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RESUMO
ABSTRACT
The aim of this article is to examine, under juridical nature of certified reduction
emission perspectives, its applicability and hypothesis relating to the Tributary National
Law. The need of establishing juridical nature of RCE operation is due to the tributary
legal specifities in which the transactions must be inserted. The commercialization of
carbon credits requires voluntarily between the involved parties, it does not allow any
state intervention. However, such credits has been commercializing by multilateral
institutions, private and state companies. Because of so many differences about this
*
Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo –
SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009.
2568
issue, it becomes essential defining legal parameters, especially about tributary aspects,
giving a higher security to this trade, once there are many uncertain about Kyoto
Protocol future and the first period of commitments between the participant nations –
2008/2012. Moreover, through the proposal of this study will discuss whether there
should be a tax incidence in those markets or be granted tax concessions revenue from
the sale of CER's costly, as a way of promoting the national carbon market and promote
the fight against global warming.
INTRODUÇÃO
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título/valor mobiliário, prestação de serviço e outros analisados na nesse trabalho, para
efeitos de maiores discussões.
Para fins da leitura, o termo “crédito de carbono” deve ser compreendido como
sinônimo de Redução Certificada de Emissão - RCE, que é a denominação oficial para o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. A RCE nada mais é do que uma tonelada
métrica de gás carbônico equivalente - CO² que deixou de ser emitida à atmosfera ou foi
absorvida da mesma, como também, não se deve entender o termo “créditos de
carbono”, como aquele atrelado aos demais mercados de carbono, sejam eles
voluntários ou regulados, que não o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
O Brasil nos últimos 04 anos tornou-se pólo de geração e negociação de RCEs, apenas
perdendo para a China e Índia, como conseqüência lógica da matriz energética destes
dois países ser intensiva em emissões de gases de efeito estufa pelo uso em larga escala
de carvão mineral (fóssil), o que já estava previsto na Proposta Brasileira[2] de 1997.
Apesar das negociações privadas de RCEs serem sigilosas e em sua maioria não
divulgadas ao público, inúmeras notícias[3] têm veiculado negociações vultosas que
demonstram que entidades privadas e públicas no Brasil estão envolvidas neste
mercado, em crescente desenvolvimento, o que atrai a atenção do Poder Público para
2570
regulamentar a questão como o Congresso Nacional, Secretaria da Receita Federal,
Banco Central do Brasil, (MACHADO FILHO, KERLAKIAN SABBAG, 2008).
Tanto o regime jurídico internacional, quanto o nacional, não garante aos “créditos de
carbono” existência corpórea ou documental. Isto quer dizer, a existência e transferência
ocorrem por intermédio de um sistema eletrônico, não possuindo, portanto, classificação
como título de crédito ou cártula.
Título de crédito é um documento. Como um documento, ele reporta um fato, ele diz
que alguma coisa existe. Em outros termos, o título prova a existência de uma relação
jurídica, especificamente duma relação de crédito; ele constitui a prova de que certa
pessoa é credora de outra; ou de que duas ou mais pessoas são credoras de outras.
2571
na sua exploração. Ocorre que, diferentemente dos ativos tangíveis, que são
visivelmente identificados, e contabilmente separados, os intangíveis por vezes não o
são [4]”.
Muito embora embrionária a doutrina jurídica pátria no tocante a natureza jurídica dos
RCE’s, a tendência para alguns estudiosos, Venosa[5], Natrielle de Almeida[6],
Sister[7], Kerlakian[8], é considerá-la como ativo intangível transacionável por meio de
contratos de cessão.
Como as RCE’s são emitidas por órgão da Organização das Nações Unidas
(Conselho Executivo do MDL), a classificação da natureza jurídica no presente estudo,
limitar-se ao tratamento que receberá exclusivamente no âmbito do regime jurídico
brasileiro, pois os países não possuem jurisdição sobre os RCE’s.
2572
possível incidência dos mercados de RCE’s na legislação tributária encontra três
limites, a saber, (CARRAZA, 1998, p. 176):
1- A Reserva da Lei: O tributo só pode ser cobrado por meio de lei. É o princípio
fundamental que nenhuma exação pode ser exigida sem a autorização do Poder
Legislativo (no taxation without representation);
2- A disciplina da Lei: não basta que uma lei preveja a existência de um tributo, mas,
pelo contrário, deve determinar seus elementos fundamentais, vinculando a atuação da
Fazenda Pública e circunscrevendo, ao máximo, o âmbito de discricionariedade do
agente administrativo;
Criar um tributo é estabelecer todos os elementos de que se necessita para saber se este
existe, qual é o seu valor, quem deve pagar, quando e a quem deve ser pago. Assim, a
lei instituidora do tributo há de conter: (a) a descrição do fato tributável; (b) a definição
da base de cálculo e da alíquota, ou outro critério para o estabelecimento do valor do
tributo; (c) o critério para a identificação do sujeito passivo da obrigação tributária; (d) o
sujeito ativo da relação tributária, se for diverso da pessoa jurídica da qual a lei seja
expressão da vontade, (MACHADO, 1999, p. 31).
Visa estas espécies unificar o sistema financeiro e o meio ambiente, bem como o
desenvolvimento limpo para um novo mercado sustentável tanto no âmbito financeiro
quanto no ambiental.
Uma commodity visa o lucro imediato, portanto é algo contrário ao meio ambiente, mais
precisamente a sua conservação (...). O carbono não é uma commodity porque as suas
emissões têm de ser reduzidas. Se fosse uma commodity, o carbono teria de visar o lucro
e, para tanto, sua emissão deveria ser incentivada. Quanto mais toneladas de carbono
fossem emitidas, maior seria o seu preço de mercado.
2573
Segundo, os RCE’s mantêm total dependência com os projetos de MDL, portanto
caracterizando-os como bens de natureza infungível.
Como nas operações de RCE’s não há obrigação de fazer, mas sim uma
obrigação de dar alguma coisa a alguém, mediante a cessão dos créditos de carbono ao
adquirente, inexiste serviços.
2574
Por outro lado, os RCE’s poderiam ser inseridos no direito interno como
“serviços” na modalidade de PSA[12] – Pagamentos por serviços ambientais e,
portanto, assumiriam feição primordialmente contratual, possivelmente mais próxima
das obrigações de fazer, tais como as obrigações de conceber, registrar, monitorar e
manter um projeto ecológico envolvendo produção de energia “limpa” a fim de obter
como contraprestação a outorga de aprovação para a sua respectiva emissão pelo
Comitê Executivo do MDL, porém sem incidência de tributos ou com efeitos
extrafiscais dependendo o caso concreto. Por exemplo, um projeto de reflorestamento
de monocultura para fins industriais ou mesmo um reflorestamento com matas nativas
para a preservação da biodiversidade.
Entretanto, mesmo nos casos de reflorestamentos poderia haver a isenção do ISS vez
que, nessa modalidade haverá “serviços” de acordo com a MP 116 – art. 3°, XII. Dessa
forma, instituía-se um pagamento “prêmio” para empresas ou pessoas que investissem
na captação e mitigação de CO² com a devida isenção tributária como forma de atingir o
objetivo maior que é a proteção ao meio ambiente ou tratamento diferenciado conforme
o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação (Redação dada pela EC nº. 42, de 19.12.2003).
Além de que, poderia ser aplicadas políticas publicas tributárias baseadas na teoria da
função promocional do Direito, com a finalidade extrafiscal indireta para fomentar
atividades que auxiliem a melhoria do meio ambiente por meio de instrumentos
econômico-financeiros e isenções tributárias, buscando a realização de valores
constitucionais mediante o comportamento induzido ou evitado.
2575
1.2 Da inserção dos RCE’s como natureza jurídica de Mercados de Derivativos e
Valores Imobiliários
Visam isentar o lucro decorrente das cessões de RCE’s do lucro tributável dos
PIS/COFINS, IRPJ e CSLL e reconhecer a natureza jurídica de valor mobiliário para
efeito de regulação, fiscalização e sanção por parte da Comissão de Valores Mobiliários
- CVM, sujeitando-se, portanto, ao regime da Lei supra mencionada.
Sobre a possível incidência dessas espécies tributárias nas cessões de RCE’s por uma
entidade brasileira a uma entidade estrangeira, Natrille de Almeida[15] (2005) afirma:
2576
exportação de Créditos de Carbono estarão protegidas da incidência dos PIS e da
COFINS por força da imunidade, encontrada no artigo 149, parágrafo 2º, inciso I da
Constituição Federal.
Dessa forma, entendemos que as RCES possuem natureza jurídica distinta tanto
com relação as commodities, quanto dos títulos e dos valores mobiliários, por não
possuírem nenhuma característica compatível com estas, sendo um certificado com
natureza anômala. Só podemos enquadrá-las dentro da classificação de bens
incorpóreos/intangíveis, até o presente momento. É de suma importância que as RCES
tenham natureza jurídica não anômala, dentro do cenário nacional, para que as
regulamentações sejam corretas, dando segurança jurídica no “mercado de carbono”, e
até mesmo para os que estão querendo aderir ao mercado de redução de emissão de gás
carbônico. Mister se faz que o legislador pátrio enfrente esta barreira e qualifique com
exatidão a natureza jurídica das RCES, sob pena de começarmos um negócio jurídico
sem segurança e sem técnica. Em entendimento recente a Comissão de Valores
Mobiliários manifestou sobre a possibilidade de aquisição de créditos de carbono por
fundos de investimentos, bem como as formas de financiamento de projetos de
mecanismo de desenvolvimento limpo por meio do mercado de valores mobiliários. De
acordo com a CVM, os referidos créditos não devem ser reconhecidos como derivativos
ou titulo de investimento coletivo, pois seria inconveniente caracterizá-los como valores
imobiliários por meio de edição de lei, tendo em vista a forma de emissão desses
instrumentos, desta feita, não seriam valores mobiliários e sim, ativos.
Por outro lado, cumpre ressaltar que, caso sejam caracterizados como valores
mobiliários, os RCE’s representariam bens tangíveis, o que conferiria aos RCE’s uma
maior circulabilidade, fazendo-se necessário o estabelecimento de nomenclatura
específica, em especial para fins de negociação.
No que concerne à tributação, caso se entenda que os RCE’s se constituem como “valor
mobiliário”, qualquer pretensão de se tributar operações relacionadas por meio de
impostos específicos como o ICMS e o ISS seriam claramente ilegais e
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inconstitucionais, sendo cabível apenas a eventual tributação pelos resultados
financeiros positivos oriundos da negociação dos RCE’s.
Em síntese, embora haja projeto de lei optando pela definição da natureza jurídica dos
créditos de carbono como valores mobiliários ou pareceres da Comissão de Valores
Mobiliários, essa classificação também é alvo de críticas vis-à-vis especialmente a
legislação vigente aplicável ao tema, dado que os RCE’s não poderiam ser enquadrados
como nenhuma das espécies de valores mobiliários previstas no artigo 2º da Lei nº.
6.385/76.
No caso específico, a Receita Federal entendeu que a empresa sob consulta não deve
pagar PIS/COFINS na comercialização do certificado por tratar-se da cessão de direito
para o exterior nos termos do artigo 14[16], inciso III e § 1°, da MP 2.158-35/2001.
Entretanto, esta sujeita, para fins de apuração do IRPJ, ao percentual de presunção do
lucro presumido previsto na letra “c”, do inciso III e § 1°, do artigo 15[17] – (Lei n.
9.249/1995).
A empresa que realizou a consulta opta pelo lucro presumido, ou seja, com faturamento
de até R$ 48 milhões, e sendo a RCE classificada como cessão de direito ou serviço, o
percentual de imposto de renda a ser recolhido será de 4,8% para um faturamento de até
R$ 62,5 mil e de 8% sobre o valor que exceder a este montante. Indiretamente a Receita
esclareceu que o RCE’s seria um serviço, e não uma commodity.
2578
presunção de 32% para fins de apuração da base de cálculo do imposto de renda da
pessoa jurídica (IRPJ)”.
Em que pese posicionamentos divergentes, entendemos que a RCE não pode ser
tributada pelo ISS, por não existir previsão na Lei Complementar nº. 116, de 2003, que
regulamenta a tributação dos serviços. Além disto, o certificado não é uma obrigação de
fazer, como mencionado anteriormente, característica necessária para a cobrança do
imposto municipal.
Isto posto, a referida resposta a consulta denota uma visão, em nosso entender,
equivocada das autoridades fiscais acerca da natureza jurídica dos certificados de
emissão reduzida, caracterizando-os como uma espécie de “serviço” que comporia a
“receita bruta” das pessoas jurídicas tributadas pelo método do lucro presumido, o que,
conforme aludimos anteriormente, não se coaduna com o regramento aplicável a tais
direitos.
Em razão das incertezas em relação à questão fiscal, algumas empresas brasileiras que
têm RCEs para comercializar têm optado por tratar o mercado de RCE’s de maneira
conservadora e os classificado como "outras receitas".
Desse modo, a solução da consulta não trouxe grandes novidades, vez que muitas
empresas consideram o RCE’s como cessão de direito não se confundindo com a
prestação de serviços.
Na verdade, o que existe até o presente momento são dois tributos internacionais
incidentes no MDL pelo Protocolo de Kyoto[18], através do artigo 12, inciso 8° com
finalidades distintas e destinação específica, senão vejamos:
A Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo deve
assegurar que uma fração dos fundos advindos de atividades de projetos certificadas
seja utilizada para cobrir despesas administrativas, assim como assistir às Partes países
em desenvolvimento que sejam particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da
mudança do clima para fazer face aos custos de adaptação.
Dessa forma, uma convenção para evitar a dupla tributação da renda é uma norma de
repartição de competências tributárias. Ao celebrá-la, um estado abre mão de parte de
sua soberania em favor de outro estado contratante de forma a evitar a dupla tributação
dos rendimentos tratados pela convenção, (PASSOS DE SOUZA, 2005, p. 54).
Além disso, no Brasil, são as normas de direito interno que fornecerão o arcabouço
normativo apto a definir as incidências tributárias sobre as negociações dos certificados
2579
de emissão reduzida nos mercados voluntários e que está intimamente ligado à
tributação da renda gerada a partir destas operações.
O inciso III do artigo 153 da Constituição Federal dispõe como elemento material que
“Compete à União instituir impostos sobre a renda e proventos de qualquer natureza”. O
§ 2º do mesmo artigo dispõe que “O imposto previsto no inciso III será informado pelos
critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade, na forma da lei”.
O Código Tributário Nacional, por sua vez, dispõe, em seu artigo 43 e incisos I e II que:
“O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza
tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda,
assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; e de
proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não
compreendidos no inciso anterior”.
Entretanto, a cobrança desse tributo por ser derivada de receita oriunda do exterior,
aplica-se a este caso a imunidade prevista no inciso I, art. 149, § 2° da Constituição
Federal/88.
Ainda existem polêmicas sobre a tributação pelo Fisco do IRPJ e da CSLL nas
transações do mercado de RCE’s no país por violar as diretrizes e princípios do
Protocolo de Kyoto que foram ratificados pelo Brasil e pelo STF. Alguns doutrinadores
2580
alegam que não caberia ao Fisco juízo de valor acerca da questão, tanto em razão do seu
caráter supranacional, quanto pela inexistência de uma norma explícita prevendo esta
isenção no tratado.
Entretanto, existem outras questões que merecem considerações, sendo que algumas são
análises e reflexões exclusivamente dos autores que atentam para a necessidade do país
criar e desenvolver novos modais para as questões que envolvem mudanças climáticas,
bem como implementar mecanismos regulatórios efetivos, sejam públicos ou privados,
para a mitigação do aquecimento global e das mudanças climáticas, assim vejamos:
O que nos parece é que, a intenção precípua dos organismos multilaterais, é fomentar o
desenvolvimento com sustentabilidade, estabilizar a concentração de GEE’s na
atmosfera, sem onerar através de uma tributação arrecadatória a quem se propõe a
desenvolver projetos de MDL ou outros, vez que de certa maneira já são tributados no
âmbito internacional (um percentual do seu valor para a ONU e outro para o fundo de
adaptação do Protocolo).
Dessa forma, dentre os princípios e diretrizes do Protocolo estão: (i) o compromisso dos
países desenvolvidos em prover recursos para a implementação dos projetos de redução
de emissões nos países em desenvolvimento, (ii) a promoção e o financiamento para o
acesso a tecnologias ambientalmente seguras, (iii) um ambiente propício no setor
privado visando à transferência de tecnologia e, por fim, (iv) a divisão adequada do
ônus de implementação destes projetos entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento.
2581
mesmo com os compromissos que esta Parte assumiu perante a Convenção e o
Protocolo, pois não seria incentivado o investimento de recursos financeiros nacionais e
internacionais em atividades de projeto de MDL hospedados no país.
Antes de responder essas questões é importante ressaltar que sempre houve na história,
principalmente do pensamento econômico, autores como David Ricardo, Malthus, Karl
Marx, que de certa maneira inter relacionaram economia e meio ambiente. Karl Marx,
por exemplo, nos deixou como principal legado a concepção de que o capitalismo
transforma tudo em mercadoria, sintetizada na idéia de “subsunção da natureza ao
capital”.
Analisamos que, muito embora os projetos de MDL sejam na maioria realizados pelo
setor privado e comercializados via mecanismo de mercado podem ser considerados
como mecanismos de políticas públicas, pois a participação do governo é necessária
para criar condições de viabilidade e competitividade propiciando a diminuição da
burocracia e a constituição de políticas claras para a promoção do desenvolvimento
sustentável com a convergência nos âmbitos socioeconômicos, ambiental, político-
cultural e geográfico-espacial.
2582
Entretanto, é necessário atentar que o Brasil ainda é incipiente no tocante as áreas que
deveriam ter investimentos de melhoria como infraestrutura, educação, inovação,
patentes, ciência & tecnologia e recursos naturais.
Apenas para ilustrar mencionamos como exemplo o caso da Lei 11.097/05 que dispõe
sobre a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira, que muito embora, seja
quase consenso nacional a importância de incentivos nessa área, não houve adequação
legal nos seus aspectos tecnológicos.
Além de que, nesta mesma lei, foi vetada a criação de fontes de financiamento para
programa de produção de biodiesel e, recentemente em 2009, mais o governo vetou a
decisão de ressarcir as contribuições para o PIS/Pasep e COFINS incidentes sobre o
valor de matérias-primas compradas da agricultura familiar ou cooperado pessoa física.
Atualmente, uma das grandes celeumas fica em torno do novo Código Florestal, por um
lado, os produtores rurais que argumentam que para crescer o país tem que flexibilizar
as leis ambientais, por outro lado, os ambientalistas que contestam o capitalismo
exacerbado em detrimento dos impactos negativos ao meio ambiente.
Seria cômico, se não fosse trágico a postura do governo que nos idos anos de 1960 a
1980 instituiu políticas públicas, com incentivos e financiamentos de programas[19] aos
produtores que cultivassem no cerrado, várzeas e outras áreas, hoje consideradas de
preservação permanente, isto é, outrora áreas legalmente incorporadas ao processo
produtivo e com incentivo do próprio governo terão que ser pela atual legislação
ambiental, recuperada pelos produtores que se beneficiaram da proposta governamental
a época. Que país é esse? Não seria um caso de violação por parte do governo de um
dos preceitos basilares constitucionais o - direito adquirido? Ademais, a lei somente
retroagirá se for para beneficiar, segundo o princípio da irretroatividade legal.
2583
Na dimensão social é necessária política distributiva e eqüitativa dessa produção
ampliada e o acesso social à riqueza material produzida;
Aliás, essa última dimensão cria importante espaço para reflexões e ações, não
apenas com o intuito de mitigação dos impactos ambientais das atividades humanas,
mas também o resgate de passivos ambientais como a recuperação da qualidade do ar,
de mananciais hídricos, de fauna e flora degradadas, enfim, o cuidado e o uso da
natureza como fonte de qualidade de vida.
Utopia? Creio que não. Basta aliar vontade política e participação democrática da
sociedade nas questões relevantes do país, e a hora, é agora, além de que, não pode
existir um esforço de investigação política íntegro sem uma “pitada” de utopia[20].
2584
de tributos a esse mercado voluntário, bem como é imperativa a obediência do governo
as normas de finanças públicas e de responsabilidade na gestão fiscal, em cumprimento
ao artigo 163, inciso I da Constituição Federal.
Nesse raciocínio, mesmo a Lei de responsabilidade fiscal[21] em seu artigo 14 não faz
qualquer menção quanto à proibição da renúncia de receita, apenas estabelecendo
exigências e parâmetros para tal ação, além de que somente se aplicará ao que a
doutrina nomeia aos “incentivos onerosos” que causam uma redução de receita esperada
previamente prevista no orçamento.
Assim, diante das questões analisadas no presente artigo, os autores propõem algumas
premissas que tanto o Brasil quanto os outros países em desenvolvimento podem e
devem investir:
2585
?Na infra-estrutura e no capital humano qualificado para desenvolver modelos
específicos para cada região;
?Na discussão e adoção de metas internas e externas de redução das emissões dos
GEE´s (Gases de efeito estufa) na oportunidade de criação do Plano Nacional de
Mitigação das Mudanças Climáticas;
?Na criação leis específicas que isentem de tributos todos os agentes que participarem
da execução de projetos de MDL como forma de dinamizar o mercado interno e a
preservação do meio ambiente;
?Na priorização de incentivos, tais como ações para aumentar o valor econômico da
floresta em pé, e instrumentos econômicos, como o aumento do perfil ambiental das
2586
fontes de financiamento, como partes integrais da estratégia de gestão ambiental do
governo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além disso, existem outras áreas que as políticas públicas serão essenciais para a
adaptação eficaz e eficiente. De acordo com o Relatório do Banco Mundial (LA
TORRE, FAJNZYLBER, NASH, 2009, p.59-63) há necessidade de:
2587
?Fortalecimento do manejo de recursos naturais concentrando-se especialmente em
administrar a variação dos fluxos hídricos e aumentar a resistência dos ecossistemas;
Por outro lado, o poder público tem a prerrogativa de dinamizar, com a responsabilidade
sustentável que lhe cabe, as negociações decorrentes do mercado de RCE’s, através de
legislações e políticas públicas eficazes, o que, seguramente, atrairia investidores
almejados para o país e alcançaria os objetivos propostos pelo Protocolo de Kyoto.
Em que pese todas as celeumas existentes sobre a matéria e nos valendo de vários
estudos realizados para a presente pesquisa, nos filiamos a corrente que apregoa a
definição dos créditos de carbono como sendo bens de naturezas incorpóreas,
intangíveis, passíveis de negociações, através dos mercados competentes.
Nesse sentido, cabe ao estado como ente regulador das atividades econômicas intervir e,
ao mesmo tempo, fomentar os mecanismos de proteção ao meio-ambiente para, através
da extrafiscalidade e do atendimento aos princípios que regem a tributação e a proteção
ao meio ambiente, gerar condições no sentido de implementar de modo mais efetivo,
2588
por um lado, a competitividade nos mercados de RCE’s nacionais e, por outro, a
proteção do meio ambiente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, Aires F. ISS na Constituição e na Lei. São Paulo: Dialética, 2005, p.294-
295.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 15ª ed. São Paulo: Saraiva.
1999, p. 31.
2589
MELLO, José Eduardo Soares de. ICMS: Teoria e Prática. São Paulo: Dialética,
2005.
SOARES DE MELO, José Eduardo. ICMS Teoria e prática. São Paulo: Dialética,
2004, p.16
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. São Paulo: Atlas, 2005, 2005,
p.329.
WUNDER, Sven; THE, Bui Dung: IBARRA, Enrique. Payment is good, control is
better: why payments for environmental services in Vietnan have so far remained
incipient. Bogor (Indonesia): CIFOR, 2005
2590
___________. The efficiency of payments for environmental services in tropical
conservation. Conservation Biology, 21 (1), 2007, p. 48-58.
2591
milhões de euros, com o preço da tonelada a 19,20 euros - o que gerou um ágio de
35,2% em relação ao preço mínimo do leilão, que era de 14,20 euros.
(http://www.ambientesustentabilidade.com.br/noticia.php?id_noticia=55&pag=0).
[5] VENOSA, S.S. Direito Civil. Parte Geral. São Paulo: Atlas, 2006.
[11] Amyra El Khalili, Quem será beneficiado pelos créditos de carbono? Reportagem
disponível em
<http://www.comciencia.br/reportagens/clima/clima04.htm>.
[12] No ano de 1969 aprovou-se, na Costa Rica, uma Lei Florestal que previa a
concessão de incentivos econômicos, principalmente exonerações de impostos aos que
plantavam árvores. Posteriormente, uma nova legislação veio a produzir algumas
mudanças nos incentivos oferecidos, tratando não apenas de abarcar um maior número
de beneficiários, mas também as atividades de conservação. Se bem que estas alterações
tenham melhorado o sistema de incentivos e reverteram a taxa de deflorestação, a
floresta e as árvores em pé, ainda, eram vistos apenas pelo seu valor como madeira ou
produtos florestais. Recentemente, esta visão mudou ao sentir-se a influência de
elementos do setor conservacionistas que vêem na floresta uma fonte de produtos e
benefícios não madeiráveis. Estes vêem na floresta o habitat onde vive a maioria dos
seres vivas e em especial, muitas espécies em perigo de extinção, de onde são extraídas
plantas medicinais, mananciais de água potável, e beleza paisagística. Assim, começou
a tomar-se consciência dos múltiplos benefícios fornecidos pela floresta e não apenas do
seu valor como madeira, favorecendo a idéia, na Costa Rica, da floresta como fonte de
serviços ambientais (RUSSO & CANDELA, 2006). Estes serviços ambientais são
definidos como os serviços disponibilizados pelas florestas e as plantações de árvores
que apresentem um efeito direto sobre a proteção e melhoria das condições ambientais.
Estes incluem certificados de emissões de gases que provocam efeito de estufa, proteção
2592
da água, proteção da biodiversidade (com objetivos de preservação e objetivos de
investigação científica, nomeadamente farmacêutica), proteção de ecossistemas, formas
de vida e lugares de beleza paisagística (para fins científicos e recreativos) etc. O
governo concede estes pagamentos pelos serviços ambientais a proprietários privados de
terras, por um período de cinco anos. No que diz respeito ao financiamento, no País
existe um imposto sobre os combustíveis de 5%, cujos fundos são utilizados para
financiar o programa. Contudo, o mais inovador neste processo é que, para além dos
fundos deste imposto, a Costa Rica vende créditos de carbono através de projetos de
Implementação Conjunta desenvolvidos, de acordo com o estabelecido na Convenção
das Nações Unidas sobre Mudança Climática e estes fundos também são utilizados para
financiar os pagamentos aos proprietários. Por exemplo, o governo da Noruega
comprou créditos de carbono à Costa Rica no valor de 2.000.000 dólares americanos.
Quando se efetuam estes pagamentos, faz-se um contrato obrigatório inscrito no
Registro de Propriedade entre os proprietários que vendem o seu serviço ambiental de
fixação de carbono e o governo (RUSSO & CANDELA, 2006).
[16] Artigo 14. Em relação aos fatos geradores ocorridos a partir de 1° de fevereiro de
1999, são isentas das COFINS as receitas:
2593
...
[17] Artigo 15. A base de cálculo do imposto, em cada mês, será determinada mediante
a aplicação do percentual de oito por cento sobre a receita bruta auferida mensalmente,
observado o disposto nos artigos 30 a 35 da Lei n. 8.981 de 20 de janeiro de 1995.
§ 1° Nas seguintes atividades, o percentual de que se trata este artigo será de:
...
...
[18] Do artigo 12 depreende-se que o Protocolo de Kyoto previu dois tributos aplicáveis
ao MDL: um para cobrir despesas administrativas e outro para auxiliar as Partes mais
vulneráveis em sua adaptação aos efeitos adversos da mudança global do clima. O
tributo para fazer face aos custos de adaptação foi definido em 2% (dois por cento) da
quantidade total de RCEs emitidas para o projeto de MDL, sendo que os projetos
hospedados nos países menos desenvolvidos são isentos deste tributo internacional, nos
termos do artigo15 da Decisão 17/CP.7.
Por sua vez, a Decisão acima referida determinou que a Conferência das Partes
estabelecesse, mediante recomendação do Conselho Executivo do MDL, o montante da
fração a ser cobrada para cobrir as despesas administrativas, o que foi feito por meio do
artigo 37 da Decisão7/CMP.1.
2594
[21] Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária
da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto
orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois
seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das
seguintes condições:
I - às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art.
153 da Constituição, na forma do seu § 1o;
2595