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Tratamento da Água de Lavagem dos

Gases da Chaminé das Caldeiras

Manoel de Almeida
Novembro 2014

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Tratamento da Água de Lavagem dos

Gases da Chaminé das Caldeiras

1. INTRODUÇÃO:

Os gases expelidos pelas chaminés das caldeiras que queimam o bagaço de


cana, carregam consigo consideráveis quantidades de materiais particulados,
que se depositam em locais próximos da Usina ou mais distantes em dias de
ventos fortes, causando danos ao meio ambiente e incômodos aos habitantes
das áreas atingidas por estes resíduos.

Para atender as normas ambientais é necessário então que estes gases


passem por um processo de “limpeza” e assim os componentes não gasosos
sejam retirados antes de seu despejo para a atmosfera.
O sistema que tem apresentado melhores resultados é aquele em que os
gases após deixarem a caldeira passam por uma “lavagem” normalmente em
contra corrente, através de bicos aspersores ou cortina d’água em grandes
dutos verticais denominados de retentores de fuligem.

As partículas arrastadas por estes gases são então depositadas no fundo do


retentor, obedecendo a dois processos físicos: 1) Se tornam mais pesadas que
os gases ao absorverem a água e 2) São também arrastas pelo chuveiro ou
cortina de água do sistema.
A água contendo as partículas sólidas separadas dos gases, não pode ser
descartada em cursos d’água. Também não pode ser bombeada à lavoura pois
irá assorear rapidamente os canais de irrigação.
Enviar estas águas para grandes lagoas de decantação tem se mostrado
inviável devido aos altos custos de manutenção destas lagoas, limpezas após
a safra e perdas significativas de água por infiltração e evaporação, além da
insegurança do sistema no caso de rompimento da lagoa.

É necessário então tratar esta água. O processo de tratamento hoje já


aperfeiçoado, permite a recuperação total desta água em circuito fechado,
reduzindo consideravelmente as necessidades de água da Usina.

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2. Retentor de Fuligem:

É o equipamento mais importante de todo o sistema. De que adianta se ter


água em quantidade e de boa qualidade se o Retentor é de baixa eficiência?
Não se conseguirá obter os gases dentro das normas e a usina terá sérios
problemas com os inspetores do meio ambiente.

É interessante a instalação do Retentor antes do Exaustor, pois assim se evita


o desgaste das palhetas, laterais do corpo, etc. Em instalações bem
projetadas, com Retentor de alta eficiência e com velocidade adequada dos
gases para que não haja arraste de água, o Exaustor não sofre desgaste
durante toda a safra.
Só há um inconveniente em se instalar o Retentor antes do Exaustor: como os
gases saem com alta umidade, com o tempo se deposita pequenas
quantidades de fuligem nas palhetas do Exaustor, desbalanceando-o.
É necessário que haja portas de visita no corpo do exaustor com fácil acesso
às palhetas. A limpeza é feita com jatos d’água, que retiram com facilidade a
“sujeira”. O tempo de limpeza não demora mais de 15 min com intervalos de 10
a 15 dias. No fundo da caixa do Exaustor deve haver a saída de água dirigida a
canaleta que leva a bomba principal.

3. Sistema de Tratamento - Processo:

Para tratar esta água, o sistema em que se tem conseguido os melhores


resultados descrevemos a seguir:
 Bombeamento da água mais os sólidos da chaminé até uma peneira;
 Peneiramento da água para retirada do material leve que não decanta.
Tem se utilizado peneira rotativa semelhante a peneira de caldo da
moenda. O material semi-sólido que sai da peneira é enviado ao filtro
de tela rodante;
 Água que deixa a peneira é enviada ao decantador, construído em aço
cabono com fundo cônico;
 Do decantador saem dois produtos: a agua limpa, decantada e o lodo;

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 O lodo é enviado a um filtro de telas tipo rodante*, que separa o
material sólido chamado de torta, da água. A torta é descarregada em
uma moega que alimentará o caminhão que levará este material até a
lavoura. A água filtrada, separada do lodo, ainda tem pequena
quantidade de material sólido e retorna no decantador;
 A água decantada é enviada a um tanque e bombeada de volta ao
lavador de gases;
 Um pequeno sistema de injeção de polímeros é instalado para
proporcionar a floculação das partículas leves, que de outro modo não
decantariam.

*Até há algum tempo se utilizava, um filtro tipo prensa para esta função, que
consistia em duas telas que prensavam a torta para a secagem final. No
processo atual, foi desenvolvido um filtro de telas rodantes que não mais utiliza
a prensagem (a secagem é feita por sucção a vácuo). Por isso alguns técnicos
ainda chamam este filtro de Filtro Prensa.

4. Normas Ambientais:
Há 02 resoluções do CONAMA que definem os limites máximos de emissão
de particulados (MP) e NOx, para caldeiras a bagaço de cana e palha.

a. Resolução nº 382/2006 editada em 26/12/2006.


“Ficam estabelecidos, na tabela a seguir, os seguintes limites de emissão
para poluentes atmosféricos provenientes de processos de geração de
calor, a partir da combustão externa de bagaço de cana-de-açúcar:”

(1) (1)
Potencia Térmica MP NOx como NO2
Nominal (MW)
10 280 N.A

230 350

200 350

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(1) Os resultados devem ser expressos na unidade de concentração mg/Nm , em base
seca e 8% de excesso de oxigênio.

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N.A. – não aplicável.
Obs.: resumo completo das resoluções e explicações, vide artigo anexo a este.

b. Resolução nº 436/2011 - em 22/12/2011 o CONAMA editou uma


segunda
resolução, alterando os limites máximos, mas somente para caldeiras
instaladas ou com licença de instalação requeridas antes de 02/01/2007.

“Ficam estabelecidos, na tabela a seguir, os seguintes limites de emissão


para poluentes atmosféricos provenientes de processos de geração de
calor, a partir da combustão externa de biomassa de cana-de-açúcar:”

Potencia Térmica MP (1) NOx (1) como NO2


Nominal (MW)
50 520 N.A.

450 350

390 350

(1) Os resultados devem ser expressos na unidade de concentração mg/Nm3, em base


seca a 8% de excesso de oxigênio.
N.A. – não aplicável.

Obs.: resumo completo das resoluções e explicações, vide artigo anexo a


este.

5. Variantes do Sistema:

Com o aperfeiçoamento do sistema, outras águas de lavagem puderam ser


incorporadas ao sistema sem que a qualidade da água clarificada fosse
prejudicada. Assim temos:
 Águas de limpeza dos fornos;
 Águas de limpeza das correntes das esteiras e das mesas e águas
de limpeza embaixo das mesas de cana;

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 Águas de lavagem de cana para as usinas que ainda lavam cana.
Para grandes quantidades de água de lavagem da cana é
recomendável separar estas águas e se instalar um decantador
somente para estas águas. Bem dimensionado o sistema, com
somente um filtro atende os dois lodos obtidos (fuligem e água de
limpeza da cana), simplificando o sistema.
O sistema é bastante versátil e com somente um decantador e um filtro,
pode-se atender diversas caldeiras.

6. Sistemas Integrados:

Consiste em centralizar num só local a retirada de todos os resíduos sólidos.


Desta maneira, com um só sistema de transporte se levará os resíduos à
lavoura, reduzindo consideravelmente os gastos com transporte.

Os resíduos sólidos são: torta da prensa ou filtro rotativo de lodo do caldo da


cana, torta do filtro de lodo de água de fuligem das caldeiras, torta das águas
de lavagem de cana (caso das Usinas que lavam cana) e resíduos do sistema
de limpeza a seco da cana (caso de Usinas que têm este sistema).
Em instalações novas é possível projetar um sistema integrando todos os
resíduos. Em instalações já existentes tem que ser feito um estudo, muitas
vezes não é possível integrar todos eles.
Mais comum em algumas Usinas é a integração torta de lodo do caldo com a
torta de lodo da fuligem das caldeiras.

7. Engenharia e Projetos:

O sucesso do empreendimento depende primordialmente de um bom projeto


executado por especialistas. Nossa Empresa elabora todo o projeto básico,
executa o projeto completo de detalhamento, acompanha a montagem e
providencia o treinamento dos técnicos que irão operar o sistema.

Obs.: Resumo das normas do CONAMA vide artigo anexo.


Manoel de Almeida
03/11/2014

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