção, mas quando olhou para Luka, houve um incêndio
em seus olhos.
— Quer me dizer o que perdi? — Amber sussurrou a
Lauren, apontando com um aceno a forma como Alex olhava
para Natasha e Luka.
— Os dois têm ou tiveram alguma coisa, pelo menos
eu acho, e Alex deve sentir algo pelo Luka apesar de que não
admitiu isso ainda.
Amber assentiu, olhando Luka. — Acho que poderia
entender a atração, tem um corpo lindo, mas pode ser um
pouco... — parou como se não soubesse o que dizer.
— Estranho? — Disse Lauren amavelmente — Não se
preocupe, pode falar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca poderia não estar completamente de acordo
com os planos para a noite, mas finalmente concordou —
embora levasse quinze minutos para se deixar convencer.
— Vai tomar cuidado esta noite — disse Mishca
enquanto caminhavam para fora, ignorando as brincadeiras
de sua irmã — Se precisar, não importa a hora, quero que me
ligue.
— Com certeza. Prometo não fazer nada muito louco.

O bar que Amber insistiu em ir era no Village, era um


lugar que ela frequentava quando tinha tempo livre. Tinha
uma espécie de encanto rústico com madeira envelhecida,
que era como uma assinatura do lugar.
Todas elas apresentaram seus documentos de
identidade quando o garçom apareceu. Lauren nem sequer
questionou como Alex conseguiu uma identificação falsa,
sabendo que provavelmente tinha a mesma quantidade de
conexões que Mishca.
— Vamos à primeira rodada — anunciou Natasha,
sorrindo abertamente ao homem atrás do balcão.
— O que iremos beber? — Perguntou Lauren,
sabendo que era importante, já que fazia tempo desde que
tomou algo muito forte.
— Não é para saber — interrompeu Amber — Apenas
confie em nós.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Bem, espero que não iremos drogá-la. Isso não é
realmente a minha — disse Alex, dando a Natasha um olhar
de lado.
— Alto e loiro é mais seu tipo, não?
Amber e Lauren olharam entre Alex e Natasha que
estavam sentadas em extremos diferentes do bar.
Até mesmo o bartender pareceu notar a tensão entre
as duas, seu sorriso crescendo como à espera de uma luta
começar a qualquer momento.
Antes que as coisas pudessem esquentar mais,
Amber resolveu por elas. — Vamos começar com oito doses
de tequila, sal e limão, por favor.
Ele se afastou para atender seu pedido.
— Esse parece ser o seu tipo também, certo Nat? Ou
você tem uma gama mais ampla?
A réplica foi um golpe baixo, mas apenas Lauren e
Natasha sabiam ao que se referia. Embora não parecesse,
Natasha trabalhou como prostituta para o Gilded Room, ou
ao menos era isso que supunha Lauren pelo que lhe
contaram. Poderia muito bem ser que ela trabalhasse como
guardiã ou algo assim sobre as outras garotas ali, mas isso
seria apenas uma ilusão por parte dela.
— Bom esta noite é de Lauren — disse Amber
intencionalmente. Enquanto não sabia qual era o problema
real entre elas, além de que Luka estava envolvido de alguma
forma, não queria que isso fosse de algum jeito a razão para
todas serem expulsas do bar. — Isso significa que é nosso
In the beginning
Volkov Bratva 3
trabalho termos a certeza que esta noite será maravilhosa.
Em primeiro lugar, temos que nos embebedar.
Lauren negou com a cabeça, seus olhos se
arregalaram enquanto viu o bartender chegar com a bandeja
e as doses.
— Ah, qual é, relaxe um pouco — acrescentou Alex.
— Só se casa uma vez.
— Ok, ok. Vamos brindar então.
— Não — Amber deslizou a bandeja mais perto de
Lauren — Todos estes são para você.
Quando Lauren tomou a primeira dose, sabia que ia
ser uma noite memorável, e uma vez que o líquido azedo
deslizou queimando por sua garganta, estava mais que
animada por isso.
A noite começou oficialmente.
Amber se manteve firme ao que disse, recusando-se a
deixá-la ficar sem uma bebida. Lauren perdeu a conta de
quantas doses tomou, além de algumas bebidas doces. Em
algum momento nas primeiras horas da manhã, ela bebeu
uma garrafa de água. Isso ajudou durante uns minutos, mas
estava muito bêbada para sentir os efeitos.
Outros logo se uniram ao seu grupo de quatro,
comemorando junto. Elas tinham razão, era como um ritual
de passagem, e os outros clientes estavam mais que
dispostos a festejar também.
Erguendo o copo, um pouco do líquido verde caiu
pelas bordas, Lauren riu, com o rosto corado quando ficou de
pé, pedindo a todos para ouvir. — Vou me casar!
In the beginning
Volkov Bratva 3

— Seguimos com isto, chefe? — Perguntou Luka com


entusiasmo, seu olhar indo entre Mishca e Vlad.
Às vezes, Mishca não entendia como Luka podia
gostar tanto de causar o caos como fazia, mas considerando
que receberam um aviso de que um dos executores de Jetmir
foi bisbilhotar em seu território, Mishca estava disposto a
deixar Luka livre para a noite.
Estava a apenas dois dias do casamento, e Mishca
tentou de tudo para manter seu negócio e o casamento
separados, mas para ser capaz de fazer isso, também tinha
que ter certeza de que Lauren não corresse nenhum perigo.
Esta noite era a única em que seria capaz de cuidar do
executor de Jetmir, e precisava fazê-lo nas próximas horas,
com sorte antes do final da "despedida de solteira" de Lauren.
Se fosse só ela e Amber, não se preocuparia muito
com o que fariam, mas com Alex no meio, que tinha uma
habilidade especial para encontrar problemas, não havia
como dizer no que iria envolvê-las. Provavelmente os malditos
strippers que falou.
— Vamos dar uma volta.
In the beginning
Volkov Bratva 3
No carro, Luka era como um cachorro perseguindo
um esquilo, praticamente pulando em seu banco enquanto
olhava pela janela, buscando qualquer sinal do homem que
procuravam. Era como se tivessem circulado por um longo
tempo até que Luka bateu no vidro.
— Aquele é nosso homem.
Vlad deu uma volta no quarteirão mais uma vez,
deixando Luka na esquina. Mishca não queria que o cara
ficasse nervoso e corresse, não antes que tivesse a chance de
interrogá-lo.
Além disso, Luka gostava de perseguir sua presa.
O telefone de Mishca tocou com uma nova
mensagem, a confirmação de Luka que estava com ele.
Saindo do carro, Mishca colocou suas luvas, com foco no
presente, empurrando Lauren para o fundo de sua mente.
Entraram no beco onde Luka e o rapaz esperavam.
Luka acenou, com a outra mão obrigou o homem a ficar de
joelhos, um de seus dedos tapando um buraco no ombro do
rapaz.
— Você tinha um trabalho, Luka.
Ele revirou os olhos. — Então talvez devesse ter sido
mais específico.
— Por favor. — O albanês no chão falou, olhando
para Mishca — Vou lhe dizer o que quiser saber, só não me
mate.
— Não se preocupe, ele não se moverá até que eu
diga. Agora, onde está Jetmir Besnik?
In the beginning
Volkov Bratva 3
No entanto, parecia que o albanês não estava muito
disposto a colaborar. Hesitou tempo suficiente para que Luka
cavasse seu dedo mais profundamente. Mishca não se
importava, já que facilitaria seu trabalho.
— Você não o conhece — murmurou, derramando
suas lágrimas — Não posso.
Mishca revirou os olhos para o cara ajoelhado diante
dele, acostumado às ladainhas de um homem que temia trair
seu chefe. É óbvio que Mishca era parcialmente culpado.
Agora apertava o cano da arma na testa do homem, mas
duvidava que fosse a primeira vez que ele estava nesta
situação... apesar de que poderia ser a última.
— Onde está? — Mishca não iria perguntar uma
terceira vez.
— Ele deixou o país! — Gritou o homem. Acreditava
que, ao falar seria salvo.
— Voltou para a Albânia?
— Sim.
Isso não foi suficiente.
Desde que Jetmir desapareceu do mapa depois que
os homens de Mishca deixaram-no em um campo, sabia que
voltaria a seu país de origem. O que realmente precisava
saber era o que ele planejava. Depois de terem encontrado o
corpo de Brahim — não importando que fosse Klaus —
Lauren estava marcada pelos albaneses. Como os russos
tinham seu código de honra, os albaneses tinham o deles.
Quando se era marcado por eles significava que, não
importava o tempo que demorasse, essa pessoa seria morta.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Enquanto Mishca respirasse, não os deixaria chegar
perto dela outra vez, então se isso significava que tinha que
matar todos, um por um, faria com prazer.
— Preciso entrar em contato com ele. Ligue para ele!
— Eu não... não posso, ele está incomunicável, juro.
Ninguém pode achá-lo agora.
Suspirando, Mishca mudou o alvo da arma até que
apontou para o chão, junto à orelha esquerda.
Apertou o gatilho.
O estrondo fez com que o homem gritasse de dor, a
ruptura do tímpano fazendo escorrer o sangue pela orelha.
Ele apertou sua mão ali, mas isto não fez nada para diminuir
a dor.
— Um ouvido se foi — disse Mishca, tocando a arma
contra o ouvido bom do homem.
— Juro! Não pode ser encontrado!
— Então já não me serve mais...
O toque alto de um telefone fez com que Mishca
baixasse sua arma. Todo mundo olhou em volta, tentando
encontrar a fonte do som, até que Mishca tirou seu próprio
Blackberry.
O nome de Lauren apareceu na tela, uma imagem de
seu rosto radiante por um momento o distraiu das sombras
em sua volta.
— Moya globushka — respondeu com um sorriso,
apontando a arma para a cabeça do homem.
— Mish!
In the beginning
Volkov Bratva 3
Afastou o telefone de seu ouvido, a música a todo
volume e sua exclamação quase lhe rompeu um tímpano.
Luka imitava um chicote com a mão, inclusive indo tão longe
a ponto de fazer o efeito de som também.
— Mish, preciso que venha nos buscar! — Ainda
gritava apesar de que a música estava mais baixa.
A julgar pela forma em que soava, Lauren estava
muito além de seu limite de bebidas.
— Está tudo bem?
— Oh, sim, sim, sim. Eu apenas pensei que era uma
boa ideia e — não, não toque no meu telefone — Mish, o que
estava dizendo? Tem alguma ideia quando virão os strippers?
— Diga-me onde está e irei.
— Mas, o que aconteceu com os strippers?
Luka se segurava para não explodir na gargalhada,
até Vlad tentava não rir.
Ignorando-os, disse — Dê-me o endereço.
Assim ela o fez, prometendo ligar assim que estivesse
pronta — embora não tenha especificado quando seria isso.
Mishca balançou a cabeça enquanto guardava seu telefone,
voltando sua atenção ao albanês.
— Ouça. — Colocou sua arma contra a bochecha do
homem, forçando seu olhar para cima. — O que é que o
Jetmir tem planejado?
— Eu n...
Ele nem chegou a terminar a frase antes que Mishca
disparasse, acertando em cheio a cabeça do homem.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não acha que isso foi um pouco prematuro? —
Perguntou Luka, olhando o corpo com uma careta —
Poderíamos, pelo menos, tê-lo torturado um pouco primeiro.
— Ele não sabia de nada. Encontre outro, e quando
por fim acharmos um que realmente saiba algo, talvez viva.

Demorou pouco tempo até Mishca voltar para a


cidade, estacionando seu carro a poucas quadras do bar onde
Lauren disse que estavam. Enquanto caminhava, verificou
duas vezes a sua aparência, certificando-se de que não havia
nada em sua roupa para fazer Lauren questionar onde esteve,
não que ela fosse capaz de perceber alguma coisa em seu
atual estado de embriaguez.
Na verdade, tinha uma espécie de desejo em vê-la
despreocupada, com sua guarda baixa. Ela costumava ser
assim, sempre tão alegre, mas alguns dias ele sentia como se
tirasse a alegria dela mostrando-lhe seu mundo.
De certo modo, sentiu como se a tivesse corrompido,
e lamentava muito por isso, mas não o suficiente para deixá-
la ir.
Quando tudo terminasse, e todas as ameaças contra
eles fossem esmagadas, faria seu o dever de colocar um
sorriso de volta em seu rosto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O bar não estava muito cheio quando Mishca entrou,
mas seus olhos encontraram automaticamente Lauren, que
estava no bar, tomando outra dose com Alex — assim como
um grupo ao redor delas — e a animavam. Amber estava de
lado, falando com um homem que tinha seu corpo inclinado,
mas a julgar pela expressão em seu rosto, ela gostava de sua
companhia.
Quando estava no meio do caminho, Lauren olhou
para ele, o sorriso que deu em resposta era o mais brilhante
que já viu. Claramente, era uma bêbada feliz.
— Meu amor — disse em voz baixa, saltando do
banco para envolver seus braços ao redor dele — Estou tão
feliz que esteja aqui.
A multidão começou a se dispersar com a chegada de
Mishca, Alex rindo ao ver o que Lauren fazia. Claro, que esta
foi a única noite que escolheu para não ficar bêbada.
— Estou sóbria — disse como se pudesse ler seus
pensamentos — Eu ia dirigir, mas ela claramente queria te
ver.
Lauren se balançava, cantarolando baixinho
enquanto dançava uma música, que só ela podia ouvir.
— Quantas ela tomou?
Alex deu de ombros como se não fosse grande coisa.
— Talvez cinco shots11.

11
Nome do copo usado para tomar tequila.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Então tivemos martinis — talvez uma margarita
em algum momento. Oh! E esta genial bebida que se chama
Aviation12. Não tinha nem ideia do que levava, mas era
impressionante.
Com Lauren divagando, Mishca olhou para sua irmã.
— Não se preocupe, Mish ela vai estar bem amanhã
cedo — interveio Amber caminhando de volta, com um
pedaço de papel na mão.
— Com uma ressaca, sem dúvida. A culpa é de vocês
duas por isso. Não deveriam deixá-la beber tanto.
— Não tente arruinar minha noite — disse Lauren
bêbada, cutucando-o no peito com o dedo — Esta noite foi
maravilhosa.
Tentando não rir, pegou-a no colo — Vamos.
Não tentaram argumentar, seguindo-o até seu carro,
subindo no banco de trás. Mishca colocou Lauren no banco
do passageiro, ajustando o cinto de segurança em torno dela
para que pudesse deitar.
Para dirigir com conforto, teve que ajustar o banco
para trás, não querendo ter que mover Lauren.
Quando saíam, Mishca olhou pelo retrovisor para as
garotas na parte de trás — Agora entendo por que vocês
fazem a despedida dois dias antes do casamento.
— Siimm, porque ela definitivamente não está
andando pelo corredor para o altar assim — disse Alex com
um sorriso — Acho que nossa noite foi um sucesso.

12
Um cocktail clássico feito com gin, licor de maraschino, crème de violette, e suco de
limão. Algumas receitas omitem o crème de Violette.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Elas bateram o punho, deixando Mishca balançando
a cabeça.
Não demorou muito para voltar ao hotel, e enquanto
Luka escoltava Amber e Alex aos seus quartos, Mishca levou
Lauren ao dele. Uma vez que eles passariam o dia seguinte
separados, queria que ela ficasse ao seu lado, mesmo que ela
dificilmente estaria ciente disso.
Lauren riu de como Mishca a levou para sua suíte,
colocando-a gentilmente sobre a cama. Estendeu a mão
tentando fazer com que ficasse com ela, mas ele facilmente se
soltou, ajudando a tirar os sapatos.
— Eu poderia fazer isso — disse Lauren, sem jeito
para alcançar o zíper do vestido.
Mishca foi paciente com ela, movendo suas mãos
para que pudesse ele mesmo tirá-lo. Pensou em tentar vestir
algo nela, mas era um homem afinal de contas, e gostava
muito de como estava vestida no momento.
Quando a deixou confortável, Mishca tirou suas
próprias roupas, puxando-a para seu lado.
— Você tem um sorriso bonito, Mish — disse Lauren
caprichosamente, suas palavras fazendo-o sorrir mais ainda
— Eu estou feliz que eu consegui ficar com você.
— O sentimento é mútuo.
Ela desenhou sobre uma de suas estrelas com seu
dedo mindinho e enquanto ele estava feliz com seu afeto,
sabia que ela iria ter uma manhã infernal.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Lauren não entendeu antes, por que queriam ter a


despedida de solteira dois dias antes do casamento, mas
quando acordou com uma dor de cabeça que ameaçava
dividir e abrir o crânio, com náuseas horríveis, ela entendeu
muito bem.
Também aprendeu que odiava tequila, só um pouco.
— Oh, Deus — sussurrou Lauren, puxando o
cobertor sobre a cabeça para bloquear a luz do sol que
entrava pelas janelas, pois as cortinas estavam abertas.
Onde quer que Mishca esteja, iria matá-lo por tê-las
deixadas abertas. Ela especificamente lembrava-se delas
sendo fechadas na noite anterior— pelo menos pensou que
foram fechadas. Estavam fechadas? O que aconteceu na noite
passada?
— Está acordada aí embaixo?
Ela gemeu, a voz de Mishca era como unhas em um
quadro negro em sua cabeça latejante. — Por favor, não tão
alto.
Ele riu, seus passos ecoando na madeira enquanto se
aproximava dela. Ele gentilmente puxou o lençol, entregando
um copo cheio de um líquido espesso.
— Beba isto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele não disse o que era, e ela não perguntou,
tomando um grande gole, enrugando todo o rosto, enquanto
lutava contra o impulso de cuspir. Conseguiu engolir,
encolhendo-se enquanto o sabor descia pela garganta.
— Isto é provavelmente a pior coisa que já provei em
minha vida. Que droga é isto? — Girou o copo entre suas
mãos, apertando os olhos para líquido horrível.
— A cura para a ressaca, tem que beber isso tudo.
Parecia muito divertido com a sua situação, mas ao
menos baixou a voz para não piorar a dor de cabeça.
— Onde estão Alex e Amber?
— Em seus respectivos quartos, também estão mal,
como você. Não se preocupe, Luka está cuidando delas.
Ela deu um olhar de morte, tomando outro gole
obedientemente quando disse — Então eu deveria estar
preocupada.
— Não se preocupe, amor. Vlad está lá também.
Ela gemeu, puxando as cobertas sobre a cabeça. —
Por que levantou tão cedo?
— São meio dia e meia.
— Muito cedo.
— Trouxe uma coisa, espero que te ajude.
Lauren olhou curiosa para saber o que era. Se fosse
algo parecido a essa bebida, não poderia tomar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não era o que pensava. Ele mostrou um papel
dobrado, e quando ela o desdobrou viu que era um vale para
um spa. Queria pular e o abraçar, mas temia que o
movimento causasse estragos em sua cabeça latejante,
embora tivesse que admitir que o que ele deu ajudaria.
— É o melhor noivo que uma garota poderia pedir.
Rindo, se levantou. — Vejo você mais tarde para o
jantar de ensaio. Deveria tomar um banho antes de ir. De
certa forma você cheira como uma cervejaria.
A porta já estava fechada atrás dele, quando o
travesseiro que ela atirou chegou lá.

O spa era tudo o que ela esperava que fosse. No final


do dia, a dor de cabeça com a qual lutou durante toda a
manhã sumiu. As unhas de suas mãos e pés foram feitas em
uma cor rosa pálido, seu cabelo foi lavado e tratado.
Mais tarde naquela noite, enquanto escutava os
ruídos noturnos, não conseguia tirar o sorriso do rosto, nem
se tentasse. Amanhã seria o dia em que tudo mudaria.
Mas primeiro tinha o que fazer esta noite.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Era a noite antes do casamento, e, segundo o


calendário de Alex, seria o jantar de ensaio. Lauren não
conhecia sequer a metade das pessoas que estavam
presentes. Sabia que os convidados por parte de Mishca eram
mais numerosos que os dela, especialmente porque ela não
tinha muita família, mas mesmo assim não sabia quantas
pessoas comemorariam com eles. A única vez que viu tantos
membros da família de Mishca foi na mansão, para o Natal.
Reconheceu vagamente alguns deles, com os quais
falou um pouco. Mishca ficou tenso ao seu lado, ao perceber,
virou-se para ver o que o deixou assim.
Olhou para um homem que acabara de cruzar as
portas, era um pouco mais velho que Mishca. Tinha o cabelo
negro meio comprido e olhos cinza e frios, como nunca viu
antes. Sua boca formava uma linha dura, como se jamais
tivesse sorrido, como se isso fosse normal, Lauren se
perguntou por que viria se não estava feliz em estar ali.
Alguns tentaram falar com ele, porém foram
ignorados, seus olhos percorrendo o salão até que localizou
Mishca e ela. Então caminhou até eles, a cada passo que
dava, a tensão aumentava. Quem quer que fosse, era óbvio
que ele e Mishca não se davam bem.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Muito sutilmente Mishca deu um passo e se colocou
diante dela, protegendo-a com seu corpo. A ação fez com que
a boca do homem se inclinasse para um lado, em uma
sugestão de sorriso, entretanto seguiu caminhando para eles,
ignorando a advertência silenciosa de Mishca. Era estranho,
Lauren nunca viu alguém mais alto que Mishca, embora
fosse por alguns poucos centímetros.
Ele não poderia ser muito mais velho, mas era difícil
saber já que a maioria dos homens próximos a Mishca usava
barba — exceto Luka.
Não hesitou em estender a mão a Lauren ignorando
completamente Mishca. — Roman Pavlov.
O nome não lhe soava familiar, mas poderia ter
descartado assim que o ouviu, era uma probabilidade.
— É um...
— Chto ty delayesh' zdes' — O que você está fazendo
aqui?
Roman sorriu, finalmente voltando sua atenção para
Mishca. — Para celebrar.
Antes que Mishca pudesse continuar, Lauren
perguntou — Quem é você?
Com um rosto completamente sério, respondeu — O
filho bastardo de Viktor Volkov.
Isso explicava sua animosidade... ela pensou, mas
não soava orgulhoso disso, bem, apenas a parte do "filho
bastardo".
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Bom. Então, está aqui para me matar ou ao Mish?
— Ambos olharam para ela como se estivesse falando em
outro idioma — O quê? É uma pergunta bastante razoável
considerando todas as coisas, mas sejamos honestos,
realmente não estou no humor para violência esta noite,
assim se tiver alguma vingança, poderia esperar umas horas?
Se o Mish não te matar primeiro, ou o louco do Luka,
entendeu?
Seu sorriso não chegava aos olhos, porém seus lábios
formaram um sorriso. Inclinando a cabeça disse —
Completamente. — Em seguida foi para uma mesa afastada
da multidão.
— Tem um irmão gêmeo que ninguém conhece, e
agora um primo que aparece do nada. O que mais? Uma tia
que é parenta distante do Luka ou a esposa secreta do Vlad?
— Perguntou Lauren secamente, pegando uma taça de vinho
do garçom que passava.
Enquanto sua atenção ainda estava em Roman,
respondeu — Você o conheceu na mansão, na verdade.
— Conheci? — Tentou se lembrar ao retornar aquela
noite, mas as lembranças se misturavam e não conseguia ter
certeza de nada — Alguma outra surpresa esta noite?
— Deus, espero que não.
— Como ele veio parar aqui? — Perguntou Lauren.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Passou a mão pelo cabelo, como sempre fazia quando
estava frustrado — era surpreendente o fato que ainda tivesse
cabelo. — Quando minha linda irmã enviou os convites para
toda a família. E se ele não tivesse recebido um, com certeza
alguém teria contado.
— Alex sabe sobre ele? — Parecia uma pergunta
bastante apropriada quando não compartilhavam o mesmo
sobrenome.
— Sim, mas não o aceitou e com certeza não planeja
fazer isso.
Fazia pouco tempo que Alex descobriu sua verdadeira
origem, e enquanto Roman deveria ser seu meio irmão, aos
olhos deles, continuava sendo seu primo, jamais pensaria em
Mishca a não ser como seu irmão. Não era na verdade, mas
se todo esse tempo foi assim, e se Mishca não fazia nada para
contradizer, ela tampouco o faria.
Além de Roman não houve mais imprevistos durante
o jantar. Toda a família de Mishca e seus convidados eram
educados e reservados, todos desaprovavam o que ele estava
fazendo, mas não o diriam em voz alta.
A mesa da família lembrava aquela vez na mansão,
em toda sua extensão, todos se sentaram confortavelmente.
De um lado estavam Susan e Ross, em seguida, Amber,
Tristan, e Matt, com uma cadeira vazia para Lauren ao lado
de Susan, em seguida, Mishca, e ao lado dele Alex e Vlad.
Luka arrastou uma cadeira para sentar na frente da sala.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando Lauren e Mishca se sentaram começou o
jantar. Os garçons vieram um após o outro com bandejas de
prata equilibrando sobre a ponta de seus dedos, enquanto
passavam pela sala e serviam a comida em seus pratos.
Lauren teria ficado mais feliz em um restaurante normal, mas
como prometeu que Alex cuidaria da organização, aceitou
tudo o que ela fez.
Conforme as pessoas comiam, as conversas
começaram de novo. Surpreendentemente os amigos de
Lauren se divertiam enquanto conversavam com os parentes
mais jovens de Mishca. Embora nunca admitisse, mas tinha
medo de que sua família não se desse bem com a dele.
Até mesmo Ross tinha uma conversa educada,
embora curta, com um senhor e sua esposa.
Quando estavam no meio do jantar, Lauren já não
podia tirar o sorriso de seu rosto, mesmo que tentasse, não
só porque se divertia, mas por ver a felicidade de Mishca era
contagiante. Nunca o viu tão feliz, tão vivo, nesse momento
não parecia estar sobrecarregado por suas obrigações.
— Quer provar meu pato? — Perguntou Lauren,
pegando um pedaço e dando na boca de Mishca.
— Eu gostaria de provar outra coisa — disse em voz
baixa, aceitando a comida que lhe ofereceu.
Todo seu corpo esquentou com o que sugeria, sua
necessidade foi a outro nível. Não tirou os olhos dela,
observando sua reação, e sorriu mostrando sua covinha.
— Você é insaciável — respondeu, quase sem fôlego.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Deus, pensou que estava saciado com sua última
noite, mas o olhar em seus olhos, dizia que não, havia muito
mais para ela quando chegassem em casa.
— Ah, esse pato deve estar incrível. — A voz de Alex
interrompeu, exalando diversão enquanto limpava a garganta
dramaticamente.
— Você nem tem ideia — respondeu Lauren cortando
um pouco mais.
Enquanto o jantar de Natal na mansão foi frio e sem
graça, Lauren ficou surpresa em ver como todos da família de
Mishca estavam relaxados. Mesmo com a dificuldade em que
tentavam falar em inglês, assim como ela tentou falar com
eles em russo.
Estava tudo bem até que ele chegou e o ambiente
tornou-se tenso.
O silêncio no lugar era assustador quando Mikhail
entrou na sala privada. Lauren se perguntou se ele estaria ou
não no casamento — nunca pensou que ele aprovou, e
Mishca nunca mencionou isso — mas nesse momento estava
mais preocupada com a reação de Ross a ele.
Estava sendo educado e reservado, mantendo sua
opinião sobre Mischa para si a maior parte do tempo, mas
Lauren sabia que havia uma quantidade que podia suportar.
Também pensou em Susan.
Ela e Lauren sabiam que ele era o único que deu o
empréstimo a seu pai, para a faculdade de medicina, e que foi
a razão por Cameron envolver-se com os Volkovs.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Era apenas uma questão de tempo para que seus
caminhos se cruzassem.
Limpando a boca com o guardanapo de linho, Mishca
o jogou sobre a mesa, ficando de pé, pronto para interceptar
Mikhail antes que chegasse mais longe, mas o chefe da máfia
acenou com a mão.
— Não há necessidade de tais formalidades Mishca.
— Sua voz era bem alta na sala — Posso me sentar?
Lauren podia sentir a raiva saindo de Mishca,
quando ele, a contragosto, voltou a se sentar. O sorriso de
Alex sumiu ao mesmo tempo em que enrijeceu ao lado de
Mishca. Lauren não sabia que esta era a primeira vez desde a
revelação dos verdadeiros pais de Alex, que ela e Mikhail se
viam. Alex desde então viveu na cidade com Mishca. Lauren
se sentiu mal por ver Alex tão triste.
Como não planejaram o aparecimento de Mikhail,
que estaria fora, e a família estava sentada junto a Mishca e
Lauren, isso significava que Alex teria que se sentar ao lado
de Mikhail, e ninguém parecia feliz com isso.
E como Mikhail foi direto para o banco que assumiu
ser dele, Lauren pensou em algo rápido.
— Mish, por que não troca de lugar com Alex? —
Sugeriu Lauren em voz baixa.
— Lauren... — protestou Alex suavemente, porém
cheia de dor.
— Não, está tudo bem, é o jantar de ensaio.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Com um olhar agradecido de Mishca, ele se afastou
dando a Alex sua cadeira. Enquanto o garçom trazia outra
para Mikhail.
Lauren olhou a Susan tentando ler sua expressão.
Ela forçou um sorriso acariciando sua mão que apoiava no
braço da cadeira.
Inclinou-se e sussurrou — Esta noite é para você e
Mishca, não se preocupe comigo.
Se Lauren nunca disse o quanto estava grata a ela,
logo que terminasse o jantar, falaria. Alheio à ira crescente de
Mishca, Mikhail se sentou, olhando impassível para os
outros. Era como se apenas sua presença fizesse com que
todos se calassem, sem vida.
Durante os próximos quinze minutos todos comeram
em um silêncio tenso, só se ouvia o som dos talheres, até os
amigos de Lauren perceberam que havia algo errado ali.
Lauren só esteve em alguns poucos casamentos em
sua vida, e era muito jovem quando participou para se
lembrar dos detalhes, mas nunca esteve em um jantar de
ensaio antes. Ouviu falar sobre eles, claro, e sabia que
brindes viriam, mas feitos pelo padrinho ou pela madrinha...
não pelo pai do noivo.
Quando Mikhail se levantou, batendo em sua taça
para chamar a atenção de todos, Lauren teve uma sensação
horrível em seu estômago. Algo em seu comportamento lhe
dizia que seu brinde não seria tão despreocupado como
Amber faria.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Eu gostaria de fazer um brinde — disse Luka,
ficando de pé antes que Mikhail pudesse dizer uma palavra
de seu "discurso", ganhando um gemido de quase todas as
pessoas na sala.
Lauren reprimiu um sorriso quando viu seu olhar
contrariado. Não importava que ele fosse dizer qualquer
besteira, estava contente que falassem antes que Mikhail.
Porque não sabia se estava pronta para ouvir o que ele tinha
a dizer.
Mas Mikhail não achou graça, com a testa franzida
olhou para Luka. — Sente-se. Eto prikaz! — É uma ordem!
Agora, não foi apenas constrangimento que atingiu
todos na sala, mas também uma boa dose de medo. Talvez
não a família e os amigos de Lauren, mas todo mundo sabia o
que essas palavras significavam.
Por baixo da mesa, Alex pegou sua mão,
entrelaçando seus dedos. Em seu mundo, o sangue não
significava nada, e Lauren sabia como Mikhail poderia ser
destrutivo. Só podia imaginar como ele agiu — sem nem
mesmo olhar para Alex — desde que descobriu sobre o caso
de Viktor e Anya.
Lauren apertou de volta, oferecendo o conforto que
podia. Procurou o olhar de Mishca, querendo transmitir uma
mensagem sem ter que falar em voz alta, não queria dar
oportunidade a Mikhail de concentrar sua ira nela, mas ele
olhava para Mikhail com tanto ódio, que gostaria de saber
como conseguiu se controlar e não pular sobre seu pai.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não é comum para os membros de nossa família
se casar com alguém de fora das famílias conhecidas, mas
meu filho nunca foi de seguir as regras.
Ouviram algumas risadas desconfortáveis, mas não
estava claro o que significava essa declaração de Mikhail, se
um elogio ou um insulto. E esse foi o problema com todo o
resto do seu discurso. Lauren não sabia se foi ofendida ou...
não, mas ofendeu-se.
— Conheci a jovem Lauren faz algum tempo, e posso
dizer que não é a mesma garota tímida que costumava ser.
Até mesmo meu filho aprendeu uma ou duas coisas com ela,
o que é impressionante, já que ele é o mais velho dos dois.
Lauren engoliu em seco, colocando sua taça sobre a
mesa, nem mesmo fingindo gostar do discurso. A única razão
que ainda a mantinha sentada na mesa era porque não
queria fazer uma cena. Arriscou um olhar por cima do ombro
para Ross, e estava claro que apenas se continha de atacar
Mikhail, Susan apertava as mãos com tanta força que os nós
de seus dedos estavam brancos.
Era o medo, Lauren sabia que isso impedia qualquer
um de falar, e não teria pedido a nenhum deles para ir contra
o Pakhan por ela.
Exceto, Mishca não havia ninguém, e não estava
disposta a deixar que acontecesse.
Mishca ficou de pé em um segundo, seu olho furioso,
com a boca aberta pronto para falar mal de Mikhail, mas um
estrondo na mesa fez que todos olhassem para Luka.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Seus pratos e toda sua comida estavam no chão,
como se os derrubou por acidente, mas a julgar pela
expressão em seu rosto, não foi um.
— Oops. Grande discurso, não? — Seu tom era
desafiante e Lauren não duvidava de que, se não estivessem
em uma sala cheia de testemunhas, Mikhail o mataria ali na
hora.
Mikhail se virou para Mishca, ainda de pé e para
Lauren, levantando sua taça. — Bem-vinda à família.
Bebeu primeiro, então todos fizeram o mesmo...
exceto a sua mesa. Colocando sua taça vazia sobre a mesa,
Mikhail limpou a boca, deixando cair seu guardanapo de
linho sobre a mesa.
— Antes de ir — disse Alex. Sua voz suave no início,
depois cada vez mais forte — Pelo menos deveria ficar para o
próximo brinde. É a etiqueta apropriada.
Para ser honesta, Lauren não se importava quem
mais queria dar um discurso, porque qualquer coisa seria
melhor do que o que Mikhail disse.
— Finalmente — começou Luka, ficando em pé —
Estive esperando...
— Guarde seu brinde para o casamento —
interrompeu Alex e todo mundo começou a rir.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Em vez disso, começou seu brinde — Acho que posso
dizer com muita certeza que conheço Mishca melhor que
ninguém nesta sala... — virou e deu um sorriso a Lauren —
Exceto Lauren, é claro. E em dezoito anos, nunca o vi tão feliz
como está com ela. Nunca pensei que veria o dia em que Mish
se casaria com alguém, ainda mais com alguém tão especial
como Lauren... Ainda não sei o que ela estava pensando
quando aceitou.
Lauren riu, já com o humor melhor. Isto era o que
queria algo alegre e cheio de boas vibrações.
— Você achou o melhor dele, e não poderia estar
mais honrada em se unir à família, mas não só você. Sua
família e amigos são incríveis e enquanto uns dos nossos
podem não bater bem da cabeça...
— Ei! — Gritou Luka do seu lugar, indignado.
— Estamos felizes de ter você. Parabéns e felicidades
a você e ao Mish.
Desta vez, o brinde foi muito mais relaxado, e todos
beberam, mas Mishca não estava feliz. Claro que não.
Esvaziou sua taça e pegou seu paletó da cadeira, foi
até Lauren para beijar sua cabeça.
Em seu ouvido, sussurrou — Desculpe.
Afastando-se, vestiu o paletó, grunhindo algo para
Mikhail que ela não podia ouvir. Todos saíram: Mishca, Vlad,
Luka, Mikhail e seu segurança. Se Vlad e Luka não fossem
com ele, Lauren teria ficado com medo do que Mishca faria.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Temia saber o que seus amigos pensavam depois
disso, mas quando olhou para eles, Tristan balançava a
cabeça, com os olhos brilhando com malícia.
— Tinha que se casar com alguém de uma idiota
louca família russa, não é?
Até Alex sorriu.

Mishca manteve o rosto sério todo o caminho para


fora do restaurante. Conseguiu melhorar isso, aprendendo a
controlar sua aparência quando não podia controlar seu
temperamento, mas assim que Mikhail chegou à calçada com
ele, longe de todos, Mishca não se conteve.
Agarrando-o pela gola da camisa, pronto para atacar
quando foi puxado para trás por Vlad, o segurança do
Mikhail veio rapidamente como se quisesse agarrar Mishca
também. Luka, sem se importar que estivesse em público,
apesar da rua estar vazia, sacou duas armas das costas,
apontando para a cabeça de cada um dos seguranças, que
pararam imediatamente. Não era segredo que ele tinha um
dedo indicador nervoso.
— Que porra foi isso? — Exigiu Mishca — Está
tentando entrar em guerra comigo, potomu chto já gotov dlya
odnogo — porque já estou pronto para uma.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca avisou o que aconteceria se ele se
aproximasse de Lauren novamente, e esta artimanha
definitivamente não passou despercebida por ele.
— É um tolo — disse Mikhail, com fogo em seus
olhos. — O que é que realmente espera disso tudo?
Felicidade? Realização? Vou viver para ver o dia em que irá se
arrepender desta decisão. Anseio por isso. Então vai saber
que não há mais nada para você nesta vida, além dessas
malditas estrelas que foram dadas a você.
— Perdeu o juízo? — Perguntou Mishca seriamente,
tentando controlar seu temperamento — Porque se casou
com uma prostituta, o resto de nós tem que ser infeliz?
Mikhail riu — Todas são putas, rapaz. Você vai
aprender.
Mishca empurrou as mãos de Vlad de cima dele, indo
corajosamente em sua direção, sem nem se preocupar com os
capangas de Mikhail já que Luka os tinha sob controle.
— Chame-a assim outra vez e será a última coisa que
falará.
A ameaça ficou no ar entre eles, e Mikhail poderia
dizer que isso era uma brincadeira, mas mesmo que não
admitisse em voz alta, uma parte dele sabia que Mishca
estaria mais que contente em cumprir sua ameaça.
Enquanto estava ali parado, Mishca deu um passo
para trás, alisando com a mão seu paletó. — Não apareça
amanhã. Não quero ver seu rosto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele passou pelo pai, certificando-se de esbarrar em
seu ombro enquanto retornava ao restaurante, ouvindo Luka
e Vlad vindo logo atrás.
— Nem mesmo cheguei a atirar — reclamou Luka,
guardando suas armas.
Vlad negou com a cabeça. — Acho que não deveria
ter armas aqui.
Luka sorriu, dando tapinhas em suas costas,
pulando para trás quando Vlad quis agarrá-lo. — Não aja
como você não tivesse nada com você, grande bastardo.

— Doze horas — disse Lauren com um sorriso


enquanto chegavam ao seu quarto no hotel depois de uma
longa noite, mas sem sombra de dúvida maravilhosa.
Quando Mishca e outros entraram sem Mikhail, as
coisas voltaram ao normal. Mishca ainda levou Susan para
um dos lados para falar com ela em particular. Nenhum deles
quis dizer a Lauren ou a Ross sobre o que conversaram, mas
Susan estava com o humor bem melhor do que antes.
Pegou sua mão, acariciando os nós de seus dedos —
Demorou bastante tempo.
— Ninguém tem culpa a não ser você mesmo, Mish.
Não se esqueça de que estava com Rebecca quando nos
conhecemos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca riu, esfregando olhos — Nem me lembre.
Ainda me lembro do olhar em seu rosto quando ela derramou
comida em você.
— Não foi minha culpa — disse, rindo junto com ele
— Foi você que decidiu dizer a ela que estava interessado em
mim. Quer dizer, grande conversa para uma noite de
encontro, Mish. Fiquei surpresa que não tivesse jogado sua
bebida no meu rosto também.
— Não é isso que quero dizer, estou tentando falar
que acredito que tudo o que aconteceu, foi por uma razão.
— Sim. — Colocou os braços ao redor dele, apoiando
a cabeça em seu peito — Foi o que nos trouxe até aqui,
acredito.
— É claro.
Levantou para beijar sua bochecha. — Na verdade,
devemos ir para cama. Amanhã temos que levantar cedo.
Ele abriu um grande sorriso — Te vejo no final?
— Em nenhum outro lugar preferiria estar.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Hoje era o grande dia, e as borboletas no estômago


de Lauren a deixavam inquieta. A partir do momento em que
Susan levantou às seis da manhã, ela e Amber estavam
correndo por aí, tentando arrumar tudo enquanto Lauren se
movia de um lado ao outro, como se caminhasse sobre uma
nuvem.
Não parecia ser real, mas ali estava, no quarto se
preparando para o que seria o melhor dia de sua vida, e tudo
a seu redor era um completo caos.
Alex, tentando ficar à frente de toda a organização e
responsável por várias pessoas que participavam, corria de
sala em sala, certificando-se de que tudo estava dentro do
planejado e que ninguém estivesse atrasado. Uma das
diretoras do hotel estava mais que disposta a oferecer seus
serviços, mas ela era mais como uma ajudante de Alex do que
qualquer outra coisa.
Lauren estava nesse momento sentada em uma
cadeira, seu cabelo preso com vários grampos, enquanto
Amber fazia a sua mágica em seu rosto.
— Da maneira que está sacudindo essas pernas, está
me deixando nervosa — disse Amber, segurando a
maquiagem enquanto esperava que Lauren se acalmasse —
Precisa de algo para beber?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Seu estômago se agitou com a perspectiva. —
Acredito que bebi o suficiente por uma vida inteira aquela
noite. Além disso, estou totalmente tranquila. — Se bem que
já estava perdendo um pouco a paciência.
— Tudo bem se não estiver. Acho que nunca conheci
ninguém que estivesse cem por cento seguro na manhã do
casamento.
— Não, eu estou bem, isto é o que eu quero com
certeza.
— Isso é bom, porque levei muito tempo para
terminar esta maquiagem, e não quero que todo este trabalho
desperdiçado.
Alex voltou para o quarto, deixando cair sua
prancheta na cama, carregando um pacote debaixo do braço.
— Ah bom, estamos quase terminando. Tenho uma
surpresa para você.
— A última vez que me fez uma surpresa, eu não
gostei muito.
Ignorando isso, Alex começou a desembrulhar a
caixa, tirando com cuidado o pacote de dentro. Levantou com
as mãos, sorrindo com orgulho.
— Não.
— Definitivamente sim.
— Não vou colocar isso.
Alex fez beicinho, olhando o espartilho em suas mãos
— Por que não? Tem até azul nele.
— Porque quero ser capaz de respirar enquanto
estiver no altar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Alex não iria desistir tão facilmente. — Prometeu que
faria o que eu dissesse. Se não colocar isso, farei sua vida um
inferno.
— Não é possi... bem. — Só podia imaginar o que
Alex faria com ela, então preferiu concordar com isso agora.
Depois que Amber terminou sua maquiagem, Lauren
se levantou, pegando o espartilho de Alex, puxando-o sobre
sua cabeça.
— Acho que deveria se segurar em algum lugar —
sugeriu Alex enquanto começava a puxar as fitas ao longo
das costas dela.
Não acreditava que poderia ser tão ruim quando Alex
começou, porém quanto mais ela fechava e apertava, mais
Lauren percebia que odiava essa ideia.
— Oh, meu Deus, isto é horrível — gemeu Lauren
enquanto se agarrava a cabeceira da cama, apertando os
olhos enquanto Alex estava atrás dela, murmurando palavras
em francês enquanto apertava o espartilho — Por que insiste
que eu coloque isso?
— Para de reclamar. Eu tive que usar um desses em
um banquete que fui e não fiquei chorando por isso.
— Como você espera que eu saia disto mais tarde?
— Diga ao seu marido para tirar — disse Alex,
divertida.
Lauren nem sequer queria perguntar o que ela estava
pensando.
— Está quase pronto. Dê uma respiração profunda...
In the beginning
Volkov Bratva 3
Apesar de Lauren ter respirado profundamente, fez
uma careta quando Alex finalmente terminou de amarrar e
finalizar o laço na parte de baixo do espartilho.
Susan saiu do banheiro com o vestido, vapor saindo
atrás dela. Ajudaram com o vestido, abotoando
cuidadosamente cada uma das pequenas pérolas ao longo
das costas inteira.
Lauren olhou no espelho na frente dela. Todo mundo
se mexendo ao seu redor, rindo, falando, a emoção carregava
o ar. Tentava não passar mal. Havia tanta coisa acontecendo
que não conseguia se concentrar em nada.
Precisava falar com Mishca, só para ouvir sua voz.
— Posso usar meu telefone? — Perguntou Lauren,
agradecendo a Alex quando o entregou em suas mãos.
Algumas pequenas palavras eram tudo o que enviou.
Preciso te ver. Não tinha nem ideia se iria chegar até ele a
mensagem com toda a correria ao seu redor, e o fato de que
Alex o ameaçou o dia todo, não ajudava.
— Já está toda pronta — anunciou Susan com
orgulho enquanto dava um passo para trás — Agora só falta
pegar o véu.
Antes que percebessem, uma forte batida na porta
assustou a todas.
Irritada pela falta de ajuda, Alex reclamou e foi abri-
la, usando seu corpo como escudo para evitar que alguém
olhasse para dentro. Não ajudou muito, já que era Mishca, e
ele era alguns centímetros mais alto que ela.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não pode vê-la! — Gritou Alex com voz aguda,
esticando os braços sobre a sua cabeça para impedir Mishca
de ver o interior do quarto.
— Tudo bem, Alex. Pedi...
— Não! — Disseram todas as mulheres da sala
olhando para Lauren.
— Talvez possa falar com ela através da porta? —
Sugeriu Mishca.
Isso foi suficiente para que conseguissem um pouco
de privacidade, mas Alex fez questão de avisar seu irmão que
se ele tentasse sequer dar uma espiada, pagaria muito caro.
— Está tentando se certificar que não estou fugindo?
— Perguntou Mishca em voz baixa quando ficaram a sós, um
de cada lado da porta.
— Não é isso, mas é tudo tão intenso, e só queria
escutar sua voz — disse, desejando poder ver através da
porta para ler sua expressão.
Mesmo que estivesse chateado com isso, ela sabia
que nunca o diria. Ela era parcialmente culpada que se
sentisse assim, especialmente com tudo o que passaram
juntos. Mas em pouco tempo, todas essas dúvidas ficariam
para trás.
— Primeiro deve saber: não vou a lugar nenhum,
Lauren. Não há necessidade de entrar em pânico, tudo ficará
bem.
Queria acreditar, mas o medo do desconhecido era
muito forte.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Em apenas algumas horas, isso vai acabar, e
amanhã vamos estar em nossa lua de mel. Três semanas de
absolutamente nada, além de nós dois, ok?
Ela sorriu. — Sim.
Chegou perto da porta, a imagem familiar de sua
mão aliviando um pouco do medo. Entrelaçou os dedos com
os seus, tempo suficiente para que o pânico inicial sumisse.
— Termine de se arrumar e venha se casar comigo. Estou
ficando nervoso.
— Jesus, mãe, vai me fazer chorar de novo.

Pela primeira vez, Lauren não podia culpar Susan


por isso. Este dia e tudo o que significava era muito
importante, nenhum deles teria imaginado que mudaria
completamente suas vidas, e mesmo assim não podia
lamentar uma só coisa que trouxe Mishca a ela.
— Estou bem — disse Susan soluçando, sempre de
olho para o detalhe de um cacho solto aparecer e o colocar
atrás da orelha de Lauren — É só que você está tão bonita.
E como ela, os olhos de Lauren se encheram de novo.
Tentou enxugar as lágrimas de seus olhos antes que caíssem,
mas sem sucesso.
— Por que estão chorando? — Perguntou Ross
enquanto entrava no quarto com ar preocupado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não é culpa dela. Estou apenas sendo emocional.
Rindo com conhecimento de causa, Ross a beijou
rapidamente. — Acredito que é a sua deixa para sair.
Recompondo-se o melhor que pôde, Susan deu com o
polegar para cima, prometendo a Lauren vê-la em breve.
Lauren pegou o buque de noiva, girando as rosas em suas
mãos.
— Eu sou um sortudo — disse Ross enquanto pegava
seu braço, o que permitiu liderar o caminho — Você me faz
parecer bem.
Rindo baixinho, ela balançou a cabeça. — Eu sou a
sortuda. Não sei se já te falei, mas estou feliz que esteja aqui
comigo caminhando por este corredor.
— Meu trabalho é te apoiar, não importa com o quê.
Porém isso não significa que eu não irei lembrá-la de vez em
quando, o tipo de homem que você está amarrando a si
mesma.
— Não gostaria que fosse de outra maneira.
Não estavam longe de onde seria a cerimonia, e
quando pararam na frente das portas esperando o sinal,
Lauren só podia ver através do vidro, todos sentados olhando
para frente enquanto as madrinhas e padrinhos entravam
pelo corredor. Luka estava com Alex, e apesar de sua
preferência por jeans e camiseta, estava muito bem com seu
smoking e o cabelo penteado para trás. Amber e Tristan já
estavam esperando na parte da frente também.
— Ainda dá tempo — sussurrou Ross, olhando para
ela com o canto do olho.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Apertando seu braço, negou com a cabeça. — Não é
uma possibilidade.
— Não se pode culpar a um homem por tentar.
Vamos então, está na hora.
Quando a canção nupcial começou a tocar e o
público ficou de pé, dois assistentes abriram as portas,
demorou apenas um segundo para seus olhos se adaptarem
aos raios do sol que estavam muito brilhantes. Lauren podia
sentir os olhos de todos em sua direção enquanto ela e Ross
começaram a entrar pelo corredor, a cauda de seu vestido
varrendo as pétalas de rosa do chão, mas não se importou.
Tudo que podia ver naquele momento precioso era o
sorriso de Mishca quando a viu chegando. Parecia estar
nervoso no início, remexendo sua gravata borboleta, mas
assim que a viu vindo em sua direção, seus braços caíram a
seu lado, com os olhos iluminados, e sabia sem sombra de
dúvidas, que era a garota mais sortuda do mundo.
Virou em sua direção, estendendo a mão para
Lauren, quando ela e Ross pararam.
Ross manteve seu olhar firme, até mesmo quando
entregava a mão de Lauren a Mishca. Ele se inclinou e
sussurrou algo no ouvido de Mishca, que fez uma breve
careta, Ross deu um passo atrás com um sorriso satisfeito,
indo para o seu lugar.
Quando eles voltaram a caminhar no corredor,
Lauren sussurrou — O que ele disse?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Que se eu te machucar, vai arrancar minhas
bolas. — Olhando por cima de Lauren, e com a boca
contraída, acrescentou — Eu acredito nele.
Eles se calaram quando o oficial começou a
cerimônia.
— Estamos aqui hoje reunidos para a união de
Mishca Mikhailovich Volkov e Lauren Delilah Thompson.
Lauren tentou se concentrar em sua voz, mas Mishca
a estava distraindo, fazendo círculos com o polegar em sua
mão. Nem mesmo a olhava, com seus brilhantes olhos azuis
fixos no oficial, mas sabia que ele provavelmente ainda podia
vê-la.
Ou o oficial deu o discurso mais curto que o normal,
ou ela esteve tão concentrada em Mishca que nem notou o
tempo passar. — E agora, os votos.
Mishca se virou para ela, entrelaçando suas mãos.
Ela podia dizer só pelo olhar de seus olhos que, no momento
em que terminasse, estaria soluçando.
— Desde o momento em que derramou café em mim,
sabia que queria você em minha vida.
Ela riu — assim como a maioria dos outros — com
seus olhos já lacrimejando. Não acreditava que já tivesse
chorado tanto em sua vida como hoje.
— Foi seu sorriso, a maneira como você riu apesar de
termos menos que o... início ideal, estava disposta a me dar
uma oportunidade e mesmo depois, quando tinha todas as
razões para ir embora, você está aqui de pé comigo. Prometi
uma vez que te protegeria e quis dizer cada palavra, mas
In the beginning
Volkov Bratva 3
mais que isso, mais que minhas... obrigações, prometo te
amar, mostrar-lhe todos os dias o que você significa para
mim.
Seu lábio inferior tremia, as lágrimas que tentou
segurar, caíram livremente. Só podia imaginar como estava a
essa altura, mas com a adoração que viu nos olhos de
Mishca, duvidava que seu rímel todo borrado importasse.
Ele pegou a mão dela, colocando em seu coração,
perto de uma das estrelas que ele sangrou para conseguir.
— Do kontsa Vremeni — Até o fim dos tempos —
sussurrou ele, só para que ela ouvisse.
Como podia esperar que ela falasse depois disso?
Decorou seus votos dias antes, porque não queria
passar vergonha diante de tanta gente, mas essas palavras
cuidadosamente escritas fugiram de sua cabeça agora que
estava de frente para Mishca.
Abriu sua boca, achando que ia engasgar com suas
palavras, mas resolveu falar com o coração. — Você era
diferente de todos que já conheci. Viu-me, não a tragédia que
aconteceu no meu passado. Não sei dizer qual foi o exato
momento em que me apaixonei por você... — Um sorriso
nostálgico apareceu em seus lábios enquanto olhava para ele,
seu futuro. — É... é como se eu sempre fosse. Embora não
posso prometer obedecer a suas ordens...
— Diga isso para mim.
— Mas — continuou falando com ele — sei que te
amarei, eternamente, até o final.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Havia tanto mais que ela queria dizer, para expressar
a ele, porém não encontrava a maneira de formar as palavras,
mas Mishca a conhecia, por dentro e por fora.
Ele a beijou lentamente, afastando-se para dizer —
Eu sei.
O oficial pigarreou, fazendo-os olharem para ele.
Luka riu — Saltando a arma lá, Chefe13.
As alianças vieram depois.
Amber deu a Lauren a de Mishca. Girando entre seus
dedos, pegando a mão de Mishca enquanto comprometia sua
vida a ele, prometendo amor e respeito, honrar e respeitar em
todas as formas, corando quando viu o sorriso que iluminava
seu rosto enquanto deslizava a aliança em seu dedo.
Vlad não parecia tão rude como normalmente era
quando foi a sua vez de passar a de Lauren para Mishca. Na
verdade, estava até sorrindo. A sua era uma versão mais
feminina que a de Mishca, uma que foi adaptada ao anel de
estilo antigo que já usava. Ouviu o clique das câmeras que
espocavam enquanto Mishca a deslizou em seu dedo, dizendo
palavras similares às suas, mas acrescentou uma promessa
de protegê-la a todo custo.
Então, como já fez várias vezes no passado, pegou
sua mão e beijou os nós dos dedos.
— Eu os declaro marido e mulher — disse o oficial
com orgulho — Agora pode beijar a noiva.

13
Fazer algo antes que deva ser feito, iniciar antes do sinal.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca chegou até ela, seu polegar acariciando sua
bochecha antes de se inclinar e mover sua boca sobre a dela.
A princípio era bem suave, só um leve toque contra seus
lábios, mas não importava que tivessem uma grande plateia,
Mishca aprofundou o beijo.
Não a soltou até que os assobios começaram, e uma
suave risada vibrou em seu peito. Deram a volta para ficar de
frente para suas famílias, de mãos dadas.
Um ponto brilhante no edifício em frente do outro
lado da rua chamou a atenção de Lauren que estreitou seus
olhos nele, mas desapareceu no instante seguinte. Sem dar
muita importância, Lauren sorriu, apertando a mão de
Mishca quando todos aplaudiram.
Começaram a andar em direção a saída e brilhavam
de felicidade, duvidando que algo pudesse arruinar este dia.
Até que tudo virou um inferno.
Ouviu os gritos de surpresa quando todos se
atiraram no chão, os brigadeiros imediatamente pegaram
suas armas, mas o único que Lauren podia ver era Mishca
quando sua mão foi arrancada dela quando ele cambaleou
caindo de costas. O sangue correndo em seus ouvidos
afogando todo o resto quando se jogou sobre ele, tropeçando
em seu vestido quando caiu de joelhos ao seu lado.
— Mish, o que... não, não, não.
Uma mancha escura começou a aparecer no meio do
seu peito, aumentando até o branco de sua camisa, o
surpreendente tom vermelho fazendo com que ela prendesse
a respiração. No mesmo instante, estava gritando por alguém,
In the beginning
Volkov Bratva 3
qualquer pessoa que a ajudasse colocar pressão com as mãos
sobre a ferida.
Sua boca abriu e fechou em vão, como se quisesse
dizer algo, mas ela negou com a cabeça, sua garganta se
fechando enquanto lágrimas caiam de seus olhos. — Você vai
ficar bem, eu prometo. Você não pode morrer — disse, com a
voz fraca quando viu lágrimas rolar pelo lado de seu rosto.
As pessoas gritavam em russo, correndo ao redor.
Ela sabia que alguns estavam lá fora do prédio correndo, se
espalhando para caçar o atirador nos edifícios ali perto.
Lauren não se moveu de seu lugar ao lado de Mishca,
nem mesmo quando chegaram os paramédicos. Alguém teve
que puxá-la para trás, a afastando para que fizessem seu
trabalho. Moviam-se rapidamente, pegando e o colocando na
maca, ajustando uma máscara de oxigênio sobre seu rosto.
Seus olhos ainda estavam nela ainda quando
começaram a removê-lo do salão. Ela nem se preocupou em
olhar para trás para ver quem a segurava, só se sacudiu para
se soltar, segurando a parte da frente do vestido para correr
atrás deles. Quando conseguiu alcançá-los, estavam
fechando as portas do elevador. Virando à direita, abriu com
um puxão a porta da escada, jogando seus saltos no
caminho. Não se importava que estivesse no nono andar,
estava decidida a chegar lá.
Quando chegou lá fora, a ambulância já estava
saindo. Luka logo estava atrás dela, guardando sua arma nas
costas. O manobrista estava ali parado olhando em estado de
choque.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não sei onde está meu ticket — disse Lauren
nervosa — Estamos com um Mercedes preto.
Ele ficou ali olhando, especificamente para o sangue
que cobria suas mãos e o vestido onde ela segurou o tecido.
Luka agarrou a camisa do homem, seus olhos
semicerrados enquanto o puxava para frente, chegando tão
perto do rosto do homem que seus narizes estavam quase se
tocando. — Mexa-se!
O empurrou para longe, sem se preocupar que
estivesse atraindo atenção demais. Pela primeira vez, Lauren
estava contente de Luka estar por perto. Quando o
manobrista estacionou o carro — muito mais rápido do que
faria sem Luka — estava para entregar as chaves para
Lauren quando Luka as arrancou de sua mão, assumindo o
banco do motorista.
Lauren não podia argumentar enquanto entrava no
carro, Luka saindo antes mesmo que a porta estivesse
fechada. Suas mãos tremiam tanto que foi bem difícil
conseguir colocar seu cinto de segurança. A ambulância não
estava muito longe, mas por causa das sirenes eles foram
capazes de desviar do trânsito com facilidade.
Quando os carros começaram a realinhar, Lauren
temia que perdessem a ambulância, mas subestimou a
determinação de Luka de manter-se com ela. Pisou fundo no
acelerador, apertando os dois contra seus bancos, com o
carro em alta velocidade. Motoristas irritados buzinaram,
desviando do caminho para evitar serem atingidos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Estavam quase no hospital quando um tipo diferente
de sirene soou atrás deles, luzes azuis se refletiam no espelho
retrovisor. Lauren se virou em seu banco, olhando primeiro
para o carro de polícia tentando alcançá-los, em seguida para
Luka.
— Não se preocupe com eles. Eu resolvo. Só entra lá.
Lançando o volante para a direita, Luka quase subiu
na calçada, assustando as pessoas caminhando. Lauren
saltou do carro em um movimento rápido, batendo a porta
atrás dela enquanto corria para o hospital. Olhando para
trás, viu que a polícia finalmente chegou até Luka. Sacando
suas armas, mandaram que saísse do carro. Com seu sorriso
habitual, Luka saiu, com as mãos sobre a cabeça enquanto
se apressavam em colocar as algemas nele. Quando ele se
deu conta de que ela continuava olhando, ele fez um gesto
com a cabeça, uma mensagem silenciosa para que fosse logo.
Girando nos calcanhares, Lauren correu através das
portas corrediças, até a recepção. A mulher sentada ali
parecia que esteve de plantão toda a noite e esta manhã, o
cansaço era claro em seu rosto, mas quando viu Lauren em
seu vestido de noiva, sangue em suas mãos e no vestido, se
prontificou em seguida.
— Estou procurando alguém que acabam de trazer —
disse Lauren nervosa — Ele foi baleado...
Não fazia sentido, podia dizer pelo olhar no rosto da
mulher, assim como nas outras enfermeiras que estavam se
reunindo ali perto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Está comigo, Irene — uma doutora disse correndo,
seu uniforme de cirurgia coberto de sangue.
— Onde ele está? — Exigiu Lauren, quando a
doutora a puxou de lado.
— Em primeiro lugar, preciso saber quem é você.
Lauren sabia que a mulher estava legalmente
obrigada a perguntar isso, protegendo a privacidade do
paciente e tudo, mas estava tão perto de perdê-lo, e fazer
perguntas estúpidas só iria irritá-la ainda mais.
— Sou sua esposa.
E lá estava, a primeira vez que foi capaz de dizer as
palavras. Infelizmente, também tinha que ser o dia em que a
vida de Mishca estava em perigo.
— Tudo bem, seu marido está na cirurgia agora, o
Dr. Clarke é o cirurgião chefe que fará...
— Mas, como ele está, quando eu posso vê-lo? Ele vai
ficar bem? Vai não vai?
A médica sorriu gentilmente. — Não saberemos com
certeza até que saia da cirurgia.
— Mas, quanto tempo vai demorar? — Insistiu
Lauren.
— Sinto muito, mas neste momento, não há nada
mais que eu possa dizer. Quando o Dr. Clarke tiver
terminado a cirurgia, virá e conversará com você.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não havia mais nada que Lauren pudesse fazer a não
ser olhar a médica ir embora, deixando um silêncio horrível
enquanto as pessoas passavam por ela, tentando esconder
sua tristeza em ver seu vestido de noiva todo manchado de
sangue.
Deixou-se cair em uma das cadeiras desconfortáveis
da sala de espera, sentindo como se todo o peso do mundo
estivesse sobre seus ombros agora. Às vezes, quando
confrontados com uma situação terrível, que não parecia real,
isso seria empurrado para o fundo da consciência, mas
Lauren não tinha como fazer isso. Pela primeira vez em todo o
dia, tudo parecia muito real.
Ainda podia ouvir os gritos quando as pessoas
abaixaram e gritaram, a sensação de Mishca sendo atirado
para trás com a força da bala.
O medo em seus olhos porque ele sabia que se
estivesse morrendo...
Lauren fechou os olhos, tentando esquecer tudo, mas
desta vez, não havia nenhum lugar para onde pudesse
escapar.
Minutos mais tarde, todo mundo começou a chegar.
Não foi difícil de encontrá-la — a única mulher que usava um
vestido de noiva. Susan e Ross foram os primeiros, ambos
com diferentes expressões de ansiedade. Lauren evitou o
olhar de Ross, não querendo ver o julgamento em seus olhos.
Sem dizer uma palavra, Susan a pegou nos braços,
tentando acalmá-la e logo começou a chorar.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Chegaram mais pessoas, porém Lauren não se


incomodou em reconhecer nenhum deles. Ainda estava
sentada em uma das cadeiras de espera, distante de um dos
lados, mas ninguém ia se aproximar dela, não quando ainda
estava usando um vestido ensanguentado.
— Docinho — falou Amber com cuidado, como se
tivesse medo de assustá-la — Trouxe algumas roupas para
poder se trocar.
Lauren a ouviu, ainda viu a pequena bolsa que tinha
suas roupas, mas não estava pronta para se levantar, pelo
menos ainda não.
— Ficarei na porta — acrescentou Amber, notando a
hesitação de Lauren — Se perguntarem por você, ou se
aparecer qualquer medico falando do Mish, vou entrar e te
buscar. Prometo.
Agradecendo, Lauren pegou a bolsa, indo ao
banheiro. Estava vazio, no fundo tinha um espelho e Lauren
viu seu reflexo pela primeira vez.
Olhos vermelhos, rímel todo borrado, e o sangue de
Mishca estavam em todas as partes que o tocou. Por um
momento, queria se entregar a dor, mais uma vez, a enorme
gravidade da situação era quase demais, mas manteve as
lágrimas, abriu as torneiras de uma das pias.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Teve que se desligar do que estava fazendo enquanto
se lavava, pegando as toalhas de papel para limpar seu rosto.
Quando terminou, foi até a porta, olhando para ver Amber de
pé exatamente onde disse que estaria.
— Poderia me ajudar a tirar isso aqui?
Ela se virou e esperou pacientemente enquanto
Amber desfez cada um dos botões para em seguida abrir o
zíper. Lauren estava tentando não ficar frustrada quando
chegou aos laços do espartilho, mas quando não conseguiu
tirar, Amber pegou uma tesoura e o cortou. Uma vez feito
isto, Lauren se trocou e colocou seu vestido na bolsa, jogando
o espartilho arruinado no lixo, saindo com Amber do
banheiro.
Ross e Susan estavam parados ali em pé, quando
elas voltaram para a sala de espera, e tudo o que Lauren
sentia se via refletido no rosto de Susan. Lauren tinha muito
medo até de olhar para Ross, medo do que pudesse ver ali.
Na verdade, se sentia muito cansada para enfrentar seu
julgamento.
— O que eles dizem? — Perguntou Susan
suavemente.
Não demorou muito tempo para que Lauren
contasse, mesmo porque não havia muito para falar. Alex e
Luka caminhavam juntos no meio de sua breve descrição.
Isto era diferente tendo Alex ali. Todos se preocupavam com
Mishca a sua maneira, mas Lauren duvidava que alguém se
preocupasse com ele tanto como Alex e ela.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas Alex estava lidando com isso muito bem, ao
menos pelo que Lauren poderia dizer. Talvez isso em parte
por causa do homem em pé junto dela...
Os detetives chegaram ao hospital mais tarde,
prontos para questionar a todos os presentes. Lauren foi
paciente, respondendo a todas as perguntas o melhor que
pôde, mesmo tendo sinais silenciosos de Luka sobre o quanto
poderia revelar, não que realmente soubesse muito.
Entretanto, sabia que apesar da polícia de Nova York
prometer iniciar uma investigação sobre o tiroteio, o mais
provável seria que a Bratva encontrasse o atirador antes
mesmo de terem um suspeito.
Depois que os detetives tinham vindo e ido, parecia
que foi a última gota para Ross, recusando-se a permanecer
em silêncio por mais tempo. No início, Lauren ignorou
facilmente suas reclamações, mas quando viu Mikhail
falando com um homem de uniforme hospitalar no canto,
teve outra desculpa para fugir.
Seu plano era se desculpar e ver o que estavam
falando, não se surpreendeu quando Mikhail a manteve fora
da conversa, mas Ross não estava pronto para parar de falar
o que sentia e pensava sobre tudo.
Só que Lauren estava muito furiosa para se
preocupar com o que ele diria.
— Isto é...
Lauren se virou tão rápido, que Ross quase tropeçou
tentando não pisar em seus pés. — Não. O que está prestes a
dizer, apenas não diga.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela não tinha intenção de levantar a voz, nem sequer
planejou continuar essa conversa, mas era como se uma
raiva incontrolável tivesse assumido o controle. Susan e Alex
olharam entre si e se apressaram, querendo evitar que a
situação ficasse pior.
— Mish está em algum lugar, e não tenho nem ideia
de onde e nem como está. Então, tudo o que está prestes a
dizer sobre a sua profissão ou sobre ele, guarde para você.
Não preciso disso no dia do meu casamento, e especialmente
quando não sei se meu marido vai viver ou morrer.
Ross era um homem orgulhoso e implacável quando
era sobre seus princípios, mas ao ver a dor e o medo nos
olhos de Lauren, deixou de lado o que sentia por Mishca e
deu todo o apoio que ela queria.
— Quando souber que ele vai se recuperar, então
pode gritar comigo o quanto quiser.
Lauren se desculparia com ele mais tarde, mas
agora, tinha que saber o que o médico dizia a Mikhail. Já
deixou sua posição sobre o casamento bem clara no jantar de
ensaio, e a julgar pela tensão sempre que seu nome era
citado perto de Mishca, não duvidou nem por um segundo
que ele ficaria com alguma informação vital para ele.
O que a surpreendeu um pouco foi como se tornou
negativo nos últimos meses. Tudo bem, que ele não parecia
gostar dela quando se conheceram, mas pensou que se
preocupava com ela, mas agora não sabia o que pensar.
O médico estava se virando para sair quando Lauren
o chamou. — Desculpe, você é o médico de Mishca Volkov?
In the beginning
Volkov Bratva 3
A confusão era evidente em seu rosto quando lançou
um olhar a Mikhail, em seguida a olhou fixamente. — Sinto
muito, não posso falar de um paciente com...
— Sou sua esposa.
Agora a surpresa cobriu sua expressão, mas apenas
por um segundo. — Eu não sabia que... bom como explicava
ao Sr. Volkov, que no trajeto até aqui, Mishca sofreu uma
parada cardíaca.
O coração de Mishca parou.
Isso era tudo em que podia pensar quando sua
expressão passou de neutra ao entendimento. O sangue
corria em seus ouvidos, suas mãos estavam ficando suadas.
Não achava que podia suportar ouvir o que diria a seguir,
mas suas palavras passaram por seu subconsciente apesar
de seus esforços para bloqueá-lo, e foi quase o suficiente para
fazê-la desmaiar.

“Sobre suas asas se abatia uma densa escuridão,


E enquanto se agitava desabou um ser
Tão poderoso para destruir
A uma alma que conhecia tão bem.”
—The Happiest Day, the Happiest Hour 14

14
Trecho do poema “The Happiest Day, the Happiest Hour”, escrito por Edgar Allan Poe, em
1827.
In the beginning
Volkov Bratva 3

— E o dano foi tão severo, que temíamos perdê-lo,


mas fomos capazes de fazer seu coração bater novamente. Ele
ficará bem, mas vai demorar alguns meses — ou até mais —
antes que volte a ser como era. Devido a suas lesões, tivemos
que dar grandes doses de medicamentos, por isso estará
sedado por um tempo.
Isso era tudo o que Lauren precisava ouvir, mesmo
se sua resposta não foi exatamente o que esperava. Mishca
estava vivo, e por agora, isso era suficiente.
— Quando serei capaz de vê-lo?
— Deve estar indo para a recuperação agora. Vou
enviar uma das enfermeiras quando estiver preparado.
Sorrindo com gratidão, Lauren apertou sua mão. —
Obrigada, doutor.
Enquanto se afastava, observou-o até virar o
corredor, e logo olhou para Mikhail. Não acreditava que
chegaria o dia em que teria que enfrentar o chefe da máfia
russa de novo, mas não voltaria atrás agora.
— Há alguma razão pela qual pensou em não me
incluir na conversa?
— Não respondo a você, garota.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren lutou por paciência, sabendo que não podia
lhe falar como se fosse uma pessoa normal. Estava
acostumado a que lhe mostrassem respeito a cada momento,
sem que ninguém o questionasse. Se planejava questioná-lo,
tinha que manter sua própria ira controlada.
— Isto não tem nada que ver com a Bratva. O único
que me importa neste momento é Mishca.
— Seu pai...
Revirando os olhos, Lauren cruzou os braços sobre
seu peito, olhando-o audazmente. — Acredito que perdeu seu
efeito. Escolha outra má lembrança.
— Olhe como você...
— Não, olhe como você fala comigo. Não sou uma
menina, e apesar de quão enérgico acredite que é, não
conseguirá me separar de Mishca. Do contrário, não estaria
aqui agora mesmo. Sim, ele é seu filho e tenho certeza de que
o ama a sua maneira, mas nada do que faça me manterá fora
de sua vida.
Sentiu uma presença atrás dela, e quase temia ver
quem era, mas quando uma mão tatuada descansou sobre
seu ombro, relaxou.
—Há alguma coisa que possa fazer, chefe?
A pergunta foi feita de forma bastante inocente, mas
pela maneira como seu corpo se inclinava, Lauren não sabia
se Luka perguntava a ela ou a Mikhail, e parecia que Mikhail
não perdeu isso também.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele respondeu em russo, palavras recortadas e
zangadas antes de lhe dar as costas e sair da mesma forma
em que chegou.
— Não quero que te meta em problemas, Luka —
disse Lauren enquanto voltavam à sala de espera.
— Mish está muito ocupado se fazendo de morto para
me fazer mal neste momento, assim acredito que estou bem.
Lauren lhe deu um murro no peito, mas sorriu,
embora só porque recebeu a boa notícia do médico de
Mishca. — Acredito que é a primeira vez que ouço você
chamá-lo de Mish.
Luka parou no meio da sala, com sua testa cada vez
mais evidente à medida que girava sobre seus pés e se
afastou, sem dizer uma palavra mais. Talvez não devesse ter
mencionado seu deslize?
Lauren atualizou a todos do que o médico disse,
deixando de lado sua conversa com Mikhail, não existia razão
para que eles soubessem. Com o passar das horas, um por
um todos saíram. Terminou a hora de visita e Lauren estava
mais que disposta a pedir às enfermeiras para deixarem-na
ficar só um pouco mais, mas o que fosse que Luka fazia —
considerando que uma delas estava ruborizada e com um
enorme sorriso — nunca foi sequer abordada.
De fato, por volta das duas da madrugada, uma
enfermeira se aproximou de Lauren com uma tabela na mão,
pronta para levá-la ao quarto de Mishca.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O medo apertou seu coração enquanto era conduzida
a um quarto privado. Não sabia o que esperar, especialmente
quando não conhecia o tipo de dano que Mishca teve por
causa disso. Sabia que as feridas de bala eram perigosas e
embora pudesse não parecer tão mal, o interior do corpo
poderia ter sofrido muito mais danos do que era visível.
Já na porta, a enfermeira lhe deu um sorriso amável,
tocando brevemente seu ombro. — Eu vou te dar um minuto.
Só tem que apertar o botão se precisar de algo.
Lauren ficou sozinha, com o coração martelando
enquanto tentava se preparar mentalmente para o que veria
quando entrasse. Imaginava-o com um tubo atravessando
sua garganta, respirando por ele, mas quando finalmente teve
coragem para entrar, a realidade era muito diferente.
Estava só tão... quieto.
Não podia tirar os olhos dele enquanto caminhava ao
redor de sua cama, sentando na cadeira vazia. Se não
estivesse ali, não teria se dado conta do que lhe aconteceu.
Em todo caso, só parecia cansado, com bolsas sob os olhos, e
mais pálido que de costume. Mas, além disso, era como o
lembrava.
Sua mão tremia enquanto o alcançava, seus dedos
tocaram os dele, antes de deslizar sua mão por debaixo da
dele para sustentá-la. Estava tão acostumada a que reagisse
quando fazia isso, que lágrimas se formaram em seus olhos.
A única coisa que a impedia de se desestruturar
completamente era o movimento constante de seu peito.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não se movia de qualquer outra forma, mas isso, isso
era suficiente.

Quatro horas.
Esse foi o tempo que demorou a Lauren reunir a
coragem para chamar Luka, pedindo-lhe que viesse a seu
encontro no quarto de Mishca. O hospital estava
relativamente tranquilo, só a enfermeira ocasional fazendo
suas rondas. Sempre ouviu que o medo levava às pessoas a
fazerem coisas loucas e nesse momento, Lauren concordava
completamente.
Vlad era sua primeira opção, mas Lauren sabia que o
que lhe pediria seria muito, e era mais que provável que
tentasse convencê-la a se manter fora do assunto, mas
precisava fazer isso.
Não queria viver com medo.
Luka entrou pela porta, com um saco de uvas na
mão. — O que posso fazer por você?
Sabia que o que estava a ponto de pedir não seria
bom para ele, especialmente pela pessoa com a qual trataria.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Preciso que encontre Klaus. — Assim como
pensou, não parecia contente com a ideia, mas precisava que
entendesse a razão — Mishca disse que Klaus era um dos
melhores — se não o melhor — franco-atirador no mundo.
Assim, ou foi ele que atirou, ou sabe quem foi. De qualquer
maneira, temos que achá-lo.
Luka esfregou sua mandíbula, sua expressão
fechada. — Nyet. Não é uma boa ideia.
— É o que faz, entretanto — argumentou Lauren — É
um executor. Encontra gente, para lhe dar surras ou para
entregá-los. Quero que o traga, e se te faz sentir melhor, pode
lhe dar um murro na cara pelo que te fez.
— Tentador, sim, mas o Cap teria minhas bolas se
me incomodasse em trazer alguém como ele para você.
Especialmente com ele fora de serviço — disse movendo a
cabeça para Mishca.
— O que Mishca te disse para fazer exatamente? —
Perguntou Lauren, negando-se a voltar atrás no que queria.
— Que cuidasse de você... — mas sua voz foi se
apagando, e sabia que ele sabia exatamente ao que se referia.
— E o que mais?
Revirando os olhos, coçou a cabeça. — Dar-lhe tudo
o que pedisse.
— E preciso do Klaus aqui.
— Bem. — Levantou as mãos no ar — Mas não te
moverá deste lugar até que volte. E se não puder pegá-lo, só o
deixe assim, ok? Não preciso de você ferrando essa merda
mais.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Vlad inclusive pode me fazer companhia — disse
alegremente, olhando ao estoico homem que acabava de
entrar no quarto.
Olhou entre os dois, curioso a respeito do que
falaram, mas não perguntou. Luka foi ter uma conversa
privada com Vlad. Com eles no quarto, Vlad se aproximou,
sentou-se junto a ela e acariciou seu ombro.
Ela sabia o muito que Mishca significava para ele,
embora nunca dissesse as palavras em voz alta. Mishca
sempre falou positivamente sobre ele e antes de Luka, era e
sempre seria Vlad.
— Acredita que vai despertar? Esteve dormido por
muito tempo— ela perguntou em voz baixa, essa questão
ecoava em sua mente.
Nunca teve a coragem de perguntar a ninguém mais,
por medo do que pudessem dizer. Susan e Ross a teriam
adoçado, duvidando de que realmente queria saber o que
pensavam. Ross poderia ter querido, mas Susan o teria
detido, sobretudo depois da forma como Lauren falou com ele
antes.
— É muito teimoso para morrer — respondeu depois
de algum tempo.
E isso era tudo o que podia esperar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Passou um dia após o outro, e Mishca ainda não
despertara. Alex veio com Amber e os outros, inclusive Susan
e Ross. Luka ainda não voltou nem chamou ninguém, mas
Lauren queria esperar um pouco mais antes de enviar Vlad
atrás dele.
Tornou-se um elemento permanente no hospital, as
enfermeiras de Mishca em suas rondas a saudavam por seu
nome. Mais tarde nesse mesmo dia conseguiu as respostas
que precisava.
Lauren saiu do lado de Mishca por poucos minutos,
mas quando retornou ao seu assento, sentiu sua presença
sem vê-lo. Não teve tempo de perguntar-se como passou pelas
enfermeiras ou inclusive por Vlad, que ficou dormindo na
recepção, estava contente de que ele estivesse ali.
— Não acreditei que realmente aparecesse —
sussurrou, sem incomodar-se em tirar o olhar de Mishca
enquanto dormia.
Klaus fez um som quando saiu das sombras, seu
olhar saltando dela a Mishca, parando por um momento
antes de virar para ela. Tinha a esperança de ver algo, algum
indicio de emoção em seus olhos para demonstrar que se
importava com o que aconteceu com Mishca, mas não havia
nada, como se nem sequer fosse humano.
— Você chamou por mim, aqui estou. O que quer?
A primeira vez que Lauren conheceu Klaus, estava
muito emocionada pelo fato de que Mishca tinha um gêmeo,
não notando realmente as desigualdades entre eles, mas
agora que o olhava, tinham sutis diferenças entre eles.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Klaus não tinha barba, pelo menos durante o tempo
em que eles cruzaram seus caminhos, seu cabelo era muito
mais curto, que mal caía abaixo de suas orelhas. E existia
tanta ira em seu rosto. De fato, não havia absolutamente
inflexão em sua voz para descobrir sua origem.
— Preciso de sua ajuda.
— Não há nada que possa fazer pelo russo — disse,
colocando as mãos nos bolsos enquanto permanecia de pé
junto à janela, com as costas contra a parede — E, quem
pode dizer que não pus essa bala nele?
— Não teria aparecido se tivesse feito, e se
aparecesse não falaria comigo. Além disso, há muitas
testemunhas.
Sorriu como se a achasse engraçada. — Poderia
partir seu pescoço antes que fizesse algum ruído. Diria que
pergunte a seu russo, mas... — deu de ombros como se não
tivesse nenhuma preocupação no mundo — não pode
responder neste momento.
Provocava-a, igual Luka fazia no dia a dia, mas
diferente dele, Klaus não fazia isso para que sorrisse.
— Mishca disse que é o melhor franco-atirador que
conhece, o que me diz que se fosse você que disparasse, não
teria errado o seu coração.
— É verdade, mas ainda não vejo por que estou aqui.
— Quero que encontre a pessoa que fez isto.
— Não é meu problema.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren franziu o cenho, apertando suas mãos
quando tirou os olhos de Mishca para olhar para ele. —
Independente do que se passou entre vocês dois, ele continua
sendo seu irmão.
Revirando os olhos, espetou-lhe — Se pensa apelar
para mim dessa maneira, claramente não sabe de nada. Um
conselho afaste-se antes que esteja em uma cama junto a ele.
Ela sacudiu a cabeça antes mesmo que terminasse.
— Não posso fazer isso.
— Então é muito mais estúpida do que pensava.
Terminamos aqui?
Com passos largos, estava quase fora da porta, mas
ficou de pé rapidamente lhe fazendo uma oferta antes que
pudesse dar um passo mais.
— Vou pagar! É só dar o preço.
Não sabia muito sobre mercenários, ou a forma em
que trabalhavam, mas se fossem como o que pensava, estaria
disposto a prestar seus serviços por dinheiro, não importava
se odiasse à pessoa para a qual estaria trabalhando.
Deu a volta, descaradamente rindo dela. — Você não
poderia me pagar.
Fortalecendo sua determinação, levantou o queixo
um pouco, olhando-o com ousadia. — Ponha seu preço.
— Meio milhão.
Ele não parecia esperar que ela concordasse com
essa quantia — isso era muito mais do que cobrava
normalmente por um trabalho parecido — mas não lembrava
o que o medo fazia às pessoas desesperadas.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Feito.
Klaus a observou durante uns momentos antes de
sacudir a cabeça, parecendo desconcertado por sua resposta.
— O que fará na próxima vez? — Perguntou-lhe
Klaus enquanto parava ao seu lado, fazendo-a esticar seu
pescoço para olhá-lo no rosto — Tem que saber que este não
será o único atentado contra sua vida.
— Farei o que tenha que fazer — disse com
convicção.
— Com que facilidade está disposta a eliminar
alguém mais para salvar seu precioso amante? E se a pessoa
que está caçando é um pai com esposa e filho, ainda irá
querer que faça o disparo?
Suas palavras tiveram o efeito desejado, fazendo-a
estremecer, perdendo algo de sua presunção.
— Não é melhor que eles, verdade?
Desta vez, Lauren não tentou detê-lo enquanto saía
do quarto. Voltou a sentar-se ao lado de Mishca, tentando
tirar de sua cabeça o que Klaus acabava de dizer.
Porque uma parte dela temia que fosse verdade.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Algumas horas mais tarde, Lauren piscou abrindo
seus olhos, não muito segura de que tivesse despertado. —
Luka, que porra?
Estava agachado frente a ela, seu rosto a poucos
centímetros dela, mastigando lentamente uma fatia de
laranja, um sorriso estendendo-se em seus lábios quando
finalmente percebeu que estava acordada. Desde que estava
de bom humor — considerando como ele era — duvidava que
soubesse a respeito da presença de Klaus na noite anterior.
Decidiu que podia esperar até mais tarde para lhe dizer.
Empurrou-o para trás com relutância, sentando-se
para ela poder olhar a seu redor, então para Mishca. Tudo
permanecia igual.
— O que quer? E onde esteve? Já ia enviar uma
equipe de busca.
— Fazendo meu trabalho, porém não pude encontrá-
lo. Mas basta de mim, esteve aqui durante três dias e você
tipo cheira...
— Tomei banho ontem, e considerando que você
acabou de me acordar, tenho uma desculpa válida.
Só continuou como se não tivesse falado. — E
poderia ser bom que conseguisse preparar algo para quando
o Cap for para casa.
Lauren se endireitou, olhando para onde Mishca
seguia dormindo tranquilamente. — Houve notícias? Os
médicos disseram alguma coisa? E por que não despertou?
— Convenci a uma enfermeira de que me dissesse
isso. Ela foi surpreendentemente flexível considerando...
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Luka!
— Bem, você não é divertida. A inflamação baixou, e
eles pararam o blá, então ele vai despertar e blá, blá, blá,
boas notícias. Além disso, alguma outra merda que me
pareceu chata.
Lauren tocou seu ombro, fazendo-o parar em meio de
suas divagações. — Luka, por favor. O que disseram?
E surpreendentemente, voltou a citar o que lhe
disseram, textualmente, inclusive utilizou a terminologia
médica com a qual ela se atrapalhou um pouco. Quando
terminou não podia fazer nada mais que olhá-lo assombrada,
deu-lhe um pequeno e triste sorriso, que a fez se perguntar o
que acontecia com ele.
— Nunca me esqueço de nada. — Mas logo que a
tristeza repentina se apoderou dele, saiu subitamente desse
estado — Pronta para ir?
Decidindo que era melhor não discutir, recolheu suas
coisas, e depois de dar um beijo em Mishca, foi com ele.
Depois do tiroteio, não esteve na nova casa, em vez
disso passou todo seu tempo no hospital, não que alguém
parecia se importar. E assim foi mais fácil que sua babá
cuidasse dela, ou ao menos essa foi a desculpa de Luka,
embora Lauren duvidasse disso.
Luka respeitou o limite de velocidade no caminho, já
que tinha uma multa com a que tratar. No momento em que
chegaram e subiram no elevador, Lauren fez uma contagem
regressiva desde vinte, tentando não pensar em tudo o que
teria que fazer, quando estivesse no apartamento.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Surpreendeu-se ao ver que os presentes lhe davam
as boas vindas, empilhados em toda a sala, variando em
cores e tamanhos, um lembrete do que deveria ser o melhor
dia da sua vida.
Seus passos eram dolorosamente altos quando foi
mais para dentro, Luka atrás dela. Pensou em voltar para o
hospital, mas precisava enfrentar isto primeiro. E se...
quando Mishca viesse para casa, queria torná-lo mais fácil
possível para ele.
Deixou cair suas chaves e bolsa sobre a mesa,
ignorou os presentes no momento, dirigindo-se a seu quarto.
Os lençóis ainda estavam enrugados de sua última noite
juntos, outra lembrança dolorosa.
Fechando a porta — deixando Luka por sua conta —
tirou a roupa e foi para o banheiro tomar uma ducha. Ali,
deixou que a água lavasse seu sofrimento, sabendo que tinha
que ser forte, embora fosse só por Mishca. Tinha que
acreditar que ele seria o mesmo uma vez que despertasse,
dando-lhe esse sorriso tranquilizador e sem que o pedisse,
prometer que não levaria um tiro de novo, mesmo que ele não
pudesse controlar algo assim.
Lauren ficou sob o jorro de água até que esfriou,
pegando uma toalha da barra a envolveu em seu corpo,
pegando outra para seu cabelo.
Tinha muita roupa para escolher, mas em vez disso,
optou por uma camiseta de Mishca e uma de suas calças de
moletom, dobrando a cintura algumas vezes para mantê-la
no lugar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Voltando para a sala de estar, viu Luka sentado no
bar, com um estranho pedaço de comida em sua mão, uma
que nunca viu antes, mas, sem dúvida, era uma fruta. Não
parecia comer qualquer outra coisa.
— Sente falta do bordel? — Perguntou, caminhando a
seu redor para pegar uma garrafa de água da geladeira.
— Que nome tão feio, não? Eu gosto de pensar que é
como meu lugar feliz.
— Como está Natasha? — Lauren só esteve com ela
duas vezes, uma delas na casa segura e a outra na despedida
de solteiro, por isso perguntava sobre ela.
— Não gosta de me compartilhar.
— O que quer dizer?
Piscou.
Esperando um segundo, ela perguntou — Vai
responder?
Ele sorriu.
Claramente, ele não ia explicar-lhe isso. — O que
está comendo? — Perguntou assinalando a fruta estranha
que Luka ainda comia.
Olhou para ela como se nunca a tivesse visto antes.
Segurando-a, semicerrou os olhos, girando-a em várias
direções antes de lhe dar finalmente uma grande dentada. —
Chamam-na a fruta do dragão — disse com a boca cheia, por
isso foi difícil para ela entendê-lo. — Está boa.
— Sabe, nunca te vi comer nada mais que fruta. Há
alguma razão para isso?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Precisa ajuda para desempacotar qualquer dessas
coisas? — Perguntou, e pela primeira vez desde que o
conheceu, seu tom a fez pensar.
As perguntas pessoais estavam claramente fora dos
limites. Seja qual for o motivo para sua escolha de comida,
estava claramente fora de discussão.
— Não, posso fazer isso sozinha.
— Faminta?
Sinceramente, não podia lembrar a última vez que
comeu algo substancial. Esteve sobrevivendo unicamente de
batatas fritas e energético das máquinas automáticas. Não
seria ruim comer algo.
— Há algum lugar do qual deseje pedir?
Luka zombou, atirando a casca da fruta no lixo
enquanto contornava a ilha, abrindo a geladeira. — Não como
fast-food15.
Com o cenho franzido, perguntou-lhe — O que come?
— Cozinho.
Começou a tirar vários mantimentos das prateleiras,
logo procurou uma faca nas gavetas. Nem sequer se deu
conta de que havia comida ali desde que ela e Mishca
raramente comiam em casa.
— Não sabia que sabia cozinhar Luka.

15
Comida rápida, no sentido de comer besteiras, comer mal.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Olhou-o, surpresa quando se virou com uma faca
bem grande em suas mãos, tirando outra ferramenta para
afiá-la. Movia-se a grande velocidade, completamente
confortável com o que fazia.
— É por isso que sempre come frutas, não é? Porque
não come fast-food.
Assentiu, cortando um pimentão e uma cebola. — Já
sabe. Assim, me deixe fazer meu trabalho e vá procurar algo
que fazer.
Com muito poucas opções, Lauren se voltou para as
dezenas de caixas, levando-as a um dos quartos vazios em
que não teria que vê-las. Não se sentia com direito de abri-las
sem Mishca, e até que melhorasse, podia esperar.
Em seguida, ela trocou a roupa de cama,
substituindo por lençóis limpos, revisando o banheiro ao
lado.
No momento em que terminou, realmente tinha fome.
Luka ainda estava no fogão, apagando o fogo
enquanto tirava dois pratos do armário superior, pondo-os
lado a lado. Logo que notou sua presença, começou a servir
sua criação. Parecia animado enquanto trabalhava, a
frequente tensão em seu corpo esquecida quando habilmente
pôs as porções nos pratos.
Para tão caprichoso adornando os pratos, limpando
qualquer excesso da borda com a toalha de seu ombro.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Assinalando para que se sentasse, empurrou um dos
pratos para ela, uma faca e garfo, com um amplo sorriso. —
Bon appétit16.
— O que é isso? — Desde que ficou doente, pensou
que seria bom perguntar para saber ao menos o que era.
Encolheu os ombros, e começou a falar em um
perfeito francês, apontando para cada coisa no prato,
assentindo como se ela soubesse o que dizia. Claramente, ela
teria que aprender mais que russo se conviveria com eles.
— Não sabia que falava francês. — Estava
aprendendo mais a respeito de Luka esta noite do que nos
meses que o conhecia.
— Estou aprendendo.
— Quanto tempo esteve estudando?
— Cerca de uma semana.
Lauren olhou-o com os olhos arregalados, cortando
uma das maiores costeletas de porco que viu. — Pensei que
diria alguns meses.
Olhou-a, aparentemente antecipando o momento em
que finalmente desse uma mordida. — Aprendo rápido.
Finalmente pondo fim a seu sofrimento, ela mordeu,
mais que disposta a controlar suas reações e assim não
feriria seus sentimentos, mas não havia necessidade, não
com a forma em que foi cozido.

16
Bom apetite dito em francês.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Se alguma vez desistir desta vida — disse Lauren
enquanto comia umas batatas — definitivamente poderia ser
chef.
Se Luka fosse capaz disso, pensaria que corava nesse
momento. Pôs uma mão sobre seu coração, inclinando-se
ligeiramente. — Humildemente obrigado.
— Alguma razão em particular pela qual escolheu
estudar francês? — Perguntou Lauren inocentemente,
tentando não sorrir quando os lábios de Luka contorceram.
— Não é de sua maldita conta.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Escuridão.
Era tudo o que Mishca via, tudo o que podia sentir
já que estava perdido em sua própria mente. Houve breves
lampejos de imagens, mas nada que tivesse sentido para ele,
não ao menos até que a dor retornou.
Quando chegou, sentiu o ardor, a sensação da bala
rasgando sua carne quando o atravessou, quase tirando seu
ar enquanto lutava contra a agonia. Queria agarrar-se a algo,
qualquer coisa além da dor inimaginável que inundou seu
peito.
Mish, não morra.
Essas palavras foram como uma âncora para ele,
puxando-o para longe do abismo, de volta à superfície. Foram
as últimas palavras que lembrava, e com isso veio seu
sorriso, seu rosto. Tinha que despertar, embora só fosse
porque ela pediu.
Ele...
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca tomou uma respiração irregular, seus olhos se
abriram pela primeira vez, suas pálpebras parecendo como se
estivessem se rasgando separadas, sua mão indo
imediatamente a seu peito onde sentia o fantasma da bala
que o atravessou. Apesar de ter sido alvejado, Mishca nunca
sentiu o rasgo de uma bala em seu corpo, especialmente não
com esse calibre.

Tentando sentar-se, ele se acalmou quando escutou


o som inconfundível de um pigarro a sua direita.
— Não tentaria isso se eu fosse você — disse Klaus,
sem qualquer emoção real em sua voz — Poderia rasgar seus
pontos... ou talvez devesse. Tanto faz.
Mishca deu uma olhada ao redor, tentando se
orientar antes de se dirigir a seu irmão. Deveria saber que
isto era seu trabalho. Ele sabia melhor que ninguém que
Klaus nunca iria querer que fosse feliz.
— Está aqui para terminá-lo?
— Infelizmente, não era eu naquela cobertura, do
contrário não estaríamos tendo esta conversa. Sua esposa
parece me conhecer melhor que você. Nunca perdi um alvo.
Mishca não pode ajudar, lembrando a última vez que
viu Klaus antes que ele reaparecesse em sua vida.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca ficou fora da porta fechada, não sabendo o
que sentir, como agir, ou mesmo o que fazer. Do outro lado
estava seu gêmeo, um que não sabia que existia até vinte
minutos antes. Nesse curto espaço de tempo, tudo o que
pensou que conhecia de sua mãe parecia como uma mentira...,
mas de algum jeito, também fez sentido.
Quando estava viva, e durante os momentos em que
pensava que ele não escutava, recordava frequentemente de
ouvi-la falando sozinha sobre os sacrifícios que fez, mas nunca
imaginou que um bebê foi esse sacrifício.
E Mishca nem sequer sabia seu nome.
Jetmir Besnik estava de pé diante dele, falando de
negócios com Mikhail como se não tivesse passado dias
torturando alguém, que assumiu ser um capitão da Volkov
Bratva. Isso com certeza não caiu bem a Mishca, e se ele
estivesse no comando, mataria a todos eles com discrição. Foi
por essa razão que Mikhail dirigiu esta reunião improvisada.
Ele não era nada a não ser um homem de negócios. Não
pensou no fato de que seu plano era torturar Mishca, somente
o que ganharia disso.
— Estamos de acordo? — Mishca escutou enquanto
sintonizava de novo na conversa.
Algo que os albaneses lhe ofereceram, nunca seria
suficiente para Mishca.
Jetmir estendeu a mão. Mikhail a aceitou, assim como
as mãos de alguns outros que Jetmir trouxe com ele.
— Mishca?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Manteve seu rosto inexpressivo, mas Mishca ardia de
raiva no interior quando Mikhail disse seu nome. Sabia o
significado que Mikhail lhe dava. Como era seu costume,
Mishca estava obrigado a aceitar o apertão de mãos com eles
também, não importava o quanto isto o incomodasse. Mas não
estava em posição de discutir.
A contra gosto, Mishca aceitou a mão de Jetmir,
olhando nos olhos do homem. Fosse o que Mikhail tivesse
visto, simplesmente o ignorou, Mishca podia ler facilmente a
expressão de Jetmir. Pensou que ganhou esta, e em certo
modo, o fez.
Quando todos se foram, algum tempo depois, Mishca
voltou para o quarto, surpreso de encontrar a porta aberta, seu
gêmeo coxeando dentro, olhando-o ferido.
— Vai deixá-los sair? — Perguntou, as palavras
soaram tensas da metade de seu rosto que estava torcida.
— Não é de seu interesse — disse Mishca, muito
zangado para discutir mais.
— Mas me torturaram, e Sarah.
As lágrimas brotaram de seus olhos, a vista disso
Mishca franziu o cenho. Eram muito parecidos ao chorar, e isso
era algo que nunca fez, não desde que sua mãe morreu.
— Sim, ela está morta. Você deve seguir adiante,
aprender com isso. Não há nada que se possa fazer a respeito
agora.
Parecia que Mishca o golpeou, e vê-lo tão fraco o
deixou irracionalmente zangado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Por que veio aqui? Qual foi o seu propósito? — Ele
ficou surpreso com raiva de Mishca, tentando balbuciar uma
resposta, mas só o enfureceu mais — Não importa. Volte para
seu quarto. Não há nada mais que discutir entre nós.
— E se ele matasse alguém que amava? — Continuou
desesperadamente — Você simplesmente o deixaria fugir com
isso? Eu...
Ele não se sentiria culpado. — Não a teria deixado
morrer. Não desconte a sua fraqueza em mim.
Olhando-o ainda mais destruído que antes, retirou-se
do quarto, batendo a porta com um clique estrondoso.
Naquela época, Mishca não era quem era agora. Seu
ódio era como uma ferida aberta, e sem querer desforrou em
Klaus quando ele mais precisava dele. Quando a criada veio
lhe dizer que Klaus escapou na manhã seguinte, era tarde
demais. Já tinha se tornado um fantasma. Vendo que
ninguém sabia da existência de Klaus — uma condição que
Jetmir seguiu surpreendentemente — ficou ainda mais difícil
rastreá-lo, mas ao final, Mishca o encontrou. E não podia
dizer que gostou dos resultados disso.
Mishca lamentou esse dia durante anos. Em parte,
ele era a razão pela qual Klaus se transformou em um
mercenário.
— O que está fazendo aqui se não é para me matar?
— Perguntou Mishca enquanto se concentrava de novo no
presente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— A senhora me ofereceu o pagamento para localizar
quem te pôs aqui. Diga-me, realmente sabe que vem com
bagagem? Porra, ela parece terrivelmente ingênua.
Mishca o olhou, desconcertado por sua declaração.
— Do que está falando?
Klaus atirou ao chão a revista que segurava, ficando
de pé, estirando os braços por cima da cabeça. A parte
inferior de sua camisa levantou, mostrando a irregular
cicatriz de seu abdômen. Rodeou a cama lendo a etiqueta em
uma das bolsas que estava conectada a uma via intravenosa
no braço de Mishca.
— Morfina. Não é de estranhar que esteja fazendo
perguntas idiotas. Lauren, a moça que foi o suficientemente
estúpida para casar-se contigo, contratou-me para fazer um
trabalho. Acompanhe, russo.
Às vezes, a sua culpa o fazia esquecer quanto Klaus
lhe incomodava. — Como te encontrou?
— Enviando seu cão de estimação a uma caçada. Um
amigo de um amigo de um inimigo entrou em contato.
Mishca negou com a cabeça. — Recuse a tarefa.
— Não posso fazer. Já aceitei o pagamento.
O que significava que deveria seguir adiante com o
que lhe pedisse. Era a forma em que trabalhavam, o código
pelo qual viveu.
— Ela não entende o que está pedindo que faça. Não
posso...
In the beginning
Volkov Bratva 3
—Oh, acredito que o faz. Não esqueça, ela veio até
mim. Quanto tempo demorou antes de subir de novo em sua
cama depois que descobriu sobre seu pai? Uma semana?
Duas?
Mishca fez um movimento para agarrá-lo, assobiando
de dor quando a agulha na parte posterior de sua mão
puxou. Klaus apenas riu, o bastardo irritante.
— Qualquer que seja seu problema comigo, deixa-a
fora disto.
— E me negar esta diversão? Não importa, até que
encontre o nosso franco-atirador, ela e eu estaremos perto.
Quero dizer, poderia transar com ela, se quisesse, não
saberia a diferença.
Desta vez, Mishca não se importou com a agulha.
Arrancou-a liberando-se. A máquina que monitorava seu
ritmo cardíaco soou freneticamente, as enfermeiras,
provavelmente a caminho.
Klaus levantou as mãos, sem deixar de rir apesar de
que o humor não chegou a seus olhos. — Nos veremos logo,
russo.
Ele estava fora da porta momentos antes de duas
enfermeiras entrarem correndo, insistindo que Mishca
voltasse para a cama. Demorou um pouco a convencê-lo, mas
elas finalmente o deixaram depois de colocarem sua
intravenosa, e lhe dizendo que o médico viria em breve.
Já, tudo tinha ido à merda.
In the beginning
Volkov Bratva 3

— Como foi? — Perguntou Luka.


Se se tratasse de qualquer outra pessoa, Mishca
poderia ter pensado que realmente queria saber, mas Luka...
não, ele gostaria levar um tiro só para poder experimentar a
dor.
— Precisa ver alguém? — Perguntou Mishca
agarrando a camisa de Luka. — Há alguns psiquiatras que
tenho nos contatos.
— Tive um, mas ao que parece eu era um "conflito de
interesses" — disse a última parte com uma voz
excepcionalmente alta — Não era como se eu a tivesse
obrigado a chupar meu pau. Foi voluntário.
Sacudindo a cabeça, Mishca não sabia por que nem
sequer se incomodava. — Fez o que te pedi?
— O Chefe-Chefe está lidando com negócios em toda
a cidade, Vlad está refrigerando no carro, Alex está na escola
ou onde quer que a ferre, e Lauren deveria estar a caminho
desde que a chamei há dez minutos.
Mishca se virou. — Especificamente disse que não a
chamasse.
— Ela quase te viu morrer — disse, extremamente
sério. — Não havia nada que pudesse ter dito para mantê-la
afastada deste quarto.
Lauren era firme e viria de qualquer maneira.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não era que Mishca não quisesse vê-la, só não queria
que o visse assim. Toda a sua promessa sobre mantê-la
segura, e no dia em que ela mais confiava nele, ele falhou.
Uma parte sua tinha medo que quando ela chegasse, antes
de ter tido a chance de descobrir o que lhe dizer, fugiria dele
outra vez.
Encolhendo os ombros sob a camisa, ameaçando
cortar as mãos de Luka quando se ofereceu a abotoá-la,
Mishca pegou seu telefone, para examinar rapidamente os
artigos locais sobre o tiroteio. Apesar do que Luka lhe disse, a
cobertura foi mínima, embora ainda houvesse algumas
matérias mencionando mais disso do que Mishca gostaria.
Não havia muito que pudesse fazer por sua aparência
física — conseguir ser baleado tinha esse efeito — mas ele
poderia ocultar a ferida suturada em seu peito assim Lauren
não teria que vê-la. Os acontecimentos daquele dia eram
turvos no melhor dos casos, mas lembrou-se de Lauren estar
com ele, então não queria torná-lo pior para ela.
Vozes no corredor chegaram ao quarto. Lauren e seu
médico, pensou Mishca. Só teve um segundo para enviar um
olhar a Luka, deixando-o saber para não tentar nada
estúpido, embora ele provavelmente o faria, de qualquer
maneira.
O médico entrou primeiro, sorrindo com orgulho
como se ele sem ajuda de ninguém houvesse trazido Mishca
do abismo da morte. Provavelmente o fez, mas Mishca estava
muito concentrado em Lauren para ouvir qualquer coisa que
o homem tinha que dizer.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela se manteve na porta, quase como se temesse se
aproximar dele. Não queria isso. Odiava ver o medo em seus
olhos.
Caminhando ao redor do médico, interrompendo-o no
meio da frase, Mishca a recebeu na porta, puxando-a em
seus braços enquanto protestava. Seus braços estavam soltos
em torno dele, como se temesse machucá-lo ainda mais se o
segurasse mais apertado. O pouco que se lembrava do dia do
casamento era tudo sobre ela, suas lágrimas, sua voz.
Apesar de terem uma audiência dupla, Mishca queria
tranquilizá-la, garantindo-lhe que tudo estava bem, embora
não se sentisse seguro disso.
— Estou bem, Lauren— sussurrou-lhe ao ouvido,
pressionando um suave beijo na têmpora — Olhe para mim.
Hesitante, fez o que lhe disse, com os olhos dourados
procurando seu rosto. Para o que, ele não tinha certeza, mas
poderia imaginar o que via quando ela o olhou. Sua
expressão refletia o que ele sentiu no dia que viu sua mãe
morrer.
— Não te deixarei — prometeu.
Ela sorriu tristemente. — Não pode me prometer isso,
Mish.
— Não, não posso, mas posso muito bem tentar.
Pensou na visita espontânea de Klaus a noite
anterior, a respeito do que Lauren lhe pediu, mas tinha
tempo para falar com ela sobre isso mais tarde. Neste
momento, estava mais que preparado para sair do hospital.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca voltou-se para o médico, embora mantivesse
a mão de Lauren. Escutou pacientemente enquanto ele falou
a respeito do que teria que fazer para manter a ferida limpa, e
que teria que voltar para o hospital dentro de umas semanas
para remover os pontos.
Quando finalmente terminou — não que Mishca
tivesse escutado mais — ele estava preenchendo seus
formulários de alta, pronto para sair dali.
— Sua carruagem o espera — anunciou Luka,
reaparecendo com a cadeira de rodas que acabava de trazer,
o sorriso maníaco no rosto que fez Lauren rir.
Se não fosse por sua reação, Mishca poderia tê-lo
estrangulado.
— Posso caminhar.
Ao invés de dirigir-se a ele, o bastardo voltou-se para
Lauren. — Ele realmente deveria usar isto. Ordens do doutor.
Parecendo insegura, Lauren o olhou. — Mish...
— Lauren, estou bem.
— Por favor.
Suspirando em derrota — sabendo que não haveria
maneira de conseguir sair desse quarto até que obedecesse —
Mishca se sentou a contragosto na cadeira, apertando os
dentes quando Luka começou a assobiar uma melodia alegre
enquanto saíam.
Quando estivesse só com seu executor, o faria pagar
por isso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Demorou muito mais tempo do que Mishca queria
para sair à rua e chegar a seu Range Rover, graças a Luka
passeando por todas as partes do hospital como se ele fosse
um maldito objeto de exposição.
Mas a gota d´água para Mishca foi quando Luka
abriu a porta traseira, e logo se agachou como se fosse
levantá-lo da cadeira de rodas.
Empurrando-o longe, Mishca ficou de pé. — Não me
faça atirar em você.
Amaldiçoou quando escutou a inalação surpresa de
Lauren, lamentando sua escolha de palavras quando viu a
expressão de seu rosto.
Luka franziu o cenho. — Muito cedo.
Deus, ia matá-lo.
Luka conduziu no limite de velocidade, que era só
trinta quilômetros por hora, levando muito mais tempo para
chegar ao apartamento do que Mishca queria, mas não se
queixou, não do modo como Lauren se agarrava a sua mão,
olhando com apreensão fixamente pela janela.
Seus olhos observando os imponentes edifícios, como
se pensasse que seria capaz de ver qualquer outra ameaça
contra ele. Aproximou-a mais a seu lado, querendo distrair
sua mente disso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Fora de seu edifício, tinha muito mais segurança do
que Mishca gostaria, mas entendia a precaução de todo jeito.
Em vez de ir pela frente, foram ao redor da parte traseira,
entrando pelo elevador de serviço que estava ocupado por
cinco dos homens de Mikhail. Isso incomodou Mishca.
Mikhail não podia estar ali ele mesmo, mas enviou alguns de
seus homens? Não era como se ele realmente se importasse,
não mais.
Quando por fim entraram no apartamento, Mishca se
atirou no sofá, suspirando de alívio. Jamais gostou dos
hospitais. Agora que estava de volta, era necessário planejar
seu próximo movimento.
Primeiro tinha que realizar uma reunião, mas sua
atenção foi capturada por Lauren enquanto respondia seu
telefone, sua expressão mais pensativa quando se desculpou.
— Quem estava ligando? — Perguntou Mishca
quando ela retornou à sala de estar uns minutos mais tarde.
Tratou de ocultar seus sentimentos dele, desejando
não preocupá-lo com coisas insignificantes enquanto lutava
com algo muito mais importante.
— Não era ninguém especial — disse com um gesto
de sua mão, com a esperança de que voltaria para a conversa
que esteve tendo com Vlad e Luka.
Mas ele não estava disposto a ceder. — Lauren, diga-
me.
— O hotel no Havaí ligou. — Não teve que explicar
mais.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele pareceu surpreso, tanto como ela estava, embora
concordasse, pensou muito pouco a respeito de sua lua de
mel ao longo das duas últimas semanas. Ao ver a expressão
de seu rosto, ela tentou um sorriso, querendo apagar sua
preocupação.
— Está tudo bem, Mish. Podemos remarcar. — Ainda
não parecia muito convencido — Além disso, duvido que
possa ir nadar nu comigo tão cedo.
Isso o acalmou, ao menos até que Luka acrescentou
seu grão de areia.
— Posso... eu...
— Termine essa declaração e morre.
— Cristo, Chefe, você não é divertido.

Amber passou alguns dias mais tarde, fingindo não


perceber os homens fortemente armados que rondavam o
apartamento. Ela carregava algo bastante grande coberto de
jornal, recusando-se a deixar que alguém o tocasse.
— Que droga acredita que estou contrabandeando
aqui de qualquer maneira? — Perguntou ao Turner quando
ele fez um movimento para pegá-lo. — Se quisesse machucar
Mishca, eu gostaria de lhe pôr um pincel na bunda.
Luka, que estado bebendo refresco, cuspiu-o, por
toda parte e em um dos guardas que estava de pé junto a ele,
e não achou graça. — Podemos ficar com ela?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Simplesmente ignore-os — disse Lauren,
abraçando a sua amiga mais próxima — Eu o faço.
— E como está, Mish? Parece tão cheio de vida.
Se Luka tivesse dito algo assim, Mishca o teria
fulminado com o olhar, mas como era Amber, e ela só estava
tentando lhe fazer sentir melhor, ele sorriu.
— Quer um tour pelo lugar? — Perguntou Lauren.
— Claro, mas primeiro quero dar aos dois seu
presente de casamento.
Amber entregou o pacote com um sorriso orgulhoso,
agitando as mãos com impaciência para que eles o abrissem.
Só tomou uns segundos rasgar o papel para revelar a
tela abaixo, e o retrato a frente deixou Lauren sem fôlego.
Recordava vagamente de Amber tirando fotos durante o
casamento, mas acreditou que era mais para ela do que
acabou por ser.
A tela não era somente uma imagem aumentada que
captou, melhor dizendo uma recriação intrincada que Amber
pintou. Fez em branco e preto, e se Lauren não conhecesse
Amber melhor, nunca acreditaria que foi feito à mão. Abaixo,
no canto direito, na menor das guias, estava sua assinatura.
— Amber, é lindo.
— Luchshe, Chem ya mog sebe predstavit — Melhor
do que eu poderia ter imaginado — acrescentou Mishca.
— Oh, parem! — Protestou Amber apesar de que
parecia satisfeita com os elogios.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Sentaram-se e conversaram por um longo tempo até
que Amber se foi, e Mishca estava sozinho em seu escritório,
olhando a garrafa de líquido âmbar que foi proibido de beber.
Nunca em sua vida quis tanto tomar um copo.
Mais tarde naquela noite, Mishca se reclinou para
trás contra a cabeceira, escutando Lauren mover-se no
banheiro. O tiroteio pairava sobre eles de maneiras
diferentes. Ela se preocupou por ele enquanto que ele se
preocupava com ela.
Isso era o que era o amor.
A porta se abriu, apagando a luz quando Lauren
saiu. Seus olhos estavam tristes quando cruzava à cama,
fazendo-o lamentar que não soubesse o que pensava. Era
melhor escondendo-se dele do que pensava inicialmente.
Deitou-se junto a ele, agarrando-se em seu lado, o
forte alívio que sentia ao tê-lo ali a fez fechar os olhos. Não
importava que tivesse passado quase uma semana desde que
chegou a casa. Ainda sentia tudo como novo. Nunca esteve
mais agradecida por algo em sua vida.
Ela gentilmente descansou a mão no centro de seu
peito, bem em cima da ferida. Com ela, ele não sentia
nenhuma dor.
Quando finalmente se afastaram, ele relaxou, mas
sua mente estava longe de estar aliviada.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Klaus manteve seu capuz quando entrou no


armazém no coração do Brooklyn, em direção ao elevador de
serviço na parte traseira. Ao entrar, foi até a caixa preta de
acesso contra a parede, apertando uma série de teclas antes
de baixar a mão quando o portão se fechou de repente, o
elevador descendo lentamente. Quanto mais abaixo ia, mais
ruído começou a infiltrar através das paredes, os gritos quase
mascaravam o som do sino soando quando ele saiu.
Dois andares abaixo da superfície do armazém
existiam um lugar chamado Valhalla, um ringue de luta
clandestina que se importava menos com regras e mais sobre
o lucro. Foi nomeado da terra mitológica nórdica para onde
soldados mortos foram levados, com a esperança de refeições
intermináveis e garçonetes, mas a maioria das pessoas que
vinham aqui esperavam apenas lutar, e viver mais um dia.
O local gigante era feito principalmente de concreto,
tinta com anos de gotas velhas de sangue e fluídos corporais.
Não havia nenhum lugar para aterrissar comodamente se um
lutador perdesse o equilíbrio... e pior ainda, se seu oponente
só quisesse golpear sua cabeça contra o chão.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Nesse momento, dois homens seminus estavam no
centro do ringue improvisado, ambos machucados e suados,
sangue seco em suas caras, assim como em seus membros.
Rodeando-se entre si, ambos em busca de pontos fracos,
embora fosse bastante óbvio que nenhum deles sabia o que
fazia de verdade.
Não, Klaus estava errado. Havia uma regra no
Valhalla: ninguém podia abandonar o piso até que seu
oponente ou foi nocauteado ou morto. Às vezes, as lutas se
prolongavam por horas até que ambos os lados estavam
exaustos demais para se mover. Só então poderiam sair,
exceto que ambos perderiam todo o dinheiro que apostaram,
e logo apanhariam até quase morrerem e jurassem não voltar
jamais.
Era o preço de fazer negócios aqui.
A um lado, sentado em cima de um velho refrigerador
oxidado com vista à luta estava um tipo que Klaus conhecia
de seus dias de contrato. A coisa mais próxima que alguém
como ele tinha como um amigo. Era uma das poucas pessoas
com as quais Klaus trabalhou que na verdade o viu sem sua
máscara.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Klaus esquivou-se dos espectadores selvagens ao se
aproximar do homem, deixando cair o capuz no caminho. Os
mercenários eram um grupo notoriamente paranoico, seus
trabalhos colocando alvos em suas costas. Nem Klaus nem o
homem do qual se aproximava tinham nenhuma razão para
temer represálias, entretanto, não com a forma em que
meticulosamente cobriam seus rastros, mas cuidado nunca
era demais em sua linha de trabalho.
O mercenário poderia ter uma cerveja em uma mão,
gritando tão alto como os outros, mas Klaus não duvidava,
nem por um momento, que o viu assim que saiu do elevador.
Quando estava quase em cima dele, o mercenário
saltou de sua posição, limpando seu jeans enquanto dava a
Klaus um amplo sorriso.
— Passou um tempo, Red.
Quando Klaus foi contratado, sua identidade se
apagou, essencialmente limpando toda sua existência da face
da terra. Depois, seu treinador lhe deu um novo nome, como
o fizeram com todos os outros que trouxe.
Klaus era Red em honra ao deus romano da guerra,
apropriado depois de ver seu trabalho. O homem frente a ele
era chamado Celt, por razões que Klaus só podia adivinhar.
Perguntas pessoais não eram aprovadas em seu mundo.
O pouco que Klaus sabia dele era o que podia
discernir a partir de seu tempo na companhia de Celt.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Celt era da Irlanda, e foi um mercenário durante ao
menos dois anos antes que Klaus se unisse a sua organização
particular. De fato, esteve ali no dia que Klaus entregou sua
vida... Diferente de Klaus, cujas cicatrizes permaneciam
ocultas, as de Celt estavam à vista de todos. Ele tinha o que
se conhece como o "Sorriso do Glasgow", brutais cicatrizes
que o faziam parecer que sempre estava sorrindo, um fato
não tão agradável como soava.
Era tão alto como Klaus, magro, mesmo tônus
muscular, com o cabelo castanho escuro que mantinha
cortado dos lados. E diferente de Klaus, Celt levava uma
barba cheia, uma cor castanha avermelhada que contrastava
com seu cabelo mais escuro. Não duvidava de que fosse
porque ele tentava ocultar as marcas.
— O que te traz por estes lados? — Apesar de sua
formação, Celt se negava a renunciar a seu sotaque.
Klaus se perguntou frequentemente se eles lhe deram
uma surra por isso.
— Preciso um favor.
As sobrancelhas de Celt subiram enquanto o olhava.
Nunca nos cinco anos que se conheciam Klaus lhe pediu
nada. Não gostava da ideia de dever a alguém, não importava
de quem se tratava, mas no momento, sua busca seria muito
mais rápida se tivesse ajuda.
— Diga-o.
— Espalhe que Mishca Volkov está vivo. Descobre
quem morde o anzol.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Seus olhos se estreitaram brevemente, como se
estivesse tentando colocar o nome. — Algo mais?
Isso era o que Klaus gostava mais nele. Celt não fazia
perguntas. O fato de que Klaus lhe devia uma em troca ficava
tácito.
Fazendo uma saudação militar, Celt subiu de novo
na geladeira. — Farei. Quer ir a uma rodada no ringue? —
Perguntou com um sorriso descarado — Eu poderia utilizar o
dinheiro.
Klaus olhou os lutadores no local, pesando as
probabilidades em sua cabeça. Com um encolhimento de
ombros, tirou sua jaqueta com capuz, a risada emocionada
de Celt ecoando em seus ouvidos.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Padaria da Donna. 13h. Deixe o russo.


Lauren sabia que era Klaus — só ele chamava
Mishca de “russo” — mas não tinha certeza se seria uma boa
ideia reunir-se com ele, não depois da maneira que ele
respondeu seu pedido no hospital. Ele deixou claro o que
pensava a respeito, então, porque ele entrou em contato com
ela agora, perguntava-se o que será que descobriu.
Estava curiosa para ir ver o que ele sabia, mas como
passaria por Mishca, especialmente quando ele tinha Luka
seguindo-a por toda parte?
Decidindo que o elemento surpresa estava ao seu
lado, Lauren se vestiu rapidamente, pegou as chaves de seu
próprio carro — pois o de Mishca estava equipado com GPS, e
não queria arriscar — estava passando pela porta quando viu
Mishca na sala de estar falando ao telefone.
Felizmente não viu Luka em lugar nenhum.
Mishca a olhou, com a testa franzida, provavelmente
perguntando-se o que ela estava fazendo. Prometendo que
não estaria fora por mais de uma hora, beijou-o na bochecha,
com a esperança de que pudesse sair sem perguntas, porém
ele a segurou antes que tivesse a oportunidade de se afastar.
Colocou o telefone sobre o ombro para abafar a
conversa — Leve Luka com você.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Mas não preciso dele para o que irei fazer. — Ela
suspirou.
Lauren não sabia outra forma de convencê-lo para
que a deixasse ir sozinha, então fez a única coisa que jurou
não voltar a fazer: mentiu.
— Luka faria uma cena na farmácia enquanto estou
fazendo a compra. Não tente negar, você sabe como ele é.
Mishca fez uma careta, entendendo o ponto de
Lauren, mas não estava disposto a ceder. — Então ele te
seguirá.
— Mish...
— Não é um pedido, Lauren.
— Tudo bem, tudo bem. — Ela já estava atrasada e
não precisava perder mais tempo discutindo com ele. — Onde
está Luka, afinal?
— Deve estar na portaria. Vou ligar para lhe dizer
que você está descendo.
Ela parou-o rapidamente. — Estou indo de qualquer
maneira. Deixe comigo.
Apesar de querer protestar, deixou-a sair. Quando a
porta se fechou atrás dela, ao invés de tomar o elevador de
entrada, já sabendo que provavelmente encontraria Luka na
portaria, tomou o elevador de serviço.
Caminhou com cuidado para não encontrar os
guardas de Mishca escondidos e foi capaz de sair do edifício
sem nenhum problema.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O lugar de encontro com Klaus estava a apenas 15
minutos de carro de onde ela estava e se tivesse sorte, ela
poderia fazer a reunião apenas com cerca de vinte e cinco
minutos de atraso.
No momento em que chegou lá e encontrou um lugar
para estacionar, Lauren temia que Klaus não estivesse mais
na padaria. Nem sequer conseguiu vê-lo através das janelas.
Por um segundo pensou que ele tinha ido embora, então uma
mão grande a segurou pelo braço e a puxou dali.
— Poderia ser menos óbvia? — Perguntou Klaus
enquanto a levava para o outro lado da rua.
— Você que disse para te encontrar na padaria —
disse Lauren, embora ele não estivesse prestando atenção ao
que dizia — Existe algum outro nome ou código que deveria
te chamar?
Para quem olhasse poderiam parecer que fossem um
casal, no então, logo Klaus perdeu seu sorriso falso e a olhou
franzindo o cenho.
— Já terminou?
Finalmente pararam em um lugar um pouco mais
isolado. Klaus sentou-se no chão, esticando suas longas
pernas diante dele, cruzando-as no tornozelo e juntando as
mãos sob a cabeça quando se esticou.
Já não se sentia como se estivesse em uma reunião
secreta, era mais como se estivesse se reunindo com um
velho amigo — porém menos amigo e mais mercenário.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Agora estava deitado de costas, com uma boina em
sua cabeça, os óculos de sol ocultando seus olhos, vestido
como uma versão de Mishca. Quando se sentou ao lado dele,
recebeu um sorriso brilhante, que a fez piscar com surpresa.
— Relaxe — disse, não particularmente gentil —
nunca faria mal ao meu empregador.
Não sabia se ele era sempre brusco ou se era
somente por causa de quem ela era.
— Nunca disse que aceitou — disse Lauren confusa,
olhando ao redor para ver quão longe estavam de todos.
— Pare de olhar em volta.
— É um pouco difícil não fazê-lo quando é você.
Quase podia sentir seu olhar quando virou a cabeça
em sua direção, mas ele ignorou sua última declaração.
— Falei com um de meus contatos, devo vê-lo mais
tarde.
— Está bem, mas porque não posso dizer a Mischa
que vou me encontrar com você. Ele tem o direito de saber.
— Você disse ao russo aonde ia?
— Você me disse para não falar... — disse com o
cenho franzido.
— Bem, isso foi uma ideia. Um bom conselho...
— Que tal — Lauren o cortou, já irritada — da
próxima vez você diga o que você quer dizer e pare com jogos.
Não tenho tempo para isso.
Ele ficou em silêncio, mas o canto de sua boca se
elevou — Touché.
— Por que queria me encontrar?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Falei com meu contato, tenho uma reunião esta
noite.
Lauren arrancou um pouco de grama, pensando
cuidadosamente. — O que precisa de mim?
— Nada neste momento — disse Klaus sentando-se e
sacudindo a camisa — Esteja com seu telefone.
— Não entendo. — Olhou-o ficar de pé, levantando o
capuz — Não poderia ter avisado por uma mensagem de
texto?
— Uma coisa que deve aprender a meu respeito: eu
adoro irritar o seu russo. — Seu sorriso satisfeito irritou-a
ainda mais — Deveria ir, ele está esperando.
Na verdade, através do parque, viu a Mercedes de
Mischa passando pela rua lentamente. Não podia culpar
Klaus — embora cada parte dela queimasse para bater na
sua bunda — e agora teria que confessar a verdade a Mishca,
mesmo que ela quisesse ocultar tudo isso dele. Não se
incomodou em ver qual caminho Klaus tomava, sua atenção
estava na porta do carro se abrindo enquanto Luka saía.
Quando ele parou ao seu lado e não fez nenhuma
brincadeira, soube que Mishca estava realmente chateado.
Limpando a garganta sem jeito, entrou no carro pelo lado
oposto ao de Mishca, mexendo seus polegares enquanto Luka
fechava a porta, correndo até seu carro para levá-lo para
casa.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O músculo de sua mandíbula estava tenso apertando
os dentes, claramente contendo-se de descarregar sua
irritação sobre ela, mas ela não estava com medo de seu
temperamento.
— O que está fazendo aqui?
— Luka me chamou quando você saiu.
E estava tão segura que escapou dele antes. Lendo
sua expressão, deu-lhe um sorriso sem humor.
Estava disposta a explicar-lhe tudo, mas deteve-se
quando se deu conta de que não parecia estar irritado por ter
se reunido com Klaus, somente que não lhe disse nada a
respeito.
— Sabia que me reuniria com ele?
— Conversamos há alguns dias.
— Por que não me disse? — Perguntou-lhe com o
cenho franzido.
Ele se limitou a arquear uma sobrancelha. É óbvio
ela não tinha contado a ele sobre Klaus, até este ponto, mas
na realidade não pensou muito nele até que a contatou hoje...
e também porque sabia que Mishca ficaria incomodado se
soubesse.
— Não deveria ter entrado em contato com ele.
— Bem, tecnicamente...
— Se terminar essa frase...
— Está bem, está bem — era evidente que ele não
estava com humor para brincadeiras — Não sabia mais o que
fazer. Ele era minha melhor opção.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Assim que sua ideia era se encontrar com a única
pessoa que quer me ver morto? — Perguntou ele secamente.
Realmente ela não achou outra opção, ao menos era
o que pensava até o momento. — Você foi quem me disse que
ele é o melhor franco-atirador do mundo. Se quisesse vê-lo
morto, você já estaria — disse lembrando o que Klaus falou.
— Isto não está em discussão Lauren. Ele me quer
morto. Ponto.
— Você teria feito o mesmo por mim. — Disse em voz
baixa.
Atraiu-a para seu lado com um braço ao redor da
cintura, diminuindo a distância. — A diferença é que eu
tenho experiência nesse mundo. Tenho contatos. Se queria
fazer isso, mesmo sem eu estar de acordo, porque não pediu
ao Luka?
— Não sei. Normalmente, os mercenários conhecem
outros mercenários.
Ele parecia desconcertado por seu raciocínio.
— O quê? Isso é o que geralmente acontece nos
programas de televisão.
Colocando a mão em seu cabelo, ele tentava
desesperadamente manter-se sem sorrir. — Como você viveu
por tanto tempo por sua própria conta?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela encolheu os ombros. — Diria que não irei mais
me reunir com Klaus, mas ambos sabemos que seria uma
mentira. O ponto principal é alguém tentou te matar e se você
fosse capaz no momento, teria feito a mesma coisa, mas já
que você não pôde, tive que tomar uma decisão. Vou te
contar sobre qualquer outra conversa de agora em diante. De
acordo?
Estendeu sua mão, olhando-o, esperando que ele
aceitasse, mas por um momento ele se limitou a olhá-la,
aturdido.
— Quem é você e o que fez com a minha esposa?
Ela sorriu, inclinando-se para beijá-lo de leve na
boca. — Você me protege e eu te protegerei.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Mais tarde na mesma noite, do outro lado da cidade


no Hell’s Kitchen17, Klaus entrou em uma lanchonete na
esquina da Rua Lex com a Rua 12, alheio ao sino que soava
enquanto passava pela porta principal. Não era um lugar
muito agradável à primeira vista, mas tinha algumas das
melhores refeições que o dinheiro podia comprar.
Klaus não escolheu esse lugar para reunião somente
pela boa comida, mas também porque esperava ver a única
pessoa que esteve em sua mente durante os dois últimos
anos. Com apenas um primeiro nome e o lugar onde
trabalhava, esperava que ainda estivesse por ali, apesar de
não saber mais nada sobre ela. Era apenas possibilidade,
claro, mas Klaus achava que não custaria nada tentar.
Celt o esperava em uma mesa, com uma xícara de
chá em sua frente. Apesar de se concentrar na tarefa de abrir
dúzias de pacotes de açúcar para colocá-los na xícara, Klaus
tinha certeza de que já o viu entrando pela porta.
Virando a cadeira, sentou-se escarranchado sobre
ela, sorrindo enquanto Celt colocou mais açúcar. — Não tem
o suficiente aí?

17
Hell's Kitchen, traduzido como Cozinha do Inferno e também conhecido como Clinton e
Midtown West é um bairro de Manhattan, na cidade de Nova Iorque, que inclui a área entre as Ruas 34
e 59, e entre a 8ª Avenida e o Rio Hudson.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Cuide dos seus assuntos Red. — resmungou
tomando metade de seu chá.
Rindo, Klaus perguntou — O que tem para mim?
— Nada sobre o russo.
Klaus franziu a testa, esfregando o queixo. Não
duvidava da palavra de Celt, nem por um momento, mas
tinha certeza que o atirador tinha que ser um deles.
Precisava voltar e verificar o terraço. O relatório da
polícia não dizia nada proveitoso, e duvidava que houvesse
alguém por aí que pudesse lhe dar uma informação útil.
— Quer me dizer no que você está envolvido? —
Perguntou Celt assinalando para a garçonete trazer uma nova
bebida.
— Um pouco de trabalho enquanto estou
desocupado. Pensei que você pegaria outro contrato depois
que terminasse o último — disse Klaus mudando de assunto.
Celt levou um momento paquerando a garçonete, que
chegou com uma nova xícara. Ela limitou-se a sorrir de seus
flertes antes de se voltar para Klaus e perguntar se queria
algo.
— Nada para mim, obrigado. — Ela começou a se
afastar quando Klaus a chamou. — Sabe se Reagan está
trabalhando hoje?
Olhou-o com curiosidade, de cima abaixo, antes de
negar com a cabeça. — Não, hoje não.
Não sabia se isso era verdade ou não, julgando pela
forma que ela o olhava, mas poderia comprovar depois. Assim
que ele assentiu, ela se foi.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Celt tirou o olhar da garçonete que estava saindo, e
começou a colocar açúcar outra vez. — Bem, então. Não
tenho ideia se isso tem algo a ver com o que você está
trabalhando aqui, mas Rayne está na cidade.
Klaus imediatamente começou a esfregar sua testa,
sinal de que uma enxaqueca começaria. Havia poucas
pessoas no mundo que Klaus fazia questão de evitar.
Rayne estava no topo da lista.
Era conhecida entre os mercenários como Rayne
Sangrenta, não só porque sua pela era pálida como a de um
vampiro com lábios cor de rubi, mas também por ter o hábito
de cortar as gargantas de suas vítimas com sua lâmina de
ouro especial em forma de “s”.
Não sabia se era boa com uma arma, todos tinham
uma especialidade, mas ainda assim duvidava que ela tivesse
algo a ver com o tiroteio, mas se estivesse envolvida, isso
tornaria seu trabalho um pouco mais difícil.
A última vez em que se encontraram, eles não
terminaram exatamente em bons termos.
— Creio que ela tentou cortar suas bolas — disse
Celt com um sorriso irônico, lembrando-se do dia.
Tudo porque Klaus não teve vontade de transar com
ela.
As mulheres eram malditamente estranhas.
— O que vai fazer? — Perguntou Celt.
— Evitar encontrá-la tanto quanto possível, ao menos
até que termine esse trabalho.
— Precisa de ajuda com isso?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Seus olhos percorreram a lanchonete, Klaus pensou
por um segundo antes de concordar. — Mantenha seu
telefone ligado. De fato, poderia precisar de você.
— Poderia? Não me lembro de você dizendo essa
merda em Budapeste.
Rindo, Klaus disse — Odiava Budapeste.
— Bom, então me chame quando souber de algo.
Batendo na mesa com o punho duas vezes — o
paranoico bastardo — Celt ficou em pé e saiu pela porta
principal.
Klaus ficou onde estava, repassando o pouco que
sabia sobre o tiroteio. Sem verificar o terraço — e só com o
que Lauren lhe disse — assumiu que Mishca era o alvo
principal, mas se ninguém reagiu à notícia de que ainda
estava respirando, isso deveria significar algo mais do que
parecia. Apesar de secretamente adorar quando os casos não
eram tão simples, este era um que queria superar o mais
rápido possível.
E ainda assim, não sabia por que aceitou esse
trabalho.
Ou pelo menos não quis admitir para si mesmo que,
vendo a mulher do russo revoltando-se quando se negou a
ajudá-la, lembrou-se de Sarah. Não que se parecessem, pois
Lauren e ela eram muito diferentes, mas Sarah sempre
esperava o melhor das pessoas, e se não conseguisse, podia
fazer que seus olhos se enchessem de lágrimas até que
convencesse a pessoa de que não havia opção senão ceder.
Foi por isso que se esforçou para fazê-la feliz.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Klaus esfregou seu peito, um costume que adquiriu
cada vez que pensava nela. Debaixo de sua palma e da
camisa de algodão que a cobria, havia uma cicatriz em forma
de meia lua que um dos homens de Jetmir fez, enquanto
outro ficou ocupado machucando Sarah em sua frente.
Clareando os pensamentos antes que fossem nessa
direção outra vez, Klaus esperou um pouco mais, com
esperança de que pudesse ver se Reagan chegava para
trabalhar no turno da noite, mas quando não chegou depois
de algumas horas, deixou cair uma nota de vinte sobre a
mesa e saiu.

Apesar de Mishca não ter sido tão tolerante com sua


reunião secreta com Klaus há alguns dias, Lauren conseguiu
aos poucos suavizar a situação entre eles, porém sua atitude
brusca retornou após outra ligação de Klaus.
Desta vez, entretanto, Mishca exigiu que se
reunissem em casa em vez de um lugar incerto. No momento
em que Klaus chegou, Lauren estudava Mishca, vendo-o
impaciente.
Um de seus homens já avisou que Klaus estava no
elevador. Vlad foi para seu lado parecendo tão imponente
como sempre, mas Luka estava fora de vista, pela primeira
vez desde que os albaneses se foram.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Pelo modo como todos agiam, era como se seu
inimigo público número um chegasse. Klaus, por outro lado,
não parecia se importar por ser vigiado pelas pessoas na sala.
Casualmente caminhou até a cadeira vazia em frente
à Lauren, tirando uma faca de sua jaqueta, uma mensagem
silenciosa que foi recebida rapidamente pelos outros
enquanto alcançavam suas armas. Desta vez, Mishca não se
importou em pedir que todos se acalmassem.
— O que quer? — Perguntou Mischa sem rodeios.
Klaus girou a faca em suas mãos, seus olhos
repassando cada linha e contorno da borda dentada com
imperfeições da lâmina. Não parecia se importar que Mishca
tivesse falado com ele, nem sequer se incomodou em
reconhecê-lo.
Limpando a garganta — e recebendo um olhar de
Mischa — Lauren falou. — Sabe de algo Klaus?
— Recebi notícias de meus contatos, e
surpreendentemente, ninguém quer matar o russo.
— Isso não tem sentido, ele...
— Como é que você sabe que pode confiar neles? —
Interrompeu Mishca, o músculo de sua mandíbula travou
quando Klaus continuou a ignorá-lo.
Lauren sabia que ele estava acostumado com certo
nível de respeito, em parte devido a sua posição, mas ambos
sabiam que para Klaus isso era o que menos importava.
Uma coisa que começava a notar era o quão satisfeito
Klaus ficava por irritá-lo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas para isto, Klaus tinha uma resposta. — Mais do
que confio em qualquer um dos teus, russo.
— Existe alguém que realmente te chame pelo nome?
— Disse Lauren em voz alta.
— Então, o que sabe? — Perguntou Mishca,
ignorando a pergunta de Lauren.
Suspirando, Klaus inclinou a cabeça para trás,
parecendo aborrecido com toda essa conversa. — Se soubesse
de algo útil, não estaria aqui. Mas preciso pedir emprestada
sua mulher por algumas horas.
— Para quê?
Era a pergunta errada para se fazer, inclusive Lauren
sabia disso logo que saiu dos lábios de Mishca, mas uma vez
que foi dita, Klaus trabalhou com isso. Sorriu, um sorriso que
estava acostumada a ver em Mishca.
— O que você acha? Pensei que já tivéssemos tido
essa conversa.
Seja o que for que Klaus quis dizer com essa frase
Lauren não compreendeu, mas fez com que Mischa se
levantasse. Antes que Mischa pudesse fazer um movimento
contra ele, Lauren ficou em pé entre os dois.
— Podem parar por dois minutos? Klaus, eu te
contratei para fazer um trabalho, então faça. Mishca deixe de
agir como um idiota.
Isso fez com que o mercenário zombasse, guardando
sua faca. — O que seja. Se quiser que faça meu trabalho,
então não preciso do russo se intrometendo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mischa abriu a boca para retrucar, mas desta vez foi
Lauren quem interrompeu — Bem, o que você precisa?
— Tenho que dar uma olhada no terraço. — Seus
olhos procuraram seu rosto, sua expressão ilegível. — Você
pode lidar com isso?
Lauren não sabia o que sentiria quando subisse ali.
O lado racional dela sabia que o sangue e as outras coisas
foram limpos por agora, restando somente o lugar que era,
mas o lado irracional temia o que pudesse ver.
— Sim — disse com esperança de que pudesse
ajudar — Só me dê um minuto.
Dando de ombros, Klaus foi para o elevador, mas ela
duvidou que ele estivesse muito longe. Quando as portas se
fecharam atrás dele, Mishca não perdeu tempo em expressar
sua opinião sobre o assunto.
— Não.
— Não?
— Merda, não. Você não vai.
Lauren podia respeitar a opinião de Mishca nisso,
mas não significava que aceitaria, não dessa vez. — Está
exagerando outra vez. Você não está preocupado por ele me
machucar, isso diz respeito a essa rivalidade que você tem
com Klaus.
— Lauren...
— Preciso que confie em mim, Mish — disse.
Ele finalmente, a contragosto, deixou-a sair, fazendo-
a prometer que estaria com seu telefone durante todo o
tempo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Klaus a esperava na calçada, girando um molho de
chaves na mão. Com uma inclinação de cabeça, ele
reconheceu sua presença, fazendo um gesto para que o
seguisse a um carro que tinha o design elegante de um carro
de corrida.
Era grande e preto, com listras brancas que iam do
capô para o porta-malas. As janelas tinham películas
escuras, e pela maneira como Klaus o admirava, duvidava
que fosse roubado.
Ele abriu a porta para ela, fechando-a uma vez que
estava dentro, um gesto que não esperava dele. Até mesmo o
interior estava arrumado como se fosse participar de uma
competição, incluindo os bancos e os cintos de segurança.
Tinha que admitir, seu veículo era fantástico.

Tudo era igual, isso foi o que perturbou Lauren


quando saíram para o terraço onde seu casamento
aconteceu. Cerejeiras ainda em flor, cada cadeira em sua
posição, nenhuma pedra fora do lugar.
Era como se nada tivesse acontecido aquele dia,
apesar de estar tudo gravado em sua memória.
Klaus não teve simpatia por ela, de maneira que,
continuou caminhando para frente até o altar improvisado. —
Mostre-me onde você estava.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Respirando calmante, Lauren correu atrás dele,
parando no lugar onde ela e Mischa trocaram os votos. Sem
lhe perguntar, colocou-o ao seu lado, posicionando-o onde
Mishca esteve de pé.
— Estávamos mais ou menos aqui.
— Diga-me o que veio depois disso.
Passou aquele dia em sua cabeça. — Dissemos
nossos votos, trocamos as alianças, nos beijamos...
Ele sorriu elevando uma sobrancelha. — Quer
demonstrar?
Revirando os olhos, disse. — Mish não ficaria feliz
com isso. Além do mais, sem ele aqui você não sentiria
qualquer prazer nisso.
— Continue então.
— Viramos, todos nos felicitaram, o sol estava em
meus olhos por um momento e então... — recordou o sorriso
em seu rosto, os aplausos dos convidados — ouviu-se um
ruído suave, o som da bala quando atingiu Mishca, logo ele
caiu para trás e...
— Ei! — Ele estalou os dedos em seu rosto, fazendo-a
piscar. — Não perca a cabeça, ok? Agora, que horas você diria
que eram quando o sol bateu no seu rosto?
— Não sei. Talvez meio dia? Meio dia e meia? Por
quê?
— Aponte na direção onde viu isso.
Moveu-se para ficar atrás dela, olhando para onde
apontava.
— Mas não entendo porque isso é relevante.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Seus olhos se concentraram na rua, depois no
terraço do outro edifício. — Não viu a luz do sol, mas sim o
reflexo vindo do rifle. Temos que olhar lá.
Não tinha muito tempo para questionar sua lógica —
não que duvidasse dele — Lauren seguiu Klaus para o outro
edifício, tomando o elevador até o último andar e saiu para o
terraço através da porta de acesso. Daqui tinha uma visão
clara do hotel.
Klaus examinava o chão, buscando alguma coisa.
Lauren tentou ajudar — embora não tivesse ideia do que
estavam procurando — mas não encontrou nada.
Depois de alguns segundos em pé ali, Klaus inclinou
a cabeça para um lado, seu olhar focado em algo perto da
beira da parede. Dirigiu-se para lá, esticou o braço e tocou
em um pequeno arranhão no concreto.
Sem ele dizer, soube que este foi o local onde o
atirador esteve.
Apoiou-se em um joelho, inclinou um braço para
trás, estendendo o outro, imitando como se segurasse um
rifle. Lauren olhou dele para o terraço, lembrado como
Mishca caiu. Era...
— Por que falhou?
As palavras de Klaus a tiraram de seu devaneio.
Aproximou-se do seu lado, tentando ver o que ele via quando
olhava para o outro lado da rua.
— O que quer dizer? Acertou seu peito.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Sim, mas ele não está morto — pelo olhar confuso
na cara de Lauren, explicou. — Olhe o ângulo. Era um tiro
limpo, com pouca interferência e com segurança.
— Tudo bem, o que está dizendo?
— Algo não está certo.
— O tiro não era para matar Mishca? Ele falhou de
propósito?
— É o que está parecendo.
— Mas qual era o objetivo?
Klaus tinha um brilho de curiosidade nos olhos, um
que Lauren não gostava, mas antes que pudesse chamá-lo,
ele estava correndo para fora do edifício e entrando no carro.
— Isto — disse, enquanto levava o carro para a rua
— tornou-se muito mais interessante.

— Merda.
Mishca não estava levando muito bem o que Klaus
lhe disse. Desde sua volta, Lauren tentou manter as
discussões mínimas, mas eram como fogo e gelo, e não havia
nada que pudesse fazer para separá-los.
— Oh, claro — replicou Klaus, olhando para Mishca
como se ele fosse a desgraça da sua existência. — Porque
você é perito na porra de rifles. Diga-me que outras
habilidades você tem?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não importa. Você não pode ter certeza.
— Mais uma vez. Como você poderia entender? Você
não sabe de merda nenhuma.
— Muito bem — Mishca ladrou, tomando um assento
de frente para ele. — Explique-me.
— Eles só falharam de te dar um tiro no coração por
muito pouco. O tiro foi limpo, mal havia vento nesse dia, e
nenhum obstáculo do outro terraço. Portanto, você só está
vivo porque você não era o alvo.
— Mas isso não significa que Lauren fosse.
— De acordo com o meu contato, ela é.
Lauren e Mishca olharam para Klaus esperando que
ele continuasse. Lembrou-se dele ao telefone fazendo uma
chamada quando eles voltaram, mas não tinha ideia de com
quem falava. Assim começaram a discussão. Uma vez que
Klaus sugeriu que atingir Mishca foi apenas para feri-lo, que
eles provavelmente estavam atrás de Lauren, e tirar Mishca
do caminho deixaria isso mais fácil, Mishca não gostou de
como isso soou.
— Mas se isso estiver certo — disse Lauren — por
que dispararam em Mishca? Não era como se eu fosse deixá-
lo sozinho no hospital.
— Assumiram que Mishca teria te enviado para
longe, você estaria mais segura longe dele. Provavelmente não
acreditavam que ficaria cuidando dele cada segundo do dia.
Com ele fora de circulação, seria bastante fácil lidar com
você, mesmo com o pessoal medíocre do russo te vigiando.
Quer dizer, isso é o que eu faria.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Isso não importa — interveio Mishca — o que você
fará a respeito?
— Nós a utilizaremos como isca — disse Klaus.
— Você está tentando ferrar comigo de propósito? —
Perguntou Mishca com uma advertência nos olhos.
Lauren preparava-se para se envolver, pensando em
dar sua opinião sobre o que eles deveriam fazer, mas não via
sentido em se intrometer na discussão de dois irmãos, não
quando havia questões para resolver entre eles.
— De verdade, quer que eu responda essa pergunta?
Mishca entrecerrou os olhos nele, um olhar que
prometia dor. — Nyet. Ela não irá sozinha.
— Oh, absolutamente não. Estou morrendo de medo
de sua ameaça. Fique calmo, seu merda, estarei ali com ela.
Isso não fez com que Mishca se sentisse melhor.
Revirando seus olhos, Klaus caiu sobre o sofá,
colocando seus pés sobre a mesa. Mishca só os chutou pra
baixo, mas ele os pôs para cima novamente.
— Ela é minha empregadora, o que isso te diz? Não
vou deixar que a machuquem.
— Você não pode garantir isso.
— Então que porra você sugere? — Perguntou Klaus
secamente. — Esperar que o mercenário bata na porta da
frente? Por certo, fiz isso uma ou duas vezes, mas por mais
que eu goste de pôr a prova minhas habilidades, não é tão
fácil como parece. De qualquer forma, se quer que isso acabe,
terá de fazê-lo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Ainda não gosto dessa ideia. — Mishca soava
menos seguro agora.
— Não tem que gostar, mas sabe que tenho razão.
In the beginning
Volkov Bratva 3

— Deus — murmurou Klaus afrouxando a gravata


que Lauren acabava de endireitar. — Como as pessoas usam
esses ternos apertados?
Lauren riu, dando-se conta de que Klaus estava de
pé brincando com sua roupa. Na realidade parecia
desconfortável e a visão de seu sofrimento a fez perguntar se
alguma vez usou um terno.
— Acredito que fica bem em você — respondeu com
bom humor, fazendo um gesto para arrumar a gravata
novamente.
Ele revirou os olhos, mas ficou quieto. — Claro que
você faz. Talvez ele precise parar com esse sofrimento
desnecessário.
— Suponho que não tenha sentido em discutir isso
comigo. Acredito que esse terno combina com você, não só
porque faz você se parecer como Mishca.
— Só se assemelha a mim na aparência — disse
Mishca entrando no quarto, seus olhos duros enquanto
olhava seu irmão. — Ninguém acreditaria que sou eu no
momento em que abrisse a boca.
Sorrindo ameaçadoramente, Klaus lhe mostrou o
dedo do meio. — Não parecia se importar antes, importou-se
russo?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Em primeiro lugar, você é russo também. Em
segundo, vai sempre trazer isso à tona quando eu estou na
sua presença?
— Enquanto eu viver e respirar, porra.
Nesse ponto, Lauren não se preocupava se Klaus se
enfureceria o suficiente para matar Mishca ou não, sempre
que ele chegava perto. Parecia que gostavam da discussão
entre si mais do que qualquer outra coisa, não era como se
ela não percebesse as mudanças que ocorreram entre eles
desde a reunião no edifício.
Lauren não sabia o que aconteceu com eles até
agora, mas fosse o que fosse, sentia-se grata por isso. Talvez,
se tivesse sorte, poderiam deixar de lado qualquer
desentendimento que houvesse entre eles, mas duvidava que
isso acontecesse em breve.
Enquanto Klaus preparava outra ameaça, Lauren os
interrompeu. — Se vocês dois terminaram temos uma
inauguração para ir.
Concordando, Klaus foi para a porta, mas não sem
antes mostrar seu ponto golpeando o ombro de Mishca,
fazendo-o dar uns passos para trás. Mishca lutava com a
paciência, não só pela conduta infantil de Klaus, mas
também porque odiava que ele fosse capaz de tirá-lo do sério.
Se estivesse completamente saudável uma briga
provavelmente teria começado.
Antes que ele pudesse retaliar, Lauren aproximou-se
de Mishca, olhando em seus preocupados olhos azuis. —
Vou ficar bem Mish.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Eu ainda me sentiria melhor se eu fosse lá para
ter certeza disso.
— Luka estará lá, e Klaus, e alguém que ele disse que
precisaria. Duvido que alguém vá chegar perto de mim com
três homens grandes ao meu redor.
Suspirando, Mishca levantou sua mão até os lábios,
pressionando um beijo duro nos dedos. — Fique junto deles,
por mim. Conheço você. Você se afastará sem pensar duas
vezes. Eu...
Interrompeu-o com um beijo de aceitação, sentindo
seus lábios aumentando o ritmo debaixo dela. — Prometo.
— Digo isso sério, Lauren — disse sinceramente. —
Volte para mim.
— Pelo amor de Deus — disse Klaus aparecendo
novamente. — Vamos.
Se olhares matassem, Klaus poderia ter morrido em
questão de segundos com o olhar que Mishca lhe enviou.
Ignorando Klaus, Lauren virou o rosto de Mishca para ela,
ficando na ponta de seus pés para pressionar um beijo em
seus lábios. Quando ele a abraçou firmemente, Klaus gemeu,
jogando as mãos para cima, exasperado enquanto sentava,
tamborilando seus dedos no braço da cadeira.
— Quando você estiver preparada. Por santo Deus,
tenho coisas a fazer.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Chegando ao novo clube “L”, Lauren se sentiu como


uma celebridade, não por opção, já que seu casamento com
Mishca chegou aos jornais — graças em parte ao tiroteio que
ocorreu.
Antes que saíssem da limusine, Klaus lhe deu um
pequeno fone quase idêntico ao que estava em seu ouvido. —
No caso de precisar de mim — explicou, enquanto lhe
entregava.
Ajustou o dispositivo eletrônico em seu ouvido,
deixando seu cabelo cobri-lo. Esperou que algo acontecesse,
mas quando não fez olhou para Klaus.
— Começa a transmitir quando falamos — disse em
voz alta, fazendo com que ela o escutasse em sua cabeça. —
Posso escutar tudo o que diz e tudo que acontece ao seu
redor, e o mesmo acontece com você.
— O que acontece se parar de funcionar? — gritou a
última parte, encolhendo-se quando o viu tirar o pequeno
dispositivo de sua orelha, olhando para ela. Não queria ter
gritado.
— Confie em mim, não irá. E para futuras
referências, não há necessidade de gritar. Posso te escutar
claramente.
— Ok.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela tocou a maçaneta da porta com a intenção de
sair, mas ele pôs a mão em seu braço detendo-a. — Tem
certeza que pode fazer isso?
Ela assentiu com a cabeça — Eu nunca fugi de você.
Ele não riu de sua tentativa de piada. — A diferença
é que nunca tive a intenção de te matar. Já o mercenário?
Tem.
— Entendo isso Klaus, sério.
O que ele viu em sua expressão lhe fez assentir. —
Anime-se então. Ele está olhando.
Somente com essa advertência, ele saiu do carro,
vindo para o lado dela para abrir a porta. Agora sorria,
estendendo sua mão para que ela a pegasse. Para qualquer
outra pessoa, ele era Mishca. Realmente se via dentro do
papel, mas só ela notaria as diferenças entre eles esta noite.
Ambos tinham apenas uma covinha, porém em lados
diferentes da bochecha — Mishca na esquerda e Klaus na
direita.
Quando entravam rapidamente no clube foram
envolvidos pelas pessoas. Lauren respirou profundamente,
forçando a tensão a sair de seu corpo.
Estava na hora.
Felizmente, ali não havia ninguém que Lauren
conhecesse, já que avisou a todos para não virem ao clube,
sabendo que esta noite poderia se transformar em algo para o
qual não estava preparada.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Klaus a levou para o bar, misturando-se ao longo do
caminho, assim como Mishca fez muitas vezes antes. Quando
chegaram ao destino Klaus pressionou contra suas costas,
quase podia acreditar que era Mishca. Porém preferia não
pensar muito nisso, não até que ele pôs a mão em seu quadril
inclinando-se em seu ouvido para sussurrar.
— Relaxe.
Para todos parecia que estavam compartilhando um
momento íntimo, em vez de um mercenário e seu cúmplice
esperando um assassino. Ela sorriu para ele, subindo nas
pontas dos pés para beijar sua bochecha. Seu corpo rígido e
tenso por um momento antes de seguir seu próprio conselho.
Pelo canto do olho viu o flash de uma câmera.
— Mish não ficará feliz com isso — ela disse
enquanto ele gesticulava para o garçom.
— Pagaria para ver sua reação.
Sacudindo a cabeça, ameaçando sorrir, colocou o
cabelo atrás da orelha. — Onde está seu amigo?
— Ele pode te ouvir.
Seus olhos se arregalaram. — Pode realmente?
— Sim senhora.
Lauren quase pulou quando ouviu a voz em sua
cabeça, mas manteve a calma, tentando olhar discretamente
ao redor para ver se ele estava por perto, mas não sabia como
era.
— Não tem sentido fazer isso — disse Klaus lhe
passando um copo com guarda-chuva e uma fatia de abacaxi
dentro — Nunca o verá, mas ele nos vê.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— É bom saber, mas e se alguém chegar perto de
mim? Como vou saber se é seu amigo ou... bem, você sabe
quem?
— Além desse sotaque insuportável? Procure um
cara com uma grande e horrível barba.
— Bastardo. Tem sorte de que me pagou duas mil
libras, ou gostaria de deixá-lo sozinho aqui.
Lauren não podia ter certeza, mas parecia irlandês,
talvez? — Tem nome?
— Chamamos de Celt.
Definitivamente irlandês.
— É bom saber.
— Agora como lhe disse, está segura, mas
simplesmente não faça nada imprudente.
Revirando os olhos, Lauren assentiu. — Não vou
fazer nada estúpido.

Durante a noite, seu relaxamento fingido tornou-se


mais sincero enquanto se misturava com as pessoas,
bebendo seu segundo coquetel de abacaxi, que se tornou seu
favorito em sua despedida de solteira.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Começava a pensar que o mercenário não se
mostraria, a menos que esperasse que Klaus estivesse longe
para fazer seu movimento. Teria mais sentido já que não saia
de perto dela, como Mishca faria se estivesse ali.
Algum tempo depois, Klaus se afastou prometendo
voltar logo e mandando que ficasse perto do bar, mas Lauren
se cansou de ficar ali em pé. Imaginou que estaria tão segura
na privacidade do escritório de Mishca como estava no meio
da multidão.
— Vou ao escritório — disse Lauren ao fone de
ouvido.
— Pare de tocar seu maldito ouvido. — A resposta de
Klaus chegou em voz alta e clara, e teve que resistir ao
impulso de jogar o dispositivo longe, só para ver se ele veria
isso tão claramente.
Lauren abriu espaço entre a multidão e foi até o
escritório. Este não tinha o vidro fosco, como o outro —
provavelmente por causa do tiroteio —e era muito mais
distante. Não estava completamente pronto ainda, havia
caixas empilhadas nos cantos, um solitário sofá de cor clara
contra uma parede. Sentia-se mais do que feliz em sentar um
pouco e descansar os pés doloridos, mas mais do que isso,
queria ligar para Mishca só para escutar sua voz e deixá-lo
saber que estava bem.
Ao menos era o que ia fazer até que uma garota
tropeçou para dentro, cambaleando sobre os saltos enquanto
ria incontrolavelmente, mal segurando uma bolsa cintilante
In the beginning
Volkov Bratva 3
nas mãos. Tinha o cabelo preso em um coque elaborado e
preso por duas forquilhas largas.
Estava bastante claro que estava bêbada — Lauren
quase podia sentir o cheiro de álcool nela, apesar da
distância — assim baixou sua guarda.
— Posso te ajudar?
— Estive procurando o banheiro por uma hora.
— Oh, posso te mostrar onde fica — ofereceu Lauren,
levantando-se.
A garota deu um passo para o lado deixando que
Lauren fosse à frente. Isso a fez hesitar por um momento.
Chame-a de paranoica, mas não sentiu que ela deveria ir à
frente quando a garota já estava na porta.
Onde estava Klaus? Nem sequer tinham um código
para casos assim.
Lauren decidiu que seria mais seguro ficar onde
estava. — Se sair desta sala, a sua esquerda, verá um sinal
que aponta na direção correta. Ou pode simplesmente
procurar o sinal vermelho.
É óbvio que a garota não fazia ideia do que Lauren
queria dizer com isso, mas esperava que Klaus entendesse o
significado. Ele disse seu codinome a ela apenas uma vez, e
ela esperava que isso fosse suficiente.
— Não vejo — disse a garota olhando da porta,
embora permanecesse firmemente em pé. Ela não era tola e
agora sabia que Lauren não ia se aproximar mais, então
parou de fingir que estava bêbada.
Klaus não respondeu, e tampouco Celt.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Desde que seu telefone estava escondido, Lauren
tentou pegá-lo rapidamente, discando o número que Mishca
lhe deu para ficar em contato com Klaus.
— Oh, não há necessidade disso.
Evidentemente, a garota parou o teatro, o que agora
confirmava as suspeitas de Lauren. Ela era o mercenário.
As mulheres eram tão capazes quanto os homens
quando se tratava de matar, mas nunca passou pela cabeça
de Lauren que quem estava atrás dela seria do sexo feminino.
Em sua mente, esperava que fosse alguém parecido com
Klaus.
Mas ela era isso, só não com o mesmo equipamento.
Não tinha uma pistola, nem ameaçou Lauren de
maneira nenhuma, mas não duvidava que tivesse armas de
fácil acesso.
— Demorou um tempo, mas finalmente consegui ter
apenas você. Surpreendeu-me que o capitão Bratva te
deixasse sozinha.
Então, ela realmente não fazia ideia de que Klaus
fingia ser Mishca? Lauren sabia que eram gêmeos, mas como
não podia saber nada dele? A menos que fosse verdade o que
diziam que Klaus sempre usava uma máscara.
Lauren não estava disposta a revelar seu segredo. —
Quem é você?
— Quem sou não importa. Além disso, você vai
morrer logo.
— Disparou contra meu marido.
In the beginning
Volkov Bratva 3
A mercenária encolheu os ombros, deixando a bolsa
cair a seus pés. — Culpada.
— Por quê? — já sabia o porquê, somente tinha que
ganhar tempo. Estava segura de que se não voltasse para
Klaus, ele viria procurá-la.
— Nada pessoal — disse enquanto tirava as
forquilhas do cabelo, embora se parecesse menos com
forquilhas e mais como armas afiadas. — Era somente um
trabalho. Além disso, precisava de prática. Não se preocupe
querida, irei fazer com que seja rápido para você.
— Vamos Rayne, não posso te deixar fazer isso.
Apesar de ficar feliz que Klaus finalmente apareceu,
Lauren não respirou aliviada ao vê-lo, na verdade, ficou
completamente imóvel. Não sabia o que poderia fazer para
ajudar na situação, principalmente com a sala cheia de
assassinos treinados.
A mercenária, Rayne, inclinou sua cabeça de
maneira que poderia ver tanto Klaus quanto Lauren.
Claramente Klaus se esqueceu de mencionar alguns detalhes
importantes, como o fato de que o mercenário que
procuravam o conhecia, e ela parecia muito surpresa em vê-
lo.
— Não sei o que espera conseguir aqui, mas deveria
ir enquanto ainda está viva.
— Não é uma opção. Vivo do comércio de homens
mortos, não é assim?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Algo se passou entre eles, uma mensagem silenciosa,
mas foi o suficiente para que Rayne entendesse o que ele
dizia. Afastou-se de Lauren e virou para enfrentar Klaus.
Lauren claramente não viu mais uma ameaça em seus olhos,
pelo menos até que Rayne se livrasse de Klaus. Tentando
não ser uma distração para ele, deu alguns passos lentos na
direção oposta para ficar fora do caminho.
— Não é o russo apesar do sotaque quase impecável.
Quem é você?
Klaus deu de ombros, sem alterar seu tom de voz
exigente, deixando cair o sotaque falso. — Não sou ninguém.
— É por isso que nunca mostrou seu rosto? —
Perguntou Rayne, aplaudindo com uma de suas mãos e com
a outra segurando uma de suas lâminas com um sorriso
ausente. — É inteligente, Red.
— Vá, Rayne — disse, endireitando sua postura. —
Quem te contratou morrerá de qualquer modo, seu contato
será nulo. Embora sempre respeite nossa relação, ela é meu
trabalho, e não quero te matar.
— Como se pudesse.
Apontou dois dedos em direção a ela para que se
aproximasse.
Nos filmes, os personagens sempre correm um para o
outro em grande velocidade, mas ali nem Klaus nem Rayne se
mexeram, somente ficaram se olhando, isso até que Lauren
bateu na beirada da mesa, derrubando um recipiente cheio
de canetas no chão.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Somente por uma fração de segundo Klaus piscou
para ela, e Rayne atacou. Ele deu um passo para trás e uma
de suas afiadas lâminas passou muito perto de sua garganta.
Ele girou, mas ela se esquivou. Ela o chutou no
estômago, mas ele se recuperou com rapidez o suficiente para
agarrar seu pé e puxá-la para frente.
Eles se enfrentavam enquanto a música cobria o som
de vidro quebrando.
Lauren não acreditava que Rayne cometer um
deslize, já que eles estavam lutando de igual para igual,
porém um único erro deu uma vantagem ao adversário.
Quando o golpeou com uma de suas lâminas, ele se moveu
para trás no último segundo, girando e parando atrás dela.
Mais rápido do que qualquer um pudesse processar,
ele estalou seu pescoço. Ela não fez nenhum som quando
caiu para frente com a cabeça torcida em um ângulo
estranho. Apesar de não ser o primeiro cadáver que viu,
Lauren começou a ofegar quando percebeu que os olhos da
mercenária ficaram fixos nos dela. Respirou profundamente
pelo nariz e exalou pela boca, tentando acalmar seu coração,
mas não parecia funcionar.
— Não vai perder a cabeça, não é? — Perguntou Celt
entrando no escritório, mal dando uma olhada a mercenária
morta antes de sorrir pra Klaus.
— Se o fizer, acho melhor tirá-la daqui.
— Ei, você. — Klaus estalou os dedos um par de
vezes em seu rosto, forçando sua atenção nele — Não se
In the beginning
Volkov Bratva 3
desespere, sim? Não preciso do seu maldito russo sendo um
idiota por causa disso.
Lauren concordou, mas na realidade não o escutou.
Limpou a garganta, e concentrou-se em algo além do corpo.
— O que vai fazer com ela?
Não havia nada que pudesse fazer até que o clube
fechasse e a última pessoa fosse embora. Durante algum
tempo Lauren ficou no escritório com Celt, conversando no
telefone com Mishca até que Luka chegou. Celt teve a
amabilidade de ficar diante dela, bloqueando a vista do corpo.
Klaus voltou, parecendo apreensivo. Quando viu
Lauren no telefone, pegou-o, levando ao ouvido. — A verá em
menos de uma hora, agora vá à merda. — Em seguida,
desligou.
— Precisa irritá-lo cada vez que fala com ele?
— Tenho problemas familiares — disse secamente.
— Com certeza.
Luka finalmente entrou, ignorando Klaus por
completo. Pareciam evitar um ao outro cada vez que estavam
no mesmo lugar, provavelmente por causa de sua primeira
reunião juntos.
— Por que sempre tenho que cuidar dos corpos? —
Queixou-se Luka enquanto tirava o terno. — Alguém se
importa que a cadela tenha um cheiro desagradável? Acabo
de comprar essas malditas calças!
— Como na terra o tolera? — Perguntou Celt olhando
perplexo, passando a mão pela barba.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não o faço. Vamos, princesa. É hora de ir para

casa.

Quando voltaram, Klaus se viu obrigado a ver como


Lauren correu para Mishca e ele a levantou em seus braços,
sentindo aquela velha dor em seu peito, porque a forma como
Mishca a olhou era a mesma que Klaus olhava para Sarah, ao
menos até conhecer Reagan.
Ela foi o único raio de luz na sua escuridão durante
anos, mas teve que deixá-la ir depois de assinar outro
contrato. Às vezes, ainda se sentia culpado pela forma como
foi embora.
Talvez, antes que saísse de Nova York de novo, iria
lhe fazer uma visita.
Virando as costas, Klaus entrou no quarto de
hóspedes, procurando pelo lugar onde escondeu algumas de
suas armas, no caso de alguém tentar visitá-lo enquanto
dormia. Poderia ter aceito ajudar o russo, mas isso não
significava que confiava nele.
Alcançando debaixo da cama, agarrou sua mochila,
abriu-a e jogou-a sobre a cama. Não demorou muito tempo
para empacotar tudo, não era como se trouxesse muita coisa,
mas teria que retornar ao seu hotel para pegar o resto de
In the beginning
Volkov Bratva 3
suas roupas. Se tivesse sorte, poderia sair da cidade ainda
esta noite.
Pendurou a bolsa por cima do ombro preparado para
sair dali, porém parecia que o russo não estava disposto a
deixá-lo ir ainda. Ele entrou no quarto, fechando a porta
atrás de si.
— Ela não sabe que não aceitou o pagamento, não é?
— Perguntou Mishca, cruzando o braço sobre o peito,
parecendo muito presunçoso para o gosto de Klaus.
Pensou em dizer algo inadequado para conseguir
deixar o russo irritado, mas depois de poucas semanas que
passou em sua companhia, Klaus aprendeu a contragosto a
respeitá-lo. É óbvio que não repararia tudo que aconteceu
entre eles, e um dia receberia o castigo por isso, mas no
momento deixava passar.
— Não precisa ficar sentimental, precisa? Deixe isso
para lá.
— Esse era seu plano o tempo todo? Permanecer
distante? — Continuou Mishca como se não escutasse a
advertência em sua voz.
E agora lembrava por que gostava tanto de irritá-lo.
O russo nunca sabia quando parar.
— Vá à merda. — Disse em russo.
— Qual será sua punição? — Perguntou Mishca
mudando de assunto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca pensava que era teimoso, porém não
conhecia Klaus. Felizmente ficou ali, negando-se a falar
qualquer coisa, e depois de ter, no passado, ficado três dias
em confinamento, poderia ficar ali muito mais tempo do que o
russo.
— Ignore-me se quiser, mas não sairei até que me
responda.
Bastardo irritante. — O que acontecerá comigo não é
assunto teu — respondeu finalmente Klaus. — Tem o que
precisava, não é verdade? Assim volte para sua mulher.
— Mesmo em seu mundo há regras — continuou
Mishca, sem sequer se importar se Klaus estava ficando
nervoso — Sem ser votado e aprovado, não se pode matar
outro mercenário. Não sem consequências.
Klaus riu sem humor. — Olho por olho.
— Há uma maneira de sair disso? Se dissesse a seu
empregador que eu te contratei?
— É um impasse. — Disse simplesmente.
Não queria sentir nada pelo russo, mas tinha que
admitir que uma parte sua se surpreendeu que Mishca
tentasse lhe ajudar, mas também poderia ser por causa do
desastre de merda de anos atrás.
— Não está em contrato no momento, por que não
trabalha para mim?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não, somente não — Klaus disse, deixando cair
sua bolsa e virando seu rosto para longe de Mishca. —
Merda, não. Acha que só porque ofereci meus serviços a ela,
você e eu estamos bem? Beije minha bunda, russo. Se eu
fizesse o trabalho por você, não teria que temer se alguém
mandasse um exército para te matar, eu mesmo o mataria.
— Só há uma pessoa que odeia mais do que a mim,
não é? Durante os últimos cinco anos matou cada um deles,
inclusive os trabalhadores que deixou naquele telhado para
eu encontrar. Mas deixou Jetmir para o final.
— Aonde você quer chegar?
— Jetmir tentará me matar porque acredita que eu
matei Brahim.
Klaus fez um gesto com a mão. — E?
— E se o quiser, poderia ser do seu interesse ficar.
Agora, apesar de seus esforços, ficou intrigado. —
Como exatamente planeja fazê-lo sair de onde está?
— Fique e descubra.
Klaus remexeu seu cabelo, libertando-o do penteado
que usou nessas últimas horas. — Realmente confia em mim
para fazer isso, não? Não é estúpido, russo. É suicida.
— Não tenho que confiar em você, Klaus. Confio em
sua raiva.
Eles se enfrentaram de irmão para irmão, de inimigo
para inimigo.
Então, Klaus caiu de costas na cama, cruzando as
mãos atrás da cabeça. — Porra, não seja tão melodramático,
russo. Acho que estou começando a gostar desse lugar.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Lauren apoiou as costas contra a banheira, dando


um suspiro de alívio quando o vapor da água subiu,
causando uma camada de suor sobre sua pele. Sentiu-se
como se pisasse em ovos por semanas desde o dia de seu
casamento, e agora tudo que queria era relaxar.
Mishca levando um tiro, convencendo Klaus a
ajudar, logo encontrando o mercenário que queria matá-la...
isto era o que podia fazer para desligar sua mente.
Ouviu passos ressoando no piso, abriu um olho para
se assegurar de que era Mishca. Luka tinha boas intenções,
mas costumava entrar nos locais sem bater.
—Klaus se foi?
Ele pegou um banquinho, arrastando-o para sentar
perto dela. Tomou um momento dispersando as bolhas que
protegiam sua nudez antes que a olhasse. Mishca parecia
melhor, como se toda pressão sob a qual esteve fosse
finalmente tirada de seus ombros, mas ambos sabiam que os
problemas não terminaram, não com Jetmir por aí.
Mas ao menos por essa noite, poderiam relaxar.
— Ele ficará por um tempo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Hã? — Lauren sentou-se um pouco erguida, quase
rindo quando o olhar de Mishca caiu sobre seus seios que
ainda estavam parcialmente cobertos. — Como o convenceu a
fazer isso?
Encolhendo os ombros, ele a agarrou, passando a
ponta de seu dedo ao longo de sua clavícula onde algumas
bolhas teimosas ainda permaneciam. — Fiz uma oferta que
ele não pode recusar. E você, como está? — Perguntou
mudando de assunto.
— Cansada. Lutar contra mercenários é mais difícil
do que parece nos filmes.
Ele riu. — Sem dúvida, mas fico feliz que deu tudo
certo.
— E como você está?
Levantou a mão da água, querendo tocar seu peito,
mas tirou no último momento para não molhar sua camisa,
ele não se importou pegando-a pelo pulso e pressionando sua
mão contra ele.
Era um hábito que eles criaram. Cada vez que se
sentia apreensiva, ou preocupada com ele, apoiava a palma
de sua mão nesse mesmo lugar, sentindo seu coração bater
sob seu toque. Isso ajudava especialmente nos dias que se
lembrava de como tentou estancar o seu sangue.
— Eu te disse, estou bem — ele manteve uma mão
segurando a dela, e a outra foi para seus seios, tirando a
espuma com um único movimento — Você se preocupa
demais.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não, seria estranho se não me preocupasse com
tudo isso — respondeu — Esqueceu que vi quando você foi
atingido?
— Isso tinha que acontecer.
— Mish!
Encolheu os ombros. — É a verdade. Além disso,
temos coisas mais importantes para nos preocupar nesse
momento.
Colocou-se de joelhos na água, embora sua metade
inferior continuasse submersa. A espuma e a água
lentamente deslizaram para frente de seu corpo, revelando o
que estava esperando ver. Seus olhos a bebiam, sua língua
deslizou ao longo de seu lábio inferior. A temperatura do
banheiro se elevou rapidamente.
— Como o quê?
Ele prendeu a respiração enquanto estendia a mão,
passando seus dedos por um lado de seu quadril, na parte
baixa de seu estômago até o outro lado parando nas costas.
— Eu prometi a Klaus — disse, distraído, seu olhar
absorto no que fazia com ela, e em como ela reagia — que se
você tivesse uma única contusão o faria pagar.
Parou de rir quando sua mão foi mais para baixo,
seu olhar azul intenso indo para seu rosto. Sempre queria ver
sua resposta a ele, era fácil de ler, inclusive até sua mínima
expressão. Teve sorte de tê-lo como seu primeiro e estava
mais do que feliz que seria seu último.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— E o que está pensando agora? — Perguntou sem
fôlego, tremendo enquanto seus dedos se moviam por sua
coxa.
— O quão linda você é.
— Não acredito que esteja liberado para isso ainda —
disse Lauren sem fôlego, suspirando diante do seu toque.
Ele não deu nenhuma resposta além de mergulhar
sua mão pela superfície da água, voltando para roçar a parte
de trás de seus dedos ao longo de sua garganta, até o centro
de seu peito. Mais do que de boa vontade abriu suas coxas
para ele, sabendo que apesar de seus protestos, queria isso
tanto quanto ele.
Mas tão rapidamente como adquiriu controle, agora
ele se foi e Mishca tinha todo o poder.
Continuava sentado a certa distância, mas sem ter
que pedir, ela moveu-se mais perto que pode, praticamente
inclinada sobre a borda da banheira, segurando nela para
manter o equilíbrio.
Lauren mal conseguia pensar com clareza quando
sentiu seus dedos empurrando pra dentro e para fora dela, e
muito menos beijá-lo de volta, mas ele não parecia se
importar, murmurando palavras em russo contra seus lábios,
sua outra mão segurando seus cabelos, fazendo-a ficar onde
queria.
Não parou enquanto não a ouviu chorar seu nome,
ofegando suavemente quando gozou, mas isso não era o
bastante. Nem perto do suficiente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela viu o fogo em seus olhos, a paixão que ele só
deixava que ela visse. Espontaneamente, um sorriso apareceu
em seu rosto quando facilmente a puxou para fora da
banheira indo em direção ao quarto.
— Não acredito que seu médico aprovaria, Mish —
disse com uma risada que não ajudava deixando-o saber que
não se importava, enquanto apertava as pernas ao redor de
sua cintura, amando a maneira como ele gemeu quando
apertou as coxas.
— Acha que me preocupo com isso agora? —
Perguntou fazendo um trabalho rápido com sua roupa depois
de deixá-la na cama.
Mishca parou em frente a ela, orgulhoso, sua
necessidade por ela evidente pela tensão em cada um de seus
músculos.
— Não — ela respondeu elevando uma mão para
atraí-lo. — Acredito que não.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Uma vez que a ameaça dos mercenários já não


pairava sobre eles, Mishca estava de volta em seu escritório
fazendo o que melhor sabia fazer. Nem sequer fez um grande
alvoroço sobre Klaus estando lá a sós com ela.
A porta estava entreaberta quando Lauren se
aproximou, aberta o suficiente para que visse dentro.
Levantou seu punho e tinha toda a intenção de bater, mas
quando viu Klaus do outro lado, ficou congelada. Estava
acostumada a ver Mishca sem roupa, mas a visão do peito nu
de Klaus, a fez se sentir mal.
Havia cicatrizes por toda parte.
Ela estava confusa, vendo as estrelas que foram
feitas tão orgulhosamente em seu peito porque ela sabia que
não deveriam estar ali, mas, o mais importante, pareciam ter
sido feitas como se alguém cortasse através delas várias vezes
e em diferentes ocasiões.
Se fosse Mishca, poderia ter perguntado quem fez
isso a ele, mas com Klaus, ela se perguntou se ele mesmo fez.
Klaus olhou para cima, como se sentisse sua
presença, olhando-a nos olhos por meio segundo antes de lhe
dar as costas, agarrando sua camisa da cama. No breve
tempo que ele levou para pôr a roupa, ela tentou contar as
In the beginning
Volkov Bratva 3
longas cicatrizes irregulares nas costas. No entanto, aquelas,
não poderiam ter sido feitas por ele mesmo.
Que droga aconteceu com ele?
Depois que pôs sua camisa, colocou um gorro
cobrindo seu cabelo, um hábito que Lauren notou depois das
poucas vezes que esteve em sua presença. Parecia ter uma
coisa sobre deixar seu cabelo solto.
O mais notável, entretanto, é que havia uma marca
na nuca, um triângulo com uma linha que ia através dele.
Lauren queria perguntar o que significava, mas duvidava que
estivesse disposto a lhe dizer.
— Há algo que possa fazer por você? — Perguntou,
pegando uma garrafa de sua bolsa, caminhando para ela.
— Ehh... — Lauren disse dando de ombros, dando
um passo para trás, fora do seu caminho. — Só estava te
verificando.
Sua sobrancelha se levantou quando passou por ela,
fechando a porta atrás de si. Ela não podia ficar com raiva,
principalmente, quando fez parecer como se o estivesse
espiando. Ficou claro que Klaus valorizava sua privacidade.
Embora não fosse necessariamente amável, Klaus era
bastante agradável quando estavam sozinhos em diversas
ocasiões. Não se surpreendeu que ainda não soubesse muito
sobre ele, quase nunca falava de si mesmo — mas isso não a
impediu de ficar curiosa a respeito dele e da raiva que sentia
por Mishca. Escutou o lado de Mishca, o pouco que ele
compartilhou, e desde que ele disse que essa não era sua
In the beginning
Volkov Bratva 3
história para contar, a melhor pessoa para perguntar estava
bem na sua frente.
— Posso te fazer uma pergunta sem que fique com
raiva? — Ela chamou indo atrás dele.
Sorriu sarcasticamente, acenando para ela. —
Sempre estou irritado, pergunte de qualquer maneira.
— Quem é Sarah? Você a mencionou no hospital...
Ele parou completamente enquanto a olhava, mas
não havia raiva como estava acostumada, havia... nada. Era
como se ele tivesse fechado todas as emoções, seu rosto
inexpressivo.
— Preocupada de que seu russo tivesse uma coisa
por ela? Alivia sua mente, não tinha.
— Mas você sim. — Lauren afirmou, colocando suas
pernas sobre a cadeira, envolvendo seus braços ao redor
delas. — Disse que não estava zangado com Mishca pelo que
aconteceu com você, mas sim pelo que aconteceu a ela?
— E, você já pensou que não era da sua conta? —
Perguntou-lhe friamente.
— Não tem que me dizer se não quiser.
— Como se fosse me deixar em paz. — Murmurou
olhando a noite através das janelas atrás dele.
Nesse momento, ele parecia cansado, essa máscara
cuidadosamente colocada de amargura e desprezo se foi.
Passou seus dedos pelo cabelo, olhando para o nada
enquanto tirava o gorro. Ela percebeu que ele estava
deixando o cabelo crescer, ficou mais revolto com isso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Ela era minha namorada. Sarah Moore. Eu a
conheci toda minha vida e ficamos juntos no ensino médio. —
Sorriu, só uma breve elevação de sua boca antes que
sumisse. — Depois da formatura, queria levá-la a Nova
York... isto era tudo o que ela falava desde então.
Olhou de novo para Lauren. — Não venho de uma
família rica. Trabalhei até a exaustão por um ano para pagar
essa viagem, mas valeu a pena, só para ver o sorriso em seu
rosto quando lhe mostrei as passagens. Eu não entendia
naquela época, mas minha mãe não queria que eu viesse,
nunca me deu uma explicação... simplesmente disse: "não
vá". O que eu fiz? Vim de qualquer maneira.
Lá estávamos nós, agindo como malditos turistas no
centro da cidade, sem nenhuma preocupação no mundo
porque nós tínhamos um ao outro. — Sua expressão mudou
então, de vulnerável para fechada rapidamente. — Nós nos
perdemos outra vez no Hell's Kitchen. Já era tarde, não havia
um maldito táxi em nenhum lugar. Então, do nada, uma
caminhonete escura derrapou e parou ao nosso lado, três
caras com máscaras de esqui saíram de repente.
Lauren não tinha que visualizar o que dizia,
experimentou o mesmo. Também não perdeu que durante
toda sua história, Klaus sempre se referiu a Sarah no
passado.
— Tentei lutar contra eles, mas me eletrocutaram e
nos jogaram na parte de trás. Quando finalmente acordei,
estávamos amarrados naquele prédio. — Riu, negando com a
cabeça embora duvidasse que ele achasse algo nisso
In the beginning
Volkov Bratva 3
divertido. — Estupidamente pensei que queriam dinheiro,
provavelmente pensaram que éramos um par de pirralhos
ricos. Eu implorei e supliquei que nos deixassem ir, que não
tínhamos nada. Sabe o que disseram?
Lauren negou com a cabeça.
— Não disseram nada. Jetmir... lembra-se dele? Deu-
me um soco no rosto. Isso foi o que fez em qualquer momento
que tentei falar nessa primeira noite, mas continuei falando
porque sempre que me batiam, deixariam Sarah sozinha. As
horas passaram antes mesmo que me dissessem por que
estávamos ali. Queriam saber onde a Bratva guardava suas
armas.
— Jetmir confundiu você com Mishca. — Lauren
disse se lembrando do que Mishca lhe disse.
— Nem sequer sabia o que era um Bratva, mas não
acreditaram em mim. Então, todo dia, durante cinco dias,
eles me torturaram e quando isso não funcionou, bateram em
Sarah. Eu teria dito a eles tudo o que queriam saber, mas
não tinha nem ideia. Então, no último dia, estavam cansados
dos meus jogos. Queriam me ensinar o erro por mentir para
eles... então, mataram Sarah, na minha frente.
Klaus flexionava repetidamente suas mãos, os
tendões de suas costas sobressaltados. — Mas não tinham
que fazer isso. Não tinham que matá-la se só tirassem minha
camisa. Esperaram até depois que Sarah fosse assassinada
para procurar a resposta mais óbvia.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Segurou a parte de baixo de sua camisa, levantando-
a. De perto, as cicatrizes pareciam muito pior. Algumas eram
como marcas de mordidas, outras eram longos cortes como
feridas de faca.
Mais importante ainda, mostrava suas estrelas.
Olhando para ele, Lauren podia sentir a dor fantasma da
agulha cravando em sua pele quando ela conseguiu as suas.
— Não tinha as estrelas do caralho. Ah, mas eu as
tenho agora. — Ele disse quando percebeu que Lauren olhava
para elas. — Eu as tenho como um lembrete de quem eu era.
Queria vê-las pelo resto da minha vida.
Engolindo em seco, Lauren olhou para longe. — O
que fizeram quando perceberam quem era?
— Era tarde demais, eles iriam me matar de qualquer
maneira, mas antes que até mesmo chegássemos a este
ponto, supliquei-lhes que me matassem para pôr fim ao meu
sofrimento, porque na minha mente, eu era fraco. O amor da
minha vida estava morto na minha frente, e não fiz nada para
salvá-la.
— Não foi culpa sua, Klaus. — Lauren disse em voz
baixa. — Você foi uma vítima também.
— Uma vítima, certo. Bem, depois daquela noite,
prometi a mim mesmo que nunca voltaria a ser vítima de
novo. Seu precioso russo apareceu umas horas depois que
me deixaram livre. Imagina meu maldito choque quando vi
sua bunda pálida me olhando.
— Eles são o motivo por que se tornou um
mercenário?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele abriu a boca, pronto para responder, mas seu
telefone tocou, interrompendo-o. Assim que viu a tela, ficou
em pé. — A hora do conto terá que esperar.
— Espere, aonde você vai?
Abriu a porta com força. — Alguns de nós realmente
trabalham para viver.
— Sabe — Lauren disse atrás dele — se fizesse
metade do esforço em ser agradável como faz para ser um
imbecil, acho que seria um cara muito legal.
— E onde está a diversão nisso?
In the beginning
Volkov Bratva 3

Klaus, Mishca e Lauren estavam sentados em uma


sala, discutindo a noite com o mercenário quando o telefone
de Klaus tocou. O silêncio caiu sobre eles enquanto somente
olhavam para o aparelho, embora Lauren constantemente
piscasse para Mishca.
Foi a ligação que esperavam do contato de Klaus,
Celt. Mishca assumiu automaticamente que era Jetmir
querendo vingança por Brahim, e essa teoria era plausível,
mas Lauren duvidava disso. Parecia como se Jetmir quisesse
fazer isso de perto e pessoalmente, em vez de contra-atacar.
Mas por esta razão, também tinha medo de saber quem
realmente pagou pelo trabalho. De qualquer maneira, era
alguém próximo a Mishca, e isso só o deixava ainda mais
irritado.
Dando de ombros, Klaus finalmente respondeu, e
durante sua breve conversa, seu rosto nunca demonstrou
nada, Lauren se preocupava com o que lhe diziam. Quando
desligou, ficou olhando para o telefone durante um tempo,
batendo nele com o dedo.
Em um primeiro momento, Lauren não entendia por
que hesitava, sempre foi tão brusco antes, não importava do
que se tratava.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Celt rastreou a conta de onde veio o pagamento...
— calou-se, coçando a barba.
— Descobriu um nome? — Perguntou Mishca.
— Sua irmã.
Houve um momento de absoluta incredulidade entre
eles, mas Lauren não podia — ou não queria — acreditar nem
por um segundo que Alex faria algo assim.
Até mesmo Klaus resistia a tirar conclusões
precipitadas. — A informação poderia ter sido implantada.
— E o seu contato não teria encontrado isso? —
Continuou Mishca, com seu tom de voz perigosamente calmo.
Não ajudou que nesse momento, a voz de Alex fosse
ouvida na sala de estar, aumentando enquanto gritava algo
para Luka.
— Acho que deveria se acalmar. — Lauren disse
enquanto pegava a mão de Mishca.
Mas Mishca já estava em pé, abrindo a porta com
tanta força que bateu contra a parede, chamando
efetivamente a atenção de todos em sua sala de estar. Lauren
saiu correndo atrás dele — Klaus ficou exatamente onde
estava — esperava acalmá-lo antes que fizesse algo que mais
tarde se arrependeria.
Alex tinha um sorriso no rosto no primeiro momento,
um que sempre estava lá desde que ela e Lauren chegaram a
um acordo sobre o que aconteceu. Lentamente, enquanto
Mishca irrompeu para ela, esse sorriso caiu.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— O que aconteceu quando te levei para ver Anya? —
Mishca perguntou, e Lauren podia ver o medo em seus olhos
que ninguém mais podia.
Ela não sabia muito a respeito da política da Bratva,
mas podia adivinhar o que significaria se Alex estivesse por
trás do mercenário, que foi contratado.
Viktor foi uma testemunha desse fato.
Mishca não era como Mikhail, não era tão insensível
como fingia ser, mas quando se tratava de Lauren, às vezes,
ficava irracional. De vez em quando, Lauren amava isso nele
— como quando ia contra os albaneses — mas não quando
significava que teria que machucar sua irmã.
Pouco a pouco, isso o comeria até que não sobrasse
nada.
Não importava o que Alex dissesse, não importam
suas razões, Lauren não deixaria que nada lhe acontecesse,
não só porque queria salvá-la, mas sim, porque precisava
salvar Mishca também.
— De que droga está falando? — Alex perguntou,
imediatamente defensiva.
Como Lauren, ela não se afetou pela ira de Mishca, e
adoraria dar o troco nele, mas este não era um bom momento
para desafiá-lo.
— O que ela te disse para fazer? — Mishca perguntou
de novo, seu tom passando de irmão mais velho preocupado
para o de Capitão da Bratva de saco cheio.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Enquanto ainda se negava a responder, ele começou
a falar em francês rápido para que só ela pudesse entender, e
o que lhe disse pareceu funcionar.
O sarcasmo saiu de Alex enquanto enfrentava seu
irmão e, pela primeira vez em muito tempo, ela aparentava a
idade que tinha. Cresceu ao redor de Vory e Zakone e
conhecia suas regras, como tratavam qualquer pessoa que
pensassem que faltou com respeito a eles. Não tinha
nenhuma escolha no assunto, a não ser dizer a verdade.
— Mish, não é o que você pensa.
Seus olhos eram frios, ardendo em fúria. — Então
explique.
— Mamãe não quis dizer...
Agarrando a coisa mais próxima a ele — que
aconteceu de ser um vaso cheio de flores — Mishca o lançou
através da sala, fazendo Alex gritar de susto e Luka e Lauren
se aproximar deles.
Exceto, que ela ia para Mishca enquanto parecia que
Luka estava mais preocupado por Alex.
— Anya me disse para que a matasse. — Alex disse
em voz baixa.
Lauren piscou surpresa, mas ainda agarrou o braço
de Mishca caso fizesse um movimento para ela. Quaisquer
que fossem suas razões, ele permitiu. Apesar do que Klaus
disse, Lauren ainda tinha suas dúvidas a respeito da
participação de Alex. Mesmo agora, mesmo depois do que
acabava de ouvir, negava-se a acreditar nisso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— E não pensou em me falar disto? — Mishca
perguntou. — É isso o que te incomodava depois que você
saiu?
— Não era como se ela pudesse fazer algo. — Alex
apressou-se em explicar. — Merda, estava exilada com os
guardas de Mikhail sobre ela todo o dia.
— E você a ajudou a escapar?
Antes que pudesse responder, Lauren falou — Do
que você está falando?
Ambos a ignoraram, muito centrados em si para
prestar atenção em qualquer outra pessoa. — É essa a única
razão? — Mishca questionou. — Seus sentimentos por
Lauren eram bastante claros naquele momento.
— Não faria isso! — Alex gritou soando como uma
menina assustada enquanto virava seus olhos suplicantes
para Lauren, com a esperança de que entenderia.
— Mishca, pare. — Lauren disse obrigando-o a olhar
para ela. Estava fora de controle e ela não estava gostando
disso.
As palavras foram ditas em voz baixa, apenas para
que ele compreendesse. Não importava como Alex agiu no
passado, Lauren podia ver em seu rosto que não planejou
isso.
Mas independente do que Lauren dissesse agora,
Alex olhava para Mishca, o medo que esteve presente em seus
olhos desaparecendo lentamente à medida que a ira tomava
seu lugar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não me faça te expulsar. — Mishca advertiu, a
ameaça clara em seus olhos. Virou-se, efetivamente
dispensando-a no momento.
Se ela estava cansada de ser acusada, ou se sentiu
ofendida que Mishca tenha pensado que foi ela em primeiro
lugar, manteve sua postura diante dele. — Sim, eu estava
zangada nesse tempo, mas adivinha o quê? Disse-lhe que
não. Não só porque não queria que Lauren morresse, mas
também porque sabia o que isso faria a você! Acha que te
causaria isso entre todas as pessoas?
Infelizmente, Lauren entendeu ambos os lados. Sabia
que Mishca não queria acreditar que Alex tinha algo que ver
com isso, mas com o mundo em que viviam, não podia
confiar em todos, e com a traição de sua família, ele não
sabia em quem acreditar.
— Escondeu isso de mim. — Mishca disse com os
dentes cerrados, encarando sua irmã. — Que porra eu
deveria pensar?
— Que eu não trairia você, seu idiota egoísta!
— Bem, vamos todos nos acalmar. — Lauren falou de
novo, tentando ser a voz da razão. Quando Mishca olhou para
trás, deu-lhe um olhar aguçado. — Vou falar com Alex, você
encontre algo que fazer. E não me venha com esse olhar.
Confio em Alex. Você deveria fazer o mesmo.
— Lauren...
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Quando disse a Mikhail sobre Anya e Viktor, não
pensei o que faria a Alex no processo. É obvio que não a
conhecia tão bem, além disso, não é tão próxima a mim como
é para você, não arruíne isso quando não tem todos os
fatos... certo?
Puxou-a para ele pela nuca, beijando sua testa. —
Tem razão.
— Não diga para mim. Diga a ela.
Quando foi para Alex, Lauren exalou contente de que
pode fazer algo para ajudar a dissipar a tensão, mesmo que o
alvoroço voltasse segundos depois. Klaus observava e lhe
pareceu ver um lampejo de respeito em seus olhos enquanto
apontava para o seu telefone e, em seguida, para o quarto de
trás.
Alex chorava em silêncio, mas aceitou o abraço de
Mishca, concordando com o que lhe sussurrava. Ela foi para
o outro lado da sala enquanto Mishca voltava para falar com
Luka. Ele estava significativamente mais tranquilo e parecia
estar pensando claramente.
— Anya não poderia ter feito isto por conta própria,
mesmo com seus contatos. — Agora que estava um pouco
mais tranquilo, Mishca deixou de pensar que era Alex, apesar
do que sabia dela, não tinha os recursos para isto.
— O que está pensando? — Luka perguntou
cruzando os braços sobre o peito, o coelho deformado tatuado
em seu antebraço pulsando tenso. — Jetmir?
— Isso me passou pela cabeça.
— Quer ver o que posso descobrir?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca se mostrou resistente a dar seu
consentimento, não porque ele não queria respostas, mas sim
porque não tinha ideia de como isso afetaria Luka. Não era
nenhum segredo que ele odiava os albaneses... provavelmente
mais que Klaus e Mishca juntos. Era, entretanto, um segredo
o porquê os odiava tanto.
— Tem certeza de que pode fazer isso com o menor
derramamento de sangue?
— Não tenho muita opção, não é?
— Sempre há uma escolha, irmão.
Quando Mishca olhou para longe, Luka olhou para
Alex, que estava sentada do outro lado da sala. — Não nisto.
Mas essas palavras nunca chegaram aos ouvidos de
Mishca.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Algumas mentes não poderiam lidar com a tortura,


ia destruí-las.
Luka Sergeyev era um produto desse tipo de tortura.
Sua vida era um mistério para os que o conheciam, até
mesmo seus chefes. Ele sempre foi bom em esconder a
verdade.
Essa era uma das razões pela qual estava contente
em trabalhar para Mishca. O capitão Bratva não interferiu,
nem sequer quando lhe confiou o cuidado de Lauren.
Luka nunca pensou muito em uma ascensão nas
filas da Vory e Zakone, só se importando em ser respeitado...
e temido — seria muito melhor ser temido que amado. Nem
quando era menino, Luka se preocupou em querer fazer
amigos, porque sua inocência foi roubada dele. Ele nem
sequer se concedeu uma pausa dessas visões horríveis,
porque aqueles homens quiseram que se lembrasse a cada
hora de cada dia, o que ele fez há tantos anos. As lembranças
não diminuíram à medida que o tempo passava. Não, elas
ficaram na frente de sua mente, açoitando constantemente
seus pensamentos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Foi por isso que Luka nunca se aproximou de
ninguém, colocou um muro para se proteger do apego que se
formava. Alguns pensaram que era louco, não só pelas coisas
que dizia em qualquer momento — ele realmente sempre foi
assim estranho — mas por causa de sua suposta falta de
empatia. A maioria dos assassinos em sua linha de trabalho
tinha formação, foram ensinados a não sentir nada pelas
pessoas que sacrificavam. Exceto que o "treinamento" de
Luka, era diferente do convencional — e que não funcionava
muito bem. Por fora, parecia que Luka dormia bem a noite,
que os crimes de seu passado não pesavam sobre seu
inconsciente, mas na verdade, vivia assombrado pelos
demônios em cada momento de sua vida.
Ninguém entendia essa agonia.
Mas estava conformado com isso. Enquanto ele
tivesse seu trabalho, e mulheres dispostas a compartilhar
sua cama, não tinha nenhuma queixa. Não importava que
fosse a vida de Lauren na corda bamba e não a de Mishca,
ambos significavam o mesmo para ele. Luka via como Mishca
a olhava nos momentos de descuido, quando pensava que
ninguém prestava atenção. Apesar dele mesmo não poder
experimentar essa emoção, Luka conhecia o verdadeiro amor
quando o via.
É por esse motivo que ele tinha que fazer isso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Tirando um cigarro, Luka entrou no bar
desmantelado, olhando para baixo enquanto caminhava para
o outro extremo do lugar, sentando na banqueta com um
suspiro alto, rapidamente chamando a atenção do homem ao
seu lado. Era uma renomada casa da máfia albanesa, que
Luka visitava com frequência.
Luka tinha marcas similares as dos homens que
vinham aqui, porque em algum momento de sua vida, foi um
deles.
Era quase impossível, mas Luka se obrigou a relaxar
rodando seus ombros enquanto dava uma olhada ao homem
sentado perto dele, assegurando-se de não o olhar muito
tempo para que não se lembrasse dele. Apesar de estar
impresso em sua mente, Luka duvidava que os albaneses se
lembrassem da última vez que se cruzaram.
— É novo por aqui? — O albanês Bastian perguntou.
Pelo que entendi, agora era a mão direita de Jetmir,
muito longe do que era quando Luka esteve ao redor. Porque
conhecia os nomes e rostos, ele sabia que era a única pessoa
que poderia dar esta informação.
— Sim, Naz me enviou.
Bastian grunhiu, bebendo de um gole só sua bebida
antes de pedir outra. Era um hábito seu quando ouvia
alguma coisa sobre Naz. O par se odiava mais do que Luka
odiava todos os albaneses.
In the beginning
Volkov Bratva 3
No decorrer da noite, Luka fez o que foi preciso para
embebedá-lo e deixá-lo de guarda baixa, contando segredos
que normalmente manteria com ele. Não passou muito
tempo, apenas uma menção casual aqui, uma oferta para
comprar uma bebida ali. Até agora, Bastian consumiu sua
décima dose de Jager18, Luka continuou tomando um copo de
água.
Apoiado na barra superior, Luka baixou a voz para
que só Bastian pudesse ouvi-lo. — Eu soube o que os russos
fizeram a Brahim.
— Malditos bastardos, todos eles. Basta esperar,
vamos matar todos e comer suas cadelas.
A mão de Luka se contraiu em seu copo, mas tirando
isso, não deu nenhuma reação às suas palavras.
— E a mulher russa do Chefe? Como ela joga nisto?
— Luka não queria ir direto a qualquer pergunta, alguma
pessoa racional poderia achá-lo suspeito. Mas Bastian estava
muito bêbado para perceber.
— Usamos o dinheiro da filha bastarda dela. Ela está
tão desesperada para acabar com eles que fará o que for
preciso.
Assim como pensaram, Anya estava por trás do
golpe, não Alex. Um problema resolvido.
— Quando Jetmir planeja atacar?
Bastian negou com a cabeça olhando fixamente a
Luka.

18
Jägermeister é uma bebida alcoólica produzida na Alemanha desde 1935. É o nono destilado
mais consumido no mundo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Tem certeza de que não te conheço de algum
lugar?
— Tenho um rosto muito familiar.
Era hora de sair dali. Não queria ser pego em
território inimigo se Bastian se lembrasse de como se
conheciam, e definitivamente não queria que gritasse.
Luka olhou para o seu relógio, fingindo ver a hora.
— Merda, eu tenho que ir me encontrar com Naz.
— Espera. — Bastian o chamou quando se levantou,
indo em direção à saída dos fundos, sem olhar para trás.
Conseguiu o que veio buscar, agora só precisava apresentar
um relatório para que pudessem elaborar estratégias.
No beco, Luka ouviu Bastian tentando se manter em
silêncio enquanto se esgueirava atrás dele, mas ele foi
treinado para escutar inclusive o mais suave dos passos —
odiando a qualquer um às suas costas — Luka era capaz de
ouvir o que parecia como um caminhão de lixo atrás dele. A
ansiedade disparou por seu sistema, o velho terror tentava
pegá-lo, mas não podia ferrar isso, não com o que estava em
jogo.
Continuou caminhando.
Bastian o atacou, usando seu peso para empurrar
Luka contra a parede de tijolo, com uma mão segurava seu
cabelo enquanto mantinha sua bochecha pressionada contra
ela. Luka respirou profundamente pelo nariz, tentando
manter a calma. Jurou a si mesmo que não ia matá-lo,
apesar de tudo o que lhe fez no passado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Pensou que não me lembraria? — Bastian
grunhiu, seu hálito azedo abanando o rosto de Luka.
Com suas palavras, a tensão no corpo de Luka
disparou enquanto lutava na defensiva.
— Eu me lembraria de você em qualquer lugar.
Não importava mais. Luka não era o mesmo menino
pequeno indefeso que foi naqueles tempos, mas Bastian
continuava sendo a mesma merda doente.
Tinha a informação que precisava dele, e Luka sabia
que na manhã seguinte, quando encontrassem o corpo de
Bastian, não seria reportado.
Naquele momento, ele limpou a mente, bloqueando
tudo para fora enquanto mudou sua postura ligeiramente,
lançando seu cotovelo para trás no intestino do homem,
acertando-o com uma ridícula facilidade. Bastian o olhou
com surpresa por todo um segundo antes que tentasse se
lançar sobre ele, fazendo-o rir enquanto se esquivava de seus
inúteis golpes. Estava surpreso com o quão diferente Bastian
parecia, agora que Luka tinha força.
Derrubando-o, Luka bateu na traqueia — como
Klaus fez com ele — cortando seu grito de alerta. Com um
chute só, Luka quebrou sua perna. Bastian caiu no chão,
com um estrondo, enquanto tentava em vão gritar por
socorro, mas ninguém poderia ajudá-lo agora.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Está com medo? — Luka perguntou enquanto se
agachava junto a ele, seus lábios subindo nos cantos
enquanto pegava a faca borboleta 19 de seu bolso. — Shh, não
vai doer por muito tempo.
As palavras eram como uma segunda natureza para
ele quando via o familiar medo finalmente entrar nos olhos.
Falaram com ele tantas vezes, que podia combinar
perfeitamente ao tom e o timbre da voz de Bastian. Era uma
sensação inebriante ter este tipo de controle sobre a vida de
outro. Não era algo que Luka dava como certo.
— Se isso faz com que seja mais fácil, eu vou
devagar.
E isso foi o que fez. Em primeiro lugar, pegou a
língua do homem, então cortou cada um de seus dedos até
que as mãos eram simplesmente pedaços sangrentos. Por
último, cortou a garganta de orelha a orelha.
O ato não necessariamente fez com que Luka se
sentisse melhor, apesar do que acreditou no princípio, mas
havia uma bendita dormência que deslizava através dele,
pondo seus pensamentos em repouso. Não duraria muito
tempo, provavelmente até que terminasse o corte através do
corpo do homem, mas desfrutaria a paz de espírito o tempo
que durasse.

19
In the beginning
Volkov Bratva 3

-
Luka ficou feliz que Mishca mudou-se para um lugar
mais seguro, que era dirigido pelos homens em sua folha de
pagamento. Não que ele não gostasse do último apartamento,
mas não podia ficar lá fora fumando, coberto do sangue de
alguém.
A nicotina esquentava seus pulmões quando a
aspirava, exalando lentamente enquanto perseguia a calma
que sentiu antes. Assim era como sempre foi.
Toda vez que tirava uma vida, ficava de braços
cruzados escutando suas súplicas gritando em sua cabeça, e
fumava até que já não pudesse ouvi-las. Perguntavam-se por
que falava bobagens, mas encontrava a paz na constante
conversa, nas risadas... Tudo menos no silêncio.
Odiava o silêncio.
— Merda, o que aconteceu com você?
Luka se virou, observando Alex se aproximando,
passando seus olhos lentamente sobre ele. Eles nunca
estiveram muito um ao redor do outro, em parte porque ela
esteve na França durante anos, mas também porque Mishca
preferia que nenhum deles chegasse perto dela.
Não que Luka nunca tivesse feito isso, apesar do
prazer de encher o saco de Mishca. Era sabido que algumas
coisas estavam fora dos limites.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas ele amava testar esses limites... E os próprios.
— Pombos — respondeu, dando outra tragada em
seu cigarro. — Eles são pequenos animais sanguinários.
Esperava que ela revirasse os olhos, chamasse-o de
louco e saísse, mas não fez nada disso. Pelo contrário, apoiou
seu quadril contra a parede de tijolo ao seu lado. Não era que
Luka estivesse tentando notá-la — na verdade fazia um
esforço consciente para não fazer isso — mas ela tornava
difícil para ele... desde que a levou para a casa segura há
alguns meses.
Nunca contou a Mishca como a encontrou,
valorizando muito seu rosto para ter essa conversa, mas a
imagem ficou gravada em seu cérebro, e duvidava que fosse
capaz de esquecê-la tão cedo.
— Certo. Há algo que possa fazer? Uma toalha,
talvez?
Sorriu, divertindo-se por sua pergunta, entretanto
por dentro estava um pouco surpreso por sua oferta. A sua
família na Bratva não se importava com o que acontecia a ele
depois que o trabalho era feito, não que realmente pudesse
culpar a qualquer um por isso, já que tornou um hábito
ferrar com eles quando não era necessário.
— Nyet. — Não.
O que realmente queria era ficar sozinho, acalmar
seus pensamentos caóticos por conta própria, mas uma
pequena parte dele ficou feliz que ela estivesse ali. Não...
tinha que estar contente por alguém estar ali, não só porque
era Alex.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— O que está fazendo aqui?
Usava um daqueles seus vestidos, embora nos
últimos tempos, todos se tornaram mais curtos. Ele teria
gostado de pensar que não percebeu, mas o fez, e não se
envergonhava disto.
— Esperando por você.
Ela lhe deu um pequeno sorriso, arqueando sua
sobrancelha enquanto dava uma longa tragada no seu
cigarro. — Sim?
Com um puxão de seu ombro, ela caminhou para
frente, tão perto que podia cheirar o aroma quente de qual
fosse o perfume que usava, mas não o suficiente para que ela
realmente o tocasse. Tirando-lhe o cigarro da boca, colocou-o
entre seus lábios, não afastando o olhar enquanto dava uma
tragada, sem importar o sangue manchando o filtro.
Sim, todos estavam completamente loucos.
— Desde que não está com cara de “cometi-um-
assassinato”, eu acho que você ouviu o que eu disse.
Ele assentiu. — Ouvi.
— Então, vou sair de cena por um tempo. Tenho
certeza de que você tem que planejar a queda da minha mãe.
Agitou a mão como se isso significasse pouco para
ela, mas Luka sabia a verdade. Ela baixou o olhar do seu,
olhando um pouco além dele para a rua quase vazia, salvo
uns poucos pedestres que caminhavam por lá.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Ela vai morrer de qualquer maneira. — Luka disse
honestamente, mesmo que ela tenha estremecido por ouvir
suas palavras frias. — Anya não sabe, mas Jetmir pensa só
em si mesmo e quando suas costas estiverem contra a
parede, vai sacrificar qualquer pessoa para se manter vivo.
Alex deixou cair o cigarro, apertando com a ponta de
seu salto. — Parece contraditório, não acha? Quero dizer,
Mish pensa que está preparado para ir à guerra por seu
irmão.
— Porque ele não é o único que vai fazer, é óbvia esta
coisa de gêmeos.
— Então, acha que os albaneses estão planejando
algo?
— Tenho certeza.
— Magnifico.
Luka tentou não ser divertido enquanto Alex
murmurava a respeito de "precisar de uma bebida". — Você
deve ir.
— Ah, é? — inclinou a cabeça para um lado, um
brilho perigoso apareceu em seus olhos. — Não vai me levar
de volta para dentro? Desde que, você sabe, é bom nisso.
Foi uma tentação. — Não esta noite.
— Tem certeza? — Ela correu os dedos delicados por
ele, por cima de seus bíceps, até o antebraço, onde seguiu as
veias que se destacavam em sua pele. — Não foi isso o que
disse da última vez.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele sorriu para ela, tentando se lembrar de por que
isto era uma má ideia, que a promessa que fez, mas quando
se preparava para responder, Luka ouviu um pequeno
movimento no beco que o fez ficar em estado de alerta.
Sabia quem era, estava esperando que se
aproximasse desde que Lauren lhe pediu ajuda.
— Deve ir. — Luka disse.
Quer tenha escutado a advertência em sua voz ou só
terminou de jogar com ele, Alex o deixou ali, mas não antes
de se esticar para beijar sua bochecha.
Em outro momento, poderia tê-la impedido de sair,
mas sua atenção estava voltada para o mercenário que
espreitava na escuridão. Luka já sabia quem era.
Além dos outros, ele foi o único que não ficou
surpreso que Mishca tivesse um irmão. Eles já se
encontraram.
— Imagina minha surpresa ao te encontrar aqui. —
Klaus disse caminhando para frente, com os braços cruzados
sobre o peito enquanto olhava para Luka.
Não houve um comentário engraçadinho com o qual
Luka pudesse atingi-lo, não quando se confrontava com
Klaus. Ele tinha toda a razão para odiar os albaneses, ainda
mais do que Mishca, mas o que este não sabia era que Luka
esteve envolvido diretamente com o que fizeram a Klaus.
— Ouvi que foi levado como prisioneiro pelos sírios
no leste do Egito. — Luka disse.
— Só um rumor.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Luka tentou fazer um inventário da quantidade de
armas que Klaus levava. Havia a nove milímetros na parte
baixa das costas, facas atadas aos seus braços, mas eram as
armas que Luka não podia ver que o preocupavam.
— Realmente, por que está aqui? — Perguntou a
Klaus.
— É um rastreador de merda. A notícia que os russos
novamente estavam me procurando se espalhou, então... —
ele deu de ombros. — Eu te segui. Será que ele sabe sobre
você?
Antes que Luka pudesse pronunciar uma palavra,
Klaus tinha sua mão ao redor de sua garganta, empurrando-
o para trás até que estava pressionado contra a parede de
tijolos. — Ele sabe que você me torturou?
— Vse my raby nashikh masterov, net? — Todos
somos escravos dos nossos mestres, não?
— Passei anos colocando todos e cada um de vocês
no chão.
E agora seria o momento perfeito, pensou Luka. Não
era como se Alex tivesse realmente visto Klaus, Mishca
assumiria que foram os albaneses.
— Uma coisa antes de me matar. — Luka disse,
levantando um dedo.
Forçado, Klaus realmente retrocedeu uns
centímetros, dando espaço para Luka fazer o que pretendia. A
contragosto, Luka teve que admirar a confiança com que
Klaus se moveu ao redor, como se não tivesse nenhuma razão
para temer o que ele pudesse fazer.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas ele viu a contração do dedo de Klaus quando
subia a bainha da sua camisa, continuando puxando na
beirada de sua calça jeans, certificando-se de que Klaus
pudesse ver a extensão completa da tatuagem em seu
quadril.
Depois de olhar fixamente para Luka desconcertado
por vários momentos, o olhar de Klaus baixou lentamente,
tendo em vista a tatuagem bastante feminina que tinha ali...
não precisava explicar, Klaus passou tempo suficiente o
estudando para saber o que representava.
— Quem? — Klaus disse.
— Bastian.
Luka meio que esperava exigir que virasse para ver
se as cicatrizes estavam ali, a evidência de suas afirmações,
mas pela forma como os olhos de Klaus escureceram com
fúria, Luka soube que estava se lembrando do padrão exato
em suas próprias costas.
A única coisa é que Luka tinha colocado lá.
— E o russo não sabe disso?
Não, não sabia e Luka queria manter isso dessa
maneira.
Ficou mudo, mas ambos sabiam que Mishca gostaria
de ver Luka morto do que ficar ao seu lado.
— Você é suicida? — Klaus fez a pergunta mais
óbvia. A maioria estaria a ponto de chegar a essa conclusão
se soubessem que Luka queria andar nesta cova de lobos,
sabendo o que fez.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Eu gosto de pensar que sou um masoquista. —
Luka disse encolhendo os ombros.
— Isto não terminou entre nós, mas não vou contar
seu segredo ao seu Capitão — Klaus disse. — Mas está em
dívida comigo.
— E quando a conta chega?
— Toda vez que te chame.
Luka aceitou, não tendo outra opção. Já considerou
matá-lo, mas duvidava de que seria fácil e, merda, seria
sangrento.
— É possível que deseje seguir adiante e me dar seu
número uma vez que, já sabe... — Luka tirou seu telefone,
olhando para Klaus "esperando" — você vai me ligar.
A boca de Klaus tremeu, mas se negou a sorrir. —
Está realmente tão louco como dizem?
Luka olhou ao seu redor, um sorriso em seu rosto
enquanto fazia um gesto ao seu entorno com seus braços. —
Todos aqui estamos loucos.
Sacudindo a cabeça, Klaus virou-se de costas —
bastardo arrogante. — apontando com o polegar para trás em
Luka. — É possível que queira chegar logo até lá, disse ao
russo que retornou.
Então, ele não planejou matar Luka.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Observou atrás dele, vendo a familiaridade entre
Mishca e Klaus. Ambos eram arrogantes, e acreditavam estar
no topo da cadeia alimentar, mas nunca poderiam governar
juntos. Especialmente, quando não podiam ficar juntos em
um lugar por mais de alguns minutos sem apertar a garganta
um do outro.
Luka respirou fundo, enfiando as mãos nos bolsos
enquanto entrava no elevador, ignorando a maneira como
Turner olhou o sangue em sua roupa.
Não havia muito que pudesse ter feito realmente para
ajudar nisso.
E enquanto se preparava para entrar no
apartamento, Luka deixou sua mente à deriva de volta ao
passado, onde foi vítima, implorando por uma vida que não
tinha muita certeza se queria.
Lá, o ritmo caótico de imagens desordenadas brilhava
em sua cabeça, a tortura, o treinamento, o medo. Então sua
mente finalmente parou de pensar.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Alex não precisava de nenhuma confirmação da


parte de Luka para afirmar o que já sabia. Era bastante óbvio
que Anya fez uma armadilha. Alex tinha certeza de que ela
estava contando com o amor de Mishca por Lauren para
provocá-lo antes do tempo, mas realmente pensava que ele a
teria matado imediatamente?
Podia ser temperamental às vezes, claro, mas nunca
em sua vida levantou uma mão para ela.
Mesmo enquanto discutiam de um lado a outro,
Mishca, alheio à tormenta que assolava dentro dela, não dizia
abertamente o que já sabia que aconteceria. Anya morreria.
Desde que ela voltou para a cobertura, um tempo depois
Luka subiu e anunciou o que já havia lhe contado, mas agora
só pegou o final da discussão.
Anya teve uma chance uma vez. Enquanto seus
planos de vida não foram os mais ideais para alguém como
ela, Alex sempre pensou que viver era suficiente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
A coisa mais louca foi que não pensou em sua visita
a Anya desde que saiu de sua casa naquele dia. Poucos dias
depois, não foi capaz de encontrar sua carteira, mas atribuiu
isso ao seu próprio hábito de perder coisas. Inclusive
semanas depois, quando Mikhail informou a Mishca — ainda
não falava com Alex — que Anya desapareceu, Alex se
preocupou, mas imaginava que ela tivesse escapado, ou
Mikhail tinha algo a ver com isso.
Agora, ela estava quase cem por cento certa de que
não era Mikhail.
Olhou ao redor da sala, para as únicas pessoas com
as quais realmente se preocupava, só tinha uma opção real
para pôr fim a isto. Sabia que Mishca se sentiria culpado, não
porque Anya seria morta, mas pelo que faria a ela. E uma
parte dela queria ser a única a se encarregar disso, e essa
parte era destrutiva.
Devido a sua vida, era imperativo que tomasse
cuidado com o modo como agia, sem importar onde estivesse.
Nunca foi capaz de viver normalmente, sair com amigos,
beber em excesso, por isso há anos que seu espírito livre se
viu atenuado, mas não no bom sentido.
Embora não admitisse isso, existia algo escuro nela,
muito parecido com sua mãe. Durante anos, Mishca pensou
que estava protegendo-a da vida, enquanto que, na verdade,
ele a ensinou tudo o que sabia.
E para avançar nisto sem provocar suspeitas sobre si
mesma, precisava sair dali e fazer uma ligação.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela conseguiu sair com muita facilidade, já que
Mishca estava muito ocupado discutindo com Klaus, e
Lauren tentava ser a medidora entre eles. Por razões que Alex
não se importava em descobrir, Vlad estava agindo de forma
estranha, distanciando-se ao invés de pairando como sempre.
Enquanto virava a esquina e descia pelo corredor,
revisava em sua cabeça o que ia dizer, tentando pensar na
melhor estratégia para usar contra sua própria mãe.
Ninguém a conhecia como Alex, incluindo a forma como sua
mente trabalhava.
— O que está fazendo?
Alex estava tão acostumada com Mishca se
esgueirando por aí, que não se assustou com Luka
aparecendo de repente atrás dela. Entretanto, ela foi
cuidadosa, deixando seu telefone fora de vista mantendo seu
braço atrás das costas, e virando-se para encará-lo. Luka não
se importava com espaço pessoal, e era mais do que difícil
para ela apenas estar em sua presença.
Forçando um sorriso, deu de ombros piscando para
ele. — Cuidando da minha vida. O que está acontecendo com
você?
— Parece como se planejasse algo estúpido.
Luka era sempre tão cuidadoso e cauteloso quando
estava com ela, que não podia ter certeza se era tão
preocupado porque era seu trabalho, se pensava nela como
uma irmã, ou... algo diferente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela nunca escondeu seus sentimentos por ele,
embora não fossem correspondidos, mas até recentemente,
nunca fez nada que o levasse a olhá-la duas vezes. Agora?
Ela não podia se livrar dele e não fazia ideia de como chamou
sua atenção, embora não lamentasse isso.
— Preocupa-se muito comigo. — Disse rapidamente,
esperando que deixasse as coisas assim.
Por um segundo, se é que pudesse considerar,
pensou tê-lo visto sorrir, não um desses falsos sorrisos
sarcásticos aos quais estava acostumada, mas um que era
genuíno e fez seu coração palpitar.
— Alguém tem que fazê-lo. — Disse isto tão
casualmente enquanto se apoiava no batente da porta que
não duvidou de suas palavras.
— E você? Quem se preocupa com você?
— Preocupo-me comigo mesmo.
— Entretanto, isso é suficiente? — Perguntou,
verdadeiramente curiosa. — Nunca se sentiu sozinho?
Deu de ombros, olhando um pouco além dela.
Mas isso não a impediu de dizer — Eu me importo
com você, Luka.
Ele inclinou a cabeça para um lado, alcançando com
os dedos cheios de cicatrizes, tatuados seu cabelo para
colocar atrás da orelha. Sua mão ficou ali, quase a tocando,
mas foi suficiente para que sentisse o calor de sua palma.
Como se fosse possível, o espaço entre eles diminuiu quando
ele parou, embora não parecia que tivesse se movido
absolutamente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não sabe nada sobre mim.
— Diga-me. — Foi quase uma súplica... quase. —
Alguma coisa, qualquer coisa. Não me importa.
— Não faça nada estúpido, Alex — ordenou,
mudando de assunto. — O Chefe não gostaria que fizesse
nada imprudente.
E assim do nada, ele se afastou, fechando-se para ela
como ela mesma fez. Ele virou para caminhar pelo corredor
até a sala onde todo mundo continuava falando, mas antes
que pudesse se distanciar, ela o chamou.
— Pelo menos você se importa, Luka?
Ele girou sobre seus calcanhares, enquanto
caminhava de volta, mas agora ele a enfrentava. Desenhou
um X sobre seu coração, em seguida, colocou a palma de sua
mão contra o espaço. Não podia dizer o que significava, só
podia esperar que ele sentisse por ela o mesmo que sentia por
ele, mas sabia que a possibilidade disso era muito mais
complicada do que realmente queria pensar agora.
Ele pensou que a conhecia, mas deveria saber que só
porque lhe disse que não fizesse algo, não significava que não
faria. Ela ainda tinha que telefonar.
Anya era muito arrogante para acreditar que nunca
cometeria um erro — mesmo com a catástrofe com Lauren e
sua família — e, por essa razão, Alex sabia que Anya ainda
teria o telefone que ela escondeu na cesta de presente que lhe
deu.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Sabendo que não tinha muito tempo até que Luka
voltasse, já que não a seguiu, Alex digitou o número levando
o telefone à orelha, seu coração pulsando rapidamente em
seu peito enquanto chamava. Tocou uma vez, duas vezes,
antes que a ligação fosse para a caixa postal.
Ela estava certa.
Apesar de Anya não poder vê-la, Alex manteve a
cabeça erguida, precisando da coragem que isso lhe trouxe.
Se ela queria que desse certo, tinha que fazer que soasse
crível.
Quando chegou o momento de deixar uma
mensagem, Alex falou com clareza e precisão ao telefone.
— Sei onde está e com quem está. Também sei sobre
o assassino que contratou. Sei a verdade, mas se quiser que
guarde seu segredo, você se reunirá comigo com duzentos mil
dólares em dinheiro. Se não tiver, peça ao albanês com o qual
está transando. Quando ligar, e fará isso, vou te dar o lugar e
a hora.
Terminando a ligação, Alex guardou o telefone no
bolso, mudando de expressão antes de voltar à sala,
esperando que o tempo estivesse do seu lado. Se Anya não
sabia que o assassino falhou, então estaria mais disposta a
negociar, especialmente desde que fez Alex assumir a
responsabilidade por isso.
Agora, tudo o que tinha que fazer era esperar.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Anya não a decepcionou.


Por volta de uma semana depois de Alex deixar a
mensagem, Anya ligou querendo negociar. Para todos os
efeitos, não tinha motivos para se preocupar com o que Alex
poderia fazer, porque ainda acreditava que seu plano era
eficaz. Claramente Anya não sabia o que fazia se não
percebeu que o mercenário falhou há muito tempo, mas
Klaus era seu ás na manga.
No tempo entre sua ligação para ela e a data em que
previu se reunir, Alex conseguiu tudo o que precisava.
Primeiro fez uma visita a um de seus amigos em
Brighton Beach, o mesmo que via quando precisava de uma
carona. Para falar a verdade, ficou feliz que Mishca enviou
Lauren e Luka em vez de vir ele mesmo. Praticamente, ele
conhecia todos os cantos dali, e poderia adivinhar onde
estava, mas foi mais fácil distraí-los antes que perguntassem
o que fazia lá.
A droga que comprou não foi barata, Clint esteve
prestes a lhe cobrar o olho da cara para que ela conseguisse
isso. Para um traficante, que era um assustador filho da
puta, tinha mais medo de ir para prisão do que realmente
transportar seu produto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Entretanto, sabia como usá-lo efetivamente, e para
isso agradecia por ter suas próprias conexões dentro da
Bratva.
Tudo estava preparado antes que Anya entrasse no
apartamento essa noite. Não era que Alex tivesse planejado os
eventos que aconteceriam, mas mesmo assim, sabia que
precisava estar preparada.
Anya chegou com uma grande maleta prateada,
vestida como costumava fazer antes que Mikhail a enviasse
para longe. Esta era a mulher que Alex se lembrava, e por
uma fração de segundos, quando não via a fria fúria em seus
olhos, ela podia imaginar que isto era só outro dia delas
passando um tempo juntas antes que tivessem que partir.
— Por favor, sente-se. — Alex ofereceu ocupando seu
próprio lugar enquanto cruzava as mãos sobre seu colo, nem
uma vez desviando o olhar de sua mãe. — Posso te oferecer
algo para beber?
Entrecerrando os olhos, Anya olhou ao seu redor no
apartamento, com ciúme. — Você é filha dele ainda,
entretanto, eu sofro por isso.
Seu coração batia forte em seu peito, mas Alex era a
imagem da calma enquanto cruzava suas pernas, batendo
com os dedos sobre seu joelho. — Trouxe o dinheiro?
— E o que te faz pensar que não vou matar você?
— Porque sabe tão bem como eu que se morrer,
Mishca saberá que foi você e não vai parar até que esteja
morta.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— É possível, mas não há garantia de que haverá
algum corpo para que ele descubra.
Alex observou em silêncio como Anya pegava a
garrafa de água fechada sobre a mesa, inspecionando-a para
ver se foi manipulada antes de desenroscar a tampa, bebendo
rapidamente.
Havia uma pontada de culpa em seu peito enquanto
Alex a olhava e mais uma vez ela desejou ter vindo de uma
família normal, sem todas as traições, as mortes, as brigas,
mas sabia que desejar isso não mudaria nada e era muito
tarde para voltar atrás.
Tinha uns sete minutos antes de a droga fazer efeito
e causar seus danos, e antes que acontecesse, queria dizer o
que pensava.
— Sempre te protegi, em tudo. Por que faria isso
comigo? Se queria sua vingança, por que tem que me levar
junto? Eu não fiz nada de errado.
— Você tirou tudo de mim! — Anya acusou, o veneno
gotejando em sua voz.
— Não fiz nada de errado! — Alex gritou.
— Você nasceu!
Com tanta raiva e hostilidade vindo dela, Alex
percebeu que apesar do que pensava ser um plano brilhante,
impecável, podia não ser a única pessoa a obter uma vitória.
— Nunca teve a intenção de me pagar, não é? —
Perguntou em voz baixa, com um pouco de vulnerabilidade
em sua voz enquanto Anya colocava a garrafa sobre a mesa,
seus olhos indo para a maleta que ainda estava a seus pés.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Com uma expressão bastante contente, Anya a
pegou, abrindo-a para mostrar o interior vazio para Alex.
Movendo a cabeça, Alex disse — Você me enganou.
— E faria de novo em um piscar de olhos.
Anya franziu a testa por um momento enquanto
piscava rapidamente, pigarreando várias vezes, mas ela não
sabia que estava morrendo lentamente de uma droga que era
sem cheiro e sem sabor, e que não apareceria em um exame
toxicológico normal. Mesmo se recorressem a um, disseram a
Alex que estaria fora de seu sistema dentro de vinte e quatro
horas.
— Isso já não importa mais. — Alex sussurrou. — Já
está feito.
Alex não sorria. Não desfrutava do que foi capaz de
fazer. Não sentia absolutamente nada.
— O que significa isso? — Anya virou a cabeça para
olhar para a água que bebeu, procurando com olhos
acusadores a Alex. — O que você me deu?
— Sinto muito, mas não me deixou outra opção.
Sete minutos e meio. Isso foi tudo o que levou antes
que Anya revirasse os olhos, seu corpo afrouxou quando
cambaleou para trás no sofá, com os olhos pouco a pouco
perdendo seu foco.
— Sua lealdade... — Anya ofegou com a respiração
falhando. — Sua lealdade era para mim.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Alex mal conseguia falar quando ouviu as últimas
palavras de Anya, sua garganta tão apertada pelas lágrimas
não derramadas, não podia fazer nada mais, mas olhou
quando tomou seu último fôlego. Mesmo em seus últimos
momentos, ela não assumiu nenhuma parte da culpa.
Anya tinha razão em uma coisa, a lealdade
significava tudo em seu mundo, mas perdeu de vista quem
era leal a quem. Alex era leal aos que eram leais a ela. Mishca
não teria sido tão misericordioso, nem nenhum outro
membro da Volkov Bratva.
Essa foi a razão pela qual Alex sabia que ela mesma
tinha que fazer o trabalho.
Foi o último presente que podia dar a sua mãe.
Era a única misericórdia que alguma vez conseguiria.
Uma vez feito, sabia que tinha que ligar para eles, já
que Mishca tinha pessoas para limpar isto ou arrumar a cena
da maneira como queria que vissem. Hesitou enquanto
teclava o número dele, perguntando-se se ainda estava com
Lauren e o irmão há muito tempo perdido, sobre o qual ela
não sabia merda nenhuma. Mais importante, perguntou-se se
Luka viria.
Cada dia sentia como que se perdesse outro pedaço
de Mishca, e logo temia que não o tivesse absolutamente,
ainda mais agora que estava casado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Assim ligou, para ouvir a fúria na voz da Mishca,
concentrou-se só em Anya. Apesar de sua família, Alex nunca
viu um cadáver antes, não por falta de assassinatos que
sabia que Mishca e outros cometeram. Durante um
momento, só podia olhar o corpo por mais tempo. Aconteceu
muito rápido e se Alex não tivesse presenciado, pensaria que
Anya dormia.
Em pouco tempo, escutou-os do lado de fora, usando
a chave para deixá-los entrar. Alex viu Mishca e Luka
entrando, antes que ela baixasse o olhar de novo, mas sabia
que Vlad não estava muito atrás.
— Quer que eu me encarregue disso? — Luka
perguntou em voz baixa para Mishca, sem aquela faísca de
emoção que ouviu da última vez que o viu.
— Dê-me um minuto.
Esperava que Mishca estivesse irritado com ela por
agir pelas suas costas, mas se suas ações eram uma
indicação, não estava nem um pouco aborrecido com ela. Ele
a tirou da sala, sua mão suave sobre ela. Quando finalmente
pararam, mantendo as mãos sobre seus ombros, obrigando-a
a olhar seu rosto enquanto seu corpo bloqueava o que faziam
na sala.
— O que aconteceu?
Ela abriu a boca, disposta a lhe contar tudo, mas sua
expressão a fez parar. Estava tão acostumada ao seu olhar
severo, a forma como dirigia os homens sob seu comando,
mas passou um tempo desde que se sentiu com sua idade
perto dele.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Havia tanta tristeza ali e o medo, que apesar de seus
esforços, ela começou a se desfazer. Era como se suas
palavras a trouxessem para a realidade, uma na qual matou
a sua própria mãe.
— Ela teria matado a todos nós. — Alex disse,
odiando que sua voz tremesse quando falava com ele. Não
queria parecer frágil. — Sinto muito.
— Pare.
Esperava que lhe dissesse o quanto ferrou tudo, mas
ele a abraçou, aninhando sua cabeça sob seu queixo, como
sempre fazia desde que era uma menina.
— Você não fez nada errado — sussurrou. — Eu
deveria ter feito melhor para você.
Ela negou com a cabeça em seu peito, não porque
pensou que ela fez nada errado, mas sim, porque entendia o
que dizia. Não queria que se sentisse culpado pelo que fez, e
de certo modo, Mishca sentia que era sua culpa.
O que ele não entendia era que não podia salvar a
todos.
Já estava perdida e foi assim durante muito tempo.
Luka interrompeu seu momento, assobiando baixo.
Mishca se separou dela, mas não foi muito longe,
permanecendo perto olhando o que Luka queria. Ele apontou
para a porta com uma inclinação da cabeça, algo que
nenhum deles pode ouvir. Vlad parecia escutar também,
dando um passo atrás próximo a porta, com a arma pronta,
mas não tinha por que se preocupar.
Só era Mikhail.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Nunca foi uma surpresa para Alex que ele sempre
aparecia nos momentos mais inoportunos. Ela não sentiu
medo de que Mishca estivesse aborrecido por suas ações,
mas fez isso quando Mikhail chegou.
Alex podia contar com uma mão quantas vezes eles
realmente se falaram desde que souberam sobre Viktor, e
sempre ela tentando chegar a ele.
Ele entrou no apartamento sem dizer uma palavra,
seus oficiais, provavelmente esperando do lado de fora,
olhando a cada um deles antes que finalmente parasse em
Anya. Alex desejou ter ficado atrás de Mishca assim não veria
o sorriso de satisfação em seu rosto.
Alex sabia que Mishca odiava Anya com paixão, mas
pelo menos teve a decência de esconder de Alex a alegria com
sua morte. Agora, a mudança que esperava de Mishca se
apoderou dele.
— Luka. — Mishca chamou, seu tom frio arrepiante.
— Leve-a.
Queria protestar contra isso, realmente desejava ficar
sozinha, mas nenhum dos dois deixaria isso acontecer.
— Ela não deveria responder pelo que fez? — Mikhail
perguntou, fazendo um gesto para Anya com a mão, apesar
de que parecia não se importar que estivesse morta.
— Se isso acontecer, responderá a mim, e não será
esta noite. Luka.
Alex passou por Mishca para a porta sem esperar que
Luka a acompanhasse .
In the beginning
Volkov Bratva 3
A pior parte? Mikhail nem sequer a olhou. Não
importava que ela fosse inocente em todo o assunto de Anya e
Viktor. Não importava que ela cuidou de um problema que
ameaçava a vida de um de seus capitães. Desde que era o
produto de uma traição contra ele, era tão culpada como
Anya e Viktor diante de seus olhos.
— Espera.
Alex parou, mudando sua expressão destroçada para
uma de indiferença quando se virou para olhar para Luka, o
único deles que não tinha medo de olhar por receio ao que
veria em sua expressão. Nunca poderia explicar, mas havia
algo sobre ele que a fez prestar atenção.
Talvez, fosse a maneira como ele fez questão de fazer
que outras pessoas o vissem como um louco, quando com
toda honestidade, era um dos meninos mais inteligentes que
conhecia. Retratava ser bem um idiota, mas quando as
situações ficavam horríveis, reconhecia a mudança nele,
como podia facilmente comandar uma sala sem pensar duas
vezes.
Talvez, tivessem uma coisa em comum — esconder
quem eles realmente eram.
Esta noite, havia duas tranças em seu cabelo loiro na
altura das têmporas, o parecer de uma maneira estranha que
lhe satisfez. Ao contrário da última vez que o viu, quando ele
parecia tentar se afastar dela o mais rápido possível, esta
noite parecia que estava outra vez no controle.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Tenho lugares aonde ir. — Alex respondeu
simplesmente com um encolher de ombros. — Tenho que
partir.
— Pode esperar por mim.
Ela franziu a testa, sua raiva era a emoção mais fácil
de mostrar no momento. — Não tenho tempo para isto, Luka.
Vá procurar seu buraco.
Uma luz perigosa apareceu em seus olhos quando a
agarrou pelo braço, guiando-a pelo corredor. — Não me faça
te colocar sobre meu ombro. Você se lembra bem como agi,
não é?
Sim, nunca esqueceria o dia que a levou para a casa
segura.
Ele não pareceu perceber que ela tinha o traseiro nu,
olhando para ele. Não, estava errada. Percebeu e não era
tímido sobre observar atentamente seu corpo tampouco. Mas
essa era a coisa, não ia ter medo dele, talvez antes que seu
mundo fosse sacudido e que tivesse que crescer uma pele
grossa rapidamente, mas não agora. Se ele queria olhar, que
olhasse.
Na verdade, não teria ficado tranquila se fosse
qualquer outra pessoa. Luka tornou isso fácil para ela. A
maioria das vezes, os homens que Mishca enviava para cuidar
dela, tratavam-na como se fosse de cristal precioso, mas Luka
parecia vê-la como uma pessoa.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Depois de vários minutos memorizando cada
centímetro de seu corpo, Luka finalmente desviou seu olhar
dela, instruindo-a a se vestir, enquanto esperava que
terminasse. Ele poderia tentar esconder sua reação, mas pela
forma em que engoliu em seco e murmurou baixinho, ela o
afetou.
Alex se vestiu sem pressa, ignorando o som de Luka
suspirando em voz alta fora de seu quarto, embora a fizesse
sorrir. Já que ele foi um idiota a respeito, demorou, sem se
importar que ele ficasse mais agitado a cada segundo.
Ela estava pegando seus sapatos quando ele abriu a
porta, agarrando-a, levando-a esperneando e gritando para
fora. Mesmo quando chegaram à casa segura, a porta
trancada atrás deles, ele ainda fez questão de levá-la para
dentro, fazendo-a se sentir como uma idiota.
Entretanto, por dentro, estava encantada.
— Bem. — Ela disse, voltando ao presente.
Ela o permitiu levá-la. O silêncio era bem-vindo, o ar
da noite esfriando sua pele quente, mas Luka não parecia
contente com isso quando chegaram ao seu carro. Em vez de
abrir a porta para ela, prendeu-a contra ele, com os braços
em ambos os lados dela.
— Isto vai te comer. — Luka murmurou. — Pode não
ser hoje, mas sentirá a merda que fez esta noite e não será
capaz de enfrentar.
— Sabe por experiência, não é verdade?
Ele deu um sorriso tenso. — Sim.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não acreditava que realmente fosse admitir, mas fez.
Luka não parecia o tipo de pessoa que mentiria inutilmente
— esticar a verdade talvez, mas não mentir.
Estavam tão perto que se ela simplesmente
inclinasse sua cabeça para cima apenas um pouquinho, seus
lábios se tocariam. Alex praticamente tremia com a
necessidade de fazer isso, para ver se ela sentiria algo ou se
seria como todos outros que cruzaram seu caminho.
Durante toda a noite, ela esteve em todos os estágios.
Indignação. Tristeza. Felicidade. Inclusive agora, que estava
procurando uma fuga, sabendo que o que Luka dizia estava
certo.
— Você me deseja. — Luka disse, não com um
sorriso arrogante, mas com curiosidade, como se o conceito
nunca tivesse passado por sua cabeça apesar de todos seus
encontros no passado.
— Sim. — Sussurrou de volta antes que pudesse se
conter.
Com o dorso de seus dedos cheios de cicatrizes se
aproximou para acariciar sua bochecha, os olhos claros
seguindo o movimento como hipnotizado.
— Eu te arruinaria.
Ele se afastou dela, em seu lugar o ar frio batendo
seu peito. Sua rejeição doeu, mas não admitiria isso, porque
quando fizesse, quando ela reconhecesse tudo o que
aconteceu esta noite, precisaria de algo muito mais forte que
o álcool para lidar com isso.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Não estava muito frio quando Lauren abriu as portas


para sentar-se na varanda, com uma manta ao redor de seus
ombros. As estrelas cobriam o céu da noite, sem nuvens que
obscurecessem sua beleza. Na realidade, era uma noite
perfeita, mas era difícil para ela encontrar alguma beleza
nisto, não quando constantemente lembrava a feiura do
mundo quando via a cicatriz no peito de Mishca, ou o agora
olhar assombrado de Alex.
Enquanto que sua cicatriz estava curando — e
parecia muito melhor que quando recebeu alta do hospital —
duvidava que as feridas de Alex se curassem tão facilmente.
Lauren se sentou, puxando seus joelhos ao seu peito,
fechando os olhos enquanto o vento soprava em seu cabelo.
Não poderia estar ali há muito tempo quando as portas se
abriram.
Seu olhar voou ao seu imediatamente enquanto dava
um passo para fora, só em um par de calças de dormir e seus
pés descalços. Sem incomodar-se de pegar algo, chegou a seu
lado, fazendo um gesto para que se sentasse para frente para
que pudesse subir na cadeira atrás dela. Ela tentou tirar a
manta e dar a ele, mas a deteve, envolvendo seus braços ao
redor de sua cintura.
— O frio não me incomoda.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Estava rígida, não apoiando seu peso nele ao mesmo
tempo em que se inclinava para trás. — Deveria estar
recostada em você?
Ele suspirou. — Você se preocupa demais.
Mishca não lhe deu a chance de se afastar, puxando-
a ligeiramente até que descansava totalmente contra ele. Se,
se concentrasse sobre todo o resto, ignorando a sensação da
cicatriz em sua pele, quase podia imaginar que tudo estava
bem.
— Fale comigo — sussurrou junto a seu ouvido, e
como se não pudesse evitar, beijou o ponto logo abaixo.
— Pensei que poderia lidar com isso, saber a verdade
sobre o que fazia todos os dias. — Deu de ombros — Não
acho que possa mais.
Seu abraço ficou tenso por um momento, como se
tivesse medo do que poderia estar dizendo, mas quando ela
apoiou as mãos em seus braços, ele relaxou. — Nunca quis
isto para você. Quero que seja feliz.
— Sou feliz, quando estou contigo.
— Não posso te dizer que não se preocupe comigo,
fará isso de qualquer jeito, mas se alguma vez estiver em
algum perigo real, saberá. Dou-lhe a minha palavra.
Sorrindo, ela apertou o braço que ele tinha ao redor
de sua cintura. — Como Alex está levando?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Só passaram uns dias desde que Mishca lhe contou o
que Alex fez. Ela tentou ligar, mas Alex não respondeu, só
enviou uma mensagem de texto dizendo que estava bem.
Lauren não podia imaginar o que Alex estava passando, mas
desejaria poder ajudar.
— Ela só me diz que está bem. Desculpei-me pela
forma com que me comportei, tentei estar lá para ela desde
Anya... mas acredito que sou a última pessoa que precisa ver
neste momento. Luka se ofereceu para cuidar dela até que eu
consiga que ela volte.
— Bom.
Embora parecesse escapar da mente de Mishca, era o
suficientemente claro para Lauren que Luka se preocupava
com Alex, e não acreditava que houvesse ninguém que
pudesse ajudá-la da forma como ele podia. Mas não achava
que Mishca o aprovaria para a Alex, não como ele era protetor
com ela.
Só esperava que não fosse muito tarde para ajudar
Alex.
— Preciso que me prometa algo — disse Mishca de
repente, seus olhos fixos em seu rosto.
— Qualquer coisa.
— Prometa-me que confiará em mim. Prometa-me
que vai me deixar decidir o que é importante que você saiba.
Pode fazer isso por mim? E eu prometo manter a feiura do
meu trabalho fora de nossa casa.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren pensava nisso, viver nesse mundo de feliz
ignorância. Sabia que provavelmente pensaria no pior cenário
possível, quando em realidade, não era tão ruim.
Podia aceitar deixando-o só como um pensamento.
— Sim, confiarei em você.
— Bem. Agora, já parou de se preocupar? — Quando
assentiu contra ele, beijou-a na testa — Então volte para
cama.
Sorrindo contra sua bochecha, girou seus braços ao
redor de seu pescoço. — Nunca me carregou pela soleira,
sabe.
Rindo, colocou um braço debaixo de suas pernas,
facilmente levantando-a. Sem pressa carregou-a pela soleira
de seu quarto. Nestes momentos, por curtos episódios de
tempo, lembrava por que tudo isto valia a pena.

Vê-la dormir tornou-se um novo passatempo para


ele, mas desta vez, enquanto via seu peito subir e descer, não
estava feliz. Mishca era respeitado quando se reunia com as
pessoas com quem fazia negócios. Só o seu nome dava medo
nos homens com o dobro de sua idade. Se não podia proteger
a pessoa mais importante para ele, então, de que valia tudo
isso?
In the beginning
Volkov Bratva 3
O que Mikhail disse era verdade. Os que amam
traziam um risco, mas o que ele não conseguiu perceber foi
que isto era um risco tanto para Mishca como para Lauren.
E, francamente, Mishca estava cansado das regras que
governavam sua vida.
Ele tomou sua decisão quando Lauren aceitou seu
nome, e fazia o que era correto para ela. A única forma que
podia garantir um sorriso permanente em seu rosto era pôr
fim às ameaças contra eles de uma vez por todas.
Ele podia não ter sido capaz de renunciar aos votos
que o levaram a Bratva há tantos anos, mas poderia ter
certeza de que seus inimigos desejariam que o tivesse feito.

Busque um lugar interior onde


haja alegria, e a alegria
sufocará sua dor.
—Joseph Campbell20

20
Joseph John Campbell, (1904 - 1987) foi um estudioso norte-americano de mitologia e
religião comparada.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Recostada no sofá, com o computador portátil em


suas pernas, Lauren estava ocupada procurando inscrições
disponíveis para a faculdade de medicina, quando Mishca
entrou. Era estranho se acostumar a viver diariamente com
ele. Antes, tinha escola na maioria dos dias, e só passavam
algumas noites juntos, ou havia uma ameaça que os
mantinha separados, mas agora que estava tudo acabado —
até encontrar uma nova escola — tinha que se acostumar a
estar com ele constantemente.
Não se queixava, realmente amava passar tempo com
ele, mas ainda havia dias onde não podia acreditar que essa
era sua vida.
— Onde estava? — perguntou quando se aproximou.
— Você já tinha saído quando acordei.
Deu-lhe um beijo na testa, sentando-se ao seu lado,
puxando um envelope do bolso, entregando-o. Era bege e
endereçado à mão para Mishca. Olhando-o curiosamente,
Lauren abriu o envelope e tirou o cartão de dentro, o pesado
papel de alta gramatura em suas mãos. Era um convite para
um evento, no qual uma mulher chamada Lucia Cortez era a
anfitriã.
— Vai ao Brasil? — Perguntou olhando-o depois de
ler a data e o lugar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não — respondeu, pegando-o das suas mãos —
Nós vamos ao Brasil. Duas noites, Marco me enviou seu
avião.
— Espera — disse Lauren entre risadas — não
podemos simplesmente deixar o país.
— Por que não?
— Porque... — Realmente não tinha uma boa
resposta a isso — E quem é Lucia Cortess ou Marco?
— Cortez — disse, corrigindo sua pronúncia — Lucia
é a ex-esposa de Marco.
— Não entendo. — Lauren olhou novamente o convite
— Por que te convidou a esta festa onde vai vender suas
joias? Quero dizer, a menos que esteja envolvido nestas
coisas, Mish.
— Às vezes me esqueço do quanto Luka é uma má
influência para você. Enquanto Lucia nos considera amigos, é
importante que eu vá para uma reunião com Marco. Além
disso, as joias que está vendendo são dela já que Marco lhe
deu de presente.
— Então, por que está vendendo? Isso não o
incomodaria ou algo assim, e eu ainda não entendo, quem é
ele para você?
— Marco é um antigo associado meu. Não há nada
para se preocupar, honestamente. Ele aprova isto.
Revirando seus olhos, deixando cair o convite em
cima da mesa, ela perguntou — Então, se isto é uma viagem
de negócios por que tenho que ir?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Uma noite é de negócios, os outros dois dias são
somente para nós. Considere-o uma pré-lua de mel. Além
disso, há um biquíni dourado que estive esperando para ver
em você.
Lauren fingiu pensar sobre isso, mais do que
animada com a perspectiva de deixar o país e viajar para um
lugar que ela nunca foi.
— O que preciso por nas malas?

Vlad, não parecia feliz — embora raramente sua


expressão mudasse — por viajarem em um jato particular,
mas continuou dirigindo obedientemente para o aeroporto,
onde os pilotos esperavam sua chegada.
Depois de pensar nisso, Lauren percebeu que o via
cada vez menos desde que os albaneses vieram para a cidade,
especialmente porque Luka apareceu, mas Mishca não lhe
disse nada sobre rebaixá-lo, e quando olhou, suas tatuagens
estavam onde deveriam estar.
Enquanto iam para o hangar, o telefone de Mishca
tocou, e olhando para ver quem era, revirou os olhos e
silenciou-o. Antes que Lauren tivesse tempo para lhe
perguntar quem era, seu telefone tocou.
— Alô?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Por que não posso ir ao Rio? — Queixou-se Luka
enquanto se escutava música estridente ao fundo.
Rindo, Lauren olhou para Mishca. — Não sou
responsável por isso.
— Não devia ter atendido — murmurou Mishca.
— Depois de tudo o que eu fiz? Você o deixou me
jogar fora como lixo! Estou ofendido.
— Luka...
— Coloquei meu traseiro na linha de fogo por você,
inclusive me deram uma multa por excesso de velocidade.
Sabe o que tive que pagar para que não me prendessem? O
que significa que tive que pagar para que me dessem uma
maldita multa de excesso de velocidade!
— Está sendo um pouco dramático, Luka — disse
Lauren esquivando-se das tentativas de Mishca de lhe tirar o
telefone — Se quiser digo a Mishca que lhe dê um tempo de
férias.
— Nyet, Vy s uma soshli. — Não, você está louca. —
Grunhiu Mishca, puxando-a a seu lado, para que assim
pudesse pegar o telefone. O que fosse que Luka dizia agora
deixou Mishca carrancudo. — Não, ela não quis dizer... Não
me importa uma merda... Você está me dando dor de cabeça.
Bem! Discutiremos quando voltarmos.
Lauren continuava rindo, ainda mais quando ele
prometeu machucá-la pelo que fez.
— Tem que parar de agradá-lo — disse Mishca
enquanto saía do carro, o pequeno, mas elegante avião os
esperava a uns metros.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Dê a Luka um descanso. Ele merece um período
de férias depois de cuidar de mim quando você estava no
hospital.
Seus olhos se arregalaram e endureceram, não
gostando de ser lembrado desse tempo. — Era o seu trabalho.
— Todo trabalho vem com benefícios e promoções —
replicou com um brilhante sorriso, ficando nas pontas dos
pés para beijar sua testa franzida.
— Você é muito boa para ele.
— Não, você que não é amável o bastante.
Vlad ofereceu para carregar sua bagagem, mas ele
preferiu fazer isso.
O avião era menor que um avião comercial, mas o
interior era suficientemente espaçoso para que os três
estivessem em suas próprias áreas, Lauren se sentou com
Mishca.
Fecharam seus cintos, quando o piloto falou com eles
pelo intercomunicador para avisar que estavam decolando.
Lauren olhava pela janela quando o avião começou sua
corrida para a decolagem, sua emoção fazendo-a olhar para
Mishca com um sorriso no rosto.
Embora não fosse sua primeira vez fora do país, era a
dela, e estava feliz que pudesse ter essa experiência com ele.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren dormiu quase toda a viagem, com sua cabeça
descansando no ombro de Mishca. Não deveria ser uma
posição muito cômoda para ele, especialmente por tanto
tempo, mas não reclamou.
— Já chegamos?
— Aterrissaremos em seguida. Dormiu bem?
Ela deu de ombros. — Como está seu ombro?
— Estou bem.
— O que esteve fazendo?
— Planos para o fim de semana.
A luz piscou, sinalizando para que colocassem o cinto
de segurança. Quando começaram a descida, Lauren
procurou sua câmera em sua bagagem de mão, tirando fotos
da terra estendendo-se fora de sua janela. Eles ainda
sobrevoaram o famoso Cristo Redentor, que era tão incrível
ao vivo como era nas imagens.
Um carro os esperava quando aterrissaram. Mishca
cumprimentou o motorista com facilidade, mas Lauren
poderia dizer que ele não estava tão familiarizado com o
português, como em russo ou em francês.
Lauren entrou primeiro, seguida por Mishca e Vlad,
em poucos minutos foram para a rua. Apesar das dez horas
de voo, e quatro longas horas de viagem de carro a partir do
aeroporto, já que dormiu no avião, Lauren estava bem
acordada agora, memorizando os letreiros à medida que
passavam.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Havia lojas em todas as partes, vendendo frutas
frescas, roupas, e uma variedade de outras bugigangas. Tudo
era muito brilhante, tantas cores vivas, e aves exóticas que
voavam por todos os lados, dando voltas no verde da floresta.
Em lugar de um hotel, ficaram em uma vila, a poucos
passos da praia. Tinha ao menos quatro quartos, e vários
banheiros, com uma espaçosa sala de estar, todo o lugar
tinha uma decoração em tons de branco e bege.
O quarto principal era no térreo, com portas duplas
que se abriam a um terraço que se estendia até a areia. Havia
folhagem suficiente para lhes dar privacidade, mas as flores
eram bonitos de se olhar.
Uma cama de dossel extragrande estava contra a
parede, com uma enorme pintura de um entardecer
pendurando entre duas colunas. Não era de se surpreender
que o quarto não tivesse televisão, e Lauren estava realmente
feliz por isso.
Quando chegaram, esperava falar com Mishca para
dar um passeio pela cidade, mas logo que deitou adormeceu
novamente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Horas depois, levantou-se fresca e renovada, então
encontrou Mishca no terraço com uma bebida na mão. Deu-
se conta que dormiu muito já que agora as estrelas brilhavam
no céu.
— Não tem Jet lag? — Perguntou, sentando-se em
seu colo, beijando-o brevemente.
Ele sorriu, apontando seu telefone com uma
inclinação de sua cabeça. — Tinha que fazer algumas
chamadas.
— Se o leilão de Lucia é amanhã, o que vamos fazer
hoje de noite? — Perguntou Lauren enquanto se inclinava
apoiando suas costas em seu peito, e suspirando quando ele
envolveu seus fortes braços ao redor de sua cintura.
— Pensei que você pode querer ir para a água.
Ela pulou rapidamente, ignorando sua risada,
enquanto tirava suas roupas, procurando na mala por seu
biquíni dourado. Enquanto amarrava as tiras superiores do
sutiã de seu biquíni em frente ao espelho, Mishca entrou,
seus olhos fixos nas estrelas em seu peito. Duvidava que
alguma vez se acostumasse a vê-las nela, francamente nem
ela faria isso.
— Vai se trocar?
Ele arqueou uma sobrancelha, enquanto desfazia o
nó da gravata, atirando-a na cama. Agora era a vez de Lauren
de desfrutar vendo-o se despir. Sua camisa foi a seguinte,
logo suas meias e sapatos, mas deixou a calça.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Apesar da brisa fresca que soprava sobre o mar,
ainda fazia calor suficiente para ser confortável. A praia
estava quase vazia a esta hora da noite, mas ainda havia
algumas pessoas passeando, mais abaixo.
— É lindo aqui fora — disse Lauren, distraidamente,
enquanto caminhava a beira do mar, com as pequenas ondas
lhe dançando nos pés.
A lua estava enorme no céu noturno, refletindo na
água, iluminando o suficiente para que pudessem se ver.
Mishca se aproximou por trás dela, e envolveu seus braços ao
redor de sua cintura, o que fez que sorrisse com o fruto das
imagens que lhe passaram pela cabeça.
— Ne tak krasiv, kak vy. — Não tão bonita como
você.
Ela apertou sua mão para liberar-se de seu agarre. —
Vai entrar comigo?
— Só te olharei.
Lauren virou-se para vê-lo cair sobre a areia,
estreitando os olhos nele. — Não me diga que o grande
Capitão da Bratva tem medo de entrar na água.
Sorriu quando ela mal começou a tirar o vestido,
deixando apenas, usando o biquíni dourado que comprou
para sua lua de mel.
— Eu adoro a vista.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Cuidadosamente entrou na água, deixando de lado o
frio desta, enquanto afundava até a cintura. Fechando seus
olhos, mergulhou. Apesar da loucura de suas vidas, estar
aqui com Mishca, afastada de todo o drama e a violência que
os rodeava em Nova York, sentiu-se em paz.
— Por favor? — Pediu-lhe de novo com um sorriso
sensual, indo mais fundo na água.
Ela não teve que olhar para trás para saber que viria
atrás dela, assim quando escutou a água espirrando, sorriu.
— Diga-me — disse quando se aproximou pelas
costas — o que vê quando olha para a água?
— Infinitas possibilidades.
Seus lábios mal roçaram atrás de sua orelha, e podia
sentir seu sorriso, causando arrepios por todo seu braço. — É
assim como nos vejo.

— Como devo me vestir para uma coisa como esta?


— falou Lauren do banheiro, luz aparecendo atrás da porta.
— Como quiser — disse Mishca, ocupado em seu
telefone, garantindo que seus outros planos para a noite
seguissem ativos.
Ele já tinha se vestido, trocando seu terno por calça
jeans e uma camisa, botas gastas em seus pés.
— Que tal isto?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não era como se Mishca não estivesse acostumado à
beleza de Lauren, muito pelo contrário, mas havia algo na
maneira como ela parecia naquele momento, que o deixava
sem fôlego.
Divertida por sua reação, caminhou para ele, ainda
descalça, atraindo seu olhar para suas pernas que apareciam
com este vestido. Ele deveria se lembrar de dar-lhes mais
atenção no futuro. Ele ficou de pé quando ela chegou perto
dele, virando-se de costas e levantando seu cabelo.
— Poderia fechar este botão? — Perguntou
inocentemente, mais que consciente do efeito que provocava
nele.
Ele passou seu dedo por suas costas, abaixo da
delicada corrente que pendurava sua bolsa, a única coisa que
realmente segurava o vestido no lugar. Justo no topo havia o
menor dos botões que sabia que ela poderia alcançar
facilmente. — Mais alguma surpresa que eu deveria saber?
Ela encontrou seu olhar através do espelho, e sorriu.
Não respondeu, não precisava. Sua expressão lhe disse tudo
o que precisava.
— Esta noite será divertida.
Rindo, ele abriu a porta, deixando-a passar. — Não
me tente.
Enquanto caminhava, ela passou a mão por seu
abdômen, sorrindo docemente, e logo disse — Ou?
Esta seria uma longa noite.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Lauren não tinha que perguntar com que frequência


Mishca visitava o Brasil, não pela maneira como habilmente
conduzia pelas ruas para a vila na periferia da cidade.
Por esse momento não tinha que preocupar-se com
nada no mundo, além de como estaria seu cabelo uma vez
que chegassem à festa. Com a capota do carro abaixada, as
mechas de cabelo se soltavam com o vento, que açoitava seu
rosto, enquanto Mishca dirigia bem acima do limite da
velocidade.
Quando chegaram à vila, já não queria que ele
dirigisse na volta.
— Oh, uau! — Disse Lauren quando Mishca saiu do
carro, dando as chaves a um adolescente de colete marrom,
que se colocou a seu lado — Isto é incrível.
Luzes alógenas21 estavam incrustadas no chão ao
longo do caminho até as portas da frente que estavam
abertas, com dois guardas de segurança em cada lado, um
segurando uma prancheta. Mishca não teve que dar seu
nome — obviamente era notória sua presença — pelo qual os
guardas foram para o lado permitindo que entrassem.

21
In the beginning
Volkov Bratva 3
Os pisos foram feitos de um caro mosaico de arenito,
a casa em si decorada com tons quentes de vermelho,
castanho e laranja. A sala onde entraram, estava quase sem
móveis, e os convidados já se misturavam.
Uma garçonete, carregando uma bandeja de prata
com taças de champanhe e copos de uma bebida com aroma
frutado, parou na frente deles.
— Querem uma bebida?
Mishca declinou, mas pegou uma para Lauren.
Diante de seu olhar interrogativo, ele disse — Sangria,
ninguém faz melhor que Lucia.
Nunca tomou uma, mas sabia mais ou menos o que
pensar delas. Tomou seu primeiro gole, engoliu e tossiu,
surpresa por quão forte era, mas gostou.
Existia muita diferença entre os russos com os quais
se reuniu na mansão e os "empresários" que estavam aqui
hoje. Eles não eram tão duros e formais, vestidos
casualmente ao contrário dos ternos nos quais costumava vê-
los. Luka se encaixaria mais neste grupo do que com a
Bratva.
Eles estavam à vontade como todos conversando
casualmente, Mishca a apresentou a alguns deles, mas a
mulher que roubou a cena era a que realizava o leilão.

Lâmpadas alógenas têm o mesmo princípio das lâmpadas incandescentes; porém, são mais
elaboradas, tem uma luz mais brilhante.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lucia Cortez, não era a típica beleza, mas tinha um
sorriso largo que tanto significava felicidade ou desgraça
iminente, e, enquanto ela parecia extremamente agradável
quando Lauren a viu pela primeira vez, seu humor mudou
em um segundo, principalmente quando viu gente que não
queria ali.
Quando ela e Mishca saíam, escutaram-na gritar em
um rápido português com um dos garçons, mas ao ver
Mishca pôs fim a discussão sorrindo calorosamente a ele.
Logo veio para eles, com seu vestido de renda
ondulando atrás dela, então agarrou Mishca pelos ombros e o
beijou em ambas as bochechas. Mesmo Lauren teve o mesmo
tratamento, como se tivessem sido amigas por anos em vez de
praticamente estranhas.
— Estou tão feliz que veio — disse Lucia em um
inglês com um forte sotaque, e um agradável sorriso em seus
lábios pintados de ameixa — e você deve ser Lauren, tão linda
como Mishca descreveu.
Corando, Lauren agradeceu, olhando para Mishca
que deu de ombros.
— Mishca Volkov. — Um homem corpulento chamou-
o alto, abrindo seus braços enquanto cruzava a sala em
direção a eles.
Aceitando seu abraço com um forte tapa nas costas,
Mishca afastou-se dele com um sorriso, apontando para
Lauren vir a seu lado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ao contrário de Lucia, a mulher que estava ao lado
dele não sorriu para ela, estreitando os olhos, como se
achasse que Lauren era uma ameaça. Mal evitando revirar os
olhos, Lauren aceitou a mão estendida do homem.
— Marco, esta é minha esposa, Lauren.
— Ah, ela é um tesouro.
Lauren sorriu amavelmente, e quando ia lhe
agradecer, a condescendente voz de Lucia interrompeu antes
que pudesse fazê-lo.
— Oh, pare com isso, Marco. Ela não é uma de suas
putas. Não vai se apaixonar por seu charme.
Ele não parecia zangado com o comentário, só
divertido. Isso foi algo que Lauren notou em relação aos
velhos sócios de Mishca. Ou eles não ficavam com raiva, ou
aqueles sorrisos que eles deram foram aviso suficiente.
— Minha esposa, tão graciosa como sempre.
Um garçom soou um sino chamando a atenção de
todos. — Se quiserem passem à sala, o leilão está a ponto de
começar.
Ao invés de vitrines, as joias eram apresentadas em
mulheres jovens, havia de tudo: desde broches de diamantes,
brincos de esmeraldas, colares de rubis, algumas pedras
próximas ao tamanho do punho de um bebê.
Os convidados andavam ao redor, observando,
comentando, e já selecionando suas favoritas, antes do leilão
começar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— A metade das joias ela nem sequer usou, eram só
presentes de quando Marco tinha um caso — explicou-lhe
Mishca quando foram a seus assentos.
Lauren tossiu, dando um gole em sua bebida. Havia
pelo menos umas trinta modelos na sala. — Se me passar a
perna, o que me dará?
— O mundo, e se não for isso, deixaria me bater.
Essa parece ser a sua resposta favorita
Ela revirou os olhos, mas finalmente sorriu. — Foi só
uma vez.
Lucia caminhou pela entrada lateral, e todas as
conversas morreram quando subiu ao pódio. Quanto ela
começou o leilão, não demorou muito tempo até que vendesse
as primeiras peças. Tinha uma interessante maneira de levar
o evento, quer dizer, não importava quantas vezes a nova
namorada de Marco levantasse a mão para fazer alguma
oferta, sempre a ignorava, e da mesma forma, cada vez que
Mishca levantava a mão por Lauren, não importava que outra
pessoa oferecesse mais, sempre a vendia a ele.
Ao final, Lauren saiu com um colar trabalhado em
forma de flores, e grandes brincos compridos como lágrima
feitos de diamantes negros. Uma vez que o leilão terminou,
Lauren falou com Lucia, e Mishca se desculpou para sair a
uma reunião privada com Marco.
In the beginning
Volkov Bratva 3

— Nunca pensei que veria este dia — disse Marco


quando eles saíram, acendendo um dos charutos cubanos
que ele era conhecido por transportar. — Com todas as regras
pelas quais vocês russos são conhecidos, duvidei que sequer
tivesse alguma mulher. “Come você vive.” Como você vive?
Mishca sorriu graciosamente, sentando-se em uma
cadeira de frente à casa, assim podia ter uma visão clara de
Lauren. — Os tempos estão mudando, Marco.
Acendendo um fósforo, Marco levou seu tempo para
acender a ponta de seu charuto, e olhando por cima do
ombro para Mishca disse — Uma mudança de poder, sim?
No passado, Marco quis fazer negócios com eles em
Nova York, uma aliança que seria rentável para ambos os
lados, mas Mikhail rejeitou essa oferta em favor de outro
sindicato do crime. Embora nunca tenha revelado seus
motivos, Mishca estava seguro que era porque Marco era tão
poderoso como Mikhail, e ele não queria correr o risco de
perder seu status.
Mishca só deu de ombros como resposta. Nada
estava escrito em pedra, não queria comprometer-se e dar
uma resposta, se nada aconteceu ainda.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Com respeito ao nosso trato — continuou falando,
logo depois de soprar a fumaça de seu charuto — devo
esperar alguma interferência?
Mishca nem sequer duvidou que Marco estivesse se
referindo à presença de Lauren aqui. — Não, nos reuniremos
a sós. Espere minha chamada quando for a hora.
— Claro.
— Eu...
— Mishca.
Ambos viraram ante a interrupção de Lauren, e
Mishca imediatamente ficou alerta quando viu a expressão
em seu rosto. Ela se surpreendeu quando todos se
levantaram.
— Há um pequeno problema lá dentro. — Ela
continuou quando um copo de cristal espatifou-se contra a
porta ao lado dela, fazendo-a saltar para trás.
Mishca quase podia ouvir os gritos vindos do interior
quando ficou de pé, puxando Lauren para seu lado, enquanto
os guardas de Marco corriam para lá. Mishca examinou-a
rapidamente certificando-se que ela não foi ferida, apesar de
que não tinha nem ideia do que ocorria.
— O que aconteceu?
— Lucia e a namorada de Marco tiveram uma briga.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Marco riu alegremente, apagando seu charuto no
cinzeiro da mesa. —Talvez eu devesse ser o único a lidar com
isso. Foi bom vê-lo, velho amigo. Espero te rever logo. — Ele
pegou a mão de Lauren entre as suas, beijando as costas
dela, não por mais de um segundo — E traga sua esposa de
volta na próxima vez que vier aqui. Bom dia, Lauren.
Lauren se virou para ele. — Estamos indo embora?
Ele olhou para seu relógio, controlando o tempo
necessário para estar no restaurante. — Sim, vamos.
Dizer adeus a Lucia demorou algum tempo, já que
estava no meio de ameaçar matar a nova companheira de
jogos de Marco. Enquanto Lauren achou divertido, ela não a
conhecia tanto quanto Mishca, e ele sabia que se sentia mais
que feliz — e ansiosa — por fazer isso, especialmente com
Marco disposto a limpar o desastre depois dela.
De volta na vila, Lauren tirou os saltos antes de sair
do carro, passando a mão por seu cabelo. Em vez de entrar,
Lauren se aproximou dele, e ele soube imediatamente que
tinha que afastá-la amavelmente, ou não se encontraria com
Marco em nenhum momento no futuro próximo.
— Lauren. — Seu nome soou como uma advertência,
e ele podia afirmar pelo seu sorriso aumentando em seu
rosto, que ela sabia o que fazia, mas o ignorou, e continuou
indo para ele.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando chegou a ele, envolveu seus braços ao redor
de seu pescoço, e ele não pôde dizer que não, mesmo que isso
o fizesse se atrasar. Quando a levantou, ela envolveu suas
pernas ao redor de sua cintura e ele não pôde evitar deslizar
sua mão ao redor de sua cintura, apertando a curva de sua
bunda.
Ansiava perder-se nela, e quase fez isso quando se
agarrou a ele, mas existiam coisas maiores em jogo que sua
necessidade por ela.
— Prometi-lhe uma reunião — disse Mishca
desculpando-se, quase cedendo à tentação quando ela
mordiscou seu pescoço.
— Dez minutos? — Sussurrou em seu ouvido, como
uma súplica, uma como as que ele mesmo fez um montão de
vezes.
Mas ele tinha uma oportunidade somente, e não a
perderia.
— Prometo que cuidarei de você quando voltar.
Suspirando, soltou-o a contragosto, permitindo-o
levantar. Ele teve de sorrir ao ver a expressão adorável de
frustração em seu rosto. Arrumando sua roupa, pegou seu
telefone, pondo no bolso, e se inclinou para dar um beijo na
testa dela.
— Quanto tempo ficará fora?
Olhando seu relógio, respondeu — Não mais que
duas horas.
Chegava à porta quando Lauren gritou — Vai com o
Vlad? Não deveria ir sozinho.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Vou, não se preocupe comigo.
Com um sorriso pacifico, ela disse — Sempre vou me
preocupar com você.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Fora da sala, enquanto caminhava em direção ao seu


carro, Mishca enviou uma mensagem rápida para Vlad,
deixando-o saber aonde ia, e com quem, mas fez questão de
lhe dizer que não se aproximasse de Lauren por nenhuma
razão. Não queria ter que explicar por que ignorou
especificamente seu pedido.
Em vez de dirigir, ele tomou um táxi para um
restaurante no centro do Rio, que estava relativamente cheio
apesar da hora. Ele pagou sua corrida, saudando a anfitriã
enquanto ela se preparava para lhe oferecer uma mesa. Não
tinha planos de ficar muito tempo.
Ela, a mulher pela qual veio, estava sentada sozinha
em uma mesa ao ar livre, com plantas de uma mansão em
frente a ela. Muito concentrada em sua tarefa para notá-lo,
Mishca parou a seu lado, encheu sua taça de champanha
com a garrafa que o garçom deixou em um balde com gelo
que se derretia.
Ela agradeceu distraidamente, ainda sem se
incomodar em olhar para outro lado, mas Mishca sabia por
que, mesmo que não entendesse isso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Pensava que aqui era seguro, e não houve nenhuma
razão para que duvidasse desta hipótese. Mishca não tinha
negócios — que ela tivesse conhecimento — para estar no
Rio, sobretudo não por um fim de semana como este,
especialmente quando ele não era particularmente amigo da
família Cortez.
Mas Mishca a conhecia. Sabia que com a quantidade
de joias que Lucia teria à venda, não seria capaz de resistir.
A única coisa que ele precisava fazer era esperar o
seu contato para obter a informação de volta para ele.
Colocando a garrafa sobre a mesa, Mishca a rodeou,
sentando em frente a ela. Quando o olhou, tentou disfarçar
sua expressão de surpresa por sua interrupção, só fazendo-o
sorrir ainda mais.
— Naomi.
Ela estava como se lembrava da última vez que
chegou a Nova York. O cabelo tingido de loiro em ondas
soltas, firmes lábios vermelhos, mas em vez de seus vestidos
usuais que abraçavam sua figura, vestia um par de
diminutos shorts jeans, regata e sandálias. Agora, parecia-se
mais com um dos nativos, em vez da cadela feroz que era.
Recuperando-se lentamente, bateu suas unhas como
garras contra a mesa, um lento sorriso aparecendo nos lábios
escarlates. — Sabe que eu sempre gostei de surpresas,
Mishca, mas estou curiosa por saber por que está aqui.
— Poderia te perguntar o mesmo — respondeu,
dando um olhar mordaz aos planos em seus braços.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele não tinha que olhá-los para saber que eram da
vila de Lucia.
— Parece que estou passando tempo com um velho
amigo. Lembra-me de quando nos conhecemos.
Nada era como o dia que se conheceram e sabia tão
bem como ele. Só queria que lembrasse um tempo que ele
desejaria poder esquecer.
Era uma noite fria de inverno, quando Mishca estava
na Biblioteca Pública de Manhattan, tentando estudar para um
exame de Psicologia com o qual não se incomodou até a noite
anterior. Ninguém jamais podia acusá-lo de ser um bom aluno,
mas ajudou que algumas garotas de seu curso o ajudaram
com todo o resto — embora uma não soubesse nada da outra.
Não serviu de nada, entretanto, que estudasse com
uma garrafa de Smirnoff durante a maior parte das últimas
duas horas, e que o último pingo desceu por sua garganta.
Essa era a única maneira em que sabia como lidar
com seu pai e as exigências que fazia. Mishca não venerava a
Bratva da mesma maneira que Mikhail, e por isso, seu pai
estava sempre em um perpétuo estado de decepção quando se
tratava dele.
Lançando a garrafa que escondeu em sua bolsa,
Mishca deixou suas coisas na mesa, e foi procurar em uma
prateleira um livro sobre “O Condicionamento Clássico”,
tropeçando por todo o caminho.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Levou muito mais tempo do que o necessário para
encontrá-lo, em parte, porque as palavras se misturavam cada
vez que tentava ler os títulos, mas estava ali, pesquisando
entre os títulos quando sentiu alguém por perto.
— Eu poderia te ajudar com isso — ofereceu em voz
baixa, inclinando o quadril contra as prateleiras.
Na época, não pensou muito sobre sua oferta —
bêbado demais para se dar conta que ela não sabia o que
procurava — simplesmente a aceitou.
Era diferente de qualquer outra garota que conheceu
em sua vida. Isso não significava que nunca encontrou uma
garota bonita, mas ela emanava uma espécie de confiança, e
logo, depois de ter chegado a conhecê-la melhor, foi
imediatamente atraído por um sentimento ardiloso.
Com apenas um olhar, tinha sua atenção completa,
mesmo se ele estivesse provavelmente muito bêbado para
recordá-la no dia seguinte.
— Com que exatamente está tentando me ajudar?
Ela passou seus dedos amorosamente sobre os lados
dos livros que esteve olhando embora seus olhos não o
deixassem.
— Qualquer coisa que você quiser — respondeu em
russo, as inflexões em suas palavras só ligeiramente erradas.
Então estendeu sua mão, arrastando os dedos pelo
seu peito da mesma maneira que fez com os livros. Mishca
tentou se concentrar em seu rosto, ou ao menos parecia, mas
seu pau tinha a maior parte do pensamento neste momento.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Recostou-se na prateleira, permitindo que o tocasse,
não tendo certeza aonde iriam com isto, mas não a deteria.
Pressionando-se contra ele, ela sussurrou — Eu sei
quem você é... e quem é sua família.
Ele riu. Mesmo perdido não estar muito embriagado
para reconhecer o que insinuava. — E o que é isso?
— Que tal se eu cuidar de você... — disse quando caiu
de joelhos diante dele, tirando seu cinto — e trabalhamos nos
detalhes mais adiante.
E o que seguiu foi um turbilhão de sexo e bêbadas
confissões que se estendeu por dois anos. Enquanto ela foi
viver com ele algum tempo depois, nunca o viu como algo
mais que companheiros — o melhor termo seria amigos com
benefícios.
Ele nunca confessou nenhum amor por ela, nem
nunca fez nenhum tipo de promessa, e durante todo o tempo,
pensou que estavam de acordo nisto. Droga, a maior parte de
seu tempo se dedicava a levar recados inúteis para Mikhail,
ou beber até desmaiar. Não se incomodou em mudar até um
mês ou algo assim antes de conhecer Klaus.
Nesse momento, Naomi já tinha saído da cidade,
tendo sua marca, e levando com ela meio milhão de dólares
de seu próprio dinheiro.
Outra lição que Mikhail lhe disse, era que as
mulheres eram uma desgraça.
Isso não significava que Mishca não se preocupou
com ela, ele se preocupava, mas não o suficiente para se
apaixonar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Mas disse que sempre poderia sempre me
encontrar, não importava aonde fosse. Isto levanta a questão,
por que está me procurando agora?
Mishca apoiou os cotovelos na mesa, inclinando-se
para frente como se sussurrasse um segredo, mas na
realidade, queria ver se ainda tinha o mesmo efeito sobre ela.
Suas ações em Nova York não lhe disseram nada, já sabia
que gostava de jogos, por isso seu afeto por ele poderia ter
sido falso, mas havia outros sinais que não podia manipular.
— Queria te ver.
Seus lábios se separaram, embora nenhum som
escapou deles. Por uma fração de segundo, a emoção estava
ali em seus olhos, antes que a fome fosse substituída por
humor.
— E sua esposa?
Então, ela o esteve investigando. Isso só fez que seu
plano fosse mais fácil.
— E quando te importou isso?
—Talvez quando me tratou tão friamente quando fui
te visitar — disse com falsa tristeza enquanto o olhava
incisivamente, tentando lê-lo como ele fez com ela, mas não
era tão fácil.
— Eu teria feito o mesmo por você.
Tomando um gole de champanhe, disse — suponho
que deveria tomar como um cumprimento que voou até aqui
por mim, mas está aqui só para interromper meu jantar?
— Não diria que estou interrompendo, simplesmente
esperando que termine.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— E se tivesse planos?
Ele sorriu. — Não tem.
— Bom, não há razão para que percamos mais
tempo.
Quando Naomi estava certa de que tinha a vantagem,
nunca refletiu sobre a possibilidade de que estivesse
enganada. Por razões que Mishca nunca soube, ela sempre o
subestimou, possivelmente devido à posição em que o
encontrou quando se conheceram, mas Mishca já não era
aquele cara.
Esperou mais luta por parte dela, pelo menos pensou
que suspeitaria de seus motivos, mas talvez deu muito
crédito a ela.
Na escuridão do táxi, a mão de Naomi passou o
espaço que os separava, roçando seus dedos na calça dele,
antes de se mover para esfregar corajosamente sua coxa.
Entretanto, ali era o máximo que Mishca estava disposto a
ceder por esta artimanha, e agarrar seu pau não era parte
disso.
Ele segurou sua mão antes que pudesse ir mais
longe, sustentando-a. Infelizmente, não foi um caminho
muito curto a volta ao seu hotel, já que ela fez questão de dar
direções confusas ao motorista, mais paranoica do que ele
pensava.
Indo na frente para seu quarto, Naomi mal prestava
atenção a Mishca enquanto andava. Se tivesse olhado para
trás, teria notado que ele verificava por qualquer câmera de
segurança, ou se alguém os observava.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Felizmente, não havia nenhuma.
Quando estavam finalmente em seu quarto, com a
porta fechada atrás deles, Mishca passou por ela, indo até as
janelas para olhar para fora, pensando em suas ações, e o
que o levou a este ponto.
Não tirava vidas sem necessidade, preferia mutilar
que realmente matar, mas queria acabar com Naomi. Havia
tanto que poderia ter dado errado, e poderia ter explicado isto
a ela, mas sabia em seu coração que não mudaria nada. Ela
não se importava, e provavelmente teria feito isso desde o
começo, se acreditasse que a ajudaria.
Isto não era só por ele, nunca foi.
Naomi se aproximou dele, deslizando seus braços ao
redor de seu pescoço, seus olhos examinando seu rosto por
qualquer mudança em sua compostura. Ele já tinha enviado
a mensagem a Marco, mas ainda não fazia nem ideia de
quanto tempo levaria para os homens chegarem ali. Se não
quisesse estragar tudo, teria que seguir com o jogo.
Mesmo que isso significasse quebrar uma promessa a
Lauren.
Mishca pensou que seria fácil, fazia coisas
semelhantes a esta antes que Lauren entrasse em sua vida,
mas à medida que Naomi se aproximou, e ele sentiu sua boca
sobre a dele, seu estômago revirou. Só pode se obrigar por
pouco tempo antes de se afastar, limpando a boca com o
dorso da mão.
— Não seja tímido, Mishca.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Já não havia nenhuma razão para que ele fosse
agradável, não quando a porta rangia abrindo lentamente.
Enquanto ela estava de costas, ele desbloqueou a porta,
sabendo que Marco não estaria muito longe.
Ouvindo o movimento, Naomi olhou deles, de volta
para Mishca, com medo em seus olhos. Afastou-se, mas não
havia nenhum lugar aonde ir, não quando estava cercada por
todos os lados.
— Que merda é essa?
— Queria te ajudar — disse Mishca, explicando. —
Jetmir não teria te tocado desde que eu dei a ordem, você
sabia disso. Foi por isso que veio para mim.
Abriu a boca para responder, mas Mishca agarrou
seu rosto, puxando-a para frente. Seus olhos se arregalaram,
mas estava chocada demais para tentar se libertar.
— Você foi para Brahim e depois o enviou para
Lauren. Não há nenhum lugar para onde correr que eu não
pudesse te encontrar. Eu te avisei.
Ele empurrou-a para longe dele, de volta aos braços
dos homens de pé atrás dela. Retirou um envelope cheio de
dinheiro de sua jaqueta e o entregou a Marco, sem se
importar com o sorriso predador que tinha em seu rosto. O
que ele escolhesse fazer com Naomi não era seu problema.
— Mishca — ela chamou quando estava quase na
porta.
Ele se virou com a mão na maçaneta, à espera do
que ia dizer.
— Ela não ia querer que fizesse isto — suplicou-lhe.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Tem razão — disse lhe com um aceno — Mas eu
não sou Lauren.
Sem olhar para trás, saiu do quarto do hotel.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Em um palco na parte de trás do restaurante, tênues


luzes brilhavam sobre ela, Natalia cativou a sala com sua
interpretação de uma canção tradicional do folclore russo,
vestida com um traje solto de seda preta, com o cabelo preso
em elaborados cachos. Ela, nem nenhum dos outros clientes
no The Den, prestaram atenção aos três homens que
entraram. Não era estranho para o lugar ter homens com
ternos indo e vindo.
Isto não surpreendeu Jetmir Besnik nem um pouco.
Não havia nenhum mistério sobre quem era o dono
do restaurante. Nem necessidade de temer alguém atacando
este lugar, sobretudo quando Mikhail normalmente tinha
alguns de seus homens ali a todo o momento.
Os três caminharam atrás de Jetmir esperando seu
sinal, para pegar as armas de suas jaquetas. Este era o
momento que Jetmir ansiou durante meses. Enquanto que as
ações de Anya o atrasaram momentaneamente, agora que
estava fora de cena, seu plano estava de novo em andamento.
Ela tinha lhe fornecido informação sobre as casas
seguras dentro da Bratva, todas as empresas de Mikhail, e as
de Mishca que conhecia. Isto simplesmente não era sobre
Mishca mais, ele queria derrubar a todos, lentamente antes
de tirar suas vidas no final.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Isto era só o começo.
— Damas e cavalheiros, se posso ter sua atenção.
Levou um momento para que todos reconhecessem
sua interrupção, mas quando o fizeram e se viraram para
olhar para trás, para ele, gritaram assustados, o medo da
morte estava claro agora.
Os guardas postados no interior não se incomodaram
em alcançar suas armas, não quando eram superados em
número. Não importaria, logo todos estariam mortos.
— Odeio ter que interromper esta atuação, mas tenho
uma mensagem a entregar, e preciso de muitos de vocês para
isso.
Só houve uma alma valente que disposta a falar,
provavelmente com a esperança de que ao cumprir os desejos
de Jetmir, estaria a salvo. — O que precisa dizer?
Jetmir riu, batendo sua arma contra sua perna. —
Posso lidar com isso.
Esse homem foi o primeiro a morrer com um disparo
na cabeça. Uma a uma, cada pessoa no restaurante foi
baleada, às vezes várias vezes, para se certificar de que o
trabalho foi feito. Como tinham silenciadores nas armas, os
sons das balas foram amortecidos, dando-lhes tempo
suficiente para terminar o trabalho sem interferências, só o
brilho do cano era visível.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando terminaram, os homens de Jetmir
arrastaram os corpos dos soldados russos para frente do
palco, cruelmente chutando o da cantora longe. Jetmir
observou como seus corpos foram manobrados em posições
elaboradas, seus homens rindo ao ver o que fizeram.
Ignorando seu desfrute da tarefa, Jetmir se adiantou, com
uma faca afiada na mão. Cortou através da camisa de um dos
homens, então começou o lento processo de cortá-lo, abrindo
da base da garganta, até o umbigo.
Desde que Jetmir levava luvas, nenhum sangue que
se derramava do corpo do homem cobriu sua pele. Colocou os
dedos no estômago do homem, cobrindo-os completamente se
dirigiu à parede e começou a escrever sua mensagem.

Nem dez minutos depois que Mishca desceu do avião


recebeu uma ligação, mas não teria feito muita diferença, não
com a quantidade de imprensa que cobria a mesma.
— Luka, vá conferir. Cheque quão grave é o dano —
disse Mishca, dispensando seu executor.
Estava irado quando desligou a chamada, lançando o
telefone através do carro, esfregando as têmporas. Lauren
estava em silêncio ao seu lado, e quase tinha medo de olhá-
la.
— O que aconteceu?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não queria lhe dizer, porra quase decidiu não contar,
mas sabia que ela descobriria. — Os albaneses estão de volta.
Ela se mexeu, só um pouco, o suficiente para que ele
soubesse que isto não era o que esperava. — Você sabia que
voltariam, não? Falamos disso.
— Sim, falamos. — E ele queria deixar as coisas
assim.
Mas, é obvio, Lauren era muito mais inteligente que
isso. — Mas, o que fizeram para que reagisse assim?
Só lhe mostraria um dos pontos, mas pensou melhor
no último minuto. — Vinte e cinco pessoas foram
assassinadas no restaurante de Mikhail ontem à noite.
— Meu Deus!
— Parece que Jetmir me deixou uma mensagem. —
Mishca casualmente olhou-a, perguntando-se como ela
lidaria com isso, mas seu rosto era uma máscara
cuidadosamente inexpressiva.
— O que farão a respeito?
— Neste momento tentamos reparar o dano. A partir
daí, não sei.
Ela alcançou sua mão através do assento,
segurando-a entre as suas, esfregando seus polegares sobre
seus dedos. — O que precisa de mim?
Aliviou-se, sabendo que estava disposta a fazer o que
ele queria sem hesitar. Antes, o questionaria, mas sabia os
perigos tanto quanto ele.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Ficará comigo por agora. Não temos nem ideia de
onde está Jetmir, e não quero me preocupar de que ele
chegue a você enquanto trabalho nisso.
O trajeto foi feito em silêncio por um tempo, até que
chegaram a um grupo de vans de notícias fora do
restaurante. Havia pessoas o suficiente fora da faixa da
polícia para montar um pequeno exército.
— Posso ter minha arma de volta, então?
Com um sorriso, Mishca abriu sua porta. — Nem
brincando. Poderá demorar um pouco, mas me ligue se
precisar de mim.
Mishca teve que negociar para conseguir passar por
baixo da faixa da polícia e entrar no restaurante. A primeira
vista, era tão ruim como foi descrito, exceto, que os corpos já
não estavam em exibição, todos em sacos de plástico pretos
no chão. Para cada um, havia perto de dois agentes
uniformizados tomando notas, embora todos parecessem
estar fora de seu ambiente.
Um detetive se afastou da multidão, indo até Mishca.
Era evidente que não sabia quem ele era, ou sua aproximação
teria sido muito diferente.
— Cacete, quem te deixou entrar aqui?
Suspirando, Mishca o ignorou, olhando para o fundo
da sala, onde uma mensagem sangrenta foi manchada na
parede. Leu rapidamente as palavras, duas vezes, e logo se
virou para o detetive.
— Fui revistado, obviamente.
— Escuta, moço.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Volkov — disse Mishca olhando ao homem —
acredito que esse é o nome que você está procurando, não?
Ah, e ali estava, o reconhecimento. O detetive olhou
por cima do ombro para onde Mishca olhava segundos antes.
Foi então quando começaram as perguntas. Elas eram as
habituais, e Mishca as respondeu atenciosamente, mas
esperava que o detetive chegasse aquelas sobre o que
aconteceu aqui, dessa maneira, obteria informação dele.
— Tem ideia do que isso significa?
“A hora final se aproxima...”
Tinha uma ideia muito boa do que quiseram dizer. —
Nenhuma.
Com o número de corpos presente, Mishca se
surpreendeu.
— Seguiremos daqui, detetive.
Não mostrando sua irritação, Mishca virou-se para a
agente Green. O detetive não pôde disfarçar a sua,
vasculhando em torno, sem dúvida em busca de seu
superior.
— Isto está se tornando algo mais que uma
coincidência, Volkov — disse com um gesto a seu redor.
— Ou uma obsessão doentia. Diga-me, quanto o FBI
lhe paga para me perseguir?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Sabiamente ignorando-o, a agente Green se
aproximou dos três sacos no centro do palco, esperando que
Mishca a seguisse sem dúvida. Olhando para seu relógio,
decidiu que tinha uns minutos de sobra — já que Luka ainda
não apareceu — olhou-a abrir cada saco, um por um,
deixando descobertos os rostos dentro.
Mishca não conheceu bem a todos, em todo caso,
mas isso não significava que não se importava com suas
mortes. Se tivessem qualquer família, teria certeza que
seriam cuidados.
— Conhece estes homens, não? — Perguntou.
— Eram empregados aqui — respondeu
simplesmente.
Pelo que podia ver, foram baleados, não houve feridas
defensivas que pudesse distinguir, e parecia uma morte
bastante limpa, exceto o moço que foi talhado ao meio.
— Poderíamos ter mais perguntas para você, se
estiver disposto a vir ao nosso escritório...
Ela o expressou como uma sugestão, mas Mishca
sabia que era justamente o contrário. E pior, é que ela
realmente acha que ele concordaria com isso.
— Passarei. Se precisar entrar em contato comigo,
chame o meu advogado. Você deveria tê-lo na discagem
rápida por agora.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Com uma saudação zombeteira — Luka o estava
influenciando — Mishca saiu do restaurante, voltando ao
carro, onde Lauren esperava, já com seu telefone na mão,
preparando-se para ligar por ter demorado, mas para sua
surpresa — e aborrecimento — Luka felizmente estava no
carro.
Ele olhou para cima, com as sobrancelhas
levantadas, piscando duas vezes. — O que tomou tanto
tempo, Chefe?
Decidindo que era melhor não ameaçá-lo, Mishca foi
direto ao assunto. — Onde ele está?
— Um casal de moradores local viu-o sair, não faz
muito. Alguns de meus contatos pensam que ele tomou um
voo há seis horas, por isso tem umas quantas horas na nossa
frente.
Mishca assentiu, então franziu a testa. — Onde
cacete está Vlad?
— Como droga eu deveria saber? Chamou-me e disse
que viesse esperar com a senhora... assumi que o enviou para
algo.
Estranho, mas não tinha tempo para se preocupar
com isso. — Vamos embora antes que Green comece a correr
minha foto por aí.
In the beginning
Volkov Bratva 3

— Só porque decidi não te matar, não significa que


pode me chamar quando quiser — disse Klaus secamente
enquanto fechava a porta atrás de si. — Tenho uma maldita
vida.
Enquanto caminhava por ele, Luka cutucou a lateral
de seu corpo, ganhando uma carranca de Klaus. — Você é
uma coisa espinhosa, não é?
Encarando Mishca, Klaus disse — que caralho? Onde
está sua coleira?
— Deixei-a no escritório... — Claramente Mishca
estava disposto a seguir a corrente também. — Não foi por
isso que te chamei aqui.
— Então, faça o favor — disse Klaus, com um grande
gesto de sua mão — vamos logo com isso.
— Viu as notícias?
— Odeio a política local.
— Vou tomar isso como um não. Um grupo de civis
morreu no restaurante do Mikhail e... — apressou-se a seguir
antes que Klaus zombasse — não mortos pelo sabor. Jetmir
está de volta.
Completamente sem qualquer emoção, Klaus disse —
dê-me uma localização.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não sabemos onde está, mas espero que possa
encontrá-lo. — Olhou para Lauren por um momento, e de
volta a Klaus enquanto falava rápido em russo, muito rápido
para que Lauren não tivesse uma ideia, não que ela soubesse
o que ele disse de outra forma.
Klaus só piscou. — Acha que eu falo russo?
Mishca revirou os olhos, parecia como se estivesse
perdendo pouco a pouco a paciência. — Poderia ter passado
pela minha cabeça.
— Sabe — interveio Luka, como sempre o fazia,
apoiando os pés sobre a mesa — dado que há toda essa coisa
de sangue russo, só pode seguir a corrente.
Revirando os olhos, Mishca pressionou a ponte do
nariz entre o polegar e o indicador, lutando por paciência.
Entre os dois, não sabia quem lhe irritava mais.
— Luka...
— Sim, sim. Já sei. Vamos, Lauren. Já não nos
querem.
Mishca estava agradecido por ela não questioná-lo a
respeito, embora não duvidava que perguntaria sobre isto
mais tarde, mas até então, já teria pensado em uma desculpa
plausível para dar.
Klaus esperou até que estivessem a sós na sala, e
falou — o que você precisa que sua senhora não pode saber?
O plano de Mishca era essencialmente a prova de
falhas, e se tivessem êxito, o problema estaria resolvido, mas
um passo em falso poderia arruiná-los.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Com tudo o que aconteceu com a súbita aparição de


Jetmir de volta ao estado, Lauren passou de um momento de
relaxamento e prazer de sua viagem fora do país, a uma
vigilância constante. Em um momento, Mishca relaxou um
pouco com a segurança, deixando-a ir a certos lugares por
conta própria, mas isso foi pelos ares no momento em que
saiu do The Den.
Lauren tentou ficar fora do caminho de Mishca, e não
lhe dar mais uma razão para se preocupar com ela, assim em
vez de reclamar de seu comportamento prepotente, aceitou-o,
sabendo que só queria mantê-la a salvo.
Não houve mais mortes desde as do The Den — ao
menos que Lauren soubesse. Já que não viu nada nas
notícias, não se incomodou perguntando a Mishca a respeito.
Soube, entretanto, que o FBI estava envolvido, sem dúvida
devido à quantidade de corpos, mas não pensou que poderia
ter piorado muito... pelo menos até a tarde seguinte.
Lauren estava deitada na cama, vestindo nada mais
que uma de suas camisas enquanto navegava pela rede, a
cabeça de Mishca em seu colo, com os olhos fechados
enquanto falava com ela, de vez em quando, ela estendia sua
mão livre para passar seus dedos em seu cabelo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Esteve tão estressado ultimamente que quando não
respondia as chamadas ou saía da cidade, ficava com ela,
como agora.
— Os meninos estão bem? — Perguntou, como
sempre fazia quando ele retornava.
— Luka está como é de se esperar, os outros estão
fazendo o que lhes mandam e Vlad fazendo seu trabalho.
— Não estão feridos?
O telefone de Mishca escolheu esse momento para
tocar, interrompendo sua cômoda conversa. — Tanto quanto
eu sei.
Beijou a curva de seu quadril, esticando a mão para
pegar seu telefone. Franziu a testa para o identificador de
chamadas, mas aceitou a ligação de qualquer maneira, pondo
o telefone em sua orelha. Lauren só podia ouvir gritar à
pessoa no outro extremo, mas a voz estava muito abafada
para compreender qualquer coisa claramente, o que seja que
o homem dizia fez Mishca ficar tenso ao seu lado.
Sem nunca realmente dizer nada, desligou o telefone,
deixando a cama enquanto corria para dentro do closet.
— Mish? — Chamou Lauren — O que aconteceu?
Ele voltou, colocando uma calça, e lançando uma
camisa e gravata na cama. Tinha um olhar quase ansioso que
não esteve ali anteriormente. Também segurava uma calça de
pijama, que jogou para ela. — Ponha isto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não discutiu com ele, apesar de que não tinha ideia
do que acontecia. Não tinha escolha, senão olhar enquanto
ele terminava de se vestir, pegando rapidamente seu telefone
e virando-o. Tirou a parte de trás, arrancando a bateria para
retirar o cartão SIM22. Jogando as outras peças na cama, ele
quebrou o cartão em pedaços, em seguida, entrou no
banheiro e deu descarga nas peças que sobraram.
Ele não parou por aí, foi de cômodo em cômodo,
destruindo os documentos, queimando outros, até não sobrar
nada além de cinzas. Até o momento que voltou ao quarto,
ela estava completamente apavorada.
— Mishca!
Finalmente desacelerou o suficiente para olhá-la.
Nunca foi fácil lê-lo, mesmo quando era transparente com
seus pensamentos e sentimentos, mas desta vez, tinha uma
suspeita do que ocorria.
Só havia uma razão pela qual Mishca destruiria a
memória de seu telefone.
— Quem vem? — Perguntou Lauren — Te avisaram,
quem quer que te ligou.
Suspirou profundamente, finalmente acalmando o
suficiente para dar respostas. — Sim.
— Quanto tempo temos?

22
O cartão SIM é um circuito impresso do tipo smart card utilizado para identificar, controlar e
armazenar dados de telefones celulares de tecnologia GSM (Global System for Mobile Communications),
como informações do assinante, agenda, configurações, serviços contratados, SMS e entre outras.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren não percebeu que tremia até que ele foi até
ela, passando as mãos de seus ombros até suas mãos,
segurando-as. — Não se preocupe.
A campainha do elevador soou, fazendo com que
Lauren olhasse para a porta fechada do quarto, e para
Mishca com os olhos arregalados. Ainda tinham um pouco de
tempo antes que os oficiais estivessem ali, mas não era
suficiente, não para Lauren.
— Não tenha medo — sussurrou enquanto a beijava
rapidamente, dando uns passos para trás.
Ele deixou o paletó na cama. Os agentes de equipe
tática entraram correndo, com rifles apontados para ambos,
ele levantou as mãos sem dizer uma palavra, não caindo de
joelhos — suas estrelas não o permitiriam. Enquanto alguns
agentes observavam-na constantemente, sabia que não
estavam ali por ela.
Só uma das agentes que caminhava ao final, com um
colete a prova de balas, sua placa pendurando de uma
corrente de prata ao redor de seu pescoço, era familiar para
Lauren. Seu nome era Tabitha Green se não se equivocava,
do tiroteio no clube há quase um ano.
Ela sorriu enquanto entrava, segurando um maço de
páginas dobradas, sem dúvida, a ordem que tinha para deter
Mishca.
— Ele não está resistindo! — Gritou Lauren enquanto
dois dos agentes empurravam Mishca ao chão, puxando
bruscamente seus braços para trás de suas costas, para
colocar as algemas.
In the beginning
Volkov Bratva 3
A agente Green bateu a ordem de prisão nas mãos de
Lauren enquanto Mishca era forçado fora de seu
apartamento, liderado por vários dos homens da equipe
tática. Lauren quis ir atrás deles, só para manter Mishca em
sua mira, mas a agente Green estendeu uma mão, obrigando-
a a parar.
— Ele é a menor de suas preocupações neste
momento.

Mishca desejou ter tido mais tempo para preparar


Lauren para o que acontecia, sabendo que provavelmente
estava em pânico ao ver os agentes vasculhando seu
apartamento.
Felizmente, mudaram-se de seu antigo endereço, e
desde que não permitiu que muitos de seus homens
entrassem na cobertura, duvidava que encontrassem algo
relevante.
Enquanto era levado fora do edifício, havia carros de
polícia quase bloqueando totalmente as ruas, grandes SUVs
pretas estacionadas ao longo da calçada. Com as sirenes e
luzes intermitentes, que faziam um espetáculo maior do que
realmente precisava, o que fez Mishca notar que queriam
deixar algo claro.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Isto não só se tratava de uma parada de rotina,
realmente tentavam derrubá-lo.
Certo. Veria quão bem isso funcionou para ele.
Mishca não falou enquanto dirigiam, e estava mais
surpreso que fossem à delegacia de polícia local ao invés da
sede do FBI na cidade. No trajeto, tinha muito tempo para
repassar tudo o que sabia, e o que esperava. Alegrou-se que
Vlad pediu um tempo de folga, assim não estava ali no
momento do ataque.
Vlad estava normalmente armado a todo o momento.
Eles não precisavam uma pistola carregada adicionada a
quaisquer alegações falsas que fariam.
Mishca não se surpreendeu ao ver que vários dos
homens da Bratva eram levados à delegacia. Os oficiais de pé
por ali pareciam mais que dispostos a fazer seu trabalho,
outros mais estavam ao redor falando disso. Ao final do dia,
Mishca tinha certeza que estas detenções estariam nos
noticiários.
Ao vê-lo, murmúrios silenciosos soaram pela sala,
seus olhos encontrando Mishca enquanto era escoltado ao
primeiro fotógrafo para ter tomada sua foto policial. Foi um
processo estranho, que o irritou como eles não tinham pressa
para tudo isso.
Depois foi levado a uma cela, onde estavam detidos
uma dúzia de outros homens, não que se preocupasse.
Grande quantidade deles eram muito maiores, e pareciam
que estiveram entrando e saindo da prisão a maior parte de
suas vidas.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O oficial tirou as algemas de Mishca ao escoltá-lo,
dando-lhe um ligeiro empurrão enquanto fechava a porta
atrás dele. Mishca esfregou seus punhos, indo ao único
banco em toda a cela que estava completamente ocupado.
Não teve que dizer uma palavra antes que todos
estivessem de pé, saindo de seu caminho. Se sabiam quem
ele era, ou se escutaram os rumores que percorriam a
delegacia, não importa, saíram de sua frente.
Embora não tivesse ideia de quanto tempo estaria ali,
precisava telefonar, mas antes que pedisse, dois agentes —
claramente diferentes dos oficiais da polícia de Nova York —
levaram-no da cela a uma sala de interrogatórios.
Enquanto entrava na sala onde já estava sentada
Green, só podia ver a parte de atrás da cabeça de Mikhail
enquanto era levado a outra sala. Qualquer evidência que
pensava que tinham, deve ter sido suficiente se foram atrás
de Mikhail também.
— Posso te oferecer algo? — O oficial novato
perguntou enquanto estava de pé na porta.
Sorrindo, Mishca negou com a cabeça. Ele fez isto
muito tempo para cair em uma armadilha assim. Se eles
queriam suas impressões digitais, teriam que trabalhar um
pouco mais.
— Duvido que isto se trate de uma brincadeira —
disse Mishca secamente enquanto sentava em uma das
cadeiras dobráveis de alumínio. — O que posso fazer por
você, agente Green?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Duvidava, tanto como a Agente Green, que alguém foi
assassinado por ele, mas não tomou isso como pessoal. Ela
detestava qualquer pessoa que levasse seu sobrenome. Não
ajudava que ela estivesse ligada ao mesmo agente que tentou,
sem êxito, derrubar seu pai em 1.998. Também não ajudou
que ela foi feita de boba em mais de uma ocasião por sua
organização.
Não havia muito que pudesse fazer a respeito de um
ego ferido exceto rir à custa dela.
Ela bateu uma pilha de papéis sobre a mesa,
empurrando-os para ele. Imediatamente observou o
cabeçalho de uma das páginas.
Parecia que a Procuradoria Geral queria chegar a um
acordo.
Isso dizia a Mishca duas coisas.
Um: seu caso era uma merda e eles precisavam
confirmação de testemunhas para fechar o caso.
Dois: queriam fazer parecer que Mishca cooperava
com a investigação.
Apesar de suas diferenças, Mishca e Mikhail sabiam
uma coisa sobre o outro. Eles nunca trairiam outro Vor.
Matar um? Claro. Mas nunca ajudar a polícia com seus
casos.
— O que tenho a ver com isto? — Perguntou Mishca,
empurrando os documentos de novo a ela.
— Quanto tempo acha que pode enganar a morte?
— E o que isso tem a ver com você, agente Green?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela riu, sacudindo a cabeça como se o achasse
divertido. — Nada, mas lembre-se que as pessoas mais
próximas a você não terão tanta sorte.
A mandíbula de Mishca se apertou, mas não fez gesto
de aproximar-se dela, apesar do que os oficiais próximos
pareciam pensá-lo. — Isso é uma ameaça?
A agente Green se inclinou para frente até que esteve
à altura de seus olhos, seus lábios se curvaram nos cantos —
E o que me diz de sua esposa, Volkov? Quanto tempo acha
que tem antes que alguém a deixe em pedaços até que possa
encontrá-la? O procurador do Estado está lhe oferecendo
proteção, um trato que expira em trinta segundos.
— Isso é mais que suficiente, agente — disse Jessica
enquanto entrava na sala, deixando cair sua maleta sobre a
mesa, tomando seu lugar ao lado de Mishca.
Não é que Mishca se importasse com sua presença,
mas se perguntava como ela sabia que ele estava ali quando
ainda nem a chamou.
— E você é? — Perguntou Green entrecerrando os
olhos para a mulher.
Olhando friamente por baixo dos óculos de aros
pretos, a advogada de Mishca não perdeu tempo. — Jessica
Turney, fui contratada pela esposa do meu cliente.
Mishca sorriu, só porque a agente Green parecia tão
irritada.
— Vejo que sua esposa está aprendendo, Volkov.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Agora que sua advogada estava aqui, não tinha
nenhuma razão para responder seus insultos, sobretudo
quando pagava a Jessica mais de cem dólares por hora para
tirá-lo de situações como esta.
— Não seja irônica, agente. E se não se importa, eu
gostaria de falar com meu cliente.
Agora que se aplicou o direito de Mishca a um
advogado, não havia muito que a agente pudesse fazer. Olhou
ela e os outros oficiais saindo, escutando o clique da porta ao
fechar.
Olhando a sua advogada, esperava uma boa notícia,
já que nunca lhe falhou no passado, mas a expressão de seu
rosto baniu essa esperança tão rapidamente como se formou.
— Temos um problema.

Durante horas, os homens em jaquetas do FBI


estavam dentro e fora do apartamento, procurando através de
todos os cantos a evidência da vida secreta que Mishca
levava. Inclusive levaram dispositivos eletrônicos para
procurar nas paredes. Embora Lauren duvidasse que
houvesse algo que pudessem encontrar — eles não viviam ali
há muito tempo —não estava cem por cento segura.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela tentou não ficar muito em cima enquanto os
observava trabalhar, mas cada vez que alguém chamava pela
pessoa que a agente Green deixou no comando, seu coração
disparava. Não fazia ideia se havia algo remotamente
importante em seu apartamento, mas não podia ter certeza.
Depois de ligar para a advogada de Mishca para
avisá-la, Lauren tentou chamar Luka, mas seu telefone foi
imediatamente para o correio de voz, fazendo-a considerar
que ele poderia ter sido preso também. Sabia que não devia
chamar Klaus, por razões óbvias, por isso restava apenas
uma pessoa que saberia o que fazer em um momento como
este.
Alex chegou em questão de segundos, e enquanto os
agentes não lhe permitiram entrar no apartamento, Lauren
saiu para que pudessem falar. Pela forma como analisava
todos ao redor, esta não era a primeira vez que passava por
isso.
— Onde está o mandado? — Perguntou Alex.
Lauren o entregou, mordendo as unhas enquanto
Alex o lia. Lauren leu anteriormente alguns desses quando
passou um tempo com Ross na delegacia, e sabia o básico do
que devia procurar no documento, mas nunca leu nada tão
extenso como o que foi emitido para o apartamento de
Mishca.
— Merda.
A maldição suave foi suficiente para que o ritmo
cardíaco de Lauren se triplicasse. — Não é bom, verdade?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Têm uma ordem para revistar este lugar e seu
antigo apartamento, e considerando que Luka não respondeu
nenhuma de minhas ligações, acho que chegaram a ele
também.
Não tinha tempo para questionar inclusive por que
Alex ligou para ele. — O que fazemos agora?
— Nós... Não é a advogada do Mish?
Efetivamente, Jessica saiu do elevador, mostrando
sua identificação a um dos oficiais que estavam de guarda.
Ele mal assentiu antes que fosse diretamente para elas. A
última vez que Lauren a viu foi no dia na delegacia de polícia,
quando ela foi interrogada sobre a morte de Viktor.
— É bom te ver de novo, Alex. — Saudou com um
sorriso bastante agradável. — Lauren, posso ter um
momento?
Alex deu um passo para o lado, embora fosse claro
que queria saber se as coisas estavam bem.
Limpando a garganta, Jessica começou. — Visto que
o Sr. Volkov é meu cliente, só posso revelar o que ele me
permite, privilégio advogado-cliente. Se tiver alguma pergunta
sobre o que vou dizer, vou tentar respondê-las o melhor que
possa. Está bem?
Lauren assentiu.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Mishca está detido sob a acusação RICO 23. Sabe o
que é? Bom, então sabe que ficará um tempo considerável na
prisão se for condenado. Neste momento, esperamos levá-lo
diante de um juiz para uma audiência de fiança, talvez
amanhã, mas te ligarei com mais detalhes. Tem alguma
pergunta para mim?
Lauren ainda tentava entender tudo, mas só havia
uma pergunta que imediatamente veio à mente. — Mishca
está bem?
Jessica sorriu, sem maldade. — Pelo que sei dele,
desde que você esteja aqui, ele estará bem. Agora, que tal se
eu resolver isso com os agentes. Você provavelmente vai
querer ficar em um hotel até que terminemos.

Dois dias mais tarde, Lauren estava se vestindo em


seu quarto do hotel, todos os dispositivos eletrônicos em seu
quarto estavam desligados, exceto seu telefone celular, no
caso de Alex ou Jessica precisassem entrar em contato com
ela. Qualquer outra pessoa seria enviada diretamente para a
caixa postal. Ela cometeu o erro de responder a uma ligação
da Susan e Ross assim que se registrou, e logo percebeu que

23
RICO: Lei contra extorsão criminal e as organizações corruptas (por suas siglas em inglês:
Racketeer Influenced and Corrupt Organizations Act), é uma lei federal que sanciona prisão contra toda
atividade criminal realizada como parte de uma organização criminal contínua.
In the beginning
Volkov Bratva 3
ela estava mais que contente com sua decisão de não dizer a
eles sobre Jetmir e os albaneses.
Aparentemente, a Bratva não só estava na imprensa
de Nova York, também em todo o país. Susan estava em
pânico, pensando que Lauren estava em problemas, e apesar
de Ross estar irritado, também estava mais preocupado com
a forma como o caso de Mishca parecia. Podia ser que não
gostasse de Mishca pelo que era, mas o respeitava o
suficiente.
A detenção de Mishca, além da metade da Volkov
Bratva, foi a notícia mais importante na televisão.
Aparecendo durante a maior parte do dia, transmitindo em
cada meio de comunicação que havia. Agora, Lauren não
suportava escutar o que cada repórter na cidade dizia sobre
Mishca e a "vida secreta que levava".
Ela sabia que havia algumas coisas que ignorava da
vida da Bratva, e sabia das atividades ilegais, mas a forma
como a mídia retratava o assunto a fez estremecer.
Lauren não entendeu por que Alex exigiu que usasse
óculos escuros e um chapéu de aba larga, ao menos não até
que estavam fora do tribunal. A imprensa estava em toda
parte. Alex tentou explicar em seu caminho até lá, falando
que esta foi uma das maiores apreensões da Bratva na última
década.
Segundo ela, o FBI nunca tentou tocar nos Volkovs
porque tal como a maioria dos problemas que enfrentavam,
seus obstáculos simplesmente desapareciam. Ela não prestou
muita atenção, mas quando ouviu isso, imediatamente
In the beginning
Volkov Bratva 3
pensou em Ivan, no modo como foi morto na prisão, e como
perderam sua declaração.
Não, não duvidava de que eles resolvessem seus
problemas.
Logo que saíram do carro, os repórteres estavam
sobre elas, tirando fotos, disparando perguntas rápidas como
se pudessem fornecer alguma resposta. Seguindo o exemplo
de Alex, Lauren manteve a cabeça baixa e a boca fechada
enquanto se apressava a subir os degraus, ignorando tudo.
Entrar em um tribunal de justiça por uma licença de
casamento era muito diferente de assistir a isso, por uma
leitura de acusações. Então, ela mal percebeu seu entorno.
Agora se sentia vazia. Uma vez que as portas se fecharam
bloqueando os gritos dos repórteres, Lauren respirou
profundamente, fechando suas mãos para evitar que
tremessem. Agora mais que nunca, sentia o peso de seu anel
de casamento.
O verdadeiro local no qual a leitura das acusações
seria feita estava cheia de gente, um punhado a cada lado.
Lauren e Alex se sentaram atrás da mesa da defesa,
saudando Jessica, que preparava os documentos em sua
mesa. Quando estava pronta, cumprimentou Lauren,
dizendo-lhe o que esperar da audiência.
Uma porta do lado se abriu, e um guarda entrou
escoltando Mishca, com as mãos algemadas na frente dele.
Para alguém que enfrentava acusações RICO, parecia
estranhamente tranquilo, e Lauren não podia evitar se
perguntar se ele sabia algo sobre o que acontecia que ela não.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Seus olhos percorreram a multidão, parando nela enquanto
franzia sua boca.
Mas para sua surpresa, Mishca não foi o único
escoltado. Luka foi o seguinte, sempre alegre, falando
abertamente com o guarda que o trazia. Ele parecia mais que
feliz de abandonar a Luka na mesa.
— Suponho que estão sendo julgados juntos —
sussurrou Alex, parecendo tão confusa quanto Lauren
estava.
Mikhail estava ao lado com seu próprio advogado,
sentado no outro extremo da mesa. Se ele estava preocupado
pelo iminente julgamento, não se notava em seu rosto.
Alguns mais chegaram, a maioria Lauren nunca viu,
embora houvesse alguns que Lauren pensou ter visto
anteriormente.
Uma vez que todos estavam acomodados, embora
não houvesse muito que fazer sobre o nível de ruído já que
todos falavam ao mesmo tempo, tentando ter a opinião dos
numerosos advogados na sala.
— Todos de pé! — O oficial de justiça anunciou em
uma voz potente. — O honorável Juiz Larry Dobson preside.
Outra porta se abriu e um homem vestido de preto
entrou. Não era muito alto, com o cabelo branco como a neve
e um bigode espesso. Sua boca parecia que estava
permanentemente franzida e quando sentou — todos outros
fizeram o mesmo quando acenou com a mão — ele falou com
a autoridade de um homem com anos de experiência.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Senhoras e senhores, não vamos perder o meu
tempo. Como se declaram os acusados?
Coros de respostas soaram quando os homens se
apressaram a responder, sem esperar que seus advogados
falassem por eles. Mishca tamborilava seus dedos sobre a
mesa, parecendo irritado quando ele se inclinou para
sussurrar ao ouvido de Jessica.
Golpeando seu martelo algumas vezes, o juiz Dobson
chamou por ordem, silenciando a manifestação.
Jessica limpou a garganta. — Acredito que é um
coletivo "não culpado", vossa excelência.
— Considerado. — Voltou para o procurador do
Estado. — E o estado assim tem a liberdade sob fiança?
— Protesto, vossa excelência — disse o homem em
um terno listrado — Os acusados foram acusados sob a lei
RICO, e dois deles são membros do alto escalão da
organização criminal russa: Vory v Zakone. Eles têm recursos
ilimitados, e deveriam ser considerados um risco de fuga.
— Meritíssimo, meus clientes nunca foram
condenados por nenhum delito. Mishca Volkov possui vários
clubes na área de Manhattan, doou dinheiro a dezenas de
instituições de caridade locais, e se casou recentemente.
Luka Sergeyev trabalha como segurança pessoal da esposa
do senhor Volkov. A menos que o procurador geral gostaria
de acusar a senhora Volkov, duvido muito que ele pudesse
cometer qualquer crime enquanto a segue.
— Vossa Excelência! — Não tinha que gritar "objeção"
era evidente em sua voz.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Guarde suas palhaçadas para o julgamento,
senhorita Turney. A fiança está fixada em quinhentos mil
dólares cada um, em efetivo ou bônus. Algo mais?
Jessica procurou em sua maleta e tirou outro
conjunto de documentos. — Neste momento, eu gostaria de
apresentar uma moção para anulação.
Passou as páginas ao oficial de justiça, que
rapidamente as entregou ao juiz, que assentindo, disse —
darei minha decisão na próxima audiência. — Ele bateu o
martelo. — Próximo.
Isto demorou uma eternidade para chegar através de
todos os outros, alguns sairiam em liberdade sob fiança,
outros detidos por causa de seus antecedentes penais.
Quando terminou, Jessica se aproximou de Lauren.
— Por que sua fiança é tão alta? — Perguntou
Lauren.
— É comum em casos como este, mas não há razão
para se preocupar Lauren. Temos sorte de que uma quantia
foi fixada.
Aceitando isso, Lauren assentiu, olhando para Alex.
— O que faremos agora? Como posso pagar a fiança?
— Não se preocupe, encarrego-me disso. E seu
apartamento deve ser limpo agora. Mishca deve estar lá em
algumas horas.
Jessica estava pronta para se afastar, mas Lauren
não a deixou ir. — E o que acontecerá com Luka?
— Quer pagar a fiança dele também? — Perguntou
quase como se estivesse surpresa pelo pedido.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— É óbvio. Sei que eles têm as contas congeladas,
alguém tem que fazer.
Inclinando a cabeça, Jessica disse. — Vou ver por
ele.

Sua casa parecia uma cena de crime.


As gavetas foram tiradas, as roupas estavam
espalhadas por toda parte no armário. Eles claramente não
se preocuparam em pôr o lugar em ordem após sua busca.
Mas no momento, não lhe importava o que parecia
desde que Mishca voltasse logo.
Lauren estava sentada sozinha, apesar de haver ao
menos uma dúzia de pessoas em seu lar, todos falando
rápido em russo. Não tinha nem ideia do que acontecia a
Mishca desde que saiu do tribunal algumas horas atrás, e
muito menos por que todas estas pessoas apareceram, mas
desde que Alex estava lá, não questionou.
Bobamente nunca pensaram nesta possibilidade
antes, sempre acreditando que Mishca e a Bratva eram
intocáveis, mas ali estava ela, em pânico, esperando seu
telefonema.
Só uns minutos mais tarde Mishca entrou pela porta.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Durante o tiroteio, Mishca passou imediatamente ao
modo de negócio, esquecendo que não estava acostumada a
experimentar algo assim, mas desta vez, ele se aproximou
dela primeiro, ignorando todos os outros.
Puxou-a em seus braços, acariciando seu cabelo. —
Sinto muito por isso.
— O que está acontecendo? — Sabia de suas
acusações, mas não sabia a quantidade de informação que o
FBI tinha sobre ele.
Mishca olhou por cima do ombro, dizendo algo em
russo que os fez sair da sala para lhes dar privacidade.
Quando estavam sozinhos de novo, sentou.
Passou uma mão por seu cabelo, suspirando
enquanto deixava cair a máscara por um segundo. — Não
quero que se preocupe com nada disto.
— É um pouco tarde para isso, Mish — disse,
afastando-se dele — Vi como o prenderam. Está livre sob
fiança! Só me diga o que sabe.
— Não muito mais que você, para ser honesto. Ainda
estou reunindo informação, mas quando me inteirar de algo,
direi. Prometo.
Luka tinha um estranho olhar em seu rosto quando
entrou no apartamento, olhando imediatamente para Lauren.
— Obrigado — disse com sinceridade, puxando-a em seus
braços para um abraço.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Luka sempre era bastante agradável, mas nunca
mostrou tanto afeto antes. Se tivesse que adivinhar,
assumiria que era porque ela pagou sua fiança, também, mas
se conhecia algo mais sobre ele, provavelmente não queria
que ela o reconhecesse.
— Em qualquer momento — respondeu em troca,
devolvendo seu abraço brevemente.
— Preciso que fique aqui com Lauren — disse Mishca
quando se aproximou de uma gaveta da cozinha, tirando um
pequeno telefone celular — Faça com que todos troquem seus
telefones.
— Mish, aonde vai? — Perguntou Lauren.
Acabou de chegar ali, e não o viu em dois dias. Ela
compreendeu que poderia ter negócios que precisava cuidar,
mas ainda o queria por um pouco mais de tempo.
Logo reconhecendo isso, beijou-a na testa, dirigindo-
se à porta. —Volto logo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca tinha que se reunir com Klaus em vez de
ligar, sabendo que suas chamadas provavelmente estavam
sendo monitoradas. Ele pensou neles tentando rastrear o
telefone de Klaus do número que aparecia na fatura do
telefone de Mishca, mas com as conexões de Klaus, eles
nunca o encontrariam.
— Parece que está no fundo, russo. O que está
fazendo a respeito? — Perguntou Klaus, protegido pelas
sombras nas quais estava escondido.
— Tenho tudo sob controle por agora, mas teremos
que mudar nossos planos por completo.
— Dê-me setenta e duas horas, então me encontre
aqui.
Concordando, Mishca se preparava para sair, mas
Klaus o chamou — Precisa de ajuda com essas acusações?
Se Mishca foi surpreendido pela oferta de Klaus, não
demonstrou. Pensou que se o fizesse, Klaus poderia retirar a
oferta, disse algo inteligente em vez disso. — Eu vou deixar
você saber.
Porque se ele dependesse de Klaus tendo que tirá-lo,
provavelmente estaria muito fundo para fazer alguma coisa.
In the beginning
Volkov Bratva 3

— Não admira que você use uma máscara. Isto é


malditamente estranho, companheiro.
Klaus revirou os olhos enquanto ele e Mishca
entravam no apartamento de Celt no Brooklyn. Celt era um
dos poucos mercenários que Klaus conhecia que realmente
tinha uma residência permanente ao invés de viver em vários
lugares por curtos períodos de tempo.
O tamanho deste lugar, e muito mais a localização,
tornavam-no caro, e embora Klaus soubesse quão bem que
recebiam por seus serviços, ainda não pagaria por isso.
Estava aprendendo mais sobre Celt nas últimas semanas do
que nos anos que passaram juntos. Muito parecido com o
armazém que abrigava seu clube de luta, aqui havia um
andar abaixo do nível do solo, com um elevador codificado
para lá.
Mas, ao contrário daquele lugar, este era
meticulosamente limpo, o piso era de concreto e aço, as
paredes cheias de diferentes armas, até mesmo alguns rifles
que não estavam no mercado ainda, e que Klaus esteve
procurando para adquirir.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Celt fez gestos para uma mesa, iluminada
internamente por luzes LED. Havia planos estabelecidos ao
longo da parte superior da mesma, um lugar nos documentos
rodeado com um círculo com tinta vermelha.
Klaus foi inteligente contatando Celt, um dos
melhores rastreadores que conhecia porque apesar de ter
passado um pouco mais de vinte e quatro horas, já encontrou
a localização de Jetmir. Ele aprendeu à força como controlar
suas reações às coisas, e a única vez que mostrava uma
emoção era quando queria.
Agora, Klaus manteve sua emoção para si mesmo
enquanto olhava os planos, procurando entradas e qualquer
possível saída. Esperou por este dia durante muito tempo, e
embora tenha demorado fazendo de tudo para chegar aos que
feriram Sarah, valeu a pena.
— Dois guardas na frente e pelo menos dez no
interior ao longo destas salas. — Celt apontou para três, uma
perto da porta principal, outra pelo corredor de trás, e a
última no piso superior. — Nosso objetivo será presa fácil
uma vez que estejam fora do caminho. Red, você renderá os
guardas, então nós entramos. Não sei qual de vocês dois está
mais desesperado pelo sujeito que está depois, então eu vou
deixar a sua captura para vocês.
— A segurança? — O russo falou pela primeira vez
desde que chegaram ali.
— Já cuidei.
O russo olhou seu relógio. — Então é melhor
começar.
In the beginning
Volkov Bratva 3

— Talvez devesse ficar para trás, russo — sugeriu


Klaus enquanto colocava a máscara, parecendo como o
mercenário que era. — É possível que tenha passado muito
tempo sentado atrás de uma mesa.
Mishca sempre tinha um fraco por Klaus — embora
nunca admitisse isso em voz alta — assim foi só porque se
lembrou de quão mal o viu todos esses anos atrás. Às vezes
Mishca se perguntava se todo o sarcasmo era uma estratégia
para fazer com que todo mundo pensasse que não se
importava, que nada o afetava.
Sorrindo, Mishca prendeu o colete à prova de balas.
— Faço isso há muito mais tempo que você.
— Vocês dois são tão modestos, sabiam? — Falou
Celt olhando para os dois.
O comentário não era injustificado, sobretudo
quando estavam na mesma sala. Seu hábito de disputas era
um fato bem conhecido por praticamente todo mundo que os
conhecia.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Klaus se afastou, aproximando da beira da
cobertura, onde seu rifle estava apoiado. Vendo isso, Mishca
sentiu uma pontada no peito, lembrando sua própria ferida,
mas sabiamente tirou de sua cabeça, agachando-se ao lado
do par de mercenários.
Logo abaixo deles, a menos de trezentos metros de
distância, um homem casualmente atirou um cigarro aceso
ao chão, apagando a chama com a ponta de sua bota
enquanto soprava uma grossa baforada de fumaça.
Assim que Klaus apertou o gatilho caiu ao chão em
segundos. A cápsula da bala caiu perto dos pés de Mishca, o
som agudo do metal apenas mais suave que o rifle de Klaus
enquanto ele voltava a carregá-lo.
O outro guarda, assim como Celt disse, virou a
esquina, olhando para o seu companheiro caído enquanto
pegou uma arma da cintura, bem como um rádio.
Antes que pudesse dizer uma palavra, embora fosse
impossível saber desde seu ponto de vista, Mishca viu como
sua cabeça se atirava para trás, com um buraco em sua
testa.
— Droga — murmurou Klaus enquanto levantava seu
rifle da frente — Estive fora por dois centímetros.
Guardando o rifle, Mishca, Klaus e Celt atravessaram
a rua, olhando um para o outro por um breve momento, um
acordo tácito entre todos eles.
Entraram.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando chegaram à casa, Celt e Klaus à frente,
Mishca decidiu que teria que colocar uns mercenários em sua
lista de pagamento, a menos que Klaus decidisse ficar.
Com precisão e sem esforço, todos os guardas de
Jetmir foram mortos um a um, no que se tornou uma
competição entre Celt e Klaus. Com os dois ali, Mishca não
teve que fazer muito, além de segui-los até o segundo andar.
Entretanto, Jetmir não estava em nenhuma parte.
Mishca olhou para Klaus com uma sobrancelha
levantada, mas não podia discernir o que dizia a expressão
que recebia atualmente em troca. Claro, não era garantido
que Jetmir ainda estaria aqui no momento exato em que
chegou, mas Mishca tomou a palavra do... bom ele não sabia
o que era Celt para Klaus exatamente.
Poderia ter amigo, mas não parecia como se Klaus
tivesse amigos — e colega de trabalho não parecia um termo
apropriado tampouco.
Quando abriu a boca para questionar, uma tábua
rangendo alertou para outra presença na casa.
Klaus inclinou a cabeça para um lado, em silêncio,
escutando, então de repente, ele empurrou Mishca para o
lado, justo quando balas eram disparadas através do chão,
quase no ponto exato onde Mishca esteve de pé.
Celt se moveu, surpreendentemente rápido apesar da
quantidade de armamento em seu corpo. Mishca olhava dos
buracos no chão para Klaus enquanto se preparava para
correr atrás de Celt.
— Não mencione isto, russo. Realmente, não o faça.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Ensacado e etiquetado — chamou Celt enquanto
ele aparecia de novo na porta.
Quando desceram, Jetmir estava de barriga para
baixo no chão, caído, com um saco preto sobre sua cabeça.
Ele se retorcia, tentando se libertar, suas maldições abafadas
por algo que Celt colocou em sua boca.
— Certo, então aí está o seu cara. Eu cuidarei das
coisas aqui. Ah, e Volkov — Celt guardou sua arma, sorrindo
alegremente — vou enviar a minha conta.

Eles o puseram no congelador, facilmente dominando


sua inútil resistência. Empurrando para baixo na cadeira que
Mishca trouxe há horas, prenderam seus braços nas
restrições, então suas pernas. Em segundos, não podia se
mover.
Mishca tirou o saco de sua cabeça, vendo como
Jetmir tentou se concentrar nele, tentando se ajustar a pouca
luz no armazém. Infelizmente, Mishca não foi capaz de levá-lo
de volta para aquele edifício industrial que esteve tão
afeiçoado, mas vendo que Jetmir morreria antes do final da
noite, não o incomodava tanto.
— Ouça — disse Mishca batendo-lhe algumas vezes
no rosto. — Vai querer se concentrar para isto.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Jetmir o fulminou com o olhar, a cicatriz em seu
rosto puxando mais.
— Se for me matar, faça-o! — Grunhiu Jetmir
enquanto Mishca virou as costas para ele.
Parando no meio do caminho, Mishca o encarou mais
uma vez, inclinando a cabeça para o lado enquanto ele viu a
sombra por trás do movimento da cabeça de Jetmir. Bem na
hora.
— Não sou eu quem deve temer — disse Mishca
facilmente, assentindo uma vez para Klaus quando ele saiu
da escuridão, seu rosto inexpressivo.
Anos atrás, Mishca advertiu Jetmir que se alguma
vez se cruzassem de novo, ele não fugiria disso. Deveria ter
ouvido seu aviso.
— Não faça uma bagunça — disse Mishca enquanto
saía, entretanto, sabia de uma coisa.
Mesmo que Klaus levasse Jetmir parte por parte, não
deixaria nenhuma evidência dele para qualquer um
encontrar.

— Não sabe quanto tempo esperei por isso — disse


Klaus enquanto sem pressa arregaçava suas mangas, girando
o pescoço em seus ombros.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não passou um dia, desde que Jetmir destruiu sua
vida, que Klaus não pensasse em como faria os albaneses
pagarem. Sacrificou muito mais do que qualquer um podia
perceber para se vingar, e mais tempo de quando aprendeu a
desligar suas emoções.
Claro, brincava com o russo, mas isso era porque o
divertia e enquanto ficou furioso com o russo interferindo
com o que planejou para Brahim, no final, estava agradecido.
Rastreou os albaneses logo que aterrissaram em solo
americano. Parecia que tinha o destino a seu favor desde que
seu contrato não se renovou, e em vez de assinar novamente,
despediu-se, garantindo que estaria livre para fazer o que
precisava.
Uma vez que se deu conta de que o russo se afastou,
retrocedeu, só para ver o que ele faria a respeito. Não
demorou muito tempo para perceber que o russo ainda era o
idiota suave que foi na primeira vez que se encontraram, já
que não se livrou imediatamente da mulher francesa de seu
passado, não que realmente lhe importasse. Surpreendeu-se
que ele tivesse alguém para quem ir para casa.
Quando viu pela primeira vez Lauren, Klaus a odiou.
Era muito boa, também por compreender a vida que o russo
levava, e mais que tudo, Klaus odiava que o russo fosse feliz.
Não merecia a felicidade, e durante muito tempo, Klaus quis
destruir, vê-la virar pó. Naquele dia fatídico, depois de
instalar seu rifle em um telhado vizinho, olhou fixamente sem
piscar através de sua mira, seu alvo na cabeça de Brahim,
pensou em esperar até que ele matasse a garota — esperou
In the beginning
Volkov Bratva 3
por isso — mas por essa mesma mira, viu o suplicante olhar
desesperado no rosto do russo, e não pôde deixar de lembrar
quando implorou pela vida de Sarah.
Antes de sequer se dar conta, Klaus apertou o
gatilho, matando Brahim com um disparo.
Estava eufórico — como normalmente se sentia
depois de matar a um dos albaneses — mas havia uma raiva
queimando nele, que tinha pressa para ir lá apenas para
poder enfrentar o russo.
Hoje em dia, Klaus não sabia qual foi sua intenção ao
se aproximar deles, saindo das sombras de sua vida, pela
primeira vez no que parecia décadas. Uma parte dele ainda
queria matar o russo, mas como lhe brotava tanta
arrogância, Klaus não o teria matado diante de Lauren.
Agora aqui estava, praticamente aliado com a mesma
pessoa que jurou matar centenas de vezes em diferentes
ocasiões. Assim era como funcionava em seu mundo.
Num dia inimigos, no seguinte aliados.
Klaus tirou a máscara, jogando-a para o lado.
Quando tirasse a vida de Jetmir, não queria que houvesse
confusões quanto a quem ou por que isso ocorria.
Rindo amargamente, Jetmir disse — o irmão? Eu
tinha certeza de que os russos acabaram contigo.
Klaus virou sem pensar, agradecido de que
previamente pôs fitas em seus dedos. Esse primeiro golpe não
foi suficiente, nem de longe e se viu balançando uma e outra
vez, os golpes cuidadosamente colocados, sem fazer muito
dano, apesar de tirar sangue.
In the beginning
Volkov Bratva 3
No momento em que terminou, os braços de Klaus
pareciam de chumbo, mas se sentiu melhor ao ver o rosto
ensanguentado de Jetmir. Embora desejasse o contrário,
Klaus não tinha tempo para torturá-lo durante dias, não
quando precisavam dele em outros lugares.
Isso teria que ser suficiente, entretanto estava
desfrutando muito bem de cada segundo disso.
Caminhando para trás, pegou o recipiente que não
deixou claramente à vista, garantindo que Jetmir pudesse ver
o que era antes de desenroscar a tampa e tirar a mangueira.
Sem pressa, Klaus derramou gasolina sobre Jetmir,
começando na cabeça, certificando-se que estivesse
completamente encharcado antes de deixar cair o recipiente a
certa distância.
— Durante anos — disse Klaus casualmente,
ignorando a explosão anterior de Jetmir — estudei,
aprendendo tudo o que precisava saber sobre você e seus
associados. Há um par de coisas que sei. Um, que têm o
costume de colocar fogo em seus inimigos.
— Isto é a respeito daquela garota, não é? —
Perguntou Jetmir, sacudindo a cabeça para conseguir tirar o
cabelo dos olhos.
Klaus não respondeu porque Jetmir tinha razão, e
porque não confiava no que diria a seguir. Ele tinha certeza
que se lhe perguntasse seu nome, Jetmir não saberia.
— Não foi pessoal.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Apesar do fato de que estava encharcado em gasolina
e sabia que enfrentava à morte, ainda zombou dele, apenas
implorando a Klaus por exagerar e cometer um engano.
Tirando um isqueiro preto metálico, só pôde ver seu reflexo
nele, com um olhar morto em seus olhos.
Nunca nos últimos cinco anos imaginou este dia,
passou vezes pensando em que não estaria fazendo tolices
quando enumerou todas as razões pelas quais estava
matando Jetmir, tropeçando em suas palavras quando a dor
assumia o controle. Em vez disso, a tortura exaustiva que
sofreu como parte de sua iniciação drenou toda emoção dele.
Agora, só sentia pequenos pedaços, não lhe importava que
realmente estivesse controlando a vida de um homem.
Talvez amanhã se preocupasse.
— Dois — continuou Klaus como se Jetmir não
tivesse falado — sua organização se compõe de dezenas de
homens desumanos e arrogantes que só são leais ao maior
lance. Como sei isto?
Klaus estendeu a mão, puxando seu cabelo para um
lado para mostrar a Jetmir as linhas tatuadas começando
logo atrás de sua orelha. Cada linha representava uma das
pessoas que estiveram lá na noite em que foram pegos na
rua, os que o torturaram durante dias.
Atualmente, haviam nove linhas tatuadas em sua
pele, e com Jetmir teria a número dez. Enquanto que Klaus
não sabia a história de Luka — ainda — resolveria logo antes
de decidir se ele seria outra linha ali também.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Foi só um negócio — disse Jetmir novamente,
embora não se desculpasse por suas ações. Ele era um
homem orgulhoso, e apesar de ter feito mal a tanta gente em
sua curta vida, não pediria perdão por nada.
Klaus sorriu lentamente, em seguida, derrubou a
tampa aberta, sacudindo o acendedor para que a chama
brotasse no topo.
Em perfeito russo, disse — Oko za oko — Olho por
olho.
Klaus atirou o isqueiro, vendo a rápida descida para
o piso, sem afastar os olhos dele, quando finalmente caiu ao
chão e conectou com a gasolina, e as chamas correram para
Jetmir.
Em segundos, foi envolto, seus gritos ecoando em
todo o armazém, mas ninguém seria capaz de ouvi-lo. Havia
algo fascinante sobre olhar a carbonização de sua pele, o
aroma acre cobrindo o ar, a forma em que seus músculos
presos em uma dor inimaginável.
E, entretanto, apesar do fato de que Klaus viu isso
com dedicação inabalável, não se deu conta de que perdeu
um pedaço de sua alma muito antes de ter conseguido sair
daquele edifício anos atrás.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Quando Klaus descarregou o último dos sacos,


limpou as mãos em seu jeans, vendo-os debaixo da superfície
da água, afundando lentamente. Ouviu muitas histórias a
respeito de como seria uma vez que a pessoa que estava em
busca de vingança finalmente a deixasse ir. A maioria disse
que a alegria duraria pouco, se é que a sentiam, mas Klaus
não poderia concordar com isso.
Sentia-se mais leve, como se lhe tivessem dado um
novo fôlego. Nada podia comparar com o que sentia neste
momento.
Virando de costas, levantou seu capuz, sem
nenhuma pressa desde que estava sozinho... ao menos isso é
o que pensava.
Logo que entrou na rua outra vez, faróis duplos
brilharam à distância, quase o cegando. Antes que pudesse
pensar em pegar sua arma, ouviu o estalo inconfundível de
múltiplas metralhadoras.
Suspirando, revirou os olhos, levantou suas mãos em
uma derrota zombadora, arrastando os pés quando dois se
aproximaram empurrando-o ao Escalade preto que estava em
marcha lenta. Uma vez que Klaus deu uma boa olhada neles,
porém, abaixou suas mãos.
Às vezes se esquecia de como tensos eram os guardas
de seu Chefe.
Quando um deles lhe deu um empurrão, ele virou-se,
golpeando ao homem no estômago antes que alguém pudesse
impedi-lo. Realmente odiava a porra de ajuda.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Entre no maldito carro!
Parecia que Celt foi convidado a esta pequena festa
enquanto abria a porta de atrás da caminhonete, um
estúpido sorriso em seu rosto. Celt levantou seu capuz negro,
seu sorriso aumentando ao ver a expressão de Klaus.
— Como nos velhos tempos?
Afastando-se dele, Klaus grunhiu — dane-se.
Mas o capuz trouxe lembranças do dia em que foi
levado ao recinto para seu treinamento...
Atirando-se de cabeça, subiu na parte traseira,
reclinando suas costas uma vez que a porta se fechou atrás
dele, dois fortes golpes contra a porta fizeram que o carro
andasse.
Seus sentidos estavam em alerta máximo enquanto
esperava que a outra pessoa no carro falasse. Sua respiração
era cuidadosa e havia suficiente espaço entre eles que não
havia maneira de que ninguém pudesse saber que ele estava
ali, mas Klaus foi treinado para este tipo de coisa.
Enquanto que confiava em Celt, até certo ponto,
Klaus se perguntava por que cacete ele o colocou junto de
alguém que era este maldito ainda.
Enumerou os minutos que passavam em sua cabeça,
catalogando cada volta também. No momento em que
pararam e o cascalho rangeu sob os pneus, eles só viajaram
uns quinze minutos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Klaus suspirou alto esgotando sua paciência
enquanto esperava. Em vez disso, a pessoa frente a ele abriu
a porta do carro e saiu, movendo o carro com seu peso.
Passaram uns minutos antes que alguém tomasse seu lugar.
Ao contrário do ocupante anterior desse espaço, não
havia nada de sutil sobre este. Embora não fosse
entristecedor, Klaus percebeu os tons masculinos de
qualquer colônia que o homem usava.
— Não há nenhuma necessidade de você usar isso.
Klaus arrancou a máscara, imediatamente olhando
ao homem que pensou que era necessário sequestrá-lo para
uma reunião. Mais importante ainda, tinha que averiguar
quem era. Desde que trabalhou sob contrato, só se encontrou
com o homem que o encontrou no beco.
Se for um recém-chegado — e Celt estava
trabalhando para ele também — significava uma de duas
coisas. Klaus ia ter uma oferta, ou todos estavam sob uma
nova administração.
Nenhuma ideia lhe agradou.
Estacionaram debaixo de uma ponte, as luzes
reduzidas, entretanto Klaus podia ver as sombras das
pessoas que rodeavam o carro.
— Niklaus.
Ele particularmente odiava quando alguém utilizava
seu nome completo. — Klaus.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O homem frente a ele estava inexpressivo, nem
sequer havia um pouco de diversão em seu olhar. Era quase
sobrenatural. — Pensei que era hora de termos uma pequena
conversa.
Tinha um sotaque marcado, uma combinação da
Irlanda e Gales, se Klaus não estava enganado. Passou
bastante tempo nessas regiões para pegar as inflexões.
— Quem é você?
— Seu novo agente — disse de maneira uniforme,
girando sua cabeça para um lado, como se ele estivesse
estudando Klaus em vez do contrário.
O cara era estranho pra caralho. Klaus arranhou a
mandíbula, ocultando assim sua confusão. — E meu último?
— Morto, mas isso não importa no momento. Preciso
de você para um trabalho.
Klaus piscou, sua suspeita original esteve certa. —
Escuta, não sei de onde é, mas eu acabo de terminar um
contrato e tenho um pouco de tempo antes que tenha que me
reportar.
Ele riu, mas não soava como se achasse graça. —
Poderia pensar que depois de matar Rayne, escutaria a razão.
— Perdeu seu breve sorriso. — Especialmente desde que você
está enfrentando a morte por causa disso.
Klaus era muito experiente para mostrar qualquer
reação às palavras do homem, mas no interior, retorcia-se.
Com um encolhimento de ombros casual, explicou — Eu
estava trabalhando. Não há muito que pudesse fazer a
respeito.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não acredito que eu pedi por uma razão.
— O que está propondo? — Não tinha outra opção
além de aceitar o que lhe oferecia. Apesar da vida que vivia
Klaus não estava disposto a morrer.
— Como estava dizendo, preciso para um trabalho.
— Quem é o alvo?
Entregou para Klaus uma única foto. Olhou,
concentrou-se na cara solitária que a rodeava. Piscou duas
vezes, querendo ter certeza que via corretamente antes que
uma maldição saísse de seus lábios.
A morte era sem dúvida uma melhor opção.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Com o processo pela prisão de Mishca em análise na


corte, e os meios de comunicação que o cercavam, Lauren
sentiu que não podia escapar da curiosidade alheia, e agora
só queria um momento para si mesma. Mishca não estava tão
por perto, ele ficava a maior parte do dia fora de casa fazendo
o controle de danos que pudesse, agora que metade de seus
homens — junto com alguns de Mikhail — achava-se sob a
custódia da polícia.
Não só isso, mas, aparentemente, Ross ainda tinha
amigos na polícia que o atualizavam sobre tudo o que
acontecia. Essa conversa não foi bem, mas o que quer Mishca
disse a ele por telefone depois de sair da sala, claramente,
acalmou a situação pelo menos por enquanto.
Entre os carros à paisana da polícia fora de seu
edifício e o enxame constante de repórteres, Lauren só queria
um pouco de normalidade, mesmo que fosse apenas por
algumas horas. Ela ligou para Amber, quase esperando que
ela recusasse o convite uma vez que tudo veio a tona, mas ela
ficou feliz em poder ajudá-la a escapar um pouco de todo esse
caos.
— É realmente tão ruim quanto parece? — Perguntou
Amber, deslizando um exemplar do New York Times sobre a
mesa para que Lauren pudesse olhar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Logo em destaque na capa estava estampada uma
foto simples de Mishca e Mikhail, com a manchete: A queda
da Máfia Russa. Lauren nem se incomodou em ler o artigo,
dobrando o jornal ao meio enquanto erguia a mão chamando
o garçom.
— Mish diz que não é, mas não sei até que ponto
pode ser. Ele sempre quer me proteger da verdade.
Amber deu de ombros, tomando um gole de sua
água. — Não posso dizer que o culpo por protegê-la. Esta
merda é uma loucura.
Esfregando os olhos. Lauren assentiu, olhando para
a rua onde notou um SUV preto estacionar. Descartando-os,
voltou sua atenção para Amber. — Acho que eu deveria ter
me preparado psicologicamente para o caso de algo assim
acontecer, mas Mishca sempre me pareceu tão intocável. Eu
nem sequer imaginei a possibilidade de que algo como isso
acontecesse.
— Tenho certeza de que tudo irá se resolver logo,
Lauren.
Os agentes entraram no restaurante, tentando ser
discretos para os outros clientes, mas depois dos
desentendimentos que tivera no passado, Lauren estava
muito consciente de tudo o que acontecia ao redor.
— Preciso que me faça um favor. — Lauren disse
olhando para os agentes — Ligue para Mishca e lhe diga que
o FBI veio e me levou.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Espere. O quê? — Amber se virou para ver o que
atraiu a atenção da amiga, arregalando os olhos ao notar os
homens de terno, caminhando em direção a elas. — Mas você
não tem que ir com eles, não é?
— Sim, mas não quero que você seja envolvida nessa
bagunça. Se eles me virem aqui com você, pode ser que
depois a procurem para depor também. Apenas ligue para
Mishca, por favor.
Lauren rapidamente anotou o novo número de
Mishca em um guardanapo e se levantou. Ela podia sentir o
olhar dos outros clientes em suas costas enquanto os oficiais
mostravam suas identificações, acompanhando-a para fora
do restaurante dando apenas uma pequena explicação do por
que da abordagem.
Embora a viagem tenha sido curta e silenciosa,
Lauren manteve-se na maior parte do tempo pensativa, e
tentando ocultar o pânico que sentia. Ser levada — desta vez
pelo FBI — relembrou-a tudo o que aconteceu desde que
conheceu Mishca.
Será que lhe perguntariam sobre Viktor novamente?
Será que de alguma forma eles descobriram o que aconteceu
com o mafioso albanês que foi assassinado a tiros no clube de
Mishca?
Havia tantas possibilidades que até o momento em
que eles chegaram ao seu destino, ela teve de esconder as
mãos nos bolsos, só assim os agentes não veriam que
tremiam.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Depois que sua identificação foi comprovada, e que
praticamente teve que desfilar por todo o escritório, Lauren
foi escoltada para uma sala cujas paredes pareciam ser de
aço, exceto uma única que ela sabia que era um espelho
unidirecional. Mais surpreendente que isso, ela não foi levada
para um escritório do FBI, e sim a uma delegacia local de
polícia de Nova York. Assim os agentes a informaram.
Foi deixada sozinha na sala por algum tempo, e
percebeu eles estavam do outro lado do espelho olhando para
ela, à espera de uma reação que não obteriam.
Levou algum tempo, mais do que Lauren pensou ser
necessário, mas finalmente uma agente do FBI reuniu-se a
ela.
Ela era alta, pelo menos um metro e oitenta, com
cabelos cor de café e penetrantes olhos marrons. Lauren a
reconheceu do tiroteio no clube — Agente Green, lembrou-se.
A agente Green lhe entregou um copo de café como
uma oferta de paz, deslizando-o sobre a mesa para que
Lauren pegasse. Ela recusou sem tocá-lo. Se queriam pegar
suas impressões digitais — não que tivessem algo para
compará-las — teriam que teriam de levá-las de outra
maneira.
— Confortável? — Perguntou a agente com um olhar
de surpresa, como se fossem duas velhas amigas que se
encontraram para conversar, e não um falso interrogatório.
— Bem, será que eu deveria solicitar um advogado?
Ela perdeu seu sorriso doce. — Você não está presa,
senhorita Thompson.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren estreitou os olhos à mulher, e derramou suas
próximas palavras sem um único pensamento. — Volkov,
senhora Volkov.
A agente Green se limitou a sorrir. — Você percebe
com quem está compartilhando sua cama, não é? Porém,
posso entender o fascínio. Ele pode ser encantador —
normalmente são — mas ainda é um assassino
Por baixo da mesa, Lauren apertou as mãos,
tentando manter a fachada tranquila. Ela sabia o que Mishca
era, tinha-o aceitado assim, e já aceitou também que Mishca
matou o homem que merecia morrer.
A agente Green retirou uma pasta de documentos
com um número de processo escrito na etiqueta da capa. Em
seu coração sabia o que estava dentro, só por observar a
expressão da agente. Mesmo assim, ao ver a primeira
imagem, foi como tomar um soco no estômago.
Era de um homem, com os dedos faltando, só os
tocos permaneciam no lugar. Seu rosto estava tão
machucado que era praticamente irreconhecível. Vários
buracos cobriam seu torso, cortados ao redor da imagem de
Kirim em seu peito. Sem dúvidas ela sabia que era o corpo de
Ivan.
Mesmo quando a agente explicou quem era, Lauren
não estava escutando. Sabia quem era e porque terminou
assim. Este foi o resultado da raiva de Mishca. Sabia do que
ele era capaz, ao menos pensava que sabia, mas foi nada
como ver o seu trabalho real.
Eu cuidei disso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Isso foi o que ele lhe disse tanto tempo atrás quando
lhe confessou tudo o que fez. Lembrou-se da cor pálida de
seus nódulos, dos cortes em suas mãos, mas isso não era
nada em comparação ao que fez a Ivan... O que fez por ela.
Lauren empurrou as fotos, mas a Agente Green não
as guardou na pasta. Mostrou-lhe foto após foto, obrigando-a
a enfrentar o que Mishca fez. Não reconheceu a maioria deles,
mas isso não a fazia sentir-se menos enjoada ao vê-los.
— Surpresa? — Perguntou a agente lendo a
expressão de Lauren. — Você não consegue a marca apenas
por conhecer a pessoa certa. Você precisa ganhá-las. Sei que
deve estar aterrorizada com as fotos. — Disse tentando usar
uma tática. — Só precisamos de algumas informações para
colocar esses monstros na cadeia.
— Não posso ajudá-la. — Disse Lauren olhando para
longe da agente, e das imagens, desejando poder ignorar
também a realidade da situação.
— Sério? Nem mesmo depois de tudo que eles fizeram
para a sua família?
Lauren sentiu o corpo gelar diante de suas palavras,
o tempo pareceu desacelerar enquanto a agente estendia uma
série de fotos, uma acima da outra, e essa sequência era
totalmente diferente das outras. Encontrou os olhos da
agente Green, resultando em uma batalha de vontades. Essa
era uma provocação, ver se ela poderia olhar para baixo e não
se sentir afetada.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Finalmente, depois do que pareciam minutos, Lauren
desviou os olhos e olhou para baixo. Contra uma porta de
madeira, com as pernas esticadas para frente, estava seu pai.
Ao contrário dos outros homens, seus olhos estavam
fechados, e se não fosse pelo sangue que empapava sua
camisa, poderia se dizer que estava dormindo.
Havia dúzias de fotos, de todos os ângulos, às vezes
apenas alguns milímetros diferenciavam uma da outra.
Olhando-as, sabia que não estava pronta para vê-los através
dos arquivos criminais de seu pai. Ainda não.
Lauren fechou a mão em um punho, tentando
ocultar seu tremor. Limpando a garganta, colocou as
fotografias cuidadosamente dentro da pasta, mantendo-a a
seu lado da mesa, apenas para o caso de a agente decidir
abri-la outra vez.
— Quão terrível deve ser conviver com os rostos dos
homens que levaram tudo de bom de você? Imagino o quanto
deve doer.
Durante anos, Lauren se agarrou ao ódio, e por um
tempo deixou-o consumi-la, mas não mais. Ela estava em paz
com ele e não importava o que a agente Green dissesse, não
estava a ponto de culpar Mishca novamente.
Lauren olhou para cima, sem ao menos piscar
enquanto admirava o rosto de uma mulher que faria qualquer
coisa para destruir alguém. Ruim para ela, Lauren não cairia
facilmente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não saberia te dizer. — Disse, com sua voz
tranquila e calma. — Eu não vi Viktor ou Ivan em um longo
tempo.
Seu rosto de falsa tristeza e preocupação se
transformou para uma carranca agitada enquanto tentava
manter a compostura.
— Terminamos? — Perguntou Lauren, já de pé, mais
do que pronta para deixar este episódio para trás.
— Realmente deve amar muito seu marido, para
apoiá-lo tão fielmente quando ele não faz o mesmo para você.
— Disse a agente Green quase pensativamente enquanto
segurava a última pasta, como se fosse seu Santo Graal.
Supondo que a reunião estava terminada, Lauren
estava mais do que pronta para sair dali, mas cometeu o erro
de se virar para encará-la, disposta a lhe dar uma resposta,
mas ficou sem fala quando viu as novas fotos de vigilância
que a agente distribuía sobre a mesa.
Vagamente ouvia Jéssica dizer algo, mas Lauren
voltou a sentar-se, empurrando as fotos com os dedos
trêmulos. Só havia algumas poucas imagens, mas foram
suficientes.
Queria acreditar que era apenas um mal-entendido,
ou uma montagem, apenas uma foto de duas pessoas que
pelo ângulo poderia se julgar de maneira errada, mas não
havia forma de estar interpretando de maneira equivocada.
In the beginning
Volkov Bratva 3
A foto era de uma janela de hotel, as cortinas
estavam abertas, a luz da lua iluminando o quarto. Mishca
estava de pé neste quarto, só era possível ver seu perfil, mas
a garota com ele estava em posição clara o suficiente para ela
ver quem era.
Naomi.
Ela sorria carinhosamente, seus olhos centrados
unicamente em Mishca. Em cada imagem ela se aproximava
mais e mais de Mishca, seus braços indo para cima e ao
redor de seus ombros. Na última foto, aquela que a agente
Green parecia tão ansiosa para mostrar a ela era a mais
condenável.
Em sua frente, uma imagem onde Mishca beijava
Naomi. Não importava se foi Naomi quem o beijou, ele não se
incomodou em lhe contar que isso aconteceu. Lauren gostaria
de acreditar que as imagens eram antigas, não era um
segredo que os dois tiveram uma relação no passado... se
pelo menos não tivesse reconhecido a roupa que ele usou no
Brasil.
Ela não se incomodou tentando chegar a uma
desculpa adequada, porque já sabia que não havia uma que
pudesse explicar o que via agora. O sangue corria rápido em
seus ouvidos, abafando todas as vozes que ouvia através das
paredes.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren continuava concentrada na foto quando
Jéssica abriu a porta, Mishca passou por ela e entrou antes
que ela pudesse dar um passo para dentro da sala. Enquanto
a desaprovação de Jéssica era atenuada, não havia nada que
pudesse acalmar a tempestade dentro de Mishca.
Ele cuspia palavras de raiva em russo, dirigindo sua
ira totalmente a uma agente Green que parecia estar se
divertindo com tudo isso, o que o estava deixando mais
zangado, fazendo com que passasse do russo para um inglês
irritado.
— Por que trouxe minha esposa para cá?
A agente Green simplesmente sorriu, afastando sua
atenção de Lauren para centrar-se em Mishca que estava
atrás dela. — Ela era livre para sair a qualquer momento. E
não foi obrigada a vir conosco, ofereceu-se.
Embora isso fosse tecnicamente verdade, ele ficou
sem palavras quando ela disse que conseguiu despertar o
interesse de Lauren para que ficasse, porém Lauren não
estava prestando atenção na agitada discussão entre os dois,
já que continuava encarando a foto de Mishca no Brasil.
Antes que Mishca pudesse vê-la, no entanto, a agente
Green pegou-a, guardando-a. Lauren desejava poder ver o
que mais havia dentro daquela maldita pasta, só assim ela
saberia.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca a retirou da cadeira, com a mão apertando ao
redor de seu braço, e não poderia protestar enquanto era
praticamente arrastada da sala. Ao sair da delegacia de
polícia, Lauren viu o detetive Rodríguez. Por um momento,
perguntou-se o que ele estava pensando, mas quando sua
boca e testa se franziram, já tinha uma ideia bastante clara.
Demorou pouco tempo para estrarem no carro de
Mishca, e menos ainda para entrarem no tráfego da tarde,
mas levou um tempo para Lauren tomar coragem para
finalmente interrogá-lo, mas ele se adiantou.
— O que ela te perguntou?
Lauren o olhou, tentando ver por trás da máscara
enganadora, perguntando-se se veria qualquer culpa em seu
rosto quando lhe perguntasse sobre Naomi.
— Mostraram-me fotos da cena do crime de meu pai
— disse com a voz baixa, sua voz soando tranquila até
mesmo para seus ouvidos.
Mishca se moveu incomodado, mas não retirou os
olhos de cima dela. Tinha um brilho curioso neles, como se
soubesse de alguma forma que ela estava escondendo algo
dele, mas ele ainda teria que lutar para que ela dissesse o
que a estava perturbando.
— Sinto muito por isso.
E não duvidava de que ele falava a verdade, mas pela
primeira vez, o crime de seu pai era a última coisa que
pensava no momento.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— E Ivan. — Continuou, com seu tom morto, seu
olhar entristecido enquanto o olhava. Antes sempre sentiu
algo, mas agora enquanto observava Mishca encarando-a não
sentiu nada. — E Viktor. E Anatoly. Acredito que subestimei
sua necessidade de vingança.
Foram interrompidos quando seu telefone tocou, mas
Mishca não atendeu imediatamente. Era como se sentisse
obrigado, como ela a procurar respostas em suas expressões,
e ao que estava lhe contando.
Quando atendeu ao telefone, Lauren permaneceu em
silêncio durante o restante do trajeto para casa, ignorando a
conversa de Mishca em seu telefone.
Ele às vezes a olhava, como que esperando que ela
dissesse algo, mas quando não o fez, ele franziu o cenho.
Apenas quando estavam chegando em casa ele
terminou a chamada, mas nesse momento Lauren já pensou
em todas as possibilidades de desculpas que Mishca poderia
usar, e ainda não encontrou nada que ele pudesse dizer que
fosse acalmá-la.
Ela entrou na cozinha sem dizer uma palavra,
procurando no bar a garrafa de vodca que sabia que Mishca
guardava ali. Desenroscou a tampa e jogou-a sobre o balcão,
sem se preocupar com um copo ela apenas inclinou a garrafa
em seus lábios, engolindo o líquido que queimava.
Mishca que não estava muito atrás dela, terminando
outra chamada, tomou a garrafa de suas mãos. — Chto eto
takoya. — O que é isto?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ela limpou a boca com o dorso da mão, sentindo
ainda o álcool queimar seu estômago, enquanto o encarava.
— O que aconteceu no Brasil?
Era uma maldição conhecer alguém tão bem que
pudesse ler facilmente cada expressão em seu rosto.
Passaram-se apenas alguns segundos, mas foi tempo
suficiente para ela ver a verdade em seus olhos.
— Não minta para mim — disse rapidamente, quase
vendo a mentira se formando em seus lábios. — Qualquer
que seja a merda de desculpa que esteja a ponto de dizer,
guarde-a. Diga-me o que aconteceu com Naomi.
— Como...?
— Um fantasma me disse. Como cacete acha que sei
Mishca?
— Agora não é o momento, Lauren!
Com cada palavra que saia de sua boca que não era
uma explicação do que aconteceu, sua raiva crescia. Sem
dúvida, se ele se incomodasse explicando-lhe tudo, dado
qualquer desculpa, ela teria tirado isso de sua mente apenas
por confiar nele tanto assim.
Mas quando evitou a pergunta, toda a raiva que
sentia aumentou e as dúvidas consumiram seus
pensamentos com todas as possibilidades.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Dormiu com ela? — Perguntou.
Mishca não precisava olhar para ela para saber que
temia a resposta. Isso significava que, ao menos uma parte
dela acreditava que ele realmente fez isso. Não tinha o direito
de estar chateado com ela por sua suposição, mas isso o
incomodava do mesmo jeito.
— Já lhe disse, não aconteceu nada! Esqueça.
Ele nunca foi bom com as palavras, sobretudo
quando sua vida com Lauren e sua vida na Bratva se
cruzavam. Agora com as palavras pairando entre eles, ele
podia sentir sua fúria intensificar-se, e ela o empurrou por
trás, forçando-o a girar ao redor e segurar suas mãos.
Seus olhos brilhavam, e seu corpo estava tenso, e se
não fosse pelo fato de que sabia que ela lhe daria uma
bofetada — ela tinha o dom para golpeá-lo desprevenido —
sempre que ele a magoava, ele teria lhe dito que ela estava
extremamente sexy naquele momento.
— Eu sou sua esposa! — Ela virou-se para ele,
tentando libertar-se de seus braços, mas ele segurou firme. —
Não vou ser tratada como um maldito capacho!
— Nyet! — Explodiu Mishca — Não transei com ela.
Você sabe disso!
— Eu não sei de nada! Como maldição poderia saber
quando você está mentindo para mim. Ela foi a razão para ter
feito essa viagem? Por que tive que saber pela maldita agente
do FBI que você estava se encontrando com ela?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Com os olhos entrecerrados, ele deu a volta no balcão
até que estivesse a centímetros de seu rosto, obrigando-a a
levantar a cabeça para olhá-lo nos olhos. Já não se tratava
mais dela duvidando dele, e sim como o FBI sabia disso.
— O que ela disse?
— Mishca.
— Diga-me, agora!
Ela estremeceu, com um medo que ele nunca
esperou ver em seus olhos. Odiava vê-lo, mas precisava que
respondesse, e embora temesse o que lhe diria, tinha que
ouvi-lo.
— Ela não me disse nada. — Apesar de falar em voz
baixa, ainda havia força em sua voz — Eles tinham algumas
fotografias, mas vi apenas uma, onde você a beijava.
Ele a soltou e afastou-se incapaz de dizer uma
palavra, e nem ao menos saberia o que dizer também.
Mishca saiu do apartamento, com o sangue agitando
suas veias, entrou em seu carro e saiu em disparada. Seus
nervos estavam dilacerados, e só daria uma volta pela costa
da cidade enquanto a noite caia.
Não só essa agente levou Lauren para seu escritório,
mas não havia nenhuma maneira que ela poderia saber sobre
o Brasil, não quando a viagem foi espontânea. Mesmo se
estivessem sob vigilância há algum tempo, Mishca sabia
como trabalhavam, e a burocracia que seria conseguir uma
autorização desse porte, eles não teriam sido autorizados a
segui-lo até o Brasil com tanta rapidez.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca não duvidou, Mikhail tinha razão sobre ter
um rato passando informações para o FBI.
Só havia poucas pessoas por dentro de sua viagem ao
Brasil, mas apenas uma delas sabia sobre seu encontro com
Naomi...
Vlad.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Ao ver-se sozinha, Lauren perguntou-se por quanto


tempo duraria uma situação complicada como esta,
questionando-se onde estaria Mishca, e o que estaria
acontecendo com ele. Não era segredo que algo que disse o
incomodou, não sabia se isso era por interrogá-lo sobre
Naomi ou o fato de que a Agente Green o apanhou no meio
de... bem, seja lá o que estivera fazendo, ela não sabia.
Suspirando, pegou novamente seu celular,
deslizando o dedo pela tela para comprovar que não existiam
chamadas perdidas. Ainda aumentou o volume do aparelho,
apenas para ter certeza que ouviria quando tocasse. Era
inútil, sabia, mas ao fazê-lo teve um pouco de tranquilidade.
As horas passaram uma a uma lentamente, até o
ponto de desistir de esperar que Mishca chegasse. Fazia
tempo que suas lágrimas secaram e agora havia apenas uma
dormência que preponderava. Mesmo deitar-se nesta cama
parecia errado, especialmente por não saber tudo que Mishca
lhe escondia.
Empurrando a coberta de lado, ficou de pé,
caminhando até o closet onde retirou uma mochila e colocou
algumas de suas coisas dentro. Lauren não iria embora
ainda, não sem explicações, porém isso não significava que
In the beginning
Volkov Bratva 3
tinha de ficar no mesmo quarto que ele até descobrir o que
queria saber.
Com o tamanho da cobertura em que moravam,
poderia viver confortavelmente em um lado da casa sem ter
de encontrar-se com ele, sobretudo conhecendo seus
horários. O quarto de hóspedes no andar de baixo já estava
praticamente arrumado, e Lauren não teria muito a fazer, só
pegar lençóis para arrumar a cama.
Em vez de afundar-se em tristeza, abriu seu
notebook, apresentando pedidos de inscrição antes de ir para
o site da faculdade de Stanford, a Alma Mater de seu pai.
Seria uma grande escola para ir — provavelmente impossível
para entrar— porém o único problema era que a escola ficava
na Califórnia. Agora não podia mais pensar só em si mesma,
também tinha que pensar em Mishca.
E tinha sérias dúvidas de que ele aceitaria sua
estadia na Califórnia, enquanto ele permaneceria em Nova
York.
Em pouco tempo, ouviu o sinal do elevador, então a
voz de Mishca chamando-a. Uma parte de si queria ficar em
silêncio e ignorá-lo por completo, mas tinha ao menos que
deixar que soubesse que estava a salvo... e depois ignorá-lo.
Fechando a tela de seu computador, foi até a porta,
abrindo-a ao mesmo tempo em que Mishca a empurrava. Ele
não parecia bêbado, mas o cheiro de álcool exalando dele era
muito forte.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele estendeu a mão para ela, porém ela se afastou
antes que pudesse tocá-la. A reação foi involuntária, mas
podia ver por sua reação que o ofendeu de qualquer modo.
— Por que está aqui?
Agindo como ele agiria, ela encolheu os ombros,
corajosamente encarando-o quando disse — Não acredito que
possa dormir ao seu lado.
Suspirando, ele passou a mão pelos cabelos, lutando
por um pouco mais de paciência. — Você está sendo ridícula.
Não aconteceu nada!
— Se nada aconteceu, você teria me contado sobre
isso. Apenas aceite isso Mish. Você mentiu e foi pego.
Assuma seus erros.
Mas ele parecia incapaz de fazer precisamente isso.
Lauren não entendia o porquê ele estava tão resistente em lhe
dizer o que aconteceu... a menos que sua suspeita fosse
verdadeira.
Esse pensamento ameaçava destruí-la, mas Lauren
negava-se a aceitar, não até que Mishca lhe dissesse tudo.
Que as pessoas a chamassem de ingênua, voluntariamente
ignorante, mas não aceitaria nada menos.
— Venha para nosso quarto!
Suspirando, porque sabia que ele não cederia, ao
menos não esta noite, deu um passo para trás e fechou a
porta na cara dele.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Lauren ficou no quarto de hóspedes por todas as


noites da semana seguinte, e quando podia, evitava Mishca.
Queria sentir-se mal pelo que fazia, mas estava decidida a
não ceder. Tudo o que precisava saber sobre o caso poderia
saber por Alex, ou Luka em qualquer oportunidade que se
encontrasse com ele, já que era seu segurança agora. Não
acreditava que ele se importasse em ser demitido,
provavelmente porque ainda a seguia por todas as partes,
apesar de todos os seus protestos.
As coisas entre ela e Mishca nunca estiveram tão
ruins, talvez um pouco pior que ruim, já que nem ao menos
se falavam, apesar de viverem juntos.
— Se hipoteticamente ele beijou outra mulher —
especialmente aquela cadela — vou fazer da vida dele um
verdadeiro inferno — disse Amber protetoramente, o vento
tornando difícil para Lauren compreendê-la pelo telefone. —
Mas eu digo que se ele quiser lhe falar sobre o que aconteceu,
você ainda deve ouvi-lo.
— Eu só quero saber como resolver isso. — Lauren
disse, embora estivesse feliz por Amber concordar com ela.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Bom, ele deveria estar rastejando aos seus pés,
depois de aprontar em suas costas, mas ao menos deve
deixá-lo se explicar. Pode ter sido alguma missão secreta que
não sabemos.
Depois que o caso de Mishca parou em todos os
jornais, todo mundo era extremamente cuidadoso sobre o que
dizer ao telefone. Não havia nenhuma garantia de que seus
aparelhos estivessem grampeados, mas preferiam se precaver
a ter de lamentar depois.
Fora de seu quarto, ouviu quando a porta da frente
bateu.
— Espere, acredito que Mish está de volta.
Lauren saiu da cama, indo até a porta da suíte
abrindo-a, não apenas querendo sair e ser outra pessoa, mas
tinha razão. Era Mishca.
E estava zangado.
— Amber, terei de lhe retornar um pouco mais tarde.
Vagamente escutou uma resposta da amiga antes de
Mishca retirar o celular de sua mão, jogando-o por sobre seu
ombro, caindo na cama. Sem sequer um olá, ele a agarrou
pela cintura e praticamente — não tendo a certeza de como
ele o fez — jogou-a nos ombros e a levou para o quarto
principal. Sentia-se muito chocada para iniciar uma nova
briga, uma vez que sabia o que viria, definitivamente não
lutaria contra isso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele a colocou no chão, muito mais suave do que ela
esperava, no sofá do outro lado da cama, pegando um
banquinho para sentar-se a sua frente. Quase sorriu, ao
lembrar-se das outras vezes que ele fez a mesma coisa para
ter sua total atenção.
Tirando um pequeno dispositivo eletrônico de seu
bolso, ele apertou o botão que estava na lateral do aparelho, e
colocou-o de lado em sua perna. Ante sua expressão
perplexa, ele explicou — Isto aqui bloqueia os sinais de rádio.
Se houver alguma escuta aqui não vão ser capazes de ouvir
nada que estamos dizendo.
— Por que colocariam...?
— O Brasil não foi uma viagem de lazer Lauren —
interrompeu-a. — Eu conhecia Naomi melhor que ninguém,
seus hábitos e costumes, onde daria o próximo golpe.
Perguntei a Lucia se ela poderia configurar a venda, como um
favor a um velho amigo de modo que eu pudesse atraí-la para
lá. Ela não era tão inteligente quanto pensava.
Lauren cruzou as mãos no colo, tentando não
demonstrar como se sentia sobre esta revelação.
— Logo que ela pisou em solo brasileiro, eu tinha
homens de Marco atrás dela, seguindo cada um de seus
movimentos, até que eu mesmo pudesse chegar a ela.
— Foi na noite em que saiu com Vlad — adicionou
em voz baixa, relembrando aquele tempo, também não
perdeu como seus olhos se estreitaram quando disse o nome
do outro homem.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Sim, encontrei-a em um restaurante, e depois a
levei até sua suíte — ele fez uma pausa nesse ponto, e apoiou
as mãos em ambos os lados dela, enjaulando-a. — Ela me
beijou, e eu deixei. Precisava que ela acreditasse que as
coisas entre nós estavam bem até que Marco chegasse.
Ele deu um suspiro longo e duro, com seus olhos
piscando rapidamente — sinto muito por ter te machucado,
mas não posso pedir desculpas pelos resultados que tivemos.
— Porque você está falando de Naomi no passado? —
Perguntou-lhe mantendo o olhar. Precisava escutar o resto.
— Isso é porque a entreguei para Marco, e se já não
estiver morta, desejaria estar. — Todo seu corpo ficou tenso
quando se aproximou dele um pouco, mas não foi por causa
do que dizia, e sim por seu olhar queimando em seus olhos.
— Por quê?
Ele soltou uma risada sem humor. — Você realmente
precisa me perguntar isso?
— Eu quero ouvir você dizer isso.
— Eu poderia lhe dar uma lista de razões, mas a
única que importa é que ela te condenou à morte. Fiz tudo
que podia para ajudá-la, mas ao invés de me dar a porra do
diamante, enviou Brahim atrás de você. E isso para mim foi
imperdoável.
Lauren não sabia o que pensar disso. — E se mais
alguém agir contra mim, você irá matá-lo?
Sem um pingo de dúvida ele respondeu — Sim. Este
é quem eu sou, quem eu sempre fui.
— Nem sempre. — Ela sussurrou.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Sim, sempre fui assim. Ivan, Viktor, Naomi, Lyov,
e se não fosse por Klaus, Brahim também seria morto por
mim. Sempre a protegi de tudo, porém o medo é paralisante,
e foi a razão pela qual tantos agiram contra mim desde que se
tornou em uma parte importante de minha vida. Agora, eles
se lembram.
Neste momento ele pareceu tão frio e distante,
entretanto foi firme em tudo o que dizia.
— Há algo mais que eu deva saber?
Negou com a cabeça. — Não.
Exceto, que não acreditava nisso. — Diga-me a
verdade. Antes de hoje, você esteve vagando por aí como um
fantasma, por dias a fio, bebendo em excesso. O que está
acontecendo?
Os músculos de sua mandíbula trabalhavam, e ficou
bastante claro que não queria falar mais sobre o assunto. —
A totalidade do caso contra mim se baseia em informações
que algum informante está passando ao FBI.
— Mas para que possam te prender sob a acusação
RICO, quem estiver passando as informações tem que ser
uma fonte totalmente confiável, não é? Isso significa que é
alguém de dentro da Bratva.
— Sim.
— E você sabe quem é? — Perguntou, embora uma
parte sua já soubesse a resposta.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Fazia sentido agora, o modo como esteve bebendo em
excesso, agindo de maneira estranha, permanecendo fora até
altas horas da madrugada. Sabia que em parte era pelo fato
de que estavam brigados, mas sempre sentiu que tinha muito
mais coisa em sua cabeça.
— Isso importa? — Perguntou em tom sério.
— Mish, isso está te consumindo e só estou tentando
ajudá-lo.
Mesmo antes de ter conversado com Amber, pensou
em ir procurá-lo, exigindo que lhe desse alguma explicação,
mas agora que tinha uma, sentia-se pronta para deixar tudo
isso para trás, mas ele não estava disposto a deixá-la saber
com o que lidava agora.
— Não há nada para me ajudar.
Não havia nada a se fazer se ele não estava disposto
a se abrir com ela. Ela fez o mesmo a ele, negando-se a
escutar sua explicação sobre o que ocorreu no Brasil, mas se
colocou na defensiva, e teria que ter paciência com ele, e
estar sempre acessível para quando ele tivesse necessidade
de compartilhar o que o perturbava.
Até lá, daria o espaço de que ele precisava.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Nunca foi fácil ver Lauren afastando-se dele, mesmo


que fosse apenas para outro quarto, mas ela estava certa ao
dizer que ele estava desmanchando-se. Mishca prosperou
mantendo tudo a sua volta em perfeita ordem, sempre
preferiu manter todos os aspectos de sua vida
cuidadosamente controlados, e quando não podia, encontrava
uma maneira de fazê-lo. Isso era como sempre foi, embora
desta vez, não houvesse nada que pudesse fazer para
solucionar o problema.
Apesar do estilo de vida que levava, e da
desconfiança geral daqueles que o rodeavam, Mishca nunca
duvidou da lealdade de Vlad nem por um segundo. Ele
sempre esteve ali, e o demonstrou em diversas ocasiões, mas
agora que Mishca relembrava os acontecimentos dos últimos
anos, tentou se lembrar de algum momento em que Vlad na
realidade matou alguém, ou fez algo remotamente ilegal para
a máfia.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Claro... ele carregava uma arma o tempo todo, fazia
negócios para Mishca, mas nada que fosse tão ruim quanto
as coisas que Mishca mesmo fez. Não tinha importância para
ele no momento — sobretudo porque às vezes Mishca agia
por impulso — então Vlad jamais disparou sua arma. Ele
sempre ficava em segundo plano, apenas observando os
negócios se desenrolarem.
Como pôde ser tão cego.
Sozinho com seus pensamentos, Mishca não podia
deixar de pensar em sua relação com Vlad, que já estaria por
volta de uma década de duração... um amigo que nunca foi
realmente amigo. Lembrou-se de uma vez ter-lhe perguntado
por que nunca esteve com uma mulher, mas agora se
perguntava se não era pelo fato de já ter uma esposa.
Será que ela esperava por ele uma vez que o trabalho
estivesse terminado? Mishca não duvidava que se de fato esta
mulher realmente existisse, ela estaria no programa de
proteção a testemunhas juntamente com Vlad — a única
solução segura, agora que Vory v Zakone conhecia sua
identidade. E sobre crianças?
Estas perguntas infestavam a cabeça de Mishca
constantemente, mas isso não era a razão pela qual procurou
consolo no fundo de uma garrafa de vodca.
Era porque Mikhail lhe deu à ordem para matar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
O promotor de justiça não poderia pensar que
prendendo Mikhail, impediria as atividades da Volkov Bratva.
Seu alcance ia muito mais longe que alguém poderia
imaginar, e no pouco tempo em que foi posto em liberdade
antes de voltar a ser detido, Mikhail já deixou todas as ordens
em andamento.
Mishca nunca duvidou de que seria ele quem
receberia a ordem — Vlad trabalhava sob seu comando
especificamente. Tanto temia como esperava por isso, não
gostava da ideia de que alguém muito menos compassivo que
ele fosse atrás de seu amigo. Desobedecê-los, tendo em conta
que a ordem veio do alto escalão da Bratva, mais acima até
mesmo que Mikhail, significaria a morte certa para si. E
aqueles velhos russos não matariam Vlad de imediato, eles o
torturariam sem piedade antes de matar todos que lhe eram
preciosos, e só depois ele encontraria seu fim.
Mas procurava não pensar muito nisso, colocando a
iminente morte de Vlad no fundo da sua mente.
Uma parte dele, e Mishca algumas vezes odiava essa
parte de si porque desejava que os pensamentos sumissem de
uma vez, o pensamento de como Vlad, mesmo como um
homem morto andando, poderia ajudá-lo. Ninguém falava
sobre isso, embora sem dúvida lembrassem que Mikhail foi o
único a trazer Vlad para a Bratva. Este era um delito cuja
punição era a morte, mas como Mikhail era um Pakhan, ele
se livrou.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Um só toque no celular que Klaus lhe deu, fez
acender a tela do pequeno aparelho acusando o recebimento
de uma mensagem, já sabendo o que a mesma dizia...
Era hora.
Pegou, leu as instruções de localização, repassando
não a rota mais rápida, e sim a rota mais segura em sua
mente. Levou um momento, olhando para a porta do quarto,
imaginando Lauren do outro lado. Pensou em entrar e lhe
dizer que sairia por algumas horas, mas não se atrevia a fazê-
lo. Ela faria várias perguntas, e com o humor em que estava,
não lhe daria as respostas que ela queria.
Ao invés disso, saiu do apartamento em silêncio,
tomando o elevador de serviço para o térreo, saindo do prédio
discretamente. Encostado na beira da calçada e longe das
câmeras de vigilância um carro discretamente esperava
Mishca.
Klaus desceu, parecendo-se mais com Mishca que
nunca, agora que deixou crescer sua barba. O
relacionamento deles havia mudado um pouco. Klaus fazia
questão de ser um espertalhão sempre que podia, agora, pelo
menos fazia isso apenas quando Mishca estava de bom
humor.
— Tranquilo, russo.
Em um mundo perfeito, Mishca teria sido capaz de
abraçá-lo, discutir seus problemas com ele, mas não estavam
nesse mundo melhor, e duvidava que alguma vez estivessem.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Assentindo, Mishca entrou no carro, deu marcha à
ré e saiu a toda velocidade. As janelas foram matizadas por
insulfilme no tom mais escuro que a lei permitia, fazendo com
que Mishca deixasse de se preocupar com as câmeras pelas
quais passaria.
Demorou pouco tempo para chegar ao motel
decadente em que Klaus escondeu Vlad. Desde que Klaus foi
parte de uma equipe de extração durante seus primeiros anos
como mercenário, foi até fácil para ele encontrar Vlad com
pouquíssimo esforço.
Mishca tinha outras preocupações no momento,
porém ele não podia ter essas distrações agora.
Parou no estacionamento de trás, caminhando os
primeiros metros até parar em frente ao quarto 701. Já
colocou suas luvas.
Girando a chave na fechadura, Mishca destrancou a
porta, empurrando-a apenas o suficiente para que pudesse
entrar, antes de tornar a fechá-la atrás de si, entrecerrando
os olhos mediante a baixa iluminação.
Para sua surpresa, Vlad não estava preso de maneira
alguma. De fato, estava sentado perto do abajur na sala, um
cinzeiro cheio de bitucas de cigarros esmagados ao seu lado.
Pela primeira vez em anos, Vlad aparentava sua
idade. Depois de anos de serviços, Vlad sabia o que faziam
com aqueles que traíram a organização. Eles nunca foram
tímidos em fazer um exemplo das pessoas. Não importava
que ele estivesse sob toda a proteção do FBI, a Bratva teria
chegado a ele independentemente.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Vlad soltou uma baforada de fumaça enquanto
observava Mishca, deixando seu cigarro na beirada do
cinzeiro. — Sabia que mandariam você.
Era raro que Mishca estivesse sem palavras,
especialmente quando tivera tempo para se preparar. Queria
ser frio, ser indiferente, mas ao ver Vlad ali, sabendo o que
teria que fazer, forçou as palavras que disse tão
insensivelmente a suas vítimas no passado para a parte
posterior de sua mente.
— Antes de me matar, deveria ao menos me ouvir.
Mishca com frequência comentava sobre como as
pessoas que enfrentavam a morte se dividiam em duas
categorias: os que estavam dispostos a implorar por sua vida,
e os que se negavam a dizer uma palavra.
Vlad não se encaixava em nenhuma destas
categorias.
— Eu queria mudar o mundo, foi por isso que entrei
para o FBI, pelo que eles defendiam, mas ao fazê-lo, acabei
me perdendo no caminho. — Vlad tinha um olhar distante em
seus olhos. Lamentando ou simplesmente lembrando o
passado, Mishca não saberia dizer. — Eles... você não era o
trabalho.
— Houve tantos agentes que foram desonestos,
desertando para se afiliar ao outro lado, e jurei que nunca
faria isso — baixou o rosto em suas mãos. — Não o fiz, mas o
pensamento sempre esteve lá. Vi você crescer desde que era
um menino. Vi sua inocência, observava seu pai tentando
In the beginning
Volkov Bratva 3
manchá-la, mas mesmo enquanto cometia muitos erros,
ainda via aquele menino em você.
Mishca tinha sua arma na mão, apontada para o
peito de Vlad o tempo todo em que ele falava, mas a cada
palavra, sua determinação vacilava. Mesmo se tentasse
disparar um tiro neste momento, sua pontaria não seria
certeira.
— Como poderiam ter esperado que eu estivesse por
tanto tempo a seu lado, e não me preocupasse com o que
aconteceria a você? — Vlad fez um gesto mostrando várias
bolsas no chão — Isso é tudo o que tenho.
Mishca olhou brevemente, só imaginando a
quantidade de informações armazenadas nelas, porém isso
tudo ainda não fazia sentido para ele. — Como eles sabiam
sobre o Brasil? E a respeito dos quartos úmidos?
— A princípio, não precisava reportar nada. Não
podíamos correr o risco de o disfarce ser descoberto no
momento, mas à medida que passaram os anos e todos
começaram a confiar em mim, era mais fácil. Green sabe a
respeito dos quartos úmidos porque se impacientou com o
que eu dava para ela, que na realidade não era muita coisa,
mas sabia que não havia nada que pudesse fazer com a
informação senão especular. Ela estava cansada do que eu
estava dando, e ameaçou terminar com a missão antes do
tempo se não lhe desse algo novo — por isso enviei as fotos
do Brasil. Elas não significavam nada no grande esquema das
coisas, mas foram suficientes para apresentar a Lauren. Não
sabia que com essas imagens iria destruir meu disfarce.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Isso não faz sentido — Mishca argumentou.
— Ela, a agente Green, agiu contra as ordens que
recebeu. Isto... — fez um gesto entre ambos — não era para
acontecer agora, e sim para talvez daqui a seis meses.
— Ainda não explica como foi fácil para Klaus te
encontrar, mesmo com o que ele pode fazer.
— Isso não explica tudo, e uma vez que se dê conta
disso, fará o que precisa.
Vlad estava tentando lhe dizer alguma coisa, Mishca
sabia disso, mas por sua vida, não podia entender o que era.
Quando ouviu o som inconfundível da porta fazer
clique ao fechar-se atrás de si, Mishca virou-se rapidamente,
seu aperto mais firme em torno da arma enquanto apontava
para o intruso que acabara de entrar. A diversão habitual de
Luka desapareceu enquanto olhava de Mishca para Vlad.
Agora que estava aqui, Mishca tinha de se preocupar com
outra pessoa em potencial, enviada para lhe impedir de levar
a cabo um plano que nem sequer estava seguro ainda de que
faria. Entretanto se perguntou como Luka poderia saber onde
estava, quando o próprio Mishca só tomou conhecimento da
localização poucas horas atrás.
Ignorando a presença de Luka por hora, Mishca
voltou a olhar para Vlad, com o coração acelerado. Neste
momento, tinha apenas duas opções, sendo que ambas
seriam prejudiciais a ele. Vlad poderia viver e Mishca perderia
tudo que construiu com Lauren, ou poderia terminar isto
agora, e transformar-se na única coisa que jurou não voltar a
ser.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Vlad podia ver a dúvida em seus olhos, as palavras
que não se atreveria a dizer. Mesmo se fosse possível para ele
sair vivo desse quarto, Vlad sabia que a vida de Mishca
estaria em risco, e também colocaria Lauren em perigo por
causa disso.
Vlad negou com a cabeça em um gesto discreto, e
manteve um triste sorriso em seus lábios — Acabou, menino.
O braço de Mishca tremia, o seu objetivo vacilando
de novo. Era difícil, ali de pé tentando manter a compostura
quando a única coisa que desejava era poder afastar-se dali
sem tomar partido do que aconteceria. A umidade em seus
olhos turvou sua visão, fazendo com que praticamente não
enxergasse nada, mas ele viu, uma forma imprecisa apenas
pelo canto do olho, e quando se deu conta do que estava
acontecendo, já era tarde demais.
— Não!
Mas Luka já apertou o gatilho antes que Mishca
tivesse pronunciado uma só palavra.
Vlad não gritou, não quando a primeira bala lhe
atingiu o peito, nem mesmo com a segunda. Ele já estava
esperando por sua punição depois de tudo, embora não de
Luka. Seus olhos estavam arregalados por um momento
antes de lentamente se fecharem, seu corpo foi caindo frouxo
na poltrona.
Mishca girou com fúria, sua arma apontada para o
coração de Luka. Queria que temesse o que ele faria.
Precisava disso, mas Luka recusou-se, sob o ódio nos olhos
de Mishca.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Incomodou-o que Luka estivesse ali, sem se afetar,
apesar de ter acabado de matar um homem. Com sua raiva
mal contida, Mishca bateu o punho direito primeiro em sua
mandíbula, e logo em seguida em seu nariz.
A princípio Luka não se defendeu, embora seu nariz
sangrasse muito. Ao invés disso, ele apenas sorriu o sangue
manchando seus dentes, seus olhos adquirindo um brilho
maníaco, enquanto ria como se achasse a situação
engraçada.
Em seguida, seu olhar tornou-se vazio, como se ele
não estivesse totalmente lá.
Antes que Mishca pudesse golpeá-lo novamente,
Luka desviou e contra-atacou, mais rápido do que Mishca
pensou ser possível, tomando o dedo indicador de Mishca,
quebrando-o no processo enquanto o desarmava com
eficácia. Não parou por aí, varrendo suas pernas para
derrubá-lo ao chão.
Luka se mantinha em cima dele lutando ainda pelo
domínio da arma em sua mão, enquanto golpeava contra seu
joelho. Mishca sempre admirou a facilidade com que Luka
podia desarmar um inimigo e matá-lo com pouco esforço,
mas agora que ele estava do outro lado, compreendia o que os
outros viam em Luka.
Nunca viu ninguém ir da completa calmaria a fúria
mortal em um intervalo de poucos segundos. Às vezes o
incomodava, mas na maioria das vezes o comportamento
maníaco de Luka o divertia. Agora, ele pensou que algo
estava seriamente errado com o executor.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Sua voz não demonstrou qualquer diversão que
sentisse minutos antes. — Nunca gostei de ser golpeado.
O que ele esperava que Mishca dissesse?
Mas ele não parecia estar à espera de uma resposta
ao continuar. — Ele tinha que morrer, você sabe disso. Agora,
termine de se despedir para que eu possa cuidar do corpo.
Luka levantou a arma como uma oferta de paz, e o
olhar morto em seus olhos foi dando lugar ao habitual bom
humor de sempre.
Era um excelente homem para se ter ao lado, mas
Luka também podia ser um inimigo letal, e qualquer pessoa
que pensasse em cruzar seu caminho não viveria o suficiente
para lamentar o fato.
De frente a seu executor, o silêncio no quarto quase o
sufocou. Mishca nunca se sentiu tão fora de controle em sua
vida.

Lauren ouviu a porta principal se fechando, mas não


se incomodou em sair do quarto, sabendo que se Mishca
queria que soubesse aonde iria, teria ido lá e lhe dito. Apoiou
o rosto entre as mãos, desejando saber o que poderia fazer
para ele.
Cada vez que parecia que davam um passo adiante,
algo os golpeava e retrocediam dois mais.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando escutou o inconfundível som de passos no
corredor, Lauren imediatamente se levantou, alcançando na
gaveta do criado mudo a arma que Ross lhe deu para sua
segurança. Verificou a trava, e se estava carregada antes de
sair da cama.
Estava pronta para ferir qualquer um que estivesse
invadindo a casa, mas a voz de Klaus soou alta, dissipando
seu medo.
— Onde cacete você está?
Expirando aliviada, Lauren abriu a porta, mantendo
a arma em sua mão apenas porque era Klaus. — O que você
está fazendo aqui? —Perguntou quando o encontrou na sala
de estar.
Estava vestido casualmente, com certeza, mas ainda
havia algo sobre ele que a fez lembrar-se de Mishca.
— E por que está vestido desse jeito?
Ele deu de ombros, sorrindo para a arma que
segurava. — Em quem está planejando atirar? Ah, não
importa, vá se vestir. Estou morrendo de fome.
— Sinto decepcioná-lo — disse secamente — mas não
posso cozinhar.
— Não me diga. Não ouviu a parte em que disse para
se vestir? Quer dizer, a menos que queira usar isso. Não é
problema meu.
— Eu tenho opção? — Perguntou, não acreditando
que realmente fossem deixar a cobertura.
— Não. — Ele apontou de volta para o quarto,
sinalizando para que andasse logo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Gostava mais quando era mal-humorado e
melancólico.

Le Bleu era um restaurante no coração da cidade,


que cobrava mais pelo seu ambiente do que pela própria
comida em si. Ao que parecia Klaus já reservou uma mesa
para dois, pois quando chegaram foram diretamente
encaminhados para uma mesa acolhedora e com clima muito
íntimo, segundo Lauren, para sua atual companhia.
Sentou-se à mesa de qualquer maneira, dobrando o
guardanapo em seu colo. Observando o garçom se retirar
para lhes dar tempo de analisar o cardápio.
— Há alguma razão em especial para tudo isto? —
Perguntou gesticulando entre eles dois, principalmente
indicando a ele.
Ele pegou seu próprio cardápio, analisando os itens
listados lá antes de finalmente responder a sua pergunta. —
Não sei o que você quer dizer.
— Você odeia ternos, e ainda assim está usando um.
Tenho certeza que você é o tipo de cara que prefere
hambúrguer e batata frita, porém aqui estamos. Porque está
fingindo ser Mish?
Fechando o cardápio, deixou-o cair sobre a mesa —
O russo nunca te disse que você faz muitas perguntas?
In the beginning
Volkov Bratva 3
Sem se incomodar com a sua provocação, sorriu
dizendo — Talvez, uma ou duas vezes.
— Sim, eu imagino. De todo modo, preciso de um
álibi.
— Você quer dizer que Mishca precisa de um álibi.
Esse é o anel de casamento dele?
Tinha acabado de notar a enorme aliança no dedo
anelar de Klaus, e não podia descrever como se sentia por
Mishca tirá-la, e o que deveria estar fazendo que justificasse
isso.
— Oh, acalma suas merdas. Não é a mesma aliança,
é apenas uma parecida. Jesus, como é que as pessoas se
casam? Esse medo constante de traição, ser enganado, um
filho fora do relacionamento. Para não falar que a pessoa
amarra a si próprio e entrega de bandeja para os inimigos.
Por que mesmo colocar-se nisso?
Antes que Lauren pudesse responder, o garçom
retornou para anotar as bebidas que pediriam. — Klaus
pediu uma garrafa de cerveja e Lauren uma taça de vinho
Spritzer. — Ele se retirou em menos de um minuto.
— Porque quando se ama alguém o suficiente, apesar
de todos os obstáculos e merda que você tem que lidar, vale a
pena.
— Tem certeza? — Perguntou, com um tom
extremamente sério. — Apesar de tudo o que aconteceu?
Lauren olhou para seu copo, pensando no que ia
dizer. — Sim, valeu a pena cada segundo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Elevando a garrafa para ela, disse solenemente —
Boa sorte com isso.
— Então, já que parece que não vai me dizer por que
estamos realmente aqui, vai pelo menos me contar por que
resolveu ficar? Pensei que depois que encontrou o mercenário
contratado para me matar, voltaria... bom, para onde quer
que você viva antes.
— Tive uma oferta que não pude recusar... e tenho
que encontrar algo antes de ir embora outra vez.
A comida chegou e por um tempo apenas comeram
em silêncio, ao menos até Klaus fazer uma pausa, retirando o
celular do bolso, um que pensou ter visto Mishca usar.
— Sorria para a câmera.
Girando ao redor para tirar uma foto dos dois, logo o
colocou novamente no bolso.
— Definitivamente há uma razão pela qual me trouxe
aqui e não Mish. Você vai me dizer?
— Suspeito — disse depois de engolir um pedaço de
carne — que você vai saber mais do que você quer em breve.
Depois de um jantar — que durou muito mais tempo
do que Lauren acreditava ser necessário, mas ela sabia que
provavelmente era preciso, independente do que seja que
Mishca estivesse fazendo — Klaus a deixou em casa
novamente com a promessa de vê-la em breve. Mishca ainda
não estava de volta, e não havia nenhuma chamada perdida
vinda dele.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Até que se despiu e vestiu o pijama, eram onze
horas. Ia pegar seu celular quando ele vibrou. Ela olhou para
ele, surpresa ao ver o nome de Luka lá.
— Olá?
— Mishca está a caminho daí.
— Por que...?
Ia perguntar por que ligou para dizer isto, mas ele já
tinha desligado.
Algum tempo depois, ouviu a porta principal abrir-se
e fechar, os passos pesados de Mishca ecoavam na sala,
antes de ouvir o som inconfundível de algo se quebrando
contra a parede. Ficando em pé, apressou-se a sair do quarto,
vestindo um suéter, fechando-o ao redor do corpo enquanto
disparava porta a fora, com os olhos assombrados enquanto
assistia Mishca destruir seu apartamento.
Tentou chamá-lo, mas ele não parecia ouvi-la.
Lauren não queria tentar detê-lo, sabendo que o que fosse
que estivesse passando, tinha que resolvê-lo por conta
própria, depois com certeza ele lhe contaria.
Com o peito arfando, suor brilhando em sua testa,
ele vasculhou a cozinha, desaparecendo por trás da ilha.
Depois de encontrar o que parecia ser uma garrafa
na parte inferior do armário, todo o barulho parou. No
momento em que Lauren chegou a seu lado, ele já estava
terminando um terço da garrafa de whisky.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mishca sempre foi tão cuidadosamente sereno, mais
frequentemente do que não mostrando muito pouca emoção,
e agora parecia totalmente devastado. Não disse nada quando
ela se sentou em frente a ele, envolvendo os braços ao redor
dos joelhos levantados.
Ele tomou um longo gole da garrafa, limpando a boca
no dorso da mão, enquanto descansava a cabeça contra o
armário atrás dele. Um de seus dedos estava cuidadosamente
imobilizado, como se o tivesse quebrado.
— Mish, quer falar sobre isso?
Esperou até que ele baixasse o braço, descansando
sua mão em seu pulso, tentando oferecer conforto enquanto o
impedia de beber mais.
— Tínhamos um espião — disse simplesmente, seus
olhos fixos nela, embora na realidade duvidasse que ele a
visse. Era como se estivesse morto por dentro.
Ele não perdeu que ele se referiu ao espião no
passado. Ele deve ser o que causou todos os problemas pelos
quais estavam passando, mas quem seria? — O coração de
Lauren se acelerou enquanto desviava o olhar de Mishca.
A única pessoa que poderia provocar esse tipo de
reação nele era Vlad. É óbvio, não conhecia o executor da
Bratva tão bem como Mishca, mas no pouco tempo em que
passou com ele, gostou dele e sabia que Mishca o amava.
— Eu ia deixar que ele fosse — disse depois de um
momento, seu olhar caindo para um ponto qualquer do piso.
— Eu teria perdido tudo, incluindo você, a coisa mais
importante na minha vida. Sinto muito por isso.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Não tem que se desculpar, Mish.
— Eu simplesmente não poderia fazer isso, acabar
com sua vida. Não o fiz.
Ao menos isso explica o porquê Luka ligou para ela.
Lauren entendia o que ele dizia, as entrelinhas, e
enquanto isso poderia perturbar outra pessoa, ela não estava
chateado que ele não queria matar Vlad. Não poderia nem
imaginar a possibilidade de matar Ross para proteger Mishca.
Não disse nada mais, sentado lá, batendo com o dedo
contra a lateral da garrafa. Ela pensou que ele queria espaço,
estava pronta para levantar-se e deixá-lo sozinho por um
momento, mas ele a agarrou antes que pudesse ir para longe
dele, puxando-a para seu colo.
Envolveu suas pernas ao redor da cintura dele, então
seus braços abraçando-o com a mesma intensidade que ele
fazia com ela. Não se queixou enquanto a segurava apertado,
embora sentisse que quase a estava esmagando. Se isso era o
que ele precisava, ela ficaria feliz em lhe dar.
O sacrifício que precisou fazer essa noite destruiu
Mishca de uma maneira, que nunca poderia ter imaginado.
Enterrou o rosto em seu pescoço e em poucos
segundos, ela sentiu gotas quentes caírem em sua pele,
fazendo com que seus olhos lacrimejassem diante de seu
sofrimento.
— Eu sinto muito — sussurrou, silenciosamente
perguntou-se se sua vida de dor um dia teria fim.
Mishca estava perdendo tudo. Todas as pessoas que
lhe eram importantes, uma a uma.
In the beginning
Volkov Bratva 3

As coisas entre eles não pioraram, mas Lauren não


podia dizer que melhoraram também. Estava de volta ao
quarto principal com Mishca, só porque quando foi dormir no
quarto de hóspedes de novo, ele entrou imediatamente ali e a
levou de volta para sua cama.
Aquelas noites ele conseguiu dormir.
Alguns dias passaram rapidamente desde que
abandonou Vlad, naquele quarto de motel.
Algo estava se formando dentro de Mishca, e seja o
que for não conseguia dar nome ao que era, mas se sentia
desmoronando cada dia um pouco mais. Ficava fora a maior
parte do dia e normalmente não voltava para casa até as
primeiras horas da manhã. E quando finalmente ia para a
cama com ela, não se acalmava até que ela estivesse enrolada
a seu lado, seus braços ao redor da sua cintura como se
estivesse com medo de que ela o deixasse.
Não importava quantas vezes perguntasse sobre seu
estranho comportamento, ele sempre encontrava uma
maneira de distraí-la e mudar o foco para outro assunto até
que ela esquecesse o que perguntou.
Mas a cada vez ele foi se afastando mais e mais dela,
e sabia sem ter que perguntar que o que estivesse lhe
In the beginning
Volkov Bratva 3
incomodando não tinha nada a ver com o seu caso no FBI ou
com Naomi. O que quer que fosse, não gostava do isso fazia a
ele.
Agora mesmo, estava sentado no sofá, olhando para
o nada com outra garrafa de vodca em suas mãos. Apesar de
tentar dissuadi-la sempre, não ia deixar o assunto passar
desta vez até que soubesse o que lhe incomodava.
— Mish...
Ele virou a cabeça para olhá-la, com um preguiçoso
sorriso curvando seus lábios enquanto fazia gestos para que
ela se aproximasse. Quando chegou a seu lado, ela pegou a
garrafa de sua mão, colocando-a sobre a mesa.
— O que está acontecendo com você, Mish?
Mishca estendeu a mão para ela, puxando-a para o
seu colo, seu olhar já descendo a frente da camisa vagamente
abotoada que ela usava.
Ele segurou seu rosto, sentindo sua pele esquentar-
se. Tudo nele parecia tão quieto que quase parecia
sobrenatural.
— Preciso de você!
Os olhos dele vasculharam seu rosto à procura de
uma resposta.
O que quer que viu ali o fez segurar sua nuca,
puxando-a para baixo para um beijo. Ele tinha o gosto de
álcool em sua língua, mas ainda era o mesmo Mishca, e não
podia negar-se a receber esse pequeno pedaço dele.
Especialmente se isso fosse ajudá-lo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Se fossem mesmo fazer isto, ela precisava conectar-se
com ele, ter a certeza de que ele estava realmente ali com ela.
Antes que pudesse dizer alguma coisa, ele pegou a camisa
dela, rasgando-a em dois pedaços. Contendo o fôlego
exaltado, agarrando suas mãos antes que tivesse a chance de
chegar até sua calcinha.
— Deixe-me.
Agarrou a borda de sua camisa e puxou para cima,
um pequeno sorriso se curvou em seus lábios enquanto
levantava os braços para ajudá-la. Suas pernas se moviam
debaixo dela quando ele tirou os sapatos, levantando-se para
empurrar sua calça jeans e cuecas para baixo de suas coxas.
— Vai olhar para mim? — Perguntou Lauren
suavemente, apoiando as mãos sobre seus ombros.
Ele deliberadamente fixou o olhar em suas mãos
enquanto trabalhava no fecho do seu sutiã. Havia algo
distante na forma como agia, então. E não era porque ela
achava que ele não a desejava mais — podia sentir a
evidência do desejo pressionando contra suas coxas — mas
precisava muito mais da parte dele.
Ao invés de esperar para que ele tomasse a iniciativa
de acordo com sua vontade, agarrou seu rosto com as mãos
em ambos os lados. Em seus olhos, viu a agonia que ressoava
através dela, e desejava com cada parte de si poder levar essa
dor para longe dele.
Sabia de onde vinha esta dor e podia ver a verdade
que o dominava, mas não estava disposta a perdê-lo para sua
tristeza.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Beije-me.
Foi tanto um pedido quanto uma ordem. Tudo o que
ele ouviu em sua voz o fez franzir a testa, suas sobrancelhas
se alinharam quando ele se concentrou nela. Fez-lhe uma
promessa certa vez, que em sua hora mais escura, iria
encontrar o caminho de volta para ela, sem importar o custo.
Ela o queria de volta.
Atraindo-a para frente pela nuca, Mishca a puxou
para si, e ela caiu voluntariamente, provando o forte sabor de
whisky em sua língua. O braço em volta de sua cintura a
segurava mais apertado quando ela enfiou a mão entre seus
corpos, deslizando-a por seu peito e abdômen firmes até que
segurou sua ereção, que acariciou em um aperto firme e
constante.
Ele gemeu com sua voz entrecortada, o som enviando
arrepios através dela, mas ainda não era o suficiente. Ela
precisava de sua paixão, que ele só conseguia quando
baixava sua guarda para ela.
Mesmo com ela sentada em cima dele, eles
conseguiram desabotoar seu jeans e retirar de suas pernas,
mas ele não se incomodou em tirá-lo todo fora. Ela mesma
colocou-se na posição correta antes de se afundar
lentamente.
As mãos dele caíram de seu rosto para se firmar em
sua cintura, seus dedos cravando em sua pele enquanto a
mantinha sentada sobre ele. Lauren esperou para que o
aperto de seus dedos se afrouxasse, revirando os quadris,
mas ele não estava satisfeito com seu ritmo constante.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ele precisava mais rápido. Mais forte. Algo com que
pudesse combater a tormenta que estava se passando dentro
dele.
Lauren não podia grita, mal conseguindo fazer um
som quando tentou, ela segurava-o com força, aceitando tudo
que ele dava, correspondendo com o mesmo ardor.
Mas sentia que ele ainda estava se segurando, sua
mente não estava completamente ali, ele ainda resistia em
deixar ir o que estava lhe comendo por dentro.
Queria que ele voltasse à vida, para mostrar-lhe o
que ainda estava no interior desta casca de homem que ele
ostentava nos últimos dias.
Lauren agarrou seu rosto, obrigando-o a olhá-la
dentro dos olhos, esperando que ele escutasse a sinceridade
em suas palavras. — Dê-me sua dor Mish. Só deixe ir.
Demorou um segundo só olhando-a antes que ele lhe
desse exatamente tudo o que ela pedia.
Ele sussurrou palavras russas em sua voz gutural
que ela não entendia, mas sua intenção era clara. A forma
como suas investidas se aceleraram, e a picada de seus
dentes em sua pele quando mordeu seu pescoço, não forte o
suficiente para romper a pele, mas o bastante para deixar
marcas, chupando brutalmente.
Lauren tentou respirar através de tudo, aceitando
tudo o que estava sendo dado para ela, mas ou o ar não
queria ou não podia encher seus pulmões o suficiente, nem
sequer quando ele voltou a morder o lugar onde sem dúvidas
ficou uma marca, sua cabeça caiu para trás. Estava segura
In the beginning
Volkov Bratva 3
de que ele estava perto do clímax, estava pronta para senti-lo
desmoronar, mas ele se levantou com ela enrolada em seu
corpo, levando-a para o quarto, pela primeira vez, eles
estariam juntos ali depois de semanas.
Arrastou-se sobre a cama depois de colocá-la
delicadamente, penetrando-a lentamente outra vez quando
ele enganchou as pernas dela ao redor de sua cintura.
A dor que sentia, aquela agonia que o consumiu por
dias, deixou-a sair toda, descarregando no corpo dela. Mas
ela realmente não poderia reclamar, não pela forma como o
estresse em seus olhos desaparecia pouco a pouco, e a
maneira como ele a fazia se sentir no processo era totalmente
incrível.
No momento em que gozaram juntos, Lauren estava
sem fôlego e sem forças para nada além de esfregar a mão
pelas costas de Mishca.
Depois de um tempo ele retirou seu peso dela,
rolando os dois para que ficassem de lado. Sem fazer uma
pausa puxou-a para mais perto, seu domínio ainda era
insistentemente forte, mas ao menos a tensão de seu corpo
diminuiu gradativamente enquanto a mantinha junto dele.
— Obrigado. — Sua voz estava rouca e cansada.
— Não há necessidade de agradecer Mish. Faria
qualquer coisa por você. Há algo mais que possa fazer para
ajudar? — Lauren perguntou com a voz tranquila, ainda
abraçada a seu corpo.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Os olhos de Mishca continuavam enfeitiçados, ainda
escuros e selvagens pela excitação, mas ao menos agora
olhava com a sombra de um sorriso em seu lindo rosto. —
Tudo o que preciso é você.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Havia uma atmosfera diferente envolvendo Mishca


enquanto se vestia essa manhã para o tribunal. Sabia que
não poderiam apresentar nada mais para que o júri
continuasse o caso, e apesar de estar feliz com este fato, as
consequências da vida que levava pesavam sobre ele.
Era muito mais fácil para todos os outros fingirem
que Vlad não era um dos seus, agir como se não fosse mais
que uma fraude e uma praga em seu funcionamento interno,
mas para Mishca, foi uma das pessoas mais próximas que
teve. Apesar de que não foi quem apertou o gatilho, a morte
de Vlad ainda estava em suas mãos.
Lauren apareceu na porta do closet, já vestida e
pronta para ir. Parecia muito melhor do que se sentia, e
gostaria de poder sentir essa paz.
Sem ele ter que pedir, ela estendeu a mão e
endireitou sua gravata. O Brasil ficou no passado, e
raramente falava disso — muito —por causa da carga
emocional que a morte de Vlad tinha sobre ele.
Por sorte, não previa nada como isto no futuro.
— Você está bem? — Ela perguntou baixando suas
mãos para segurar as dele.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quase sorriu. Não podia pensar no número de vezes
que lhe fez essa exata pergunta nos últimos dois anos.
Mishca definitivamente não queria que se preocupasse com
ele agora, especialmente quando isto não era nada
comparado ao que enfrentaria quando se reunisse com outros
em poucos dias.
— Vamos terminar com isto.
Juntos, dirigiram-se ao palácio da justiça, que era
utilizado para as audiências agora. Este era o dia que todos
estavam esperando. Era o último dia para as pessoas que
apresentaram o caso que fosse digno de ir a julgamento.
Poucas pessoas sabiam que a decisão não estaria a favor da
acusação.
— Onde está Luka? — Perguntou Lauren olhando ao
redor, completamente alheia ao que aconteceu com ele e
Mishca.
Para falar a verdade, Mishca não viu o assassino
desde a noite, no quarto do hotel de Vlad, e se alegrou disso.
No momento, não sabia o que lhe dizer, e apesar de seu
temperamento, Mishca não queria lhe dizer algo com raiva.
— Vai estar aqui em breve, estou certo disso.
Repentinamente, Luka apareceu logo atrás do
Procurador do Estado. Tinha o rosto impassível, mas piscou
para Lauren enquanto se dirigia à mesa de defesa. Quando
encontrou o olhar de Mishca, só inclinou a cabeça em sinal
de respeito.
In the beginning
Volkov Bratva 3
No final, Mishca direcionaria toda sua ira a ele, mas
não estava seguro de quando seria esse dia. Até lá, manteria
distância.
A agente Green não ficou atrás, e se sua expressão
fosse algo para se julgar, sabia que isto estava prestes a
terminar, e não a seu favor. O Procurador do Estado não
parecia particularmente feliz também, mas ela não mostrava
nenhuma emoção.
Jessica olhou para Mishca, e em voz baixa perguntou
— Está tudo em ordem?
Trabalhava para Mishca durante anos, e, igual a
tantos outros que fizeram um juramento de obedecer à lei em
todos os aspectos, sucumbiu a seu lado muito antes que
viesse a trabalhar para ele. Enquanto recebesse seu dinheiro,
guardaria seus segredos.
No momento em que o juiz chegou a sua cadeira,
parecendo menos que impressionado quando o Procurador do
Estado muito obviamente tentou ganhar tempo, Jessica o
interrompeu, querendo terminar com isso.
— Vendo como a acusação não conseguiu cumprir o
seu ônus da prova, eu acredito que é justo que todas as
acusações contra meus clientes sejam extintas sem
julgamento.
— Vossa Excelência — o advogado do Estado
imediatamente protestou — o Estado só precisa um pouco
mais de tempo para localizar nossa testemunha.
— Isso só nega a meus clientes o direito a um
julgamento rápido.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Vossa Excelência...
Atrás de suas lentes bifocais, o juiz olhou primeiro,
fixamente a Mishca, em seguida voltou seu olhar ao advogado
do Estado com cara fechada, interrompendo-o. —
Infelizmente, estou inclinado a concordar com a defesa. —
Reclinando-se para trás, o juiz Cantem levantou seu martelo
e anunciou — Todas as acusações contra os réus, Mishca
Volkov e Luka Sergeyev, são retiradas com desculpas desse
tribunal.
O martelo golpeou, o som ecoando pela sala de
audiências. Lauren ficou de pé, suspirando de alívio quando
caminhou para frente, envolvendo seus braços ao redor dos
ombros de Mishca.

Apesar de o veredicto estar a seu favor, Mishca não


desfrutou como muitos em sua situação. Só Lauren sabia o
porquê. Sussurros começaram pela sala, o choque claro de
quão rápido foi o julgamento de Mishca. Não seria a primeira
vez que um membro do crime organizado esteve dentro e fora
do tribunal em menos de um mês.
Para Mishca não importava como parecia o caso,
estava ansioso e preparado para sair e deixar tudo para trás.
Não podia dizer quanto tempo levaria para superar isso, mas
enquanto puxava Lauren para si, não lhe importava nada, só
que ela ficasse ao seu lado.
Apertando a mão de sua advogada, Mishca prometeu
primeiro transferir seu dinheiro, e verdadeiramente, estava
pronto para sair.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas a agente Green estava menos que satisfeita com
o veredicto, e não podia permitir o luxo de ter Mishca Volkov
saindo do tribunal, a menos que saísse algemado. Sabia que
não era o único. Claro, que poderia ter mantido alguns dos
membros de nível inferior sobre porte de armas, e ela poderia
desmantelar sua organização, mas Vlad foi o ingresso para
derrubar a todos, e sem ele, todo seu duro trabalho seria em
vão.
Sem nenhuma opção restante — e talvez não
pensando muito claramente — fez a única coisa que podia.
Ficou de pé, saiu para o corredor, evitando que
Mishca e Lauren dessem mais um passo. — Prendam-no!
Mesmo o procurador do Estado pareceu surpreso por
isso, mas não protestou, correndo atrás de Jessica para ver o
que a agente fazia. Green esteve esperando que o sorriso
marca registrada de Mishca, cruzasse seu rosto, ou para que
tivesse uma réplica inteligente, ao menos então saberia que
ele sabia por que o prendia, mas em troca, limitou-se a se
afastar.
— Sobre que acusação? — Exigiu Lauren, quase ao
mesmo tempo em que Jessica.
— Sequestro e assassinato do agente especial do FBI
Terrence Novak, também conhecido como Vladimir Robakov.
Havia duas coisas que Mishca tinha como certo. A
primeira, a agente Green chegava ao desespero. Precisava de
uma razão para prendê-lo, embora fosse somente para salvar
sua pele com seus chefes. Se havia uma coisa sobre Vlad que
era verdade, era que a agente Green nem sequer sabia onde
In the beginning
Volkov Bratva 3
ele estava, por isso não poderia saber que ele estava morto, e
com Luka cuidando da eliminação, Vlad nunca seria
encontrado, se houvesse inclusive um corpo para descobrir.
Mesmo assim, não seria difícil de assumir que Vlad
sumira pelo menos, e Mishca estava disposto a afirmar isto
até que Jessica fosse capaz de proporcionar a informação ou
prova que o limparia.
Depois, ele não seria tão bom.

Desde que Mishca pediu imediatamente um


advogado, antes mesmo que estivesse fora do tribunal, foi
capaz de falar com Jessica de antemão e lhe dizer o que ela
precisaria para este próximo interrogatório.
Embora tivesse ficado em uma cela por umas horas,
não lhe importava tanto, porque sabia o que aconteceria no
final.
— Se seguir por este caminho, agente, teremos que
apresentar queixa por perseguição — disse Jessica entrando
na sala à frente de Mishca.
Pela primeira vez, Mishca não tinha absolutamente
nada com o que se preocupar. Em circunstâncias normais,
estaria pensando em todas as possíveis situações que
poderiam ocorrer, e quais as informações que apresentariam
contra ele, mas isto não era uma circunstância normal.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Suspirou enquanto se sentava em uma cadeira
dobrável, idêntica à que deveria ter seu nome gravado devido
a quantidade de tempo que passou nela durante as últimas
semanas. Apesar dos oficiais o seguirem ao interior da cela,
não se incomodaram em tirar suas algemas.
A agente Green estava obviamente muito irritada pela
falta de uma resposta deles, e o que é pior, as expressões dos
oficiais que a rodeavam. Pareciam muito mais confusos com o
que ela fazia do que Mishca, e ele era o único acusado de
outro assassinato.
— Seu cliente não terá nada com que se preocupar, é
óbvio se não for o culpado — disse a agente Green ainda em
pé, apesar de que suas duas mãos estavam sobre a mesa
enquanto se inclinava para frente, olhando Mishca.
— Deixe-me ver se entendi isto corretamente, agente
— Jessica disse não caindo na provocação quando cruzou as
pernas, suas sobrancelhas franzidas em confusão fingida
enquanto falava. — Você está dizendo sobre o agente que
estava sob seu comando... que seu corpo foi encontrado?
Um músculo saltou na mandíbula da agente Green, e
Mishca não duvidou nem por um segundo que se tivesse uma
opção, não responderia à pergunta.
— Não, mas...
— E você, ou seu escritório, apresentou um relatório
de pessoa desaparecida, como sendo este agente. — Olhou
seu telefone embora já conhecesse o nome de Vlad —
Terrence Novak?
— Não...
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Então não posso ver o que estamos fazendo aqui,
quando o homem em questão, pode estar na metade do
caminho para sair do país neste momento.
A agente Green deu um murro sobre a mesa,
empurrando seu cabelo para trás dos ombros. — Ele não
faria isso!
— Escuta. — O outro agente, que ninguém se
incomodou em saber o nome, falou sobre seu parceiro. —
Tivemos contato com o agente até o dia vinte e seis, nada
desde então. Gostaríamos de saber onde seu cliente se
encontrava nessa noite.
Jessica fez um espetáculo olhando para Mishca,
esperando seu consentimento antes de responder.
— Felizmente para vocês dois, meu cliente tem um
álibi — disse Jessica, parecendo tão presunçosa quanto
Mishca se sentia.
— Mal posso esperar para escutar isto — disse a
agente Green com cuidado, embora seu tom dissesse o
contrário.
Jessica assentiu, dando Mishca o consentimento.
Mishca retirou seu celular do bolso, e procurou
rapidamente através das imagens, selecionando uma. —
Encontrava-me jantando com minha esposa no Le Bleu.
Tenho certeza que se você ligar, o restaurante pode emitir
uma nota ou uma declaração do meu tempo lá.
A agente Green pegou o telefone, olhando para a foto.
Lauren muito obviamente sorria, mas em lugar de Mishca,
Klaus se sentava a seu lado.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Mas ninguém na atual companhia sabia.
— Como pode ver obviamente, meu cliente estava
muito claramente em um restaurante.
A mandíbula da agente Green se apertou. — Esta
foto poderia ter sido tirada em qualquer momento.
— Nos detalhes, pode-se ver nitidamente a data e a
hora. E... — continuou Mishca quando a viu a ponto de
protestar — se isso não for bom o suficiente, estou seguro de
que seus agentes forenses podem determinar quando foi
tirada. E, como acabo de dizer, pode-se comprovar com o
restaurante.
— Você é um mentiroso — grunhiu a agente Green,
perdendo a paciência.
Com um encolhimento de ombros e um sorriso,
Mishca disse — Já me chamaram de coisas piores.
Jessica pôs uma mão no ombro de Mishca para fazê-
lo calar. — Meu cliente esteve com sua esposa lá, das cinco
às dez horas. Se meu cliente for culpado de algo, é de mimar
a sua esposa.
— Acredita que não sei o que fez? — Cuspiu a agente
Green, inclusive ganhando um olhar de seu parceiro, que
ficou surpreso por sua explosão.
— Não sei do que está falando — disse Mishca,
engrossando a voz. — Mas se um de vocês... — Mishca
gesticulou ao redor, mesmo em direção ao espelho de duas
faces — quiserem, poderão verificar meu álibi, pois, estou
mais que pronto para sair.
In the beginning
Volkov Bratva 3
A agente Green se preparava para dizer algo mais,
podia-se ver em seus olhos, mas foi interrompida.
Outro homem entrou na sala, e a julgar pelo seu
terno alinhado e a forma em que os olhos da agente Green se
arregalaram quando o viu, tinha que estar mais acima na
cadeia de comando que ela.
— Este interrogatório terminou — disse, seu tom
encerrando qualquer argumento.
As sobrancelhas de Mishca subiram, enquanto
olhava a agente Green intencionalmente, levantando as mãos
algemadas para ela. Ela mal lhe deu uma olhada enquanto
ficava de pé, visivelmente tentando se acalmar, enquanto
enfrentava a seu chefe.
— Senhor, nós...
— Você está livre, senhor Volkov.
Tudo o que ela esteve a ponto de dizer foi guardado, e
Mishca não poderia dar a mínima para o que aconteceria com
ela, estava mais que disposto a sair dali. Agora que estava
livre Mishca pensou que deveria agir como um bom menino,
saindo tão rápido como chegou, mas mudou de ideia no
último momento, estendendo sua mão para ela uma vez que
estava livre.
Quando ela não correspondeu, ameaçando matá-lo
apenas com seu olhar, ele encolheu os ombros e piscou,
abotoando o paletó ao sair.
Tudo chegou à perfeição, mais um obstáculo
superado de sua lista. Agora, só restava um.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Lauren esperava Mishca do lado de fora, e quando o


viu caminhar livre, em sua direção, deu um suspiro de alívio.
Ela estaria em sua vida, sempre até o dia em que morresse,
mas não compreendia como foi tão fácil para ele passar por
este processo todo. Sabia do sacrifício que fez, mas tinha que
ser mais que isso. Sabia que alguns de seus outros sócios
tinham muito mais prova contra eles, e seria mais que
provável serem condenados.
Tampouco passou despercebido para Lauren que a
maioria dos homens presos e detidos trabalhava para Mikhail
especificamente.
Quando chegou ao seu lado, puxou-a para frente,
segurando-a firme, e sentiu que a tensão saindo dele. Fechou
os olhos por um momento, desfrutando das sensações.
Ele beijou sua testa, recuando para olhá-la nos
olhos. — Vamos para casa.
Ela concordou, acenando para Jessica enquanto
caminhava na direção oposta. Quando estavam no carro dele,
afastando-se, Lauren não podia ajudar, mas em silêncio o
observava.
O peso do que teve que fazer estava em sua mente,
muito Lauren sabia só de observá-lo no dia-a-dia. Quis lhe
In the beginning
Volkov Bratva 3
dar espaço, sem saber de que outra maneira poderia ajudar,
mas isso não parecia estar funcionando.
Viu uma melhora desde o dia em que lhe confessou
tudo, mas continuava a incomodá-lo.
Mishca imediatamente entrou no quarto quando
chegaram a casa, quase sem falar uma palavra no caminho.
Deixou-o sozinho por um tempo, apenas sentada na cozinha,
mas decidiu que não queria se calar, então em vez disso, foi
atrás dele.
Lauren entrou no seu quarto, e escutou o chuveiro
ligado. Mishca estava de pé sob o jato, com os olhos fechados,
seu corpo imóvel. Não se lembrava de tê-lo visto tão quieto,
tão sem vida.
Tirou sua roupa, abrindo a porta de vidro para
entrar. Cruzando para estar diante dele Lauren estendeu a
mão, pegando seu rosto, desejando que a olhasse. Ele fez,
quase com relutância.
— Sinto muito — disse em voz baixa, piscando a
água dos olhos.
Nada, nem sequer o menor reconhecimento de que
ouviu qualquer coisa do que disse.
Subindo sua boca o beijou, tentando provocar uma
reação. Ficou um momento imóvel sob seus lábios, até que
ela finalmente sentiu seus lábios se abrindo.
Em um momento era passivo, no seguinte, ficou
agressivo, assumindo o beijo. Empunhou uma mão em seu
cabelo, trazendo-a mais perto. Lauren pode sentir a mudança
nele, quando passou de conforto para algo mais.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Se, isto era o que precisava para ajudá-lo a lidar,
com muito gosto o faria, mas ao mesmo tempo, sabia que
seria só uma solução temporária.
Tinha que enfrentar a situação, se quisesse superá-
la.
— Nada que alguém pudesse dizer ou fazer levaria a
dor da morte de meu pai embora. No começo, fiquei zangada,
por que eu? Então fiquei triste por anos. Finalmente, eu tinha
colocado para o fundo da minha mente, voltando em cada
aniversário de sua morte. Então, eu desejava reviver tudo de
novo. — Ela tirou o cabelo de seu rosto, odiando o olhar que
viu ali. — Mas, em todos os outros dias durante o ano, estou
bem. Não estou dizendo que o perdoe, e não estou dizendo
que o esqueça. Estou pedindo que me fale. Compartilhe
comigo para que eu possa te ajudar.
Ele negou, e temia que não estivesse escutando — ou
ao menos não concordou — mas suas seguintes palavras a
liberaram desses temores.
— Sinto como se não o conhecesse de jeito nenhum.
Aproximou-se, para beijá-lo de novo, unindo suas
mãos com as dele. — Não esqueça o que me disse sobre
aquela noite, o que ele estava disposto a fazer por você. Sabe
que te amava, e isso é tudo o que importa.
In the beginning
Volkov Bratva 3

Naquela noite, Mishca entrou no quarto, sóbrio para


variar, deitando na cama junto com ela. Foi cuidadoso, para
não despertar Lauren, mas quando se inclinou, beijando o
ponto abaixo de sua orelha, ela se mexeu.
Ele recuou, dando-lhe espaço. Pelos últimos três dias
— ou três semanas se fosse honesto — a tratou mal. Tudo foi
de mal a pior, e jogou tolamente suas frustrações sobre ela.
Mishca não sabia como faria as pazes com ela, mas o
que lhe pedisse, daria. Mas não poderia ser esta noite, não
com o que planejou.
Rolando para encará-lo, esfregou seus olhos,
piscando enquanto bocejava, cobrindo a boca com sua mão,
seus anéis de casamento, a plena vista. Apesar de não saber
o que ia dizer, a visão deles o fez sorrir.
— Olá.
Sorriu sonolenta, aconchegando-se mais em seus
braços. — O que faz acordado tão tarde?
— Tenho que ir.
Lauren franziu a testa, embora não tivesse se mexido
em seus braços. — Aonde vai? É uma da madrugada.
— Tenho uma reunião com os chefes das quatro
famílias.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Essas palavras pareceram despertá-la
imediatamente, não é que pudesse culpá-la muito. As
reuniões com os chefes da máfia eram situações
notoriamente tensas, e nunca foi fácil saber como ou por que
uma discussão poderia começar, levando a morte de uma ou
mais pessoas.
Mas era obrigatório que fizesse isto, pelo bem de sua
própria vida.
— Volta para mim, Mish.
Sorriu e a beijou uma última vez. — Tem minha
palavra.

Mishca tirou suas roupas, ficando de cueca, uma


lembrança da última vez que entrou nestas salas veio a sua
mente. Não precisava estar completamente nu durante o ato,
mas era como foi feito por tanto tempo quanto podia lembrar,
e ele não queria romper a tradição.
Os homens aos quais se dirigiria não se importavam
com roupas caras, nem pelo dinheiro que tinha quem entrava
naquela sala, mas para a tinta que adornava sua pele, a
história que essas tatuagens contavam.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Deixou sua roupa em seu antigo quarto, ignorando
como o fazia se sentir. Enquanto ele sempre odiou a mansão,
nunca o incomodou tanto ficar ali algumas noites durante os
anos, mas estar aqui agora, embora fosse só por algumas
horas, o estava deixando inquieto.
Não havia nenhuma boa lembrança para ele, e
dependendo do resultado deste encontro, teria que tomar
uma decisão quanto ao que faria com ela.
Além dos guardas no exterior, a mansão estava
bastante vazia, só um seleto número de pessoas o esperava
no porão.
Mishca observou a porta fechada, mal ouvindo as
vozes do outro lado, lembrando mais uma vez como um
momento como este, há anos, mudou drasticamente sua
vida.
Respirando fundo, Mishca abriu a porta e entrou.
Havia três homens lá dentro, cada um representando
uma das outras três famílias, uma cadeira vazia que
representa os Volkovs. Se esta reunião terminasse bem, a
cadeira logo seria de Mishca. Já que não havia ninguém na
família que pudesse assumir esse papel — Klaus nunca
concordaria, mesmo se fosse considerado — Mishca não
duvidava que a teria, e exceto por uma parte dele, ainda
queria ganhar isto.
Mishca teve a ideia de fazer essa reunião, em vez
deles simplesmente lhe entregarem a cruz, pois não queria
que ninguém fosse contra seu governo, sobretudo, quando já
teria problemas devido a sua idade.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Sentando-se em frente aos três, Mishca manteve seus
braços nas laterais da cadeira, mostrando com orgulho as
estrelas em seu peito e joelhos, e as dragonas nos ombros.
Mishca sempre respeitou esta tradição. Entendia sua
necessidade de interrogá-lo, especialmente com tudo o que
aconteceu desde que Lauren entrou em sua vida. Ele não
sabia se eles entenderiam ou não suas ações, ou mesmo o
fato de que se preocupava com ela, sobretudo quando muitos
dos membros mais velhos ainda seguiam as regras antigas,
mas isso não significa que ele permitiria que eles a
ignorassem.
— Sabemos o que quer de nós, filho de Mikhail, mas
por que acredita que merece isto? — Perguntou Petrov,
tamborilando com os dedos contra a serpente no cabo da
bengala, que descansava entre suas pernas.
Mishca falou de suas realizações, e não como uma
ostentação — embora ninguém obteve o que ele tinha desde
que se uniu a Vory e Zakone — mas sim, porque queria que
soubessem o que era capaz de fazer, e se lhe confiassem a
posição, saberiam que a Bratva estaria em boas mãos.
— E a garota? — Falou Zyanovich — Como pode
esperar que confiemos em sua palavra de que é fiel a nós?
— Além do fato de que tem minhas estrelas? —
Questionou Mishca, tentando manter a nitidez de seu tom —
Não precisam confiar nela. Confiem em minha palavra.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Pareceu que tudo transcorreu por uma hora, Mishca
foi interrogado, em tudo o que sabia da estrutura e o que era
de esperar dele no papel de Pakhan. Falou cuidadosamente e
com precisão, e apesar de um toque de relutância por parte
de Zyanovich, não tinham nenhum problema, acordando que
Mishca era o melhor para o trabalho.
No momento em que terminaram, Mishca estava
mais que disposto a aceitar o que viria.
Clorick, o tatuador residente, que era tão antigo
como era competente, entrou na sala com seu kit, um
pequeno sorriso curvando seus lábios quando viu Mishca.
Sendo ele quem fez todas as suas tatuagens, ambos tomaram
como uma honra que faria a cruz em seu peito.
Depois de conseguir os gestos de aprovação, Mishca
subiu à mesa, apoiando suas mãos debaixo da cabeça como
Clorick pediu. Deixou escapar um suspiro de alívio quando
escutou o zumbido emocionante da pistola do tatuador.
— Ouvi que está casado agora, — disse Clorick com o
sotaque rouco dele, olhando por cima de Mishca quando
começou a cruz intrincada que ele criaria. — Ofende-me que
não pensou em me convidar.
— Estava no velho país, acredito — disse Mishca com
um sorriso, e logo fez uma careta quando a dor começou.
Embora gostasse de tatuagens tanto como outras pessoas,
não significa que apreciava a dor que vinha com isso. — Além
disso, enviei um convite ao seu último endereço. Não pode me
culpar, já que não vive ali durante a última década.
— Ora, estou brincando. Como está sua mulher?
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Ela está bem.
— E filhos? Falaram sobre isso?
Mishca piscou surpreso. Isso não foi algo sobre o que
alguma vez conversaram, não que pudesse se lembrar. Sabia
que em algum momento teriam que falar, mas por agora,
estava contente como estavam.
— Já veremos.
— Há muito tempo para isso, não? Vá explorar o
mundo. É jovem, descubra-o. Não deixe que a vida te
consuma, sim?
— Obrigado pelo conselho, Clorick.
Durante um tempo, ficaram em silêncio, só deixando
que o zumbido da pistola de tatuagem falasse por eles. Com
cada linha passada, Mishca sabia que a partir deste ponto, as
coisas seriam diferentes. Ele teria que ser diferente. Queria
mudar a estrutura que Mikhail criou, e o mais importante,
criar um legado por si mesmo contrário ao que Mikhail lhe
passou.
Com isto, tinha todo o poder, e agora podia fazer o
que sempre quis.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Ao sair da mansão, Mishca colocou o conjunto de
bolsas de lona que Vlad lhe deixou, no porta-malas de seu
carro, já as viu, uma vez que Luka lhe disse onde estavam
escondidas.
Dizer que a investigação de Vlad foi completa era um
eufemismo. Havia provas incriminatórias suficiente em
apenas uma das unidades de memória escondidas para
prender Mikhail pelo resto de sua vida, mais trinta anos, por
não falar do que Mishca encontrou no resto deles. Não só
havia informações sobre praticamente todos na Bratva, como
de alguns de seus inimigos também.
Mishca entregou de bom grado algumas dessas
provas aos outros Pakhans como um sinal de boa fé entre
eles, mas isso não significava que deu tudo. Felizmente, só
ele e Luka sabiam sobre a informação que Mishca agora
possuía — desde que ele disse aos Pakhans que se deparou
com ela em outros lugares — isso lhe deu a vantagem que
precisava, para desfazer-se de um espinho no seu dorso.
Ele fechou uma loja de charutos em Brighton Beach,
um dos poucos lugares que Mikhail gostava de ir relaxar. Não
era nenhum segredo que perdeu o favor de outros, os
rumores se propagavam como um incêndio.
Mikhail estava sentado sozinho em um quarto dos
fundos, sem guarda pela segunda vez. Tinha um charuto
aceso em uma mão, uma fina esteira de fumaça ondulando
da ponta. Ele mal percebeu quando Mishca entrou, mas isso
era de se esperar, uma vez que ele sabia o que estava por vir.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Esta era a primeira vez que Mishca viu seu pai em
um humor tão sombrio, mas com tudo o que enfrentava,
Mishca poderia entender o porquê. Não tiraram as marcas de
Mikhail por respeito, mas neste momento eram inúteis, e
todos sabiam disso.
Como iam as coisas, teria que permanecer nas boas
graças de Mishca, um lugar onde nunca esteve.
— Por que está aqui? — Perguntou Mikhail,
reclinando seu assento como se Mishca ainda tivesse que
responder a ele. Os velhos hábitos são difíceis de morrer,
supôs.
— A mansão, há algo que queira de lá? — Estaria no
mercado dentro de vinte e quatro horas, e Mikhail estaria fora
do país no mesmo período.
— Não especialmente, mas suponho que deveria ser
um pouco mais respeitoso já que está em minha posição. —
riu sem humor, tocando seu charuto contra a borda do
cinzeiro. — Só porque tem esse símbolo não te faz digno dele.
O que te faz pensar que vou deixar isso acontecer?
Mishca puxou uma cadeira, soltando uma pasta
cheia de fotos de vigilância, transcrições de áudio e muito
mais que ainda não veio à superfície. — Nunca teria outra
opção. Tem uma oportunidade, Mikhail e só uma. —
Continuando, pôs um plano de voo no topo da pasta, um
bilhete de ida para a Rússia. — Retorne à pátria, estabeleça
seu negócio ali se o desejar, mas enquanto eu dirigir a Volkov
Bratva, nunca volte. Se o fizer, se sentir seu cheiro aqui,
In the beginning
Volkov Bratva 3
enviarei este arquivo a alguém que fará com que pague por
seus crimes.
Mikhail olhou para baixo, não se incomodando em
abri-la totalmente, provavelmente já sabendo o que estava
dentro dela. — Pensa que pode me chantagear?
— Não há muito que pensar nisso. Aqui. Seu voo sai
pela manhã.
Mishca teria deixado por isso mesmo pensando que
marcou seu ponto, mas Mikhail nunca retrocederia sem uma
briga, mesmo que fosse uma que não podia ganhar.
—Terei que te matar como...
Não pôde terminar essa declaração, não antes que
Mishca tirou sua arma e disparou um tiro no piso, bem entre
seus pés.
— Da próxima vez não falharei. — Mishca caminhou
para ele, colocando o canhão de sua pistola debaixo do
queixo de Mikhail.
O homem mais velho sussurrou, sentindo o calor da
boca do canhão quente, mas não se alterou e nem se afastou.
Era um homem muito orgulhoso.
— Teria deixado ficar, teria deixado que passasse o
resto de sua miserável vida nesse restaurante de merda, mas
sabe o que encontrei nestes arquivos? Autorizou aos
albaneses para virem atrás de mim quando eles tinham Klaus
no meu lugar. Sim, eu odiava você, mas era leal, e ainda
assim você nunca pensou em mencionar isso.
Mikhail permaneceu em firme silêncio, seu rosto não
revelava uma só emoção.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— A única razão pela qual tem que viver é porque
preciso de alguém que assuma a responsabilidade pelas
mortes em seu restaurante. Não se preocupe, os homens sob
seu comando levarão a maior parte da culpa e provavelmente
serão condenados à prisão perpétua por causa disso.
Felizmente para você, estará fora do país, e você e eu
sabemos como a Rússia se sente sobre extraditados daqui.
Mishca guardou sua arma, endireitando sua roupa.
— E não se incomode em tentar me matar, a última pessoa
que tentou não foi muito bem sucedido. — Inclinando-se para
ficar cara a cara com Mikhail, Mishca sorriu friamente. —
Além disso, tenho um muito zangado mercenário que
adoraria ter sua cabeça. Se ele achou um homem nas
montanhas da Sibéria, ele pode te encontrar.
Endireitando-se, Mishca virou pronto para sair dali,
mas Mikhail sempre tinha que ter as últimas palavras.
— Você nunca será eu.
— Tem razão sobre isso... não serei. Sou pior.
Cuidado com o que deseja.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando voltou para casa, Lauren esperava por ele,
um olhar resignado em seu rosto. Ainda o deixava perplexo
algumas vezes, em como ela podia ler a situação e saber
exatamente o que acontecia.
— Posso vê-lo? — Perguntou, parecendo que
esperava que negasse o pedido.
Assentindo uma vez, cuidadosamente levantou a
camisa, consciente de sua nova tatuagem, até que tirou sua
camisa. Seus olhos se suavizaram quando caíram no
ferimento à bala no peito, mas logo nublou com confusão pela
ausência da nova marca que era para estar lá.
Antes que pudesse perguntar, ele virou-se, dando-
lhe as costas. Estava saindo da cama, seus passos suaves
trazendo-a mais perto dele. Em vez de colocar a cruz em seu
peito como era costume, colocou-a em suas costas, pois,
ainda era muito cedo para o peito devido a seus ferimentos.
Era temporário, Mishca acreditava, só até que fosse capaz de
receber a cruz em seu peito.
— Sei o que é — disse cuidadosamente — mas, o que
significa para você?
— Com Mikhail indo para Rússia, tenho que tomar
seu lugar. — Essa foi a maneira mais fácil para lhe explicar.
Piscou, abrindo seus lábios enquanto assimilava isso.
— Você é o novo Pakhan.
Ele assentiu.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Lauren deu um passo para trás, seus olhos
desviando constantemente da cruz como se estivesse
tentando afastá-la. Sempre estaria aí e vinha com mais
responsabilidade, mais perigo e uma vida muito distinta em
geral, mas se o aceitou antes, teria que aceitar isto agora.
— É isto o que quer?
De certa forma, era o que queria. Gostava de ser
capaz de governar sua própria vida pela primeira vez, fazendo
as regras e mantendo a ordem, mas também temia esse
poder, sabendo o que podia fazer aos homens.
Era uma oportunidade que teria.
— É.
Ela estendeu as mãos para as dele, entrelaçando os
dedos juntos. Deu-lhe um sorriso trêmulo, certificando-se
que ele visse a sinceridade em seus olhos. — Vamos
descobrir juntos, sim? Onde quer que este caminho nos leve.
Ante isto, ele assentiu e beijou seus dedos. — Nós
vamos.
In the beginning
Volkov Bratva 3

A pista era em um aeroporto particular no meio do


nada. Eram só eles dois, Mishca e Lauren na parte de trás do
carro, esperando que Mikhail aparecesse. Mishca não quis
dirigir, embora Lauren não soubesse o porquê. Realmente,
não sabia por que ela estava ali, pensando que Mishca podia
querer estar sozinho com ele, especialmente com o que lhe
disse.
Durante toda a manhã ele contou tudo a ela, sem
deixar um detalhe do que acontecia com Mikhail, com a
Bratva, e o que esperava no futuro. Estava contente que fez
isso, e inclusive compartilhou seus sentimentos em relação a
tudo.
Agora, ela acreditava que eram mais fortes que
nunca.
Lauren olhou para ele, com a esperança de descobrir
seu humor, mas não viu nada em sua expressão. — Você está
bem?
Ele assentiu sem olhá-la, mas atravessou o espaço
entre eles para pegar sua mão, levando-a até seus lábios,
beijando os nós dos dedos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Finalmente, outro carro chegou, Mikhail saiu da
parte de trás dele. Já não tinha os dois capangas gigantes o
seguindo, nem tinha o ar orgulhoso dele. Agora, só se parecia
como um velho homem indo a uma viagem.
No noticiário da tarde a umas horas atrás, alguns de
seus associados confessaram os assassinatos das vinte
pessoas no The Den, nomeando-o como sendo o mandante.
Mishca não só tinha os arquivos do passado criminoso de
Mikhail, mas praticamente garantiu que ele nunca voltaria,
nem que fosse só por medo de ser processado.
— Posso ficar aqui enquanto fala com ele — sugeriu
Lauren quando a porta do passageiro foi aberta pelo seu
motorista.
—Tolice. Somos uma equipe, lembra?
E fazia um ponto a mais, mostrando para Mikhail,
que apesar de seus melhores esforços, ainda estavam juntos.
Mishca saiu primeiro, estendendo sua mão à Lauren.
Mikhail parecia só ter olhos para ela enquanto se
aproximavam, o que normalmente a deixaria mais nervosa,
mas era diferente, sabendo que ele seria exilado na Rússia.
— Veio para me ver ir embora? — Perguntou Mikhail
como um modo de iniciar a conversa.
Mishca olhou para seu pai. — Pensamos que era
justo considerando que você nos uniu.
— Não te proporcionaria a mesma cortesia.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Isto não foi o que Lauren esperava. Realmente não
sentia como uma despedida, mas sim como se os dois
homens continuassem lutando pelo poder. Mas não havia
como Mikhail ganhar isto, e ele sabia.
— Tome cuidado aí fora, menino. É um mundo
implacável esse em que vivemos.
Concordando, Mishca estendeu sua mão a Mikhail.
— Tenha uma viagem segura.
Aceitando-a, Mikhail se virou então para Lauren. —
Cuide dele, jovem Lauren. Ele precisará de você.
Mikhail os deixou ali parados, subindo no avião, a
porta fechando-se atrás dele.
Lauren pegou a mão de Mishca, entrelaçando seus
dedos nos dele, enquanto observavam o avião desaparecer no
céu. Um por um, todos os obstáculos que enfrentou em seu
relacionamento saíram de suas vidas.
Agora — além das novas obrigações de Mishca com a
Bratva — não havia nada em seu caminho.
— Você deveria ir para casa — disse Mishca, uma vez
que o avião não estava mais à vista. — Há algo que devo
resolver primeiro.
Uma coisa a qual se acostumou desde que Mishca
conseguiu a cruz era seu tom quando se referia à Bratva.
Embora não perguntasse sobre suas relações — decidindo
ignorar tudo sobre isso — reconhecia a diferença entre
quando estava com ela e quando trabalhava.
— Devo perguntar quando voltará para casa? —
Perguntou já que viajaram juntos.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Nesse momento, Luka entrou no estacionamento,
saudando-a do assento do motorista. Ainda se perguntava o
que aconteceu entre eles, além da morte de Vlad, que os
tornou tão distantes. Normalmente, ele lhe daria um sorriso
bobo, ou realmente sairia do carro para dizer algo engraçado,
mas não se moveu, e logo que o saudou de volta, ele se virou
para olhar para frente.
— Vejo você mais tarde.
— Pode me fazer um favor? — perguntou Lauren,
pegando as mãos de seu amado.
— Claro.
— Resolva o que seja que aconteceu com Luka. Eu
não gosto como estão, e não, não me importa o que fez.
Beijando sua mão, e depois sua bochecha, prometeu-
lhe — Trabalharei nisso.

Era a hora.
Mishca entrou na casa de sua infância, para o que
seria a última reunião realizada em seu porão. Agora que
Mikhail se foi, e considerando que Alex se sentia da mesma
maneira sobre isso, Mishca colocou o lugar à venda.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Não havia nenhuma garantia de que se venderia pelo
preço que Mikhail pagou por ela, mas Mishca não se
importava com isso. Ele só queria se desfazer dela. Lá dentro,
os móveis estavam cobertos por lençóis brancos, a preciosa
arte antes pendurada nas paredes, já foi enviada à nova casa
de Mikhail na Rússia, exceto um quadro.
O retrato da Catja seguia pendurado na parede fora
do escritório dele, Mishca o deixou lá ao menos até que a
reunião acabasse. Não lhe importava que Mikhail o pediu,
estaria indo com ele para sua casa, onde lhe pertencia por
direito.
Luka foi atrás de Mishca, suas mãos enfiadas em
seus bolsos. Mishca sabia que era estranho para o executor
subir de posto tão rápido, especialmente quando era algo que
não queria, mas não cometeria os mesmos erros que Mikhail.
Somente aqueles em quem confiava implicitamente estariam
ao seu lado.
Mas, também pensava se o ex-assassino sentiria
saudades de seu curto tempo no The Golden Room.
— Preparado, Chefe? — Perguntou Luka enquanto
abria a porta do porão.
Mishca bateu-lhe no ombro, mas não respondeu,
andando na frente dele. Perdido em seus pensamentos,
enquanto descia as escadas, ouvindo o sussurro baixo de
vozes.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Quando Mishca apareceu no topo, representantes
das outras três famílias se levantaram em sinal de respeito.
Mishca olhou a sua antiga cadeira, um lugar onde se sentou
por oito anos. Já não era um deles.
Ele era seu chefe.
Ele era seu Pakhan.
Indicando-lhes que se sentassem, Mishca tomou seu
próprio assento encabeçando a mesa, certificando-se de
encarar individualmente a cada um deles.
— Nossa organização sofreu no último ano e meio
devido às decisões que alguns de nós tomaram. Temos que
viver com isso. A única coisa que podemos fazer agora é
seguir em frente, fazer novos investimentos para voltarmos a
estar seguros sobre nossos pés, e nos fortalecer.
Bateu com seu polegar contra a mesa, querendo ter
certeza que tinha a atenção de todos antes de continuar.
— Mikhail voltou para seu país natal e não pode
atuar como Pakhan de lá. Portanto, está de acordo com que
eu tome seu lugar no conselho.
Não havia nenhuma razão para se discutir, desde
que era um ponto irrelevante, pois a decisão já foi tomada,
por isso, poucos franziram a testa. Mishca já esperava. Não
esperava que todos estivessem de acordo com alguém tão
jovem como ele liderando uma organização que era mais
velha que ele, mas o aceitariam.
In the beginning
Volkov Bratva 3
— Se for um problema para vocês, ou se pensam em
desafiar minhas regras, a porta está ali — indicou sobre seu
ombro — mas saibam que não viverão outro dia se o fizerem.
Atuem contra mim, e morrerão. É simples.
Inclinou-se para frente, cruzando as mãos sobre a
mesa. — E se qualquer um de vocês pensar em ir atrás de
minha mulher, não há lugar no mundo onde não possa
encontrá-los. Morrerão, dolorosamente. Considerem isto uma
advertência.
Mishca saiu de casa pouco tempo depois, dirigindo
de volta à cidade. Só em seu carro, começou a pensar em seu
tempo com Vlad, mesmo se esse tempo foi uma mentira.
Sentia falta dele, tanto quanto sentiu saudades de Lauren
nos meses em que ficou longe dele. O único problema era que
Lauren voltou para ele. Vlad nunca voltaria.
As coisas seriam muito diferentes neste ponto, agora
que tinha que refazer a estrutura da Bratva totalmente. As
novas posições precisariam ser distribuídas, e teria que
decidir quem queria ao seu lado... além de Luka. Não falou
com ele desde o motel, mas isso não significava que ele
planejava rebaixá-lo.
Ele era o melhor em seu trabalho, e Mishca não
podia culpá-lo por fazê-lo. Uma coisa que teria que aprender
como fazer era manter seus sentimentos pessoais fora disso.
Saindo de seu carro, Mishca jogou suas chaves a um
de seus associados — que atualmente trabalhava como
manobrista em seu edifício — acenando para as mulheres na
recepção, que sorriam em sua direção.
In the beginning
Volkov Bratva 3
Tomou o elevador ao apartamento de cobertura,
desabotoando seu paletó enquanto entrava, pendurando-o no
suporte em seu caminho.
Lauren estava na cozinha, sua cabeça enfiada na
geladeira enquanto procurava algo em uma das gavetas.
Sorriu ao vê-la, cantarolando baixinho. Ele limpou a
garganta, fazendo-a virar surpresa.
Do primeiro dia que a viu, soube que seria dele. Não
sabia por que, não sabia como, mas não podia negar o que
sentia.
Seu rosto se abriu em um grande sorriso quando o
viu. Não acreditava tê-la visto tão feliz em um longo tempo,
mas agora eles estavam aqui, livres do passado, e teria
certeza de que estivesse sorrindo todo o tempo.
— Terminou sua reunião? — Perguntou rodeando a
ilha indo para ele.
— Sim. — Antes que pudesse lhe perguntar sobre
isso, ele puxou-a para frente, levantando-a para um beijo.
Ela se derreteu embaixo dele, sorrindo contra seus
lábios por um segundo. — Nunca tivemos a nossa lua de mel
— disse Lauren enquanto envolvia seus braços ao redor de
sua cintura, olhando para ele. — Agora poderia ser um bom
momento.
Sorriu, colocando uma mecha de cabelo atrás da
orelha dela. — Aonde quer ir?
— Desde que estejamos juntos, podemos ir a
qualquer lugar.
In the beginning
Volkov Bratva 3
In the beginning
Volkov Bratva 3

Um amor nascido da violência

pode resistir ao teste do tempo?

Apesar do início de seu casamento ter

sido menos que o ideal, Mishca e

Lauren estão finalmente em um lugar

onde eles não têm que olhar por cima

dos ombros a toda hora. Agora que eles

estão em um lugar seguro, é hora para

que eles tenham a única coisa Mishca

prometeu a ela antes que fizessem seus votos.

A lua de mel...Viajar para as praias de Sardenha,

Itália, o casal vai explorar o que os uniu em primeiro lugar,

em vez da vida que constantemente ameaça separá-los. Mas,

como o chefe recém-nomeado da Volkov Bratva, é tarde

demais para Mishca ter uma vida, mesmo remotamente,

normal... e Lauren está pronta para enfrentar um outro

desafio que nenhum deles viu chegar?


In the beginning
Volkov Bratva 3

Você também pode gostar