Você está na página 1de 5

Universidade Federal do Pará

Instituto de Ciências da Saúde


Faculdade de Farmácia
Disciplina:
Química Medicinal
Docente: Consuelo Yumiko Yoshioka e Silva
Discente: Luiz henrique Martins modesto Data: 14/11/2022
Atividade avaliativa – pontuação máxima (10,0 pts)

Avalie o caso da paciente V.M. a seguir: Paciente feminina, branca, 3 anos e 2 meses (20
kg), residente em área rural do interior do estado, foi encaminhada para o Hospital de
Clínicas para internação e investigação de lesões cutâneas bolhosas que ocorrem desde
os 4 meses de idade, acompanhadas de diarreia e febre intermitentes. Já fez diversos
tratamentos para parasitoses intestinais e piodermites. Da última prescrição constavam
Anita® e Zitromax®. Como não houve melhora, a mãe resolveu mudar de médico. A
criança apresentava bolhas flácidas ou rotas com base urticada, localizadas
principalmente no tronco, com a presença de algumas lesões nos membros superiores
e inferiores (Figura 1). O hemograma, VHS e provas de função hepática foram normais,
bem como as radiografias ósseas realizadas; a ecografia de abdômen mostrou fígado e
baço de tamanhos usuais. As biópsias de pele do abdômen, tórax posterior e coxa
confirmaram a hipótese de mastocitose bolhosa, com contagem de mastócitos acima de
30 células por campo de grande aumento. Tanto o medulograma quanto a biópsia de
medula óssea não mostraram comprometimento, não tendo sido identificados
mastócitos nas colorações por azul de toluidina e Giemsa. A colonoscopia e as biópsias
de intestino (ceco transverso e descendente) evidenciaram mucosa com aumento da
contagem de mastócitos na lâmina própria, com 15 a 20 células por campo de grande
aumento. Foi iniciado então tratamento com Hixizine (hidroxizina) xarope 2,5 mL de 12
em 12 h e Label (ranitidina) xarope 1,5 mL de 12 em 12 h; após alguns dias, foi associado
cromoglicato dissódico, mantendo-se por cerca de 10 meses. A resposta ao tratamento
foi lenta, porém satisfatória, sem o surgimento de bolhas, nem sintomas digestivos nos
últimos 6 meses, no entanto V.M. começou a perder muito peso pois em relato da mãe,
ela passava muito tempo dormindo sem se alimentar. O médico substituiu o tratamento
por Loralerg®, após o qual, a paciente permaneceu em acompanhamento
dermatológico, com revisões a cada 4 meses.

Figura 1 - Mastocitose bolhosa – bolhas flácidas ou rotas com base urticada, localizadas no
tronco e algumas lesões nos membros superiores e inferiores

Então, responda:
1 - Qual o mecanismo de ação do princípio ativo de Anita®? Avalie a prescrição e
possíveis reações adversas.
O medicamento Anitta é um pró-fármaco, que tem como princípio ativo a
nitazoxanida, sendo o seu metabólito ativo a tizoxanida, possui atividades contra
protozoários, helmintos e até mesmo alguns vírus, como o Rotavírus. Dessa forma, esse
medicamento é classificado como amplo espectro, pois possui várias ações
farmacológicas em diferentes alvos nos agentes biológicos citados.
Nos protozoários esse o metabólito ativo inibe a enzima piruvato-ferredoxina
oxidorredutase, impedindo a descarboxilação de piruvato em acetil CoA, ou seja, esse
medicamento impede a produção de ATP dos protozoários e o seu bloqueio induz a
morte dos parasitas.
Em helmintos, a nitazoxanida se liga à β-tubulina e bloqueia a formação de
microtúbulos no parasita, estrutura responsável pela formação da resistência ao meio
externo dos helmintos.
Em alguns vírus da família Reoviridae, o metabolito ativo inibe a replicação viral
por meio de uma inibição da síntese proteica na estrutura viral chamada proteína 7.
No caso em pauta, como se trata de um ambiente no interior, no qual pode haver
grande precariedade tanto em saneamento básico como em cuidados em saúde, o
médico pode suspeitar de inúmeros parasitas que são comuns nessas regiões, como a
leishmaniose tegumentar que causa uma sintomatologia parecida com a mastocitose
bobolhosa, contudo, a paciente já havia realizado inúmeros tratamentos contra esses
agentes biológicos, o que não justifica a prescrição. Ressalta-se que as possíveis reações
adversas são : dor abdominal do tipo cólica, diarreia, náusea, vômito e dor de cabeça.

2 - Qual o mecanismo de ação do princípio ativo de Zitromax®? Avalie a prescrição e


possíveis reações adversas.
O medicamento Zitromax, cujo princípio ativo é a Azitromicina é um macrolídeo
que inibe a síntese das proteínas bacterianas através do efeito na translocação
ribossômica, que basicamente não deixa a bactéria formar nucleotídeos e tampouco a
formação de seu a DNA ou a RNA-polimerase, quando for o caso.
No caso em pauta, como se trata de um ambiente no interior, no qual pode haver
grande precariedade tanto em saneamento básico como em cuidados em saúde, o
médico pode suspeitar de inúmeras bactérias gram-positivas e gram-negativas que
causam sintomas parecidos com a mastocitose bobolhosa como a dermatite atópica
causada pela bactéria Staphylococcus aureus. Contudo, a paciente já havia realizado
inúmeros tratamentos contra esses agentes biológicos, o que não justifica a prescrição.
Ressalta-se que as possíveis reações adversas desse medicamento é a tontura,
convulsões, cefaleia, hiperatividade, hipoestesia, parestesia, sonolência, desmaio e
principalmente a resistência bacteriana.

3 - Avalie o efeito de Hixizine® no caso de V.M.


Primeiramente, é importante frisar que a Histamina, gerada principalmente nos
mastócitos, medeia respostas celulares e interage com os receptores H1, localizados em
inúmeros tecidos, causando diversos efeitos no que diz respeito as condições
inflamatórias e alérgicas. No caso em pauto, percebe-se uma reação exacerbada de
reações de hipersensibilidade tipo I, que é tratada com antagonistas H¹.
O medicamento Hixizine, cujo princípio ativo é o Cloridrato de Hidroxizina é um
anti-histamínico, bloqueador de receptores H1, de primeira geração, com atividade
anticolinérgica. Ou seja, esse fármaco impede que os mastócitos e outras células de
defesa cheguem as áreas afetadas, reduzindo a inflamação causada pelo estresse
oxidativo dessas células ao tecido humano, com a diminuição da Histamina
antagonizada pelo Hixizine.

4 - Levando em consideração a relação estrutura atividade, por que Hixizine® provoca


sonolência e loralerg® não?
Usualmente os anti-histamínicos são divididos em fármacos de 1° e 2° geração,
essa divisão diz respeito à potencialidade do fármaco em ultrapassar a barreira
hematoencefálica e chegar ao Sistema Nervoso Central.
No caso em pauta, a Hixizine deve ser um fármaco anti-histamínico de primeira
geração que atua nos receptores H¹. Apesar da estrutura molecular desse medicamento
não ser fornecida, é possível se deduzir que se trata de um composto apolar, ou seja,
possui fácil adesão e solubilidade às moléculas dos existentes na barreira
hematoencefálica, conseguindo ultrapassa-la, antagonizando os receptores H¹
localizados no córtex cerebral que possuem atividade de coordenação da vigília,
causando sonolência.
Já a loralerg, deve ser um fármaco anti-histamínico de segunda geração, pois já
tem uma característica mais polar, e nesse caso, ela não consegue ultrapassar a barreira
hematoencefálica, logo, não causa os efeitos de sonolência provocados pela Hixizine.

5 - Qual o mecanismo de ação de cada um dos anti-histamínicos utilizados por M.L.?

Inicialmente, deve-se pontuar que ambos fármacos são antagonistas de um


mediador celular envolvido na cascata de inflamação do sistema imunológico, que é a
Histamina. A Histamina interage com os receptores H1, localizados em inúmeros tecidos,
podendo causar diversos efeitos patofisiológicos como hipersensibilidade tipo I,
Urticária e a febre dos fenos. Ambos fármacos são anti-histamínicos seletivos e
antagonizam os receptores H¹, porém a Hixizine é mais antiga que a loralerg, logo,
apresenta algumas reações adversas características de muitos anti-histamínicos de
primeira geração que são efeitos colaterais periféricos antimuscarínicos, como por
exemplo a boca seca, porém ainda podem aparecer outros sintomas como visão
embaçada, constipação, retenção urinária e sonolência.

Você também pode gostar