Você está na página 1de 15

UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO MARANHÃO

INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO MARANHÃO- IESMA/UNISULMA


DISCIPLINA: DIREITO PENAL III
DOCENTE: LETÍCIA DE JESUS PEREIRA

DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL


DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO
DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS.

ANNA PAULA SILVA


FABIANA OLIVEIRA DA SILVA
ITALLO RODOLFO
RAYRA MARCHEZINI SOUZA

IMPERATRIZ- MA2023
UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO MARANHÃO
INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO MARANHÃO-IESMA/UNISULMA

DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL


DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO
DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS.

Relatorio apresentado á prof. Léticia de Jesus


Pereira, a como avaliação parcial, comintuito
de obtenção de nota da 2° etapa do trabalho
apresentado pelo portal.

INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO MARANHÃO-IESMA/UNISULMA

Imperatriz-MA 2023
Dos crimes contra a propriedade imaterial. Dos crimes contra a propriedade intelectual

Palavra Chave; Crime Violação de direito autoral Propriedade intelectual

Resumo: Art. 184. São regulados no Título III da Parte Especial do Código Penal. A violação de direito autoral é
crime contra a propriedade intelectual que encontra-se tipificado no Capítulo I do Título III, no artigo 184 do Código
Penal, cuja objetividade jurídica é a propriedade imaterial. Os Capítulos II a IV do Título III, que definiam os crimes
contra o privilégio de invenção, contra as marcas de indústria e comércio e os crimes de concorrência desleal, foram
revogados.

Considerações inicias

O Artigo 184: Violação de direito autoral


Art 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos Pena detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
ou multa.§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou
indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem
autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de
quem os represente, Pena reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.§ 2º Na mesma pena do § 1º
incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribuir, vender, expor à venda, alugar, introduz
no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido
com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor
de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa
autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.
§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou
qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em
um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto
ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do
produtor de fonograma, ou de quem os represente:
Pena reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, § 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica
quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade
com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma,
em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.
Vejamos o que a doutrina consultada nos diz sobre os chamados crimes contra a propriedade intelectual
nos artigos 184, caput; 184 §1º; 184 §2º; 184 §3º e 184 §4º.
Em primeiro lugar, é oportuno lembrar que aquilo que estes dispositivos visam proteger é o direito autoral, ou
seja, direitos morais ou patrimoniais que surgem quando se cria uma obra e quando se usa uma obra
economicamente, seja ela intelectual, artística, científica, literária etc.

[...] Greco (2017) e Bitencourt (2012) reiteram que esses direitos abrangem
direitos do autor e direitos conexos aos do autor (segundo Bitencourt, os
relativos à interpretação e à execução da obra por seu criador, considerando-se
como tais a gravação, reprodução, transmissão, retransmissão, representação
ou qualquer outra modalidade de comunicação ao público). Qualquer pessoa
pode ser sujeita ativo deste crime, inclusive partícipes ou coautores.

Mas o sujeito passivo somente pode ser quem criou a obra intelectual literária, científica artística etc. Ou
seus herdeiros ou sucessores, além desses direitos poderem ser transferidos para terceiros, exceto os de natureza
personalíssima, com o efeito de que, se o sujeito passivo for pessoa jurídica de direito público, segundo Bitencourt,
a ação penal será pública incondicionada.
A doutrina consultada (GRECO, 2017; BITENCOURT, 2012) ainda aponta como a violação dos direitos de autor
pode se concretizar de formas variadas: reprodução da obra, comercialização sem autorização do autor etc. Por
isso, Bitencourt aponta que violar significa transgredir, falsificar ou ofender o direito do autor, embora a lei penal
não defina o que é direito de autor ou direito autoral (norma penal em branco), estando tal definição na lei
9.610/98.
Importante destacar as figuras qualificadas deste crime: conforme a doutrina consultada, os §§ 1º e 2º do art. 184
disciplinam as figuras qualificadas da violação de direitos autorais com majoração da pena. Diz Bitencourt:
São tipificadas como qualificadas as seguintes condutas:
1) Reproduzir (reprodução), por qualquer meio ou processo, obra intelectual, total ou parcialmente, para fins
comerciais, isto é, com intuito de lucro (direto ou indireto), sem autorização expressa do detentor do direito. É
proibida a reprodução de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma. A autorização pode ser dada
pelo detentor do direito ou por seu representante legal (§ 1º).
2) Distribuir, vender, expor à venda, alugar, introduzir no País, adquirir, ocultar, emprestar, trocar ou ter em
depósito, com o fim de lucro, original ou cópia de obra intelectual, fonograma ou videofonograma, produzidos ou
reproduzidos com violação de direito autoral (§ 2º). (BITENCOURT, 2012)
Qual o motivo do aumento dessa pena? Segundo a doutrina consultada, o intuito de lucro é esse motivo,
impossibilitando a suspensão condicional do processo. Além disso, a forma qualificada deste crime é de ação
pública incondicionada. Bitencourt adverte os professores que Direito que alimentam o que ele chama de indústria
do xerox nas universidades, que segundo ele se enquadra nessa forma qualificada da violação dos direitos autorais.
Lembrando que só satisfaz o tipo a conduta sem autorização de quem detém o direito sobre a obra, seja o autor ou
um terceiro.
A doutrina ainda aponta a questão da ciberpirataria, com as novas tecnologias e a internet e a realidade
trazida pelo expediente do download. Com a ressalva de que é um crime que exige dolo, segundo Bitencourt
(2012), vontade livre e consciente de violar direito autoral alheio, além de, nas modalidades qualificadas, se exigir
fim de lucro direto ou indireto. A falta da intenção da prática da conduta visando lucro não permite a qualificadora.
É um crime material, consumado com a prática da conduta, como publicação, execução ou exposição de
obra, admitindo-se também a tentativa. E, além disso, é crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa,
e crime de mera conduta, não sendo necessário haver nenhum resultado
Na forma simples, a pena é de três meses a um ano, ou multa; nas formas qualificadas (§§ 1º e 2º), é
cumulativa: reclusão, de dois a quatro anos, e multa. O crime do art. 184, caput, é de ação penal de iniciativa
privada, a não ser que o crime seja contra, nas palavras de Bitencourt, entidade de direito público, autarquia,
empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público. Mas em relação às
condutas tipificadas nos §§ 1º e 2º, a ação penal será pública incondicionada (art. 186).

Artigo 186: natureza da ação penal do art. 184

Art. 186. Procede-se mediante:


I queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184;
II ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1º e 2º do art. 184;
III ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em desfavor de entidades de direito público,
autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público;
IV ação penal pública condicionada à representação, nos crimes previstos no § 3º do art. 184.

Nesta segunda seção, trataremos do que diz a doutrina consultada em relação aos artigos 186, I; 186, II;
186, III e 186, IV do Código Penal. Trata-se de uma exposição no Código Penal da natureza da ação penal dos
crimes previstos no art. 184, contra a propriedade intelectual. Segundo o art. 186, I, a ação penal é de exclusiva
iniciativa privada nas hipóteses dos crimes previstos no caput do art. 184; segundo o art. 186, IV é pública
condicionada à representação nos crimes previstos no § 3º do art. 184 e, segundo o art. 186, II, é pública
incondicionada nos crimes previstos nos §§ 1º e 2º do art. 184, além de, conforme o art. 186, III, também ser
pública incondicionada quando o crime for praticado contra entidade de direito público, autarquia, empresa
pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público.
A doutrina discute o prazo decadencial e a prova de direito da ação. Greco (2017) e Bitencourt (2012)
entendem que o prazo decadencial é de seis meses, dentro dos quais deve haver as diligências. Com a observação
de que a partir da apreensão ou perícia, a queixa não pode tardar mais de 30 dias, prazo preclusivo, mas não
decadencial. Bitencourt aponta um erro crasso do STF que entendeu em um acórdão que o prazo para se oferecer
queixa crime nessa matéria seria de 30 dias
Bitencourt sentencia: constata-se facilmente que, nesse julgamento, a Suprema Corte confundiu alhos
com bugalhos. Porque, segundo o autor, não existe esse prazo decadencial de trinta dias, sendo a previsão contida
nos arts. 524 a 530 do CPP aplicável apenas aos crimes previstos no caput do art. 184, cuja ação penal é de
exclusiva iniciativa privada, pois o prazo decadencial para a propositura da ação penal privada é o de seis meses.
Em relação ao direito de ação, a doutrina consultada aponta que é necessário que a denúncia ou queixa seja
instruída com prova pericial dos objetos que constituam o corpo de delito (art. 525 do CPP). Finalmente, podemos
notar como a propriedade intelectual é tutelada em nosso direito penal, não devendo caber entendimento contrário
ao de se garantir ao autor de obra intelectual a proteção devida à sua autoria
DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO (ART. 208)

Palavra chave: Sentimento religioso. Intolerância religiosa. Crime.Direito de Culto.

Resumo: O crime consiste em escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crençaou função religiosa. O
agente zomba, ridiculariza, ofende a vítima, quer em razão da fé que professa, quer em decorrência de sua função
religiosa (padre, rabino, freira,coroinha, pastor etc.). É necessário que o escárnio ocorra em público, ainda que
avítima não esteja presente. Se o fato não ocorrer em público, poderá estar tipificadoo crime de injúria

Considerações

Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou
perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena
– detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é
aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.
A Constituição Federal de 1988, em seu ART. 5º, VI, estabeleceu que o Estado Brasileiro é laico, ou
seja, não adota nenhuma religião oficial e mantém-se imparcial em questões religiosas. Porém, o texto
constitucional também prevê que os cidadãos têm a liberdade de exercício de religião e de crença, sendo esse um
direito fundamental. A liberdade de crença, é a liberdade das pessoas de adotar ou não uma religião. Já a liberdade
de culto, refere-se a liberdade de a pessoa exercer na prática a sua religião. A partir dessa garantia constitucional,
o Código Penal tipificou algumas condutas praticadas contra a liberdade religiosa das pessoas. Trata-se do crime
de ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo, expresso no artigo 208 do CP. O art. 208 do
CP, embora em preceito único, contém três crimes distintos: 1) Escarnecer alguém publicamente por motivo de
crença ou função religiosa; 2) Impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; 3) Vilipendiar
publicamente ato ou objeto religioso. Nesse caso, com a prática de apenas um dos crimes já há a configuração do
tipo penal. Além disso, se mais de um crime do artigo for praticado, há um concurso de crimes, quer dizer, o
agente irá responder, cumulativamente, por quantos crimes vier a praticar e as penas serão somadas. Sendo assim,
estamos diante de um tipo penal misto cumulativo.

O primeiro ato criminoso punido no art. 208 do código consiste em escarnecer. O verbo núcleo do tipo
"ESCARNECER" significa zombar ou ridicularizar, isto é, achincalhar, caçoar, ridicularizar ostensivamente
alguém. Trata-se de crime de forma ou ação livre, o qual pode ser cometido por qualquer meio (palavras, gestos,
desenhos, escritos etc.). É preciso, que seja presenciado por terceiras pessoas (não duas, mas várias). Não importa
o local em que o comportamento foi praticado, se público ou aberto ao público. O essencial é que a atitude seja
desempenhada em público, isto é, à vista de várias pessoas. Se o achincalhamento ocorrer em ambiente privado,
todavia, sem que outros além da vítima estejam presentes, haverá crime contra a honra (injúria – art. 140 do CP).
1.2 Impedir ou Perturbar Cerimônia ou Prática de Culto Religioso. Os dois verbos núcleos do tipo são "IMPEDIR",
que significa obstar que aconteça, e "PERTURBAR", ou causar transtorno. O "culto religioso", como visto, é a
manifestação coletiva de adoração a uma divindade. A "cerimônia" é um culto revestido de solenidade. A "prática
de ato religioso" é um ato individual. Em quaisquer desses casos, a conduta se enquadra no tipo penal estudado.
Vilipendiar publicamente ato ou objeto religioso. Vilipendiar é considerar como vil, desprezar ou
ultrajar injuriosamente. Isso é mais que ofender. Para Heleno Cláudio Fragoso (obra citada, pág. 579), o tipo exige
seja praticado publicamente, isto é, na presença de várias pessoas. Assim o vilipêndio deve recair sobre ato
(cerimônia ou a prática de culto religioso) ou objetivo (qualquer coisa, bem corpóreo) de culto religioso. O crime
é comum, formal. O crime se consuma com o vilipêndio e se for verbal, não irá admitir tentativa. O elemento
subjetivo é o dolo que exige a ação desrespeitosa ou objetivamente ofensiva ao sentimento religioso praticada
com o fim de ultrajar e vilipendiar (dolo específico). O delito somente é punido sob a forma dolosa, o que demanda
consciência e vontade de escarnecer publicamente alguém, em virtude de sua crença ou função religiosas.
2. Sujeitos do crime O sujeito ativo de uma infração penal é aquele que comete o crime. O sujeito ativo da
infração penal pode ser pessoa física ou pessoa jurídica, porém, no caso de pessoa jurídica, apenas crimes
ambientais são levados em conta, conforme a Constituição Federal.
a) Sujeito ativo: qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo da infração (crime comum). Podem praticá-la
pessoas de outras religiões, que professam crença distinta ou mesmo que comungue do mesmo credo do sujeito
passivo, mas procure zombar, por exemplo, da função que este exerce.
b) Sujeito passivo: É o titular do direito protegido pelo tipo penal, ou seja, a pessoa que foi atingida pela zombaria.
Como bem pondera Paulo José da Costa Jr., seguido por Cezar Bitencourt, “o sujeito passivo é a pessoa de quem
se zomba, até porque a norma penal encontra-se intimamente ligada à proteção de uma liberdade individual
assegurada no Texto Maior, traduzida na inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença e na asseguração
do livre exercício dos cultos religiosos.
3. Causa de aumento de pena O parágrafo único da disposição prevê causa de aumento de pena em um
terço, aplicável às três figuras típicas, traduzida no emprego de violência. A norma não especifica se esta deve ser
dirigida contra coisas ou pessoas, motivo pelo qual pensamos que ambas as formas encontram-se abrangidas pela
exasperante. Se a conduta violenta caracterizar, além do escárnio, outra infração penal (como, por exemplo, lesão
corporal – art. 129 do CP – ou dano – art. 163 do CP), dar-se-á o cúmulo material obrigatório, já que a lei diz
expressamente que o aumento ocorrerá sem prejuízo da pena correspondente à violência. 4. Pena e ação penal A
pena cominada aos três crimes contidos no preceito primário do art. 208 do CP é de detenção, de um mês a um
ano, ou multa, aumentadas de um terço quando há emprego de violência. Tendo em conta o patamar punitivo,
cuida-se de infração de menor potencial ofensivo, estando sujeita às benesses da Lei n. 9.099/95, como a transação
penal (art. 76 da citada Lei).
A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, motivo pelo qual incumbe ao Ministério Público,
independentemente da autorização de terceiros, mover a respectiva denúncia, quando presentes os requisitos
legais, observando-se o procedimento comum sumaríssimo.
ANÁLISE CRÍTICA DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS
MORTOS NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

Palavra chave: Cadáver. Legislação. . Crime de vilipêndio.

Resumo: Os crimes contra o respeito aos mortos é tema quase abandonado pela doutrina nacional. As fontes
referenciais bibliográficas conhecidas estão sempre atreladas a estudos expositivos dos tipos penais constantes no
Título V, Capítulo II, da Parte Especial do Código Penal. Desta forma, os quatro crimes previstos (arts. 209, 1
210, 2 211 3 e 212 4 ) são sempre justificados como medidas necessárias à preservação de um valor ético-social,
5 qual seja, o sentimento de respeito aos mortos. No entanto, sem querer construir uma proposta de negação
absoluta de tal fundamento, é preciso repensar se tais tipos penais servem a essa proposta e se a preservação de
um valor ético social deve ser uma atividade a ser cumprida e efetivada pelo Direito penal.

CONSIDERAÇÕES

Conforme dispõe a parte inicial do Art. 6° do Código Civil Brasileiro, “a existência da pessoa natural termina com
a morte”. Pode-se, então, dizer que a morte é fim dos direitos da pessoa humana? Sobre esse questionamento
muitas discussões surgem, tais como: o morto não possui direito algum? Ou o falecido continua sendo um sujeito
de direito? Existem direitos da personalidade após a morte? Quais as proteções legais que o de cujus possui? Esses
questionamentos serão respondidos ao longo deste trabalho.
“Com a morte natural ou física ocorre com a cessação de todas as funções
vitais, cabendo, porém à medicina legal a definição do momento de sua ocorrência
e devendo o óbito ser registrado no registro civil de pessoas
naturais”. (GONÇALVES, 2012, p. 23).
O que se pode adiantar, é que com o fim da vida não existe o fim dos direitos, pois o cadáver possui proteção jurídica, e isso
se pode comprovar pelas leis existentes, tais como: a Lei n.º 8.501/92, que dispõe sobre a destinação de 17 cadáveres junto
às autoridades públicas; a Lei n.º Lei 9.434/97, que dispõe sobre a remoção de Órgãos, Tecidos e Partes do Corpo Humano
para fins de transplante e tratamento; bem, como, o Art. 12 do Código Civil Brasileiro:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da


personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge
sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto
grau. (BRASIL, 2002).
O jurista e magistrado Guilherme de Souza Nucci (2017, p. 677), comenta: “assegura a Constituição Federal a liberdade de
consciência e de crença, possibilitando o livre exercício dos cultos religiosos, bem como garantindo a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias, na forma da lei, ou seja, desde que não haja excessos ou abusos de modo a prejudicar outros direitos
e garantias individuais - Art. 5º, VI, Constituição Brasileira Federal de 1998”. Já os artigos 209 a 212, do Código Penal
Brasileiro preveem;

Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária Art. 209 - Impedir ou


perturbar enterro ou cerimônia funerária: Pena - detenção, de um mês a um ano,
ou multa.
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço,
sem prejuízo da correspondente à violência. (BRASIL, 1940).

“Impedir significa interromper ou obstar o prosseguimento, enquanto perturbar é apenas estorvar ou atrapalhar.
O objeto, neste caso, é enterro ou cerimônia funerária‟. Violação de sepultura, Art. 210 - Violar ou profanar
sepultura ou urna funerária. Pena - reclusão, de um a três anos, e multa; (BRASIL, 2003). “Violar significa
devassar ou invadir e profanar quer dizer tratar com irreverência ou macular. O objeto é a sepultura ou a urna
funerária. Reserva-se a primeira figura para quem abre à sepultura ou invade o sepulcro, enquanto a segunda
serve para quem infama o mesmo objeto” (NUCCI, 2017, p. 679).

A jurisprudência do STJ: “A reprovabilidade da conduta delituosa praticada pelo agravante


foi bem evidenciada pelo modus operandi empregado no cometimento do delito – o
agravante era líder de um grupo gótico que se autointitulava „vampiros‟. Por razões
homofóbicas, ele e dois amigos atraíram a vítima para um cemitério, fizeram-na desmaiar
com um soco, a estrangularam, bateram nela com uma cruz, morderam seu pulso,
provaram seu sangue e depois a deixaram em uma cova” (AgRg no AREsp 613.134- PA,
5.a T., rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 02.06.2015, v.u.).

Destruição, subtração ou ocultação de cadáver. Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele. Pena
- reclusão, de um a três anos, e multa (BRASIL, 2013). “Destruir (arruinar, aniquilar), subtrair (fazer desaparecer
ou retirar) ou ocultar (esconder) são condutas alternativas. O objeto é o cadáver (corpo sem vida de ser humano)
ou parte dele. Se o agente concretizar uma ou todas responderá por um único delito.

Na jurisprudência STJ: “É cabível a decretação de prisão preventiva, para garantia da


ordem pública, em hipótese de homicídio praticado por motivo torpe – vítima manteve
relacionamento amoroso com a companheira de um dos pacientes enquanto ele esteve
preso –, sendo a vítima encontrada com as mãos amarradas, amordaçada e com um saco
plástico na cabeça, e tendo sido ateado fogo no cadáver com intuito de destruí-lo, obtendo-
se parcialmente tal resultado. A relação entre os motivos que ensejaram o suposto
homicídio e o modus operandi do delito, praticado de forma cruel, mediante sufocamento,
bem como o fato de terem os pacientes, em tese, ateado fogo ao cadáver após a prática do
delito, denotam alta periculosidade e desprezo pela vida humana” (HC 300.494-SP, 5.a T.,
rel. Reynaldo Soares da Fonseca, 23.02.2016, v.u.).

O vilipêndio a cadáver: Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas. Pena - detenção, de um a três anos, e multa
(BRASIL, 2003). “Vilipendiar significa desprezar ou aviltar. O objeto é o cadáver ou suas cinzas. A conduta pode
ser praticada através de gestos ou palavras, estas na forma escrita ou verbal.” (NUCCI, 2017, p. 681).

Na jurisprudência do STJ: “Caso em que o recorrente é acusado de ter asfixiado


sua companheira e depois vilipendiado o corpo sem vida, deixando vestígios de
violência sexual, tendo o cadáver sido encontrado sem roupas e empalado por
um cano de PVC, tudo, ao que parece, por desavenças entre o casal, ambos
usuários de drogas” (RHC 63.965-BA, 5.a T., rel. Jorge Mussi, 21.06.2016, v.u.)

O artigo 1º inciso III da Constituição Federal diz: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito
e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988) Essa proteção existe, pois, com a
morte à dignidade da pessoa falecida não é retirada, existindo, assim, um amparo legal. A dignidade da pessoa
humana é um dos princípios fundamentais, que regem a vida dos cidadãos; bem como os resguardam após a
morte; determinando, quais medidas devem ser respeitadas. 19 Os constitucionalistas e tributaristas Celso Ribeiro
Bastos e Ives Granda Martins (2005), entendem que o referido princípio engloba todos os direitos fundamentais
(que são os direitos do homem, jurídico - institucionalmente garantidos e limitados espacio-temporalmente), quer
sejam os individuais clássicos. Já o direito a personalidade consiste em cada um ter ou de permitir que seu corpo
seja tocado por atos ou fatos alheios. Neste caso, a família do morto, tem este direito de autorização.

Do ataque aos direitos da personalidade após a morte

Não se pode ofender a moral do morto, imputando-lhe condutas desonrosas; não se pode utilizar sua
imagem ou retirar qualquer parte de seu corpo; nem viola-lo sem a devida autorização dos responsáveis; pois,
todos esses direitos são passíveis de proteção pelo nosso ordenamento jurídico. Já que mesmo após a morte, se
tem direito de proteção à honra, à imagem, a intimidade, a integridade física. Silva (2000), em relação à ofensa
moral, determina que “a honra, inquestionavelmente, consiste no agrupamento de alguns desses valores (as
virtudes do homem). Portanto, o simples desaparecimento do corpo físico, não há faz desaparecer”. E quantos as
afrontas? Quem serão os legitimados para defender estes direitos? Levando em consideração aos artigos e
doutrinas estudados, serão transmitidos os direitos as famílias, ou as pessoas deixadas como responsáveis, pelo
morto. Caso a ofensa a esses direitos tenha ocorrido antes do falecimento, mesmo que o falecido não tenha
ingressado com a ação; após a morte, os familiares podem ingressar com alguma ação, substituindo-o em seu
direito. Ocorre também quando a ofensa é feita após a morte, tendo como a diferença, de que os sucessores são
os legitimados a realizar a defesa da memória do falecido, devido à violação do direito, e não como substituto
deste. 23 A ordem de legitimidade está estabelecida no parágrafo único do art. 12, combinado com o artigo 943,
ambos do Código Civil Brasileiro.
Sobre o direito de proteção àquele que não possua parentes, evidenciando, assim, que ninguém deveria
ficar desamparado após a morte. E como essa extensão do direito da personalidade se trata da proteção da
memória do morto, ensina que na falta destes parentes legitimados, não pode tal direito ficar em aberto, devendo
ser protegido pelas pessoas próximas ao falecido, protegendo os direitos da personalidade após a morte.

LEGISLAÇÃO SOBRE UTILIZAÇÃO DE CADÁVER NÃO RECLAMADO E O CRIME DE


VILIPÊNDIO
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO DE CADÁVER

O cadáver significa “corpo sem vida”, conforme é do entendimento do doutrinador Carlos Alberto Bittar
(2003). O escritor Santos Cifuentes (1995), ensina que o homem quando morre se transforma em um ser opaco,
insensível, sem movimento e sem vida. Porém há que se destacar que há controvérsias que o rodeiam, pois,
mencionado conceito, em si, não diz se o cadáver ainda é considerado uma “pessoa” com direitos e obrigações,
ou se aquele corpo sem vida deve ser tratado como uma coisa/objeto. Entende-se que com a morte o cadáver
deixa de ser considerada pessoa, perdendo assim, todos os atributos inerentes a esta.
“Oficialmente, uma morte só é considerada fato quando registrada através da
Declaração de Óbito, assim como uma Declaração de Óbito só pode ser registrada a partir
da existência de um cadáver. A Declaração de Óbito é um documento público detentor de
fé pública onde a morte de um indivíduo é transformada em dado oficial. É através dela
que o morto pode ser oficialmente declarado como morto.”. (GONÇALVES, 2012, p. 04)

Isto porque quando se fala em pessoa, sujeito de direitos e obrigações, existe uma conexão entre o corpo
e o espírito; com a morte, o espírito desaparece não se podendo mais afirmar que aquele corpo (sem vida) é um
sujeito de direitos e obrigações, pois se transforma em um cadáver. Silva (2000), define o cadáver como um
despojo inanimado do ser humano, mesmo que não tenha sido pessoa em sentido jurídico, pois como tal deve ser
considerado o natimorto. Destaca ainda que o cadáver não precisa estar com todas as suas partes intactas para
assim ser considerado, todavia, também não pode ser considerado cadáver apenas as partes isoladas do corpo,
como órgãos, ossos. Porém os corpos mumificados devem ser considerados relíquias históricas, conforme
entendimento de Silva (2000).
É importante comentar sobre as controvérsias que possuem na doutrina, pois, elas abordam que o cadáver
é considerado uma coisa, ou uma semi-pessoa; e, 31 há quem diga que se trata de um resíduo de personalidade.
Mas na verdade qual a natureza jurídica do cadáver? Grecco (2017), aborda que com o passar dos anos, verifica-
se que tal atribuição não estava de acordo com a prática social, uma vez, que o cadáver, através de seus herdeiros,
tinha o direito de defender sua memória. Existindo, assim, toda uma preocupação com o indivíduo após sua morte,
o que não correspondia com a natureza até então dada. Os doutrinadores passaram a questionar qual realmente
seria a natureza jurídica do cadáver. E se após a morte haveria ao corpo do morto, uma conotação de direito de
propriedade sobre o mesmo pelos herdeiros, apesar de reconhecer a estes, pela “transferência da personalidade”,
o direito de defender a memória do de cujus contra injúrias praticadas por outros.

Art. 209 - Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária:


Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente
à violência.
Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna funerária:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Destruição, subtração ou ocultação de cadáver
Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Vilipêndio a cadáver
Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:

Artigo 184 Código penal, dos crimes Comentários à Lei de Organização Criminosa: Lei n. 12.850/2013 (em
coautoria com Paulo César Busato). São Paulo: Saraiva, 2014.

A Insolvência Culposa (artigo 186 do Código de Insolvência e Recuperação de Empresas) e a Insolvência Dolosa
(artigo 227 do Código Penal): tipos de responsabilidade, características comuns e correlação entre ambas as
figuras [Dissertação de mestrado, Iscte - Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório do Iscte.
http://hdl.handle.net/10071/19039
Artigo 208 códigos penal André Estefam - Direito Penal - Parte Especial (ARTS. 121 A 234-B) - VOL. 2 - 9ª
edição 2022: Parte Especial (arts.121 a 234-C): Volume 2
https://trilhante.com.br/curso/crimes-contra-a-organizacao-dotrabalho/aula/crimes-contra-o-sentimento-
religioso-nocoesgerais-2
https://jus.com.br/amp/artigos/35695/os-crimes-contra-osentimento-religioso
https://e-dou.com.br/sujeito-ativo-e-passivo/amp/
Artigo 209 a 212
Pesquisa editorial: O CRIME DE VIOLAÇÃO DE SEPULTURA NO DIREITO BRASILEIRO, de Hugo Nigro Mazzilli - RT
885/2009/397
Curso de direito penal brasileiro. Parte Especial: arts. 121 a 249. 7. ed. São Paulo: Ed. RT, 2008. vol. 2.
Presse, France. Começa o julgamento de homem acusado de canibalismo na Alemanha. Folha de S.Paulo. 3
dez. 2003. Disponível em: [www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u66223.shtml].
ApCrim 111089-0, 1.ª Câmara Criminal, Comarca de Origem: Foz do Iguaçu, rel. Clotário Portugal Neto, j.
25.10.2001.
ApCrim 328245-3, 4.ª Câmara Criminal, Comarca de Origem: Medianeira, rel. Miguel Pessoa, j. 21.09.2006.
ApCrim 1172940-1, 1.ª Câmara Criminal, Comarca de Origem: Almirante Tamandaré, rel. Macedo Pacheco,
j. 29.01.2015.
RSE 1269667-4, 1.ª Câmara Criminal, Comarca de Origem: Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, rel. Macedo Pacheco, j. 11.12.2014.

Você também pode gostar