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Primeiro Trimestre
Atividade de Sala 2: Leitura e Resumo
“O código de conduta intelectual: Princípios Lógicos”
6. O princípio estrutural
Aquele que argumenta a favor ou contra uma posição deve usar um argumento que
cumpre as condições estruturais básicas de um argumento bem-formado1. Um tal
argumento não usa razões que se contradizem uma à outra [premissas contraditórias],
que contradizem a conclusão, ou que pressupõem explícita ou implicitamente a verdade
da conclusão. Ele tampouco deve estabelecer nenhuma inferência dedutivamente
inválida.
7. O princípio de relevância
Aquele que apresenta um argumento a favor ou contra uma posição deve também
apresentar razões cuja verdade ofereça alguma evidência para a verdade da conclusão.2
8. O princípio de aceitabilidade
Aquele que apresenta um argumento a favor ou contra uma posição deve oferecer
razões que provavelmente serão aceitas por uma pessoa racional madura e que, além
disso, cumpra os critérios de aceitabilidade3.
9. O princípio de suficiência
1 G.R.: Poderíamos passar o ano inteiro falando apenas sobre esse princípio, mas não temos tempo
para isso, infelizmente. Esse princípio trata da “estrutura”, ou da “forma”, dos argumentos. E há uma
coisa muito estranha a respeito dessa estrutura: um argumento pode ter uma estrutura válida (ou
seja, ele pode ser “bem montadinho”) e mesmo assim ter premissas falsas, e até uma conclusão
falsa. Para entender isso, veja primeiro um argumento consistente, ou seja, que tem uma estrutura
válida, com premissas e conclusões verdadeiras: Todo homem é mortal. Einstein é homem.
Portanto, Einstein é mortal. Compare, agora, a mesma estrutura válida, mas com uma premissa falsa
e uma conclusão falsa: Todo homem é ignorante. Einstein é homem. Portanto Einstein é ignorante.
Sabe por que esse último argumento é estruturalmente válido, apesar de sua conclusão ser falsa?
Porque caso a primeira premissa (“Todo homem é voador”) fosse verdadeira, então seria impossível
que a conclusão (“Sócrates é voador”) fosse falsa. Bem, isso é lógica. Aliás, há quem diga que a lógica
é, simplesmente, o estudo dos argumentos (estruturalmente) válidos. Mas de tudo isso, eis o que
você deve se lembrar a respeito do princípio estrutural diz: use apenas estruturas argumentativas
válidas!
2 G.R.: Esse princípio é mais fácil do que parece. Quer dizer apenas: não mude de assunto! Antes de
apresentar um argumento, pergunte-se: esse argumento é relevante para a conversa? Mesmo que
você tenha certeza de que seu argumento é verdadeiro, ele só irá servir se ele ajudar as pessoas que
estão debatendo a chegarem a uma conclusão. Lembre-se: em uma discussão, só diga coisas que te
ajudem a chegar a uma conclusão verdadeira. Ou seja: só apresente argumentos relevantes.
3 G.R.: Nós ainda vamos discutir quais são esses “critérios de aceitabilidade”. Por enquanto
concentre-se no seguinte: não queira usar uma ideia absurda como argumento. Por exemplo, não vá
dizer a um judeu que o Holocausto foi uma invenção dos russos para derrotar a Alemanha na
Segunda Guerra. Se você apresenta argumentos inaceitáveis, a discussão não irá para frente.
Aquele que apresenta um argumento a favor ou contra uma posição deve tentar oferecer
razões relevantes e aceitáveis do tipo certo, que sejam, em conjunto, suficientes em
número e em peso para justificar a aceitação da conclusão.4
4
G.R.: Se você entrar numa discussão, vá até o fim. Não basta apresentar um argumentozinho e
achar que basta. Mas quantos argumentos são o suficiente? Bem, isso depende de cada discussão,
da dificuldade do tema, da cabeça-dura do seu adversário, etc. O mais importante a respeito do
princípio de suficiência é o seguinte: só saia da discussão quando você julgar honesta e sinceramente
que você fez o seu melhor, ou seja, que apresentou um bom número de argumentos, e argumentos
suficientemente fortes.
5 G.R.: Quando aprendermos a fazer isso, seremos excelentes argumentadores! O princípio da
refutação diz o seguinte: quando você pensar em um argumento, já imagine também de forma o seu
adversário poderia rebatê-lo. Se você imaginar muito facilmente um contra-argumento que derruba
a sua ideia, significa que ela era muito fraca. Então pense em outro argumento. E já imagine o
contragolpe do seu adversário. A ideia, no fim das contas, é a seguinte: só apresente um argumento
quando você não conseguir imaginar uma forma de derrotá-lo.
6 G.R.: Nós suspendemos o juízo quando não conseguimos encontrar razões para acreditar na
verdade de uma conclusão. Se você estiver debatendo com alguém e nenhum de vocês dois
conseguirem chegar a um argumento que seja bom o suficiente para resolver a disputa, o melhor é
permanecer em dúvida. Suponha que a discussão seja: “Deus existe?”. A filosofia e a teologia estão
debatendo isso há milênios, e não se encontrou nenhum argumento decisivo para nenhum dos dois
lados. Segundo nosso Código de Conduta Intelectual, a única a coisa a fazer nesse caso é não afirmar
nem que sim, nem que não. Isso é “suspender o juízo”.
7 G.R.: Esse princípio ajuda a responder à questão: quando devemos dar por encerrada uma
discussão? Fui bonzinho e enumerei para você os cinco critérios que garantem que nós chegamos
definitivamente a uma conclusão e, por isso, que o debate acabou. Se vocês olharem com atenção
verão que o debate está resolvido quando os princípios 6, 7, 8, 9 e 10 tiverem sido bem usados. Esses
cinco princípios são a garantia de que temos um bom argumento!
cumpriu essas condições de forma mais bem-sucedida que qualquer outro argumento
apresentado a favor de uma posição alternativa, os debatedores estão obrigados a
aceitar as suas conclusões e a considerar a questão como resolvida. Caso mais tarde o
argumento seja considerado falho por qualquer participante, de modo a levantar novas
dúvidas acerca do mérito da posição que o argumento quer defender, os debatedores
estão obrigados a reabrir a questão para novas considerações e nova resolução.
[...]
8
GR: Note que os critérios apresentados aqui são exatamente os princípios 6, 7, 8, 9 e 10 do Código de
Conduta.
contas, a conclusão possa se mostrar verdadeira, o argumento apresentado pode não
exigir nossa aceitação.
Vamos, então, colocar em operação os critérios de um bom argumento,
avaliando argumentos que podem ser encontrados em alguma das seguintes cartas ao
editor.
Carta A
Caro Editor,
Eu acho que a governadora Reichard está fazendo um ótimo
trabalho, apesar das críticas do partido conservador
[Republicans]. Apenas na última semana, o Sr. Don LaPlant disse
numa coletiva de imprensa que achava que a governadora
Reichard era uma das melhores governadoras no Sul, e que ela
estava fazendo um excelente trabalho ao lidar com os problemas
complexos do estado. E ele deve mesmo saber! Ele é o
presidente do partido progressista no estado [Democratic
Party].
Vamos primeiro colocar esse argumento na forma padrão. Isso significa que nós
devemos primeiro identificar a conclusão e então encontrar as premissas que estão
sendo usadas para embasar a conclusão, junto com quaisquer afirmações que deem
apoio a essas premissas. Os demais elementos, alheios ao argumento, podem ser
ignorados. O argumento reconstruído sobre a governadora Reichard teria o seguinte
aspecto:
Nosso próximo passo é testar o argumento, tal como foi reformulado, usando os
cinco critérios de um bom argumento. Não parece haver nenhum problema estrutural
nesse argumento, então comecemos com o critério de relevância. Apresentado em sua
forma mais econômica, o argumento diante de nós apresenta apenas uma razão para a
avaliação positiva da performance da governadora em exercício. A premissa não é capaz
de dar conta do critério de relevância. Como o representante do partido da governadora
provavelmente tende a ser pouco objetivo ao avaliar seu desempenho, sua afirmação
pode ser vista como irrelevante, pois o testemunho de uma autoridade enviesada não
pode contar a favor da verdade da alegação. Talvez um argumento excelente pudesse
ser construído para a conclusão em questão, mas essa não é a questão no momento. A
questão é se o argumento sob exame é bom. Nossa avaliação diz que não é, porque sua
única premissa é irrelevante. Como não há outras premissas, ele também falha nos
critérios de aceitabilidade, suficiência e refutação.
Carta B
Caro editor,
A lei do cinto de segurança é injusta e um claro abuso da
autoridade governamental. Ao não usar o cinto de segurança,
nós não colocamos ninguém em perigo, a não ser, talvez, nós
mesmos. Em alguns casos, usar cintos de segurança pode até
mesmo colocar em risco sua vida. Recentemente, em um
acidente em Jackson, um veículo bateu em uma árvore e foi
completamente esmagado, com exceção de um pequeno espaço
no piso sob o volante. Como o motorista quebrou a lei do cinto
de segurança, sua vida foi salva quando ele foi tirado pelo piso
do carro.
[Como as leis não deveriam exigir coisas que colocam em risco nossas vidas,]
(premissa moral implícita)
e usar cintos de segurança pode colocar nossas vidas em risco, (premissa)
porque a vida de um homem foi salva pois ele não estava usando cinto
de segurança (subpremissa)
[Então, o uso do cinto de segurança não deveria ser exigido por lei.] (conclusão
implícita).
Carta C
Caro Editor,
sou residente do Distrito de Monroe, em Washington. Sou muito
grato por poder contar com alguém com o intelecto, dedicação
e experiência da Supervisora Alice Morton, que não apenas tem
a disposição para prestar seus serviços, mas que também pode
dedicar seu tempo a todos os cidadãos dessa cidade.
Eu liguei para a Senhora Morton em sua casa há algumas noites,
e soube que ela esteve fora da cidade por dois dias, resolvendo
negócios da prefeitura. Em outras ocasiões, quando eu tentei
falar com ela, sempre a encontrei trabalhando nos escritórios da
prefeitura.
Ouvi dizer que alguém está se candidatando como seu
adversário para o cargo no conselho de supervisores do Distrito
de Monroe. Eu não gostaria de substituir a Senhora Morton (que
demonstrou ser hábil e experiente) por alguém que jamais
poderia trazer ao gabinete de supervisor a expertise e a devoção
de que nós cidadãos agora desfrutamos.
Carta D
Caro Editor,
A Associação Americana do Coração está debatendo se deve
financiar um estudo que envolveria afogar quarenta e dois
cachorros na Universidade Pública. A Faculdade de Medicina da
universidade recebeu permissão para usar cachorros vira-latas
do canil local para determinar se a manobra de Heimlich9 pode
ser usada para salvar vítimas de afogamento.
9
O próprio Dr. Heimlich denunciou tal estudo como um
“experimento desnecessário”, que “deveria ser classificado
como crueldade”. Outros afirmaram que a traqueia e o
diafragma de um cachorro não são comparáveis aos de um
humano e, portanto, não podem ser usados para determinar se
seria preferível a ressurreição boca-a-boca ou a manobra de
Heimlich. Leitores preocupados deveriam pedir que a
Associação Americana do Coração rejeite o estudo.
Carta E
Estou preocupado com os esforços de alguns em reformar a constituição para
proibir que se queimem bandeiras americanas, como uma resposta à resolução
da Corte Suprema de que queimar a bandeira pode ser visto como uma
expressão da liberdade de expressão e de que a liberdade de expressão é
protegida pela Primeira Emenda.
Eu amo o meu país e a bandeira o representa em situações oficiais, e eu não
gosto de ver ninguém usando a bandeira de maneira desrespeitosa. Por
exemplo, eu me aborreço quando vejo algumas pessoas usando a bandeira como
uma camiseta ou roupa de banho. Mas eu também amo a liberdade que nós
temos neste país, e isso inclui a liberdade de criticar o país sob qualquer forma
pacífica que escolhermos. Eu não escolheria fazer isso queimando a bandeira e
eu gostaria que outros tampouco fizessem isso, mas criticar o país ou as suas
políticas é um direito garantido pela nossa Constituição. Se nós começarmos a
mudar a Constituição para limitar a liberdade de expressar opiniões dessa
maneira, não é improvável que alguns em breve irão querer limitá-la de outras
maneiras também, talvez proibindo as pessoas de expressar uma opinião
negativa sobre o país em um prédio federal ou de cuspir numa cópia da
Declaração de Independência. Nós teríamos então que passar novas emendas
para proibir essas ações? Um tal resultado não seria bom para uma democracia
saudável.
Algumas pessoas dizem coisas muito raivosas, falsas e danosas sobre o nosso
presidente e outros líderes, mas elas têm o direito de fazer isso. Muito embora
eu possa não gostar de algumas das coisas que os críticos dizem ao expressar seu
desacordo com nossos líderes ou suas políticas, eu não acho que essas
expressões causam qualquer malefício grave ao país. De certa maneira, ele é na
verdade fortalecido, porque mudanças positivas nas políticas e na liderança
acontecem como o resultado da crítica ao status quo, não importa como ela é
feita. Assim como nós tentamos ensinar as pessoas a mostrar respeito pelos
outros, nós podemos ensiná-los a respeitar a bandeira. Mas às vezes eles não
mostram respeito por nenhum dos dois. Contudo, nós não queremos colocar
pessoas na cadeia apenas porque elas não mostram respeito pelo que nós
pensamos que elas deveriam mostrar.