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Cuidados na

Hora do Nascimento 2
No Brasil, nascem cerca de 3 milhões de crianças ao ano, das quais 98% em hospitais.1 Sabe-
-se que a maioria delas nasce com boa vitalidade; entretanto, manobras de reanimação po-
dem ser necessárias de maneira inesperada. São essenciais o conhecimento e a habilidade
em reanimação neonatal para todos os profissionais que atendem RN em sala de parto,
mesmo quando se esperam crianças hígidas sem hipóxia ou asfixia ao nascer.

O risco de haver necessidade de procedimentos de reanimação é maior quanto menor a


idade gestacional e/ou o peso ao nascer.

Necessidade de reanimação ao nascimento:2


• Ventilação com pressão positiva: 1 em cada 10 RNs.
• Intubação e/ou massagem cardíaca: 1 em cada 100 RNs.
• Intubação, massagem e/ou medicações: 1 em cada 1.000 RNs,
desde que a ventilação seja aplicada adequadamente.
Em RNs prematuros:3,4
• Nascidos com menos de 1.500 g: 2 em cada 3 RNs.
• Idade gestacional de 34 a 36 semanas: 2 em cada 10 RNs.

O parto cesáreo, realizado entre 37 e 39 semanas de gestação, mesmo não havendo fatores
de risco antenatais para asfixia, também eleva o risco de necessidade de ventilação do RN.5

Assim, estima-se que no Brasil, a cada ano, 300 mil crianças requeiram ajuda para iniciar e
manter a respiração ao nascer e cerca de 25 mil RNs prematuros de muito baixo peso pre-
cisem de assistência ventilatória na sala de parto.

As práticas atuais de reanimação em sala de parto baseiam-se nas diretrizes publicadas pelo
International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR),6 que são elaborados por especia-
listas de vários países, e pela Associação Americana de Cardiologia e Academia Americana
de Pediatria,7 em 2010, e adotadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria em 2011.8 A cada
cinco anos, após processo de revisão baseada nas melhores evidências cientificas disponí-
veis, são elaborados consensos sobre os assuntos controversos e recomendações referentes
a diversos aspectos da reanimação neonatal.

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As diretrizes são apenas orientações gerais para os cuidados ao RN na


sala de parto, existindo ainda muitas controvérsias relacionadas aos
procedimentos e aos aspectos éticos da reanimação neonatal.

2.1 Preparo para a assistência

O preparo para atender o RN na sala de parto inclui necessariamente:


• Realização de anamnese materna.
• Disponibilidade do material para atendimento.
• Presença de equipe treinada em reanimação neonatal.

2.1.1 Anamnese materna

As condições perinatais descritas no Quadro 2 estão associadas ao maior risco de neces-


sidade de reanimação.

Quadro 2 – Condições perinatais associadas à necessidade de reanimação neonatal8


Fatores antenatais
• Idade <16 anos ou >35 anos • Ausência de cuidado pré-natal
• Diabetes • Rotura prematura das membranas
• Hipertensão específica da gestação • Pós-maturidade
• Hipertensão crônica • Gestação múltipla
• Anemia fetal ou aloimunização • Discrepância entre idade gestacional e peso ao nascer
• Óbito fetal ou neonatal anterior • Diminuição da atividade fetal
• Sangramento no 2o ou 3o trimestre • Uso de drogas ilícitas
• Infecção materna • Malformação ou anomalia fetal
• Doença materna cardíaca, renal, • Uso de medicações (por exemplo, magnésio e bloqueadores
tireoidiana ou neurológica adrenérgicos)
• Polidrâmnio ou oligoâmnio • Hidropsia fetal
Fatores relacionados ao parto
• Cesariana de emergência • Bradicardia fetal
• Uso de fórceps ou extração a vácuo • Padrão anormal de frequência cardíaca fetal
• Apresentação não cefálica • Anestesia geral
• Trabalho de parto prematuro • Tetania uterina
• Parto taquitócico • Líquido amniótico meconial
• Corioamnionite • Prolapso de cordão
• Rotura prolongada de membranas • Uso materno de opioides nas 4 horas que
(>18 horas antes do parto) antecedem o parto
• Trabalho de parto prolongado • Segundo estágio do trabalho de parto
(>24 horas) prolongado (>2 horas)
• Placenta prévia • Descolamento prematuro da placenta
• Macrossomia fetal • Sangramento intraparto abundante
Fonte: Almeida; Guinsburg (2011).

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2.1.2 Material para atendimento

Todo material necessário para reanimação deve ser preparado, testado e estar disponível,
em local de fácil acesso, antes do nascimento. Esse material é destinado à manutenção da
temperatura, aspiração de vias aéreas, ventilação e administração de medicações. O Quadro
3 apresenta os materiais apropriados para a assistência ao RN na sala de parto.

A temperatura ambiente na sala de parto deve ser, no mínimo, de 260C para que se mante-
nha com maior facilidade a temperatura corpórea normal do RN.6-8

2.1.3 Equipe treinada em reanimação neonatal

Considerando-se a frequência elevada da necessidade de realização de algum procedimen-


to de reanimação no RN e a rapidez com que tais manobras devem ser iniciadas, é funda-
mental que pelo menos um profissional capaz de iniciar de forma adequada a reanimação
neonatal esteja presente durante todo o parto.

Quando se antecipa o nascimento de um concepto de alto risco, podem ser


necessários dois a três profissionais treinados e capacitados para reanimar o
RN de maneira rápida e efetiva.

Os auxiliares atuarão junto ao médico, e este deve dedicar-se exclusivamente ao RN. No caso
do nascimento de gemelares, deve-se dispor de material e equipe próprios para cada criança.

Para a recepção do RN, devem-se utilizar as precauções-padrão, que compreendem lava-


gem/higienização correta das mãos e uso de luvas, avental impermeável, máscara e prote-
ção facial para evitar contaminação do profissional com material biológico do RN.10

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Quadro 3 – Material necessário para assistência ao RN na sala de parto8,9


Sala de parto e/ou de reanimação com temperatura ambiente de 26°C e:
• Mesa de reanimação com acesso por três lados
• Fonte de calor radiante
• Fontes de oxigênio umidificado e de ar comprimido, com fluxômetros
• Aspirador a vácuo com manômetro
• Relógio de parede com ponteiro de segundos
• Termômetro digital para mensuração da temperatura ambiente
Material para aspiração
• Sondas: traqueais nos 6, 8 e 10
• Sondas gástricas curtas nos 6 e 8
• Dispositivo para aspiração de mecônio
• Seringa de 20 mL
Material para ventilação
• Reanimador manual neonatal (balão autoinflável com volume máximo de 750 mL, reservatório de O2 e
válvula de escape com limite de 30 – 40 cm H2O e/ou manômetro)
• Ventilador mecânico manual neonatal em T
• Máscaras redondas com coxim para prematuros tamanho 00 e 0 e de termo 1
• Blender para mistura oxigênio/ar
• Oxímetro de pulso com sensor neonatal e bandagem elástica escura
Material para intubação traqueal
• Laringoscópio infantil com lâmina reta nos 00, 0 e 1
• Cânulas traqueais sem balonete, de diâmetro uniforme 2,5/ 3,0/ 3,5 e 4,0 mm
• Material para fixação da cânula: tesoura, fita adesiva e algodão com SF 0,9%
• Pilhas e lâmpadas sobressalentes
• Detector colorimétrico de CO2 expirado
Medicações
• Adrenalina diluída em SF 0,9% a 1/10.000 em uma seringa de 5,0 mL para administração única
endotraqueal
• Adrenalina diluída em SF 0,9% a 1/10.000 em uma seringa de 1,0 mL para administração endovenosa
• Expansor de volume (SF 0,9% ou Ringer-lactato) em duas seringas de 20 mL
• Álcool etílico 70% ou clorexidina alcoólica 0,5%
• Nitrato de prata 1% e ampola de água destilada
• Vitamina K1
Material para cateterismo umbilical
• Campo fenestrado esterilizado, cadarço de algodão e gaze
• Pinça tipo kelly reta de 14 cm e cabo de bisturi com lâmina n° 21
• Porta agulha de 11cm e fio agulhado mononylon 4.0
• Sonda traqueal sem válvula n° 6 ou 8 ou cateter umbilical 5F ou 8F
Outros
• Luvas e óculos de proteção individual
• Compressas e gazes esterilizadas
• Estetoscópio neonatal
• Saco de polietileno de 30x50 cm e touca para proteção térmica do RN prematuro
• Tesoura de ponta romba e clampeador de cordão umbilical
• Seringas de 20 mL, 10 mL, 5 mL e 1 mL e agulhas
• Balança digital e antropômetro
Fonte: CGIAE/DASIS/SVS/MS.

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2.2 Avaliação da vitalidade ao nascer

Imediatamente após o nascimento, a necessidade de reanimação depende da avaliação rápida


de quatro situações referentes à vitalidade do concepto, sendo feitas as seguintes perguntas:
• Gestação a termo?
• Ausência de mecônio?
• Respirando ou chorando?
• Tônus muscular bom?

Se a resposta é sim a todas as perguntas, considera-se que o RN está com


boa vitalidade e não necessita de manobras de reanimação.6-8

A determinação da necessidade de reanimação e a avaliação de sua eficácia dependem da


avaliação simultânea de dois sinais:
• Respiração.
• Frequência cardíaca (FC).

A FC é o principal determinante da decisão de indicar as diversas manobras de reanimação.


Logo após o nascimento, o RN deve respirar de maneira regular e suficiente para manter a
FC acima de 100 bpm. A FC é avaliada por meio da ausculta do precórdio com estetoscópio,
podendo eventualmente ser verificada pela palpação do pulso na base do cordão umbilical.
Tanto a ausculta precordial quanto a palpação do cordão podem subestimar a FC.11

A avaliação da coloração da pele e das mucosas do RN não é mais utilizada para decidir
procedimentos na sala de parto. Estudos têm mostrado que a avaliação da cor das extremi-
dades, do tronco e das mucosas é subjetiva e não tem relação com a saturação de oxigênio
ao nascimento.12 Além disso, RN com esforço respiratório e FC adequados podem demorar
alguns minutos para ficarem rosados. Nos RNs que não precisam de procedimentos de re-
animação ao nascer, a saturação de oxigênio com um minuto de vida situa-se ao redor de
60% – 65%, só atingindo valores de 87% – 92% no quinto minuto de vida.13

O processo de transição para alcançar saturação de oxigênio acima de 90%


requer cinco minutos ou mais em RNs saudáveis que respiram ar ambiente.13

O boletim de Apgar não deve ser utilizado para determinar o início da reanimação nem
as manobras a serem instituídas no decorrer do procedimento. No entanto, sua aferição
longitudinal permite avaliar a resposta do RN às manobras realizadas e a eficácia dessas
manobras. Se o escore é inferior a sete no quinto minuto, recomenda-se sua aplicação a
cada cinco minutos, até 20 minutos de vida.14 Enfatiza-se que, apesar da subjetividade e da
dificuldade em aplicá-lo em RN sob ventilação, o acompanhamento dos escores de Apgar

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em uma instituição permite identificar a necessidade de implementar programas educa-


cionais e melhoria no cuidado perinatal, além de verificar o impacto das intervenções na
qualidade do serviço. É necessário que a documentação do escore de Apgar seja conco-
mitante à dos procedimentos de reanimação executados, em formulário específico, como
demonstrado no Quadro 4.14

Quadro 4 – Escore de Apgar ampliado14


1 5 10 15 20
Sinal 0 1 2 min. min. min. min. min.
Frequência Ausente <100 bpm >100 bpm
Cardíaca
Esforço Ausente Irregular Regular
Respiratório
Tônus Flacidez Alguma flexão Boa
Muscular total extremidades movimentação
Irritabilidade Alguma
Ausente Espirros
Reflexa reação
Cianose/ Corpo róseo Corpo e
Cor palidez Extremidades extremidades
cutânea cianóticas róseos
TOTAL
Comentários: Reanimação
Minutos 1 5 10 15 20
O2 inalatório
VPP
CPAP nasal
IOT
M Cardíaca
Adren/Expansor
Fonte: American Academy of Pediatrics; American College of Obstetricians and Gynecologists (2006).

BPM – batimentos por minuto; VPP – ventilação com pressão positiva com balão/ventilador manual
e máscara; CPAP – pressão positiva contínua nas vias aéreas; IOT – intubação traqueal; M. Cardíaca –
massagem cardíaca; Adren./Expansor – Adrenalina/Expansor de volume.

2.3 Assistência ao RN a termo com boa vitalidade ao nascer

Se, ao nascimento, verifica-se que o RN é a termo, está respirando ou chorando e com tônus
muscular em flexão, sem a presença de líquido amniótico meconial, a criança apresenta boa
vitalidade e não necessita de qualquer manobra de reanimação.6-8

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Três metanálises recentes15-17 com vários ensaios clínicos randomizados,


além de um estudo nacional,18 concluíram que o clampeamento em tempo
oportuno do cordão umbilical é benéfico em comparação ao clampeamento
imediato com relação aos índices hematológicos na idade de 3 a 6 meses.
O RN a termo com boa vitalidade deve ser secado e posicionado sobre o
abdome da mãe ou ao nível da placenta por, no mínimo, um minuto, até o
cordão umbilical parar de pulsar (aproximadamente três minutos após o
nascimento), para só então realizar-se o clampeamento.

Após o clampeamento do cordão, o RN poderá ser mantido sobre o abdome e/ou tórax
materno, usando o corpo da mãe como fonte de calor, garantindo-se que o posicionamen-
to da criança permita movimentos respiratórios efetivos. O contato pele a pele imediata-
mente após o nascimento, em temperatura ambiente de 260C, reduz o risco de hipotermia
em RNs a termo que nascem com respiração espontânea e que não necessitam de ventila-
ção, desde que cobertos com campos preaquecidos.6-8 Nesse momento, podem-se iniciar
a amamentação.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que o aleitamento materno seja


iniciado na primeira hora de vida, pois está associado à menor mortalidade
neonatal, ao maior período de amamentação, à melhor interação mãe-bebê e
ao menor risco de hemorragia materna.19

Após a realização dos cuidados de rotina na sala de parto, a serem relatados ao final do texto,
o RN, em boas condições clínicas, deve ser encaminhado com a mãe ao alojamento conjunto.

2.4 Assistência ao RN com líquido amniótico meconial

Na presença de líquido amniótico meconial, fluido ou espesso, o obstetra não deve realizar
a aspiração das vias aéreas, pois esse procedimento não diminui a incidência de síndrome
de aspiração de mecônio, a necessidade de ventilação mecânica nos RNs que desenvolvem
pneumonia aspirativa, nem o tempo de oxigenoterapia ou de hospitalização.20

A conduta do profissional diante da presença de líquido tinto de mecônio


depende da vitalidade do RN.

Caso o neonato com líquido meconial fluido ou espesso apresente, logo após o nascimen-
to, movimentos respiratórios rítmicos e regulares, tônus muscular adequado e FC maior que
100 bpm, a conduta deverá ser, nesta ordem:

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• Levar o RN à mesa de reanimação.


• Colocá-lo sob fonte de calor radiante.
• Posicionar sua cabeça com uma leve extensão do pescoço.
• Aspirar o excesso de secreções da boca e do nariz com sonda de aspiração
traqueal nº 10.
• Secar e desprezar os campos úmidos, verificando novamente a posição da cabeça.
• Avaliar a FC e a respiração.

Se a avaliação resultar normal, o RN receberá os cuidados de rotina na sala de parto.


Quando o neonato com líquido amniótico meconial fluido ou espesso, logo após o nasci-
mento, não apresentar ritmo respiratório regular e/ou o tônus muscular estiver flácido e/ou
a FC for menor que 100 bpm, o profissional deve:

Realizar a retirada do mecônio residual da hipofaringe e da traqueia sob


visualização direta e fonte de calor radiante.

A aspiração traqueal propriamente dita deve ser feita com cânula traqueal conectada a
um dispositivo para aspiração de mecônio e ao aspirador a vácuo, com pressão máxima
de 100 mmHg. Recomenda-se aspirar o excesso de mecônio uma única vez. Se o RN
permanecer com FC < 100 bpm, respiração irregular ou apneia, deve-se iniciar a ventilação
com pressão positiva.6,8

2.5 Assistência ao RN com necessidade de reanimação

2.5.1 Passos iniciais

Se o RN é pré-termo ou se, logo após nascer, não estiver respirando e/ou apresenta-se
hipotônico, indicam-se os passos iniciais, que consistem em:

• Prover calor.
• Posicionar a cabeça em leve extensão.
• Aspirar vias aéreas, se houver excesso de secreções.
• Secar e desprezar os campos úmidos (se RN >1.500 g).
• Reposicionar a cabeça, se necessário.

Os passos iniciais devem ser executados em, no máximo, 30 segundos.

2.5.1.1 Prover calor

O primeiro passo consiste em manter a temperatura corporal entre 36,5°C e 370C. Relatos
recentes consideram que a hipotermia na admissão à terapia intensiva neonatal, (tempe-
ratura corporal abaixo de 36,50C) é um fator independente de risco para mortalidade e

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morbidade. A hipotermia agrava ou favorece o desequilíbrio ácido-básico, o desconforto


respiratório, a enterocolite necrosante e a hemorragia intraperiventricular em RN de muito
baixo peso.21 Assim, para diminuir a perda de calor nesses RNs, é importante preaquecer a
sala de parto e a sala onde serão realizados os procedimentos de reanimação, mantendo
temperatura ambiente de, no mínimo, 260C.6-8

Após o clampeamento do cordão, o RN é recepcionado em campos aquecidos e colocado


sob calor radiante.

Em RN com idade gestacional inferior a 29 semanas ou peso ao nascer


inferior a 1.500g, recomenda-se o uso de saco plástico transparente de
polietileno de 30x50 cm.

Assim, logo depois de posicioná-lo sob fonte de calor radiante e antes de secá-lo,
­introduz-se o corpo do RN pré-termo, exceto a face, dentro do saco plástico e, a seguir, rea-
lizam-se as manobras necessárias. Todos os procedimentos da reanimação são executados
com o RN dentro do saco plástico. Tal prática pode ser suplementada pelo emprego de tou-
ca para reduzir a perda de calor na região da fontanela. Cuidado especial deve ser tomado
no sentido de evitar a hipertermia, pois pode agravar a lesão cerebral em RNs asfixiados.6-8

2.5.1.2 Manter a permeabilidade das vias aéreas

A fim de manter a permeabilidade das vias aéreas, posiciona-se a cabeça com leve extensão
do pescoço. Devem-se evitar a hiperextensão e a flexão exagerada. Por vezes, é necessário
colocar um coxim sob os ombros do RN para facilitar o posicionamento adequado da cabeça.
Na sequência, se houver excesso de secreções nas vias aéreas, a boca e, depois, as narinas são
aspiradas delicadamente com sonda traqueal conectada ao aspirador a vácuo, sob pressão
máxima aproximada de 100 mmHg.

Evitar a introdução da sonda de aspiração de maneira brusca ou na faringe


posterior, pois esse procedimento pode induzir à resposta vagal e ao espasmo
laríngeo, com apneia e bradicardia.

A aspiração da hipofaringe também deve ser evitada, pois pode causar atelectasia, trauma
e prejudicar o estabelecimento de respiração efetiva.

Uma vez executados os passos iniciais da reanimação, avalia-se a FC e a respiração. Se hou-


ver vitalidade adequada, com FC >100 bpm e respiração rítmica e regular, o RN deve rece-
ber os cuidados de rotina na sala de parto. Se o RN, após os passos iniciais, não apresentar
melhora, indica-se a ventilação com pressão positiva, que deve ser iniciada nos primeiros
60 segundos de vida (“minuto de ouro”).

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2.5.2 Ventilação com pressão positiva

A ventilação pulmonar é o procedimento mais simples, importante e efetivo na reanimação


do RN em sala de parto. A insuflação dos pulmões acarreta dilatação da vasculatura pulmo-
nar, permitindo que a hematose possa ocorrer de forma apropriada.

A ventilação com pressão positiva é indicada quando, após execução dos


passos iniciais em 30 segundos, o RN apresentar pelo menos uma das
seguintes situações:
• Apneia.
• Respiração irregular.
• FC menor que 100bpm.

2.5.2.1 Equipamentos para ventilação


Os equipamentos empregados para ventilar o RN em sala de parto compreendem o balão
autoinflável, o balão anestésico e o ventilador mecânico manual em T. Até o momento, não
existem ensaios clínicos randomizados com a finalidade de comparar tais equipamentos,
sendo as vantagens e desvantagens de cada um deles resumidas no Quadro 5.3

Quadro 5 – Equipamentos para ventilar o RN durante a reanimação22


Ventilador mecânico
Característica Balão autoinflável Balão anestésico manual em T
Fornece 90% – 100% O2
com reservatório e 40% Fornece 90% – 100% O2 Fornece 90% – 100% O2
Concentração de O2 sem reservatório
oxigênio Varia [O2] se ligado ao Varia [O2] se ligado ao
Varia [O2] se ligado ao blender blender
blender
Depende da força de
Depende da força da compressão Ajuste no mostrador de
Pressão inspiratória compressão
forma mecânica
Necessita de manômetro Necessita de
manômetro
Ajuste da válvula de Ajuste no mostrador de
Peep Sem controle direto controle de fluxo forma mecânica
Depende do tempo
Tempo inspiratório Depende da duração da Depende da duração de oclusão manual da
compressão da compressão válvula da Peep

Mecanismos de Válvula de escape Válvula de escape


Manômetro para limite máximo de
segurança Manômetro opcional pressão Manômetro
Volume apropriado Disponível – 240 mL e Disponível Não se aplica
do balão 500 mL
Fonte: Kattwinkel (2006).

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O balão autoinflável é de fácil manuseio e não necessita de fonte de gás para funcionar,
tratando-se de um equipamento de baixo custo, que permite a ventilação efetiva do RN
em sala de parto. A quantidade de escape de ar entre face e máscara e a complacência
pulmonar são pontos críticos na efetividade da ventilação com balão autoinflável e más-
cara facial. A pressão inspiratória máxima a ser administrada é limitada pela válvula de
escape, ativada em 30 a 40 cmH2O para evitar o barotrauma. Entre as desvantagens do
equipamento, ressalta-se a impossibilidade de fornecer pico de pressão inspiratória cons-
tante (o que obriga o uso do manômetro durante a ventilação), a ativação variável da vál-
vula de escape e a falta de pressão expiratória final positiva (Peep) confiável. Além disso, o
balão autoinflável fornece concentração de oxigênio apenas de 21% (ar ambiente, quando
não está conectado ao oxigênio e ao reservatório) ou de 90% – 100% (conectado à fonte
de oxigênio a 5 L/minuto e ao reservatório). A oferta de concentrações intermediárias de
oxigênio varia de acordo com o fluxo de oxigênio, a pressão exercida no balão, o tempo
de compressão e a frequência aplicada.22-24

O balão autoinflável deve estar sempre disponível em toda sala de parto, caso
os outros equipamentos não funcionem adequadamente.6-8

O balão anestésico é menos utilizado na reanimação do RN em sala de parto, pois é de manu-


seio difícil e precisa obrigatoriamente de uma fonte de gás para inflar. Além disso, as pressões
aplicadas podem variar consideravelmente devido à dificuldade para controlar a saída do
gás e comprimir o balão de forma simultânea, facilitando a aplicação inadvertida de picos de
pressão inspiratória e de Peep perigosamente elevados. Os profissionais que utilizam balão
anestésico requerem mais capacitação que aqueles que empregam balões autoinfláveis.

O ventilador mecânico manual em T tem sido empregado de maneira crescente na reani-


mação neonatal, em especial em RNs prematuros. Além de seu manuseio ser relativamente
fácil, o equipamento permite administrar pressão inspiratória e Peep constantes, ajustáveis
de acordo com a resposta clínica do RN. Para o funcionamento adequado do ventilador, há
necessidade de uma fonte de gás comprimida; se houver disponibilidade de fontes de ar
comprimida e de oxigênio e blender, podem-se controlar a oferta de oxigênio ao paciente.
Apesar disso, vale lembrar que a administração do volume corrente depende principalmen-
te da complacência pulmonar, que se altera no decorrer do tempo, logo após o nascimento.

Quanto à interface entre o equipamento para ventilação e o RN, podem-se utilizar a más-
cara facial ou a cânula traqueal. A máscara facial deve ser constituída de material maleável
transparente ou semitransparente, borda acolchoada ou maleável e planejada para possuir
um espaço morto inferior a 5 mL. As máscaras faciais estão disponíveis em três tamanhos:
para RN a termo, prematuro e prematuro extremo. O emprego de máscara de tamanho
adequado, de tal forma que cubra a ponta do queixo, a boca e o nariz, é fundamental para
se obter um ajuste adequado entre a face e a máscara e garantir o sucesso da ventilação.

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2.5.2.2 Oxigênio suplementar na ventilação

Para ventilar o RN, é necessário decidir a concentração de oxigênio a ser ministrada: 100%,
ar ambiente ou alguma concentração intermediária.

Duas metanálises25,26 indicaram que RNs a termo ou RNs prematuros tardios, com asfixia
perinatal leve a moderada e ventilados com ar ambiente, em comparação aos ventilados
com oxigênio a 100%, requerem menor tempo para iniciar a respiração, apresentam au-
mento mais rápido da FC e mostram redução da mortalidade neonatal precoce e tardia.
Apesar disso, ao redor de 25% dos RNs inicialmente ventilados com ar ambiente receberam
oxigênio a 100% na ausência de melhora da cianose e persistência da bradicardia com 90
segundos de ventilação.

Após os passos iniciais, se o RN com 34 semanas ou mais de idade


gestacional apresenta apneia, respiração irregular ou FC <100 bpm,
deve-se iniciar a ventilação com ar ambiente, desde que o profissional
fique atento à apropriada insuflação pulmonar e à normalização da FC e que
exista oxigênio suplementar para uso se não houver melhora em 90 dias.

Em relação aos RNs pré-termo, não há consenso quanto à concentração de oxigênio ideal
para sua reanimação. Se, por um lado, o uso de ar ambiente na ventilação de RNs prema-
turos durante a reanimação em sala de parto pode não ser suficiente para que eles atin-
jam oxigenação adequada, o emprego de oxigênio a 100% pode ser excessivo e deletério,
contribuindo para o surgimento de lesões inflamatórias nos pulmões e no sistema nervoso
central. Assim, com base em estudos recentes27,28 recomenda-se:

Em RN pré-termo que necessite de suporte ventilatório, utilizar a concentração


inicial de 40%, aumentando-a ou reduzindo-a por meio de um blender de
acordo com as medidas de oximetria de pulso, de modo a manter a saturação
de O2 adequada e a FC superior a 100 bpm.

Uma vez iniciada a ventilação com pressão positiva, recomenda-se o uso da oximetria de
pulso para monitorar a oferta do oxigênio suplementar. Deve-se aplicar sempre o sensor
neonatal na região do pulso radial ou na palma da mão direita e, a seguir, conectá-lo ao cabo
do oxímetro. A leitura confiável da saturação de oxigênio (SatO2) e da FC demora cerca de
1 – 2 minutos após o nascimento, desde que haja débito cardíaco suficiente , com perfusão
periférica.29 Os valores desejáveis de SatO2 variam de acordo com os minutos de vida:7,8,13 até
cinco minutos, 70% – 80%; de 5 – 10 minutos, 80% – 90%; e mais de dez minutos, 85% – 95%.

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Caso o blender ou o oxímetro não forem disponíveis, iniciar a ventilação com pressão po-
sitiva com ar ambiente, ficar atento à apropriada insuflação pulmonar e à normalização da
FC e, se não houver melhora em 90 segundos, continuar a ventilação com pressão positiva
com oxigênio a 100%.

2.5.2.3 Ventilação com balão e máscara facial

Para a realização da ventilação com pressão positiva, aplica-se a máscara conectada ao


balão autoinflável sobre a face do RN. A pressão a ser aplicada deve ser individualizada para
que o RN alcance e mantenha FC >100 bpm. De modo geral, deve-se iniciar com pressão
inspiratória ao redor de 20 cmH20, podendo raramente alcançar 30 – 40 cmH20 nos RNs
com pulmões muito imaturos ou muito doentes. É obrigatória a monitoração da pressão
oferecida pelo balão por meio de manômetro. A ventilação é feita na frequência de 40 a 60
movimentos/minuto, de acordo com a regra prática “aperta/solta/solta/aperta...”.

A ventilação efetiva deve provocar inicialmente elevação da FC e, a seguir,


melhora do tônus muscular, para depois ocorrer o estabelecimento da
respiração espontânea.

Se o RN apresentar movimentos respiratórios espontâneos e regulares com FC maior que


100 bpm, deve-se suspender a ventilação.

Considera-se falha da ventilação se, após 30 segundos do procedimento, o RN mantiver FC


inferior a 100 bpm. Quando a ventilação é ineficaz, devem-se verificar o ajuste entre face e
máscara, a permeabilidade das vias aéreas (posicionando a cabeça, aspirando secreções e
abrindo a boca do RN) e, finalmente, se necessário, aumentar a pressão no balão. Recomen-
da-se, durante períodos prolongados de ventilação, a inserção de uma sonda orogástrica,
deixada em drenagem para diminuir a distensão gástrica.3,6,7

2.5.2.4 Ventilação com balão e cânula traqueal

As situações mais frequentes para indicação de intubação orotraqueal incluem: ventilação


com máscara facial inefetiva, ou seja, se após a correção de possíveis problemas técni-
cos relacionados ao seu uso não há melhora clínica do RN; ventilação com máscara facial
prolongada; e necessidade de aplicação de massagem cardíaca e/ou de adrenalina. Além
dessas situações, a intubação orotraqueal é obrigatória em RN com algumas anomalias
congênitas e deve ser considerada em RNs prematuros extremos, que poderão receber
surfactante exógeno profilático de acordo com a rotina do serviço.2,3,6,7

A estratégia da intubação na sala de parto deve ser individualizada e restrita


aos RNs que a necessitam.

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M inistério da S aúde

Um dos pontos negativos da intubação relaciona-se à presença da cânula na traqueia, que,


ao ultrapassar a laringe, anula a pressão expiratória final intrínseca, diminuindo a pressão
intratraqueal durante a expiração, podendo levar a colapso pulmonar, com consequente
redução do volume pulmonar e da capacidade residual funcional. Daí a importância da
manutenção de Peep, especialmente em RN pré-termo.

A indicação da intubação no processo de reanimação depende da habilidade e da expe-


riência do profissional que está reanimando o RN. Se o profissional não é suficientemente
qualificado, existe elevado risco de complicações como hipoxemia, apneia, bradicardia,
pneumotórax, laceração de tecidos moles, perfuração de traqueia ou esôfago, além de
maior risco de infecção.2,3,6,7 Durante todo o procedimento de intubação, o auxiliar deve
oferecer oxigênio inalatório.

Em caso de insucesso após 20 segundos do início do procedimento, este


deve ser interrompido e iniciada a ventilação com balão e máscara, sendo a
seguir realizada nova tentativa de intubação.

A confirmação da posição da cânula é obrigatória, sendo prioritária nos RNs bradicárdicos,


que não estão respondendo às medidas de reanimação. Na prática, costuma-se confirmar a
posição da cânula por meio da inspeção do tórax, auscultação das regiões axilares e gástri-
ca, visualização de condensação na cânula traqueal e observação da FC. Com essa avaliação
subjetiva, a demora pode ser de 30 a 60 segundos antes de ser tomada a decisão de reen-
tubar o RN, predispondo-o à lesão hipóxica. Assim, a detecção de dióxido de carbono (CO2)
exalado é recomendada, pois, além de objetiva, diminui o tempo para confirmar a posição
da cânula.2,3,6,7 O método mais utilizado é o colorimétrico, no qual o detector pediátrico é
posicionado entre o conector da cânula e o balão/ventilador.

Após a intubação, inicia-se a ventilação com balão autoinflável, na mesma frequência e


pressão descritas na ventilação com balão e máscara. Havendo melhora, isto é, se o RN
apresentar movimentos respiratórios espontâneos e regulares com FC acima de 100 bpm, a
ventilação é suspensa e o RN extubado, sendo administrado oxigênio inalatório por cateter,
com retirada gradual. Quando o RN mantém apneia ou respiração irregular, a intubação e
a ventilação devem ser mantidas e, em seguida, o neonato deve ser levado à unidade de
terapia intensiva neonatal em incubadora própria para o transporte.

2.5.2.5 Ventilador manual em T com máscara facial ou cânula traqueal

Para o uso do ventilador mecânico manual em T, fixar o fluxo gasoso em 10 L/minuto, limitar
a pressão máxima do circuito em 40 cmH2O, selecionar a pressão inspiratória a ser aplicada
em cada ventilação, em geral ao redor de 20 cmH2O e ajustar a Peep em 5 cmH2O. Após as
três primeiras ventilações, reajustar a pressão inspiratória de modo a visualizar o movimento

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torácico leve e auscultar a entrada de ar nos pulmões. A concentração de oxigênio inicial


depende da idade gestacional: RN, com idade gestacional inferior a 34 semanas, ajustar em
40% e, em RN de 34 ou mais semanas, começar com ar ambiente. O ajuste da concentração
de O2 necessária deve ser guiado pela oximetria de pulso. Ventilar com frequência de 40
a 60 movimentos por minuto, que pode ser obtida com a regra prática “ocluir a peça em
T/soltar/soltar/ocluir...”. A conduta diante da melhora ou não do paciente está descrita nos
itens 2.5.2.3 e 2.5.2.4.

2.5.2.6 Pressão positiva contínua nas vias aéreas (Cpap)

Evidências indicam que é importante manter os alvéolos dos pulmões imaturos e deficientes
em surfactante não colapsados, evitando-se o atelectrauma. Para isso, o uso precoce do Peep
nas ventilações iniciais na sala de parto pode ser eficaz e minimizar o edema pulmonar e a
liberação de citocinas, melhorando assim a complacência e a resposta ao surfactante. Nesse
sentido, ensaios clínicos randomizados e prospectivos têm testado o uso de Cpap versus a in-
tubação e ventilação mecânica na sala de parto, como estratégia para diminuir a necessidade
de intubação traqueal, de ventilação mecânica e de surfactante exógeno em RNs prematuros
entre 25 e 32 semanas.31,32 Esses estudos mostraram que o Cpap precoce reduziu a necessida-
de de ventilação mecânica e de surfactante, mas não alterou a mortalidade intra-hospitalar.
Em um deles, o uso do Cpap promoveu aumento da incidência de pneumotórax.

2.5.3 Massagem cardíaca

A asfixia pode desencadear vasoconstrição periférica, hipoxemia tecidual, diminuição da


contratilidade miocárdica, bradicardia e, eventualmente, parada cardíaca. A ventilação ade-
quada reverte esse quadro na grande maioria dos casos. Deve-se lembrar que, como a mas-
sagem cardíaca diminui a eficácia da ventilação, ela só deve ser iniciada quando a expansão
e a ventilação pulmonares estiverem bem estabelecidas.

A massagem cardíaca só deve ser iniciada se, após 30 segundos de


ventilação com oxigênio suplementar, o RN apresentar ou persistir com FC
inferior a 60 bpm.

A compressão cardíaca é realizada no terço inferior do esterno preferencialmente por meio da


técnica dos dois polegares posicionados logo abaixo da linha intermamilar, poupando-se o
apêndice xifoide. De modo eventual, podem-se aplicar a técnica dos dois dedos, posicionan-
do-se os dedos indicador e médio no terço inferior do esterno, quando houver desproporção
entre o tamanho das mãos do reanimador e do tórax do RN ou houver necessidade de cate-
terismo umbilical. As complicações da massagem cardíaca incluem fratura de costelas, com
pneumotórax e hemotórax, e laceração de fígado.

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A profundidade da compressão deve ser de cerca de 1/3 da dimensão ântero-posterior do


tórax, de maneira a produzir um pulso palpável. Essa manobra deve ser suave, com o tem-
po de compressão discretamente inferior ao de relaxamento. A massagem cardíaca deve
ser sempre acompanhada de ventilação com pressão positiva com oxigênio suplementar.

No RN, a massagem cardíaca e ventilação são realizadas de forma


sincrônica, mantendo-se uma relação de 3:1, ou seja, 3 movimentos de
massagem cardíaca para 1 movimento de ventilação, com uma frequência de
120 eventos por minuto (90 movimentos de massagem e 30 ventilações).

A massagem deve continuar enquanto a FC estiver inferior a 60 bpm.

Com a melhora do RN, isto é, quando, após ventilação acompanhada de massagem


cardíaca, ele apresentar FC acima de 60 bpm, interrompe-se apenas a massagem. Caso exis-
tam respirações espontâneas regulares e a FC atingir níveis superiores a 100 bpm, a ventila-
ção também é suspensa, sendo então administrado oxigênio inalatório através de cateter,
com retirada gradual de acordo com a saturação de O2 verificada na oximetria de pulso.2, 3, 6, 7

Em geral, quando o RN recebeu massagem cardíaca na sala de parto, é mais prudente trans-
portá-lo intubado à UTI Neonatal em incubadora de transporte, sendo a decisão quanto à
extubação realizada de acordo com a avaliação global do RN na unidade.

2.5.4 Medicações

A bradicardia neonatal é, em geral, resultado de insuflação pulmonar insuficiente e/ou de


hipoxemia profunda. Dessa maneira, a ventilação adequada é o passo mais importante para
corrigir a bradicardia.

Quando a FC permanecer abaixo de 60 bpm a despeito de ventilação efetiva


e de massagem cardíaca adequada, o uso de adrenalina, expansor de volume
ou ambos está indicado.

A diluição, o preparo, a dose e a via de administração dessas medicações estão descritas


no Quadro 6.6-8

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Quadro 6 – Medicações para reanimação do recém-nascido na sala de parto6-8


Adrenalina Adrenalina Expansores de volume
endovenosa endotraqueal
1:10.000 1:10.000 SF 0,9%
Diluição 1 mL adrenalina 1:1.000 1 mL adrenalina 1:1.000 Ringer lactato
em 9 mL de SF 0,9% em 9 mL de SF 0,9% Sangue Total
Preparo 1 mL 5 mL 2 seringas de 20 mL
Dose 0,1 – 0,3mL/kg 0,5 – 1,0 mL/kg 10 mL/kg EV
Peso ao nascer
1 kg 0,1 – 0,3 mL 0,5 – 1,0 mL 10 mL
2 kg 0,2 – 0,6 mL 1,0 – 2,0 mL 20 mL
3 kg 0,3 – 0,9 mL 1,5 – 3,0 mL 30 mL
4 kg 0,4 – 1,2 mL 2,0 – 4,0 mL 40 mL
Infundir rápido na veia Infundir diretamente na Infundir o expansor
Velocidade e umbilical e, a seguir, cânula traqueal e de volume na veia
Precauções infundir 0,5 – 1,0 mL ventilar a seguir. umbilical lentamente,
de SF 0,9%. USO ÚNICO em 5 a 10 minutos
Fonte: CGIAE/DASIS/SVS/MS.

A via preferencial para a infusão de medicações na sala de parto é a endovenosa, sendo a


veia umbilical de acesso fácil e rápido. O cateter venoso umbilical deve ser inserido apenas
1 – 2 cm após o ânulo, mantendo-o periférico de modo a evitar a sua localização em nível
hepático. A administração de medicações por via traqueal só pode ser usada para a adre-
nalina, uma única vez, sabendo-se que a absorção por via pulmonar é lenta e imprevisível.

A adrenalina está indicada quando a ventilação adequada e a massagem cardíaca efetiva


não elevaram a FC acima de 60 bpm. Recomenda-se sua administração por via endovenosa
na dose de 0,01 – 0,03 mg/kg. Enquanto o acesso venoso está sendo obtido, pode-se admi-
nistrar uma única dose de adrenalina (0,05 – 0,1mg/kg) por via traqueal, mas a segurança e
a eficácia dessa prática não foram estudadas. É importante lembrar que doses elevadas de
adrenalina (>0,1 mg/kg) não devem ser empregadas, pois acarretam hipertensão arterial
grave, diminuição da função miocárdica e piora do quadro neurológico. A adrenalina deve
ser sempre usada na diluição de 1:10.000. Quando não há reversão da bradicardia com o
uso de adrenalina, podem-se repeti-la a cada 3 – 5 minutos (sempre por via endovenosa)
e considerar uso de expansores de volume, caso o RN esteja pálido ou existam evidências.

Os expansores de volume podem ser necessários para reanimar o RN com hipovolemia. A


suspeita é feita se houver perda de sangue ou se existirem sinais de choque hipovolêmico,
como palidez, má perfusão e pulsos débeis, e não houver resposta adequada da FC às ou-
tras medidas de reanimação. Com o uso do expansor, esperam-se o aumento da pressão
arterial e a melhora dos pulsos e da palidez. Se não houver resposta, devem-se verificar a
posição da cânula traqueal, o uso do oxigênio a 100%, a técnica da ventilação e da massa-
gem e a permeabilidade da via de acesso vascular.

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Vale lembrar que apenas um RN em cada mil requer procedimentos avançados de reani-
mação (intubação, massagem e medicações), quando a ventilação com pressão positiva é
aplicada de maneira rápida e efetiva no RN que tem dificuldades na transição da vida intra
para a extrauterina.

2.6 Assistência ao RN com anomalias congênitas

Além dos procedimentos já citados, existem algumas doenças, em especial as anomalias


congênitas, em que outros procedimentos precisam ser instituídos logo após o nascimento.
Portanto, o conhecimento da suspeita da doença antes do nascimento pode orientar na
reanimação e na necessidade desses procedimentos.

Em RN com suspeita de atresia de esôfago, insere-se uma sonda gástrica número oito ou
mais no coto proximal, mantendo-se a sonda conectada a um sistema de aspiração contí-
nua para evitar a aspiração pulmonar da saliva.

Nos RNs com defeitos de fechamento da parede abdominal – onfalocele e gastrosquise –


ou com hérnia diafragmática, recomenda-se o início da ventilação com balão e cânula tra-
queal, para evitar distensão gástrica e das alças intestinais. Deve-se manter a sonda gástrica
aberta para descomprimir o estômago e as alças intestinais. Em geral, não há necessidade
de aspiração contínua na sonda gástrica. Nos casos de onfalocele e gastrosquise, deve-se
proteger o conteúdo herniado com compressa estéril e envolvê-lo com plástico poroso
para evitar rotura, contaminação e perda de líquido e calor.

Ao nascerem, as crianças com defeito de fechamento do tubo neural – meningomielocele


e meningocele – devem ser colocadas em decúbito lateral e manipuladas com extremo
cuidado. O saco herniário deve ser examinado de forma asséptica. As características da
membrana que recobre a lesão, a existência de rotura da membrana com saída de líquido
cefalorraquidiano, sinais de infecção ou presença de hemorragia devem ser verificados.
Sempre proteger a lesão de pressão externa. Recobri-la com compressa estéril e colocar
plástico poroso para evitar rotura, contaminação, perda de líquido e de calor.

Na presença de hidropsia, devido ao risco de insuficiência respiratória grave decorrente do


derrame pleural e da ascite, deve-se estar preparado para realizar toracocentese e/ou para-
centese abdominal e aspirar o líquido das cavidades, para melhorar a expansibilidade torácica
(para mais detalhes da técnica, ver Capítulo 10 – volume 2 desta obra). Em RN com hidropsia
secundária à aloimunização Rh, devido à intensa anemia, é recomendável a expansão de vo-
lume com sangue total tipo O, Rh negativo, pois comumente esses neonatos não respondem
à reanimação enquanto o hematócrito não estiver no mínimo entre 30% e 35%.

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Cuidados na Hora do Nascimento 2 Capítulo

Em todas essas condições, os RNs devem ser encaminhados à UTI em incubadora própria
para transporte neonatal.

2.7 Aspectos éticos da assistência ao RN na sala de parto

As questões relativas às orientações para não iniciar a reanimação neonatal e/ou interromper
as manobras são bastante controversas e dependem do contexto nacional, social, cultural e
religioso, no qual os conceitos de moral e ética são discutidos. Assim, não é possível generali-
zar recomendações, mas também não é possível evitar a discussão do assunto, uma vez que
a reanimação neonatal é um dos temas inerentes às questões relativas ao “início da vida”. 8

O primeiro aspecto ético controverso refere-se à decisão de não iniciar a reanimação na


sala de parto relacionada à viabilidade fetal. Apesar de não existir consenso em relação ao
“quão pequeno é o pequeno”, as recomendações atuais assumem que neonatos abaixo de
22 a 23 semanas de idade gestacional não apresentam viabilidade para a vida extrauterina.
Porém, na prática, a idade gestacional não é conhecida de maneira precisa em uma parcela
significativa dos casos. Técnicas usadas para determinar a idade gestacional podem variar
de 1 a 2 semanas, e o sinal clínico das pálpebras fundidas pode estar presente em cerca
de 20% dos nascidos vivos com idade gestacional entre 24 e 27 semanas,34 dificultando a
tomada de decisões na sala de parto. Parece então prudente recomendar que a reanimação
seja instituída se o diagnóstico da idade gestacional não estiver previamente estabelecido.

A conduta de “esperar e ver” para então iniciar a reanimação deve ser


abandonada, pois retardar o início dos procedimentos pode resultar em
lesões do RN pelo estresse ao frio, hipoglicemia, hipotensão e hipoxemia,
aumentando ainda mais sua morbidade e mortalidade.

A decisão de reanimar ou não um RN deve ser tomada caso a caso, sempre tentando esta-
belecer uma adequada comunicação entre os pais e a equipe de saúde.

Outro aspecto ético controverso que deve ser considerado refere-se à duração dos procedi-
mentos de reanimação na sala de parto, ou seja, o momento adequado para se interromper
a reanimação neonatal. Séries de casos relatados na literatura indicam que a reanimação
superior a 10 minutos em RN sem atividade cardíaca pode não ser justificada no momento
presente, dada à elevada frequência de morte e graves sequelas,35 nos raros sobreviven-
tes. É possível que, no futuro, o uso da hipotermia terapêutica, em casos de encefalopatia
hipóxico-isquêmica grave, possa alterar essa recomendação.

Deve ser enfatizado que a interrupção da reanimação só pode ser realizada


após 10 minutos de assistolia na vigência de reanimação adequada.

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2.8 Cuidados de rotina após a estabilização clínica do RN na sala de parto

Quando as condições clínicas do RN forem satisfatórias, os seguintes procedimentos devem


ser realizados em sequência:

• Laqueadura do cordão umbilical. Fixar o clamp à distância de 2 a 3 cm do anel umbilical,


envolvendo o coto com gaze embebida em álcool etílico 70% ou clorexidina alcoólica
0,5%.11 Em RN de extremo baixo peso utiliza-se soro fisiológico. Verificar a presença de
duas artérias e de uma veia umbilical, pois a existência de artéria umbilical única pode
associar-se a anomalias congênitas.

• Prevenção da oftalmia gonocócica pelo método de Credé.36 Retirar o vérnix da região


ocular com gaze seca ou umedecida com água, sendo contraindicado o uso de soro
fisiológico ou qualquer outra solução salina. Afastar as pálpebras e instilar uma gota de
nitrato de prata a 1% no fundo do saco lacrimal inferior de cada olho. A seguir, massagear
suavemente as pálpebras deslizando-as sobre o globo ocular para fazer com que o nitra-
to de prata banhe toda a conjuntiva. Se o nitrato cair fora do globo ocular ou se houver
dúvida, repetir o procedimento. Limpar com gaze seca o excesso que ficar na pele das
pálpebras. A profilaxia deve ser realizada na primeira hora após o nascimento, tanto no
parto vaginal quanto cesáreo.

• Antropometria. Realizar exame físico simplificado, incluindo peso, compri­mento e os pe-


rímetros cefálico, torácico e abdominal.

• Prevenção do sangramento por deficiência de vitamina K. Administrar 1mg de vitamina


K1 por via intramuscular ou subcutânea ao nascimento.37

• Detecção de incompatibilidade sanguínea materno-fetal. Coletar sangue da mãe e do


cordão umbilical para determinar os antígenos dos sistemas ABO e Rh. Não é necessário
realizar o teste de Coombs direto de rotina. No caso de mãe Rh negativo, deve-se realizar
pesquisa de anticorpos anti-D por meio do Coombs indireto na mãe e Coombs direto no
sangue do cordão umbilical.

• Realização da sorologia para sífilis e HIV. Coletar sangue materno para determinar a
sorologia para sífilis. Caso a gestante não tenha realizado sorologia para HIV no último
trimestre da gravidez ou o resultado não estiver disponível no dia do parto, deve-se fazer
o teste rápido para anti-HIV o mais breve possível e deve-se administrar a zidovudina
profilática antes do parto, caso o teste seja positivo.38

• Identificação do RN. O Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 10 do Capítulo 1)


regulamenta a identificação do RN mediante o registro de sua impressão plantar e digital

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e da impressão digital da mãe. Essa identificação é feita no prontuário. Pulseiras devem


ser colocadas na mãe e no RN, contendo o nome da mãe, o registro hospitalar, a data e
hora do nascimento e o sexo do RN.

Os RNs estáveis devem permanecer com suas mães e ser transportados ao alojamento
conjunto. Caso haja a necessidade de transporte do RN para outra unidade neonatal, ele
sempre deve ser mostrado à mãe novamente, antes do transporte.

2.9 Considerações finais

A reanimação ao nascimento é uma importante estratégia para diminuir a mortalidade


infantil em nível mundial. Estima-se que o atendimento ao parto por profissionais de saúde
habilitados possa reduzir em 20% a 30% as taxas de mortalidade neonatal, enquanto o em-
prego das técnicas de reanimação resultem em diminuição adicional de 5% a 20% nessas
taxas, levando à redução de até 45% das mortes neonatais por asfixia. 38

As diretrizes apresentadas são apenas orientações gerais para a conduta


neonatal na sala de parto. Cada serviço deve adaptá-las às suas condições de
infraestrutura e de recursos humanos.

Mais importante que um protocolo rígido são a experiência, a prática e a educação conti-
nuada dos profissionais de saúde que participam dos cuidados ao RN, além da conscienti-
zação da comunidade para a importância da assistência nesse período crítico de transição
para o ambiente extrauterino.

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