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Comunicado179

Técnico ISSN 1516-8093


Setembro, 2015
Bento Gonçalves, RS

Técnicas de Detecção e
Foto: Thor V. M. Fajardo.

Estudo de Vírus em Plantas

Thor Vinícius Martins Fajardo1


Osmar Nickel2

Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios amadurecimento irregular da uva e fruta com menor
e, uma vez estabelecida a compatibilidade com teor de açúcares (BASSO et al., 2010). É importante
a planta hospedeira, replicam-se exclusivamente destacar que nem sempre a videira infectada por
pela utilização de constituintes químicos das vírus exibirá sintomas perceptíveis, pois a infecção
células hospedeiras. Assim, colonizam as células pode ser latente em algumas cultivares comerciais;
que compõem os diferentes tecidos da hospedeira entretanto, mesmo nestes casos a presença do vírus
e comprometem a integridade do organismo poderá causar prejuízos.
infectado em todos os níveis. Em decorrência disto,
ocorrem várias alterações bioquímicas, fisiológicas Uma vez que a planta esteja infectada por vírus é
e morfológicas, através da ativação e/ou bloqueio impossível curá-la adotando-se métodos tradicionais
de determinadas atividades celulares nas plantas de controle, como aqueles utilizados para outros
infectadas. Acontece uma verdadeira “batalha” patógenos a exemplo de fungos e bactérias. As
metabólica e, nas plantas suscetíveis, os vírus possibilidades de controle são comuns a todas
passam a controlar parte do metabolismo da célula as viroses, destacando-se, no campo, o manejo
parasitada. O processo infeccioso ocasionado pela visando eliminar fontes de inóculo, o monitoramento
infecção viral resultará em queda de produtividade e e o controle de vetores (BASSO et al., 2014). O
da qualidade da produção, refletindo na rentabilidade recomendado é basear o controle em estratégias
da cultura. de prevenção por meio da utilização de materiais
propagativos comprovadamente livre de patógenos
Os sintomas associados à infecção viral em espécies virais.
e cultivares suscetíveis são perda contínua e gradual
do vigor da planta, produção reduzida, coloração Com os avanços nos métodos de detecção dos vírus,
anormal das folhas, folhas com aparência atípica, verificou-se que a maioria desses patógenos em
brotação irregular, engrossamento e amadurecimento videira ocorre na forma de infecções mistas, sendo
irregular dos ramos, presença de caneluras no lenho este mais um desafio para o diagnóstico e o controle
e casca do tronco com aparência alterada, além do das doenças resultantes. As ferramentas, visando

1
Engenheiro-agrônomo, Dr., Pesquisador, Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS. E-mail: thor.fajardo@embrapa.br.
2
Engenheiro-agrônomo, Dr., Pesquisador, Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS. E-mail: osmar.nickel@embrapa.br.
2 Técnicas de Detecção e Estudo de Vírus em Plantas

o diagnóstico dos vírus que infectam a videira, casca do porta-enxerto é removida para verificar
têm evoluído ao longo dos anos, tendo começado a presença de caneluras no lenho (Fig. 1A) (LIMA;
pela indexação biológica, passando pelos testes FAJARDO, 2012).
sorológicos e moleculares. A Tabela 1 mostra uma
comparação entre as diferentes técnicas de detecção Apesar do tempo de avaliação e as variações que
de patógenos virais, abordadas nessa publicação, em podem ocorrer na reação das plantas indicadoras
relação a sensibilidade, especificidade, praticidade, em função das condições ambientais, a indexação
rapidez e custo. biológica ainda é necessária, principalmente,
para a detecção de vírus não caracterizados
Indexação Biológica molecularmente e por oferecer informações sobre
características biológicas do isolado ou espécie
No método biológico, a transmissão de vírus ocorre viral. Via de regra, a indexação biológica identifica
por meio da enxertia ou por inoculação mecânica, a virose e não especificamente a espécie viral
podendo ser realizado em dois grupos de plantas responsável pelos sintomas. Outra grande limitação
hospedeiras, denominadas indicadoras, empregadas da indexação biológica é o espaço requerido para
de acordo com a doença a ser identificada. O a manutenção das plantas até o diagnóstico final
primeiro grupo é formado por plantas lenhosas, (NICKEL; FAJARDO, 2009).
que são diferentes cultivares de copa ou de porta-
enxerto de videiras sensíveis a determinadas No caso das plantas herbáceas, a inoculação é feita
viroses e, o segundo, é constituído por plantas mecanicamente. As folhas de videira infectadas
herbáceas. A indexação em plantas lenhosas é com vírus são maceradas em tampão e o extrato
realizada para a detecção dos vírus que infectam a é friccionado na superfície das folhas dessas
videira e que são limitados ao floema, não sendo indicadoras, previamente pulverizadas com agentes
transmitidos mecanicamente. Estes pertencem às abrasivos. Estes abrasivos provocam pequenos
famílias Closteroviridae (GLRaVs) e Flexiviridae ferimentos no limbo foliar das plantas propiciando a
(GRSPaV). A indexação é feita por meio de enxertia penetração das partículas virais no tecido vegetal.
de gemas de videiras candidatas em mudas das As plantas inoculadas são mantidas em casa
videiras indicadoras, porta-enxertos ou material de de vegetação. Quando o vírus é transmitido às
copa. As plantas enxertadas são mantidas em casa plantas indicadoras, estas apresentam sintomas
de vegetação por até dois anos, quando ocorre entre 5 a 20 dias após a inoculação. Os vírus de
a avaliação final dos sintomas. Para o complexo maior importância transmitidos por este método
rugoso da videira, após o arranquio das plantas, a pertencem aos gêneros Nepovirus (GFLV), Vitivirus

Tabela 1. Comparação entre diferentes métodos de detecção de patógenos virais em plantas.

Técnica Sensibilidade1 Especificidade2 Praticidade3 Rapidez Custo


Indexação biológica (indicadoras herbáceas e
++4 ++ + + ++
lenhosas)
Testes sorológicos (ELISA, dot-ELISA, western
++ +++ ++ ++ +++
blot)
Hibridização molecular + ++++ ++ + +++
(RT-)PCR convencional +++ ++++ +++ +++ +++
(RT-)PCR one step (em tubo único) +++ ++++ ++++ ++++ +++
Multiplex (RT-)PCR +++ ++++ +++ +++ +++++
PCR em tempo real (com sondas TaqMan) +++++ +++++ ++++ +++++ +++
Clonagem, sequenciamento de nucleotídeos,
+++++ +++++ +++ ++++ +++
estudo de homologia de sequências

Legenda:
1. sensibilidade: probabilidade de detectar positivos verdadeiros.
2. especificidade: probabilidade de detectar negativos verdadeiros.
3. praticidade: exequibilidade em análises rotineiras nas etapas de execução e interpretação.
4. quantidade de “+” indica como os métodos variam com relação a cada critério considerado de aceitável (+) a ótimo (+++++).
Técnicas de Detecção e Estudo de Vírus em Plantas 3

(GVA e GVB) e Closterovirus (GLRaV-2). As mais acurada em preparações obtidas a partir de


indicadoras mais utilizadas pertencem aos gêneros folhas novas, coletadas no início do ciclo vegetativo
Nicotiana e Chenopodium (LIMA; FAJARDO, da videira (LIMA; FAJARDO, 2012).
2012).
O resultado do ELISA é determinado por uma reação
Métodos Sorológicos enzimática da fosfatase alcalina conjugada ao
anticorpo que atua sobre um substrato específico e
A sorologia apresenta diversos métodos para a a avaliação é realizada pela leitura da absorbância
detecção viral que se caracterizam pelo emprego em uma leitora de placas. Poços que receberam
de anticorpos específicos capazes de reconhecer amostras infectadas desenvolvem cor amarelada.
proteínas capsidiais. Um dos métodos sorológicos As amostras são consideradas positivas quando
mais comuns para detecção de vírus em material o valor da sua leitura for pelo menos duas vezes
vegetal é o ELISA (Enzyme-linked immunosorbent superior àquele do extrato da planta sadia, utilizado
assay). Neste, os anticorpos produzidos contra a como controle negativo. Este método apresenta
proteína capsidial de um determinado vírus são como vantagens: ser rápido, podendo-se obter os
empregados na sua detecção (Fig. 1B). Nesta resultados em um período relativamente curto (24
reação, extratos preparados pela maceração de a 48 h), ser sensível e poder ser utilizado para a
tecido vegetal infectado em tampão são utilizados avaliação de um grande número de amostras. As
como antígeno (LIMA; FAJARDO, 2012). Os limitações do teste ELISA residem no fato de não
tipos de ELISA dividem-se em dois grupos: direto, haver anticorpos produzidos comercialmente para
no qual o anticorpo e o conjugado (anticorpo a identificação de todos os vírus que infectam
+ enzima) são específicos para a detecção videira e títulos virais muito baixos podem resultar
do antígeno viral e indireto, o conjugado da em falsos-negativos. Nestes casos, outros tipos de
reação (anti-anticorpo + enzima) não detecta testes devem ser utilizados na identificação (BASSO
especificamente o antígeno, mas reconhece um et al., 2014) ou há a possibilidade de se produzir
fragmento universal do anticorpo específico. Este anticorpos específicos contra determinado vírus a
por sua vez, liga-se especificamente ao antígeno partir da expressão do gene da proteína capsidial em
viral. bactérias (FAJARDO et al., 2007).

No teste dot-ELISA, o extrato das amostras é A proteína que compõe a capa que envolve a
fixado em membrana, ao contrário do ELISA partícula viral pode ser separada por eletroforese,
tradicional, no qual as amostras são depositadas procedimento no qual as proteínas migram através
em poços de uma placa de microtitulação. Além de géis impulsionadas por uma corrente elétrica.
desta diferença, sistemas distintos de substrato As proteínas separadas são visualizadas pelo
e enzima são usados nas reações, sendo que no tingimento com corantes específicos (Fig. 1D) e a
dot-ELISA o produto da reação enzimática é um informação obtida por este procedimento, a exemplo
precipitado insolúvel e de cor púrpura (Fig. 1C). da massa molecular da proteína capsidial, auxilia na
caracterização e no diagnóstico viral.
A coleta do material vegetal a ser utilizado
no preparo dos extratos é muito importante. O Western blot é uma técnica imunoeletroforética
Considerando-se que os vírus apresentam utilizada na caracterização de proteínas virais.
distribuição irregular dentro da planta, o estádio Neste método, proteínas totais extraídas de plantas
fenológico considerado e o tipo de tecido a infectadas são desnaturadas e, posteriormente,
ser coletado devem estar associados a maior separadas em gel de SDS-poliacrilamida. Na etapa
concentração destes patógenos na planta, visando seguinte, as frações da proteína são transferidas
favorecer a sua detecção.No preparo do extrato, do gel para uma membrana. Esta transferência
tecido cambial ou pecíolos e nervuras de folhas pode ser ativa, pela aplicação de uma voltagem
maduras coletadas no final do ciclo vegetativo para propiciar a migração das proteínas do gel para
constituem fontes de antígeno ideais para a a membrana, ou passiva, na qual esta ocorre por
detecção dos vírus GLRaVs, GVA, GVB e GRSPaV, capilaridade. O processo de detecção das proteínas
enquanto que para GFLV e GFkV, a detecção é virais imobilizadas nas membranas envolve a sua
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exposição aos anticorpos produzidos contra a são visualizados por meio de eletroforese em um
proteína do vírus a ser detectado e a revelação da gel de agarose. O emprego de brometo de etídeo,
membrana utilizando-se reagentes específicos (Fig. corante mais utilizado, se intercala na molécula do
1E) (LIMA; FAJARDO, 2012). DNA e altera o comprimento de onda emitido de
uma fonte de luz ultravioleta, permitindo que este
Métodos Moleculares possa ser visualizado na forma de uma banda
(Fig. 1F). Quando nenhum DNA de tamanho
Dentre os métodos moleculares, ou seja, aqueles esperado for visualizado no gel de agarose, significa
baseados na detecção do ácido nucleico, a que a amostra vegetal não está infectada com o
transcrição reversa associada à reação em cadeia patógeno, a concentração do vírus encontra-se
da polimerase (RT-PCR) é o mais utilizado. A abaixo do limiar de detecção da técnica ou, ainda,
maioria dos vírus de plantas pode ser identificada os iniciadores utilizados não possuem suficiente
por meio desta técnica. A RT-PCR baseia-se na homologia com a sequência viral (LIMA; FAJARDO,
amplificação e detecção do material genético 2012).
dos vírus de RNA ou apenas PCR, no caso dos
vírus de DNA, em amostras vegetais infectadas. Outros métodos moleculares incluem as
Neste método pelo menos parte da sequência de hibridizações, Northern blot (utilizada na detecção
nucleotídeos do genoma do vírus a ser detectado de RNA) e Southern blot (empregada na detecção
precisa ser conhecida para dar origem aos de DNA). Em ambos os casos, o ácido nucleico
iniciadores (primers) que serão utilizados na reação. viral, imobilizado em membranas, é detectado
O processo envolve as enzimas transcriptase por meio da utilização de sondas moleculares.
reversa e Taq DNA polimerase e a reação é Estas são constituídas por fragmentos de DNA ou
automatizada pela incubação em um termociclador RNA complementares à sequência do genoma do
programado para executar a transcrição reversa vírus a ser detectado e podem ser sintetizadas e
do RNA em DNA complementar e, posteriormente, marcadas in vitro por meio das técnicas de (RT-)
executar os múltiplos ciclos da PCR, que visam PCR ou transcrição. As chamadas “sondas frias”,
à produção de um grande número de cópias aquelas que não são radioativamente marcadas, são
do fragmento alvo deste DNA. Dessa forma, a etiquetadas, geralmente, com digoxigenina. Para as
amplificação seletiva de um fragmento do genoma amostras serem consideradas positivas, deve haver
do vírus, compreendido entre dois iniciadores, é complementaridade entre a sequência utilizada
realizada a partir do RNA do vírus utilizado como como sonda e aquela do vírus presente na amostra
molde (LIMA; FAJARDO, 2012). Há variações da testada, formando fitas duplas (DNA:RNA ou
técnica de (RT-)PCR como a imunocaptura RT-PCR RNA:RNA) (LIMA; FAJARDO, 2012). Os resultados
(onde a partícula viral é capturada previamente à positivos são detectados pela presença de manchas
exposição do ácido nucleico), a RT-PCR one step na membrana que serve de suporte para a fixação
(realizada em uma única etapa e em tubo único) do ácido nucleico extraído das amostras (Fig. 1H).
e a multiplex RT-PCR (onde ocorre a detecção Esta técnica é altamente específica, sendo mais
de mais de um vírus em uma única reação); as utilizada na caracterização de isolados virais e,
vantagens e desvantagens de algumas dessas também, como método diagnóstico.
variações são mencionadas na Tab. 1.

O preparo do extrato da planta infectada a ser


Clonagem, Sequenciamento de
utilizado na RT-PCR é muito importante, tendo Nucleotídeos e Estudo de Homologia
em vista que os tecidos da videira contêm altas de Sequências
concentrações de polissacarídeos e de compostos
fenólicos que podem inibir a ação das enzimas Os produtos da (RT-)PCR são analisados em géis
utilizadas nas reações. A vantagem deste método de agarose, preparados em tampão, corados com
é a sua alta sensibilidade, isto é, mesmo que o brometo de etídeo e visualizados em transiluminador
patógeno esteja presente na amostra vegetal em de luz UV. As bandas observadas, correspondentes
pequenas quantidades, a amplificação pela PCR a fragmentos de tamanhos esperados, são
propicia a sua detecção. Os produtos da reação recortadas dos géis e eluídas com a utilização de
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kits comerciais. Os fragmentos de DNA eluídos e eficiência, respectivamente. A detecção por PCR
são ligados a vetores e estes são utilizados em tempo real ou PCR quantitativa (Real-time PCR)
na transformação de células competentes de é uma técnica muito sensível que pode ser utilizada
Escherichia coli por meio de choque térmico ou para superar essas limitações. Esta técnica, derivada
eletroporação (SAMBROOK; RUSSELL, 2001). da PCR, vem ganhando espaço no diagnóstico viral
por apresentar a capacidade de gerar resultados
O DNA plasmidial das colônias bacterianas quantitativos, pois permite a utilização da etapa linear
transformadas (Fig. 1I) é extraído utilizando- da amplificação para a determinação da quantidade de
se kits comerciais e a confirmação da presença ácido nucleico viral e a apresentação dos resultados
dos fragmentos virais clonados nos plasmídeos de forma mais precisa e rápida, em relação à PCR
recombinantes é realizada por digestão com convencional que apresenta somente resultados
enzima de restrição adequada. O sequenciamento qualitativos.
automático de nucleotídeos dos clones
recombinantes, normalmente, é realizado pelo Fluoróforos são moléculas que absorvem e emitem luz
método Sanger (terminador da cadeia). A etapa de em comprimentos de onda específicos. Os sistemas
análise posterior inclui a realização de alinhamentos de detecção da PCR em tempo real utilizam estas
múltiplos das sequências de nucleotídeos (Fig. 1J) e moléculas que proporcionam o acompanhamento
de aminoácidos deduzidos e a geração das matrizes da reação ao longo dos ciclos de amplificação.
de identidade (Fig. 1K) com auxílio de algoritmos de As sondas, fragmentos de DNA marcados com
alinhamento de sequências múltiplas, disponíveis fluoróforos, são empregadas na reação para
em programas de bioinformática (Clustal, BioEdit). detectar sequências específicas nos fragmentos
Um dos recursos mais comuns para o alinhamento de DNA amplificados. A sonda do tipo TaqMan
de sequências é o BLAST contra a base de dados (Life Technologies) apresenta nas extremidades um
NCBI (http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi). Nas fluoróforo e um bloqueador. Durante a reação, a
análises normalmente são incluídas sequências de sonda hibridiza-se com a sequência da fita simples
isolados virais homólogos e heterólogos disponíveis de DNA complementar e alvo da amplificação. No
no banco de dados GenBank (http://www.ncbi.nlm. processo de amplificação a sonda é degradada
nih.gov/). O estudo de relacionamento filogenético pela Taq DNA polimerase, separando-se, assim, o
utilizando sequências virais é desenvolvido com bloqueador da molécula fluorescente. Isto resulta em
auxílio de programas específicos de bioinformática aumento exponencial da intensidade da fluorescência
(MEGA) que resultam na geração de dendrogramas (Fig. 1G). Esse aumento de fluorescência ocorre
(Fig. 1L). A determinação da diversidade genética apenas quando a sonda se hibridiza e quando a
da população viral, existente em determinada região amplificação da sequência-alvo é estabelecida,
ou hospedeira, pode viabilizar a diagnose focada determinando a sensibilidade e especificidade dessa
em testes diagnósticos mais abrangentes, capazes técnica. A PCR em tempo real já foi empregada
de detectar maior número de isolados e estirpes de na detecção de vírus que infectam diferentes
uma espécie viral. hospedeiras, incluindo a videira (DUBIELA et al.,
2013).
RT-PCR em Tempo Real
Sequenciamento de Nova Geração
A (RT-)PCR convencional é uns dos métodos mais
confiáveis para a detecção de vírus em videira, A maior limitação para a detecção de novos vírus
devido a sua alta sensibilidade, especificidade e ou para a detecção não direcionada de patógenos
rapidez. Estima-se que a PCR seja 100-1000 vezes virais, ou seja, que não são alvos pré-estabelecidos
mais sensível que o ELISA (Tabela 1). Entretanto, da detecção, é que as técnicas mais comumente
a detecção de patógenos, baseada em PCR, sofre utilizadas são específicas e se baseiam em afinidade
com a limitada capacidade de processamento pelo antissoro (ELISA), na utilização de iniciadores
das amostras. Além disto, a possibilidade de específicos para a amplificação direcionada do
pareamento incorreto dos iniciadores e o fato DNA (PCR) e na hibridização de DNA (sondas).
de requerer eletroforese em gel para avaliar o Sendo assim, são direcionadas para a detecção de
resultado podem comprometer a sua especificidade vírus conhecidos e suas variantes mais próximas.
6 Técnicas de Detecção e Estudo de Vírus em Plantas

Assim, o processo de identificação de vírus, ainda As plataformas de NGS são capazes de


não descritos, ou de maneira não direcionada gerar enormes quantidades de sequências de
pode constituir tarefa difícil ou infrutífera. Para nucleotídeos com grande economia de tempo e
superar esse entrave, um marcante e recente custo em relação ao procedimento tradicional
avanço na identificação e descoberta de vírus de sequenciamento (Sanger). Essa maior
foi o desenvolvimento e a implementação do eficiência resulta do uso da clonagem in vitro e
“sequenciamento de nova geração” (Next-generation de sistemas de suporte sólido para as unidades
sequencing, NGS). Sua principal vantagem é permitir de sequenciamento em paralelo, prescindindo do
a identificação de todo o viroma presente em uma intensivo trabalho laboratorial de produção de
determinada hospedeira, incluindo populações clones bacterianos, da montagem das placas de
virais altamente divergentes, as quais poderiam sequenciamento e da separação dos fragmentos
ser mais difíceis de detectar com base em técnicas em géis. A técnica consiste em sequenciar
moleculares comumente utilizadas (FAJARDO massalmente a população de RNA e/ou DNA
et al., 2015). presentes em plantas com sintomas de doença,
Foto: Thor V. M. Fajardo.

Fig. 1. Testes diagnósticos para detecção de vírus em plantas. (A) Indexação biológica em videira indicadora, (B) teste sorológico ELISA,
(C) teste sorológico dot-ELISA, (D) eletrofose em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE), (E) teste sorológico Western blot, (F) gel de agarose
com produto da reação de RT-PCR, (G) resultado gráfico da reação de RT-PCR em tempo real, (H) hibridização dot-blot (tipo Northern blot),
(I) placa de cultivo com colônias de bactérias transformadas com plasmídeos recombinante (colônia branca) e não recombinante (colônia
azul), (J) alinhamento múltiplo de sequências de nucleotídeos, (K) comparação de sequências de nucleotídeos (abaixo da diagonal) e
aminoácidos deduzidos entre isolados virais (% de identidade), (L) dendrograma representando o relacionamento filogenético entre espécies
virais.
Técnicas de Detecção e Estudo de Vírus em Plantas 7

seguindo-se etapa de análise de bioinformática para brasileira. Revisão Anual de Patologia de Plantas,
a exclusão das sequências da planta hospedeira v. 22, p. 160-207, 2014.
ou contaminantes e organização e identificação
das sequências dos patógenos conhecidos e de DUBIELA, C. R.; FAJARDO, T. V. M.; SOUTO,
prováveis patógenos ainda não descritos. E. R.; NICKEL, O.; EIRAS, M.; REVERS, L. F.
Simultaneous detection of Brazilian isolates of
Vírus e viroides causam doenças de importância grapevine viruses by TaqMan real-time RT-PCR.
econômica em uma ampla gama de espécies Tropical Plant Pathology, v. 38, n. 2, p. 158-165,
vegetais. A prevenção é a única medida prática Mar./Apr. 2013.
e aplicada para evitar a disseminação destes
patógenos seja pelo material propagativo FAJARDO, T. V. M.; BARROS, D. R.; NICKEL,
infectado ou por vetores. As medidas de O., KUHN, G. B.; ZERBINI, F. M. Expression
prevenção demandam métodos de detecção of Grapevine leafroll-associated virus 3 coat
com alta sensibilidade, especificidade e protein gene in Escherichia coli and production of
confiabilidade, pois muitos patógenos podem polyclonal antibodies. Fitopatologia Brasileira,
estar em baixa concentração ou em estado v. 32, n. 6, p. 496-500, Nov./Dec. 2007.
latente ou serem assintomáticos no material
propagativo. Portanto, a detecção confiável de FAJARDO, T. V. M.; AL RWAHNIH, M.; NAGATA,
organismos fitopatogênicos é crucial no campo da T.; MELO, F. L. First report of grapevine reovirus
fitopatologia, sendo empregada desde o estudo infecting Cabernet Sauvignon grapevine in Brazil.
de aspectos biológicos básicos até o controle das In: BRAZILIAN CONGRESS OF VIROLOGY, 26.;
doenças que causam. Todos os métodos/técnicas MERCOSUR MEETING OF VIROLOGY, 10., 2015,
abordados nessa publicação são executados ou Florianópolis. Virus reviews and research: anais.
foram implementados no âmbito de atividades de Florianópolis: SBV, 2015. p. 188. Journal of the
pesquisa sobre viroses da videira e de fruteiras Brazilian Society for Virology, v. 20, suppl. 1,
temperadas conduzidas no Laboratório de Virologia 2015.
da Embrapa Uva e Vinho.
LIMA, M. F.; FAJARDO, T. V. M. Doenças
causadas por vírus. In: LIMA, M. F.; MOREIRA,
Referências F. R. B. (Ed.). Uva de Mesa: Fitossanidade. 2. ed.
Brasília, DF: Embrapa, 2012. p. 43-58. (Frutas do
BASSO, M. F.; FAJARDO, T. V. M.; SANTOS, Brasil, 14).
H. P.; GUERRA, C. C.; AYUB, R. A.; NICKEL,
O. Fisiologia foliar e qualidade enológica da uva NICKEL, O.; FAJARDO, T. V. M. Obtenção de
em videiras infectadas por vírus. Tropical Plant material propagativo livre de vírus e diagnóstico de
Pathology, v. 35, n. 6, p. 351-359, Nov./Dec. vírus em macieiras e pereiras. Bento Gonçalves:
2010. Embrapa Uva e Vinho, 2009. 55 p. (Embrapa Uva e
Vinho. Documentos, 69).
BASSO, M. F.; FAJARDO, T. V. M.; PIO-
RIBEIRO, G.; EIRAS, M.; ZERBINI, F. M. Avanços SAMBROOK, J.; RUSSELL, D. W. Molecular
e perspectivas no estudo das doenças virais e cloning: a laboratory manual. 3. ed. New York:
subvirais em videira com ênfase na realidade Cold Spring Harbor, 2001. 999 p.
8 Técnicas de Detecção e Estudo de Vírus em Plantas

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Comitê de
Presidente: César Luis Girardi
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Publicações Membros: Adeliano Cargnin, Alexandre Hoffmann,
95700-000 Bento Gonçalves, RS Ana Beatriz da Costa Czermainski, Henrique
Fone: (0xx) 54 3455-8000 Pessoa dos Santos, João Caetano Fioravanço,
Fax: (0xx) 54 3451-2792 João Henrique Ribeiro Figueredo, Jorge Tonietto,
https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/ Rochelle Martins Alvorcem e Viviane Maria Zanella
Bello Fialho
1ª edição
1ª impressão (2015): 500 exemplares Expediente Editoração gráfica: Alessandra Russi
Normalização bibliográfica: Rochelle Martins Alvorcem

CGPE 12244

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