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A
cultura da soja é uma das nossas bem mais suscetível a doenças. Fica cla-
maiores riquezas, e o sustentáculo ro, portanto, que a sustentabilidade da
da economia e da vida de muitas cultura dependerá, ainda mais fortemen-
pessoas em nosso país. Contudo, a cultu- te, do manejo a ser utilizado. Para isso, é
ra é ameaçada por vários desafios, entre fundamental conhecer as características
os quais se destacam as doenças, cujos e o funcionamento das principais doen-
danos se traduzem em perdas econô- ças que ocorrem em soja. Há grandes di-
micas significativas. Mesmo quando em ferenças, por exemplo, nas estratégias de
baixa intensidade, ou até de forma as- controle e nos seus resultados, quando
sintomática, as doenças afetam o rendi- aplicadas sobre biotróficos ou necrotró-
mento da cultura, causando a chamada ficos.
“fome oculta”.
São muitas as doenças que afetam Biotróficos
a soja no Brasil, entre elas a ferrugem
asiática, o mofo-branco, a antracnose, a Os diversos patógenos que cau-
mancha-alvo, o oídio e o complexo de sam doenças em plantas, especialmente
doenças de final de ciclo. Apesar de todos os fungos, podem ser classificados em
os esforços com relação ao seu manejo, dois grupos: biotróficos e necrotróficos.
seguramente, nenhuma delas diminuiu Os biotróficos são essencialmente pa-
de importância na última década. Ao rasitas obrigatórios e seu ciclo de vida
contrário, suas epidemias são freqüentes ocorre sobre a planta viva. Em soja, este
todas as vezes que a combinação de am- grupo inclui, principalmente, os fungos
biente e manejo lhes é favorável. Phakopsora pachyrhizi e Microsphaera
O melhoramento genético da soja diffusa, causadores da ferrugem asiática
tem nos proporcionado cultivares cada e do oídio, respectivamente (Figura 1).
vez mais produtivos. O desafio de co- Sua sobrevivência na entre-safra ocorre
lhermos 100 sacos/ha está próximo de em plantas de soja cultivadas (por isso o
ser alcançado, porém com um indivíduo vazio sanitário como estratégia de con-
Figura 1. Ferrugem asiática e oídio, exemplos de doenças causadas por fungos biotróficos. Fotos: Dirceu Neri Gassen e Carlos Alberto Forcelini
serem efetivos em relação a esta doença, fungos sobrevivem em sementes e restos demia por fungo biotrófico, os necrotró-
deverão contemplar estas características. culturais, portanto, sua fonte de inóculo ficos têm um adicional, a expansão da
A grande maioria dos fungicidas está na própria lavoura a ser cultivada. Se- lesão, representado pela letra K. O pro-
somente é ativa em tecido vivo, ain- gundo trabalhos realizados na UPF, pelo cesso de expansão de lesão compensa a
da funcional. Como Phakopsora é um professor Erlei Melo Reis e colaborado- menor capacidade de produção e disse-
fungo biotrófico, que se alimenta e res, a palha da soja demora até 27 meses minação de esporos destes fungos. Além
esporula em tecido vivo, fungicida e para decompor totalmente. Enquanto há disso, a expansão é menos dependente
patógeno se encontram no tempo e resto cultural presente, há alimento e es- dos fatores ambientais, especialmente a
no espaço, o que facilita o controle da tes fungos ali permanecem. Estes fungos umidade relativa e o molhamento foliar,
doença, especialmente se o produto produzem menos esporos que os biotró- que são requeridos para a esporulação e
apresentar boa movimentação sistêmi- ficos mencionados acima, alguns desses infecção, respectivamente.
ca. O mesmo já não acontece com os esporos são maiores e pesados, são mais A menor dependência do esporo
necrotróficos, como veremos a seguir. dependentes de água para sua liberação, também significa um escape à ação dos
o que limita sua disseminação pelo vento fungicidas que agem sobre a sua forma-
Necrotróficos a curtas distâncias. Uma vez presentes na ção ou germinação. Essa é uma das ra-
planta hospedeira, esses fungos liberam zões para a menor eficácia dos fungicidas
Os necrotróficos apresentam uma toxinas que matam os tecidos adjacentes no controle das doenças de final de ciclo,
fase parasitária sobre a planta hospedei- ao local de infecção, onde, então, eles se antracnose e mancha-alvo, quando com-
ra e outra saprofítica sobre seus restos alimentam e se reproduzem formando parados à ferrugem. Há pouca ou nenhu-
culturais, sendo chamados de parasitas novos esporos. ma ação dos fungicidas sobre a expansão
facultativos. Vários fungos em soja têm Os necrotróficos fazem uso da via da lesão.
esta característica (Figura 3): Cercospora horária de infecção e também da anti- Outro fato que compromete a
sojina (mancha olho-de-rã), Cercospora horária (Figura 4), caracterizada pela ação dos fungicidas sobre os fungos
kikuchii (cercosporiose), Septoria glycines expansão das lesões existentes, através necrotróficos é que a produção de es-
(mancha-parda), Colletotrichum trunca- da produção de toxinas e subseqüen- poros por estes se dá nos tecidos mor-
tum (antracnose), Corynespora cassiicola te colonização das áreas mortas (Figura tos pelas toxinas, portanto não fun-
(mancha-alvo), Sclerotinia sclerotiorum 5), como mencionado acima. Além dos cionais, onde não há movimentação e
(mofo-branco), Phomopsis sojae (quei- componentes tradicionais de uma epi- ação pelos fungicidas.
ma da haste e da vagem) e outros. Estes
Figura 3. Doenças de final de ciclo, mancha-alvo, antracnose e mofo-branco, exemplos de moléstias causadas por fungos necrotróficos. Fotos:
Dirceu Gassen.