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AULA 5

ASSISTÊNCIA EM UTI À
NEONATOLOGIA, À CRIANÇA
E AO ADOLESCENTE

Profª Sandra Maria Schefer Cardoso


Suporte básico e avançado ao recém-nascido e pediatria segundo a
American Heart Association 2020

TEMA 1 – REANIMAÇÃO AO RECÉM-NASCIDO

No Brasil, nascem cerca de 3 milhões de crianças ao ano (Brasil, 2016). A


maioria delas nasce com boa vitalidade, entretanto manobras de suporte vital
podem ser necessárias e, às vezes, de maneira inesperada.
É essencial que cada recém-nascido tenha um cuidador dedicado para
facilitar a transição da vida uterina para o novo ambiente, e que esse cuidador
seja treinado e equipado para a função. Além disso, uma proporção significativa
de recém-nascidos que precisam de uma transição facilitada apresenta risco de
complicações que exigem pessoal treinado adicional. Todos os ambientes
perinatais devem estar prontos para esse cenário (AHA, 2020),
De maneira geral, ao nascimento, um em cada dez RN necessita de VPP
para iniciar e/ou manter movimentos respiratórios efetivos; um em cada cem
neonatos precisa de intubação e/ou massagem cardíaca; e um em cada mil requer
intubação, massagem e medicações, desde que a VPP seja aplicada
adequadamente. Estima-se que, no país, 300 mil crianças, a cada ano,
necessitem de ajuda para iniciar e manter a respiração ao nascer (Almeida, 2016).

1.1 Materiais necessários para reanimação na sala de parto sugerido pela


Sociedade Brasileira de Cardiologia (2019)

Para melhor atenção na reanimação na sala de parto, é necessário planejar


o ambiente de acordo a fortalecer uma assistência segura. Entre as organizações
voltadas aos planos de atendimento ao RN que necessita de reanimação,
devemos reforçar a listagem de materiais, que devem estar preparados para a
reanimação. Buscamos no protocolo da Sociedade Brasileira de Cardiologia,
divulgado em 2019, algumas sugestões de materiais necessários para essa
atividade intervencionista.
A temperatura ambiental deve se manter entre 23-26 ºC; para isso; deve
ser instalado um climatizador e termômetro digital de ambiente. A rede de gases
é muito importante, com oxigênio, ar comprido. Extremamente indispensável
aspiradores portáteis ou na rede. Entre os objetos inclusos na lista, está o relógio
de parede com ponteiro segundeiro. Recomenda-se alguns materiais de uso
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programado para manter a temperatura do RN: campo cirúrgico e compressas de
algodão estéreis, saco de polietileno de 30 × 50 cm para prematuro, touca de lã
ou algodão, colchão térmico químico 25 × 40 cm para prematuro <1.000 g,
termômetro clínico digital. Podemos indicar materiais para monitoramento, como
estetoscópio neonatal, oxímetro de pulso com sensor neonatal, monitor cardíaco
de três vias com eletrodos, bandagem elástica para fixar o sensor do oxímetro e
os eletrodos. Pode-se acrescer sondas traqueais n. 6, 8 e 10 e gástricas curtas,
n. 6 e 8, kit para aspiração de mecônio e seringas de 10 mL.
Devem estar presentes na lista dos materiais, alguns específicos para
intubação e ventilação: reanimador manual neonatal (balão autoinflável com
volume máximo de 750 mL, reservatório de oxigênio e válvula de escape com
limite de 30 a 40 cmH2 O e/ ou manômetro), ventilador mecânico manual neonatal
em T com circuitos próprios, máscaras redondas com coxim números 00, 0 e 1
máscara laríngea para recém-nascido número 1; laringoscópio infantil com lâmina
reta números 00, 0 e 1, cânulas traqueais sem balonete, de diâmetro interno
uniforme 2,5/ 3,0/ 3,5 e 4,0 mm, material para fixação da cânula: fita adesiva e
algodão com soro fisiológico, pilhas e lâmpadas sobressalentes para
laringoscópio, detector colorimétrico de dióxido de carbono expirado. Campo
fenestrado esterilizado, cadarço de algodão e gaze, pinça tipo kelly reta de 14 cm
e cabo de bisturi com lâmina número 21, porta-agulha de 11 cm e fio agulhado
mononylon 4.0, cateter umbilical 3,5 F, 5 F e 8 F de PVC ou poliuretano torneira
de três vias, são materiais destinados ao cateterismo umbilical.
Há também algumas medicações que devem estar na listagem dos
indispensáveis: adrenalina 1/10.000 em 1 seringa de 5,0 mL para administração
única endotraqueal; adrenalina 1/10.000 em seringa de 1,0 mL para administração
endovenosa; expansor de volume (soro fisiológico) em duas seringas de 20 mL.
Todos os pacientes prematuros ou pós-termo e aqueles de qualquer idade
gestacional sem vitalidade adequada ao nascer (respiração ausente/irregular ou
tônus diminuído) precisam ser conduzidos à mesa de reanimação, indicando-se
os seguintes passos: prover calor e manter as vias aéreas pérvias (posição da
cabeça em leve extensão e, se necessária, aspiração do excesso de secreção da
boca e narinas). Tais passos devem ser executados em, no máximo, 30 s, com o
paciente em decúbito dorsal horizontal a zero grau, sem lateralização da cabeça
(AHA, 2020; SBC, 2019).

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1.1.1 Recomendações conforme as diretrizes 2020 DA AHA

As diretrizes da American Heart Association (AHA), em 2020, apontam


algumas recomendações atualizadas para reanimação:

• A prevenção da hipotermia é um foco importante para a ressuscitação


neonatal.
• Priorizar insuflação e a ventilação dos pulmões, naqueles RNs que
necessitam de suporte pós nascimento.
• A oximetria de pulso é usada para guiar oxigenoterapia e atingir as metas
de saturação de oxigênio.
• A aspiração endotraqueal é indicada apenas se houver suspeita de
obstrução de vias aéreas depois da realização de ventilação com pressão
positiva (VPP).
• Se for necessário o acesso vascular em bebês recém-nascidos, a via
venosa umbilical é preferida; quando o acesso IV é inviável, o acesso IO
pode ser considerado.
• O monitoramento da resposta FC nas ações de compressões torácicas e
medicações podem ser via eletrocaridografia.

1.2 Novas recomendações

1.2.1 Previsão da necessidade de ressuscitação

Se a circulação placentária não estiver intacta (descolamento prematuro de


placenta, placenta prévia, ou rotura ou prolapso ou nó verdadeiro de cordão), ou
se o RN não iniciar a respiração ou não mostrar atividade/tônus muscular
adequado, recomenda-se o clampeamento imediato do cordão (SBC, 2019). Todo
nascimento deve ser acompanhado de pelo menos um profissional que possa
realizar as etapas iniciais de ressuscitação de recém-nascido e iniciar VPP e cuja
única responsabilidade seja o atendimento ao recém-nascido (AHA, 2020).
Para oferecer suporte a uma transição tranquila e segura do recém-nascido
do útero para o ar, todo nascimento deve ter pelo menos uma pessoa cuja
responsabilidade principal é o recém-nascido e que seja treinada e equipada para
começar VPP sem atraso (AHA, 2020). Uma vez feitos os passos iniciais da
reanimação, avaliam-se a respiração e a FC com estetoscópio no precórdio. Se

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houver vitalidade adequada, com respiração rítmica e regular, e FC > 100 bpm, o
RN deve receber os cuidados de rotina na sala de parto (SBC, 2019).

1.2.2 Controle de temperatura para bebês recém-nascidos

Colocar os bebês recém-nascidos que não precisam de ressuscitação no


contato pele com pele depois do nascimento pode ser eficaz para melhorar a
amamentação, o controle de temperatura e a estabilidade da glicemia (AHA,
2020). Para diminuir a perda de calor, é importante pré-aquecer a sala de parto e
a sala onde serão realizados os procedimentos de reanimação, mantendo
temperatura ambiente de 23 a 26 ºC. Após o clampeamento do cordão, o RN é
levado em campo seco aquecido e colocado sob calor radiante. Nos neonatos
≥ 34 semanas de idade gestacional, após a colocação sob fonte de calor radiante
e as medidas para manter as vias aéreas pérvias, secar o corpo e a região da
fontanela, e desprezar os campos úmidos (SBC, 2019).
Depois de recepcionar o RN <34 semanas em campos aquecidos e colocá-
lo sob calor radiante, sem secar, introduz se o corpo, exceto a face, dentro do
saco plástico e, a seguir, realizam-se as manobras necessárias. O saco plástico
só será retirado depois da estabilização térmica na UTI. Deve-se também colocar
touca dupla para reduzir a perda de calor na região da fontanela: cobrir a cabeça
com triângulo plástico e, por cima, touca de lã ou algodão (AHA, 2020).

1.2.3 Limpeza da via aérea quando o mecônio está presente

No RN com líquido amniótico meconial de qualquer viscosidade levado à


mesa de reanimação para os passos iniciais, que apresenta apneia, respiração
irregular e/ou FC < 100 bpm, é fundamental iniciar a VPP com máscara facial e ar
ambiente nos primeiros 60 segundos de vida (SBC, 2019).
Para recém-nascidos não vigorosos (com apneia ou esforço de respiração
ineficaz) nascidos com líquido amniótico meconial, a laringoscopia de rotina com
ou sem aspiração endotraqueal não é recomendada (AHA, 2020). No caso de
recém-nascidos não vigorosos nascidos com líquido amniótico meconial com
evidências de obstrução de via aérea durante a VPP, intubação e aspiração
traqueal podem ser benéficas (AHA, 2020). Em recém-nascidos com líquido
meconial que não estão vigorosos ao nascer, as etapas iniciais e VPP podem ser

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realizadas. A aspiração endotraqueal é indicada apenas se houver suspeita de
obstrução da via aérea depois da realização da VPP (AHA, 2020).
A laringoscopia e a aspiração endotraqueal diretas não são necessárias
rotineiramente para recém-nascidos com líquido meconial, mas podem ser
benéficas em recém-nascidos com evidências de obstrução da via aérea quando
recebem a VPP (AHA, 2020). A aspiração traqueal propriamente dita é feita por
meio da cânula traqueal conectada a um dispositivo para aspiração de mecônio e
ao aspirador a vácuo, com pressão máxima de 100 mmHg. Nessa situação,
aspirar o excesso de mecônio uma única vez (SBC, 2019).

1.2.4 Ventilação com pressão positiva

A ventilação pulmonar é o procedimento mais importante e efetivo na


reanimação do RN em sala de parto. A VPP está indicada quando, após os
cuidados para manter a temperatura e a permeabilidade das vias aéreas, o RN
apresenta apneia, respiração irregular e/ou FC <100 bpm. A VPP precisa ser
iniciada nos primeiros 60 segundos de vida (the golden minute) (AHA, 2020).
Iniciar a VPP do RN < 34 semanas com oxigênio de 30%, titulando-se sua oferta
de acordo com a monitoração da SatO2 pré-ductal (SBC, 2019).
As recomendações da técnica de compressão torácica consistem em:
comprimir com força (1/3 do diâmetro torácico anteroposterior) e rapidez (de100
a 120/min) e aguardar retorno total do tórax; minimizar as interrupções nas
compressões; alternar os responsáveis pelas compressões a cada dois minutos
ou antes, em caso de cansaço; se estiver sem via aérea avançada, a relação
compressão-ventilação é de 15:2; se tiver via aérea avançada administre
compressões contínuas e uma ventilação a cada 2 a 3 segundos (AHA, 2020).

TEMA 2 – REANIMAÇÃO EM PEDIATRIA

As recomendações que têm origem na AHA (2020) são as mesmas citadas


logo acima. As compressões torácicas têm a mesma orientação tanto para bebês
como para crianças.

2.1 Novas recomendações para crianças segundo AHA (2020)

Segundo a AHA (2020), as novas recomendações são: intervalo de


frequência respiratória de 1 ventilação a cada 2 a 3 segundos (20 a 30/min);

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quando um TET com cuff é usado, atentar ao tamanho, à posição e à pressão de
insuflação do cuff (normalmente <20 a 25 cm H2O); o uso rotineiro de pressão
cricoide não é recomendado durante a intubação endotraqueal de pacientes
pediátricos.
É aconselhável administrar a dose inicial de epinefrina em até cinco
minutos depois do início das compressões torácicas em crianças em situação de
PCR. Segundo AHA (2020), estudos de PCREH pediátrica demonstraram que a
administração mais precoce de epinefrina aumenta as taxas de RCE, de sobrevida
depois da internação na unidade de terapia intensiva, de sobrevida depois da alta
e de sobrevida depois de 30 dias.
Quando houver recursos disponíveis, o monitoramento contínuo por
eletroencefalografia é recomendado para detectar convulsões depois de uma
PCR em pacientes com encefalopatia persistente. Os sobreviventes de PCR
pediátrica devem ser avaliados com relação à necessidade de serviços de
reabilitação.

TEMA 3 – TRAUMA EM PEDIATRIA

As crianças têm sido alvo de quedas, acidentes de transportes,


envenenamentos e outros tipos de agravos que se encontram descritos e
classificados pela OMS como causas externas. Elas constam na décima revisão
da classificação internacional de doenças (CID-10), no capítulo XX, denominadas
causas externas de morbidade e mortalidade. As lesões decorrentes dessas
causas externas englobam ferimentos, fraturas, queimaduras, intoxicações, entre
outros e constam no capítulo XIX da CID-10 (OMS, 2009).
Crianças menores de dois anos têm maior risco de lesões neurológicas em
casos de traumatismos cranianos, bem como riscos deflagrados por terceiros,
como queimaduras, intoxicações, lesões por colisão de veículos e quedas. O pré-
escolar está mais exposto a atropelamentos, quedas de alturas maiores,
ferimentos e lacerações por brinquedos e ainda queimaduras. na idade escolar,
verifica-se maior ocorrência de atropelamentos, quedas de bicicletas e de locais
altos, traumatismos dentários e ferimentos por arma de fogo. Os adolescentes são
mais propensos a lesões e fraturas por práticas esportivas, desastres com
veículos e motocicletas, atropelamentos, quedas de bicicletas e afogamentos.
nesta fase, passam a ter importância as intoxicações por abuso de drogas
(Campos; Burns; Lopez, 2014).

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O trauma é definido como lesão sofrida pelo organismo, de aparecimento
súbito, não previsto e indesejável e de suficiente intensidade, produzindo lesão/
dano/ferida/alteração de vários tipos e ordens podendo provocar reações
imediatas que exigem atendimento imediato nos serviços de urgência (Freire,
2001). O trauma é conhecido como a doença do século e é a principal causa de
morte em crianças em todo mundo. os tipos mais frequentes de acidentes
causadores de lesões traumáticas são: as quedas, acidentes de trânsito,
atropelamentos, afogamentos e queimaduras (Carvalho, 2006). Os traumatismos,
podem ser divididos em: craniano, penetrante e intra-abdominal (Rogers; Osborn,
Pousads, 1992).

3.1 Trauma crânioencefálico

De acordo com o Unicef (2015), milhões de crianças morrem em


decorrência de acidentes todos os anos no mundo ou ficam com sequelas
permanentes No Brasil, a cada ano, uma em cada 10 crianças necessita de pelo
menos um atendimento no sistema de saúde em virtude de traumas físicos.
Segundo Carvalho (2006), pode ser definido como traumatismo
crânioencefálico (TCE) toda lesão causada no sistema nervoso central provocada
por um trauma, afetando os ossos, crânio, couro cabeludo, cérebro, meninges,
couro cabeludo decorrendo de uma força mecânica.
Lesão primária é o resultado direto da lesão mecânica provocada pelo
trauma, podendo ser causada por dois mecanismos: pelo impacto ou por
aceleração e desaceleração. Ocorre no momento do trauma e geralmente não
pode ser amenizada pela intervenção médica e sim por meio de medidas de
prevenção primária (Allen et al., 1996)
Já o TCE é uma agressão ao cérebro resultante de uma força física externa,
provocando uma lesão anatómica do couro cabeludo, crânio, meninges ou
encéfalo, que pode levar a diminuição ou alteração do estado da consciência, com
comprometimento das habilidades cognitivas ou do funcionamento físico. Desse
comprometimento, pode resultar distúrbio de emoção, comportamento e do
equilíbrio funcional, podendo ser parcial ou total (Oliveira; Wibelinger; Luca, 2005).
A presença de hipertensão intracraniana, a hiperglicemia e os distúrbios de
coagulação sanguínea, principalmente a coagulação intravascular disseminada
estiveram relacionados, em alguns estudos com um pior prognóstico de crianças
com TCE grave, assim como algumas lesões intracranianas encontradas na

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tomografia de crânio, como edema e ingurgitamento cerebral difuso, hematoma
subdural, hemorragia subaracnóidea a lesão axonal difusa (Carvalho, 2007).
Os traumatismos cranioencefálicos têm como principais causas as quedas,
acidentes de trânsito e acidentes com bicicletas. Conforme Melo (2005), o nível
de consciência da criança com TCE é avaliado baseando na escala de coma de
Glasgow, que é caracterizado segundo a faixa etária da criança.

3.2 Escala de coma de Glasgow pediátrica

ATIVIDADE LACTENTE ESCORE CRIANÇA


ABERTURA Abre espontaneamente 4 Abre espontaneamente
OCULAR
Abre ao som 3 Abre ao som
Abre à dor 2 Abre à dor
Sem resposta 1 Sem resposta
RESPOSTA Barulhos, murmúrios 5 Conversa orientada
VERBAL
Choro nervoso 4 Conversa confusa
Chora com dor 3 Gritos, palavras inapropriadas
Geme com dor 2 Palavras/sons incompreensíveis
Sem resposta 1 Obedece a comandos
RESPOSTA Movimento espontâneo 6 Obedece a comandos
MOTORA
Localiza a dor 5 Localiza a dor
Se esquiva da dor 4 Se esquiva da dor
Flexão anormal 3 Flexão anormal
(decortificação) (decortificação)
Extensão anormal 2 Extensão anormal
(descerebração) (descerebração)
Sem resposta 1 Sem resposta
Fonte: elaborado com base em PHTLS, 2017.

Para avaliar crianças com menos de quatro anos, a pontuação é de 1 a 15,


e significa que quanto menor, maior será a gravidade da lesão no sistema nervoso
central. Em crianças maiores de quatro anos, a escala de coma de Glasgow é
igual à utilizada para adultos, e também vai requerer atenção, mas seu SNC se
assemelha ao adulto (Melo, 2005).

3.2.1 Manejo clínico

Podemos dividir o manejo clínico em medidas não farmacológicas,


farmacológicas e cirúrgicas. Dentre as não farmacológicas, é importante,
inicialmente, posicionar a cabeça de forma neutra, com uma elevação a 30º. Além
disso, deve-se atentar para a necessidade de hiperventilação, que é indicada

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apenas em pacientes, com monitorização da PIC, que apresentem seu valor maior
que 40 mmHg e não possuam resposta a outras medidas (Freitas, 2020). Manter
o equilíbrio hemodinâmico, facilitando a pressão de perfusão cerebral (PPC) e a
termorregulação é importante para prevenir lesões cerebrais secundárias.
(Freitas, 2020).

TEMA 4 – AVALIAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE GRAVEMENTE ENFERMOS

Considera-se gravemente enfermo o paciente que apresente sinais de


instabilidade nos sistemas vitais do organismo, com risco iminente de morte. A
detecção precoce dos sinais de deterioração clínica e as abordagens específicas
são decisivas para o prognóstico (Vasconcellos, 2011).
As situações de urgência e emergência na faixa etária pediátrica possuem
etiologias diversas e o profissional de saúde deve estar preparado para
reconhecê-las (Melo, 2011). O reconhecimento precoce dos sinais e sintomas de
gravidade em um paciente é fator decisivo para a sobrevida e bom prognóstico do
caso. É fundamental valorizar os sinais e sintomas obtidos durante a anamnese e
o exame físico sumário (Melo, 2011).

4.1 Triângulo de avaliação pediátrico (TAP)

Em 2000, a Academia Americana de Pediatria (AAP), publicou o primeiro


programa educacional pediátrico nacional para prestadores de serviços médicos
pré-hospitalares, que introduziu uma nova ferramenta de avaliação rápida,
chamada de Triângulo de Avaliação Pediátrica (TAP) (Dieckmann, 2010). Os três
componentes do TAP são: aparência, trabalho de respiração e circulação da pele.
O TAP é uma ferramenta de diagnóstico, destinada a possibilitar que o
prestador de serviços médicos articule formalmente uma impressão geral da
criança, estabeleça a gravidade da apresentação e a categoria a fisiopatologia e
determine o tipo e urgência da intervenção (Dieckmann, 2010)
Cada componente do TAP é avaliado separadamente, usando achados
físicos, visuais ou auditivos específicos predefinidos. Caso o médio detecte um
achado anormal, o componente correspondente é, por definição, anormal. Juntos,
os três componentes refletem o estado fisiológico geral da criança ou o estado
geral de oxigenação, ventilação, perfusão e função cerebral (Dieckmann, 2012;
Fernandez, 2017).

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A aparência é o componente mais importante ao determinar quão grave é
a doença ou lesão, a necessidade de tratamento e a resposta à terapia. Ela reflete
a adequação da ventilação, oxigenação, perfusão cerebral, homeostase corporal
e função do sistema nervoso central (Dieckmann, 2012). Essa característica do
TAP é delimitada pelo mnemônico TICLS: tônus, interatividade, consolabilidade,
olhar ou contemplação e faortantes, como o tônus, a consolabilidade, a interação
com cuidadores e outros e a força do choro da criança podem informar a aparência
normal ou anormal da criança ao profissional (para a idade e o desenvolvimento)
(Dieckmann, 2010).
O trabalho da respiração descreve o estado respiratório da criança,
principalmente o grau no qual a criança deve trabalhar para oxigenação e
ventilação. Avaliar o trabalho da respiração exige escutar cuidadosamente para
ouvir sons anormais audíveis das vias aéreas, por exemplo, estridor, grunhidos e
pieira) e buscar sinais de aumento no esforço de respiração (posicionamento
anormal, retrações ou queima das narinas na inspiração (Melo, 2011).
A circulação da pele reflete a perfusão geral do sangue em todo o corpo. O
profissional observa a cor e o padrão de cor da pele e das mucosas. No contexto
de perda de sangue/fluidos ou alterações no tônus venoso, os mecanismos
compensatórios desviam sangue da pele e regiões periféricas do corpo para
órgãos vitais, como o coração e o cérebro. Ao notar mudanças na cor da pele e
na perfusão da pele (como palidez, cianose ou moteamento), o profissional pode
reconhecer sinais precoces de choque (Melo, 2011).
O padrão de características afetadas no TAP ainda classifica a criança em
uma de cinco categorias: dificuldade respiratória, insuficiência respiratória,
choque, sistema nervoso central ou distúrbio metabólico e insuficiência
cardiopulmonar. A categoria específica então dita o tipo e a urgência da
intervenção (Melo, 2011).

TEMA 5 – EDUCAÇÃO PERMANENTE EM RESSUSCITAÇÃO SEGUNDO


DIRETRIZES AHA-2020

Destacamos recomendações novas e atualizadas pelas Diretrizes da AHA


de 2020 na educação que acreditamos que terão um impacto significativo nos
resultados de uma PCR:

Realidade virtual, que é o uso de uma interface de computador para criar


um ambiente imersivo e o aprendizado gamificado, que é jogar e
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competir com outros alunos, pode ser incorporado no treinamento de
ressuscitação para leigos e profissionais da saúde. A aprendizagem
gamificada incorpora competição ou jogo em torno do tópico de
ressuscitação e a realidade virtual usa uma interface de computador que
permite ao usuário interagir com um ambiente virtual.

O treinamento in situ (ou seja, educação de ressuscitação em espaços


clínicos reais) pode ser usado para melhorar os resultados do
aprendizado e o desempenho da ressuscitação.

Treinamento de reforço (ou seja, sessões breves de novo treinamento)


deve ser adicionado ao aprendizado massivo (ou seja, baseado em
curso tradicional) para ajudar na retenção das habilidades de RCP.
Desde que os alunos individuais possam participar de todas as sessões,
separar o treinamento em várias sessões (ou seja, aprendizagem
espaçada), é preferível ao aprendizado massivo. Recomendamos
implementar sessões de reforço ao utilizar uma abordagem de
aprendizagem massiva para treinamento de ressuscitação. É
aconselhável usar uma abordagem de aprendizagem espaçada no lugar
de uma abordagem de aprendizagem em massiva para treinamento de
ressuscitação.

Todos os profissionais da saúde devem concluir um curso de SAVC para


adultos ou equivalente.

A incorporação de um modelo de prática deliberada e de aprendizagem


para o domínio em cursos de suporte básico ou avançado de vida podem
ser considerados para a melhoria de aquisição de habilidades e de
desempenho.

Pode-se considerar uma combinação de autoaprendizagem e ensino


ministrado por instrutores, com treinamento prático, como alternativa aos
tradicionais cursos conduzidos por instrutores para socorristas leigos. Se
o treinamento facilitado por instrutor não estiver disponível, o
treinamento autodirigido é recomendado para socorristas leigos.
Recomendamos treinar crianças do ensino fundamental e do ensino
médio sobre como realizar RCP de alta qualidade.

É aconselhável que os socorristas leigos recebam treinamento para


responder a overdose de opioides, incluindo a disponibilidade de
naloxona.

O direcionamento para educação em RCP e modificações para


considerar aspectos populacionais étnicos, raciais e de baixo nível
socioeconômico, e para abordar diferenças de gênero pode eliminar as
disparidades no treinamento e da RCP realizada por pessoa presente no
local, melhorando os resultados da ressuscitação nessas populações.

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REFERÊNCIAS

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