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REGISTRO CIVIL

DAS PESSOAS
NATURAIS
Registro Civil de Pessoas Naturais - Parte I

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
Registro Civil das Pessoas Naturais – Parte I

Sumário
Carlos Elias

Registro Civil de Pessoas Naturais – Parte I. . ............................................................................ 4


1. Aula de Hoje. . ................................................................................................................................. 4
2. Resumo.......................................................................................................................................... 4
3. Noções Gerais: Organização, Finalidade e Funcionamento.. .............................................. 5
3.1. Atribuições do RCPN................................................................................................................. 5
3.2. Prestação Remunerada de Serviços Públicos Relacionados à Cidadania. . .................. 7
3.3. Um Exemplo de Convênio do RCPN enquanto Ofício da Cidadania: Serviços de
Inscrição, Alteração e Cancelamento de CPF. . ........................................................................... 9
3.4. Apostilamento.. ....................................................................................................................... 10
3.5. Legislação.................................................................................................................................13
3.6. Importância do RCPN. . ........................................................................................................... 14
3.7. Escrituração, Ordem de Serviço e Conservação.. ..............................................................16
3.8. Livros do RCPN. . ....................................................................................................................... 17
3.9. Funcionamento de RCPN e Pandemia: o Caso da Pandemia da Covid-19. . ..................19
4. Princípios do RCPN.....................................................................................................................19
4.1. Princípio da Veracidade ou da Fé Pública...........................................................................19
4.2. Princípio da Segurança Jurídica...........................................................................................19
4.3. Princípio da Autenticidade....................................................................................................19
4.4. Princípio da Publicidade....................................................................................................... 20
4.5. Princípio da Legalidade. . ....................................................................................................... 22
4.6. Princípio da Independência. . ................................................................................................ 22
4.7. Princípio da Imparcialidade. . ................................................................................................ 23
4.8. Princípio da Instância ou Rogação..................................................................................... 23
4.9. Princípio da Territorialidade................................................................................................ 23
4.10. Princípio da Conservação................................................................................................... 24
4.11. Princípio da Continuidade.. .................................................................................................. 24
4.12. Princípio da Verdade Registral.. ......................................................................................... 25

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5. Retificações.. ............................................................................................................................... 25
5.1. Fundamento.. ............................................................................................................................ 25
5.2. Retificação vs Alteração....................................................................................................... 25
5.3. Momento da Retificação....................................................................................................... 26
5.4. Procedimentos de Retificação.. ........................................................................................... 26
5.5. Questões Especiais................................................................................................................ 28
6. Restauração. . .............................................................................................................................. 30
7. Suprimentos................................................................................................................................ 30
7.1. Definição e Procedimento. . .................................................................................................... 30
7.2. Questão Especial.. ................................................................................................................... 30

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REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS – PARTE I


1. Aula de Hoje
Olá, meu(minha) amigo(a)!
Vamos tratar de Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN). Trata-se de matéria importante.
Já peço desde logo: leia também os PDFs de Direito Civil, especialmente os relativos à
Parte Geral do Código Civil e ao de Família, pois grande parte do que trataremos aqui presume
o conhecimento de lá. O RCPN, em suma, se destina a registrar estado civil, o que abrange dis-
cussões sobre capacidade, nome, casamento, divórcio etc. Aqui nós cuidaremos dos aspectos
registrais da questão, razão por que é fundamental você já ter lido os PDFs de Direito Civil.
Procuramos ser o mais objetivo possível, sem, porém, ser superficiais.
Vamos lá!

2. Resumo
Amigo(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios.
É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte-
údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De
nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
a) Atribuições típicas do RCPN: atos relativos a nascimento, casamento, óbito, interdição,
emancipação e outros relacionados aos atributos da personalidade da pessoa natural.
b) Atribuições atípicas do RCPN:
b.1) prestação de serviços públicos relacionados ao exercício da cidadania, como os re-
lacionados à emissão de documentos de identidade, de passaportes ou de outros, tudo após
convênio firmado pela entidade de classe com o respectivo órgão público (art. 29, §§ 3º e 4º,
da LRP, Provimento n. 66/2018-CN/CNJ e ADI 5855).
b.2) apostilamentos de documentos públicos na forma da Resolução n. 228/2016-CNJ, do
Provimento n. 62/2017 – CN-CNJ e do Provimento n. 106/2020-CN/CNJ.
b.3) a autenticação de livros empresariais na forma do Decreto-Lei n. 486/1969, atribuição
essa que é admitida em alguns Estados, como em São Paulo, por delegação da Junta Comercial.
c) De forma primária, a disciplina do RCPN está essencialmente nos arts. 29 ao 113 da
LRP e nos arts. 9º e 10 do CC. De forma secundária, os demais dispositivos do CC, as leis ex-
travagantes que lidam com fatos jurídicos relativos aos atributos da personalidade da pessoa
natural e os atos infralegais produzidos pelo CNJ também regulam o RCPN.
d) O RCPN exerce papel importante para o exercício da cidadania e dos direitos humanos.

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e) A DNV não afasta a obrigatoriedade do registro civil, mas apenas atenua os efeitos ne-
gativos do sub-registro, viabilizando o exercício de direitos pelos indivíduos e permitindo uma
contabilização mais fiel do número de nascimentos no Brasil.
f) Há 5 livros no RCPN (art. 33, LRP): Livro “A” (Livro de Registro de Nascimento); Livro “B”
(Livro de Casamento); Livro “C” (Livro de Óbitos); Livro “C-auxiliar” (Livro de Natimortos); Livro
“D” (Livro de Proclamas); e Livro “E”.
g) Princípios do RCPN:
g.1) Princípio da veracidade ou da fé pública
g.2) Princípio da segurança jurídica
g.3) Princípio da autenticidade
g.4) Princípio da publicidade
g.5) Princípio da legalidade
g.6) Princípio da independência
g.7) Princípio da imparcialidade
g.8) Princípio da instância ou rogação
g.9) Princípio da territorialidade
g.10) Princípio da conservação
g.11) Princípio da continuidade
g.12) Princípio da verdade registral
h) Há dois procedimentos de retificação: o extrajudicial (art. 110, LRP) ou judicial (art.
109, LRP).
i) Restauração é para reconstituir um livro, um documento ou parte deles que foram perdi-
dos por qualquer motivo (incêndio, furto etc.). O Provimento n. 23/2012-CN/CNJ autoriza a res-
tauração de livros pelo juiz corregedor por requerimento do oficial ou de outros interessados.
j) O suprimento destina-se a completar um registro ou uma averbação incompleta. Asse-
melha-se à retificação no sentido de que implica um ajuste no texto do ato de registro. Para
suprimentos, é cabível o procedimento judicial de retificação supracitado previsto no art.
109 da LRP.

3. Noções Gerais: Organização, Finalidade e Funcionamento


3.1. Atribuições do RCPN
As atribuições do Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN) pode ser dividida em típicas
e atípicas.

3.1.1. Atribuições Típicas

As atribuições típicas são as que dizem respeito aos atos de registro, de averbação e de
anotação relacionados a fatos jurídicos que digam respeito, direta ou indiretamente, aos

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atributos da personalidade da pessoa natural. De modo mais específico, incluem-se aí os atos


relativos a nascimento, casamento, óbito, interdição, emancipação e outros. Dizem-se típicas
essas atribuições, porque são a essência histórica do RCPN.
O RCPN é essencial também para a identificação e individualização da pessoa natural, pois
é responsável por registrar os principais atributos da personalidade. Entendem-se por atributos
da personalidade as características que individualizam a pessoa. Como exemplo, citam-se a
personalidade, a capacidade, o nome, o domicílio e o estado civil.
Em relação ao estado civil, este é o modo de ser da pessoa perante o Direito. Pode ser
individual (idade, sexo, capacidade), familiar (parentesco, situação matrimonial) e político (ci-
dadania, nacionalidade e naturalidade). Há controvérsias quanto ao enquadramento da união
estável como um estado civil familiar, mas prevalece atualmente a sua inserção, especialmen-
te por hoje ser admitido o registro, ainda que facultativo, da escritura pública declaratória de
união estável no RCPN.

3.1.2. Atribuições Atípicas

Há atribuições atípicas, assim entendidas aquelas que são outorgadas ao RCPN sem rela-
ção direta ou indireta com atos de registros relativos aos atributos da personalidade da pes-
soa natural.
Temos por oportuno que o legislador se valha da estrutura capilarizada dos RCPNs para,
ao máximo, facilitar a prestação de serviços públicos relevantes à população, tudo em sintonia
com um princípio constitucional da Administração Pública: o da eficiência.
Como atribuições atípicas, catalogam-se estas:
a) prestação de serviços públicos relacionados ao exercício da cidadania, como os rela-
cionados à emissão de documentos de identidade, de passaportes ou de outros, tudo após
convênio firmado pela entidade de classe com o respectivo órgão público (art. 29, §§ 3º e 4º,
da LRP, Provimento n. 66/2018-CN/CNJ e ADI 5855).
b) apostilamentos de documentos públicos na forma da Resolução n. 228/2016-CNJ1, do
Provimento n. 62/2017 – CN-CNJ23 e do Provimento n. 106/2020-CN/CNJ4.
c) a autenticação de livros empresariais na forma do Decreto-Lei n. 486/1969, atribuição
essa que é admitida em alguns Estados, como em São Paulo, por delegação da Junta Comercial.

1
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2299#:~:text=Regulamenta%20a%20aplica%C3%A7%-
C3%A3º%2C%20no%20%C3%A2mbito,1961%20(Conven%C3%A7%C3%A3º%20da%20Apostila).
2
CN-CNJ é abreviação de Corregedoria Nacional de Justiça da Corregedoria Nacional de Justiça.
3
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=2524.
4
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3356.

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3.2. Prestação Remunerada de Serviços Públicos Relacionados à


Cidadania
Os RCPNs foram expressamente considerados “ofícios da cidadania” pelo §§ 3º e 4º do
art. 29 da LRP, fruto de acréscimo feito pela Lei n. 13.484/2017. Esse epíteto tem a força nor-
mativa de indicar ao Poder Público a conveniência de estimular a realização de convênios
com os RCPNs para ampliar a disponibilização à população de serviços públicos relevantes ao
exercício da cidadania.
Entre esses serviços públicos, podem-se citar os de emissão de documentos de identidade
(seja os gerais – como as Cédulas de Identidade reguladas pela Lei n. 7.116/1983 ou as cartei-
ras de CPF –, seja as profissionais, seja os passaportes).
Não é qualquer serviço público que, por convênio, pode ser prestado pelo RCPN por meio
do convênio, mas apenas aqueles que relacionados à emissão de documentos de identificação
por terem conexão com o exercício da cidadania da pessoa natural e com o escopo temático
do RCPN. É o que estabelece o art. 2º do Provimento n. 66/2018-CN/CNJ.
Para tanto, basta a entidade de classe local dos RCPNs (que atualmente é a Arpen local)
firmar convênio com o ente público pertinente, tudo com a posterior homologação do Poder
Judiciário por meio das corregedorias-gerais locais ou, no caso de convênio envolvendo ser-
viços públicos em âmbito nacional, da CN/CNJ5. Di-lo o art. 3º do Provimento n. 66/2018-CN/
CNJ, o qual é plenamente constitucional pelo fato de o excerto do § 4º do art. 29 da LRP
que dispensava a homologação do Judiciário ter sido declarado inconstitucional pelo STF em
sede de controle abstrato (STF, ADI 5855, Tribunal Pleno, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJ
25/09/2019). Veja o referido julgado do STF:

CONSTITUCIONAL. PROCESSO LEGISLATIVO. ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS AUXILIA-


RES DO PODER JUDICIÁRIO. MP 776. CONVERSÃO NA LEI 13.484/2017. ART. 29, §§ 3º E
4º, DA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS. PROVIMENTO 66/2018 DA CORREGEDORIA NACIO-
NAL DE JUSTIÇA. AUTORIZAÇÃO PARA CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIOS POR ENTIDADES
DE CLASSE DOS OFICIAIS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS. CONTROLE
PRÉVIO PELAS CORREGEDORIAS DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA. INCONSTITUCIONALI-
DADE PARCIAL.
1. O acréscimo dos parágrafos 3º e 4º ao art. 29 da Lei de Registros Públicos, por emenda
à MP 776, não se qualifica como contrabando legislativo, na medida em que há correla-
ção temática com o objeto da proposição original.
2. É válida a atribuição aos Ofícios de Registro Civil das Pessoas Naturais de prestação
de outros serviços remunerados, conexos aos seus serviços típicos, mediante convênio
devidamente homologado pelo Poder Judiciário local, em credenciamento ou em matrí-
cula com órgãos públicos e entidades interessadas, podendo o referido convênio ser
5
Corregedoria Nacional de Justiça do Conselho Nacional de Justiça.

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firmado pela entidade de classe dos Registradores Civis das Pessoas Naturais de mesma
abrangência territorial do órgão da entidade interessada.
3. O exercício de serviços remunerados pelos Ofícios de Registro Civil das Pessoas Natu-
rais, mediante celebração de convênios, depende de prévia homologação pelo Poder
Judiciário, conforme o art. 96, II, alínea “b”, e art. 236, § 1º, da CF.
4. Medida cautelar parcialmente confirmada e Ação Direta julgada parcialmente proce-
dente para conferir interpretação conforme ao § 3º do art. 29, declarar nulidade parcial
com redução de texto da expressão “independe de homologação”, constante do § 4º
do referido art. 29 da Lei 6.015/1973, na redação dada pela Lei 13.484/2017, e decla-
rar a constitucionalidade do Provimento 66/2018 da Corregedoria Nacional do Conselho
Nacional de Justiça.
(STF, ADI 5855, Tribunal Pleno, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJ 25/09/2019)

A homologação do convênio pelo Poder Judiciário dependerá de ser reconhecida a viabi-


lidade jurídica, técnica e financeira da assunção da atividade pelo RCPN, conforme se pode
inferir do inciso I do art. 4º do Provimento n. 66/2018-CN/CNJ.
O convênio com os entes públicos pode ser dar por um acordo escrito (o convênio propria-
mente dito), mas também pode se materializar por meio de cadastramento ou de matrícula
dos RCPNs nas pertinentes repartições públicas.
Veja os dispositivos abaixo:

LRP
Art. 29. (...)
(...)
§ 3º Os ofícios do registro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e estão
autorizados a prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em credencia-
mento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas.
§ 4º O convênio referido no § 3º deste artigo independe de homologação e será firmado pela entida-
de de classe dos registradores civis de pessoas naturais de mesma abrangência territorial do órgão
ou da entidade interessada.
Provimento n. 66/2018-CN/CNJ
Art. 1º Dispor sobre a prestação de serviços de registro civil das pessoas naturais do Brasil median-
te convênio, credenciamento e matrícula com órgãos e entidades governamentais e privadas.
Art. 2º As serventias de registro civil das pessoas naturais do Brasil poderão, mediante convênio,
credenciamento ou matrícula com órgãos públicos, prestar serviços públicos relacionados à identi-
ficação dos cidadãos, visando auxiliar a emissão de documentos pelos órgãos responsáveis.
Parágrafo único. Os serviços públicos referentes à identificação dos cidadãos são aqueles inerentes
à atividade registral que tenham por objetivo a identificação do conjunto de atributos de uma pes-
soa, tais como biometria, fotografia, cadastro de pessoa física e passaporte.
Art. 3º O convênio, credenciamento e matrícula com órgãos públicos para prestação de serviços de
registro civil das pessoas naturais em âmbito nacional dependerão da homologação da Corregedo-
ria Nacional de Justiça.

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Parágrafo único. A ANOREG-BR ou a ARPEN-BRASIL formularão pedido de homologação à Correge-
doria Nacional de Justiça via PJe.
Art. 4º O convênio, credenciamento e matrícula com órgãos públicos para prestação de serviços de
registro civil das pessoas naturais em âmbito local dependerão da homologação das corregedorias
de justiça dos Estados ou do Distrito Federal, às quais competirá:
I – realizar estudo prévio acerca da viabilidade jurídica, técnica e financeira do serviço;
II – enviar à Corregedoria Nacional de Justiça cópia do termo celebrado em caso de homologação,
para disseminação de boas práticas entre os demais entes da Federação.
Art. 5º As corregedorias de justiça dos Estados e do Distrito Federal manterão em seu site listagem
pública dos serviços prestados pelos registros civis das pessoas naturais mediante convênio, cre-
denciamento ou matrícula.
Art. 6º Este provimento entrará em vigor na data de sua publicação, permanecendo válidos os pro-
vimentos editados pelas corregedorias de justiça no que forem compatíveis.

3.3. Um Exemplo de Convênio do RCPN enquanto Ofício da Cidadania:


Serviços de Inscrição, Alteração e Cancelamento de CPF
Um exemplo de convênio firmado com órgãos públicos pelos RCPN na condição de Ofício
da Cidadania diz respeito ao CPF (Cadastro de Pessoas Físicas).
Por força da Instrução Normativa n. 1.890, de 14 de maio de 2019, da Receita Federal do
Brasil (RFB) e de convênio firmado entre a União (por meio da Secretaria da Receita Federal)
e a entidade de classe dos RCPNs (a Arpen-BR), a inscrição, a alteração e o cancelamento de
dados do CPF podem ser feitas pelos RCPNs. Assim, o cidadão passa a ter a opção de buscar
esse serviço nos canais de atendimento da Receita Federal (como nas unidades de atendimen-
to ou no site) ou nos RCPNs. Desse modo, ao, por exemplo, casar e mudar o nome com o acrés-
cimo do sobrenome do cônjuge, o cidadão não precisará ir a alguma unidade de atendimento
da Receita Federal com a certidão de casamento a fim de pedir a alteração do seu CPF, pois ele
poderá pedir esse serviço de atualização diretamente no RCPN que registrou o casamento. O
serviço deverá ser gratuito quando decorrer do registro de nascimento (ex.: inscrição no CPF),
do casamento (ex.: mudança de nome com o acréscimo do sobrenome do cônjuge) e do óbito
(ex.: cancelamento do CPF). Outros serviços relativos ao CPF podem gerar uma cobrança de
uma taxa de conveniência do usuário, o que não pode exceder R$ 7,006.

3.4. Apostilamento
3.4.1. Noções Gerais

Documentos públicos, para serem reconhecidos no exterior, precisam ser legalizados ou


apostilados. Documentos públicos são aqueles dotados de fé pública por força de lei. Abran-
6
Disponível em: https://www.anoreg.org.br/site/2019/05/16/arpen-br-e-receita-federal-firmam-primeiro-convenio-dos-ofi-
cios-da-cidadania/.

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gem não apenas aqueles exarados por agentes públicos, como certidões expedidas por re-
partições públicas. Alcança também aqueles documentos que, apesar de serem emitidos por
particulares, possuem fé pública por força de lei, a exemplo de diplomas de faculdades e histó-
ricos escolares emitidos por instituições privadas de ensino diante da natureza pública dessa
atividade conferida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/1996).
Nesse sentido, o parágrafo único do art. 1º do Provimento n. 62/2017 – CN-CNJ equipara a
documentos públicos “os históricos escolares, declarações de conclusão de série e diplomas
ou certificados de conclusão de cursos registrados no Brasil”.
O apostilamento é uma forma de substituir a consularização de documento público e só é
aceito nos países que aderiram à Convenção da Apostila (internalizada pelo Brasil por meio do
Decreto n. 8.660/2016)7. Como o Conselho Nacional de Justiça foi designado pelo Brasil como
a autoridade competente para cuidar do apostilamento em razão do art. 6º da Convenção da
Apostila8, esse órgão edita atos infralegais sobre o tema e capilariza a prestação desse serviço
pelo País por meio dos cartórios extrajudiciais. Os principais atos infralegais são estes: Reso-
lução n. 228/2016-CNJ9, Provimento nº 62/2017 – CN-CNJ10.
Quando, por exemplo, algum brasileiro vai fazer mestrado em uma universidade estrangei-
ra, ele precisa apresentar documentos pessoais, como a certidão de nascimento e o diploma
da graduação da pertinente universidade brasileira. Esses documentos públicos (públicos, por-
que emitidos por agentes públicos) precisam de uma consularização (ou legalização) ou de
um apostilamento.
A consularização, legalização ou chancela consultar é ato por meio do qual o Ministério
das Relações Exteriores (MRE)11 ou o consulado brasileiro atesta, no próprio documento, que
realmente o documento foi emitido por um agente público, atestando-lhe não apenas a assina-
tura mas também seu cargo e sua competência para a prática do ato. O parágrafo único do art.
1º da Resolução n. 228/2016 define a consularização como “a formalidade pela qual se atesta
a autenticidade da assinatura, da função ou do cargo exercido pelo signatário do documento e,
quando cabível, a autenticidade do selo ou do carimbo nele aposto”.
7
O CNJ disponibiliza um Manual da Apostila (2016): CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Manual da Apostila: um manual
para a operação prática da Apostila / Hague Conference on Private International Law; Coordenação: Fabrício Bittencourt da
Cruz e Fabyano Alberto Stalschmidt da Cruz; Tradução: Marcelo Conforto de Alencar Moreira, Marina Brazil Bonani, Rogério
Gonçalves de Oliveira, Thaísa Carla Melo -- Brasília: CNJ, 2016. Há também um “tira dúvidas” bem didático no site do CNJ
(https://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/relacoes-
internacionais/apostila-da-haia/perguntas-frequentes-5/).
8
Ato de designação está neste link: https://www.hcch.net/pt/states/authorities/details3/?aid=1043.
9
Com as alterações feitas pelas Resoluções nºs 247/2018, 302/2019 e 392/2021.
10
Com as alterações feitas pelo Provimento nº 119/2021-CN/CNJ
11
A atribuição era feita pela Coordenação-Geral de Legalizações e da Rede Consular
Estrangeira (CGLEG) do MRE em Brasília ou por meio dos Escritórios de Representação do MRE nas cidades em que houver
(como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Florianópolis etc.).

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O apostilamento tem a mesma finalidade, mas dispensa a participação do MRE ou de um


consulado brasileiro e envolve a aposição de uma apostila (espécie de selo de autenticidade)
no documento.

3.4.2. Autoridades Apostilantes no Brasil

No Brasil, o apostilamento é da competência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Este,


porém, pode delegar a atribuição para dois atores: (1) pessoas jurídicas de direito público ou
órgãos públicos mediante norma específica do CNJ; e (2) os cartórios extrajudiciais ( (art. 6º
da Resolução n. 228/2016-CN, com a redação dada pela Resolução n. 392/2021).
No caso de pessoas jurídicas de direito público ou órgãos públicos, qualquer um pode
receber a delegação do CNJ. Basta que este edite um ato normativo. Por exemplo, uma univer-
sidade federal poderia receber a delegação do CNJ para apostilar os diplomas. O Ministério
Público também poderia receber essa delegação para apostilar atos produzidos internamente
(como um parecer ou um termo de ajustamento de conduta).
Nem todos os cartórios realizam apostilamento, mas só aqueles que forem credenciados
para tanto mediante autorização específica do CN-CNJ – Corregedoria Nacional de Justiça do
Conselho Nacional de Justiça (art. 6º, § 1º, da Resolução n. 226/2016-CNJ). A lista de todas
as autoridades competentes para apostilamento está no site do CNJ por força do § 2º do art.
6º da Resolução n. 226/2016-CNJ.

3.4.3. Casos Especiais

3.4.3.1. Apostilamento em Documento Privado

Questão interessante é acerca da viabilidade ou não de apostilamento de documentos pri-


vados. Como regra, isso é vedado, pois só se apostila documento público, pois o objetivo é
atestar a terceiros que realmente se trata de um documento com fé pública.
Todavia, se houver reconhecimento de firma no documento privado ou se se tratar de uma
cópia autenticada, surge uma discussão: é ou não viável apostilar esse documento com o obje-
tivo de atestar, apenas, que o reconhecimento de firma ou a autenticação da cópia procederam
de um tabelião de notas?
A resposta é positiva, desde que o documento privado esteja em português ou, na hipóte-
se de estar redigido em idioma estrangeiro, desde que ele esteja acompanhado de tradução
juramentada. O CNJ assim entendeu, pois é fundamental deixar claro a terceiros que o apos-
tilamento não é propriamente do documento privado em si, e sim do reconhecimento de firma
ou do ato de autenticação de cópia com o objetivo de atestar que esses atos realmente proce-
deram de um tabelião brasileiro. O CNJ ainda determina que essa informação deve ser consig-
nada na apostila a fim de evitar induzir terceiros a erro, fazendo-os crer que o documento seria
público (CNJ, Pedido de Providência n. 000639-45.2018.2.00.0000).
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3.4.3.2. Apostilamento em Documento Público Eletrônico

O apostilamento pode ocorrer em documentos públicos eletrônicos na forma do art. 14 do


Provimento n. 62/2017-CN/CNJ (na redação dada pelo Provimento n. 119/2021):

Art. 14. O documento eletrônico apresentado à autoridade apostilante ou por ela expedido poderá
ser apostilado independentemente de impressão em papel, desde que esteja emitido em formato
compatível para upload no sistema do CNJ e assinado eletronicamente.
§ 1º A apostila eletrônica será salva em arquivo único, na sequência do documento, assinada pela
autoridade apostilante, entregue em mídia ou enviado no endereço eletrônico fornecido pelo solici-
tante.
§ 2º Para os fins estabelecidos no caput deste artigo, considera-se assinado eletronicamente:
I – o arquivo eletrônico assinado na forma do art. 10, § 1º, da Medida Provisória n. 2.200-2, de 24 de
agosto de 2001, ou legislação superveniente; ou
II – o documento que contém declaração de ter sido assinado na forma do art. 10, § 1º, da Medida
Provisória n. 2.200-2, de 24 de agosto de 2001; do art. 1º, § 2º, III, da Lei n. 11.419, de 19 de de-
zembro de 2006; ou do art. 4º da Lei n. 14.063, de 23 de setembro de 2020, cujo conteúdo pode ser
conferido na rede mundial de computadores, em site governamental.
§ 3º Nas hipóteses do § 2º, II, deste artigo, em caso de dúvida sobre a veracidade do documento
ou do sítio eletrônico de verificação, a autoridade apostilante contatará o órgão responsável pela
emissão do documento, e, permanecendo a dúvida, o apostilamento será negado.

3.4.3.3. Análise do Conteúdo do Documento a ser Apostilado

Em princípio, não compete à autoridade apostilante analisar o conteúdo do documento


público, salvo caso de manifesta ilicitude, a qual impede a prática do ato, tudo à luz do art. 4º
da Resolução n. 228/201612.

3.4.3.4. Procedimento no Caso de Dúvidas quanto à Autenticidade do Documento

No caso de suspeita de falsidade do documento público, o oficial deve instaurar um “proce-


dimento específico prévio” para investigação (art. 3º, § 2º, da Resolução n. 228/2016-CN/CNJ
e art. 10 do Provimento n. 62/2017-CN/CNJ). O CNJ não detalha como se dará esse procedi-
mento. Entendemos que vigora aí uma informalidade propositalmente estabelecida pelo CNJ.
Nesse procedimento, basta o oficial entregar ao apresentante um documento de instauração
do ato por conta da suspeita de autenticidade e, ao final das investigações, entregar um ato
fundamentando os motivos da recusa em apostilar o documento. As investigações ocorre-
rão como o oficial entender mais adequado, como estabelecer contato com a instituição tida
como emissora do documento suspeito. Não há um prazo específico para a duração desse
procedimento específico, mas pensamos que o oficial deve consumir apenas o tempo estrita-
mente necessário às suas investigações.

12
Art. 4º Não será aposta apostila em documento que evidentemente consubstancie ato jurídico contrário à legislação brasileira.

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Pensamos que essa ampla informalidade deferida pelo CNJ para esse “procedimento es-
pecífico prévio” não gera prejuízo algum para o interessado, pois este pode impugnar tanto o
ato de instauração quanto o posterior ato fundamentado de recusa. O § 2º do art. 10 do Provi-
mento n. 62/2017-CN/CNJ disciplina esse procedimento de impugnação, estabelecendo que
esta deve ser endereçada ao próprio oficial e deve ser apresentada no prazo de 5 dias do ato
impugnado. O oficial, se não reconsiderar a decisão, deverá encaminhar a impugnação para a
respectiva corregedoria-geral de justiça, a qual decidirá em até 30 dias. Trata-se de um procedi-
mento administrativo específico (que se assemelha a uma espécie de “procedimento especial
de dúvida”).

3.5. Legislação
De forma primária, a disciplina do RCPN está essencialmente nos arts. 29 ao 113 da LRP e
nos arts. 9º e 10 do CC.
De forma secundária, os demais dispositivos do CC, as leis extravagantes que lidam com
fatos jurídicos relativos aos atributos da personalidade da pessoa natural e os atos infralegais
produzidos pelo CNJ também regulam o RCPN.
Chamamos a atenção para estes atos normativos do CNJ:
a) Provimento n. 13/2010-CN/CNJ (com alteração do Provimento n. 17/2012), que versa
sobre a emissão de certidão de nascimento em hospitais.
b) Provimento n. 16/2012-CN/CNJ, que trata de procedimentos relacionados ao reconhe-
cimento de paternidade;
c) Provimento n. 19/2012-CN/CNJ, que confere aos comprovadamente pobres gratuidade
de emolumentos para a averbação de paternidade;
d) Provimento n. 23/2012-CN/CNJ, que disciplina o procedimento extrajudicial de
restauração;
e) Resolução n. 155/2012-CNJ, que lida com traslado de certidões estrangeiras de assento
de nascimento, casamento ou óbito de brasileiros.
f) Provimento n. 28/2013-CN/CNJ, que disciplina o registro tardio de nascimento;
g) Provimento n. 37/2014-CN/CNJ, que autoriza o registro da escritura pública de união
estável no RCPN;
h) Provimento n. 46/2015-CN/CNJ, que cuida da Central de Informações de Registro Civil
das Pessoas Naturais (CRC).
i) Provimento n. 53/2016-CN/CNJ, que cuida de homologação de sentença estrangeira
de divórcio;
j) Provimento n. 63/2017-CN/CNJ, que, além de indicar os modelos únicos de certidões, cui-
da de reconhecimento de paternidade e maternidade socioafetivas e de reprodução assistida;
l) Provimento n. 66/2018-CN/CNJ, que trata de convênios do RCPN com instituições públi-
cas e privadas para a prestação de serviços úteis à cidadania;

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m) Provimento n. 73/2018-CN/CNJ, que trata da alteração de nome e de gênero no caso


de transgênero;
n) Provimento n. 82/2019-CN/CNJ, que trata de atualização de nome do genitor nos assen-
tos dos filhos;
o) Resolução Conjunta n. 3/2012-CNJ/CNMP, que detalha o procedimento de registro de
nascimento de indígenas;
p) Resolução n. 228/2016-CNJ, do Provimento n. 62/2017 – CN-CNJ, o qual trata de apos-
tilamento de documentos públicos.

3.6. Importância do RCPN


3.6.1. Papel no Exercício da Cidadania e de Direitos Humanos

Os registros públicos cuidam de fatos jurídicos. A sua finalidade é dar-lhes suporte (art. 1º
da LNR13). É preciso, portanto, conhecer as várias espécies de fatos jurídicos lato sensu (fato
jurídico stricto sensu, atos jurídicos lato sensu e ato-fato). São eles que são noticiados nos
registros públicos.
O registro civil é essencial para o exercício da cidadania e de direitos humanos. Há normas
internacionais reforçando isso, como o art. 24, § 2º, do Pacto Internacional dos Direito Civis e
Políticos de 1966 (“Toda criança deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e
deverá receber um nome”) e o art. 7º da Convenção Internacional para os Direitos da Criança
(“A criança será registrada imediatamente após seu nascimento”).

3.6.2. Exemplos de Gratuidades para Atos Essenciais à Cidadania

Nesse sentido, o art. 5º, LXXVI, da CF assegura gratuidade aos pobres para o registro civil
do nascimento e para a obtenção da certidão de óbito. O art. 30 da LRP amplia a gratuidade,
assegurando a gratuidade a qualquer pessoa para o registro civil do nascimento e do óbito e
para a obtenção da primeira certidão respectiva. Para os demais atos do RCPN, os pobres pos-
suem direito à gratuidade mediante declaração de pobreza (art. 30, §§ 1º ao 3º, LRP). A LRP é
rigorosa contra o oficial que não observar essa gratuidade, impondo-lhe, no caso de reincidên-
cia, a perda da delegação (art. 30, §§ 3º-B, LRP).
Também é garantida gratuidade para os atos de reconhecimento de paternidade a quem
for declaradamente pobre, conforme interpretação extensiva dada pelo Provimento n. 19 da
Corregedoria Nacional de Justiça (do CNJ) dos arts. 5º, LXXVI, da CF e art. 45, §§ 1º e 2º,
da Lei n. 8.935/1994. Em suma, o CNJ entendeu que o reconhecimento de paternidade se
insere no contexto da gratuidade dada aos comprovadamente pobres para o registro civil de
nascimento.
13
Lei de Notários e Registradores (Lei n. 8.935/1994).

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3.6.3. Papel na Formulação de Políticas Públicas, as Comunicações Obriga-


tórias, o Sirc e CRC

O RCPN exerce papel importante nas políticas públicas por viabilizar dados estatísticos re-
levantes. Além de serem obrigados a atenderem a pedidos específicos de certidões, os oficiais
são obrigados a fornecer, periódica e gratuitamente, várias informações ao Poder Público.
Citam-se os seguintes casos a título ilustrativo com a lembrança de haver normas estadu-
ais e infralegais alargando esse rol de comunicações obrigatórias14:
a) Art. 49, LRP: envio trimestral ao IBGE de um mapa com os nascimentos, casamentos e
óbitos ocorridos a fim de permitir levantamento de dados estatísticos. O IBGE fornece o mapa
a ser preenchido pelos RCPNs.
b) Art. 68, Lei n. 8.212/91: envio mensal ao INSS dos óbitos registrados, a fim de permitir
cancelamento de benefícios previdenciários.
c) Art. 71, § 3º, do Código Eleitoral: envio mensal ao juiz da zona eleitoral do RCPN dos óbi-
tos de cidadãos alistáveis, a fim de permitir cancelamento de inscrições de eleitores mortos.
d) Art. 46 da Lei n. 6.815/1980: envio mensal ao Ministério da Justiça de cópia dos casa-
mentos e dos óbitos de estrangeiros.
e) Art. 66, “d” e parágrafo único, da Lei n. 4.375/1964: envio ao Ministério da Defesa de
óbitos de cidadãos do sexo masculino entre 17 e 45 anos.
f) Art. 4º, § 3º, da Resolução Conjunta n. 3, de 18 de abril de 2012, do CNJ e do CNM e nor-
mas de Serviços de Corregedorias: envio de comunicação de registro de indígenas à FUNAI.
g) Art. 1º do Provimento n. 104/2020-CN/CNJ: os RCPNs têm de, em até 48 horas do rece-
bimento da solicitação, encaminhar gratuitamente os dados registrais de pessoas em vulne-
rabilidade socioeconômica para os Institutos de Identificação local para os fins exclusivos de
emissão de carteira de identidade. Esse envio pode ocorrer diretamente ou por meio da CRC.
O objetivo desse envio é facilitar a obtenção de carteira de identidade por pessoas vulneráveis
socioeconomicamente, como moradores de rua, imigrantes sem identidade nacional, pesso-
as beneficiárias de programas sociais do governo e outras indicadas no art. 2º do referido
provimento.
Há outras normas infralegais prevendo comunicações obrigatórias. A criação de um siste-
ma nacional e único de dados acabaria com essa profusão de comunicações. Esse é o objetivo
do Sistema Nacional de Informações de Registro Civil (Sirc), que tem de ser alimentado pelos
oficiais de RCPN diariamente (se viável) e que tem fundamento no Decreto n. 8.270/2014 e
nos arts. 37 e 39 da Lei n. 11.977/2009 (que impõe a criação de sistema de registro eletrônico
pelas serventias de registros públicos). O Sirc é comandado pelo Poder Executivo.

14
A título ilustrativo, há dever de comunicação de óbito para os órgãos fazendários de São Paulo e de Minas Gerais para evitar
fraudes no recolhimento do ITCD (Lei SP n. 10.705/2000 e Lei MG n. 14.941/2003). Em Brasília, o art. 254 do Provimento
Geral da CGJ do Distrito Federal (PGCGJ-DF) determina a comunicação ao Ministério da Justiça e às repartições consulares
de casamento e óbito de estrangeiros”.

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Em princípio, os RCPNs teriam de abastecer diretamente o SIRC, mas eles costumam abas-
tecer a CRC Nacional (Central Nacional de Informações do Registro Civil), que é uma central
mantida pela ARPEN-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais). A
CRC Nacional, por sua vez, redireciona as informações para o Sirc. O Provimento n. 46/2015-
CN/CNJ trata da CRC.

3.6.4. O Problema do Sub-registro e a DNV

O sub-registro é ainda uma realidade. Entende-se por sub-registro a existência de vários


nascimentos que não são registrados no ano do nascimento ou até o primeiro trimestre do
ano subsequente. Sem uma certidão de nascimento, o indivíduo, em princípio, fica inviabilizado
para exercer seus direitos.
Como o registro civil é essencial para o exercício de inúmeros direitos e como infelizmente
há casos de sub-registro no Brasil, o legislador adotou um caminho alternativo para enfrentar
esse problema. Ele conferiu validade legal à Declaração de Nascido Vivo (DNV) para permitir o
exercício de direitos (Lei n. 12.662/2012). A DNV é documento expedido pelos agentes de saú-
de que acompanham e realizam a gestação e o parto. A DNV não afasta a obrigatoriedade do
registro civil, mas apenas atenua os efeitos negativos do sub-registro, viabilizando o exercício
de direitos pelos indivíduos e permitindo uma contabilização mais fiel do número de nascimen-
tos no Brasil.

3.7. Escrituração, Ordem de Serviço e Conservação


A escrituração dos livros (ou seja, o meio em que serão redigidos os atos extrajudiciais)
deve observar as formalidades dos arts. 3º o 7º da LRP e as normas de serviço do respectivo
Tribunal. Em suma, a LRP exige encadernamento dos livros com possibilidade de se valer de
folhas soltas para facilitar o serviço, numeração sequencial dos números de registros e outras
regras de identificação dos livros. Para o RCPN, há regras específicas sobre a escrituração nos
arts. 33 ao 45 da LRP.
A Ordem de Serviço está regrada nos arts. 8º ao 14 da LRP, no art. 4º da LNR e nas normas
de serviço do respectivo tribunal. Em suma, a LRP:

a) cuida de regras de horários de funcionamento (exigindo funcionário diário e interrupto para o


RCPN, à semelhança do art. 4º da LNR);
b) impõe nulidade para atos praticados fora do horário de expediente;
c) exige organização interna que garanta preferência cronológica aos títulos apresentados para
registro;
d) veda recusa ao protocolo de títulos por dúvida ou exigências fiscais;
e) dispensa o protocolo de títulos apresentados apenas para exame e cálculo dos emolumentos;
f) exige provocação do registrador para a prática de atos, salvo exceções legais;

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g) permite que o RCPN exija reconhecimento de firma nas comunicações que lhe for dirigida;
h) reitera o direito à percepção de emolumentos, tema que também é tratado na Lei de Emolumentos
(Lei n. 10.169/2000), nas leis estaduais (que fixam os valores) e nas normas infralegais produzidas
pelos respectivos Tribunais; e
i) reveste o substituto legal da competência de praticar atos de interesse do oficial ou de paren-
te dele.

Os arts. 22 ao 27 da LRP tratam da conservação do acervo dos cartórios. Em suma,


esses preceitos:

a) vedam que, sem ordem judicial, sejam retirados da serventia os livros ou as fichas que o substitu-
am, de modo que toda consulta deverá ser feita na própria serventia;
b) impõe ao oficial a responsabilidade pela ordem e conservação dos livros e documentos, bem
como pela utilização de métodos de organização que facilitem as buscas;
c) faculta a utilização de microfilmagem e outros meios de reprodução autorizadas em lei;
d) fixa que, enquanto não houver instalação de novo cartório criado, os atos continuarão sendo pra-
ticados no antigo;
e) estabelece que, no caso de desmembramento, “o arquivo do antigo cartório continuará a perten-
cer-lhe”, de modo que o novo cartório criará os seus próprios livros e documentos com base em
certidões expedidas pela antiga serventia.

O fato de o título para registro ser uma ordem judicial não impede o interessado de pagar
os emolumentos, salvo lei específica ou dispensa expressa no mandado judicial. O art. 13, §
2º, da LRP confirma isso ao atribuir ao interessado o custeio dos emolumentos devidos para o
registro da emancipação concedida por sentença.

3.8. Livros do RCPN


Há 5 livros no RCPN (art. 33, LRP):
a) Livro “A” (Livro de Registro de Nascimento);
b) Livro “B” (Livro de Casamento);
c) Livro “C” (Livro de Óbitos);
d) Livro “C-auxiliar” (Livro de Natimortos);
e) Livro “D” (Livro de Proclamas);
f) Livro “E” 15.

15
O livro “E” é previsto no parágrafo único do art. 33 da LRP. Esse dispositivo foi “confirmado” pela Lei nº 14.382/2022. Dize-
mos “confirmado”, porque, na verdade, esse dispositivo existe desde o nascimento da LRP, mas, com o advento da Lei nº
6.216/1975, passou a haver uma controvérsia sobre a sua revogação ou não. O fato é que, apesar dessa controvérsia, era
pacífica a existência do Livro “E” no RCPN mesmo antes da Lei nº 14.382/2022. Veja o inteiro teor do art. 33 da LRP:
Art. 33 Haverá, em cada cartório, os seguintes livros, todos com 300 (trezentas) folhas cada um:
I – “A” – de registro de nascimento;
II – “B” – de registro de casamento;

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No Livro “E”, são registrados outros fatos jurídicos, diversos dos abrangidos pelos livros
acima. Aí se incluem, por exemplo, a emancipação, a interdição e a ausência, além da opção
de nacionalidade (art. 29, VII, LRP e art. 2º da Lei n. 818/1949) e do traslado de assentos de
nascimento, casamento e óbito de brasileiros lavrados em cartórios estrangeiros (art. 32, LRP).
Além desses atos expressamente previstos na LRP, há outros atos que são lançados no Li-
vro “E” por força das normas infralegais, como as escrituras públicas de união estável a pedido
do interessado Provimento n. 37/2014-CN/CNJ.
Há ainda casos em que há divergências entre os vários Estados quanto ao livro adequado
para o ingresso da tutela e da morte presumida no RCPN. Em alguns Estados, é eleito o Livro
“E”; em outros, é escolhido o livro “C” para o registro da morte presumida e é determinada a
averbação da tutela no assento de nascimento.
Nem todos os RCPNs possuem um livro “E”, mas apenas o 1º Ofício ou os ofícios da 1ª
subdivisão judiciária. A opção do legislador de concentrar o registro de determinados fatos
jurídicos no 1º Ofício, especificamente no livro “E”, facilita o controle e as buscas relativas a
esses atos.
Os arts. 33 ao 45 da LRP dão regras específicas de escrituração, vedando, por exemplo,
redações com emprego de algarismos, determinando a divisão do livro de registros em três
colunas (uma para o número de ordem, outra para o assento e outra para notas, averbações e
retificações).

3.9. Funcionamento de RCPN e Pandemia: o Caso da Pandemia da


Covid-19
No período da pandemia da novo coronavírus (Covid-19) em 2020, quando a circulação de
pessoas se tornou proibida ou desaconselhável para evitar a proliferação do vírus, o CNJ bus-
cou aliviar os impactos no RCPN.
O CNJ prorrogou prazos legais para a declaração de nascimento previstos no art. 50 da
LRP para até 15 dias após o fim da situação de Emergência em Saúde Pública de Importância
Nacional, tudo nos termos do art. 1º do Provimento n. 93/2020-CN/CNJ e do art. 2º do Provi-
mento n. 91/2020-CN/CNJ.

III – “B Auxiliar” – de registro de casamento Religioso para Efeitos Civis;


IV – “C” – de registro de óbitos;
V – “C Auxiliar” – de registro de natimortos;
VI – “D” – de registro de proclama.
Parágrafo único. No Cartório do 1º Ofício ou da 1ª Subdivisão judiciária, em cada comarca, haverá outro livro para inscrição
dos demais atos relativos ao estado civil, designado sob a letra “E”, com cento e cinquenta (150) folhas, podendo o Juiz
competente, nas comarcas de grande movimento, autorizar o seu desdobramento pela natureza dos atos que nele devam
ser registrados, em livros especiais.

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Ampliou também meios de atendimento remotos, admitindo, por exemplo, envio eletrônico
(por e-mail, por exemplo) de documentos para a prática de atos como o registro de nascimento
ou de óbito, tudo conforme os atos infralegais supracitados.
Em futuras pandemias ou em situações extraordinárias similares que impliquem restrições
de circulação de pessoas (como em guerras), providências similares precisariam ser adotadas.

4. Princípios do RCPN
Além dos princípios gerais da Administração Pública, como imparcialidade, eficiência etc.,
há alguns princípios que são aplicados aos RCPN e que são extraídos do art. 236 da CF, da LRP
e da Lei 8.935/1994 (Lei de Notários e Registradores – LNR).

4.1. Princípio da Veracidade ou da Fé Pública


O ato de registro é dotado de presunção de veracidade diante da fé pública. Essa presun-
ção é relativa; admite, pois, prova em contrário. É cabível declarar inexistente, nulo ou ineficaz
um registro público com algum defeito, a exemplo de um registro de um nascimento que não
aconteceu.

4.2. Princípio da Segurança Jurídica


Os registros públicos buscam garantir estabilidade jurídica para os fatos jurídicos.

4.3. Princípio da Autenticidade


Atos e documentos produzidos pelo oficial presume-se verdadeiros.

4.4. Princípio da Publicidade


4.4.1. Noções Gerais e as Principais Exceções à Publicidade dos Regis-
tros Públicos

Os atos de registro são, em regra, públicos e acessíveis por qualquer pessoa, salvo ex-
ceção legal.
Logo, qualquer pessoa pode pedir certidões ao registro público de modo imotivado. O art.
17, parágrafo único, da LRP admite comunicação com os registros públicos por meio da in-
ternet, desde que haja assinatura eletrônica nos termos do ICP-Brasil. O art. 17 da LRP chega
a estabelecer, como regra, que podem ser imotivados os pedidos de certidões nos registros
públicos e que eles não dependem de prévia ordem judicial. Há, porém, exceções legais de
sigilos, casos em que a expedição de certidão fica condicionada a prévia ordem judicial. Estas
são as principais exceções:

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a) a menção à natureza da filiação, se legítima ou ilegítima (art. 227, § 6º, da CF e os arts.


45 e 95, pu, da LRP).
b) notícia da mudança de nome em razão de programa a proteção a testemunhas (art. 57,
§ 7º, LRP).
c) mandado de adoção, que implica o cancelamento do registro de nascimento antigo e
lavratura de um novo (art. 47, ECA).
d) antigo nome e sexo de transexual que obtiveram novo assento de nascimento: a jurispru-
dência tem concedido sigilo a essa mudança de registro.

4.4.2. Certidão do RCPN e as informações de Acesso Restrito

Os arts. 16 ao 21 da LRP complementam esse princípio ao prever o dever de o oficial expe-


dir certidão dos atos que praticar e prestar informações que lhe forem demandadas.
Se o registro sofrer qualquer alteração, como a decorrente de uma averbação posterior
fruto de uma retificação de registro, de um reconhecimento de paternidade etc., as certidões
que forem extraídas devem constar a advertência: “a presente certidão envolve elementos de
averbação à margem do registro” (art. 21, LRP).
Veja os supracitados dispositivos:

Art. 16. Os oficiais e os encarregados das repartições em que se façam os registros são obrigados:
1º a lavrar certidão do que lhes for requerido;
2º a fornecer às partes as informações solicitadas.
Art. 17. Qualquer pessoa pode requerer certidão do registro sem informar ao oficial ou ao funcioná-
rio o motivo ou interesse do pedido.
Parágrafo único. O acesso ou envio de informações aos registros públicos, quando forem realizados
por meio da rede mundial de computadores (internet) deverão ser assinados com uso de certificado
digital, que atenderá os requisitos da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP.
Art. 18. Ressalvado o disposto nos arts. 45, 57, § 7º, e 95, parágrafo único, a certidão será lavrada
independentemente de despacho judicial, devendo mencionar o livro de registro ou o documento
arquivado no cartório.
Art. 19. A certidão será lavrada em inteiro teor, em resumo, ou em relatório, conforme quesitos, e
devidamente autenticada pelo oficial ou seus substitutos legais, não podendo ser retardada por
mais de 5 (cinco) dias.
§ 1º A certidão, de inteiro teor, poderá ser extraída por meio datilográfico ou reprográfico.
§ 2º As certidões do Registro Civil das Pessoas Naturais mencionarão, sempre, a data em que foi
Iavrado o assento e serão manuscritas ou datilografadas e, no caso de adoção de papéis impressos,
os claros serão preenchidos também em manuscrito ou datilografados.
§ 3º Nas certidões de registro civil, não se mencionará a circunstância de ser legítima, ou não, a
filiação, salvo a requerimento do próprio interessado, ou em virtude de determinação judicial.
§ 4º As certidões de nascimento mencionarão a data em que foi feito o assento, a data, por extenso,
do nascimento e, ainda, expressamente, a naturalidade.

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§ 5º As certidões extraídas dos registros públicos deverão ser fornecidas em papel e mediante es-
crita que permitam a sua reprodução por fotocópia, ou outro processo equivalente.
Art. 20. No caso de recusa ou retardamento na expedição da certidão, o interessado poderá recla-
mar à autoridade competente, que aplicará, se for o caso, a pena disciplinar cabível.
Parágrafo único. Para a verificação do retardamento, o oficial, logo que receber alguma petição,
fornecerá à parte uma nota de entrega devidamente autenticada.
Art. 21. Sempre que houver qualquer alteração posterior ao ato cuja certidão é pedida, deve o Oficial
mencioná-la, obrigatoriamente, não obstante as especificações do pedido, sob pena de responsabi-
lidade civil e penal, ressalvado o disposto nos artigos 45 e 95.
Parágrafo único. A alteração a que se refere este artigo deverá ser anotada na própria certidão,
contendo a inscrição de que “a presente certidão envolve elementos de averbação à margem
do termo.

4.4.3. O Problema da Subsistência do Dever de Consignar a Advertência do


art. 21 da LRP

A advertência do art. 21 da LRP (a de noticiar, nas certidões, a existência de elementos de


averbação à margem do assento de nascimento) deve ou não constar de certidões quando o
único ato de averbação tiver sido o reconhecimento de paternidade?
O tema não é pacífico. Há três principais correntes.
A primeira é a de que, na hipótese acima, nada deveria constar da certidão, pois isso iria
permitir que terceiros, de modo indireto, tomem ciência da origem da filiação, o que violaria o
dever de sigilo previsto nos arts. 5º e 6º da Lei n. 8.560/1992 e art. 227, § 6º, da CF. Se, porém,
o ato de averbação for outro (não relacionado ao reconhecimento de paternidade) ou se hou-
ver outros atos além do reconhecimento de paternidade, aí seria viável a advertência do art.
21 da LRP.
A segunda é a de que a advertência do art. 21 da LRP não deveria ser consignada em hi-
pótese alguma – nem mesmo quando a averbação disser respeito a atos não relacionados ao
reconhecimento de paternidade –, pois ela constrangeria o indivíduo e serviria como um indí-
cio (uma pista) da origem da filiação, em contrariedade aos referidos preceitos. O fundamento
aí é que o art. 21 da LRP teria sido revogado tacitamente pelo art. 6º da Lei n. 8.560/1992 (que
proíbe que constem das certidões de nascimento “indícios de a concepção haver sido decor-
rente de relação extraconjugal”).
A terceira é a de que a advertência do art. 21 da LRP deve ser aplicado em qualquer caso,
pois não há ressalva legal nem há incompatibilidade alguma dessa advertência com nenhuma
norma posterior. Além disso, ocultar a existência de elementos de averbação no assento po-
deria induzir a própria pessoa a erro (visto que esta não tomaria ciência de eventual averbação
feita no seu assento à sua revelia) ou prejudicar terceiros de boa-fé. Além disso, o legislador,
ao prever a advertência com palavras genéricas, já se preocupou em conciliar, de um lado, o
direito à privacidade e, de outro, a publicidade e a veracidade registrais. Não cabe ao aplicador
da lei contrariar essa solução legislativa.

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Preferimos a última corrente, mas o tema é controverso.


De fato, se houver modificações no ato originário, a certidão deve conter a inscrição “a
presente certidão envolve elementos de averbação à margem do termo”. No caso de adoção,
embora seja lavrado um novo assento de nascimento e seja vedado dar notícias a terceiros da
natureza da adoção, temos que deverá constar essa advertência, pois há necessidade de o as-
sento conter referência ao registro anterior que foi cancelado. Não fosse assim e a existência
de peculiaridades no assento ficariam totalmente invisíveis, até mesmo do adotado, que, após
a maioridade, tem direito a acessar essa informação imotivadamente (art. 48, ECA).

4.5. Princípio da Legalidade


O oficial deve observar as exigências legais antes de praticar atos. Em regra, aplica-se-lhes
a legalidade estrita do Direito Administrativo: tudo lhe é proibido, salvo o permitido em lei.
Assim, por exemplo, o RCPN não poderia registrar imóveis, porque não há lei que o autorize
a tanto. Ele pode, no entanto, praticar atos de averbação para alterar registros anteriores de
modo amplo, porque a LRP fixa a tipologia aberta dos atos de averbação.

4.6. Princípio da Independência


Como é próprio das atividades de natureza intelectual, o titular extrajudicial é profissional
do Direito e, por isso, goza de independência no exercício das suas atribuições. Independência
não significa arbitrariedade nem soberania. É evidente que ele deve submeter-se à lei, às nor-
mas infralegais e a ordens judiciais específicas.

4.7. Princípio da Imparcialidade


O oficial é agente público e, como tal, não pode se valer de sua função para atender interes-
ses individuais não amparados em lei. É por isso que a legislação estabelece impedimentos
do oficial para atos de seu interesse, de parentes seus na linha e parentes colaterais até o 3º
grau, caso em que o seu substituto legal poderá praticar o ato quando se tratar de serventia de
registro16 (art. 15, LRP e art. 27, LNR).

4.8. Princípio da Instância ou Rogação


Em regra, o oficial não pode atuar de ofício, mas depende de provocação. Ele não pode,
por exemplo, registrar um óbito sem ser provocado. A exceção corre à conta de lei específica.
O art. 13 da LRP respalda esse princípio, ao exigir, salvo anotações e averbações obrigatórias,
que os atos de registro sejam provocados por ordem judicial ou requerimento.

16
Não há essa previsão para tabelionato de notas, de modo que, por uma interpretação literal, o substituto não poderia prati-
car o ato. Entendemos, porem, que deve ser aplicado o art. 15 da LRP por analogia ao Tabelionato de Notas.

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4.9. Princípio da Territorialidade


4.9.1. Noções Gerais

Os serviços de registro só podem praticar atos dentro da sua circunscrição, que é definida
por lei estadual de iniciativa do Poder Judiciário (geralmente a Lei de Organização Judiciária).
Esse princípio só é aplicável para os RCPNs e para os RIs, conforme art. 12 da LNR.
No caso do RCPN, a territorialidade se justifica pela importância de haver organização ge-
ográfica na guarda das informações importantes à identificação das pessoas. Isso facilita a
obtenção de certidões e a investigações para apurar o local do registro de determinadas pes-
soas, além de fornecer estatísticas úteis a políticas públicas.

4.9.2. Competência Territorial no RCPN e Consequência de sua Inobservância

Para definir a competência territorial dos atos, a legislação costuma usar dois elementos
de conexão: a residência da pessoa ou o local do fato. A residência é local mais adequado para
questões relacionadas aos atributos da personalidade, pois é aí que a pessoa mora. O local do
fato é utilizado em situações em que convém dar maior comodidade.
No caso do registro do nascimento, os dois elementos de conexão são utilizados, pois são
competentes o cartório de residência dos pais e o do local do nascimento (art. 50, LRP). A ex-
ceção ocorre em dois casos:
a) No caso de morte de criança de idade inferior a 1 ano sem registro prévio de nascimen-
to, por questão de comodidade, o cartório do local do falecimento fará tanto o registro do
nascimento quanto o do óbito (art. 77, § 1º, LRP). Se o falecido tinha de 1 ano de idade, a lei é
omissa, o que gera diferentes correntes. Entendemos que o RCPN deve verificar se houve pré-
vio registro de nascimento, mas, caso nada identifique, deve abster-se de lavrar um assento de
nascimento previamente e deve limitar-se a lavrar a certidão de óbito.
b) No caso de registro tardio de nascimento – aquele feito após o prazo legal de 15 dias a
3 meses na forma do art. 50 da LRP –, só pode ser feito no lugar de residência do interessado,
porque o fator “comodidade” que justificava o registro no local do nascimento desapareceu.
O interessado é o registrando, que, se for menor de idade, terá domicílio necessário com seu
representante legal (art. 76, parágrafo único, CC).
No caso de óbito, o cartório competente é o local do falecimento ou o local da residência
do falecido, por serem os lugares mais cômodos do ponto de vista operacional (art. 77, LRP).
No casamento, o cartório competente é o do local de residência de, ao menos, um dos nu-
bentes (art. 67, LRP).
O desrespeito à competência territorial não importa em invalidade do registro por se tratar
de questão administrativa, mas autoriza responsabilização disciplinar do titular da serventia.

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4.10. Princípio da Conservação


O oficial deve conservar os documentos relacionados à sua atribuição. Daí decorre que,
salvo lei expressa, o arquivamento é perpétuo, conforme expresso no art. 26, LRP. Com autori-
zação legal, esse arquivamento pode ser eletrônico.

4.11. Princípio da Continuidade


Os atos de registro e de averbação devem guardar correlação lógica com atos anteriores,
de modo que os registros públicos retratem a sequência lógica e cronológica dos fatos jurí-
dicos. É preciso haver coerência entre os atos de registro. Esse princípio assume diferentes
ênfases entre as diversas serventias de registro. No RI, ele é mais rigoroso. No RCPN, ele é
mais flexível, embora, de qualquer forma, imponha sempre a coerência entre os atos. Seguem
alguns exemplos de aplicação do princípio da continuidade no RCPN:
a) Jamais se poderia, por exemplo, registrar um óbito sem ter havido previamente um re-
gistro de nascimento. Todavia, em uma situação excepcional de total desconhecimento do
assento de nascimento, é viável mesmo assim fazer o registro do óbito, como sucede com os
indigentes, na forma do art. 81, LRP.
b) Não se registrará um nascimento, um óbito, uma emancipação, uma interdição se já
houver um registro previamente do mesmo fato jurídico.
c) Não se pode registrar a alteração de um curador sem o anterior registro da interdição.
d) No caso de dissolução de união estável por escritura pública, o art. 7º do Provimento n.
37/2014-CN/CNJ estabelece que esse fato jurídico deve ser averbado à margem de anterior
registro de união estável, que é feito no Livro “E”. Entretanto, caso não haja prévio registro da
união estável, o art. 7º do referido provimento excepciona o princípio da continuidade e admite
que seja feito o registro (e não a averbação) da dissolução da união estável apenas com a data
da escritura da escritura de dissolução.

4.12. Princípio da Verdade Registral


O registro deve corresponder à realidade dos fatos. Isso justifica as hipóteses de retifica-
ção de registros quando houver erros ou de averbação de mudanças fáticas ou jurídicas.

5. Retificações
5.1. Fundamento
É direito fundamental do indivíduo que o seu registro civil corresponda à realidade dos
fatos, de modo que a retificação de erros é um direito seu. O registro não faz “do quadrado
redondo” nem do “preto branco”, ao contrário do que sucede com a coisa julgada. O registro é
um ato administrativo e está sujeito a retificações a qualquer tempo.
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Trata-se de uma decorrência do princípio da verdade registral.


No Registro de Imóveis, por se tratar de direitos patrimoniais, até é viável admitir hipóteses
de presunção absoluta de registro, como sucede no caso do Registro Torrens (art. 277 e ss,
LRP). Não se dá o mesmo em relação ao registro civil, que hospeda informações relativas a
direitos da personalidade.

5.2. Retificação vs Alteração


Retificar é diferente de alterar o fato jurídico inscrito. A retificação pressupõe a existência
de um erro no momento de realização do registro. Fora disso, tem-se uma mera alteração
do registro.
Convém exemplificar.
Se os cônjuges desejam modificar o regime de bens ou se a pessoa deseja mudar o nome,
isso não é retificação, porque inexistiu erro no registro, e sim um procedimento de modificação
do fato jurídico registrado.
Outrossim, se a mãe mudou de nome em razão de um casamento, o caso é de averbar a
alteração do seu nome no assento de nascimento do filho, e não de retificar o registro, pois não
houve erro no momento da lavratura deste.
Todavia, se se quer a retirada do nome do pai do assento de nascimento em decorrência de
uma ação negatória de paternidade, isso é retificação pelo fato de se estar corrigindo um erro:
o lançamento de uma paternidade que não era correta e que foi desconstituída judicialmente.

5.3. Momento da Retificação


Se o erro for identificado no ato da lavratura, é cabível a retificação pelo próprio registrador,
mesmo depois de terem sido apostadas as assinaturas, mas, nesse caso, a retificação tem de
ser feita antes de um novo registro e, ainda que a LRP seja silente, as partes devem assinar
novamente (art. 39, LRP).
Se, porém, o erro for identificado após a lavratura do ato, só se pode retificar o registro na
forma dos arts. 109 ao 112 da LRP. São inexistentes retificações que violem essa regra, tudo
por força do art. 41, LRP.

5.4. Procedimentos de Retificação


Quando há erros, é preciso adotar um dos procedimentos de retificação disponíveis. Não
importa se o erro decorreu de falha apenas do oficial ou não17.
Os procedimentos de retificação são exigidos para todos os atos do RCPN, tanto os de
registro quanto os de averbação e de anotação. Os arts. 109 e 110 da LRP se referem a retifica-
ções no “assentamento”, o qual é o alvo de todas aquelas espécies de atos do RCPN.
17
KÜMPEL, Vitor Frederico; FERRARI, Carla Modina. Tratado Notarial e Registral, vol. III: Ofício de Registro Civil das Pessoas
Naturais. São Paulo: YK Editora, 2017, p. 941.

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Há dois procedimentos de retificação: o extrajudicial ou judicial.

5.4.1. Procedimento de Retificação Extrajudicial (art. 110, LRP)

O procedimento de retificação extrajudicial é facultativo, de modo que o interessado, se


quiser, pode valer-se dela ou da via judicial.
O procedimento ocorre em cartório, provocado, de ofício, pelo próprio registrador ou por
petição do interessado e INDEPENDE do Ministério Público.
A via extrajudicial aplica-se apenas à retificação de situações mais simplificadas e indica-
das nos incisos do art. 110 da LRP, a saber:
a) Erros de constatação imediata.
b) Erros na transposição de dados do título para o registro.
c) Inexatidão de dados de identificação do ato (numeração de livro, folha, página, ter-
mo e data).
d) Alteração de nomenclaturas ou de qualificação de distritos ou munícipios.
Quanto à hipótese de “erro de constatação imediata”, convém exemplificar. O erro no lança-
mento de data errada no assento de casamento é de imediata constatação quando se coteja
com os documentos arquivados na serventia, com a ata de celebração do casamento. Outro
exemplo de erro de imediata constatação é o caso de o nome da mãe ter sido grafado no as-
sento de nascimento do filho de modo diverso do documento de identidade que foi apresenta-
do no momento do registro.
Veja o art. 110 da LRP:

Art. 110. O oficial retificará o registro, a averbação ou a anotação, de ofício ou a requerimento do


interessado, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, inde-
pendentemente de prévia autorização judicial ou manifestação do Ministério Público, nos casos de:
I – erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua
correção;
II – erro na transposição dos elementos constantes em ordens e mandados judiciais, termos ou re-
querimentos, bem como outros títulos a serem registrados, averbados ou anotados, e o documento
utilizado para a referida averbação e/ou retificação ficará arquivado no registro no cartório;
III – inexatidão da ordem cronológica e sucessiva referente à numeração do livro, da folha, da pági-
na, do termo, bem como da data do registro;
IV – ausência de indicação do Município relativo ao nascimento ou naturalidade do registrado, nas
hipóteses em que existir descrição precisa do endereço do local do nascimento;
V – elevação de Distrito a Município ou alteração de suas nomenclaturas por força de lei.
§ 1º (Revogado).
§ 2º (Revogado).
§ 3º (Revogado).
§ 4º (Revogado).
§ 5º Nos casos em que a retificação decorra de erro imputável ao oficial, por si ou por seus prepos-
tos, não será devido pelos interessados o pagamento de selos e taxas.

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5.4.2. Procedimento de Retificação Judicial (art. 109, LRP)

O procedimento de retificação judicial aplica-se a erros mais complexos a serem retifi-


cados e está previsto no art. 109 da LRP. Nada impede que o interessado se valha dessa via
mesmo na hipótese de se cuidar de um erro autorizador do procedimento extrajudicial, pois
este último é facultativo.
O procedimento judicial pode ser fruto também da conversão do pedido administrativo em
judicial, na forma art. 110, § 3º, da LRP.
É controverso se a natureza do procedimento judicial é contenciosa18 ou de jurisdição vo-
luntária19. Entendemos que é de jurisdição voluntária.
Há quem sustente que se aplica o procedimento comum do CPC caso haja algum dos
interessados discorde (litígio)20, mas preferimos entender que continua sendo aplicado o rito
especial do art. 109 da LRP com o complemento dado a partir do art. 719 do CPC para o rito
de jurisdição voluntária.
O oficial de registro não é parte legítima para o processo: a ação não pode ser proposta
contra ele21. Como se trata de jurisdição voluntária, não há partes, e sim interessados. O oficial
não é sequer interessado, pois não tem interesse jurídico na causa por não ser titular do direito
sub judice. O oficial, por exemplo, não tem legitimidade para recorrer contra a sentença como
terceiro interessado, pois lhe falta interesse jurídico.
O interessado, assistido por advogado (está implícito na LRP isso), apresenta petição
ao juiz, que, ouvindo os interessados e o MP e, se for o caso, deferindo a produção de pro-
vas, decidirá.
É cabível recurso de apelação contra a sentença com efeito devolutivo e suspensivo
(art. 109, § 3º, LRP). Embora o art. 109, § 3º, da LRP, refira-se a “decisão do juiz”, trata-se de
uma sentença.
Veja o art. 109 da LRP:

Art. 109. Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil, reque-
rerá, em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que
o Juiz o ordene, ouvido o órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que
correrá em cartório.

18
KÜMPEL, Vitor Frederico; FERRARI, Carla Modina. Tratado Notarial e Registral, vol. III: Ofício de Registro Civil das Pessoas
Naturais. São Paulo: YK Editora, 2017, p. 943.
19
NETO, Mario de Carvalho Camargo; OLIVEIRA, Marcelo Salaroli. Registro Civil das Pessoas Naturais II. Sao Paulo: Saraiva,
2014, p. 210.
20
KÜMPEL, Vitor Frederico; FERRARI, Carla Modina. Tratado Notarial e Registral, vol. III: Ofício de Registro Civil das Pessoas
Naturais. São Paulo: YK Editora, 2017, p. 938.
21
NETO, Mario de Carvalho Camargo; OLIVEIRA, Marcelo Salaroli. Registro Civil das Pessoas Naturais II. Sao Paulo: Saraiva,
2014, p. 211.

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§ 1º Se qualquer interessado ou o órgão do Ministério Público impugnar o pedido, o Juiz determi-
nará a produção da prova, dentro do prazo de dez dias e ouvidos, sucessivamente, em três dias, os
interessados e o órgão do Ministério Público, decidirá em cinco dias.
§ 2º Se não houver impugnação ou necessidade de mais provas, o Juiz decidirá no prazo de cinco
dias.
§ 3º Da decisão do Juiz, caberá o recurso de apelação com ambos os efeitos.
§ 4º Julgado procedente o pedido, o Juiz ordenará que se expeça mandado para que seja lavrado,
restaurado e retificado o assentamento, indicando, com precisão, os fatos ou circunstâncias que
devam ser retificados, e em que sentido, ou os que devam ser objeto do novo assentamento.
§ 5º Se houver de ser cumprido em jurisdição diversa, o mandado será remetido, por ofício, ao Juiz
sob cuja jurisdição estiver o cartório do Registro Civil e, com o seu “cumpra-se”, executar-se-á.
§ 6º As retificações serão feitas à margem do registro, com as indicações necessárias, ou, quando
for o caso, com a trasladação do mandado, que ficará arquivado. Se não houver espaço, far-se-á o
transporte do assento, com as remissões à margem do registro original.

5.5. Questões Especiais


5.5.1. Cumulação do Pedido Judicial de Retificação com Outro

Se o pedido de retificação for cumulado com outro pedido judicial (como o de uma ação de
reconhecimento de paternidade ou uma ação em que se pleiteia também indenização contra o
oficial pelo erro), ter-se-á um caso de cumulação de pedidos, o que afastará o rito especial do
art. 109 da LRP e atrairá o procedimento comum previsto no CPC.

5.5.2. Retificação da Profissão para Fins Previdenciários

É comum ser pedida a retificação da profissão do declarante em um assento de nascimen-


to ou de óbito ou do nubente em um assento de casamento, especialmente com o objetivo de
produzir prova para efeitos previdenciários. O mais comum é ser pedido que se conste que a
profissão é de trabalhador rural como forma de produzir início de prova a respaldar a percepção
da aposentadoria especial que é concedida pelo INSS. Todavia, o STJ não admite a retificação
aí, nem mesmo judicial, por se tratar de informação periférica em relação ao objeto principal
do registro civil. Isso seria desnaturar o instituto da retificação de registro. Para esses casos, a
parte deve valer-se de uma ação declaratória que comprove o seu tempo de serviço enquanto
trabalhador rural, e não pleitear mudança de um registro civil em que a sua profissão é dado
secundário (REsp 1194378/MG, 3ª Turma, Rel. Ministro Massami Uyeda, DJe 24/02/2011).

5.5.3. Situação de Erro de Grafia do Nome na Primeira Certidão

Se a primeira certidão contém erro de grafia no nome (ex.: Caroline, no lugar de Carolina),
não haveria, em princípio, motivo para retificação do registro, pois o erro está na certidão, e não
neste. Todavia, se, com base na certidão equivocada, a pessoa for identificada em vários
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outros documentos ao longo de sua vida, de modo que o seu nome social passe a correspon-
der ao nome equivocado constante da certidão, é razoável admitir a adoção do procedimento
de retificação do registro nessa hipótese, desde que pela via judicial.

5.5.4. Caso de Tortura na Ditadura

Em São Paulo, já se admitiu retificação de registro de óbito para retificar o local do óbito e o
seu motivo com vistas a realçar os atos de tortura na época da ditadura nas dependências do
DOI/CODI. Trata-se dos casos do jornalista Vladmir Herzog e do dirigente do Partido Comunis-
ta Brasileiro João Batista Franco Drummond, os quais, após serem mortos por torturas físicas
nas dependências do DOI/CODI, tiveram os seus registros óbitos lavrados com informações
que disfarçavam a realidade dos fatos, indicando o “traumatismo craniano encefálico” como
causa da morte, e não as torturas físicas sofridas, e redigindo o endereço sem mencionar que
se tratava das dependências do DOI/CODI22.

6. Restauração
Restauração é para reconstituir um livro, um documento ou parte deles que foram perdidos
por qualquer motivo (incêndio, furto etc.).
Em uma leitura inicial e apressada LRP, fica implícito que só se pode restaurar por via judi-
cial (art. 109). Todavia, considerando que há dever legal de o registrador e do Estado conservar
os seus arquivos, é possível deduzir a possibilidade de a restauração ocorrer de ofício pelo pró-
prio registrador sob a supervisão do juiz corregedor. Nesse sentido, o Provimento n. 23/2012-
CN/CNJ autoriza a restauração de livros pelo juiz corregedor por requerimento do oficial ou de
outros interessados.

7. Suprimentos
7.1. Definição e Procedimento
O suprimento destina-se a completar um registro ou uma averbação incompleta. Asseme-
lha-se à retificação no sentido de que implica um ajuste no texto do ato de registro.
Para suprimentos, é cabível o procedimento judicial de retificação supracitado previsto no
art. 109 da LRP.
Discute-se, porém, se é cabível uma via extrajudicial para o suprimento. O tema é controverso.
De um lado, não é viável aplicar o art. 110 da LRP, pois este lida apenas com retificações, e
não com suprimentos.
Entretanto, embora o Provimento n. 23/2012-CN/CNJ (que prevê um procedimento extra-
judicial de restauração) não mencione o verbete “suprimento”, há quem sustente a sua
22
NETO, Mario de Carvalho Camargo; OLIVEIRA, Marcelo Salaroli. Registro Civil das Pessoas Naturais II. Sao Paulo: Saraiva,
2014, p. 215.

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REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
Registro Civil das Pessoas Naturais – Parte I
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extensão , tese com a qual ousamos discordar em razão da distinção dos atos. Suprimento
23

implica adicionar algo ao registro, ao passo que restaurar é recuperar um meio físico que se
perdeu, sem adicionar nada ao conteúdo do registro.

7.2. Questão Especial


7.2.1. Suprimento no Caso de “Certidões Avulsas”

Admite-se o suprimento de registro no caso de expedição de certidões sem ter sido reali-
zado o registro previamente (caso das “certidões avulsas”), pois, com a emissão da certidão,
presume-se que apenas ter-se-ia um caso de lacuna total do registro, a reclamar um suprimen-
to integral.
Deve-se adotar a via judicial aí como regra geral. Todavia, se se tratar de caso de certidão
“avulsa” de nascimento, é viável admitir também a aplicação do procedimento extrajudicial do
registro tardio previsto no art. 46 da LRP. O interessado escolhe24.

23
NETO, Mario de Carvalho Camargo; OLIVEIRA, Marcelo Salaroli. Registro Civil das Pessoas Naturais II. Sao Paulo: Saraiva,
2014, p. 216.
24
NETO, Mario de Carvalho Camargo; OLIVEIRA, Marcelo Salaroli. Registro Civil das Pessoas Naturais II. Sao Paulo: Saraiva,
2014, p. 216-217.

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Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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