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Marcos da Proteção Social no Brasil

Educando: Jorge Alfredo Gimenez Peralta

Estado de bem estar social ou tradicionalmente conhecido como Welfare State são
comuns na linguagem acadêmica, popular e progressista. Em geral é utilizado para dizer
a mesma ou afirmar a mesma coisa. Quando no Brasil falamos nas políticas sociais ou
especialmente da nossa política de seguridade social, referimo-nos, com certa frequência,
a esses conceitos como sendo iguais e adicionalmente incluímos outros como Estado
Protetor, Estado Regulador, Estado Provedor, etc
O que Sônia Mirian Draibe e Wilnês Henrique nos mostram nos textos
"WELFARE STATE", CRISE E GESTÃO DA CRISE: UM BALANÇO DA
LITERATURA INTERNACIONAL e “O Welfare State no Brasil: características e
perspectivas” é que no conceito de Welfare State em particular há uma série de
interpretações, conceitos, características que mudam fundamentalmente a perspectiva a
depender do país, da tradição, do olhar ideológico, etc.
Além disso, Sônia descreve a construção do conceito de Welfare State com base
na ampla literatura disponível sobre isso indicando que existem diferenças substanciais
inclusive na origem do termo que, ao trazer para o Brasil, ganha contornos ainda mais
específicos diante da realidade brasileira. Para discutir sobre este tema, vamos tomar
como referência uma das principais políticas públicas tidas como parte da política de
seguridade social no Brasil, a saúde.
Conforme enunciado neste trabalho, o Brasil construiu sua política de seguridade
social inspirado certamente na ideia do Welfare State. Ou seja, na ideia de que deve-se
construir uma série de políticas que deem aos cidadãos a proteção social necessária para
a sua sobrevivência. Certamente, a seguridade social brasileira é muito limitada pois
engloba apenas três políticas públicas, a saber, Saúde, Assistência e Previdência. A noção
de Estado de Bem Estar Social, seja nas suas diferentes variáveis identificadas pela Sônia
implica discutir outras políticas como a educação, renda, trabalho, moradia, salário entre
outros.
No campo da saúde, pode-se identificar uma série de características enumeradas
pelos autores ao identificar a insuficiência das políticas sociais como as tendências e
desafios.
O primeiro deles é a ideia da centralização. O Sistema Único de Saúde embora
nas suas diretrizes preconize a ideia da descentralização, apresenta uma alta dependência
do governo federal, em especial no que se refere ao seu financiamento. Mesmo que este
seja um debate histórico nas políticas sociais brasileiras, especialmente pela sua
insuficiência, na saúde em particular identifica-se uma dependência muito maior do
sistema para funcionar adequadamente conforme o modelo preconiza. Exemplo dessa
extrema dependência foram os debates em torno do CPMF, imposto sobre movimentação
financeira que foram pensadas para financiar o SUS e que finalmente não foram gastos
no mesmo. Outro exemplo da dificuldade imensa do sistema de saúde se descentralizar
são as iniciativas do governo federal de viabilizar um dos pilares do SUS, a atenção
básica, por lei responsabilidade dos municípios. Apesar de responsabilidade, o governo
federal tem um papel central na definição da política de saúde básica que afeta de forma
estrutural o sistema de saúde.
Como afirmam os autores, a experiência das políticas sociais que compõem o
arcabouço do Welfare State brasileiro sofre, dentre outras coisas, dessa centralização com
uma exagerada participação do governo central.
Outro elemento importante da política de saúde e que dialoga também com os
desafios colocados pelos autores tem a ver com a discussão sobre o seu financiamento.
Embora tenha sido previsto ainda na constituição de 1988, o financiamento do SUS é um
dos principais problemas ao longo dos seus mais de 30 anos. O desafio do financiamento,
por sua vez, dialoga com a necessidade de uma discussão mais estrutural da sociedade
brasileira que tem a ver com a sua matriz tributária e seu injusto sistema de tributação em
que pese aos tímidos avanços na construção de um Estado de Bem Estar Social, apresenta
dificuldades imensas de avanço na construção e uma matriz de financiamento mais
robusto e sistemático das suas políticas sociais.
Por fim, outro elemento importante na discussão em torno da construção
do Welfare State na perspectiva da saúde tem a ver com a possibilidade real de reduzirmos
o debate da universalidade do sistema de saúde para a cobertura universal. A política de
saúde no Brasil construiu-se com base na ideia do acesso de todos a todos. Ou seja,
nenhum cidadão será excluído de qualquer atendimento bem como todos aqueles e
aquelas que precisam de atendimento serão ou deverão ser atendidos independente da
complexidade da sua demanda. Já a cobertura universal, uma tendência nos países de
matriz liberal, pressupõe a universalidade apenas no atendimento básico, sendo os de
média e alta complexidade responsabilidade individual das pessoas. Este debate dialoga
com o que os autores chamam de cobertura das políticas sociais no Estado de Bem Estar
Social e exige um cuidado conceitual para não reduzir as políticas sociais à
superficialidade do seu atendimento.
No mesmo patamar do debate em torno da cobertura na área da saúde encontra-se
a discussão sobre a renda mínima ou renda básica. Ou seja, será universal e por tanto
acessível a todos e todos terão direito à ela ou será apenas para aqueles e aquelas que
atendendo determinados critérios terão direito à ela.
Estes dois exemplos quiçá elucide a tese de que quando falamos do Welfare State
não estamos falando uma unanimidade e muito menos de um único tipo que abrange
necessariamente todas as políticas que podem ser incluídas no conceito. Pelo contrário,
como dizia a autora, parece que o "..."Welfare State" é um fenômeno bem mais geral de
modernização, não exclusivamente vinculado a sua versão democrático. (DRAIBE,
1993).

Bibliografia
DRAIBE, Sônia. O Welfare State no Brasil: características e perspectivas.
Caderno 8. Campinas: Núcleo de Estudos de Políticas Públicas – NEPP/Unicamp, 1993.
Introdução (pp. 3-7); Seção 2 – O Estado de Bem-Estar no Brasil: periodização e
características (pp. 21-33). Disponível em:
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=108804&opt=1

DRAIBE, Sônia; HENRIQUE, Wilnês. “Welfare State”, crise e gestão da crise:


um balanço da literatura internacional. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 3, n.
6, São Paulo, fev 1988, pp. 53-78. Disponível em:
http://anpocs.com/images/stories/RBCS/06/rbcs06_04.pdf

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