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ISO/TS

24154
Primeira Edição

15 NOV 2005

Hidrometria — Medição de velocidade e descarga líquida


de rios com perfiladores acústicos Doppler

1 Âmbito de atuação

Perfiladores Acústicos Doppler são instrumentos e pacotes de aplicativos utilizados para mensurar a
velocidade da água, a batimetria do canal e a descarga líquida de rios. Esta especificação técnica
reúne os princípios de operação, construção, manutenção e aplicação de perfiladores acústicos
Doppler para medir velocidade e descarga líquida de rios. Além disso, discorre sobre tópicos de
calibração e verificação.

Aplica-se a medições de fluxo em canais abertos com um instrumento acoplado a uma embarcação
em movimento. Não se aplica a medições de fluxos líquidos em pequenos canais ou tubulações
parcialmente preenchidas, utilizando um único medidor de fluxo baseado em Efeito Doppler,
localizado em um ponto fixo da seção transversal.

2 Referências Normativas

Os documentos referenciados na norma ISO abaixo são indispensáveis para a correta aplicação
deste documento. Quanto às edições obsoletas nela contidas, apenas as atuais se aplicam. Para as
referências sem menção de data, aplica-se a última edição do documento referenciado (incluindo
qualquer emenda).

ISO 772, Designações Hidrométricas — Vocabulário e símbolos

3 Termos e definições

Para os propósitos deste documento, aplicam-se os termos e definições fornecidos na norma ISO
772, acrescidos dos seguintes.

Tradução: Anderson Lima do Nascimento – Especialista em Recursos Hídricos


Gerência de Planejamento da Rede Hidrometeorológica – GPLAN
Superintendência de Gestão da Rede Hidrometeorológica – SGH
Agência Nacional de Águas – ANA
1
3.1 Efeito Doppler (em geral)

Alteração na frequência de uma fonte sonora à medida que ela se aproxima ou se afasta de um
observador.

3.2 Efeito Doppler (em instrumentos acústicos baseados no Efeito Doppler)

Divergência ou alteração na frequência de ondas sonoras emitidas quando elas são refletidas de
volta por contato com partículas em movimento presentes na água.

3.3 Medidores de fluxo baseados no Efeito Doppler

Categoria de instrumentos que utiliza o princípio do Efeito Doppler para calcular velocidade da água
ou descarga líquida.

Nota: Estes instrumentos podem ser dispostos em um ponto fixo da seção transversal ou em uma embarcação
em movimento.

3.4 Perfilador Acústico Doppler – PAD

Instrumento que utiliza o princípio do efeito Doppler para calcular velocidade da água e descarga
líquida.

Nota: Esse instrumento é geralmente acoplado a uma embarcação que percorre o canal do rio em uma trajetória
perpendicular ao fluxo.

3.5 Amostra acústica

Série de pulsos acústicos, de uma dada frequência, transmitidos por um instrumento acústico
Doppler.

3.6 Vertical de amostragem

Coleção de amostras acústicas.

Nota: Devido a um relativamente elevado nível de erro resultante de medições oriundas de uma única amostra
acústica, os resultados de mais de uma dessas amostras são geralmente tomados pela média, para se obter
uma medição individualizada.

Tradução: Anderson Lima do Nascimento – Especialista em Recursos Hídricos


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3.7 Travessia

Coleção de verticais de amostragem advinda de uma única passagem realizada ao longo da


transversal de um rio, lago ou estuário.

Nota: Ao medir uma correnteza com um PAD, uma travessia pode se constituir em uma medição individual de
descarga líquida.

4 Histórico

Instrumentos acústicos Doppler para medição de velocidade da água têm sido utilizados nos últimos
25 anos, inicialmente no estudo de correntes e estuários oceânicos. Nos anos 1980, instrumentos
acústicos Doppler começaram a ser utilizados para realizar medições de velocidade a partir de
embarcações em movimento (GORDON, 1989; SIMPSON, 1993). Os primeiros foram instrumentos
acústicos Doppler de banda de freqüência estreita, os quais exigiam águas profundas (superiores a
3,4 m de profundidade). Isso limitava o seu uso a rios profundos e estuários. Em 1992, um
instrumento acústico Doppler mais avançado, conhecido como um perfilador de corrente acústico
Doppler de banda larga, foi desenvolvido para poder ser utilizado em medições de velocidade em
águas rasas (até 1,0 m de profundidade) com um elevado grau de resolução vertical (0,10 m).

Durante toda a década de 1990, perfiladores acústicos Doppler foram ininterruptamente


desenvolvidos e intensificados por diversos fabricantes. Esses instrumentos têm sido aperfeiçoados
desde unidades muito incômodas e pesadas – que tinham 1 m de comprimento e pesavam algo em
torno de 50 kg, até atingirem unidades compactas e leves – com 14 cm de comprimento e peso de 7
kg. Os perfiladores acústicos Doppler agora incluem instrumentação acústica avançada, projetada
especificamente para utilização em rios, bem como aplicativos para determinar – em tempo real e
durante um pós-processamento, as medidas de velocidade e de descarga líquida de rios. Perfiladores
acústicos Doppler (3.3) são utilizados costumeiramente para medirem descarga líquida em estuários,
rios e canais onde técnicas convencionais de medição de descarga líquida são ou muito dispendiosas
ou impossíveis devido à estratificação do fluxo. Eles são, também, comumente utilizados para medir
descarga líquida em grandes rios, em parte devido à economia de custos e à redução de incertezas
atribuídas a mudanças menores nos valores de descarga líquida durante as medições.

5 Princípios de operação

Em medições realizadas com o uso de embarcações em movimento, o instrumento acústico Doppler


é acoplado a uma embarcação (geralmente um barco motorizado) que se move ao longo do corpo
hídrico em direção perpendicular à da corrente cujo valor está sendo medido. As velocidades
pontuais da água são medidas pelo instrumento acústico Doppler, o qual transmite pulsos acústicos
ao longo de três ou quatro feixes direcionais, em uma freqüência constante, situada entre 75 kHz e
3.000 kHz. Esses feixes direcionais estão posicionados com ângulos horizontais precisos entre si
(120° para os instrumentos de 3 feixes e 90° para os de 4 feixes), conforme consta na Figura 1. Os
feixes estão posicionados sob um ângulo conhecido com relação à vertical, normalmente 20° ou 30°.
O instrumento detecta e processa ecos ao longo de toda a coluna d’água percorrida por cada feixe.

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Figura 1 — Representação esquemática de um instrumento acústico Doppler com uma
configuração de 4 feixes.

A alteração na frequência entre ecos sucessivos é proporcional à velocidade relativa entre o


instrumento acústico Doppler e a matéria em suspensão na água, a qual reflete os pulsos de volta
para o instrumento. Essa troca de frequência é conhecida como Efeito Doppler. O instrumento
acústico Doppler utiliza o Efeito Doppler para calcular uma componente da velocidade da água ao
longo de cada feixe, e o aplicativo do sistema calcula a velocidade da água em três direções
utilizando relações trigonométricas. As velocidades são estabelecidas em intervalos predeterminados
chamados compartimentos, ao longo do percurso acústico. Os parâmetros de inicialização do
instrumento podem ser ajustados para otimizar o sistema para cada seção transversal de rio a ser
medida. Estes parâmetros incluem a altura das células pertinentes a cada medição vertical, a
quantidade dessas células, o número de amostras acústicas e os comandos referentes à velocidade.

As medições de velocidade da água incorporam ambas as velocidades: a real da água e a do barco.


Esta velocidade pode ser medida utilizando o Efeito Doppler a partir de pulsos acústicos distintos
refletidos a partir do leito do rio. Essa técnica, referida como rastreamento de fundo, é
frequentemente utilizada; seu uso inicial ocorreu com os primeiros sonares, para medir a velocidade
de uma embarcação em movimento. Em complemento à medição de velocidade do barco, a
profundidade do rio é estimada a partir da amplitude dos ecos de rastreio de fundo (ecos que
retornam desde o leito). Sistemas de posicionamento global diferenciais de tempo real (DGPS – sigla
1
a partir do original, em inglês ) provêem uma técnica alternativa para medir a velocidade do barco.

Quando o instrumento acústico Doppler é utilizado para medir vazões, ele transmite uma série de
pulsos acústicos conhecidos como amostras acústicas (3.5). Aquelas destinadas a medir velocidades
da água são conhecidas como amostras acústicas d’água, e as correspondentes para medir
velocidade do barco são conhecidas como amostras acústicas de rastreio de fundo. Normalmente,
amostras acústicas d’água e de rastreio de fundo são intercaladas durante a transmissão. Um grupo
dessas amostras acústicas intercaladas, d’água e de rastreio de fundo, é referido como uma vertical
de amostragem (3.6). O usuário ajusta o número de amostras acústicas, d’água e de rastreio de
fundo, por vertical de amostragem. Uma vertical de amostragem é coincidente com uma coluna
vertical em uma medição de descarga líquida convencional. Por exemplo, uma vertical de
amostragem típica é composta de uma combinação de amostras acústicas d’água e de rastreio de
fundo. As velocidades e profundidades medidas para cada amostra acústica são tomadas em média
para produzir um perfil individual de velocidade e profundidade para cada vertical de amostragem. Em
uma medição de descarga líquida convencional, a velocidade é medida em um ponto na vertical
quando a profundidade é inferior a 0,8 m, e em dois, três ou cinco pontos na vertical, quando superior
a esse valor. Dependendo das suas características, um perfilador acústico Doppler pode medir
velocidades a cada 0,25 m na vertical; assim, uma vertical de amostragem para uma coluna com 10
m de profundidade pode conter até 34 medidas de velocidade.

1
Nota explicativa do Tradutor.
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6 Aplicação de perfiladores acústicos Doppler para medir descarga líquida de
rios

6.1 Instrumentação e requisitos dos equipamentos

Efetuar medidas de descarga líquida com perfiladores acústicos Doppler requer três partes principais
do equipamento: o instrumento acústico / conjunto transdutor, uma embarcação para acoplar o
instrumento, e um computador portátil. O instrumento inclui uma cápsula pressurizada que contém a
maior parte dos componentes eletrônicos e um conjunto transdutor (veja a Figura 1). O conjunto
transdutor pode ter um invólucro convexo ou côncavo. Os instrumentos vêm em uma variedade de
tamanhos, configurações de feixe direcional, e frequências, de acordo com o tamanho, as
características dos rios a serem medidos e o tipo de emprego. As unidades pequenas são inferiores a
30 cm de altura e pesam cerca de 7 kg; as grandes possuem 1 m de altura e pesam 50 kg.

O tipo de perfilador acústico Doppler empregado depende do rio a ser medido. Para rios pequenos, o
sistema pode ser montado no fundo de um pequeno barco, jangada ou catamarã. Um motor de popa
pode acionar o barco ou uma corda pode ser utilizada para puxar um pequeno barco amarrado e o
sistema de medição ao longo da seção transversal do rio. Prender uma corda em cada margem ou
atravessar o rio com uma única corda a partir de uma ponte ou duto podem ser meios para um
emprego com uso de amarração. As medições em grandes rios exigem que o perfilador acústico
Doppler esteja suspenso sobre a coluna d’água a partir de uma haste de suporte presa a um barco,
movido a gás ou com motor a diesel. Exemplos destes dois tipos de implantação são mostrados na
Figura 2.

O aplicativo do sistema processa e exibe uma grande quantidade de dados, logo um computador
portátil – com um mínimo de 200 MHz de processador e acima de 64 MB de memória RAM, é
recomendado. A tela do computador deve ser visível sob luz solar direta ou difusa.

Figura 2 — Fotos mostrando perfiladores acústicos Doppler implantados em um pequeno


barco amarrado (A) e em um barco a motor (B).

6.2 Fazendo a medição

Uma medição de descarga líquida é feita com um perfilador acústico Doppler, atravessando a seção
transversal do rio, acoplado a um barco a motor ou a um pequeno barco amarrado. Uma única
passagem, chamada de travessia (3.7), consiste de uma coleção de verticais de amostragem.

Uma travessia típica conterá de 300 a 1.000 verticais de amostragem, enquanto uma medição de
descarga líquida convencional normalmente conterá de 25 a 30 verticais. Quando se mede em

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condições de fluxo relativamente regular, quatro travessias são feitas em cada local de medição.
Pares de travessias, em posições recíprocas, são utilizados para minimizar qualquer viés direcional
que possa estar presente. Se a descarga líquida medida em uma dada travessia variar mais que 5 %
em relação à média de todas as travessias, uma segunda sequência de quatro travessias é realizada.
A média das descargas líquidas de todas as travessias é utilizada como a descarga líquida medida. O
tempo necessário para fazer quatro travessias com um perfilador acústico Doppler é normalmente
inferior a 30 min, enquanto uma medição de descarga convencional pode levar de 1 h a 2 h ou mais.

Sob condições de fluxo instável ou sujeito a mudanças bruscas, uma única travessia pode ser
utilizada como a correspondente à medição de descarga líquida. Entretanto, duas a quatro medidas
oriundas de travessias isoladas devem ser feitas para ajudar a definir e verificar a curva-chave de
descarga líquida numa estação de controle.

6.3 Calculando as medidas

Perfiladores acústicos Doppler possuem algumas limitações para medir descargas líquidas numa
seção transversal de um rio. Eles não conseguem medir as velocidades da água próximo à superfície
e junto ao leito. As velocidades da água próximo à superfície não são medidas devido à geometria do
transdutor (profundidade da face do transdutor abaixo da superfície d’água) e à distância do
instrumento correspondente a um vazio de medição. Essa distância vazia é igual à distância
percorrida pelo sinal sonoro quando a vibração do transdutor durante as transmissões evita que o
transdutor receba ecos ou sinais de retorno. A perda pela geometria do transdutor pode variar desde
0,2 m a 1 m e a distância vazia é de 0,3 m.

A velocidade em local próximo ao leito do rio não consegue ser medida devido à interferência dos
lóbulos laterais de energia sonora distantes de 30° a 40° em ângulo a partir do feixe principal. Os
reflexos energéticos desses lóbulos laterais a partir do leito do rio sobrepõem os ecos do feixe
principal refletidos em partículas próximas ao fundo da coluna d’água. Os efeitos da geometria, da
distância vazia, e da interferência de lóbulo lateral são mostrados na Figura 3.

Legenda

1 – Lóbulo lateral

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2 – Feixe principal

3 – Máximo alcance de inclinação

4 – Geometria

5 – Distância vazia

6 – Área de medição da descarga líquida

7 – Interferência de lóbulo lateral

8 – Leito do rio

Figura 3 — Diagrama esquemático de áreas onde a velocidade não é medida, próximo à


superfície da água e junto ao leito do rio.

No intuito de medir descargas líquidas de modo mais acurado, as velocidades nos locais próximos à
superfície da água e ao leito do rio devem ser estimadas. O método constante e o método da lei de
potência são os mais comumente utilizados para estimar as velocidades da água em locais próximos
à superfície da água ou ao fundo.

Com o método constante, a velocidade na superfície ou no fundo é considerada como igual à


velocidade da primeira ou da última célula, respectivamente. Esse método não é considerado
apropriado para estimar as velocidades em locais próximos ao fundo porque não representa com
exatidão as distribuições verticais típicas para um perfil de velocidades de um fluxo em canal aberto.
Num fluxo de canal aberto, a velocidade se aproxima de zero à medida que se atinge o fundo.

O método da lei de potência é baseado numa distribuição de velocidades da lei de potência. Nesse
método, um ajuste com mínimos quadrados tomado a partir das velocidades d’água medidas é obtido
utilizando a distribuição de velocidade da lei de potência. O usuário pode selecionar o expoente da
função, o qual está normalmente ajustado para 1/6 [2]. A função é, então, utilizada para estimar
velocidades na parte não medida da coluna d’água. Conceitualmente, o método da lei de potência é
melhor para estimar a parte não-medida da coluna d’água próxima ao fundo.

Perfiladores acústicos Doppler também não medem velocidades da água próximas às margens da
seção transversal do rio que está sendo medida. Se a área correspondente à descarga líquida não
medida é assumida como sendo triangular, a velocidade para a seção não medida, ve, é estimada
pela equação de Referência [13]:

ve = 0,707 vm (1)

onde vm é a velocidade média na primeira ou na última vertical de amostragem.

A presunção de que a área de fluxo não medida seja triangular é razoável para muitas seções
transversais de rios onde o fundo gradualmente inclina-se para cima em direção à margem.
Entretanto, algumas vezes a borda da água é uma parede vertical, tal como um abismo marítimo. À
medida que o instrumento acústico Doppler se aproxima de uma parede vertical, os feixes acústicos
colidem com essa parede e causam um falso retorno de fundo. A distância na qual os feixes
acústicos colidem com essa parede depende da profundidade da água no local próximo à parede e
da orientação dos transdutores no instrumento em relação à parede. Essa distância é normalmente
igual à profundidade do canal. Velocidades para a borda não medida das seções poderiam, então,
ser estimadas pelo ajuste ve = vm. Entretanto, isso não é inteiramente exato porque a velocidade, de
fato, decresce até zero à medida que a parede se aproxima. Portanto, para as medições descritas
nesta Especificação Técnica, velocidades próximas a paredes verticais foram estimadas pela
equação seguinte:

ve = 0,91 vm (2)

O coeficiente de 0,91 fora estimado por meio dos dados apresentados na Referência [9], mostrando a
relação da distância desde uma parede lisa – expressa como a razão entre a profundidade e

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velocidade vertical média. A descarga líquida estimada para a borda, qe, pode, então, ser estimada
utilizando a equação:

qe = (C vm L dm) (3)

onde:

C é o coeficiente igual a 0,707 ou 0,91, de acordo com a forma do canal;

vm é a velocidade média na primeira ou na última vertical de amostragem;

L é a distância até a margem, a partir da primeira ou da última subseção medida com o PAD
(3.4); e

dm é a profundidade da primeira ou da última subseção medida com o PAD.

dm é medida pelo PAD.

L é medida com um cabo metálico graduado ou um dispositivo similar de medição.

Os pacotes de aplicativos desenvolvidos para perfiladores acústicos Doppler proporcionam


procedimentos para estimar a descarga líquida não medida; eles normalmente incluem algoritmos
opcionais para estimar descargas líquidas não medidas próximo às extremidades da seção
transversal, descargas líquidas não medidas devido à interferência de lóbulo lateral, e descargas
líquidas não medidas devido a distâncias vazias e à geometria do transdutor. A tela do aplicativo
normalmente proporciona uma comparação entre a descarga líquida medida e a descarga líquida
estimada para cada uma das áreas não medidas.

7 Fatores que afetam a operação e a precisão

Os fatores que afetam o desempenho de perfiladores acústicos Doppler para medições de velocidade
e descarga líquida de rios podem ser divididos quanto às características do instrumento e do
aplicativo que o acompanha, às características do rio que está sendo medido, e à formação e à
experiência dos operadores do sistema.

7.1 Características do perfilador acústico Doppler

7.1.1 Transdutores ou feixes

Instrumentos acústicos Doppler estão disponíveis em configurações de três e de quatro feixes. O


cálculo de velocidade em três dimensões requer pelo menos três feixes acústicos. O quarto feixe da
configuração Janus fornece um feixe redundante que é usado para calcular um erro na velocidade. O
erro na velocidade é usado para verificar se o fluxo é homogêneo dentro da pegada dos quatro
feixes. Um erro na velocidade significativo poderia indicar fluxo extremamente turbulento ou uma
velocidade de feixe ruim ou corrompida.

O ângulo dos feixes a partir da vertical (normalmente 20° ou 30°) afeta o desempenho do sistema.
Quanto maior o ângulo, aumenta o cone do raio e o montante da coluna de água que está sendo
medida; entretanto, também aumenta a interferência dos lóbulos laterais. A perda de escala de perfis
verticais devido à interferência dos lóbulos laterais é de 15%, com um ângulo de 30°, e de 6%, com
um ângulo de 20°.

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7.1.2 Tamanho e frequência

O tamanho e a frequência do perfilador acústico Doppler a ser utilizado depende das características
do rio que está sendo medido e da plataforma utilizada para a implantação. Em rios profundos, uma
unidade grande montada em um barco a motor é utilizada. A profundidade do rio determina a
frequência do sistema a ser usado, pois quanto maior a frequência do sinal transmitido, maior é a
atenuação do sinal acústico e, portanto, menor a faixa utilizável. Uma unidade de 300 kHz pode ser
usada para uma profundidade de 130 m, enquanto uma unidade de 1.200 kHz pode ser usada para
uma profundidade de cerca de 20 m. Um perfilador de 300 kHz normalmente tem invólucros com
tamanho mínimo de 0,20 m a 1,0 m. Um perfilador de 1.200 kHz utiliza invólucros com tamanho
mínimo de 0,05 m a 0,25 m.

Pequenos rios com fluxo tranquilo podem ser medidos com perfilador acústico Doppler instalado em
pequena lanchas ou barcos com amarração ou catamarãs. Novos modelos de sistemas de 1.200 kHz
e 1.500 kHz são capazes de medir rios com profundidades tão rasas quanto 0,3 m.

7.2 Características do rio e do canal

As características do rio e do canal irão afetar o desempenho e o funcionamento de perfiladores


acústicos Doppler para a tomada de medidas de velocidade e de descarga líquida. Um rio com um
canal central muito profundo e canais laterais rasos ou bancos de areia pode causar problemas para
a medição com um sistema único, pois a frequência ideal e a configuração dos parâmetros internos
do sistema será diferente para as partes profunda e rasa do canal. Isso pode adicionar um grau de
incerteza às medições. A incerteza sobre a descarga líquida também é afetada pelo grau de
flutuações turbulentas presente no trecho do rio. Essas flutuações de velocidade e de fluxo não são
incomuns e podem ser medidas pelo perfilador. Flutuações geralmente não são perceptíveis em
medições de descarga líquida realizadas com as técnicas convencionais da área de velocidade.

O número de partículas em suspensão na água pode afetar a incerteza da medição de velocidade.


Muito poucas partículas podem resultar em um número limitado de sinais de retorno oriundos de cada
célula das verticais de amostragem, embora haver muito poucas partículas seja algo raro. Excesso de
partículas em suspensão é a ocorrência mais comum, especialmente durante os fluxos de inundação.
A penetração dos pulsos acústicos para profundidades mais baixas é reduzida com o aumento da
concentração de sedimentos em suspensão.

Rios com uma grande parte da carga de sedimentos transportados como arrasto de fundo, ou com
concentrações elevadas de sedimento perto do leito, apresentam outros problemas [8]. Nesses
casos, as medições de rastreio de fundo estão contaminadas com retornos de sedimentos próximos
ao leito. Como resultado, medições de rastreio de fundo da localização do barco estarão localizadas à
montante da verdadeira localização e medidas de velocidade tenderão a ser baixas porque o
perfilador acústico mede não apenas a velocidade do barco, mas também a velocidade dos
sedimentos se movendo perto do leito. A mudança de configuração do leito móvel impede o modo de
rastreamento de fundo do perfilador acústico Doppler de medir com precisão a travessia da
plataforma de medição e a largura do rio. Um DGPS pode ser usado para medir a posição e a
velocidade do barco, porém, utilizar uma velocidade de referência externa introduz erros potenciais
adicionais na velocidade da água e nas medições de descarga líquida.

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7.3 Formação e experiência dos operadores

Como acontece com qualquer equipamento de medição de velocidade e de descarga líquida, a


precisão das medições de velocidade e de descarga líquida feitas com um perfilador acústico Doppler
depende da formação e da experiência dos operadores. Isto inclui ambos os operadores – do barco e
do sistema, quando um barco a motor é usado em grandes rios. O operador do barco deve ter
experiência suficiente para manter um curso exato, durante a operação do barco, a uma velocidade
mais lenta do que a da corrente medida. O operador também deve operar a embarcação de modo a
2
minimizar os movimentos de sobe e desce da proa – também conhecido como arfagem , e de giro em
torno do eixo longitudinal, os quais podem, ao contrário, reduzir a precisão da medição.

Um operador experiente é necessário para configurar o perfilador acústico Doppler no intuito de


otimizar as medições diante das condições do rio. Isso inclui configurar o modo de medição do
instrumento e os parâmetros de amostragem programáveis, incluindo a altura das células, o número
de células em cada vertical, o tempo de amostragem, e a referência de velocidade.

8 Verificação

Uma limitação dos perfiladores acústicos Doppler é a falta de um sistema de calibração e de


verificação independente. A calibração é limitada às especificações fornecidas pelos fabricantes. A
verificação é efetuada por vários métodos. Medições de descarga líquida de perfiladores acústicos
Doppler são verificadas por meio de medições comparativas utilizando técnicas tradicionais de
medição de velocidade-área (ver ISO 748). Na maioria dos rios, isso consiste de diversos grupos
fazendo sondagens de profundidade e medições de velocidade com medidores de corrente de eixo
vertical ou horizontal, ao longo de uma seção transversal medida, enquanto a medição do perfilador
acústico Doppler está sendo feita. Esta técnica oferece uma comparação da descarga líquida medida
pelo perfilador acústico Doppler, mas não fornece uma medição independente do perfil de velocidade.
O Escritório de Hidrologia na China fez alguns testes comparativos com ambos os perfiladores
acústicos Doppler – os fixos e os acoplados em pequenos barcos, e com medidores de corrente
convencionais. Eles avaliaram as velocidades em pontos diferentes na vertical, bem como a
distribuição de velocidade global, e eles encontraram uma boa correlação entre as velocidades
obtidas por perfiladores acústicos Doppler e por medidores convencionais [1].

As medições de velocidade de perfiladores acústicos Doppler são verificadas, em certa medida, nos
tanques de reboque que são utilizados para calibrar medidores de corrente de eixo horizontal – e
vertical, e para a concepção de embarcações navais. Os perfis são montados em um carrinho de
reboque e rebocados através do tanque a uma velocidade constante. No entanto, um relativamente
largo e profundo (acima de 4 m) tanque de reboque é necessário para evitar interferência de fundo e
de paredes laterais. Variação na retrodispersão do material introduzido no tanque de reboque para os
testes causou algumas incertezas. Alguma verificação de perfiladores acústicos Doppler fora
3
realizada pelo Centro de Pesquisa Geológica dos EUA (USGS – sigla a partir do original, em inglês )
e pelo Serviço Oceânico Nacional [11] com base na bacia-modelo David Taylor, em Carderock,
Maryland. A bacia-modelo possui 15,5 m de largura e 6,7 m de profundidade.

O Centro de Pesquisa Geológica dos EUA também está investigando um método de campo para
verificar perfiladores acústicos Doppler [6]. O método utiliza um DGPS com precisão horizontal
submétrica para verificar a distância e a velocidade de um perfilador acústico Doppler percorrendo
uma travessia de 400 m a 800 m em um lago ou outro corpo hídrico com correntes mínimas.

2
Nota explicativa do Tradutor.
3
Nota explicativa do Tradutor.
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9 Construção

Em geral, perfiladores acústicos Doppler consistem de um conjunto transdutor e um pacote de


componentes eletrônicos. Os transdutores devem ser imersos em água para os perfiladores acústicos
Doppler funcionarem. Por esta razão, os componentes eletrônicos são geralmente alojados em uma
cápsula pressurizada, feita de alumínio ou de plástico. A eletrônica dentro de um perfilador acústico
Doppler inclui elementos como uma CPU e um firmware, uma bússola controladora de fluxo, e um
sensor de arfagem e de giro longitudinal.

O conjunto transdutor é, muitas vezes, diretamente ligado à cápsula pressurizada, e também pode
ser feito de alumínio ou de plástico. O conjunto transdutor é preso à cápsula pressurizada. Anéis de
vedação são usados para fornecer uma vedação estanque entre o conjunto transdutor e a cápsula
pressurizada.

A maioria dos perfiladores acústicos Doppler também possui um tampão de fundo localizado na
extremidade oposta da cápsula pressurizada. A remoção desse tampão permite acesso aos
componentes eletrônicos para manutenção. Anéis de vedação também são usados para fornecer
uma vedação estanque entre o tampão de fundo e a cápsula pressurizada. Um cabo de comunicação
está ligado à cápsula pressurizada através de um conector à prova d'água localizado no tampão de
fundo. O cabo de comunicação permite aos usuários configurar os perfiladores acústicos Doppler
usando um aplicativo processado em um computador portátil e permite ao sistema transmitir dados
para o computador portátil visando um pós-processamento.

10 Manutenção

Como acontece com muitos instrumentos eletrônicos, perfiladores acústicos Doppler não devem ser
submetidos a graves choques físicos. Eles devem estar devidamente protegidos quando em uso e
durante o transporte. Após cada uso, devem ser secos e seguramente embalados em uma caixa de
proteção.

Em geral, os perfiladores acústicos Doppler não necessitam de manutenção intensiva. Vários dos
procedimentos de manutenção comuns estão listados abaixo.

a) Inspecione e lubrifique os selos dos anéis de vedação. Se os selos se tornarem rachados ou


desgastados, eles devem ser substituídos imediatamente.

b) Inspecione o conjunto transdutor em busca de rachaduras, afundamentos, e descamação do


revestimento estanque de uretano. Se forem encontradas quaisquer anomalias que possam afetar a
estanquidade dos transdutores, a unidade deverá ser devolvida ao fabricante para reparo.

c) Verifique os anodos de zinco quanto à corrosão. Anodos provavelmente devem ser substituídos a
cada seis meses, se eles estão sendo usados em água salgada.

d) Periodicamente, limpe o perfilador acústico Doppler com água ensaboada limpa.

Tradução: Anderson Lima do Nascimento – Especialista em Recursos Hídricos


Gerência de Planejamento da Rede Hidrometeorológica – GPLAN
Superintendência de Gestão da Rede Hidrometeorológica – SGH
Agência Nacional de Águas – ANA
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Tradução: Anderson Lima do Nascimento – Especialista em Recursos Hídricos


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