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Um carro de Fórmula 1 feito no país e uma equipe de competição genuinamente brasileira. Essa é
a história do Copersucar-Fittipaldi, a primeira e única escuderia brasileira a competir na Fórmula 1, a
categoria máxima do automobilismo.
Criada em 1975 pelos irmão Emerson e Wilson Fittipaldi Júnior, a escuderia brasileira participou das
etapas da F-1 durante somente oito anos (1975-82). Não foi campeã, nem teve grandes resultados nas
pistas, mas marcou uma página importante na história no automobilismo nacional e mundial. Aperte o
cinto e acelere pelas páginas do e-book SABÓ.
A Fórmula 1 ainda não era um circo
automobilístico milionário e a tecnologia e as
diferenças entre os carros nas pistas e nas ruas
não eram tão grandes. Estamos falando dos anos
1960, 1970 e comecinho da década de 80, um
período em que muitos torcedores acompanhavam
as provas acampados nos autódromos e as
equipes eram formadas por engenheiros, técnicos
e pilotos apaixonados pelo esporte a motor.
Só para dar uma ideia do círculo restrito da Fórmula 1, até 1968 as equipes não podiam personalizar
seus carros com as cores que desejassem ou de algum dos poucos e raros patrocinadores. As cores
permitidas para os carros eram apenas cinco: verde para as equipes inglesas, vermelho para as italianas,
azul para as francesas, prateado para carros de equipes alemãs e o branco para equipes japonesas.
Nessa época, a F-1 era essencialmente um esporte e o marketing e o mercantilismo ainda não tinham
tomado conta dos Grandes Prêmios, ou GPs como hoje são chamados. As equipes eram mantidas com
ajuda das empresas de petróleo e fabricantes de pneus. Essa restrição de cores e patrocinadores
permaneceu até o começo dos anos 1970 e as condições começaram a mudar com a entrada de um
empresário que marcou a categoria: o inglês Bernie Ecclestone.
Nesse período anterior a Bernie Ecclestone, já com alguma disputa entre as equipes para captação de
patrocinadores, contratação de pilotos, projetistas
e engenheiros, alguns pilotos com experiência
e até títulos enxergaram uma oportunidade de
criarem suas próprias equipes de Fórmula 1 e
esse foi o caso de três pilotos em especial: Jack
Brabham, Bruce McLaren e o brasileiro Emerson
Fittipaldi.
O neozelandês Bruce Mclaren, embora não tenha conquistado nenhum título da F-1, disputou 104
provas do Campeonato Mundial de Fórmula 1 entre os anos de 1958 e 1970, obtendo quatro vitórias,
três melhores voltas e 188,5 pontos, primeiro pilotando os carros da Cooper Car Company, uma equipe
britânica de automobilismo, a mesma em que o australiano Jack Brabham conquistou os campeonatos
de 1959 e 1960, e depois com os carros de sua própria equipe, a Team McLaren.
Em 1963, Bruce e seu amigo Teddy Mayer fundaram a Bruce McLaren Motor Racing Ltd. para o
desenvolvimento de carros para um campeonato na Tasmânia, vencido por Bruce no mesmo ano. Ao
final de 1965, a equipe Cooper deixou a Fórmula 1 e Bruce McLaren viu a oportunidade de construir seu
próprio carro para o Campeonato Mundial.
O piloto Bruce McLaren criou sua própria equipe, a Bruce Mclaren Motor Racing Ltd, em 1963, escuderia que ainda hoje participa da Fórmula 1 e já conquistou 12 campeonatos
de pilotos e oito títulos de construtores. Imagem: arquivo site Topgear.
Apesar do começo com resultados fracos, a construção de carros tornou-se um negócio rentável ao
longo das temporadas, com diversos pilotos bancando os custos ou subsidiando sua participação pela
equipe McLaren com verbas de patrocinadores.
Isso permitiu a Bruce McLaren um folego financeiro para desenvolver seus chassis com mais eficiência
e, em 1969, voltou a ter um desempenho regular, com diversos títulos e diferentes pilotos, inclusive com o
brasileiro Emerson Fittipaldi, campeão na temporada de 1974 e um dos personagens centrais deste e-book.
Emerson Fittipaldi é um dos pilotos mais vitoriosos da história brasileira. Foi o primeiro brasileiro a se
tornar campeão mundial de Fórmula 1, no ano de 1972, abrindo portas para vários compatriotas.
Junto com seu irmão e também piloto Wilson Fittipaldi Júnior, Emerson criou sua própria equipe, a
primeira e única escuderia totalmente brasileira
na Fórmula 1: a Copersucar-Fittipaldi.
Os irmãos Fittipaldi no início das atividades da escuderia. Na foto estão Emerson dentro
A primeira reunião entre os envolvidos no
do chassi e Wilson do lado de fora testando o cockpit daquele que seria
o primeiro F-1 brasileiro. Imagem: site Supercarros.
projeto teve lugar na casa de Wilsinho, em 25 de
outubro de 1973. Somente um ano depois, em outubro de 1974, o primeiro carro de Fórmula 1 brasileiro
foi apresentado em cerimônia em Brasília (DF), que reuniu autoridades e jornalistas.
Da esquerda para a direita, o “Barão” Wilson Fittipaldi, Christian – neto do Barão e o filho de Wilsinho, e os irmãos Wilsinho e Emerson. Imagem: site Boletim do Padock.
Wilson é o irmão mais velho de Emerson e filho do também piloto e fundador da Confederação
Brasileira de Automobilismo (CBA), Wilson Fittipaldi, mais conhecido pelo apelido de “Barão”, o primeiro
locutor de corridas automobilísticas no rádio brasileiro.
Wilsinho também foi piloto da Fórmula 1, tendo disputado 38 Grandes Prêmios pelas equipes
Brabham e Fittipaldi entre 1972 e 1975, conquistando três pontos em 35 largadas na categoria máxima
do automobilismo mundial.
O patrocinador era a Copersucar - Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado
de São Paulo, que acabou dando nome ao time e que identificava o carro e a equipe junto à mídia e ao
grande público.
Aqueles que achavam que o F-1 brasileiro seria uma cópia de algum protótipo daquele ano ou
uma mistura dos carros da temporada 1974 e 1975 tiveram uma surpresa ao serem apresentados a
um protótipo moderno, com grandes novidades e bem diferente dos carros das outras equipes que
participavam dos GPs da Fórmula 1.
Esse formato menor favorecia a refrigeração com maior volume de ar frontal chegando no motor
e nos radiadores, ao mesmo tempo que diminuía consideravelmente o atrito da frente da carroceria
contra o vento.
O engenheiro Ricardo Divila faleceu em abril de 2020, aos 74 anos, e ainda hoje é figura respeitada
entre os projetistas automobilísticos.
Wilson Fittipaldi Júnior, em sua exposição para a imprensa especializada da época, explicou que a
aerodinâmica existente nos carros de F-1 no início da década de 70 era limitada e que, ao projetarem o
carro brasileiro, teoricamente, a aerodinâmica seria mais funcional.
Depois de ser alvo de diversas críticas, veio a explicação: “Mas o fato de nunca terem feito não quer
dizer que nós não devêssemos tentar, ainda mais quando a teoria indica que essa solução é muito melhor
que as existentes. Então preferimos experimentar, em vez de simplesmente copiar os outros projetos.
Foi uma iniciativa positiva, porque, nos testes no túnel de vento que fizemos na Embraer, comparando
nosso projeto com o Tyrrell F-1 convencional, conseguimos resultados muito melhores em penetração
aerodinâmica e um índice de atrito menor.”
Uma boa surpresa constatada nos quatro testes de túnel de vento feitos nas instalações da Embraer
com o Fitti FD-01 foi com relação ao vácuo. Numa comparação direta com os resultados do modelo
Tyrrell 006, o carro brasileiro provocou menos formação de vácuo na traseira, o que tornava muito difícil
uma ultrapassagem do carro que viesse atrás na reta.
Outra empresa importante no desenvolvimento do Fitti 1 foi a Embraer, que ajudou no desenvolvimento
do projeto. Utilizando sua experiência no uso de alumínio para fabricação de aviões, foi fundamental
para a fabricação do chassi e nos testes do túnel de vento para desenvolver a carroceria.
Esse motor era conhecido como Ford Cosworth. Durante três décadas, a fabricante norte-americana de
veículos Ford foi a maior parceira de desenvolvimento da Cosworth e, em 1998, adquiriu definitivamente
a empresa.
O câmbio do Fitti 1 era uma caixa de transmissão Hewland FG 400 de cinco velocidades. A Hewland
era uma empresa britânica especializada em desenvolver caixas de câmbio para carros esportivos, sendo
a fornecedora de muitas escuderias da Fórmula 1 e de outras categorias no automobilismo mundial.
Os pneus Goodyear também não eram fabricados no país, embora a marca já tivesse fábrica no
Brasil, e eram os mesmos que equipavam praticamente todos os carros da temporada 1975 da Fórmula
1 – apenas a Vel’s Parnelli Jones Racing, conhecida simplesmente por Parnelli ou VPJ, equipe norte-
americana de Fórmula 1, usava os pneus Firestone em um de seus carros.
É DADA A LARGADA!
Com a meta de estrear no GP da Argentina na temporada de 1975, a preparação durou todo o ano
de 1974 e, para isso, Wilson Fittipaldi Jr. deixou de participar das provas daquele ano no Campeonato
Mundial de Fórmula 1.
No dia 12 de janeiro de 1975, a meta estava cumprida e a primeira corrida do Fitti FD01 foi nos 4.259
metros do Autódromo Internacional Juan & Oscar Gálvez, localizado em Buenos Aires, Argentina.
Wilsinho pilotando o Fitti FD-01 nos treinos do GP da Argentina de 1975. Imagem: site Contos da F1.
A estreia no Grande Prêmio da Argentina não trouxe resultados muito promissores. O carro da equipe
Copersucar-Fittipaldi, pilotado por Wilson Fittipaldi Jr, teve uma quebra na suspensão traseira e bateu forte.
O Fitti 1 largou na 23ª e última posição do grid e, com apenas 13 voltas no circuito, aconteceu a
quebra de uma cruzeta da suspensão, que provocou uma escapada do carro e choque contra o guard-rail.
Com a colisão, o Fitti 1, pintado na cor cinza, com o logo da equipe e a bandeira do Brasil estampados na
carroceria, pegou fogo e foi consumido pelas chamas.
O GP Brasil de Fórmula 1, em 1975, foi realizado em 26 de janeiro e o Fitti FD-02, já com modificações
em razão do incêndio no GP da Argentina, foi bem melhor.
O FD-01 ficou bem avariado, mas já havia planos para a construção de mais um chassi, o FD-02. Com
o acidente, os planos foram antecipados e houve uma verdadeira corrida contra o tempo para aprontar
o carro novo em um intervalo de apenas duas semanas para o GP do Brasil.
Junto com o bom desempenho do Copersucar-Fittipaldi, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 teve
uma dobradinha brasileira no pódio, com José Carlos Pace, da Brabham-Ford, obtendo sua única vitória
na categoria, e o campeão da temporada anterior, Emerson Fittipaldi, da McLaren-Ford, no segundo
lugar. O pódio foi completado pelo alemão Jochen Mass, colega de equipe de Emerson na Mclaren-Ford,
no 3º lugar.
A temporada de 1975 foi um
aprendizado para o time brasileiro e
o melhor resultado foi um 10º lugar,
obtido na última corrida da temporada,
disputada no autódromo de Watkins
Glen, em Nova Iorque, Estados Unidos,
algo absolutamente normal para uma
equipe estreante.
A temporada 2015 foi vencida pelo piloto austríaco Niki Lauda, com o carro da Ferrari, o vice pelo
brasileiro Emerson Fittipaldi, com o Mclaren-Ford, e o terceiro lugar ficou com o argentino Carlos
Reutemann, pilotando uma Brabham BT44B.
A Copersucar-Fittipaldi trouxe uma grande surpresa para a temporada 1976 do Campeonato Mundial
de Fórmula 1. Não no carro, mas na frente do volante. Wilson Fittipaldi deixou o cockpit e passou a ser
o chefe de equipe, passando a posição de piloto titular para o irmão Emerson, que deixou a McLaren e
abriu mão da possibilidade de estar em uma equipe mais competitiva e disputar mais títulos na categoria.
Como se não bastasse a presença do bicampeão Emerson Fittipaldi, a equipe trouxe um segundo
piloto, Ingo Hoffmann, um brasileiro que vinha tendo uma carreira rápida e brilhante, ganhando os
campeonatos de Divisão 1 e 3 e da SuperVê.
No dia 24 de novembro de 1975, a
dupla de pilotos foi apresentada em
um evento e, no dia 16 de dezembro,
o Copersucar-Fittipaldi FD-04 foi
oficialmente apresentado. O novo
monoposto brasileiro era muito
diferente de seus antecessores,
com uma configuração muito mais
convencional e parecida com os
carros de outras equipes e cerca de
70 kg mais leve.
Na temporada de 1975, Wilson Fittipaldi Jr. (à direita) passou a ser o administrador da equipe,
com o irmão Emerson (à esquerda) assumindo o cockpit, tendo o novato Ingo Hoffmann
(ao centro dentro do cockpit do FD-04) como segundo piloto da escuderia. Imagem:
divulgação FB / site Forgottendrivers.
Por outro lado, com a vinda de Emerson, a pressão aumentava. Acostumados aos pódios e títulos do
piloto brasileiro, os torcedores esperavam e cobravam vitórias da equipe e dos carros brasileiros.
Essa pressão aumentou ainda mais com a proximidade do GP do Brasil, primeira prova da temporada
de 1976, quando o FD-04 disputou em pé de igualdade com Ferrari e McLaren, os melhores tempos nos
treinos de classificação.
A 5ª posição de Emerson Fittipaldi no grid de largada deixou o público ainda mais empolgado. Só que
as esperanças acabaram logo após a largada. Com um problema de alimentação por pane em uma peça
que custava menos de US$ 5, Emerson foi ficando para trás e acabou na 13ª posição. Ingo andou com o
velho FD-03 e, com uma pilotagem muito cautelosa, acabou chegando em 11º lugar.
A etapa seguinte foi na África do Sul e somente Emerson alinhou. O Fitti FD-04 classificou-se na
21ª posição do grid de largada e foi ganhando posições, chegando a ocupar a 9ª posição. Faltando oito
voltas para o final, o motor quebrou e Emerson teve que abandonar a prova, obtendo, mesmo assim, a
17ª posição na classificação final.
O Grande Prêmio dos EUA Leste estreava o circuito de rua de Long Beach. O carro de Ingo Hoffmann
agora já era o segundo FD-04. Na pista, os resultados da fase de classificação para o grid de largada
não foram animadores. Com apenas 20 vagas em disputa para a qualificação, Emerson conseguiu, a
duras penas, se classificar em 16º lugar. Já o carro de Ingo Hoffmann marcou o 22º tempo, não obtendo
a classificação para a prova.
Com tudo apontando para uma prova desastrosa, Emerson, Wilsinho, Divila e demais integrantes da
equipe decidiram fazer ajustes e mudar o acerto do carro. Deu certo. Nas voltas de aquecimento antes
da corrida e nas primeiras voltas da prova no domingo, as coisas pareciam melhores.
Tudo ia bem, mas, ao ficar preso em um acidente na terceira volta, Emerson caiu para a penúltima
colocação. Experiente, o bicampeão adotou uma atuação estratégica e foi melhorando sua posição a
cada volta. A partir da metade das 80 voltas da prova, o carro começou a render bem e o FD-04 marcou
a 7ª melhor volta da corrida e já estava na 7ª colocação, a uma posição de marcar seus primeiros pontos
na Fórmula 1.
O Shadow do francês Jean Pierre Jarier ocupava a 6ª posição, mas já vinha com problemas no câmbio
e Emerson ia tirando a diferença. Quando faltavam apenas duas voltas para o final da corrida, Emerson
ultrapassou Jarier e assumiu a sexta posição. Era o primeiro ponto da equipe Copersucar-Fittipaldi.
No GP da Espanha, onde o novo regulamento começou a valer, Ingo não conseguiu se classificar
novamente e, após enfrentar inúmeros problemas durante a semana e na prova, Emerson abandonou a
corrida após três voltas.
No GP seguinte, na Bélgica, somente Emerson foi inscrito e teve o dissabor de não conseguir se
classificar para a largada. Sofrendo com pouco equilíbrio do carro, tentou tudo, mas ficou a 4 centésimos
do último tempo de classificação.
Com muita pressão sobre a equipe Copersucar-Fittipaldi, o engenheiro Ricardo Divila recebeu a
incumbência de buscar melhorias para o carro e muita coisa sofreu modificações. Na corrida seguinte, o
GP de Mônaco, Emerson deu um show de pilotagem.
A temporada de 1977 teve mais pontos conquistados, inclusive um ótimo 4º lugar conquistado por
Emerson no Autódromo de Interlagos, ainda com o modelo FD-04. Para completar o quadro de esperança
e entusiasmo, o segundo piloto da equipe, Ingo Hoffman, chegou a 7ª posição nessa mesma corrida.
Esses bons resultados não duraram nem até a metade da temporada. Depois de dois quartos lugares
nos dois primeiros GPs da temporada, das corridas da Argentina e do Brasil e das quebras, os maus
resultados voltaram a ser rotina do Fitti FD-04 e depois no modelo F5, esse já um projeto desenvolvido
por Dave Baldwin.
O novo carro criado por Baldwin, o F5, já sem o “D” de Divila no nome, ficou pronto em abril de 1977
e fez sua estreia em junho no GP da Bélgica, a sétima corrida do campeonato. Nos testes preliminares
em Interlagos, o F5 mostrou-se rápido. Tanto Emerson como Wilson guiaram o carro para avaliação e
sentiram confiança no novo projeto.
O Fitti F5 só estreou no GP da Bélgica, a sétima corrida do campeonato de 1977. Nos testes preliminares em Interlagos, o F5 mostrou-se rápido. Imagem: site Contos da F1.
A equipe disputou 14 das 17 etapas do saindo do zero para a próxima temporada em tão
Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1977 pouco tempo.
e marcou 11 pontos, todos conquistados por
Emerson Fittipaldi, que obteve três quartos Assim, para o ano seguinte, o mesmo carro
lugares e um quinto. Ingo Hoffmann disputou com algumas mudanças, que foi chamado de F5A,
apenas quatro provas, com duas desistências e seria a esperança de conseguir algum resultado
dois sétimos lugares. melhor e com consistência.
Além das quebras e panes em outros Para tal tarefa, após a saída de Baldwin
componentes, o comportamento irregular do da equipe, Divila assumiu a liderança do time
carro no decorrer das provas levantava suspeitas de projetos. Veio também Ralph Bellamy, um
que a geometria da suspensão do carro não era engenheiro da Lotus que trabalhou no projeto do
boa. Emerson apontou o projeto da manga de eixo modelo 78, o novo carro-asa da equipe inglesa, e
traseira como uma das causas do carro não ser com experiência anterior na McLaren.
bom em várias condições de pistas. Ele atribuía
essa condição à defasagem entre a geometria A equipe contratou, ainda, a empresa italiana
e a evolução dos pneus da época, que tiveram de consultoria de projetos FLY Studio, localizada
grandes melhoras rapidamente. Para o piloto, os em Modena, perto da casa da Ferrari. A FLY
novos projetos não acompanhavam a evolução Studio era bem gabaritada e criada por dois ex-
dos pneus. funcionários da Ferrari, Giacomo Caliri e Luigi
Marmiroli. O trabalho de Divila e da FLY Studio
O F5 terminou o ano como um grande problema era tentar salvar o que fosse possível do F5.
para a equipe. Baldwin havia sido dispensado e Coube ao engenheiro italiano Caliri o projeto
Divila teria que tentar salvar o projeto de alguma aerodinâmico do F5A.
forma, pois não seria possível fazer um carro
O modelo F5A estreou no GP da Argentina de 1978 e, na etapa seguinte, no GP do Brasil, teve o resultado mais expressivo da equipe Copersucar-Fittipaldi, com a segunda colocação
obtida por Emerson. Imagem: site Autoentusiastas.
O monobloco era bem projetado e foi mantido, largar com seu F5A, mas, ao sair do box, o carro
com pequenos ajustes. O conceito da vez era o quebrou o eixo-piloto. Não houve escolha senão
efeito solo, explorado com sucesso pela Lotus, apelar para o carro reserva que já tinha passado
e o novo Copersucar deveria tentar algo neste por ajustes pela equipe.
caminho.
Para isso, as laterais do carro foram Essa troca rendeu ao piloto o segundo lugar no
modificadas, liberando espaço para as superfícies pódio e o melhor resultado da equipe até então.
do assoalho serem melhor aproveitadas para criar Ao longo da temporada, outros bons resultados
o efeito de “downforce”, aumentando a pressão foram sendo alcançados pela escuderia.
aerodinâmica contra o asfalto.
Para surpresa da imprensa e torcida, o ano de
A equipe apostou e teve êxito na mudança 1978 foi o melhor desempenho da equipe brasileira
do F5 do ano anterior e, após um reestudo e um na Fórmula 1, com o segundo lugar no Grande
retrabalho da equipe, surgiu o F5A, que ficou Prêmio do Brasil, o qual teve sabor de vitória, com
pronto para estrear no GP da Argentina, com o modelo F5A, que pode ser considerado o melhor
Emerson largando na 17ª posição do grid de projeto da escuderia Fittipaldi.
largada e chegando na 9ª colocação da prova.
A equipe participou de todas as 16 etapas da
Duas semanas depois, no GP do Brasil, temporada, marcou 17 pontos, com o segundo
o primeiro GP disputado no Autódromo de lugar conquistado no GP do Brasil, além de
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, a equipe estava dois quartos, dois quintos lugares e uma sexta
com dois chassis à disposição. Emerson chegou a colocação.
Toda a equipe Copersucar-Fittipaldi posando com os modelos F5A e F6 no Autódromo de Interlagos. Imagem: arquivo site F1 Mania.
A escuderia parecia ter encontrado uma luz no fim do túnel e não era um trem em sentido contrário.
Mais expectativas e esperanças para o próximo ano. Só que não.
A temporada de 1979 foi ruim, com um carro que já nasceu mal projetado, o F6.
Ainda em 1978, Ralph Bellamy desenhou o novo carro da equipe, com muitas novidades e inspirado
em outros modelos. Emerson percebeu alguns problemas logo nos testes e não se animou com as
novidades apresentadas. Com as reclamações, os engenheiros tinham um prazo curto para que o carro
passasse por mudanças e pudesse estrear no mundial de 1979.
Sem tempo hábil para isso, a opção era continuar com o F5A, enquanto o novo modelo não estivesse
pronto para ir para as pistas. Até que, no GP da África do Sul, a equipe decidiu colocar o F6 pra correr,
mas o modelo não correspondeu às expectativas e o F5A voltou às pistas.
O modelo F6A foi o último da fase Copersucar-Fittipaldi, com o patrocinador se retirando da parceria
Em 1980, visando internacionalizar ao final da temporada. Imagem: site F1 Mania.
Sem a parceria da Copersucar, a equipe foi em busca de novos parceiros, com a Skol sendo a nova
patrocinadora da equipe. Nesse ano, a compra da Escuderia Wolf proporcionou à equipe uma melhoria
das instalações e dos caminhões-trailers, um maior número de motores, assim como um pessoal técnico
que passou a trabalhar com a Fittipaldi.
Com novo patrocinador e com
sede da equipe na cidade inglesa de
Reading, no condado de Berkshire,
entre Londres e Oxford, a Fittipaldi
apresentou o Skol Fittipaldi F-7, o
sétimo modelo da linha e o quarto
pilotado por Emerson. Dessa vez, o
carro não tinha nada de muito novo,
Em 1980, a Fittipaldi apresentou o Skol Fittipaldi F-7, o sétimo modelo da linha e o último pilotado por Emerson,
era um típico carro de F1 dos anos 70. que havia passado a posição de piloto para o finlandês Keke Rosberg. Imagem: site F1 Mania.
O F-7 apresentou problemas em metade das 14 corridas da temporada, não completando as provas,
além de uma ausência pela não classificação na etapa disputada na Argentina, prova de abertura da
temporada 1980.
Na temporada seguinte, 1981, o novo F8, pilotado por Emerson, estreou na corrida na Inglaterra, em
Brands Hatch. Como os modelos anteriores, também apresentava alguns bons resultados, mas muitas
falhas mecânicas.
Até o fim da temporada, Emerson concluiu apenas o GP da Áustria, em 11° lugar, e mais nenhuma
corrida, tendo ainda dois outros pilotos no volante do F8, o brasileiro Chico Serra e o finlandês Keke
Rosberg, sem que nenhum dos dois tenha marcado um ponto sequer.
A questão financeira já era um ponto bem crítico da equipe, o que obrigava a competir com apenas
um carro nas pistas, agora pilotado por Chico Serra - Emerson havia se afastado das pistas e era apenas
o administrador da equipe junto com seu irmão. O engenheiro Ricardo Divila fazia tudo que podia para
atualizar o F8C e transformar em F8D.
Mas isso não significa que a única equipe e carros brasileiros na Fórmula 1 foi um fracasso.
Na temporada de 1980, por exemplo, o time brasileiro terminou o campeonato em oitavo lugar com
onze pontos, enquanto que a Ferrari ficou em decimo lugar com apenas oito pontos.
Dois anos antes, a equipe ficou na frente de equipes maiores e com mais recursos, como a McLaren,
Williams, Renault e Arrows, no Mundial de Construtores.
Nas oito temporadas que disputou, a Copersucar-
Fittipaldi acumulou 44 pontos em 104 GPs. Foram três
pódios, o mais comemorado deles em 1978, o segundo
lugar de Emerson no Rio de Janeiro com o modelo
F5A. Nenhuma vitória, mas dezenove presenças na
tabela de pontos, numa época em que apenas os seis
primeiros pontuavam.
Desenho dos capacetes usados pelos pilotos Fittipaldi entre 1975 e 1982. Imagem: portal Pinterest.
Montagem com os F-1 pilotados pelos campeões brasileiros junto com o Copersucar-Fittipaldi. A partir de cima, à esquerda, o Fitti FD-01, ao lado dele, a Lotus 1972 de Emerson
Fittipaldi, abaixo, à direita, a Brabham 1981 de Nelson Piquet e mais à esquerda, abaixo, a Mclaren 1988 de Ayrton Senna. Imagens: portal F1 Fansite.
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