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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CURSO CIÊNCIAS SOCIAIS - BACHARELADO


DISCIPLINA DE ANTROPOLOGIA III

Discentes: Ednayra Costa do Nascimento; Maria Clara Silva Melo; Klycia


Maria Reis Oliveira.

Corpo e corporalidade nas culturas contemporâneas: abordagens


antropológicas
O artigo escolhido discorre, a partir da obra de Marcel Mauss: "As
técnicas do corpo" de 1934, as dimensões culturais e fenômenos sociais
contemporâneos. O primeiro ponto levantado é de que as abordagens do
dualismo entre corpo/espírito e natureza/cultura constroem uma narrativa
essencialista e que muitos teóricos criticam, entretanto, diz a autora Sônia
Weidner Maluf, acabam por reproduzi-la. As abordagens definidas para a
reflexão contemporânea são a utilização do corpo em rituais religiosos no
Brasil, pessoas transgênero em processo de transformações corporais e suas
implicações, o “culto ao corpo”, dentre outros.
Mauss é quem inicia a teorização sobre o corpo nas Ciências Sociais,
se encarregando de dissolver o pensamento das Ciências Biológicas sobre o
corpo apenas ser um objeto dado pela natureza, mostrando seu teor cultural
e social em todos os atos corporais. Para ele, as técnicas corporais, ou seja,
suas atribuições como caminhar, dormir, sentar etc., são um fato social total,
dessa forma, abrangem distintas aplicações nos diferentes grupos sociais. O
habitus como conceito resultante da razão prática, "o corpo não é dado, é
performado"1, possuindo, como foi dito, variáveis sociais e culturais.
A autora Sônia Weidner Maluf explora uma visão mais abrangente de
uma percepção contemporânea no que diz respeito ao corpo e a
corporalidade, expõe uma nova ideia do corpo que rompe parâmetros e vai
além de uma perspectiva cultural, trazendo, nesse viés, o corpo como
produtor de sentido.
“Esses ‘hábitos’ variam não simplesmente com os indivíduos e suas
imitações, variam sobretudo com as sociedades, as educações, as
conveniências e as modas, os prestígios. É preciso ver técnicas e a obra da
razão prática coletiva e individual, lá onde geralmente se vê apenas a alma e
suas faculdades de repetição." (MAUSS, 2003, p. 404).

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DISCIPLINA DE ANTROPOLOGIA III

As noções, que foram primeiramente estabelecidas pela Antropologia


e por Mauss, a respeito das técnicas do corpo baseiam e guiam,
minuciosamente, os estudos posteriores nesse âmbito contemporâneo. O
corpo é, majoritariamente, estabelecido como um instrumento de produção e
de ação da realidade, englobando não só parâmetros biológicos como
também psicológicos e, principalmente, sociais. Marcel Mauss traz como um
de seus exemplos, no texto As Técnicas do Corpo, mulheres indígenas que
exercitavam suas filhas a andar de uma maneira conhecida como “onioi”,
afirmando, em seguida, que “Era uma maneira adquirida, e não uma maneira
natural de andar. Em suma, talvez não exista maneira natural no adulto.”
(MAUSS, 2003, p. 405). Contudo, é possível notar mudanças pertinentes
quanto ao que ronda essa temática, uma vez que o presente artigo expõe,
como uma das características centrais, a ideia de que o corpo não é um dado
e/ou uma substância fixa estipulada pela natureza, mas, na verdade, um
processo permanente de transformação, visto que, segundo Mauss, “a
educação das técnicas que vimos consiste em fazer adaptar o corpo a seu
uso.” (MAUSS, 2003, p. 421), assim, "a Pessoa não aparece como um ser
substantivo, dado e acabado, mas como um ser em processo permanente de
transformação — e aberto para experimentar diferentes possibilidades de
metamorfose." (p. 93).
Sônia Weidner afirma o modo como o corpo deixa de ser mero objeto
da ação social e simbólica e passa a ser agente e sujeito; o corpo, a
corporalidade, constitui o indivíduo e é uma ferramenta que vai além de um
plano simbólico e social, sendo um instrumento que caracteriza e compõe a
individualidade, "nesse caso é o corpo, ou mais especificamente uma
determinada corporalidade, que constrói uma determinada pessoa." (p. 96).
“Todos esses modos de agir eram técnicas, são técnicas corporais do corpo.
[...] O corpo é o primeiro e o mais natural instrumento do homem. Ou, mais
exatamente, sem falar de instrumento: o primeiro e mais natural objeto
técnico, e ao mesmo tempo meio técnico, do homem, é seu corpo. [...] Antes
das técnicas de instrumentos, há o conjunto das técnicas do corpo.”
(MAUSS, 2003, p. 407)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MAUSS, M. As técnicas do corpo. In: MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. São


Paulo: Cosac & Naify, 2003 [1934].

Maluf, Sônia Weidner. Corpo e corporalidade nas culturas contemporâneas:


abordagens antropológicas. Esboços: histórias em contextos globais 9.9 (2001):
87-101.

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