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A PRESENÇA DE CONCEITOS MATEMÁTICOS, NO CONTEXTO CULTURAL


DO PLANTIO DE MANDIOCA, NA COMUNIDADE QUILOMBOLA NOVO
PALMARES DO JUQUIRI/PA

David Geandson da Conceição Bailão Araújo1


Dulcirene Cunha Almeida2
Sebastião Martins Siqueira Cordeiro3

RESUMO: O presente trabalho é fruto da disciplina Ação de Extensão em Matemática II,


componente curricular do curso de licenciatura em Matemática/UFPA, tendo como proposta
inicial, identificar os conceitos matemáticos no plantio de mandioca, em uma dada
Comunidade Quilombola, localizada no município de Moju/PA. Onde o tubérculo conhecido
popularmente como mandioca, é uma das fontes de alimentos e renda, dela se produz a
farinha, a goma de tapioca, o polvilho, o tucupi e algumas bebidas alcoólicas; e das folhas de
sua árvore é produzido a maniçoba, prato típico da culinária paraense. O objetivo é investigar
quais conhecimentos matemáticos são empregados pelos agricultores do quilombo, no plantio
e feitura da mandioca. Segundo D`Ambrósio (2013, p. 102), o cotidiano está impregnado dos
saberes e fazeres próprios da cultura. A metodologia acionada foi a pesquisa de campo, pois,
“o objeto/fonte é abordado em meio ambiente próprio. A coleta de dados é feita nas condições
naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo diretamente observados” Severino (2007,
p.123). Os referenciais teóricos foram D’Ambrósio (2013), Dolce (1993), Fonseca (2002). Os
resultados obtidos mostram que os agricultores do Quilombo desenvolvem uma série de
conceitos matemáticos, que iniciam na preparação do solo até a colheita. Concluímos que a
pesquisa possibilita identificarmos no plantio de mandioca, que se desenvolvem conceitos de
Geometria Plana, cálculo de área e sistema de medidas como metro e tempo.

Palavras-chave: Plantio da Mandioca. Quilombo. Geometria Plana.

1. Introdução
O presente trabalho é resultante da disciplina acadêmica Ação de Extensão em
Matemática II, desenvolvido por meio de pesquisa de campo realizada em uma comunidade
Quilombola do município de Moju, no Estado do Pará. O objetivo é investigar quais
conhecimentos matemáticos são empregados pelos agricultores do quilombo, no plantio e
feitura da mandioca.
A pesquisa em questão foi conduzida a partir do seguinte problemática: Como a
matemática está presente nas atividades culturais, desenvolvidas no Quilombo? Tomando
como ponto de partida o exposto e, dentro de uma perspectiva acadêmica buscamos investigar

1
David G. da Conceição B. Araújo (Licenciatura em matemática/UFPA). Email: davidbailao30@gmail.com
2
Dulcirene Cunha Almeida (Licenciatura em matemática/UFPA). Email: dulcirenealmeida1992@gmail.com.
3
Prof. Dr. Sebastião Martins Siqueira Cordeiro (Doutorado/UFPA). Email: sebastiao@ufpa.br. Docente da
Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia, pela Universidade Federal do Pará.
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quais são os conceitos matemáticos empregados pelos agricultores do quilombo no plantio de


mandioca.
Por meio da pesquisa de campo, desenvolvida no Quilombo Novo Palmares da
Comunidade Juquiri, situado as proximidades da cidade de Moju, coletamos dados por meio
de entrevista, fotos, anotações, gravações e observações. Para obter as informações
necessárias aplicamos a técnica de pesquisa, entrevista semiestruturada, cujas respostas
conduzem: à preparação do solo, época de plantio e ao período necessário para que a
mandioca esteja pronta para a produção da farinha.
Na cultura do plantio de mandioca é possível identificarmos a existência de alguns
conceitos que atravessam a Geometria Plana, os cálculos de área e sistema de medidas,
desde a preparação solo, escolha da a área do terreno, para fazer suas roças, essa área deve ser
no mínimo de uma tarefa, a partir daí iniciam os processos de medidas, tudo é feito utilizando
os conhecimentos empíricos que perpassam por gerações.
O trabalho está organizado da seguinte maneira: iniciamos abordando o contexto
histórico da comunidade, em seguida tratamos do ... e finalizamos com análise dos
resultados.

2. Comunidade Juquiri: Quilombo Novo Palmares

Imagem 01: Comunidade Juquiri Imagem 02: Margens do rio Moju

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2023. Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2023.

A Associação Remanescente de Quilombo Novo Palmares, da Comunidade Juquiri,


fica localizada no Ramal do Juquiri, à margem direita do baixo Rio Moju, há 18 quilômetros
da sede do Município de Moju-PA. O território possui uma área de 698ha 29a 62ca
(seiscentos e noventa e oito hectares, vinte e nove ares e sessenta e dois centiares) perímetro
de 15.146.01m, habitado por 117 famílias.
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A comunidade foi fundada em 2010, certificada pela fundação Palmares em 2012 e


titulada pelo ITERPA (Instituto de Terras do Pará). No ano de 2022, o quilombo teve como
seu primeiro presidente, o Senhor Raimundo da Conceição Costa, e a atual presidente, a
Senhora Ocilene Trindade Monteiro.
Dentro do Quilombo são cultivados açaí, castanha, mandioca e criam-se animais
(suínos, bovinos e aves), assim grande parte da alimentação das pessoas da comunidade é
produzida pelas próprias famílias. De a cordo com as informações coletadas durante
entrevista, a mandioca é uma das fontes de alimentos e renda no Quilombo, dela se produz a
farinha, a goma de tapioca, o polvilho, o tucupi e algumas bebidas alcoólicas e das folhas de
sua árvore é produzido comidas típicas como a maniçoba. O plantio do tubérculo compreende
algumas etapas, entre elas o período do ano, a escolha do terreno onde será feito a roça e a
preparação do solo.

3. Caracterização do plantio da Mandioca


O plantio de mandioca compreende algumas etapas que iniciam na preparação do solo,
escolhe-se uma área do terreno, onde os agricultores irão medir, fazer a escolha da área, para
ser feito posteriormente a roça. A mesma, varia de uma à três tarefas, após medir, os
agricultores irão roçar (procedimento de limpeza e preparação da área do terreno), derrubar,
queimar e encoivarar.
Geralmente esse processo é realizado nos meses de maio e junho, setembro e outubro,
época do verão amazônico. Segundo relatos dos moradores, é mais viável fazer três tarefas de
roça, porque, enquanto estão colhendo as mandiocas de uma roça, outra vai sendo preparada
de modo que não fiquem sem o fruto, durante o período de tempo que aguardam o
amadurecimento, período esse que perdura, 1 ano, desde o plantio até a colheita. Como
apresentado na imagem abaixo, o processo de amadurecimento do fruto, é um processo que
demanda um tempo significativo.
Imagem 03: Caule da mandioca (maniva/semente)
4

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2023.


No quilombo, as áreas do terreno que será feito as roças são medidas de forma braçal,
uma tarefa equivale a uma área de 50m² (25 braças), e essa tarefa tem 4 aceros (lados), desta
forma é feito o cálculo da área de uma tarefa que deve conter 50m de largura por 50m de
comprimento, o que se configura um quadrado, revelando os saberes da terra.

3.1 Saberes da terra, entrelaçados pelos conhecimentos matemáticos


As medidas de área dentro do Quilombo são realizadas da seguinte maneira (1 braça =
2m; 1 quadra tem 25 braças; 1 tarefa = 4 quadras). A quadra e tarefa apresentam equivalência
entre si (1 quadra = 25 braças de lado = 50 m x 50 m = 2500m²). Quando são duas ou três
tarefas não teremos, mas um quadrado e sim um retângulo, pois a medida de duas tarefas são
50m de largura por 100m de comprimento, de três tarefas são 50x150, continua sempre uma
largura de 50m, porém muda o comprimento.
Após a preparação do solo, inicia-se o processo de plantio, com o uso da enxada são
abertos pequenas covas em fileiras, com espaçamento de no mínimo 80cm entre si, essa
distância serve para as raízes se desenvolver e facilitar o processo de capina. No sistema de
medidas, entre as covas, os agricultores utilizam os pés e as pernas, a cada dois passo se faz
uma cova com 10cm de profundidade.

Imagem 04: Caule da mandioca (maniva/semente) pronta para o plantio

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2023.

No plantio são utilizadas partes do caule da mandioca arrancada, como podemos


observar na imagem acima, que corresponde ao caule, ou seja, pequenos pedaços que são
feitos, especialmente para este processo inicial, entretanto, deve-se escolher as manivas
maduras com 10 a 12 meses de idade.
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As manivas são cortadas com auxílio de um facão, cada pedaço de maniva deve medir
entre 15 e 20 cm, medidos no palmo das mãos, as manivas devem ser plantadas contendo dois
pedaços em cada cova na posição horizontal, pois dessa forma, a mandioca vai se desenvolver
de maneira que facilite a sua colheita.
De acordo com D`Ambrósio (2013, p.102) “o cotidiano está impregnado dos saberes e
fazeres próprios da cultura. A todo instante, os indivíduos estão comparando, classificando,
quantificando, medindo, (...) e, de algum modo, avaliando, usando os instrumentos, materiais
e intelectuais que são próprios a sua cultura”. Buscando atender as necessidades de
sobrevivência dentro do quilombo, as famílias desenvolvem saberes culturais repleto de
conceitos matemáticos.
As formas como os agricultores realizam suas atividades do plantio de mandioca,
evidência a presença de elementos matemáticos, que muitas das vezes, não são vistos pelos
agricultores como conhecimentos matemáticos, muitos deles repassado pelos antepassados de
maneira prática, sendo adquirido pela observação ou pela oralidade, atravessando gerações.

4. Análise da feitura do plantio de mandioca, pelos conhecimentos matemáticos


Sabendo que uma tarefa de roça é uma área de 50m² como demonstra a figura.
Imagem 05: Inserir nome da imagem

Fonte: https:www..

Podemos fazer o cálculo da área do terreno, utilizando a fórmula de área do quadrado


para uma tarefa.
A=b∗h

A=50∗50

A=2.500 m²
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Sabendo a área total ocupada por uma tarefa de roça, vamos calcular
aproximadamente quantas pés de mandioca possui em uma tarefa desse plantio?
Imagem 06: Distância entre as manivas

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2023.

Dessa maneira, temos que cada pé de mandioca irá ocupar uma área individual de
0,0064m². Para o nosso exemplo de tarefa de 50m², basta dividir a área da tarefa pela área
ocupada pelo pé de mandioca e teremos a quantidade total da plantação de mandioca que
foram plantadas aproximadamente.
Quantidade de pés de mandioca = área da tarefa em m² / área ocupada por cada pé de
mandioca em m²
2500 m2
x=
0,0064 m2
x=390.525

Em uma tarefa cabem aproximadamente 390.525 pés de mandioca.


Agora vamos fazer os cálculos para 2 e 3 tarefas

A=b∗h

A=100∗50

A=5.000 m²
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2
5000 m
x=
0,0064 m2
x=781.250

A=b∗h

A=150∗50

A=7.500 m²

2
7.500 m
x=
0,0064 m2
x=1.171 .875

Falta, finalizar esse raciocínio, demonstração, ou seja, em um ou mais parágrafos.


Relacionando com citações, que conceitue a geometria plana, e demais conhecimentos
científicos.

4.1 Resultados obtidos


Ao adentrando na cultura do plantio de mandioca, nas extremidades do quilombo,
observamos uma série de conceitos matemáticos tais como: elementos da Geometria Plana,
medidas como metro e tempo marcando evidências de conhecimentos empírico sutil e amplo
transmitido por uma tradição que perpassa por gerações.
De acordo com Fonseca (2002) a pesquisa possibilita uma aproximação e um
entendimento da realidade a investigar como um processo permanente inacabado. Através de
aproximações sucessivas da realidade fornecendo subsídios de uma intervenção no real. A
matemática pode ser identificada no conhecimento que se faz necessário durante todo o
processo do plantio de mandioca.
Existem elementos importantes a observar que iniciam no preparo do solo, o período
para o plantio, a quantidade de maniva e a maneira que são colocadas em cada cova, as
medidas de tempo e distância. As relações de medidas aparecem nas diferentes etapas do
processo do plantio. Na preparação do solo os Quilombolas usam um sistema de medidas não
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convencional que são a braça, quadra e tarefa, durante o processo de plantio da maniva
utilizam para efetuar as medidas algumas partes do corpo como as mãos, os pés e pernas.
Conforme, relatos das pessoas que convivem com esses saberes, com o passar do
tempo e a experiência adquirida pelos agricultores, eles não precisam medir uma a uma a
distância entre as covas ou o tamanho das manivas, é possível fazer isso com tranquilidade, a
olho nu, ou seja, os saberes dos povos tradicionais.

5. Considerações Finais
Ao desenvolver este trabalho, encontramos elementos matemáticos que de início,
passaram despercebidos aos nossos olhos, não imaginávamos que encontraríamos a gama de
conceitos da matemática existente na cultura do plantio de mandioca. Para os quilombolas é
fundamental ter esses conhecimentos e articulá-los entre si, de modo a que a mandioca possa
se desenvolver e a colheita seja adequada e suficiente para a produção da farinha necessária
ao sustento das famílias.
Nesse sentido, destacamos a forma como os agricultores do Quilombo fazem uso das
medidas, apesar desse sistema não ser exclusivo da comunidade, ele caracteriza a forma de
matematizar dos moradores do Novo Palmares, mesmo sabendo de um sistema convencional
de medidas, na preparação da área que será utilizada para o plantio do tubérculo os moradores
utilizam os conhecimentos empíricos passado de geração a geração. O sistema de medidas
utilizadas consegue atingir os objetivos e suprir as necessidades, no propósito de resolução de
problemas do cotidiano no quilombo, problemas esses, imersos na realidade cultural e social
dos mesmos.
Portanto, concluímos que a pesquisa nos proporcionou identificar a existência de
conceitos matemáticos que estão presentes durante todo o processo do plantio da mandioca,
destacamos ainda as relações entre medida, sobretudo a área de cultivo, a quantidade dos pés
de mandioca plantados e a forma que são plantados, os elementos da Geometria Plana que se
fazem presentes, as medidas tempo e espaço que são usuais desde a preparação do solo até a
colheita da mandioca.

6. Referências
D’AMBROSIO, U. Etnomatemática Elo Entre As Tradições E A Modernidade. 5 Ed –Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
DOLCE, Osvaldo; POMPEO, José Nicolau, Fundamentos da Matemática Elementar –
Geometria Plana, Vol. 9, 7ª Ed. São Paulo: Atual, 1993.
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FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.


SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. rev. e atual. São
Paulo: Cortez, 2007.

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