Você está na página 1de 11

Filosofia

Primeiro Trimestre
Atividade de Sala 2: Leitura e Resumo
“O código de conduta intelectual: Princípios Lógicos”

6. O princípio estrutural
Aquele que argumenta a favor ou contra uma posição deve usar um argumento que
cumpre as condições estruturais básicas de um argumento bem-formado1. Um tal
argumento não usa razões que se contradizem uma à outra [premissas contraditórias],
que contradizem a conclusão, ou que pressupõem explícita ou implicitamente a verdade
da conclusão. Ele tampouco deve estabelecer nenhuma inferência dedutivamente
inválida.

7. O princípio de relevância
Aquele que apresenta um argumento a favor ou contra uma posição deve também
apresentar razões cuja verdade ofereça alguma evidência para a verdade da conclusão.2

8. O princípio de aceitabilidade
Aquele que apresenta um argumento a favor ou contra uma posição deve oferecer
razões que provavelmente serão aceitas por uma pessoa racional madura e que, além
disso, cumpra os critérios de aceitabilidade3.

9. O princípio de suficiência

1 G.R.: Poderíamos passar o ano inteiro falando apenas sobre esse princípio, mas não temos tempo
para isso, infelizmente. Esse princípio trata da “estrutura”, ou da “forma”, dos argumentos. E há uma
coisa muito estranha a respeito dessa estrutura: um argumento pode ter uma estrutura válida (ou
seja, ele pode ser “bem montadinho”) e mesmo assim ter premissas falsas, e até uma conclusão
falsa. Para entender isso, veja primeiro um argumento consistente, ou seja, que tem uma estrutura
válida, com premissas e conclusões verdadeiras: Todo homem é mortal. Einstein é homem.
Portanto, Einstein é mortal. Compare, agora, a mesma estrutura válida, mas com uma premissa falsa
e uma conclusão falsa: Todo homem é ignorante. Einstein é homem. Portanto Einstein é ignorante.
Sabe por que esse último argumento é estruturalmente válido, apesar de sua conclusão ser falsa?
Porque caso a primeira premissa (“Todo homem é voador”) fosse verdadeira, então seria impossível
que a conclusão (“Sócrates é voador”) fosse falsa. Bem, isso é lógica. Aliás, há quem diga que a lógica
é, simplesmente, o estudo dos argumentos (estruturalmente) válidos. Mas de tudo isso, eis o que
você deve se lembrar a respeito do princípio estrutural diz: use apenas estruturas argumentativas
válidas!
2 G.R.: Esse princípio é mais fácil do que parece. Quer dizer apenas: não mude de assunto! Antes de

apresentar um argumento, pergunte-se: esse argumento é relevante para a conversa? Mesmo que
você tenha certeza de que seu argumento é verdadeiro, ele só irá servir se ele ajudar as pessoas que
estão debatendo a chegarem a uma conclusão. Lembre-se: em uma discussão, só diga coisas que te
ajudem a chegar a uma conclusão verdadeira. Ou seja: só apresente argumentos relevantes.
3 G.R.: Nós ainda vamos discutir quais são esses “critérios de aceitabilidade”. Por enquanto

concentre-se no seguinte: não queira usar uma ideia absurda como argumento. Por exemplo, não vá
dizer a um judeu que o Holocausto foi uma invenção dos russos para derrotar a Alemanha na
Segunda Guerra. Se você apresenta argumentos inaceitáveis, a discussão não irá para frente.
Aquele que apresenta um argumento a favor ou contra uma posição deve tentar oferecer
razões relevantes e aceitáveis do tipo certo, que sejam, em conjunto, suficientes em
número e em peso para justificar a aceitação da conclusão.4

10. O princípio de refutação


Aquele que apresenta um argumento a favor ou contra uma posição deve incluir em seu
argumento uma refutação efetiva que antecipe todas as críticas sérias que possam ser
apresentadas contra o argumento ou contra a posição que o argumento quer defender.5

11. O princípio de suspensão do juízo6


Se nenhuma das posições é defendida por um bom argumento, ou se duas ou mais
posições parecem ter sido defendidas com igual força, deve-se, na maioria dos casos,
suspender o juízo a respeito da questão. Caso considerações práticas pareçam exigir
uma decisão imediata, deve-se pesar os benefícios ou os danos relativos conectados com
as consequências da suspensão do juízo e, assim, resolver a questão a partir desse
critério [prático].

12. O princípio da resolução


Uma questão pode ser considerada resolvida se o argumento a favor de uma das
posições alternativas é [1] estruturalmente sólido, [2] usa razões relevantes e [3]
aceitáveis, [4] oferece, em conjunto, razões suficientes para justificar a conclusão e [5]
inclui uma refutação eficiente para todas as críticas sérias ao argumento ou à posição
que o argumento sustenta7. A não ser que se possa demonstrar que o argumento não

4
G.R.: Se você entrar numa discussão, vá até o fim. Não basta apresentar um argumentozinho e
achar que basta. Mas quantos argumentos são o suficiente? Bem, isso depende de cada discussão,
da dificuldade do tema, da cabeça-dura do seu adversário, etc. O mais importante a respeito do
princípio de suficiência é o seguinte: só saia da discussão quando você julgar honesta e sinceramente
que você fez o seu melhor, ou seja, que apresentou um bom número de argumentos, e argumentos
suficientemente fortes.
5 G.R.: Quando aprendermos a fazer isso, seremos excelentes argumentadores! O princípio da

refutação diz o seguinte: quando você pensar em um argumento, já imagine também de forma o seu
adversário poderia rebatê-lo. Se você imaginar muito facilmente um contra-argumento que derruba
a sua ideia, significa que ela era muito fraca. Então pense em outro argumento. E já imagine o
contragolpe do seu adversário. A ideia, no fim das contas, é a seguinte: só apresente um argumento
quando você não conseguir imaginar uma forma de derrotá-lo.
6 G.R.: Nós suspendemos o juízo quando não conseguimos encontrar razões para acreditar na

verdade de uma conclusão. Se você estiver debatendo com alguém e nenhum de vocês dois
conseguirem chegar a um argumento que seja bom o suficiente para resolver a disputa, o melhor é
permanecer em dúvida. Suponha que a discussão seja: “Deus existe?”. A filosofia e a teologia estão
debatendo isso há milênios, e não se encontrou nenhum argumento decisivo para nenhum dos dois
lados. Segundo nosso Código de Conduta Intelectual, a única a coisa a fazer nesse caso é não afirmar
nem que sim, nem que não. Isso é “suspender o juízo”.
7 G.R.: Esse princípio ajuda a responder à questão: quando devemos dar por encerrada uma

discussão? Fui bonzinho e enumerei para você os cinco critérios que garantem que nós chegamos
definitivamente a uma conclusão e, por isso, que o debate acabou. Se vocês olharem com atenção
verão que o debate está resolvido quando os princípios 6, 7, 8, 9 e 10 tiverem sido bem usados. Esses
cinco princípios são a garantia de que temos um bom argumento!
cumpriu essas condições de forma mais bem-sucedida que qualquer outro argumento
apresentado a favor de uma posição alternativa, os debatedores estão obrigados a
aceitar as suas conclusões e a considerar a questão como resolvida. Caso mais tarde o
argumento seja considerado falho por qualquer participante, de modo a levantar novas
dúvidas acerca do mérito da posição que o argumento quer defender, os debatedores
estão obrigados a reabrir a questão para novas considerações e nova resolução.

Capítulo 3 – O que são bons argumentos?

Há uma diferença muito clara entre um argumento e um bom argumento. Uma


pessoa que fez uma afirmação embasada por pelo menos uma outra afirmação criou um
argumento, mas esse pode não ser um argumento muito bom. Há cinco critérios para
que um argumento seja bom. Ele precisa ter:

uma estrutura bem formada,


premissas relevantes para estabelecer a verdade da conclusão,
premissas que qualquer pessoa razoável julguem ser aceitáveis,
premissas que, tomadas em conjunto, sejam razões suficientes para estabelecer
a verdade da conclusão, e
premissas que ofereçam uma refutação efetiva a todas as objeções ao
argumento que se possam antecipar.8

Um argumento que contempla todas essas condições é um bom argumento, e


sua conclusão deveria ser aceita. Se um argumento não consegue satisfazer a essas
condições, provavelmente ele não é um bom argumento.
Mas é claro que alguns argumentos falhos são menos falhos que outros, assim
como alguns bons argumentos são melhores que outros. Uma avaliação da qualidade
de um argumento é quase sempre um juízo de valor, pois os critérios se prestam a
muitas aplicações. Há graus de relevância, assim como há graus de aceitabilidade e
suficiência das premissas, bem como de efetividade da refutação. [...]

[...]

Aplicando os critérios a argumentos


A atenção que nós dispensamos aos cinco critérios de um bom argumento e às
sugestões gerais para melhorar argumentos não tão bons deveria nos oferecer uma
imagem muito clara a respeito de qual o aspecto de um bom argumento. Nós devemos
estar prontos, portanto, para aplicar esses critérios para algumas amostras de
argumentos.
O primeiro passo na avaliação de argumentos é estar mentalmente preparado.
Devemos nos lembrar de que a questão não é se estamos predispostos a acreditar na
conclusão. A questão mais básica ao avaliar argumentos é saber se devemos acreditar
na conclusão em virtude das razões oferecidas pelo argumento. Mesmo que, no fim das

8
GR: Note que os critérios apresentados aqui são exatamente os princípios 6, 7, 8, 9 e 10 do Código de
Conduta.
contas, a conclusão possa se mostrar verdadeira, o argumento apresentado pode não
exigir nossa aceitação.
Vamos, então, colocar em operação os critérios de um bom argumento,
avaliando argumentos que podem ser encontrados em alguma das seguintes cartas ao
editor.

Carta A
Caro Editor,
Eu acho que a governadora Reichard está fazendo um ótimo
trabalho, apesar das críticas do partido conservador
[Republicans]. Apenas na última semana, o Sr. Don LaPlant disse
numa coletiva de imprensa que achava que a governadora
Reichard era uma das melhores governadoras no Sul, e que ela
estava fazendo um excelente trabalho ao lidar com os problemas
complexos do estado. E ele deve mesmo saber! Ele é o
presidente do partido progressista no estado [Democratic
Party].

Vamos primeiro colocar esse argumento na forma padrão. Isso significa que nós
devemos primeiro identificar a conclusão e então encontrar as premissas que estão
sendo usadas para embasar a conclusão, junto com quaisquer afirmações que deem
apoio a essas premissas. Os demais elementos, alheios ao argumento, podem ser
ignorados. O argumento reconstruído sobre a governadora Reichard teria o seguinte
aspecto:

Como Don LaPlant, presidente estadual do Partido Democrata, diz que a


governadora do Partido Democrata está fazendo um bom trabalho, (premissa)
Então, a governadora Reichard está fazendo um bom trabalho. (conclusão)

Nosso próximo passo é testar o argumento, tal como foi reformulado, usando os
cinco critérios de um bom argumento. Não parece haver nenhum problema estrutural
nesse argumento, então comecemos com o critério de relevância. Apresentado em sua
forma mais econômica, o argumento diante de nós apresenta apenas uma razão para a
avaliação positiva da performance da governadora em exercício. A premissa não é capaz
de dar conta do critério de relevância. Como o representante do partido da governadora
provavelmente tende a ser pouco objetivo ao avaliar seu desempenho, sua afirmação
pode ser vista como irrelevante, pois o testemunho de uma autoridade enviesada não
pode contar a favor da verdade da alegação. Talvez um argumento excelente pudesse
ser construído para a conclusão em questão, mas essa não é a questão no momento. A
questão é se o argumento sob exame é bom. Nossa avaliação diz que não é, porque sua
única premissa é irrelevante. Como não há outras premissas, ele também falha nos
critérios de aceitabilidade, suficiência e refutação.
Carta B
Caro editor,
A lei do cinto de segurança é injusta e um claro abuso da
autoridade governamental. Ao não usar o cinto de segurança,
nós não colocamos ninguém em perigo, a não ser, talvez, nós
mesmos. Em alguns casos, usar cintos de segurança pode até
mesmo colocar em risco sua vida. Recentemente, em um
acidente em Jackson, um veículo bateu em uma árvore e foi
completamente esmagado, com exceção de um pequeno espaço
no piso sob o volante. Como o motorista quebrou a lei do cinto
de segurança, sua vida foi salva quando ele foi tirado pelo piso
do carro.

Reconstruir esse argumento vai exigir um pouco mais de esforço do que no


primeiro caso. Embora o escritor afirme que o governo não tem direito de exigir que nós
usemos cintos de segurança, nenhuma razão é oferecida como base para essa
afirmação. Portanto, ela não pode ser a conclusão desse argumento, a não ser que nós
queiramos ser mais do que caridosos. A única afirmação que é embasada no interior do
argumento é a de que usar um cinto de segurança pode ser perigoso e não deveria ser
exigido pela lei. O argumento moral reconstruído teria provavelmente o seguinte
aspecto:

[Como as leis não deveriam exigir coisas que colocam em risco nossas vidas,]
(premissa moral implícita)
e usar cintos de segurança pode colocar nossas vidas em risco, (premissa)
porque a vida de um homem foi salva pois ele não estava usando cinto
de segurança (subpremissa)
[Então, o uso do cinto de segurança não deveria ser exigido por lei.] (conclusão
implícita).

O princípio de caridade exige que nós concedamos que a primeira premissa e a


conclusão estão implícitas. Por essa razão, nós os colocamos entre chaves para indicar
que elas não estão formuladas explicitamente, mas são compreendidas como parte da
nossa reconstrução do argumento. Nós acreditamos que o argumento exibido nessa
forma na verdade parece melhor do que o original, mas isso não significa que ele é um
bom argumento.
Ele passa bem pelos critérios de um bom argumento? O argumento parece ser
estruturalmente bem formado, e as premissas parecem ser claramente relevantes para
a verdade da conclusão. A primeira premissa também parece ser aceitável, pois dizer
que o governo não deveria aprovar leis que coloquem nossas vidas em risco é um ponto
de vista moral geralmente aceito por pessoas razoáveis. Mas a segunda premissa
claramente descumpre o princípio de aceitabilidade, porque se trata de uma afirmação
questionável que não é adequadamente embasada no contexto, além de entrar em
conflito com evidências confiáveis que vão no sentido contrário.
O subargumento [subpremissa] que embasa a segunda premissa também é
problemático. A evidência anedótica oferecida como base para a premissa, a de que
cintos de segurança colocam nossas vidas em risco, dificilmente será suficiente para
embasar uma tal afirmação. O argumento também descumpre o critério de refutação,
pois ele não faz qualquer esforço para responder de modo efetivo a argumentos do lado
dos defensores do cinto. O argumento descumpre os critérios de aceitabilidade,
suficiência e refutação, e, portanto, não é um bom argumento.

Carta C
Caro Editor,
sou residente do Distrito de Monroe, em Washington. Sou muito
grato por poder contar com alguém com o intelecto, dedicação
e experiência da Supervisora Alice Morton, que não apenas tem
a disposição para prestar seus serviços, mas que também pode
dedicar seu tempo a todos os cidadãos dessa cidade.
Eu liguei para a Senhora Morton em sua casa há algumas noites,
e soube que ela esteve fora da cidade por dois dias, resolvendo
negócios da prefeitura. Em outras ocasiões, quando eu tentei
falar com ela, sempre a encontrei trabalhando nos escritórios da
prefeitura.
Ouvi dizer que alguém está se candidatando como seu
adversário para o cargo no conselho de supervisores do Distrito
de Monroe. Eu não gostaria de substituir a Senhora Morton (que
demonstrou ser hábil e experiente) por alguém que jamais
poderia trazer ao gabinete de supervisor a expertise e a devoção
de que nós cidadãos agora desfrutamos.

A maioria de nós provavelmente concordaria que a conclusão não formulada


desse argumento é que, nas próximas eleições, nós todos deveríamos votar no
candidato da situação. Como essa conclusão é implícita, nós temos que colocá-la entre
chaves. O resto da reconstrução seria a seguinte:
Como Alice Morton é experiente, (premissa)
e ela é devotada aos cidadãos da cidade, (premissa)
e ela tem a disposição e o tempo para o serviço, (premissa)
e ela trabalha duro, (premissa)
e ela é inteligente, (premissa)
e nenhuma outra pessoa no Distrito de Monroe poderia fazer um trabalho
melhor no gabinete de supervisor, (premissa de refutação)
[Então, os residentes do distrito deveria votar para Alice Morton.] (conclusão
implícita)
Esse argumento cumpre satisfatoriamente as exigências estruturais básicas de
um bom argumento. Todas as premissas apresentadas nesse argumento também
parecem ser relevantes para a questão de escolher representantes municipais, e como
a Senhora Morton é a atual responsável pelo cargo, a primeira premissa é
inquestionavelmente aceitável. As próximas quatro premissas são razoavelmente a
descrição padrão exigida das pessoas concorrendo a cargos locais, de modo que
provavelmente não há nenhuma boa razão para não as julgar aceitáveis. Muito embora
a adequação das evidências oferecidas para esse argumento possa ser questionada, elas
provavelmente não são questões tão cruciais no argumento. Mas a questão acerca dos
méritos dos candidatos rivais é um dos pontos cruciais no argumento em defesa de um
deles. A sexta premissa, então, não é adequadamente defendida e, portanto, é
inaceitável.
Em defesa do argumentador, a sexta premissa é provavelmente uma tentativa
de refutar o argumento contra a eleição da Senhora Morton, mas ela é pouquíssimo
efetiva. Na verdade, ela é tão exagerada que parece ridícula. O argumento, portanto,
não cumpre bem o critério de refutação.
Mas talvez o problema mais sério com o argumento é a violação do critério de
suficiência. Como indicado anteriormente, o contexto de um argumento
frequentemente determina o que constitui evidência suficiente para uma afirmação.
Nesse caso, razões suficientes para tomar a ação de votar para um determinado
candidato deveria ao menos incluir informações a respeito das metas e ideias da pessoa
cuja candidatura está sendo apoiada. Nesse argumento, no entanto, tais temas estão
completamente ausentes. Como o argumento não cumpre os critérios de suficiência e
de aceitabilidade, assim como o critério de refutação, ele não é um bom argumento.

Carta D
Caro Editor,
A Associação Americana do Coração está debatendo se deve
financiar um estudo que envolveria afogar quarenta e dois
cachorros na Universidade Pública. A Faculdade de Medicina da
universidade recebeu permissão para usar cachorros vira-latas
do canil local para determinar se a manobra de Heimlich9 pode
ser usada para salvar vítimas de afogamento.

9
O próprio Dr. Heimlich denunciou tal estudo como um
“experimento desnecessário”, que “deveria ser classificado
como crueldade”. Outros afirmaram que a traqueia e o
diafragma de um cachorro não são comparáveis aos de um
humano e, portanto, não podem ser usados para determinar se
seria preferível a ressurreição boca-a-boca ou a manobra de
Heimlich. Leitores preocupados deveriam pedir que a
Associação Americana do Coração rejeite o estudo.

Embora o argumentador queira que leitores contatem a Associação Americana


no Coração com suas preocupações, nenhuma razão específica é dada em apoio a essa
ação, de modo que podemos inferir que essa não é a conclusão do argumento, muito
embora alguém possa tomar essa ação se for convencida da verdade conclusão. A
conclusão substantiva é que a Associação Americana do Coração não deveria aprovar o
estudo proposto. O argumento reformulado tem o seguinte aspecto:

Como a equipe médica da Faculdade de Medicina da Universidade Pública


solicitou fundos à Associação Americana do Coração para um estudo envolvendo
cachorros, o qual eles acreditam que irá beneficiar a determinar se a manobra
de Heimlich pode ser usada com sucesso em vítimas de afogamento, (premissa)
e o uso de cachorros no estudo proposto não iria ajudar a determinar se isso
seria possível, (premissa)
pois algumas pessoas disseram que o aparelho respiratório de um
cachorro não é comparável ao de humanos, (subpremissa)
e o próprio Dr. Heimlich disse que tal experimento seria desnecessário e cruel
(premissa)
[e experimentos que são cruéis e não são úteis para coisa alguma não deveriam
ser realizados] (premissa moral implícita)
[Então a Associação Americana do Coração não deveria financiar o experimento
com a manobra de Heimlich envolvendo cachorros.] (conclusão implícita)

A conclusão é clara, embora não seja formulada explicitamente; portanto, nós a


colocamos entre chaves. A primeira premissa é aceitável e relevante, já que ele é a
afirmação direta de um fato que explica a ocasião para a apresentação do resto do
argumento. A segunda premissa, juntamente com a sua subpremissa, provavelmente
não seria aceitável, pois é difícil acreditar que a equipe médica da Faculdade de
Medicina, que apresentou a proposta de financiamento, não iria saber se há uma
diferença fisiológica crucialmente relevante entre cachorros e humanos que poderia
tornar inválido o experimento proposto. De toda forma, a subpremissa para a segunda
premissa não passa pelo critério de relevância, porque o testemunho vem de uma
fonte não identificada. Como nós não sabemos se os “outros” são experts em fisiologia,
não sabemos se seu testemunho sobre o aparelho respiratório de cachorros deveria
contar a favor da premissa ou mesmo ser levada a sério.
A terceira premissa, que afirma que Dr. Heimlich tem uma avaliação negativa
acerca do experimento, provavelmente não é aceitável pois nós não podemos verificar
se ele realmente fez essa afirmação. Além disso, sua avaliação teria muito pouco peso,
já que não somos informados por que ele pensa que o experimento é “desnecessário”.
A impressão que se passa é a de que o Dr. Heimlich concorda com o que “algumas
pessoas” disseram a respeito do problema de não compatibilidade do sistema
respiratório, mas isso não está de modo algum claro. A quarta premissa, implícita, é
aceitável, porque ele parece ser um princípio evidente. Ao menos é um princípio que a
maioria das pessoas maduras e racionais aceitaria.
Esse é um argumento estruturalmente bem-formado, mas ele tem apenas uma
única premissa relevante e aceitável, de modo que dificilmente cumprirá o critério de
suficiência para assumir a conclusão. O argumento talvez pudesse não ser considerado
completamente falho caso ele tivesse refutado de modo efetivo a suposição da
Faculdade de Medicina de que o experimento vale a pena. Como não há tal premissa de
refutação, e porque o argumento não cumpre satisfatoriamente os critérios de
relevância, aceitabilidade e suficiência, o argumento não é bom.

Carta E
Estou preocupado com os esforços de alguns em reformar a constituição para
proibir que se queimem bandeiras americanas, como uma resposta à resolução
da Corte Suprema de que queimar a bandeira pode ser visto como uma
expressão da liberdade de expressão e de que a liberdade de expressão é
protegida pela Primeira Emenda.
Eu amo o meu país e a bandeira o representa em situações oficiais, e eu não
gosto de ver ninguém usando a bandeira de maneira desrespeitosa. Por
exemplo, eu me aborreço quando vejo algumas pessoas usando a bandeira como
uma camiseta ou roupa de banho. Mas eu também amo a liberdade que nós
temos neste país, e isso inclui a liberdade de criticar o país sob qualquer forma
pacífica que escolhermos. Eu não escolheria fazer isso queimando a bandeira e
eu gostaria que outros tampouco fizessem isso, mas criticar o país ou as suas
políticas é um direito garantido pela nossa Constituição. Se nós começarmos a
mudar a Constituição para limitar a liberdade de expressar opiniões dessa
maneira, não é improvável que alguns em breve irão querer limitá-la de outras
maneiras também, talvez proibindo as pessoas de expressar uma opinião
negativa sobre o país em um prédio federal ou de cuspir numa cópia da
Declaração de Independência. Nós teríamos então que passar novas emendas
para proibir essas ações? Um tal resultado não seria bom para uma democracia
saudável.
Algumas pessoas dizem coisas muito raivosas, falsas e danosas sobre o nosso
presidente e outros líderes, mas elas têm o direito de fazer isso. Muito embora
eu possa não gostar de algumas das coisas que os críticos dizem ao expressar seu
desacordo com nossos líderes ou suas políticas, eu não acho que essas
expressões causam qualquer malefício grave ao país. De certa maneira, ele é na
verdade fortalecido, porque mudanças positivas nas políticas e na liderança
acontecem como o resultado da crítica ao status quo, não importa como ela é
feita. Assim como nós tentamos ensinar as pessoas a mostrar respeito pelos
outros, nós podemos ensiná-los a respeitar a bandeira. Mas às vezes eles não
mostram respeito por nenhum dos dois. Contudo, nós não queremos colocar
pessoas na cadeia apenas porque elas não mostram respeito pelo que nós
pensamos que elas deveriam mostrar.

A conclusão desse argumento nunca é expressa explicitamente, mas é muito


claro que o escritor se opõe à emenda à Constituição que proibe que se queime a
bandeira. Segue uma reformulação possível desse argumento:

Como a constituição garante a liberdade de expressão, (premissa)


e a Corte Suprema decidiu que queimar a bandeira pode ser interpretado como
uma expressão de liberdade de expressão, (premissa)
e ter uma liberdade irrestrita para expressar nossas opiniões é mais importante
do que restringir o método pacífico ou o conteúdo dessa expressão, (premissa)
e uma restrição constitucional à livre expressão, restringindo a queima de
bandeiras, poderia levar a novas emendas constitucionais para restringir a
liberdade de expressão, (premissa)
porque há muitas maneiras de criticar ou desrespeitar o país que são de
mau gosto, (subpremissa)
e instituir novas restrições constitucionais como essa não seria bom para uma
democracia saudável, (premissa)
[porque isso iria colocar novas restrições à liberdade de expressão,]
(subpremissa implícita)
e criticar o país queimando a bandeira ou mesmo usando outros métodos de
mau gosto não causa qualquer malefício grave ao país, mas na verdade o
fortalece, (premissa de refutação)
porque é por meio de críticas ao nosso país que fazemos mudanças
positivas, (subpremissa)
e nós não iríamos querer punir pessoas por mostrar desrespeito pela bandeira,
(premissa de refutação)
[porque as pessoas são mais importantes do que objetos inanimados,]
(subpremissa implícita)
e é improvável que nós os punamos por desrespeitar outras pessoas,
(subpremissa)
[Então, nós não deveríamos reformar a constituição para proibir que se queime
a bandeira.] (conclusão implícita)

Esse é um argumento estruturalmente bem-formado, e todas as premissas desse


argumento parecem ser relevantes para definir se é ou não uma boa ideia reformar a
Constituição em relação ao tema da queima da bandeira. E como as primeiras duas
premissas são questões de fato incontroversas, não deveria haver qualquer questão a
respeito de sua aceitabilidade. Também não há razão para questionar a importância do
princípio da liberdade da expressão em uma democracia, então pessoas racionais
provavelmente achariam também a terceira premissa aceitável.
Muitos de nós, incluindo os defensores da reforma da “queima de bandeiras”,
provavelmente também aceitariam a visão expressa na quarta e quinta premissas (e
suas subpremissas), a de que há outras expressões livres que são igualmente de mau
gosto, as quais algumas pessoas gostariam de restringir; mas também diríamos que isso
não iria produzir um bom resultado para uma democracia saudável que apoia a
liberdade de expressão.
As últimas duas premissas são tentativas de refuta os principais argumentos dos
defensores da reforma. A sexta premissa debate com a visão de que queimar a bandeira
de algum modo pode causar danos ao país, mas como não nenhum dano óbvio foi
identificado, a mera negação dessa afirmação pode ser suficiente para o argumento. O
ônus da prova de que há um dano está do lado de quem afirma que tal dano ocorre.
Contudo, essa premissa e sua subpremissa defendem a visão de que a crítica política,
não importa como seja expressa, frequentemente serve ao bem público, e seria difícil
encontrar algum erro nessa afirmação. A sétima premissa (e segunda premissa de
refutação) e suas subpremissas tentam fazer uma analogia que pode ser a parte mais
fraca do argumento, mas que ainda assim desemprenha um papel positivo. Elas
desafiam os defensores da reforma, ao apontar que que como não estamos
predispostos a punir aqueles que mostram desrespeito por outros seres humanos,
parece estranho querer punir pessoas por mostrar desrespeito a objetos inanimados.
Esse argumento bem formado usa premissas relevantes e aceitáveis que são
suficientes em seu gênero, peso e número para embasar a conclusão. Ele também
cumpre bem a função de refutar as possíveis objeções que os defensores do outro lado
da questão fariam. Como o argumento contempla de modo satisfatório todos os cinco
critérios para um bom argumento, nós o avaliaríamos como um bom argumento e
aceitaríamos a sua conclusão.
[...]

Você também pode gostar