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QUESTÃO DE GÊNERO E

SAÚDE MENTAL:
ATRAVESSAMENTOS NA
PSICOLOGIA CLÍNICA
APRESENTAÇÃO DA PALESTRANTE

Psicóloga Clínica - hospitalar , especialista em Saúde


mental, em saúde coletiva e pós-graduanda em
Sexualidade. Atua no cuidado a pessoas trans desde 2017,
no ambulatório SERTRANS, realizando atendimentos
individuais e em grupo. Atualmente, realiza grupo temático
com o objetivo de desenvolver espaços de produção de
saúde mental.
O QUE É GÊNERO AFINAL?

É um conceito/categoria das ciências sociais, elaborada no interior do


pensamento feminista, que diz respeito às diferenças socialmente atribuídas ao
feminino e ao masculino, cujas marcas se inscrevem, sobretudo, nos corpos das
pessoas.
As marcas de gênero se intersectam a outras marcas - raciais, étnicas,
de classe, de idade, de orientação sexual, etc. – produzindo hierarquias, ou seja,
relações sociais assimétricas e desiguais em termos de poder.
POLISSEMIA DO CONCEITO DE GÊNERO

 Concepção naturalista – embasada na redução biológica ( determinismo


biológico);

 Concepção de interpretação cultural do Sexo anatômico ( determinismo


social);

 Concepção experiencial – experiência subjetiva embasada na


autodeterminação;

 Concepção performática do gênero


POLISSEMIA DO CONCEITO DE GÊNERO

“Nós vos pedimos com insistência:


Nunca digam - Isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre o sangue
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza
Não digam nunca: Isso é natural
A fim de que nada passe por imutável”.
Bertolt Brech
GÊNERO, SEXO E CORPOS DESOBEDIENTES

Gênero: cultural, social, linguístico e performático.

Sexo: Anatômica, cromossômica ( biológica)

Sexualidade: área do conhecimento que estuda as experiências


afetivas-sexuais;
SEXO BIOLÓGICO

Características Genotípicas

Características Fenotípicas
Já pensou sobre isso?

“Desde criança você foi ensinada(o) a agir e a ter uma determinada aparência,
de acordo com o seu sexo biológico. Crescemos sendo ensinados que homens
são assim e mulheres são assado. Entretanto, o fato é que a grande diferença
que percebemos entre homens e mulheres é construída socialmente, desde o
nascimento, quando meninos e meninas são ensinados a agir de acordo com são
identificadas a ter uma performance de gênero “adequada” (JESUS, 2012).
GÊNERO E A DIVERSIDADE CONCEITUAL

 CONSTRUÇÃO SOCIAL : Discursos sociais – lógica


cis-heteronormativa

 IDENTIDADE : como me identifico, como me


percebo. (auto identificação)

 PERFORMANCE DE GÊNERO: Existir no mundo

* Discutir gênero com recorte de classe e raça, levar em conta as


especificidades do coletivo.
Simone de Beauvoir
IDENTIDADE DE GÊNERO

"" se refere à expressão da identidade de uma pessoa, que pode ser CONGRUENTE ou
INCONGRUENTE àquela designada pelo SEXO no nascimento”

TRANSGÊNERO

CISGÊNERO
TRANSCENDE À LÓGICA DO BINARISMO

A diferença entre pessoa transexual, transgênero e


travesti é de auto identificação. Por isso, o indicado é
usar apenas “trans”.
Há também PESSOAS trans não binários, que não
se identificam nem com o gênero masculino nem com
o feminino.
CORPOS DESOBEDIENTES
CORPOS DESOBEDIENTES

Pessoas transexuais e travestis fora designadas


no nascimento, a partir de sua genital, de forma diferente
da qual se identificam. As pessoas cisgêneras se
identificam com o gênero que lhes foi designado. Além
dessas, há inúmeras outras identidades. de gênero.
ESTIGMA SOCIAL
definido enquanto marca ou sinal que designa o seu
portador como desqualificado ou menos valorizado, ou segundo a
definição de erving goffman: “a situação do indivíduo que está
inabilitado para aceitação social plena” .Para a sociologia o estigma
está relacionado com a identidade social dos sujeitos e dos grupos
sociais, sendo o conceito de estigma social relacionado a
categorização de um grupo por outro, conferindo-lhe um grau
inferior de status social. (GOFFMAN, 2004, P.4).
“O ESTIGMA É CONSTRUÍDO POR PRÉ NOÇÕES,
RECONCEITOS , ESTEREÓTIPOS”.

(GOFFMAN, 2004)
TRANSFOBIA
PARA DESCONTRUIR É PRECISO DERRUBAR MITOS
PARA DESCONTRUIR É PRECISO DERRUBAR MITOS
PRINCIPAIS MITOS ACERCA DAS IDENTIDADES TRANS :

 A transexualidade é uma doença;


 Não existe diferença entre transexual, transgênero e travesti;
 Para ser uma mulher transexual ou uma travesti é preciso fazer uma cirurgia;
 Pessoas transexuais são todas homossexuais;
 Pessoas transexuais e travestis escolheram ser assim;
 Ser uma pessoa transexual ou travesti significa ser um homem fantasiado de mulher ou uma mulher
fantasiada de homem;
 Transfobia não existe;
 Isso tudo é uma invenção só para chamar a atenção das pessoas;
 Todo transgênero acaba se prostituindo;
NOVA CONCEPÇÃO DA TRANSEXUALIDADE

A OMS organização mundial retira a condição da


transgeneridade do seu guia de doenças tirando o caráter
patológico deixa de ser considerado problemas mentais do código
da organização, como "distúrbio de identidade de gênero“ e
passa a ser entendido como "incongruência de gênero", sendo
integrado às condições relacionadas à saúde sexual, dando
continuidade ao movimento de despatologização das identidades
trans.
CIS-HETERONORMATIVIDADE
DIVERSIDADE DE GÊNERO
DIVERSIDADE DE GÊNERO
DIVERSIDADE DE GÊNERO
SOFRIMENTO PSÍQUICO DAS PESSOAS TRANS
ACOLHER A DIVERSIDADE FAZ BEM À SAÚDE
(DES)CAMINHOS DO ACOLHIMENTO

Acolher é reconhecer o que o outro traz


como legítima e singular necessidade de
saúde. O acolhimento tem como
objetivo a construção de uma relação
de confiança, compromisso e vínculo
entre a equipe/serviço e usuários com
sua rede sócio afetiva. (BRASIL. Ministério
da Saúde. Humaniza SUS, 2008)
O BÊ-Á-BÁ DO ACOLHIMENTO A PESSOAS
TRANS
 pergunte ao usuário: “como é seu nome?” ou fazer um convite para ele se
apresentar;
 Não fazer inferências acerca da identidade de gênero do usuário;
 chame-o (a) sempre pelo nome de escolhido (independente da aparência);
 Reconhecer a identidade de gênero como determinante social no processo
saúde/doença;
 Respeitar o nome social e à expressão de gênero do usuário;
 (RE)conhecer as características das populações atendidas e suas diferentes
necessidades;
USO DO NOME SOCIAL CONTRIBUI PARA UM
ACOLHIMENTO INCLUSIVO E LIVRE DE
TRANSFOBIA
 cartão do sus com nome social;

 no cartão do sus pode conter apenas o


Está na lei!
nome social, não é obrigatório conter o nome Portaria 675/MS/GM
de 30 de março de
de registro; 2006, Carta dos
Usuários no SUS
(BRASIL,
2009), artigo 4o,
inciso 1 Uso do
nome social
FAÇA A DIFERENÇA

 A população TT é marcada pela


exclusão o que está associado à história
de constante discriminação em
diferentes contextos: família, escola e
saúde;

 Acolher com respeito à diversidade de


gênero é promover a transformação
dessa realidade e nos torna um agente
de mudança;
ACOLHIMENTO INCLUSIVO

CUIDAR, À PARTIR DAS CONDIÇÕES


DE VIDA DO USUÁRIO: PROMOVER AUTONOMIA DO USUÁRIO:
RECONHECER A ENXERGAR A PESSOA TRANS, ALÉM DA
AUTODETERMINAÇÃO DA SOBREDETERMINAÇÃO DA CATEGORIA
IDENTIDADE DE GÊNERO, DO NOME IDENTIDADE DE GÊNERO.
SOCIAL “Considerar a reconstrução, pelo
sujeito, dos sentidos de sua vida”
(Cecílio, 2006).
PORTARIA Nº 2.803, DE 19 DE NOVEMBRO DE 2013
(PROCESSO TRANSEXUALIZADOR)

ART. 1° - ESTABELECER AS DIRETRIZES DE ASSISTÊNCIA AO USUÁRIO/A COM DEMANDA


PARA REALIZAÇÃO DO PROCESSO TRANSEXUALIZADOR NO SUS E GARANTIR:

A) A integralidade da atenção a transexuais e travestis, não restringindo ou centralizando a


meta terapêutica às cirurgias de transgenitalização e demais intervenções somáticas;
B) O trabalho em equipe interdisciplinar e multiprofissional;
C) A integração com as ações e serviços em atendimento ao processo transexualizador, tendo
como porta de entrada a atenção básica, incluindo acolhimento e humanização do
atendimento livre de discriminação, por meio da sensibilização dos trabalhadores e demais
usuário/as da unidade de saúde para o respeito às diferenças e à dignidade humana, em
todos os níveis de atenção.
RESOLUÇÕES QUE REGULAMENTAM A ATUAÇÃO DO
PSICÓLOGO RELACIONADAS A ATENÇÃO DAS PESSOAS
TRANS.

• RESOLUÇÃO 01/99
• RESOLUÇÃO CFP 01/2018
afirma que compete psicólogxs, nos diversos campos do exercício
profissional, o atendimento voltado à promoção da vida, do bem estar e da
dignidade de pessoas trans, contribuindo ainda para a eliminação de qualquer
forma de preconceito ou discriminação contra essa população.
“Ser o que somos não tem preço. Viver uma
mentira nos enlouquece”

(João Nery, 2018)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Humaniza SUS: Documento base para gestores e trabalhadores
do SUS. 4 ed. 1ª reimpressão, Série B, Textos Básicos de Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização Brasília, 2008. Disponível em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizasus_gestores_trabalhadores_sus_4ed.p
df > Acesso em: 22 agosto 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. PORTARIA Nº 2.803, DE 19 DE


NOVEMBRO DE 2013. Redefine e amplia o Processo Transexualizador no âmbito do Sistema
Único de saúde – SUS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento


de Apoio à Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Brasília : 1. ed., 1. reimp.
Ministério da Saúde, 2013.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da
Saúde. Brasília: Ministério da Saúde (MS); 2003.

CATALAN R.J; COSTA. A.B. Diretrizes para práticas psicológicas com pessoas trans e em não
conformidade de gênero. American Psychological Association. (2015)

Erving Goffaman. Estigma – notas sobre a manipulação da identidade deteriorada.Tradução: Mathias Lambert, 2004

JESUS, Jaqueline G. Orientações sobre a população Transgênero : conceitos e termos / Jaqueline Gomes
de Jesus. Brasília: Autor, 2012.

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