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Avalie o caso da paciente V.M. a seguir: Paciente feminina, branca, 3 anos e 2 meses (20
kg), residente em área rural do interior do estado, foi encaminhada para o Hospital de
Clínicas para internação e investigação de lesões cutâneas bolhosas que ocorrem desde
os 4 meses de idade, acompanhadas de diarreia e febre intermitentes. Já fez diversos
tratamentos para parasitoses intestinais e piodermites. Da última prescrição constavam
Anita® e Zitromax®. Como não houve melhora, a mãe resolveu mudar de médico. A
criança apresentava bolhas flácidas ou rotas com base urticada, localizadas
principalmente no tronco, com a presença de algumas lesões nos membros superiores
e inferiores (Figura 1). O hemograma, VHS e provas de função hepática foram normais,
bem como as radiografias ósseas realizadas; a ecografia de abdômen mostrou fígado e
baço de tamanhos usuais. As biópsias de pele do abdômen, tórax posterior e coxa
confirmaram a hipótese de mastocitose bolhosa, com contagem de mastócitos acima de
30 células por campo de grande aumento. Tanto o medulograma quanto a biópsia de
medula óssea não mostraram comprometimento, não tendo sido identificados
mastócitos nas colorações por azul de toluidina e Giemsa. A colonoscopia e as biópsias
de intestino (ceco transverso e descendente) evidenciaram mucosa com aumento da
contagem de mastócitos na lâmina própria, com 15 a 20 células por campo de grande
aumento. Foi iniciado então tratamento com Hixizine (hidroxizina) xarope 2,5 mL de 12
em 12 h e Label (ranitidina) xarope 1,5 mL de 12 em 12 h; após alguns dias, foi associado
cromoglicato dissódico, mantendo-se por cerca de 10 meses. A resposta ao tratamento
foi lenta, porém satisfatória, sem o surgimento de bolhas, nem sintomas digestivos nos
últimos 6 meses, no entanto V.M. começou a perder muito peso pois em relato da mãe,
ela passava muito tempo dormindo sem se alimentar. O médico substituiu o tratamento
por Loralerg®, após o qual, a paciente permaneceu em acompanhamento
dermatológico, com revisões a cada 4 meses.
Figura 1 - Mastocitose bolhosa – bolhas flácidas ou rotas com base urticada, localizadas no
tronco e algumas lesões nos membros superiores e inferiores
Então, responda:
1 - Qual o mecanismo de ação do princípio ativo de Anita®? Avalie a prescrição e
possíveis reações adversas.
O medicamento Anitta é um pró-fármaco, que tem como princípio ativo a
nitazoxanida, sendo o seu metabólito ativo a tizoxanida, possui atividades contra
protozoários, helmintos e até mesmo alguns vírus, como o Rotavírus. Dessa forma, esse
medicamento é classificado como amplo espectro, pois possui várias ações
farmacológicas em diferentes alvos nos agentes biológicos citados.
Nos protozoários esse o metabólito ativo inibe a enzima piruvato-ferredoxina
oxidorredutase, impedindo a descarboxilação de piruvato em acetil CoA, ou seja, esse
medicamento impede a produção de ATP dos protozoários e o seu bloqueio induz a
morte dos parasitas.
Em helmintos, a nitazoxanida se liga à β-tubulina e bloqueia a formação de
microtúbulos no parasita, estrutura responsável pela formação da resistência ao meio
externo dos helmintos.
Em alguns vírus da família Reoviridae, o metabolito ativo inibe a replicação viral
por meio de uma inibição da síntese proteica na estrutura viral chamada proteína 7.
No caso em pauta, como se trata de um ambiente no interior, no qual pode haver
grande precariedade tanto em saneamento básico como em cuidados em saúde, o
médico pode suspeitar de inúmeros parasitas que são comuns nessas regiões, como a
leishmaniose tegumentar que causa uma sintomatologia parecida com a mastocitose
bobolhosa, contudo, a paciente já havia realizado inúmeros tratamentos contra esses
agentes biológicos, o que não justifica a prescrição. Ressalta-se que as possíveis reações
adversas são : dor abdominal do tipo cólica, diarreia, náusea, vômito e dor de cabeça.