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COLETÂNEA

ANEC

ENSINO HÍBRIDO
e outros saberes
pedagógicos

ISBN: 978-65-991727-5-5 
COLETÂNEA
ANEC

ENSINO HÍBRIDO
e outros saberes
pedagógicos
COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

A Associação Nacional de Educação Católica do CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA


Brasil tem como finalidade atuar em favor de uma Roberta Valéria Guedes de Lima
educação de excelência, promover uma educa-
ção cristã evangélico-libertadora, entendida como
aquela que visa à formação integral da pessoa CÂMARA DE ENSINO SUPERIOR
humana – sujeito e agente de construção de uma Fabiana Deflon dos Santos Gonçalves
sociedade justa, fraterna solidária e pacífica segun-
do o Evangelho e o ensinamento social da Igreja.
CÂMARA DE MANTENEDORAS
Guinartt Diniz
CONSELHO SUPERIOR
SETOR ADMINISTRATIVO/
Dom Joaquim Mol Guimarães
FINANCEIRO
Ir. Cláudia Chesini
Idelma Alves Alvarenga
Ir. Irani Rupolo
Ir. Paulo Fossatti
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
Ir. Iranilson Correira de Lima
Natália Ribeiro Pereira
Prof. Germano Rigacci Júnior
Pe. José Marinoni
COORDENAÇÃO DE EVENTOS
Ir. Ivanise Soares da Siva
Davi Lira Varela Rodrigues
Frei Gilberto Gonçalves Garcia

ASSISTENTE ADMINISTRATIVO
DIRETORIA NACIONAL
Jackeline Nascimento
Diretor Presidente: Pe. João Batista Gomes Lima
Diretora 1º Vice-presidente:
Ir. Adair Aparecida Sberga PROJETO GRÁFICO
Diretor 2º Vice-presidente: Verlindo Comunicação
Ir. Natalino Guilherme de Souza
Diretora 1ª Secretária: Ir. Selma Maria dos Santos
Diretor 2º Secretário: Pe. Mário José Knapik
Diretora 1ª Tesoureira: Ir. Marli Araújo da Silva
FICHA CATALOGRÁFICA
SECRETARIA EXECUTIVA
Ensino híbrido e outros saberes [livro eletrônico] /
organização Adair Aparecida Sberga, Roberta Guinartt Diniz
Valéria Guedes. -- 1. ed. -- Brasília :
Associação Nacional de Educação Católica do
Brasil - ANEC, 2021.
PDF

Vários autores.
ISBN 978-65-991727-5-5

1. Educação 2. Ensino híbrido 3. Educação a


distância 4. Ensino auxiliado por computador
5. Tecnologia educacional I. Sberga, Adair Aparecida.
III. Guedes, Roberta Valéria.

21-69068. CDD-371.3

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

O professor Luciano Sathler, em seu metodológicas e desafios conjuntu-


Apresentação artigo O Ensino Híbrido e a Organiza-
ção do Trabalho Pedagógico Docente,
ra. O texto ensaístico tem a proposta
de compartilhar olhares sobre quais
apresenta e discute o ensino híbrido relações podem ser estabelecidas no
como um programa formal de ensi- universo educativo entre a prática
O Ensino Híbrido, que acontece a partir a proposta de Ensino Híbrido, como
no em que o estudante tem parte da pastoral e o ensino híbrido, frente aos
da combinação do uso da tecnologia di- metodologia que impacta na ação do-
aprendizagem elaborada a partir de desafiadores contextos existentes na
gital com as interações presenciais, visa à cente no processo ensino-aprendiza-
conteúdo, interações e mediações on- atualidade. Apresenta reflexões sobre
personalização do processo de aprendi- gem, possibilitando uma análise sobre
-line. Neste modelo, o aluno tem algu- os desafios conjunturais da tessitura
zagem, no sentido de ser um modelo para a importância de estimular a reflexão,
ma flexibilidade quanto ao tempo, local, social devido à conjuntura pandêmica
facilitar a combinação do ensino on-line por parte do professor, sobre a orga-
ritmo de estudos e sobre as trilhas de e as abissais desigualdades existentes.
com o ensino presencial, na perspectiva nização da práxis pedagógica.
aprendizagem a serem cursadas. Parte
de uma aprendizagem significativa. No texto Da Ordem e do Caos: pers-
das atividades é realizada sincrona-
O texto Educação Infantil e o Ensino
mente na escola ou em outro espaço, pectivas da gestão escolar hoje, o autor
Para refletir e verificar as possibilidades Fundamental: possibilidades metodo-
sob a supervisão de um professor. Francisco Morales Cano apresenta que,
do uso dessa proposta, a Associação lógicas para as aulas remotas, escrito
a pandemia da COVID 19, na qual o mun-
Nacional de Educação Católica (ANEC) pela professora Fabiane Graziela Gon-
Os professores Jonathan Rosa Moreira do está mergulhado desde o apagar
organizou a Coletânea intitulada Ensino tij, apresenta um relato de experiências
e Jefferson Bruno Pereira Ribeiro tratam das luzes de 2019, tem tido uma con-
Híbrido e outros Saberes Pedagógicos. e vivências a respeito das aulas remotas
da reinvenção das práticas pedagógicas. sequência tríplice em relação à socie-
Este documento é uma proposta de em que a Educação foi inserida duran-
O artigo intitulado As reflexões sobre dade, que potencializou os problemas e
alinhamento epistemológico e axioló- te todo o período pandêmico. Todo o
sistemas de ensino, recursos tecnológi- as mazelas que já tínhamos. Esse novo
gico acerca desta nova modalidade. Os texto está baseado em relatos de expe- cos, métodos ativos e os desafios para o cenário e suas consequências esten-
textos apontam para uma mudança de riências com o ensino remoto da Edu- ensino em tempos de restrição de dinâ- deram-se a todos os campos da ativi-
gestão que acena para o enriquecimen- cação Infantil e do Ensino Fundamental mica social discorre sobre a urgência de, dade humana e de forma significativa
to da prática pedagógica por meio do Anos Iniciais, no período de pandemia, em um contexto de restrição de dinâmica à Educação, o que afeta diretamente a
uso integrado das tecnologias digitais, realizadas entre os meses de março de social, as práticas pedagógicas tiveram de gestão das instituições escolares.
motivação dos docentes e discentes e 2019 e abril de 2021. ser reinventadas, considerando a neces-
possibilidades de personalização das sidade de ações criativas, consoantes às Esperamos que esta leitura traga luz
O artigo de autoria das professoras
ações de ensino e aprendizagem nas possibilidades de ensino remoto síncrono, às discussões no campo da educação
Graciele Batista Gonzaga e Elaine Cecília
instituições de educação básica. mediado por diferentes recursos tecnoló- básica e ilumine a tomada de decisão e
Lima de Oliveira ‒ Escavando Escritas
gicos interativos. E que tal perspectiva de- a nova práxis pedagógica demandada
O primeiro artigo, de autoria da pro- Criativas e Colaborativas no Ensino Mé-
mandaram planejamento e investimento. pela sociedade contemporânea.
fessora Lilian Bacich, intitulado Ensino dio: rumos ao Ensino Híbrido. ‒ compar-
Híbrido: desafios em busca da equida- tilha práticas pedagógicas no regime No texto Pastoralidade e Ensino Híbri-
de, e o segundo, cujo título é Modelos remoto que podem ser inspirações para do, do autor Joaquim Alberto Andrade Professora Roberta Guedes
Mais Flexíveis na Educação Básica, do o ensino híbrido na educação brasileira. Silva, sinalizam-se as possibilidades Gerente da Câmara de Educação
professor José Moran, aprofundam Básica da ANEC

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râneo exige estudantes protagonistas Assim sendo, a educação colabora na


que se formem no viés da aprendiza- formação da cultura do povo e isso se
gem serviço e se tornem cidadãos pro- faz por meio da divulgação de boas
ativos, solidários e construtores de uma ideias e práticas, como as que aqui
nova humanidade. apresentamos.

A educação católica é adepta dessa Que essa Coletânea seja de bom pro-
visão e compreende que a educação veito para todos!
não é um negócio rentável, mas ao con-
trário, ela é a chave que abre portas
de acesso a caminhos de solução para
os problemas pequenos e grandes que
enfrentamos, além de ser a promotora

Introdução
da construção da nação, que se almeja Ir. Adair Aparecida Sberga
sempre mais fraterna, equitativa, inclu- Presidente da Câmara de
siva e democrática. Educação Básica da ANEC

A Associação Nacional da Educação Essas descrições e implantações em


Católica do Brasil tem a satisfação de espaço escolar são partilhadas com
publicar essa Coletânea “Ensino Hí- nossos leitores de forma muito genero-
brido e outros Saberes Pedagógicos”, sa, com o propósito de motivar outros
que trazem conhecimentos, conceitos, educadores a desbravar caminhos de
práticas, experiências e vivências rea- sucesso educacional que estejam em
lizadas em ambientes qualificados de consonância com a cultura infanto-ju-
aprendizagem. venil, que tem características muito
peculiares e exigências de uma forma-
Os autores, a partir de suas pesquisas, ção integral que faça sentido para os
estudos colaborativos e aplicações pe- estudantes que vivem nesse mundo de
dagógicas e metodológicas no espaço mudança constante.
escolar, esmeraram-se em descrever as
últimas tendências educacionais inova- Estudar, aprender, idealizar, criar, pro-
doras que estão se implantando no Bra- jetar, inventar, inovar, empreender, li-
sil e em muitas partes do mundo, assim bertar, transformar e poderíamos
como relatam algumas de suas práticas acrescentar outros verbos de ação ou
e/ou projetos que foram desenvolvidos conceitos que andam de mãos dadas,
em tempos de ensino remoto. para dizer que o contexto contempo-

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Capítulo 5
78
ENSINO HÍBRIDO E A ORGANIZAÇÃO DO
TRABALHO PEDAGÓGICO DOCENTE
Autor: Luciano Sathler

Capítulo 6
104
REFLEXÕES SOBRE SISTEMAS DE ENSINO, RECURSOS
TECNÓLGICOS, MÉTODOS ATIVOS E OS DESAFIOS PARA O
ENSINO EM TEMPOS DE RESTRIÇÃO DE DIN MICA SOCIAL
Autores: Jonathan Rosa Moreira e Jefferson Bruno Pereira Ribeiro

Capítulo 7
118
PASTORALIDADE E ENSINO HÍBRIDO: POSSIBILIDADES
Sumário METODOLÓGICAS E DESAFIOS CONJUNTURAIS
Autor: Joaquim Alberto Andrade Silva

Capítulo 8
130
DA ORDEM E DO CAOS:
Capítulo 1 PERSPECTIVAS DA GESTÃO ESCOLAR HOJE
10 Autor: Francisco Morales Cano
MODELOS MAIS FLEXÍVEIS
NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Autor: José Moran

Capítulo 2
22
ENSINO HÍBRIDO:
DESAFIOS EM BUSCA DA EQUIDADE
Autora: Lilian Bacich

Capítulo 3
42
A EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO FUNDAMENTAL:
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS PARA AS AULAS REMOTAS
Autora: Fabiane Graziela Gontijo

Capítulo 4
64
ESCAVANDO ESCRITAS CRIATIVAS E COLABORATIVAS
NO ENSINO MÉDIO: RUMOS AO ENSINO HÍBRIDO
Autoras: Graciele Batista Gonzaga e Elaine Cecília Lima de Oliveira
1.
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Modelos Mais
Flexíveis na
Educação Básica
José Moran

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CONSIDERAÇÕES Os modelos híbridos/flexíveis combi- de aula enriquecidas com tecnologias), to de conteúdo e dúvidas. Uma
INICIAIS nam-se, integram-se e ganham rele- com diversas formas de integração en- combinação bastante utilizada, na
vância com o foco na aprendizagem tre o presencial e o digital, que vem Educação Básica, é a aula inverti-
A educação escolar precisa ser dese- ativa dos estudantes. As metodologias sendo testadas principalmente a partir da combinada com atividades em
nhada em um mundo muito mais híbri- ativas envolvem um percurso metodo- das publicações do Horn & Staker (2015 grupos (rotação por estações),
do, conectado. Ela começa pela escola, lógico que possibilita a ação do estu- ): aula invertida, rotação por estações, realização de projetos, em jogos e
mas vai muito além dela. O Ensino Híbri- dante, envolvendo-o na aprendizagem rotação individual e que incluirão al- outras atividades em times. Esse
do, na sua concepção básica, combina por descoberta, por investigação, por guns modelos mais personalizados e modelo foi adaptado durante a
e integra atividades didáticas em sala resolução de problemas e por proje- on-line, como algumas variações dos pandemia para o ensino on-line,
de aula com atividades em espaços tos. As metodologias ativas procuram modelos flex (roteiros personalizados combinando atividades pedagó-
digitais visando oferecer as melhores criar situações de aprendizagem nas online com o professor por perto), a gicas assíncronas (de preparação
experiências de aprendizagem à cada quais os aprendizes possam fazer coi- la carte (fazer um, ou mais módulos individual) com as síncronas (ati-
estudante. No Ensino Híbrido, o foco sas, pensar e conceituar o que fazem, on-line) ou virtual enriquecido (parte vidades mediadas pelo docente e
está mais na ação pedagógica dos do- construir conhecimentos sobre os con- presencial, parte on-line). A hibridiza- com participação dos estudantes).
centes (no planejamento, no desenvol- teúdos envolvidos nas atividades, bem ção será progressiva, de acordo com
O modelo híbrido parcial pode começar
vimento e na avaliação do processo). como desenvolver a capacidade crítica, a idade e o avanço do estudante no
no Ensino Fundamental e ir evoluin-
Na aprendizagem híbrida, o foco está refletir sobre as práticas que realizam, currículo.
do no Ensino Médio e ser plenamente
no envolvimento do estudante, no seu fornecer e receber feedback, aprender
Avançaremos na oferta de diferentes implementado, de forma mais flexível,
protagonismo. O conceito de educação a interagir com colegas e professor, e
modelos flexíveis integrados: no Ensino Superior. Há uma diversida-
flexível é mais sistêmico, abrangente ao explorar atitudes e valores pessoais.
de de combinações possíveis: leituras,
envolver a toda a comunidade escolar
Modelos híbridos predominante- pesquisas e atividades individuais as-
no redesenho das melhores possíveis mente presenciais síncronas e/ou em grupo (aula inverti-
na integração de espaços, tempos, me-
todologias, tutoria para oferecer as
MODELOS HÍBRIDOS/ • O modelo mais praticado é o da
da) integradas com projetos, rodas de

melhores experiências de aprendiza- FLEXÍVEIS NA aula invertida, que combina a


conversa, atividades em times em sala
de aula presencial e/ou laboratório.
gem à cada estudante de acordo com EDUCAÇÃO BÁSICA aprendizagem presencial com a
suas necessidades e possibilidades. digital para obter uma maior efi- • Modelos de integração síncro-
Na Educação Básica, o lugar principal
ciência. Os alunos estudam os na, com várias combinações: parte
Percebemos, durante a pandemia com- continuará sendo a Escola, mas ela pre-
materiais individualmente on-line da classe em sala de aula + par-
binações, que muitas das atividades cisa ser redesenhada nos seus espaços,
antes (em casa ou na escola) e os te em encontros síncronos. Se-
que imaginávamos que só seriam viá- para que os estudantes possam, facil-
discutem, aprofundam e aplicam rão bastante comuns na saída da
veis no presencial (como a aprendiza- mente, combinar e alternar atividades
em grupos e coletivamente na sala pandemia, primeiro para atender
gem por projetos, em times) podem ser analógicas e digitais individuais, grupais
de aula. Os momentos presenciais estudantes que não possam em al-
realizadas com bastante qualidade no e de turmas maiores. Os modelos conti-
podem ser para realizar atividades guns períodos frequentar a escola.
on-line, principalmente com crianças nuarão sendo de grande predominância
diferentes, de discussão, elabora- Serão frequentes para projetos
maiores, jovens e adultos. do encontro em espaços comuns (salas
ção de projetos, aprofundamen-

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interclasses, inter-áreas, porque aprofundar os conceitos previa- e integração, de acordo com cada área Outro benefício é que o docente pode
ampliam as formas e facilidades de mente estudados, para dúvidas, de conhecimento. ter mais tempo para atender as dúvidas
encontro. A partir de agora, esses debates, aplicações práticas, tu- dos estudantes e de acompanhar suas
modelos serão mais adotados, ao toria mais personalizada e para Os modelos flexíveis favorecem uma dificuldades específicas. Com o apoio
combinar a personalização com a encaminhar as próximas etapas. combinação ideal entre personaliza- das plataformas tecnológicas com in-
flexibilidade de tempo e lugar. ção, colaboração e tutoria/mentoria. teligência artificial, consegue visualizar,
• Módulos totalmente online (à la Uma parte do percurso é feita pelo coletar e analisar dados sobre as apren-
CURRÍCULO MAIS FLEXÍVEL
carte) estudante, dentro do seu ritmo e cir- dizagens de cada estudante, de cada
cunstâncias e por meio de escolhas grupo em cada momento e também ao
• Módulos online com momentos No modelo à la carte, de acordo
diferentes. Outra parte é realizada em longo de um período mais longo e de
específicos de presencialidade com a definição dos autores Horn
grupo de forma mais colaborativa, ex- uma forma mais simples e precisa.
física (Virtual enriquecido ou e Staker (2015), a aprendizagem
periencial e reflexiva com a supervisão
aprimorado) de algumas disciplinas ou módulos
e mediação dos docentes nos espaços Tudo isto traz uma série de desafios
é feita no modelo online, com ên-
Neste modelo, os estudantes re- presenciais e digitais, de forma síncro- novos para docentes, discentes, para
fase na aprendizagem ativa e tu-
alizam os estudos sobre todos na ou assíncrona. O percurso se amplia as escolas e famílias.
torial. Isso trará muita flexibilidade
os componentes curriculares no com atividades de tutoria e mentoria
aos currículos, podendo atender O Ensino Híbrido/flexível traz alguns
formato online, e frequentam a para o desenvolvimento dos projetos
às necessidades e interesses de desafios para os docentes. Os pa-
escola para sessões presenciais pessoais e de vida de cada estudante.
alguns grupos específicos. Há inú-
com um ou mais professores, uma
meras oportunidades de apren-
ou mais vezes por semana. É um
der em plataformas online, em
formato que se combina com a
workshops, cursos de imersão e
Aula invertida. As propostas onli-
mentoria com docentes de outras
ne podem acontecer por meio de
instituições ou que participam de
vídeos para explicação de concei-
forma pontual em determinados
tos, textos para leitura, pesquisas
períodos do ano letivo.
individuais em grupo, projetos
desenvolvidos individualmente
Esse modelo poderia ser intro-
ou em pequenos grupos online,
duzido, por exemplo, no Novo
com produções previstas (quiz-
Currículo do Ensino Médio, prin-
zes, relatórios, projetos, narrati-
cipalmente para personalizar os
vas online, e portfólios) que vão
itinerários formativos.
mostrando o avanço de cada um,
geram engajamento e dão subsí- No Ensino Superior, os modelos flexí-
dios ao docente para o desenho veis podem partir destes modelos mos-
das atividades presenciais. Os trados na Educação Básica e avançar
encontros presenciais são para para maior flexibilidade, personalização

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péis se ampliam e modificam bastante, Os modelos híbridos precisam ser pla- nos diversos tipos de encontros, plata- projetos de imersão e de experimen-
porque todo o processo de ensinar e nejados levando em consideração a formas, redes sociais. tação e mentoria), envolvimento dos
de aprender é mais flexível e está mais diversidade de condições de acesso docentes mais proativos, criação de
centrado nos estudantes. Os professo- muito diferentes de cada estudante Os modelos híbridos pressupõem me- um núcleo de inovação e ações também
res concentram sua energia no desenho fora da escola. Em muitas instituições lhorar o acesso digital dos estudantes com os estudantes e famílias, para que
de atividades significativas, (designers) educacionais, os docentes precisam de lugares diferentes. Isto ainda está compreendam, experienciem e avaliem
para o desenvolvimento de competên- planejar atividades para os que têm longe de ser viável para a maioria, em estas novas propostas. É preciso rea-
cias; na curadoria de materiais signifi- acesso regular ao digital, para os que pouco tempo. São muitos os gargalos lizar formações ativas, imersivas com
cativos; na tutoria e acompanhamen- têm acesso parcial e para os que di- econômicos e tecnológicos. Podemos metodologias ágeis para acelerar as
to individual, dos diferentes grupos ficilmente têm ou não têm acesso ao oferecer alternativas mais flexíveis para mudanças mentais, na forma de pensar,
e da classe nos espaços presenciais digital. Isto implica desenhar, a partir aqueles docentes e estudantes brasilei- ensinar e de agir. O propósito é ace-
e digitais, síncronos e assíncronos e do conhecimento da situação de cada ros que possuem um bom acesso e con- lerar a transformação do mindset das
na ampliação das formas de avaliação estudante, roteiros que mantenham dições de estudo das suas casas, mas pessoas; que passem da mentalidade
dos estudantes. Esse planejamento é o essencial: a aprendizagem ativa em uma boa parte deles não consegue ter focada na certeza, no medo de falhar
mais complexo se vários docentes de- contextos híbridos diferentes para ní- esse acesso fácil e estável, principal- para a de arriscar, de estimular a ex-
senham, acompanham e avaliam, juntos, veis de acesso diferentes. mente para trabalhar em plataformas perimentação, o erro, a criatividade, o
projetos e atividades integradores de que preveem encontros síncronos. Essa desafio.
diversas áreas de conhecimento (pro- O planejamento torna-se mais comple- desigualdade inviabiliza que tenhamos
jetos STEAM, por exemplo). Outro pa- xo porque as condições dos estudan- projetos de educação híbrida em larga É importante também a formação ati-
pel docente que ganha cada vez mais tes não são iguais, tanto em acesso escola para a maioria dos estudantes, va dos estudantes para que saiam da
relevância é o de mentor de projetos como em domínio pedagógico e digital. que são pobres e não tem condições atitude passiva, de esperar que o pro-
pessoais, profissionais e de vida dos O docente planeja o antes (preparação objetivas de estudar remotamente em fessor decida tudo por eles, para a de
estudantes. do estudante, o que cada um consegue casa. Por enquanto, os modelos híbri- perceber que quanto mais se envolvam,
avançar), o durante (momentos síncro- dos contemplam uma parte da popu- pesquisem e resolvam problemas mais
Muitos docentes também não se en- nos: atividades em grupo e com a classe lação, que tem melhores condições eles evoluirão. A formação precisa
contram em condições profissionais presenciais e/ou digitais síncronas) e o econômicas, acesso tecnológico e chegar também às famílias para que
ideais para planejar e desenvolver mo- pós (aplicação, conclusão, avaliação), domínio digital mais desenvolvidos. compreendam, vivenciem e apoiem as
delos híbridos interessantes: trabalham atendendo a diversas possibilidades e mudanças curriculares, metodológicas,
em mais de uma escola ou sistema de realidades. O planejamento é também Outro desafio dos modelos flexíveis: avaliativas e participem ativamente de
ensino, dão muitas classes, tem muitos diversificado, com repertório de estra- mudar a cultura tradicional do do- todo o processo. Temos que abrir a
alunos e isso dificulta sobremaneira a tégias diferentes e também de aplica- cente (sair do papel transmissor) e escola para que os estudantes e pais
realização de um bom trabalho. Sem tivos para cada etapa. O planejamento, do aluno (acostumado a obedecer) participem das decisões importantes;
condições objetivas, é heroico pedir o desenvolvimento e a avaliação são para modelos ativos mais participati- abrir a escola para a comunidade;
que os docentes sejam inovadores. abertos para poder incorporar e dia- vos. É um processo mais complexo, que convidar pais e pessoas da comuni-
logar com as diferenças propostas e exige ação coordenada dos gestores, dade a compartilhar sua experiência
situações pessoais, grupais e de classes formação continuada (cursos, oficinas, profissional com palestras, oficinas ou

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a “adotar” alguns estudantes que pre- avançar mais aceleradamente no re- arquiteturas pedagógicas serão mais extremamente importante para que
cisem de maior apoio pedagógico ou desenho de projetos educacionais que abertas, personalizadas, ativas e cola- cada um consiga avançar no seu ritmo
socioemocional. A mudança de cultura sejam flexíveis, de qualidade, de custo borativas, com diferentes combinações, e para que todos aprendam juntos, em
demora, precisa de reforço contínuo, menor e de resultados mais rápidos e arranjos, adaptações num país com re- todos os espaços, tempos e de múlti-
de perseverança, de gestão atenta e ágeis. As escolas (básicas e superiores) alidades muito desiguais. plas maneiras. É um caminho sem volta
de avalição constante. precisam trabalhar em dois planos, o de e que tende a se aprofundar em todos
curto e o de médio prazo. Há mudanças A educação híbrida, ativa, personali- os níveis de ensino de agora em diante
Os modelos ativos híbridos fazem que são mais facilmente implemen- zada, flexível e colaborativa, traz no- e nos traz imensas oportunidades de
mais sentido quando são organizados táveis em um ou dois anos, enquanto vas possibilidades de contribuir para avançar para termos uma educação
com políticas públicas sólidas, coe- outras precisam ser cuidadosamente transformar a forma de ensinar e de mais humana, criativa e de qualidade,
rentes e com visão de longo prazo, (o preparadas para serem bem-sucedidas, aprender. É um processo complexo, para todos.
que não vemos atualmente). Eles fazem evitando possíveis retrocessos e revira- ainda desigual, com inúmeras contra-
mais sentido quando estão planejados voltas. Ao mesmo tempo que fazemos dições estruturais e conjunturais, mas
institucionalmente e de forma sistê- as mudanças possíveis agora, neste
mica, como componentes importantes período de transição, é importante de-
de reorganização do currículo por com- finir um projeto estratégico de trans- SOBRE O AUTOR
petências e projetos, de forma flexível, formação no médio prazo das escolas
com diversas combinações de acordo para que realmente sejam modernas, JOSÉ MORAN
com as necessidades do estudante (per- atraentes, envolvente e relevantes nos
Professor da USP, pesquisador e designer de ecossistemas inovadores na Educação
sonalização), intenso trabalho ativo em próximos anos. Blog Educação Transformadora
equipes, tutoria/mentoria (projeto de
www2.eca.usp.br/moran
vida) com suporte de multiplataformas
digitais integradas. Apesar dos avanços,
são muitos os desafios a enfrentar para CONSIDERAÇÕES
termos uma educação híbrida, flexível e FINAIS
de qualidade para todos.
A separação entre espaços físicos pre-
Há condições estruturais que dificultam senciais e digitais diminuiu, reconfigu-
a mudança e que são essenciais para rou-se - como em outras áreas da nossa
uma transformação mais consistente, vida - e há um crescente consenso de
sistemática na Educação do país: polí- que construiremos, a partir de agora,
ticas públicas coerentes, integradas e muitas propostas diferentes de ensi-
com visão de longo prazo; docentes e nar e de aprender híbridas, mais flexí-
gestores mais valorizados, capacitados, veis, personalizadas e participativas, de
criativos, empreendedores e humanos acordo com a situação, necessidades
(entre tantos outros fatores). Podemos e possibilidades de cada aprendiz. As

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REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS

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https://bit.ly/39ylxd4 tario - https://www.theflippedclassroom.es/integracion-de-flipped-learning-
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Penso, 2015. CH, TANZI & TREVISANI. Ensino Híbrido: personalização e Tecnologia na
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BACICH, L & MORAN, J. Educação híbrida: reflexões para a educação pós-
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BRITO, M. S.A Singularidade Pedagógica do Ensino Híbrido. Rio de Janeiro - SCHEIEL e outros. Contribuições do Google Sala de Aula para o Ensino Híbri-
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V10, e948. 2020. Disponível em: https://eademfoco.cecierj.edu.br/index.php/
Revista/article/view/948/537 SPENCER, John - 5 Models for Making the Most Out of Hybrid Learning
–http://www.spencerauthor.com/5-hybrid-models/
BORUP, Jered; WALTERS, Shea; CALL-CUMMINGS, Meagan. Student Per-
ceptions of Their Interactions with Peers at a Cyber Charter High School. TEACHTHOUGHT STAFF - 12 Of The Most Common Types Of Blended
Online Learning, v. 24, n. 2, p. 207-224, 2020. Learning - https://www.teachthought.com/learning/12-types-of-blended-
-learning/
HORN, M. & STAKER, H. Blended: usando a inovação disruptiva para apri-
morar a educação. Porto Alegre: Penso, 2015

20 21
ENSINO HÍBRIDO:
desafios em busca
da equidade
Lilian Bacich
COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

CONSIDERAÇÕES Híbrido, que combina o uso tecnologia


INICIAIS digital com as interações presenciais,
pode ser um modelo para alavancar uma
A necessidade de caracterizar a impor- mudança no processo de condução das
tância do uso integrado das tecnologias aulas com uso de tecnologias digitais,
digitais no ensino, atrelado às oportuni- uma vez que envolve reflexões sobre
dades de personalização, e sua implica- todo o contexto educacional, especifi-
ção na formação de conceitos, entendida camente sobre o uso das tecnologias
como processo de apropriação de novos digitais na personalização do ensino. Isso
conhecimentos de forma sistematizada posto, busca-se a oferta de momentos
no ambiente escolar, reforça a importân- em que as tecnologias digitais se confi-
cia da temática a ser desenvolvida nesse guram como recursos para potencializar
capítulo. A realidade das escolas que, ape- a aprendizagem e, ao mesmo tempo,
sar de incorporarem o uso de recursos manter os momentos de aprendizagem
digitais em sua rotina pedagógica, prin- presencial, em que a mediação seja feita que consideram o estudante no centro vezes torna todo o grupo homogêneo e
cipalmente impactados pela pandemia pelo professor, pelos pares e por outros do processo e, por fim, serão apresenta- supõe que o tempo, o ritmo e a forma de
vivenciada em 2020, ainda têm dificuldade recursos mediadores. Alguns autores dos resultados de uma pesquisa realizada aprender são iguais para todos. Ao utili-
em modificar as formas de lidar com o ainda enfatizam que o modelo de Ensino com professores que implementaram os zar diferentes estratégias de condução
planejamento das aulas, especificamente Híbrido está baseado em uma reunião modelos de ensino híbrido em sala de da aula, aliadas com propostas on-line,
quando o foco deveria ser o estudan- de diferentes teorias, metodologias e aula e os principais aprendizados dessa as metas de aprendizagem dos alunos
te no centro do processo. Apesar de já técnicas de ensino on-line que apoiam o implementação. podem ser mais facilmente atingidas e
estar presente em diferentes contextos ensino presencial, face-to-face, durante momentos de personalização do ensino
diários e de ser considerada importante o processo de aprendizagem que ocorre ELEMENTOS podem ser identificados.
na Educação, a mudança na escola para em sala de aula, misturando os melhores FUNDAMENTAIS
o uso integrado das tecnologias digitais aspectos das duas abordagens de ensino Inserir as tecnologias digitais de forma in-
tem demandado esforços em relação à (MORGAN, 2002; DRISCROLL, 2002). As estratégias metodológicas a serem tegrada ao currículo requer uma reflexão
infraestrutura, formação de professores, utilizadas no planejamento das aulas são sobre alguns componentes fundamentais
Assim, nesse capítulo, serão apresenta- recursos importantes ao estimularem a desse processo: o papel do professor
estruturas curriculares, práticas de sala
dos dois subitens, em um deles, os papéis reflexão sobre outras questões essen- e dos estudantes em uma proposta de
de aula e modos de avaliação.
de estudantes e educadores, da avalia- ciais, como a relevância da utilização das condução da atividade didática que se
É importante reforçar que apenas o uso ção e das tecnologias digitais como re- tecnologias digitais para favorecer o en- distancia do modelo considerado tradi-
das tecnologias digitais na escola não cursos que possibilitam a aprendizagem gajamento dos alunos e as possibilidades cional; o papel formativo da avaliação e
fornece indicações suficientes de sua im- e a coleta de dados; em seguida, será de personalização do ensino. É certo que a contribuição das tecnologias digitais na
portância na aprendizagem se a inserção apresentada a abordagem denominada as pessoas não aprendem da mesma for- personalização do ensino; aspectos que
não for acompanhada de uma mudan- Ensino Híbrido com o propósito de pos- ma, no mesmo ritmo e ao mesmo tempo. serão discutidos a seguir.
ça no processo. A proposta de Ensino sibilitar uma reflexão sobre os modelos O ensino considerado “tradicional” muitas

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

Sancho (2006, p.19) considera que a prin- se trata de um movimento gradativo e lações em suas apresentações, tornan-
cipal dificuldade de transformação dos que ocorrem em etapas até que seja pos- do-as mais interessantes aos estudantes
contextos educacionais para a incorpo- sível alcançar uma ação crítica e criativa e aproximando mais os estudantes dos
O ensino considerado
“tradicional” muitas ração das tecnologias digitais parece por parte do professor na integração conceitos com que devem interagir. Em
vezes torna todo o grupo estar centrada no fato de que “a tipologia das tecnologias digitais em sua prática. A seguida, o professor passa por um mo-
homogêneo e supõe de ensino dominante na escola é a cen- pesquisa Apple Classrooms of Tomorrow mento de apropriação; nessa situação,
que o tempo, o ritmo e a trada no professor”. Assim como encon- - ACOT (APPLE, 1991) identificou cinco ele passa a atuar de forma mais crítica
forma de aprender são trado em constatação de outros autores etapas nesse processo. ao selecionar o que utilizar para apri-
iguais para todos. (COLL & MONEREO, 2010; COSTA et al., morar sua prática, inicia um processo de
2012; BACICH, TANZI NETO & TREVI- Inicialmente, o professor é exposto ao avaliação do potencial pedagógico dos
SANI, 2015), essa postura do educador uso de tecnologias digitais e inicia o pro- recursos e começa a desenvolver proje-
Papel do professor e do estudante cesso de exploração dos recursos, no
como centro do processo não considera tos que ampliam o uso do recurso digital
o fato das tecnologias da informação sentido de identificar as competências que era, até o momento, um suporte para
Podemos observar que, na época em
e da comunicação possibilitarem a mu- necessárias para seu uso, compreen- a prática com a qual estava familiariza-
que os computadores foram inseridos na
dança de papel dos educadores e dos dendo técnicas essenciais para lidar com do. Finalmente, tem início um processo
escola, muitos professores que aderiram
estudantes em sala de aula. E, cabe res- eles. Em seguida, ao sentir-se confortá- denominado inovação, em que a criati-
à novidade continuaram a ministrar o
saltar, a mudança deve ser analisada e vel com alguns recursos básicos, o pro- vidade passa a ser a tônica e espera-se
mesmo tipo de aula, mudando apenas o
considerada nos momentos em que se fessor passa a adotá-lo em algumas prá- que a integração das tecnologias digitais
recurso (computador no lugar do quadro
faz necessária. De forma alguma deve ticas. Por exemplo, no início do uso dos às práticas pedagógicas seja ainda mais
de giz).
ser menosprezado o papel do professor, computadores nas escolas, o professor evidente e eficiente em relação à apren-
“Se o ensino tradicional já é nem tampouco, desconsiderar momen- deixa de utilizar a máquina de escrever dizagem dos alunos.
questionado quando se usam tos em que é necessária a sistemati- e passa a utilizar um editor de texto ao
os instrumentos tradicionais zação de certos conteúdos. O que se elaborar uma tarefa a ser realizada pelos O papel do professor, ao fazer uso das
de ensino, muito mais ques- defende nessa mudança de postura é a alunos, ou, mais recentemente, aprende tecnologias digitais, baseado nos ob-
tionável é tentar colocar os reflexão de que o equilíbrio de aborda- a utilizar um recurso como o PowerPoint, jetivos de aprendizagem que pretende
mesmos esquemas tradicio- gens didáticas deve ser considerado e, ou Prezi, e começa a utilizá-los em suas atingir, supõe, portanto, uma análise da
nais num instrumento como o dessa forma, a inserção das tecnologias aulas. Note-se que ocorre apenas uma abordagem pedagógica mais adequada
computador”, afirmavam Mar- digitais nesse processo deve ser avalia- substituição de um recurso já utilizado a ser utilizada. Nesse aspecto, a condu-
ques, Mattos e Taille (1986, da e inserida de acordo com os objetivos em sua prática, por outro, mais “tecno- ção da aula, em que o estudante está no
p.43) em sua pesquisa sobre que se pretende atingir. lógico”. A próxima etapa é identificada centro do processo, tem maior aderência
o uso do computador para o como adaptação; nesse momento, tem a esse propósito do que o modelo de
ensino de língua portuguesa Nesse contexto, compreende-se que a início um processo de identificar como o “palestra” em que o professor expõe o
realizada no início da década utilização de tecnologias digitais, em recurso pode ser melhor utilizado para mesmo conteúdo, a todos os estudantes,
de 80. situações de ensino e de aprendizagem, possibilitar um aprendizado mais eficien- ao mesmo tempo e da mesma forma.
não é uma ação que ocorre de um dia te por parte de seus alunos. O professor
para o outro. Estudos demonstram que passa a inserir vídeos, ou pequenas simu- Quando refletimos sobre a forma que os

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estudantes podem fazer uso das tecno- para resolver a questão. Assim, pesqui- A avaliação e a personalização Cabe ressaltar que, quando a perspecti-
logias digitais como fonte de informa- sar sobre a descoberta da vacina e sua va de personalização de ensino é coloca-
ções e construção de conhecimentos, utilização é um tipo de proposta em que A reflexão sobre a relação entre ava- da em prática, não significa, apenas, dar
é importante a reflexão sobre o que é a resposta será encontrada em muitos liação e personalização do processo de a chance de escolha ao aluno para que
solicitado deles como tarefas de aprendi- sites. Mas, relacionar a importância das ensino e de aprendizagem está no cer- ele decida seu percurso e afirmar que,
zagem. As propostas feitas pelos profes- vacinas com os impactos em sua saúde, ne da discussão sobre ensino híbrido. A com essa oportunidade ele irá aprender
sores devem ser objeto de reflexão para comparando as carteirinhas de vacinação inserção e a integração das tecnologias mais e melhor. Mais do que isso, significa
esses estudantes. Por exemplo, a busca dos colegas com as vacinas que devem digitais decorrem dessa reflexão. oferecer condições para que o percurso
de informações e o resultado dessa bus- ser tomadas em cada faixa etária, en- seja compartilhado e que as decisões
Segundo Bray e McClaskey (2014), em
ca, em uma sociedade digital, habitada tre outras possibilidades, torna única a sobre os próximos passos possam ser
um ambiente de ensino e de aprendiza-
por um grande número de nativos digitais resposta e, dessa forma, não será en- tomadas de forma conjunta, entre estu-
gem “individualizado”, as necessidades
que frequentam nossas escolas, é algo contrada uma pesquisa pronta sobre o dante e educador; que as ações mentais
do aluno são identificadas por meio de
que ocorre de uma forma cada vez mais assunto. A busca de informações toma, envolvidas no processo ocorram com
avaliações e a instrução é adaptada.
interativa e em uma velocidade muito então, outras proporções, outros cami- algum tipo de intervenção do estudan-
Em um ambiente de ensino e de apren-
maior do que a estrutura atual de nos- nhos, outras formas. te, não com a recepção de um plano de
dizagem “diferenciado”, os alunos são
sas escolas consegue assimilar. Copiar e ensino que contemple apenas aquilo que
Os recursos digitais, portanto, ofere- identificados com base em seus conhe-
colar as informações obtidas no primeiro o educador considera ser essencial para
cem versatilidade e diversidade de uso, cimentos ou habilidades específicas em
site que é apresentado ao aluno em uma o aprendizado de uma determinada área
configurando-se como um importante uma área e o professor organiza esses
ferramenta de busca, como o Google, é do conhecimento. Ter uma linha central
aliado do trabalho docente. Com o auxílio alunos em grupos por afinidades para
uma atitude corriqueira em atividades de que indique o que deve ser requisito
da máquina, as redes e novas conexões atendê-los melhor. Em um ambiente de
pesquisa realizada por alunos de qual- fundamental para a compreensão de um
formadas ampliam-se de tal maneira que aprendizagem “personalizado”, o apren-
quer faixa etária. Ao buscar informações, dado conteúdo é importante, porém,
estabelecer conexões entre todas essas dizado começa com o aluno. O estudan-
o aluno deve aprender a procurar sites sem um conhecimento das necessidades
informações requer um aprendizado prá- te tem oportunidade de identifica como
confiáveis e, principalmente, a verificar, dos estudantes, o currículo torna-se
tico e não teórico. Só há possibilidade de aprende melhor e os objetivos de apren-
de forma crítica, o conteúdo por eles arbitrário e não considera o aluno como
aprender a fazer um uso integrado das dizagem são organizados de forma ativa,
apresentado. Por outro lado, se a pro- centro do processo. Um processo de
tecnologias digitais se estudantes e edu- juntamente com o professor. Essa forma
posta de pesquisa, feita pelo professor, personalização que realmente atenda
cadores fizerem uso desses recursos em de conduzir a aprendizagem deve estar
limitar-se a um levantamento de dados, aos estudantes requer que eles, junto
situações reais de aprendizagem, atuan- embasada em uma boa avaliação que ofe-
todos os sites apresentarão respostas com o professor, possam delinear seu
do de forma colaborativa e vivenciando reça oportunidade, segundo Campione
semelhantes e copiar e colar será a me- processo de aprendizagem, selecionan-
situações em que as TIC possibilitem um (2002), de destacar as forças e fraquezas
lhor forma de realizar a tarefa proposta. do recursos que mais se aproximam de
posicionamento crítico e, consequente- que um indivíduo ou grupo de indivíduos
O professor deve, então, propor ativida- sua melhor maneira de aprender. Aspec-
mente, favoreçam uma aprendizagem possui e, assim, seus resultados sejam
des que busquem uma comparação, uma tos como o ritmo, o tempo, o lugar e o
realmente transformadora. traduzidos em uma reformulação do pro-
postura reflexiva ou, ainda, a utilização modo como aprendem são relevantes
grama educacional, orientando para uma
de informações pessoais, decorrentes quando se reflete sobre a personaliza-
análise do processo e não do produto.
do que foi trabalhado em sala de aula, ção do ensino.

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

ENSINO HÍBRIDO Observa-se que, das diferentes fon-


tes de pesquisa, a que envolve essa
A concepção de Ensino Híbrido na Edu- abordagem na Educação Básica é a
cação Básica, que mais se aproxima do proposta desenvolvida por Staker e
que tem sido encontrado em pesquisas Horn (2012) e Horn e Staker (2015)
atuais sobre o tema, é aquela que pro- e que apresenta algumas estratégias
move uma integração entre o ensino metodológicas para a condução das au-
presencial e propostas de ensino on- las no modelo híbrido de ensino. Essas
-line, que ocorrem na sala de aula ou estratégias almejam, mais do que a in-
fora dela, porém, preferencialmente na serção ou a integração das tecnologias
escola, sem modificar a carga horária digitais, a personalização do ensino,
presencial, com foco na personalização. no sentido de aproximar as ações de
O papel desempenhado pelo professor ensino às ações de aprendizagem e dar
e pelos estudantes sofre alterações condições ao professor para identificar
em relação à proposta de ensino tra- as necessidades de seus estudantes e Figura 1: Modelos de ensino híbri-
dicional e as configurações do espaço intervir no que for preciso. do – Instituto Clayton Christensen
Fonte: Horn e Staker (2015. p.38).
e da estratégia de condução das aulas
favorecem momentos de interação, A organização dos modelos de Ensino
colaboração e envolvimento com as Híbrido (HORN & STAKER, 2012; 2015) 1. Modelos de rotação: nesse mo- para a aula em questão. Podem
tecnologias digitais. Diferente da de- aborda formas de encaminhamento delo, os estudantes revezam as ser realizadas atividades escri-
finição de Blended learning como uma das aulas em que as tecnologias di- atividades realizadas de acordo tas, leituras, entre outras. Um
modalidade de ensino presencial e a gitais podem ser inseridas de forma com um horário fixo ou de acordo dos grupos estará envolvido
distância, em que a carga horária on-li- integrada ao currículo e, portanto, não com a orientação do professor. com propostas on-line que, de
ne (a distância) não ocorre no ambiente são consideradas como um fim em si As tarefas podem envolver dis- certa forma, independem do
físico da instituição de ensino, o Ensino mesmas, mas têm um papel essencial cussões em grupo, com ou sem a acompanhamento direto do
Híbrido volta-se para uma proposta de no processo, principalmente em relação presença do professor, ativida- professor. É importante valo-
“mistura” metodológica que impacta à personalização do ensino. As propos- des escritas, leituras e, necessa- rizar momentos em que os es-
na ação do professor em situações de tas de Ensino Híbrido organizam-se de riamente, uma atividade on-line. tudantes possam trabalhar de
ensino e nas ações dos alunos em situa- acordo com o esquema apresentado na Nesse modelo, há as seguintes forma colaborativa e aqueles
ção de aprendizagem e que, na maioria Figura 3 e serão discutidas a seguir. propostas: em que possam fazê-lo indivi-
das vezes, ocorre no ambiente “físico” dualmente. Em um dos grupos,
• Rotação por estações: os estu- o professor pode estar presen-
da escola.
dantes são organizados em gru- te de forma mais próxima, ga-
pos e cada um desses grupos rantindo o acompanhamento
realiza uma tarefa de acordo de estudantes que precisam de
com os objetivos do professor mais atenção. A variedade de

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

recursos utilizados como víde- conduzido pelo professor e in- dual e autônoma, para cumprir deveriam cumprir antes da aula,
os, leituras, trabalho individual centiva o trabalho colaborativo os objetivos fixados pelo pro- envolvendo recursos digitais
e colaborativo, entre outros, entre os alunos, e no momento fessor que estará, com outra ou não (PPTs, vídeos com pa-
também favorece a persona- Solo learning, que estimula o parte da turma, realizando sua lestras ou livros didáticos) e o
lização do ensino, pois, como uso do ensino on-line. De ma- aula da maneira que achar mais tempo da aula era aproveitado
sabemos, nem todos os estu- neira geral, a rotação por es- adequada. para a aplicação dos conheci-
dantes aprendem da mesma tações é um dos modelos mais mentos obtidos nessas ativida-
• Sala de aula invertida: nesse
forma. Após um determinado utilizados por professores que des prévias.
modelo, a teoria é estudada
tempo, previamente combinado optam por modificar o espaço e
em casa, no formato on-line, • Rotação individual: cada aluno
com os estudantes, eles trocam a condução de suas aulas.
e o espaço da sala de aula é tem uma lista das propostas
de grupo, e esse revezamen-
• Laboratório rotacional: nesse utilizado para discussões, re- que deve contemplar em sua
to continua até todos terem
modelo, os estudantes usam o solução de atividades, entre rotina para cumprir os temas
passado por todos os grupos.
espaço da sala de aula e labo- outras propostas. O que era a serem estudados. Aspectos
O planejamento desse tipo de
ratórios. O modelo de Labora- feito na sala de aula (explica- como avaliar para personalizar
atividade não é sequencial e as
tório Rotacional começa com ção do conteúdo) é agora feito devem estar muito presentes
atividades realizadas nos gru-
a sala de aula tradicional, em em casa e, o que era feito em nessa proposta, uma vez que a
pos são, de certa forma, inde-
seguida adiciona uma rotação casa (aplicação, atividades so- elaboração de um plano de ro-
pendentes, mas funcionam de
para um computador ou labo- bre o conteúdo), é agora feito tação individual só faz sentido
forma integrada para que, ao fi-
ratório de ensino. Os labora- em sala de aula. Esse modelo se tiver como foco o caminho a
nal da aula, todos tenham tido a
tórios rotacionais frequente- é valorizado como a porta de ser percorrido pelo estudante
oportunidade de ter acesso aos
mente aumentam a eficiência entrada para o Ensino Híbri- de acordo com suas dificuldades
mesmos conteúdos. Ao início e
operacional e facilitam o apren- do e há um estímulo para que ou facilidades. Uma das experi-
ao término do trabalho, como
dizado personalizado, mas não o professor não acredite que ências relatada nas pesquisas
ocorre na experiência desen-
substituem o foco nas ações essa é a única forma e que ela do Instituto Clayton Christen-
volvida na Innova Schools1, no
convencionais que ocorrem em pode ser aprimorada. Segun- sen (Horn & Staker, 2012) se
Peru, o professor pode atuar
sala de aula. O modelo não rom- do Valente (2014), essa abor- refere à “School of One”2, um
como um mediador, levantando
pe com o ensino considerado dagem foi usada pela primeira curso de verão para o ensino de
os conhecimentos prévios, es-
tradicional, mas usa o ensino vez em 1996, em uma disciplina matemática. Nessa proposta,
timulando o trabalho colabora-
on-line como uma ação susten- de Microeconomia, na Miami ao final do dia, os alunos reali-
tivo e sistematizando, ao final,
tada para atender melhor às University, em Ohio, EUA. De- zavam atividades para verificar
os aprendizados da aula. Nessa
necessidades dos estudantes. nominada inverted classroom, o que aprenderam. Com essas
rede de escolas, por exemplo, o
Nesse modelo, portanto, os foi implementada, segundo o informações em mãos, era cria-
Ensino Híbrido é organizado no
alunos que forem direcionados autor (p.86) por Lage, Platt e da uma playlist de aprendiza-
momento Group learning, que é
ao laboratório trabalharão nos Treglia, e consistia em uma sé- gem para o dia seguinte, com
computadores, de forma indivi- rie de atividades que os alunos
1 - http://www.innovaschools.edu.pe/ 2 - http://izonenyc.org/?project=school-of-one

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um grupo de atividades ou con- que ocorra durante todo o pe- dizado é a chave do envolvi- é a presença estruturante do en-
ceitos nos quais cada estudan- ríodo de aula, ou como a único mento desse aluno. sino on-line. Na escola do Texas,
te deveria trabalhar de acordo tipo de estratégia a ser utiliza- o ensino on-line é considera a
2. Modelo Flex: nesse modelo, os
com suas necessidades. Obser- da. Pelo que se observa, essa “espinha dorsal” (Horn & Staker,
alunos também têm uma lista
vou-se que, ao final do período proposta é uma das estratégias 2015) e o professor, ou outros
a ser cumprida, com ênfase na
de atividades de verão, os es- de personalização do ensino, adultos, fornecem apoio, quando
aprendizagem on-line. O ritmo de
tudantes que faziam parte des- mas que não impede a realiza- necessário. O apoio presencial
cada estudante é personalizado e
se grupo piloto desenvolveram ção das demais estratégias. As pode ser uma tutoria individual,
o professor fica à disposição para
competências e habilidades ma- Summit Schools3, por exemplo, ou o encaminhamento e o supor-
esclarecer dúvidas. Esse modelo,
temáticas sete vezes mais rá- estimulam uma cultura de altas te para um projeto em pequenos
apesar de ser considerado uma
pido que outros grupos. Nesse expectativas, que coloca os es- grupos, sempre de acordo com as
possibilidade metodológica no
modelo, portanto, os estudan- tudantes como protagonistas, necessidades dos estudantes. A
modelo de Ensino Híbrido, requer
tes rotacionam, de acordo com no controle de seu aprendizado organização dos encontros pre-
uma modificação da estrutura
uma agenda personalizada, por na maior parte do tempo. O ide- senciais ocorre de acordo com
de organização dos alunos no
modalidades de aprendizagem. al, segundo eles, seria que os a agenda personalizada e o res-
ambiente escolar. O cerne dessa
A diferença da rotação indivi- estudantes pudessem apren- tante do tempo é preenchido por
proposta é que os alunos podem
dual para outros modelos de der em seu próprio ritmo e que atividades de experimentação,
aprender de forma colaborativa,
rotação é que os estudantes tivessem projetos para apoiar colaboração entre pares, entre
uns com os outros, com o uso dos
não passam, necessariamente, seu aprendizado. Não deveriam outras propostas, com suporte
recursos on-line, independente
por todas as modalidades ou depender de memorização, mas on-line sempre que necessário.
da organização por anos ou sé-
estações propostas. Sua agen- aplicar o que aprenderam em
ries. O Projeto Âncora4, no Brasil, 3. Modelo A La Carte: o estudante
da diária é individual, organiza- situações reais. Nessas esco-
é um dos exemplos desse tipo de é responsável pela organização
da de acordo com suas neces- las, ao chegar, os estudantes
abordagem, que assemelha-se à de seus estudos, de acordo com
sidades. O tempo de rotação, acessam ao seu plano persona-
Rotação Individual, pois requer os objetivos gerais a serem atin-
em alguns exemplos relatados, lizado de estudo e começam a
um plano personalizado a ser se- gidos, organizados em parceria
é livre, variando de acordo com trabalhar em seus objetivos. Ao
guido pelo estudante. Estudantes com o educador; a aprendizagem,
as necessidades dos estudan- término dessas tarefas, seguem
do 6º ano podem realizar um pro- que pode ocorrer no momento
tes. Em outros exemplos, pode para as demais propostas do
jeto juntamente com estudantes e local mais adequados, é per-
não ocorrer rotação ou, ainda, dia. Seguindo esse plano per-
do 7º ou do 8º ano, por exemplo. sonalizada. Nessa abordagem,
pode ser necessário a determi- sonalizado e atingindo seus ob-
A diferença desse projeto nacio- pelo menos uma disciplina é feita
nação de um tempo para o uso jetivos, eles indicam, anotando
nal com o realizado em escolas inteiramente on-line, apesar do
dos computadores disponíveis. em um quadro, quando estão
como Acton Academy , no Texas,
5
suporte e organização compar-
De acordo com os estudos so- prontos para serem avaliados.
bre o modelo de Ensino Híbri- O controle individual do apren- tilhada com o professor. A parte
4 - Acesse o link <http://www.projetoancora.org.
do, observa-se que não há uma br/index.php?lang=port>. on-line pode ocorrer na escola,
5 - Acesse o link <http://www.actonacademy. em casa ou em outros locais. Essa
proposta de Rotação Individual 3 - Acesse o link <http://www.summitps.org/> org/>

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modalidade ocorre na Advanced alunos têm aulas presenciais em Aprendizados da implementação No relato desses professores, compre-
Learning Academy of Wisconsin6, dois dias da semana, e três dias endemos que, entre outras ações, a pos-
em que a presença no ambiente são dedicados à aprendizagem Ao pensar em multiplicar a proposta sibilidade de registrar, por meio de uma
físico da escola é determinada de on-line, em casa. Na segunda mo- de formação de professores em outras filmagem, sua atuação em sala de aula,
forma personalizada, para algumas dalidade, os alunos dedicam-se escolas, principalmente nas escolas da pensar sobre ela e, depois, discuti-la com
das disciplinas cursadas na forma diariamente às atividades on-line, rede pública, foi elaborado um grupo o tutor configurou-se como rico momen-
presencial e, portanto, não há a em casa, e comparecem à escola de experimentações de Ensino Híbri- to de aprendizado.
necessidade de frequência diária para aulas opcionais ou oficinas. do, apoiado pela Fundação Lemann e
no ambiente escolar. Essa abor- pelo Instituto Península, em 2014, e que Filmar a aula toda e depois
dagem é utilizada em países que É importante ressaltar que não há uma contou com a autora desse capítulo na assistir foi um dos momentos
regulamentaram a proposta de ho- ordem estabelecida para aplicação e de- equipe de gestão. mais ricos em meu aprendiza-
meschooling, ou ensino doméstico. senvolvimento desses modelos em sala do. Pude observar o desen-
de aula e não há hierarquia entre eles. O foco das reflexões com o grupo de volvimento dos meus alunos e
4. Modelo virtual enriquecido: Alguns professores utilizam essas meto- professores foi a melhor forma de imple- o meu. Além disso, pude refle-
trata-se de uma experiência rea- dologias de forma integrada, propondo mentação do Ensino Híbrido na realidade tir no que falta para a minha
lizada por toda a escola, em que, uma atividade de Sala de aula invertida brasileira, quando todos os estudantes aula ter um ensino personali-
em cada curso, os alunos divi- para a realização, na aula seguinte, de estavam presentes em sala de aula, con- zado. (Professor B.)
dem seu tempo entre a aprendi- um modelo Rotação por estações (BA- siderando a possibilidade do ensino híbri-
zagem on-line e a presencial. Os CICH, TANZI NETO & TREVISANI, 2015). do ocorrer presencialmente, desde que Nesses momentos de análise do material
alunos podem se apresentar, pre- Os autores apresentam as propostas as tecnologias digitais tenham a possibi- produzido e selecionado por ele, foi pos-
sencialmente, na escola, apenas híbridas como concepções possíveis para lidade de personalizar a aprendizagem. sível, ao professor, confrontar-se com a
uma vez por semana. De acordo o uso da tecnologia na cultura escolar A mudança de toda uma cultura escolar imagem de seu trabalho e explicar suas
com Horn e Staker (2015), mui- contemporânea, uma vez que não é ne- não pode ser feita subitamente. Nesse ações para o tutor. Segundo Clot (2006,
tos programas desse tipo tive- cessário abandonar o que se conhece até aspecto, segundo a proposta do Instituto p.136), “a tarefa apresentada aos sujeitos
ram início como escolas on-line e, o momento para promover a inserção Clayton Christensen (HORN E STAKER, consiste em elucidar para o outro e para
posteriormente, desenvolveram de novas tecnologias em sala de aula 2015), o envolvimento das equipes da si mesmo as questões que surgem du-
programas híbridos para pro- regular, aproveitando “o melhor dos dois escola é fundamental. Algumas ações es- rante o desenvolvimento das atividades
porcionar aos estudantes expe- mundos”. Assim, aprendizagem não tão sob controle do professor que inicia com as imagens” o que, ainda segundo o
riências de escolas consideradas está restrita às aulas do dia ou da sema- a mudança em sua sala de aula. Gradati- autor, opera uma modificação na percep-
tradicionais. A Da Vinci Innovation na, não está restrita às paredes da sala vamente, desperta o interesse de outros ção da atividade realizada, possibilitando
Academy7, na California, ofere- de aula, não está restrita à metodologia professores da escola, que podem se que ações do plano interpsicológico, por
ce o virtual enriquecido em duas do professor, não está restrita ao ritmo envolver com a proposta e, nesse caso, meio do diálogo com o outro, manifes-
modalidades. Em uma delas, os da sala de aula (HORN & STAKER, 2015). é essencial o envolvimento da equipe de tem-se no plano intrapsicológico, no mo-
Há possibilidade de personalizar o ensi- gestão da escola, aprovando essas mo- mento em que o sujeito, ao analisar suas
6 - Acesse o link <http://www.barron.k12.wi.us/
no por meio da utilização de diferentes dificações e avaliando o impacto dessas ações e verbalizar sobre as condutas
schools/alaw.cfm>
7 - Acesse o link <http://www.davincis- recursos didáticos. mudanças no ensino e na instituição. observadas, identifica condições de re-
chools.org/innovationacademy.shtml>

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alizá-las da mesma forma ou, na maioria expositivas e se percebe maior flexibili- veis de ensino há maior permeabi- com uma formação que os capacita para
dos casos, de uma forma aprimorada na dade do currículo, em comparação com lidade para o desenvolvimento da oferecer experiências de aprendizagem
próxima vez. o Ensino Médio, onde culturalmente os proposta, considerando a realida- diversas que envolvem os estudantes
estudantes já se acostumaram com uma de das escolas. com habilidades e competências que pre-
A proposta de analisar a aula de um co- cultura escolar em que o professor está cisam desenvolver e não é apenas a aula
lega e discutir sobre ela também foi con- Assim, é importante que a proposta do
no centro do processo e há uma maior expositiva que tem essa função.
siderada um momento importante para Ensino Híbrido seja divulgada de ma-
cobrança pelas aulas expositivas, tanto
os professores, como demonstrado nos neira clara para comunicar sua solidez As tecnologias digitais oferecem opor-
por parte das famílias quanto, em alguns
relatos a seguir. e explicitar sua acessibilidade / flexibi- tunidade dos alunos produzirem conhe-
casos, pela própria gestão. Em geral, os
lidade e seu potencial para a aprendi- cimentos a partir das experiências que
educadores têm uma visão bastante po-
A proposta de analisar a zagem e a autonomia dos alunos. foram desenhadas especificamente para
sitiva sobre o Ensino Híbrido e as possi-
produção de outro professor esse ambiente. Eventualmente, pode
bilidades que ele oferece. Vejamos estas
permitiu que se criasse um im- considerar o digital como um recurso
possibilidades do Ensino Híbrido:
portante espaço de diálogo e
CONSIDERAÇÕES para a exposição de algum conteúdo,
troca de ideias. (Professor D.) • A proposta do Ensino Híbrido é mas as tecnologias digitais precisam ir
FINAIS
atrativa, e quem trabalha com ela além desse papel, oferecendo também
enxerga positivamente seus re- No Ensino Híbrido, o estudante está no possibilidade de interação e acompa-
Refletir sobre a prática de ou-
sultados, incorporando-a defini- centro do processo e participa de ex- nhamento das aprendizagens individuais
tro colega me fez pensar so-
tivamente em seu repertório. Ela periências de aprendizagem onde tem ou em pequenos grupos, produção de
bre aspectos na minha própria
agrega, e não substitui o que o oportunidade de debater, argumentar, conhecimentos.
prática que eu estava deixan-
professor já utiliza / conhece. desenvolver o pensamento crítico e a
do de lado. (Professor E.) De maneira geral, os aprendizados de-
resolução de problemas. Essas experiên-
• O melhor aproveitamento do En- correntes do Grupo de Experimentações
Em relação aos segmentos mais ade- cias podem ocorrer no momento on-line,
sino Híbrido ocorre com sua apli- em Ensino Híbrido possibilitaram uma
quados para a implementação do ensino mas são melhor aproveitadas no momen-
cação ao longo do tempo: assim, análise sobre a importância de estimular
híbrido, identificou-se que quanto mais to face a face, olho no olho.
alunos e professores conseguem a reflexão, por parte do professor, sobre
básica a etapa de ensino, mais fácil a im- compreender melhor as dinâmicas O professor não é o centro do proces- a organização da atividade didática. Foi
plementação. Nos Anos Iniciais do Ensino e enxergar com maior clareza seus so no Ensino Híbrido. Ele é aquele que possível concluir que o fato de o profes-
Fundamental, por exemplo, há menos resultados positivos. estabelece a mediação entre os estu- sor modificar as estratégias de condução
professores por turma e o tempo da aula
• O ponto mais vulnerável do Ensino dantes e os objetos de conhecimento, da aula funcionou como disparador de
é maior, por esse motivo, o educador tem
Híbrido é no Ensino Médio, onde desenhando experiências que podem reflexões sobre as relações de ensino e
mais autonomia para desenvolver os mo-
são necessárias mais melhorias contar, eventualmente, com a explicação de aprendizagem que se estabelecem
delos propostos e reorganizar a grade,
internas: sistematização e suges- de um conteúdo, mas não é só esse seu em sala de aula e a inserção das tecno-
além de conhecer melhor os estudantes,
tão de práticas e abordagens mais papel. Seria muito pouco reduzir a apren- logias digitais continua sendo um desafio
o que facilita a personalização. Nos Anos
direcionais. dizagem a uma mera exposição de um nas escolas e, de acordo com o que foi
Finais do Ensino Fundamental, os alunos
conteúdo. Professores são profissionais observado, a experimentação de um mo-
são mais receptivos a atividades menos • Por outro lado, para os outros ní-

38 39
COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

delo de Ensino Híbrido, de certa forma, ção desses recursos que, apesar de não
possibilita um melhor aproveitamento serem novidade na educação, não são
REFERÊNCIAS
dos recursos disponíveis e apresenta utilizados de forma eficiente nas escolas.
aos professores estratégias de utiliza-

CLOT, Y. A função psicológica do Trabalho. Petrópolis: Vozes, 2006.


SOBRE A AUTORA
COLL, C.; MONEREO, C. Educação e aprendizagem no século XXI. In: Coll, C.;
Monereo, C. Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecno-
LILIAN BACICH
logias da informação e da comunicação. (pp. 15-46). Porto Alegre: Artmed, 2010.
Diretora da Tríade Educacional. Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvol-
vimento Humano (USP), Mestre em Educação (PUC-SP), Bióloga (Mackenzie) e COSTA, F. A. (coord.); RODRIGUEZ, C.; CRUZ, E.; FRADÃO, S. Repensar as TIC na
Pedagoga (USP). Organizadora dos livros: STEAM em sala de aula, Ensino Híbrido: educação: o professor como agente transformador. Portugal: Santillana, 2012.
personalização e tecnologia na educação; Metodologias ativas para uma educação
inovadora. Participou da redação dos Referenciais Curriculares para a elaboração DRISCOLL, M. “Blended learning: Let’s get beyond the hype.” Learning and
dos Itinerários Formativos (Novo Ensino Médio). Training Innovations, 2002. Disponível em: http://www07.ibm.com/services/pdf/
blended_learning.pdf. Acesso em: 21 abr. 2021.

HORN, M. B.; STAKER, H. Blended: usando a inovação disruptiva para apri-


morar a educação. Porto Alegre: Penso, 2015.
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no: uma aplicação à Língua Portuguesa. São Paulo: Ática, 1986.

APPLE. Apple classrooms of tomorrow: philosophy and structure and what´s MORGAN, K.R. Blended learning: A strategic action plan for a new campus.
happening where. Cupertino, CA: Apple computer, 1991. Seminole. University of Central Florida, 2002.

BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. DE M. Ensino Híbrido: personali- PUENTEDURA, R. R. Building upon SAMR. Retrieved, May, 6: 2014. Disponível
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pdf. Acesso em: 21 abr. 2021.
BRAY, B.; MCCLASKEY. Personalization vs. Differentiation vs. Individualization,
Report v3, 2014. Disponível em: http://www.personalizelearning.com/2013/03/ SANCHO, J. M. De tecnologias da informação e comunicação a recursos edu-
new-personalization-vs-differentiation.html. Acesso em: 21 abr. 2021. cativos. In: J. M. Sancho, F. Hernández & cols. Tecnologias para transformar a
educação. Porto Alegre: Artmed, 2006, pp. 15-41.
CAMPIONE, J. C. Avaliação assistida: uma taxonomia das abordagens e um
esboço de seus pontos fortes e fracos. InH. Daniels (org.). Uma introdução a
Vygotsky. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

40 41
w

A Educação
Infantil e o Ensino
Fundamental:
possibilidades
metodológicas para
as aulas remotas
Fabiane Graziela Gontijo
COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

CONSIDERAÇÕES vamento da situação, ao passar dos A Educação Básica precisou se reinven- da aula: mudou. O espaço da sala de
INICIAIS meses, a pandemia tomou proporções tar quanto ao formato das aulas numa aula, neste novo contexto, atualmente
ainda maiores e as instituições educa- velocidade que, num passado muito re- acontece em todo espaço e em todo
A COVID-19 chega, em 2020, com um cionais tiveram que ser fechadas por cente, não ousaríamos imaginar. Todas lugar. Uma Educação sem muros e sem
panorama de impacto mundial de con- todo o mundo. No Brasil não foi dife- essas mudanças impactaram os mode- impedimento de aprendizado e ocor-
tágio, afetando, assim, todo o cenário rente, as instituições foram fechadas los de comunicação com as crianças e, rendo pela conectividade. Onde houve
mundial, trazendo consequências para no início de março de 2020 e as aulas consequentemente, com as famílias. A uma criança conectada a um educador
todas as áreas e principalmente a saú- foram totalmente suspensas em todo o Pandemia articulou, dentro de todas as com uma ferramenta digital fazendo o
de pública, econômica, política, social e, território brasileiro, passando ao mo- dores vividas por ela, um “xeque mate” papel de transmissão, ou seja, o stre-
logo, todo o campo educacional. delo de ensino remoto emergencial, na Educação Básica, ou seja, fez com aming para aproximar o educando ao
conforme decretos (Portaria nº 343 de que os educadores passassem por um educador gerou muito conhecimento
Todos foram inseridos no isolamento 17 de março de 2020; Portaria nº 473 de processo de transformação digital ime- e aproximação. Porém trouxe também
social. Desse modo, vivenciamos a pa- 12 de maio de 2020; Portaria nº 544 de diato e, assim, incorporarem em sua ro- muita insegurança de ambos os lados.
ralisação das aulas presenciais, pois o 16 de junho de 2020), que autorizavam tina o uso das tecnologias na Educação Esta conexão para chegar na assertivi-
contágio mundial foi massivo ao vírus, a substituição das disciplinas presen- de forma avassaladora. dade do hoje se pautou na afetividade
deixando milhões de crianças e ado- ciais pelas aulas com recursos das Tec- que extrapolou para uma aprendiza-
lescentes fora da escola. Com o agra- nologias de Informação e Comunicação. O conceito de sala de aula como espaço gem efetiva.
físico, em que as crianças se reuniam
em mesas enfileiradas, para início e fim

Figura 2: Articulação de novas ferramentas digitais no contexto escolar das crianças.

Figura 1: Articulação das aulas em formato remoto síncrono (on-line) e assíncrono (off-line).

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A Base Nacional Comum Curricular mas também para o socioemocional, gem e desenvolvimento da Educação nas capacitações dos professores, foi
(BNCC) já previa o uso das tecnolo- pois as crianças apresentavam angús- Infantil e nas Competências específicas algo articulado de forma emergencial
gias, com o objetivo de que os alunos tia, irritabilidade e, por muitas vezes, de área para os Anos Iniciais, os Ob- em todas as instituições. Os planeja-
a utilizassem de maneira crítica e res- escolhiam fechar a câmera e microfo- jetivos de aprendizagem e, também, mentos foram revistos para a entrada
ponsável, ao longo da Educação Básica. ne por todas as dores desse momento o desenvolvimento de habilidades, e de novos modelos de metodologias de
Com o momento pandêmico, isso se ar- pandêmico, sem que o educador, de para garantir todas essas diretrizes, ensino com o foco no distanciamento,
ticulou com mais veracidade, assim res- fato, pudesse entender o que estava a utilização das ferramentas digitais conforme a imagem abaixo.
peitando o que o documento norteador acontecendo por detrás da câmera.
já pontuava quanto à cultura digital na Neste contexto de crianças pequenas, a
Educação Básica. Nesse sentido, as fer- responsabilidade da escola de garantir
ramentas utilizadas pelos educadores que seus alunos estão sendo desen-
tiveram um papel fundamental de não volvidos nas aulas remotas, todas as
só transmitir a informação, mas sim competências gerais alcançadas e que
de gerar e construir conhecimento. As estão estabelecidas pelo documento,
câmeras e os microfones foram incor- foram o grande fator de um planeja-
porados ao “toolkit” essencial para os mento mais eficaz e de muita capaci-
educadores e educandos e, até mesmo, tação aos educadores.
tornaram-se ferramentas de trabalho
para os professores e ferramentas de Educação e Tecnologia ca-
estudo para os alunos. minham juntas, mas unir as
duas é uma tarefa que exige
Com essas novas ferramentas digi- preparo do professor dentro
Figura 3: Revisão do formato da intencionalidade do planejamento do educador colocando es-
tais incorporadas como instrumento e fora da sala de aula. Ao tratégias de ferramentas digitais alinhadas à Base Nacional Comum Curricular.
de trabalho, os educadores se viram mesmo tempo em que ofe-
desafiados a criar novas estratégias e rece desafios e oportunida- A inserção de novas tecnologias digitais essa transformação é a consciência das
aprender um novo jeito de ensinar e de des, o ambiente digital pode às práticas pedagógicas é uma ruptu- possibilidades de inovar na sala de aula,
vivenciar novos momentos de constru- tornar-se um empecilho para ra brusca. É preciso se atentar que o seja qual formato estivermos inseridos,
ção de conhecimento, e, mais do que o aprendizado quando mal desafio maior está na transformação pois a inovação vai refletir diretamente
isso, uma nova forma de mediar, enri- usado (NEIRA, 2016, p. 04). da sociedade atual: o desafio dos edu- no processo ensino-aprendizagem das
quecer e manter a atenção das crianças cadores é adequar seus planejamentos nossas crianças.
de uma forma lúdica, responsável e sem Em meio a tantas incertezas com aulas para que atendam às necessidades dos
esquecer-se da função maior de todos remotas, pois sabemos que as interlo- novos formatos de aula e, também, eles O uso das tecnologias digitais corrobo-
educadores: de formar as crianças para cuções necessárias para a Educação In- precisam atender a demanda urgente ra para o desenvolvimento dos alunos,
a vida, colocando em prática com um fantil vão além do que consta nas com- do uso de novas tecnologias para a cha- ressignificando e ampliando o conceito
olhar criterioso não só para o conhe- petências gerais, pois é preciso garantir mada “Geração Touch Screen” ou nati- de aprender para a dimensão do apren-
cimento que estava sendo construído, em cada aula os Direitos de aprendiza- vos digitais. É importante admitir que der fazendo. Na Base Nacional (BRA-

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SIL, 2017, n.p), existem duas competên- ramentas digitais apresenta-se como colaborativa, participativa, desafiado- precisamos articular as metodologias
cias gerais que estão relacionadas ao um novo olhar para a construção da ra e instigante, na qual os alunos são ativas com um apoio assistido e bem
uso da tecnologia, a quarta e a quinta. aprendizagem significativa que se faz protagonistas e autônomos de sua jor- direcionado e articulando a importân-
Vejamos: necessário com o cenário atual da edu- nada de aprendizagem quando se trata cia do responsável, ou seja, a família,
cação, de modo a impactar de forma dos anos iniciais. Agora, com um olhar para que a aula à distância, remota ou
• Competência 4. Comunicação: Uti- positiva, tornando cada vez mais as- para os pequenos da primeira infância, híbrida, possa ocorrer bem.
lizar diferentes linguagens – ver- sertivos para o ensino e aprendizagem.
bal (oral ou visual-motora, como Desta forma, a Cultura Digital, proposta
Libras, e escrita), corporal, visual, na Base Nacional Comum Curricular,
sonora e digital –, bem como co- passa a ser um pilar imprescindível en-
nhecimento das linguagens artísti- quanto o estudante assume o papel de
ca, matemática e científica, para se protagonista da sua aprendizagem.
expressar e partilhar informações,
experiências, ideias e sentimentos
em diferentes contextos e produ-
zir sentidos que levem ao entendi- É preciso se atentar que
mento mútuo. o desafio maior está
• Competência 5. Cultura Digital:
na transformação da
sociedade atual: o desafio
Compreender, utilizar e criar tec-
dos educadores é adequar
nologias digitais de informação
seus planejamentos
e comunicação de forma crítica,
para que atendam às
significativa, reflexiva e ética nas
necessidades dos novos
diversas práticas sociais (incluindo
formatos de aula
as escolares) para se comunicar,
acessar e disseminar informações,
produzir conhecimentos, resolver
POSSIBILIDADE
problemas e exercer protagonismo
METODOLÓGICA
e autoria na vida pessoal e coletiva. Figura 4: Processo de alinhamento para a efetividade de comunicação com as famílias.

Além dessas competências, a tecnolo- As metodologias ativas e as ferramen-


tas tecnológicas adotadas na Educação A escola estava adaptada com seu for- ativas foram impostas, pois são elas
gia também é citada entre os Direitos
Básica potencializam o aprendizado e mato tradicional com aulas presenciais que colocam o aluno como protago-
de aprendizagem e desenvolvimento da
possibilitam o engajamento necessário e aulas expositivas e muito centrada no nista, e a utilização de novas inserções
Educação Infantil e nas Competências
dos alunos nas aulas. Mas, acima de professor. Com a propagação da COVID, de linguagem foram disseminadas e in-
específicas de área nos Ensinos Fun-
tudo, promovem uma educação mais tudo mudou muito rápido: novas abor- corporadas nas novas rotinas de aula e
damental e Médio. A utilização das fer-
dagens metodológicas e metodologias tornou-se uma educação mais atrativa

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para essas novas gerações, formada cular seu planejamento utilizando novas Ativas, é o de concentrar no ambiente Os Educadores podem pensar em pro-
pelos nativos digitais. Abaixo, segue um metodologias e abordagens, sabendo virtual as atividades mais criativas e postas interessantes de interação on-li-
modelo de proposta de aulas com o uso que a educação pode acontecer com divertidas. É o que dentro das metodo- ne, como indicar vídeos, jogos, brinca-
de metodologias ativas e ferramentas qualidade em qualquer formato. Nesse logias Ativas chama-se de aula inver- deiras, leituras, desde que sejam curtos
digitais para o Ensino: Presencial, Re- exemplo, temos uma articulação para tida. A combinação de aprendizagem e intercalados com as propostas que
moto Assíncrono e Remoto Síncrono. aplicar no modelo do Ensino Híbrido. por missões, desafios, problemas reais, não haja a tecnologia inserida o tempo
Atualmente, o professor consegue arti- jogos, com a possibilidade dos alunos todo, pois é preciso considerar tam-
interagirem, traz a perspectiva do alu- bém que, além do material proposto
no aprender fazendo, mão na mas- pelo professor, a criança poderá ter um
sa, aprendendo juntos, e o professor tempo para assistir a outros conteúdos
sempre mediando esse aprendizado de selecionados pela família. Dessa forma
forma lúdica. o tempo de exposição das crianças será
respeitado e com a devida supervisão.

Figura 5: Proposta de Modelo Híbrido (Presencial, Remoto Assíncrono e Remoto Síncrono).

Os métodos tradicionais, que necessário e um pouco as-


privilegiam a transmissão de sustador, porque não temos
informações pelos professo- modelos prévios bem sucedi-
res, faziam sentido quando o dos para aprender de forma Figura 6: Imagem demonstrando a mistura de metodologias para o sucesso das aulas remotas.

acesso à informação era difí- flexível numa sociedade alta-


A seguir, algumas metodologias que po- va. Os alunos trabalham em gru-
cil. Com a internet e a divulga- mente conectada (ALMEIDA
dem ser incorporadas na Educação Infan- pos para compartilhar e construir
ção aberta de muitos cursos e & VALENTE, 2012).
til e também nos Anos Iniciais, em diversos o conhecimento. Parece apenas
materiais, podemos aprender
Um dos modelos mais interessantes de contextos de aulas virtuais ou presenciais. mais um “trabalho em grupo”, mas
em qualquer lugar, a qualquer
ensinar, hoje, dentro de todas as pos- tem particularidades bem inte-
hora e com muitas pessoas
1. O método Jigsaw tem como prin- ressantes em suas etapas que
diferentes. Isso é complexo, sibilidades de uso das Metodologias
cípio a aprendizagem cooperati-

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permitem desenvolver diferentes Os espaços físicos da esco- educadores tenham familiaridade com é do que um conjunto de ferramentas
habilidades nos alunos. la de educação infantil de- as ferramentas digitais, ainda existe facilitadoras de atividades, e que pode
vem refletir uma concepção certa resistência por parte da minoria, utilizar de diversas formas, dependen-
2. O Storytelling desenvolve a ima- de educação e cuidado com e, mesmo voltando ao “novo normal”, do de cada necessidade pedagógica.
ginação e a capacidade de in- as necessidades de desen- a tecnologia permanecerá nas aulas e Alguns exemplos de uso estão listados
terpretação, além de criar ex- volvimento das crianças, em com o uso cada vez mais ativo e efetivo. abaixo, mas cada um é definitivamente
pressiva conexão com aquilo que todos seus aspectos: físico, Nesse contexto de avançarmos com o livre para encontrar a melhor forma de
se fala ou que se escuta, pelas afetivo, cognitivo, criativo. Es- uso de ferramentas digitais e novas me- utilizar esse material.
contações de história feitas pelos paços internos limpos, bem todologias, é preciso ter um olhar mais
educadores ou alunos. iluminados e arejados, com criterioso quanto a capacitação dos 1. Comunique-se com os alunos.
visão ampla do exterior, segu- educadores que torna-se indispensável
3. Pela aplicação da Gamificação na 2. Promova a colaboração com os
ros e aconchegantes, revela, para estimular uma cultura tecnológica.
educação, os alunos usam ele- alunos.
a importância conferida às Novas metodologias de ensino devem
mentos e estratégias dos jogos
múltiplas necessidades das ser criadas para servirem como ferra- 3. Dê um UP em suas apresentações
para engajar e atingir um objetivo
crianças e dos adultos que mentas pedagógicas capazes de suprir e transforme-as em mais atrativas.
que é o aprendizado do aluno.
com elas trabalham; espaços as reais necessidades das nossas crian-
Há várias ferramentas que pos-
externos bem cuidados, com ças, as quais são totalmente imersivas 4. Engajamento nas aulas faz toda a
sibilitam trabalhar a gamificação
jardim e áreas para brincadei- à tecnologia. diferença.
usando missões para que o aluno
ras e jogos, indicam a atenção
possa cumprir e ter o seu fee- Neste sentido, coloca-se à disposição 5. Crie um portfólio virtual.
ao contato com a natureza e
dback como forma de incentivo um “toolkit” de Ferramentas digitais
à necessidade das crianças 6. Use a criatividade.
a próxima missão. para colaborar com a construção da
de correr, pular, jogar, brin-
car com areia e água, entre proposta de aulas para a Educação In- 7. Gerencie o ensino e a aprendizagem.
4. O movimento Maker teve sua ori-
outras atividades (BRASIL, fantil e para os Anos Iniciais com o foco
gem no início dos projetos Do It
2009, p,50). na ludicidade. Um “toolkit” nada mais
Yourself, mais conhecidos como DIY
ou “faça você mesmo”, em portu-
Com a pandemia, os educadores se rein-
guês. É uma cultura composta pelo
ventaram diariamente e os da Educação
propósito de que qualquer pessoa
Infantil e Anos Iniciais foram atrás de
é capaz de criar, alterar, consertar e
conhecimento de ferramentas digitais
fabricar diferentes tipos de objetos
para articular nas aulas remotas. Segue
com as próprias mãos.
uma lista de ferramentas digitais que
5. O método Mindfulness, que pos- agrega a interatividade, engajamento e
sibilita o controle e concentra- articula bem as aulas com os pequenos
ção nas experiências, atividades que precisavam de apoio no período de
Figura 7: Proposta de um kit de ferramentas para auxiliar os educadores nas aulas remotas da
e sensações do presente. aulas à distância. Embora a maioria dos
Educação Infantil e Anos Iniciais.

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Nesse contexto de novas metodologias A certeza de que a educação pós-pan-


e a inserção de ferramentas digitais, o demia tem um foco no uso de ferra-
papel do educador e do aluno se liqui- mentas digitais é fortalecida pela Base
difica. O educador passa a atuar como Nacional Comum Curricular (BNCC),
mediador de todo o processo de ensino como princípio fundamental para o
e de aprendizagem e o aluno assume o desenvolvimento de competências no
protagonismo em relação a sua apren- educador e, consequentemente, no es-
dizagem, pois, conforme esse artigo, tudante. As aulas expositivas que todos
o objeto de estudo é todo espaço da estavam acostumados, hoje, abre espa-
sala de aula que, atualmente, deve ser ço para outros formatos, em que a sala
considerada ativa e atrativa, em que a de aula virtual também se transforma
aprendizagem está voltada para o pre- em um ambiente acolhedor e significa-
sente, bem como para o futuro. Morin tivo. O protagonismo do professor abre
(2000, p. 47) afirma: um lugar às estratégias pedagógicas Figura 8 Essa imagem é uma demonstração de uma aula criativa sobre os animais da Fazenda,
onde a sala de aula virtual traz essa ludicidade e jogos lúdicos e pedagógicos para as crianças.
centradas no aluno, nas quais esse alu- Ferramenta digital: Gobrunch.
A educação do futuro deverá
no absorve o uso das tecnologias com
ser o ensino primeiro e univer- Para Piaget (1967), “o jogo não pode 5. Autoconhecimento;
o olhar lúdico para o aprendizado e isso
sal, centrado na condição hu- ser visto apenas como divertimento
se deve ao uso de metodologias ativas.
mana. Estamos na era plane- ou brincadeira para desgastar energia, 6. Melhora na percepção auditiva e
tária: uma aventura comum pois ele favorece o desenvolvimento fí- visual;
conduz os seres humanos, sico, cognitivo, afetivo e moral”. Portan-
7. Relação entre o mundo externo
onde quer que se encontrem. to, o brincar é uma necessidade básica
e interno;
Estes devem reconhecer-se e fundamental para o ser humano.
em sua humanidade comum e 8. Desenvolvimento da imaginação;
ao mesmo tempo reconhecer Os benefícios ligados às atividades lú-
a diversidade cultural ineren- dicas, independente de qual ambiente 9. Vivenciar sentimentos positivos.
te a tudo que é humano. Co- a criança está inserida, off-line ou on-
-line, são: Estudos defendem que a ludicidade
nhecer o humano é, antes de
também está atribuída nos ambientes
mais nada, situá-lo no univer-
1. Estímulo à independência; digitais destinados à Educação Infantil
so, e não separá-lo dele.
e aos ao Ensino Fundamental. Se con-
2. Desenvolvimento de habilidades
siderarmos que, mesmo antes de ler
motoras;
e escrever, os pequenos estão conec-
3. Socialização; tados ao mundo digital, a tecnologia
ganha espaço e relevância na primeira
4. Interação; etapa da Educação Básica. Entenden-

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do que a proposta da Base Nacional na educação. Ou seja, as práticas peda- A competência guarda o sen- depara com todo o exercício das ope-
Comum Curricular (BNCC) é articular gógicas devem continuar em crescente tido de saber fazer bem o de- rações mentais e precisa auxiliar seus
sobre o uso das tecnologias e seu papel uso da tecnologia e dos recursos digi- ver. Na verdade, ela se refere alunos a desenvolver suas habilidades
na Educação. Para essa fase escolar, a tais para a construção de aprendizados sempre a um fazer que requer e por consequência as competências.
BNCC propõe que os recursos digitais significativos, conforme a Teoria da um conjunto de saberes e im- Um processo que requer aprendizagens
sejam inseridos nos seis Direitos de Aprendizagem Significativa, proposta plica um posicionamento dian- constantes, dado o caráter de evolução
aprendizagem e desenvolvimento, por por David Ausubel (1918-2008). te daquilo que se apresenta e renovação incessantes da área.
isso, nesse momento pandêmico, o edu- como desejável e necessário.
cador deve, cada vez mais, entender a É importante reiterar que a É importante considerar-se o Morán (2015, p. 5) destaca: “O que a
BNCC e seu direcionamento para que aprendizagem significativa se saber, o fazer e o dever como tecnologia traz hoje é a integração de
as suas aulas estejam embasadas com caracteriza pela interação en- elementos historicamente si- todos os espaços e tempos. O ensinar
esse documento norteador. tre conhecimentos prévios e tuados, construídos pelos su- e aprender acontece em uma interliga-
conhecimentos novos, e que jeitos em suas práxis. ção simbiótica, profunda e constante
Explorar movimentos, gestos, essa interação é não literal e entre os chamados mundo físico e digi-
sons, formas, texturas, cores, não arbitrária. Nesse processo, O saber e fazer devem andar juntos, tal.” Ou seja, integração real dos espa-
palavras, emoções, transfor- os novos conhecimentos adqui- numa perspectiva em que, historica- ços e dos tempos, o que proporciona
mações, relacionamentos, rem significado para o sujeito e mente, o professor precisa mudar sua aos alunos compreenderem de forma
histórias, objetos, elementos os conhecimentos prévios ad- prática e envolver seus alunos numa assertiva o que precisam compreender
da natureza, na escola e fora quirem novos significados ou aprendizagem significativa, dando sen- em determinado momento. Entretanto,
dela, ampliando seus saberes maior estabilidade cognitiva tido ao ato de aprender e de ensinar. para que esse processo seja realizado,
sobre a cultura, em suas di- (MOREIRA, 2012, p. 2). Conectar o mundo a partir do local da o professor precisa mediar a interação
versas modalidades: as artes, escola e a partir da concretização da dos alunos e com os alunos. “O pro-
a escrita, a ciência e a tecno- A tecnologia educacional é uma das aprendizagem, com um objetivo comum. fessor precisa seguir comunicando-se
logia (BNCC, 2017). formas de linguagem digital, não é a Nesse sentido, o fazer bem está ligado face a face com os alunos, mas tam-
única, contudo, faz parte do rol das à qualidade do que é feito, instruir, usar bém deve fazê-lo digitalmente, com
Assim, neste momento de aulas remo- competências a serem desenvolvidas recursos diferenciados com qualidade, as tecnologias móveis, equilibrando a
tas, os educadores devem utilizar das em sala de aula nas diversas áreas. Para não só usar, compreender o objetivo é interação com todos e com cada um”
possibilidades de uso de metodologias aplicá-la, temos dois caminhos: a práti- estipular claramente os fins aos quais (MORÁN, 2014, p. 6). Isto é, os profes-
ativas para as aulas remotas, para uma ca e a reflexão crítica. Neles, podemos estão sendo usados. Esse é o movimen- sores são fundamentais em todo pro-
construção de significados sobre no- encontrar respostas que dão sentido to de competência do uso da tecnologia. cesso, seus papéis mudam, não menos
vos formatos de aulas, sendo outros ao ato de ensinar e de aprender: o que, importante, representam o elemento
modelos possíveis. É preciso considerar como e para que, além de construírmos A utilização, a exploração, a navegação orientador, mediador e integrador e
os conhecimentos de diferentes lingua- uma dinâmica de um processo contínuo diária, as integrações das atitudes e do cumprem um papel que nenhuma tec-
gens e modalidades que as crianças da e incorporado à compreensão do mundo pensamento e da mobilização dos sabe- nologia sozinha dá conta que é aquele
geração alpha estão inseridas, e usar e da comunidade em que estamos inseri- res é que garantirá a competência em de formar o humano.
essa particularidade como estratégia dos. Rios (1996, p. 88) afirma o seguinte: si. No contexto escolar, o professor se

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EXPLORANDO AS O planejamento deve contemplar abor- ma Digital de Aprendizagem (PDA), por Aulas virtuais, vídeos, textos, podcasts,
FERRAMENTAS dagens e metodologias, detalhando as exemplo, auxilia professores e alunos a animações, apresentações e jogos são
práticas e atividades que serão realiza- organizarem suas aulas, tarefas e ativi- alguns dos recursos que devem ser
DIGITAIS COM A
das nas aulas remotas, ou seja, as vivên- dades, além de aumentar a colaboração contemplados no planejamento.
INTENCIONALIDADE
cias que serão aplicadas com as crian- e melhorar a comunicação entre eles.
PEDAGÓGICA ças. Deve-se levar em consideração
Configurar, organizar e dirigir a sala de que, dentro da concepção pedagógica,
aula, de forma cada vez mais interativa, existem metodologias e abordagens
envolvendo os estudantes e motivando divergentes, oferecendo uma infini-
o ensino e a aprendizagem, é o foco dade de interpretações e diferentes
do trabalho do educador e é aqui, com estruturas de plano de aula. O mode-
essa organização, que traz a fluidez e lo apresentado neste artigo pode ser
Figura 9: Imagem de um e-book com o passo a passo de um planejamento criativo.
os objetivos claros de qual é a intencio- visto como uma sugestão prática para
nalidade pedagógica que o professor orientar nesse processo. O material
Na busca pelo uso das ferramentas di- ferramentas digitais e metodologias de
busca para, assim, no planejamento apresentado, nesse artigo, pode servir
gitais, aprender e reaprender faz parte ensino por ainda manterem modelos
colocar qual metodologia e ferramen- como exemplo e pode ser remixado e
do processo de formação continuada básicos, no presencial e na Educação a
tas digitais serão utilizadas. Diversificar remodelado de acordo com a necessi-
do professor. Nas últimas décadas, o Distância. Com uma visão voltada para
recursos, atender expectativas e en- dade de cada educador, por isso, a dica
mundo tornou-se mais complexo, con- o tradicional de ensino e de aprendiza-
volver alunos na leitura, compreensão, é: sinta-se à vontade para fazer as suas
forme afirma Morin (2000, p. 64): “Na gem, a disrupção está sendo mais lenta,
escrita e comunicação, contando com o alterações de acordo com a sua reali-
era das telecomunicações, da informa- porém, está acontecendo no seu tempo
apoio de ferramentas digitais que pro- dade educacional.
ção, da Internet, estamos submersos na e de acordo com a necessidade de cada
movam situações capazes de articular complexidade do mundo, as incontáveis local. As competências tecnológicas en-
Em um mundo em que o digital é uma
teoria e prática e, ao mesmo tempo, informações sobre o mundo sufocam volvem o desenvolvimento do educador,
crescente ininterrupta, não utilizá-lo
desenvolvam habilidades necessárias nossas possibilidades de inteligibilidade”. pois precisam dessa atualização, ou seja,
a favor da Educação e na sala de aula
que os alunos precisam ter, por exem- Defender os sentidos das telecomunica- um upgrade de novas habilidades para
é negar o novo. É deixar de lado pos-
plo, as competências socioemocionais. ções, das informações e voltar o olhar que consiga articular com essas novas
sibilidades que se abrem quando bem
Levando em consideração que o plane- para o todo é um dos desafios da escola gerações e que é uma aprendizagem
exploradas. Os estudantes precisam
jamento é um documento abrangente, na era da pós-modernidade. estipulada na BNCC.
do lúdico, das imagens, das canções,
geralmente mensal ou anual, em que
do explorável, do desafio. Para essa
o professor, junto à coordenação pe- Explorar os recursos tecnológicos, a
transformação digital, soluções de
dagógica, determina as metodologias favor da aprendizagem, acende uma luz
aprendizagem de alta qualidade e efi-
e o conteúdo que serão abordados CONSIDERAÇÕES para esse novo modelo de ensino apren-
cazes devem estar alinhadas à proposta
durante o ano letivo para cada etapa FINAIS dizagem da aula remota que a Educação
pedagógica da instituição em todas as
da educação. Básica está vivenciando. Um modelo
etapas da Educação Básica. A Platafor- Muitas instituições tiveram dificulda-
esse que visa integrar tecnologias di-
de em se adaptar com o uso de novas

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

gitais em sala de aula como parte do A Educação passa por um momento e não há motivo para esperar um novo as vivências experimentadas, as refle-
projeto de formação integral dos alunos. de atualização e adaptação de suas normal, para que as aulas aconteçam xões que surgirão, os compartilhamen-
práticas pedagógicas. É nesse contexto em tempos remotos e com a intencio- tos e as intervenções serão efetivas
Sabe-se que os professores não foram que a implementação de uma formação nalidade e riqueza pedagógica presente. se garantirem o bom andamento da
preparados para utilizar recursos como continuada é fundamental para que As atividades bem planejadas, seguindo aprendizagem e se o papel do educa-
o celular, tablet, entre outros em sala de a escola acompanhe as novidades de objetivos claros, vão motivar as crianças dor for o de articulador e de media-
aula, todavia, o momento requer uma novas abordagens educacionais e que com o propósito cognitivo. dor. A autonomia e o protagonismo da
postura diferenciada dos professores. sejam adaptadas para aprimorar sem- criança aparecerão, cada vez mais, em
Em um mundo cada vez mais tecnoló- pre os métodos, tornando-os cada vez Portanto, a aprendizagem em um mun- ambientes que facilitem o aprendizado
gico, o uso das ferramentas digitais a mais assertivos. do de múltiplas linguagens precisa fo- de forma coesa, assertiva e colabora-
favor da aprendizagem se dá de forma car em ferramentas digitais e em novas tiva, buscando o uso de instrumentos
significativa e colaborativa. Nem todos É possível manter a “sala de aula remota” metodologias de ensino para fomentar que representem experiências digitais
são familiarizados com tecnologia, pois com qualidade se o projeto educativo o engajamento, a motivação e o de- práticas as quais oportunizem o desen-
não têm acesso a todas as ferramentas. for inovador e se o Currículo e a gestão senvolvimento das crianças. Em todas volvimento da criatividade.
forem competentes; se o uso das meto-
A BNCC como um documento norte- dologias ativas, dos ambientes físicos e
ador da Educação Básica, descreve o digitais forem atraentes. Tudo refletirá
uso de tecnologias em todos os con- de forma favorável se os educadores
textos da sala de aula. Entretanto, é estiverem nessa constância de prepa-
um desafio para as escolas quanto à ração para o uso de tecnologias para
implementação efetiva, pois as insti- que, de fato, se tornem mediadores e
tuições devem ter consciência que essa protagonistas de uma aprendizagem
implementação precisa ser iniciada pelo rica e estimulante. Sabemos que, no
Projeto Político Pedagógico de cada Brasil, temos inúmeras deficiências his-
instituição e, assim, realizar um alinha- tóricas que passam a ser estruturais e
mento do processo e sedimentar as que vão além de políticas públicas, mas
ações. As metodologias ativas não são os desafios não devem ser confundidos
novas, mas o contexto da inserção é com a dificuldade de aprimoramento. A
novo e serve como uma forma de guia transformação digital é urgente e im-
orientador para auxiliar a equipe gesto- pactará na sala de aula e no ensino e na
ra escolar na aplicação das ferramentas Figura 10: Um mapa mental demonstrando alguns benefícios de atividades digitais e não digitais
aprendizagem de todos os envolvidos. fazendo uma mescla entre o offline e online com a intencionalidade pedagógica.
tecnológicas, no processo de ensino e,
também, na formação dos docentes A Educação Infantil e o Ensino Funda-
que ainda encontram-se no processo mental Anos Iniciais podem e devem ser
de aprendizagem. um universo de aprendizagem significa-
tiva e em qualquer espaço e ambiente

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SOBRE A AUTORA
REFERÊNCIAS
FABIANE GRAZIELA GONTIJO
Graduada em Análise de Sistemas-UniCeub. Graduada em Tecnologia em Análise e EDUCADOR 360. Entenda as Competências sobre Tecnologia Defini-
Desenvolvimento de Sistemas-UniCeub. Psicopedagoga. Extensão em Educação-U-
das pela BNCC. Disponível em: https://educador360.com/gestao/com-
FRGS. Mestranda em Educação pela Universidade Católica de Brasília. Certificada
petencias-tecnologicas-da-bncc/ Acesso em: 26 abr. 2021.
Google Certified Trainer e Coach. Embaixadora de Inovação. Atualmente Especia-
lista de Educacional na FTD - Educação. E-mail: inovacao@fabianegontijo.com.br
GASPARINI, Claudia. 5 Competências Tecnológicas que serão Obriga-
tórias no Futuro. Revista Exame. Disponível em: https://exame.com/car-
reira/5-competencias-tecnologicas-que-serao-obrigatorias-no-futuro/
Acesso em: 26 abr. 2021.
REFERÊNCIAS
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rios de Formação. Brasília: UNESCO, 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Indica-
MORÁN, José. Autonomia e Colaboração em um Mundo Digi-
dores da Qualidade na Educação Infantil. Secretaria da Educação Bási-
tal. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uplo-
ca. Brasília: MEC, SEB, 2009.
ads/2013/12/autonomia.pdf Acesso em: 26 abr. 2021.
______. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.
em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 21 abr. 2021.
Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeane Sawaya. Revisão Téc-
CASTELLS, M. A Sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1993. nica de Edgard de Assis Carvalho. 2 ed. São Paulo: Cortez: Brasília, DF.
UNESCO, 2000.
CIEB - Centro de Inovação para a Educação Brasileira. Disponível em:
https://cieb.net.br/cieb-lanca-curriculo-de-referencia-em-tecnologia-e- NÓVOA, António. Para uma Formação de Professores Construída
-computacao/, Acesso em: 09 abr. 2021. dentro da Profissão. Revista Educação. Disponível em: https://gestao-
escolar.org.br/conteudo/182/tres-bases-para-um-novo-modelo-de-for-
DESAFIOS da EDUCAÇÃO. Experiência do Professor é decisiva para macao Acesso em: 26 abr. 2021.
Ensino de Competências Digitais. Disponível em: https://desafiosdae-
ducacao.grupoa.com.br/professor-competencias-digitais/. Acesso em: MOREIRA, M. A. O que é afinal aprendizagem significativa? Revista
09 abr. 2021 cultural La Laguna Espanha, 2012. Disponível em: http://moreira.if.ufrgs.
br/oqueeafinal.pdf. Acesso em: 26 de abril de 2021.
DIAS, Simone Regina; VOLPATO, Arceloni Neusa. (Org.). Práticas Inovado-
ras em Metodologias Ativas. Contexto: Digital. Coleção Coccinelle, 2017. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 36. ed, São Paulo: Paz e Ter-
ra, 2009.

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Escavando
Escritas Criativas
E Colaborativas no
Ensino Médio: rumos
ao Ensino Híbrido
Graciele Batista Gonzaga
Elaine Cecília Lima de Oliveira
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CONSIDERAÇÕES lares para atender as demandas de uma estações2 e a compreensão de que os cializar a criatividade dos estudantes.
INICIAIS modalidade emergencial, para garantir aspectos pedagógicos possíveis no uso Esses são exemplos de técnicas utiliza-
a continuidade do processo educati- das ferramentas digitais podem ampliar das nas etapas de projetos criativos e
Diante do contexto adverso do ano de vo. Todas as instituições sociais foram o tempo e oespaço da escola, expandin- investigativos em que o estudante deve
2020 e dos desafios decorrentes da im- chamadas a mudarem na rapidez que a do-se em possibilidades de garantia das seguir uma sequência de ações para a
posição do distanciamento social, esse situação necessitou, adotando medidas aprendizagens. construção de um projeto de pesquisa.
artigo tem a intencionalidade de refletir que possibilitassem o trabalho remoto, O marco teórico que fundamenta esses
sobre as estratégias pedagógicas expe- isto é, em casa. Com a escola não foi projetos de pesquisa é um ciclo de pro-
rienciadas com estudantes e docentes diferente: presenciou-se a agilidade nos dução de conhecimento, composto por
PROJETOS COMO
do Ensino Médio, no contexto do Ensino processos adaptativos, incorporando quatro verbos: explorar, experimentar,
novos meios para o desenvolvimento de
TERRITÓRIOS: VIAS produzir e expressar. Inicialmente pode-
Remoto Emergencial (ERE), na perspec-
tiva da reflexão-ação-reflexão. Ainda objetos do conhecimento, como também DE APRENDIZAGEM mos dizer que a exploração de mundo
que as propostas adotadas tenham apa- da aproximação com a cultura digital. se coloca como atitude emblemática
Sobre a metodologia de ensino por pro-
rente temporalidade, sendo experien- Para isso, foram utilizadas plataformas capaz de unir o “espírito desbravador
jetos, Hernández (1998) propõe que,
ciadas na modalidade do ERE, pode-se de ensino que permitissem o desenvol- e curioso dos jovens com a prática de
nessa prática de trabalho, os alunos
pensar as aprendizagens que decor- vimento de aulas síncronas, em tempo pesquisa” (ALENCAR, 2018). Tem-se,
adquirem habilidade de resolver proble-
rem dessas práticas para gestar novas real, e aulas assíncronas, que usam tri- então, uma aprendizagem significativa
mas, articular saberes adquiridos, agir
possibilidades de aprendizagens para o lhas de aprendizagem, indicando um capaz de instigar o aluno a pensar, pro-
com autonomia diante de diferentes
Ensino Médio na educação presencial ou percurso educativo para os alunos, sem blematizar, criar hipóteses, aprofundar
situações propostas, desenvolvendo a
híbrida. Nessa direção, aponta-se con- a presença do professor. Nesse trajeto, sobre determinado assunto, elaborando
criatividade e aprendendo o valor da
tribuições para pensar a ressignificação1 foi necessário transferir atividades de procedimentos de verificação, para pos-
colaboração. A prática de projetos com
da escola e do Ensino Médio, nos novos projetos iniciados no ensino presencial teriormente analisar o objeto de estu-
a utilização dos recursos digitais que
espaços e tempos, a partir de projetos para o remoto. do, propondo soluções para a situação
o modelo de ERE propicia, alinhada à
desenvolvidos com estudantes desse estudada.
Nesse momento, as formações em ser- intencionalidade pedagógica do profes-
segmento de ensino, na perspectiva
viço, envolvendo os docentes e a gestão sor, ampliou as possibilidades de adqui- Em outros termos, vale ressaltar que a
de territórios criativos, socioculturais,
pedagógica, foram fundantes para que rir essas habilidades. experimentação, para Alencar, possibi-
científicos e empreendedores, ou seja,
as novas estratégias metodológicas, lita uma progressão.
dos eixos estruturantes das Diretrizes Salienta-se ainda que o uso da rotação
para a modalidade de ensino emergen-
Curriculares Nacionais para o Ensino por estações e da escrita colaborativa, No âmbito dos estudos dos
cial mediado por tecnologias, fossem
Médio (DCNEM), (BRASIL, 2018). junto com os aplicativos e recursos midi- processos criativos, a experi-
exitosas. Ademais, destacaram-se a
áticos, visam desbravar o olhar e poten- mentação é entendida como
O cenário de uma pandemia exigiu de partilha de saberes mediada por fer-
ramentas digitais colaborativas (links um método heurístico de cria-
toda a sociedade outras práticas esco-
de documentos compartilhados, sites e
2 - Utiliza-se o conceito de rotação por estações ção em que a prática conduz
por ser uma técnica baseada em criar diferentes
1 - Consideramos a ressignificação da esco-
murais virtuais) e o uso de recursos da ambientes dentro da sala de aula no ERE e for- à teoria e a teoria retroa-
la como uma oportunidade de repensarmos a
mar uma espécie de circuito, permitindo que os
função social desta instituição, alinhada às de- educação híbrida, como a rotação por limenta a prática. Estamos
estudantes abordem determinado conteúdo de
mandas da atualidade.
diferentes maneiras.

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aqui falando de um conheci- ca, os processos criativos, a mediação profissional e pessoal, de forma a elabo- o desenvolvimento do letramento digi-
mento que se constrói no ge- e a intervenção sociocultural e o em- rar projetos significativos para a socie- tal, como afirma Matias (apud KERSCH;
rúndio do “fazendo”, no ges- preendedorismo são eixos que deverão dade, partindo da ideia de que os alunos ROJO, 2009), em seu artigo “O Google
to mesmo de experimentar estruturar os currículos referência do são agentes de mudanças e de constru- Drive como ferramenta de escrita cola-
possibilidades de existência Ensino Médio dos estados brasileiros, no ção de uma sociedade ética (OLIVEIRA borativa do gênero projeto de pesquisa:
para as linguagens e as coisas tocante aos itinerários formativos. Com- & BARBOSA, 2019). Nesse sentido, pro- um caminho para o letramento digital”,
(ALENCAR, 2018, p. 33). preende-se que o pensamento científico jetos literários buscam um gosto pela pois este permite o conhecimento de
é a base para o desenvolvimento inte- linguagem e pelo repertório sociocul- tecnologias articulado com a comuni-
Os dois últimos verbos desse ciclo, “pro- lectual do discente, assim como é ponto tural, de modo a aguçar a criatividade cação, propiciando a construção de co-
duzir” e “expressar”, dizem respeito, res- de partida para a descoberta de novos e o desenvolvimento da produção es- nhecimento de forma significativa para
pectivamente, à concreção de ideias saberes. Ademais, pode-se proporcio- crita. Apreende-se, assim, uma tentativa o aluno.
próprias do fazer e da comunicação, nar a habilidade de pesquisa e lidar com de desvincular a elaboração textual de
ou seja, a visibilidade e disseminação situações-problema que requerem co- formatos tradicionais de texto, isto é, Entende-se que a literatura contextu-
das ideias. Sob essa ótica, o uso dos nhecimentos teóricos para sua solução estabelece-se um diálogo com recursos alizada e acessível pode atrair mais os
gêneros textuais alinhados às mídias, (OLIVEIRA & BARBOSA, 2019). midiáticos de imagem. Compartilha-se a jovens. Além disso, há o desafio de de-
como vídeos e apresentações, foi apli- seguir experiências docentes no campo senvolver atividades literárias que pro-
cado na etapa da produção e da expres- Já o eixo estruturante dos processos literário e artístico, com murais virtuais porcione a interação com os alunos em
são como, respectivamente, na ação de criativos, de acordo com os princípios e um projeto de iniciação científica na atividades on-line; por isso, pensou-se
concreção de ideias e de visibilidade e das DCNEM (BRASIL, 2018), tem como área de Linguagens. em propostas de compartilhamento de
disseminação dessas ideias. Trata-se base expandir a idealização e a realiza- textos em murais colaborativos. Os sites
de ações-conhecimento que podem ser ção dos projetos criativos relacionados usados para a prática literária foram:
associadas, no contexto da pesquisa, à às áreas do conhecimento. Isso tem o Padlet, site que permite criações de
formulação de respostas possíveis aos intuito de inserir os estudantes em uma MURAIS páginas em formatos de painéis, linha
desafios identificados que, por sua vez, sociedade mais criativa e inovadora. Eles COLABORATIVOS: do tema, diálogos; Google Fotos, que
podem conduzir à inovação social. Em poderão ter contato com meios artís- ESCAVANDO propicia um espaço de exposição das
outros termos, são produtos de um pro- ticos, culturais, midiáticos e científicos POEMAS criações literárias; Sway, página que
cesso de pesquisa (ALENCAR, 2018) dos de modo a usá-los e criá-los de maneira oportuniza apresentações em diferen-
projetos problematizadores por área de produtiva. Dessa maneira, os processos Sabe-se que os adolescentes têm uma tes formatos. Esses recursos permitiram
conhecimento. criativos permitirão uma elaboração de resistência aos clássicos literários, ou que os alunos inserissem seus textos e
soluções inovadoras, tanto para a socie- percebem a literatura como conheci- imagens de forma anônima ou atribuin-
Entende-se, de tal modo, que para o dade quanto para o mundo do trabalho. mento maçante e tradicional. Por isso, do a autoria, visto que há muitos ainda
desenvolvimento de projetos com práti- buscou-se uma prática de leitura e de que têm dificuldade de divulgar produ-
cas inovadoras no Ensino Médio no ERE Reafirmando esse pensamento, o eixo escrita literária no Ensino Médio no ERE ções autorais para os colegas da turma,
foi primordial contemplar os eixos fun- estruturante da mediação e intervenção que instigasse nos alunos o gosto pela sendo essa uma boa estratégia para in-
dantes, conforme proposta das DCNEM sociocultural do Ensino Médio objetiva leitura, assim como pela escrita literária. centivo do compartilhamento de textos
(BRASIL, 2018). A investigação científi- ampliar os conhecimentos do campo Compreende-se ainda que é relevante e valorização da produção textual.

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Essas aulas eram em formato de ofici- na escola. Uma dessas oficinas foi a híbrido poderia ocorrer em diferentes por meio de consultas e percepções
nas literárias virtuais, que tinham como escrita de fluxo, em que os estudantes espaços e lugares, sendo um processo dos perfis dos alunos.
propostas a escrita criativa, que insti- puderam escrever textos de forma li- contínuo, como aponta Bacich et al.
gava elaborações variadas, haja vista vre, deixando as ideias fluírem sem um (2015), em “Ensino híbrido: personaliza- Nesse rumo, as atividades em murais
que não seguiam um padrão tradicional padrão estabelecido. ção e tecnologia da educação”. Tem-se, colaborativos podem ser uma chave
de textos normalmente trabalhados então, para o retorno do presencial, para essa junção de possibilidades pe-
uma integração entre aulas atividades dagógicas. A seguir, os painéis criados
em sala de aula e o uso dos recursos com escritas criativas dos alunos e da
virtuais, visando uma personalização professora de Literatura.

Figura 1: Mural da atividade de Escrita de Fluxo- oficina de escrita criativa

Observa-se, com essa prática, como do Romantismo, sendo compartilhadas


os estudantes têm predileção pela ex- no Google Fotos e no Sway. Visando Figura 2: Exposição do Dia Mundial da Poesia – Oficina de escrita criativa

pressão escrita, no entanto, temem também um anseio tanto pela escrita


Desta maneira, compreendeu-se que leitura de obras ficcionais ou reais, que
os julgamentos dos colegas ao lerem quanto pela leitura, essa atividade per-
é importante um trabalho com murais seria realizada apenas via análises das
suas produções textuais. Outro ponto mitiu uma boa interação e o comparti-
colaborativos para a valorização da obras. Tem-se, portanto, participações
importante foi o das releituras de po- lhamento de textos em gêneros discur-
produção textual, assim como do com- criativas e, por vezes, com escrituras
emas, possibilitando a escolha e a pre- sivos diversificados, apontando para a
partilhamento de rastros de leituras poéticas e narrativas, ampliando, do
paração de nova versão para o texto, tendência de um ensino híbrido, isto é,
das aulas de literatura, propiciando mesmo modo, o repertório cultural.
com o uso de meios visuais. Tem-se a do uso de espaços virtuais colaborati-
uma aprendizagem que impulsiona um
intenção de aguçar um gosto pelo texto vos associado à roda de leitura em sala
gosto pela leitura e pela escrita, rom-
literário. Por isso, os alunos foram con- de aula e à divulgação das criações em
pendo com o formato tradicional de
vidados a criarem releituras de poemas espaços virtuais. Desse modo, o ensino

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PROJETO LITERÁRIO A produção de conhecimento coletiva foi determinante para desenvol- Os estudos literários permitem tam-
“PELO OLHAR com autonomia, com criativi- ver os projetos de pesquisa, pois permi- bém o contato com diferentes meios
dade e espírito investigativo tiu uma interação em espaços virtuais de culturais e artísticos, assim como com
FEMININO, A VOZ
provoca a interpretação do escrita e contribuiu para as mediações do as formas midiáticas (vídeos, sites so-
NEGRA GRITA”
conhecimento e não apenas professor acerca da produção científica. bre a autora e podcasts), situando uma
Essa idealização surgiu a partir da ne- a sua aceitação. Portanto, na conexão única com a diversidade cultu-
prática pedagógica o profes- Essa prática pedagógica é um possí- ral em uma perspectiva criativa, haja
cessidade de valorização da pesquisa
sor deve propor projetos que vel caminho para o ensino híbrido, por vista que os objetos de estudo apontam
literária, do pensamento científico no
provoquem um estudo sis- propiciar leitura coletiva de trechos da para um caráter metafórico de proble-
campo da linguagem, da expansão do
temático, uma investigação obra, que pode se realizar por meio vir- mas sociais como a fome, o preconcei-
repertório sociocultural, assim como do
orientada, para ultrapassar a tual. Cada integrante do grupo pôde se to e a miséria. Esse processo investiga-
incentivo do aprofundamento de temas
visão que o aluno é produto e expressar via escrita científica de suas tivo, nas aulas remotas, sobre o
sociais a partir da leitura da obra Quarto
objeto, torná-lo sujeito e pro- leituras literárias e de suas hipóteses so- universo da narradora da obra Quarto
de despejo – diário de uma favelada, de
dutor do próprio conhecimen- bre a narrativa estudada, compartilhan- de despejo – diário de uma favelada, de
Carolina Maria de Jesus. Esse projeto
to (BEHRENS, 2013, p. 93). do em espaços virtuais, como murais ou Carolina Maria de Jesus, rendeu uma
inovador literário, “Pelo olhar feminino,
arquivos colaborativos. Nessa perspecti- apresentação na Feira Mineira de Ini-
a voz negra grita”, foi realizado com os
Essa proposta foi embasada, ainda, nos va, necessita-se de metodologias ativas ciação Científica (FEMIC), que acontece
alunos da primeira série do Ensino Médio,
eixos norteadores de leitura e escrita da para o desenvolvimento de atuações virtualmente, sendo um trabalho pre-
sendo desenvolvido, inicialmente, nas au-
Base Nacional Comum Curricular (2018), significativas, de modo que o aluno per- miado pela leitura singular de um texto
las presenciais de Literatura, em 2020, e
assim como na percepção da relevância ceba o universo ficcional e poético de de autoria negra e pelo excelente de-
depois adaptado para o regime remoto.
da investigação de temas culturais, so- forma investigativa, estabelecendo uma sempenho da aluna.
Entende-se que o texto literário não ciais e artísticos, dialogando com pro- ligação com o cenário cultural e econô-
deve ser reduzido apenas à leitura in- cessos criativos. Promoveu-se, de tal mico brasileiro, usando recursos tecno-
terpretativa e às reproduções analí- modo, a valorização literária de uma au- lógicos como sites de busca de artigos
ticas, mas, sim, à pesquisa e ao mer- tora negra, instigando os estudantes a científicos e documentos digitais para a
gulho dos processos metafóricos da desvendarem o universo da literatura leitura e os registros das interpretações
publicação, contemplando o repertório via pesquisa científica de uma escritora realizadas no trabalho.
cultural e, principalmente, a visibilidade relevante no universo contemporâneo
da cultura negra. Nesse sentido, foram das letras, por meio da construção virtual
pensadas investigações com diferentes de um diário de bordo. Esse documento Figura 3: Projeto Premiado na área de Lingua-
... projetos literários gens na FEMIC/2020
objetos de estudo, tendo como texto foi construído de forma colaborativa pe-
buscam um gosto pela
base o livro de Carolina Maria de Jesus los grupos de estudantes, que tiveram
linguagem e pelo repertório Vale ressaltar que o projeto “Pelo olhar
e suas relações com o mundo contem- a oportunidade de se reunir em aulas
sociocultural, de modo feminino, a voz negra grita” pautou-se
porâneo. Nota-se que a construção do virtuais, para desenvolver a pesquisa em
a aguçar a criatividade em uma avaliação de forma global, as-
conhecimento deve ser promovida por arquivo colaborativo e registrar as eta-
e o desenvolvimento da sim como individual. Considerou-se o
pas do projeto. A escrita colaborativa e
propostas que incentivem: produção escrita.
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desempenho efetivo, isto é, prezou-se Apreende-se, ainda, que a imersão


pelo esforço e não apenas o resultado. em novas possibilidades, a vontade de
Dessa forma, a avaliação foi contínua e aprender e de experimentar contri-
gradual, tendo enfoque no processo e buem para um processo significativo
não somente no fruto da pesquisa lite- do ensino e da aprendizagem. É preci-
rária, valorizando as interações digitais so romper com formatos tradicionais,
colaborativas. A prática investigativa não os abolindo, mas, sim, inserindo
literária tem a pretensão de formar uma mescla de recursos, por exemplo,
leitores críticos e refletivos por meio a escrita manual com a digital, ou aulas
do pensamento científico associado a expositivas com propostas em grupos
construções literárias criativas; nesse de rotação. Entende-se também que o
sentido, no fim do ano, ocorreu uma medo de mudanças pode gerar mal-es-
roda de conversa virtual com uma au- tar ou receio do erro, tanto do profes-
tora convidada para estabelecer um sor quanto do aluno. No entanto, são
espaço de criticidade, troca cultural e as tentativas frustradas com reflexão
empreendedorismo literário. sobre o erro que podem alavancar uma
aprendizagem que ultrapassa o forma-
to de transmissão de informações e
uma significativa mudança de tempos. lar quanto em grupos de estudos em
impulsiona o pensamento problemati-
CONSIDERAÇÕES Agora, com um panorama diferente, espaços acadêmicos, ou em clubes que
zador, com criticidade e proatividade.
FINAIS as questões emergem e as incertezas prezam em ajudar o trabalho docente.
É fato que a modalidade de ensino re- imperam em gestores, coordenadores e A formação em serviço ocupará mais
Nota-se, em suma, que é primordial professores, como também nos alunos campo nas instituições de ensino e a
moto provocou muitos desafios frente à
propor trabalhos de investigação com e responsáveis. Vive-se um percurso de vontade de aprender será uma cons-
mudança metodológica das aulas, como
práticas de escrita colaborativa e que uma real mudança no sistema educa- tante, pois o ensino híbrido será uma
o processo de interação à distância e as
promovam a utilização de diferentes cional; a tecnologia é um novo aliado e realidade, não tendo mais retrocessos,
evidências de aprendizagem. No entan-
recursos para elaboração textual, do- não se limita somente aos laboratórios mas, sim, avanços no campo educacio-
to, intensificou-se o debate sobre a real
cumentos ou sites que permitam a cria- de informática: está nas salas de aula, nal no Brasil. A aprendizagem, além de
inserção tecnológica nas escolas. Até
ção e a edição coletiva. Isso é um pos- com transformações nas organizações ser significativa, será colaborativa e
então, as ideias circulavam em torno do
sível caminho do ensino remoto para o das aulas, principalmente por causa dos empreendedora, buscando uma expan-
uso de computadores em laboratórios,
híbrido, partindo da ideia de apropria- protocolos de prevenção do coronavírus são do repertório sociocultural, alicer-
ou da possibilidade de utilizar os celu-
ção do uso de múltiplos meios digitais e da experiência com ensino remoto. çada no pensamento científico para a
lares como instrumentos tecnológicos;
que favoreçam trocas de ideias e de inclusão no mundo do trabalho.
no entanto, com cenário de pandemia,
sugestões, sobretudo a coletiva. Nesse Sob essa ótica, o compartilhamento
isso mudou. Com o distanciamento so-
trajeto, o papel do professor é determi- de práticas e de experiências será uma
cial, o processo de aprendizagem es-
nante para o êxito das atividades. forte tendência tanto no espaço esco-
tendeu-se para um novo espaço, tendo

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

SOBRE AS AUTORAS
REFERÊNCIAS
GRACIELE BATISTA GONZAGA
Professora da área de Linguagens do Colégio Santa Maria Minas, Betim. Doutoranda ALENCAR, Renata. O conhecimento da terra que treme: a pesquisa na
em Literatura Moderna e Contemporânea pelo Programa de Pós-graduação em
educação de jovens. Revista Educação Integral Integrada. Reflexões
Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
sobre práticas e políticas de Educação Integral em Minas Gerais e no
Brasil, 2018. p. 33-34
ELAINE CECÍLIA LIMA DE OLIVEIRA
BACICH, L. (organizadora); NETO, A. T; TREVISANI, F.M. Ensino híbrido:
Gestora do Colégio Santa Maria Minas, Betim. Mestre em Educação pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) (2009). Docente da Faculdade personalização e tecnologia na educação. In: Ensino híbrido: personaliza-
Minas Gerais e da Pós-Graduação UNI-BH. ção e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015. p. 47-53.

BEHRENS, Marilda Aparecida. Projetos de aprendizagem colaborativa


num paradigma emergente. In: Novas tecnologias e mediação pedagó-
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HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os


projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

KERSCH, Dorotea Frank; ROJO, Roxane Helena Rodrigues. Letramentos


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OLIVEIRA, Elaine C.L.; GONZAGA, Graciele B. Práticas inovadoras: cami-


nhos para a iniciação científica na Educação Básica. Rev. Educ., Brasília,
ano 42, n. 160, p. 110-125, out./dez. 2019. p. 112-113.

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

Ensino Híbrido
e a Organização
do Trabalho
Pedagógico Docente
Luciano Sathler

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

CONSIDERAÇÕES A desigualdade socioeconômica aumen- em unidades curriculares estanques es- ra em causa, a consequência
INICIAIS tou e isso afeta o desempenho escolar, pecializadas nos diferentes campos do da aceleração pode ser a de-
por influência de fatores tais como gê- saber, nos quais a expectativa é que to- sintegração ou a mutação.
No momento em que escrevo esse texto nero, raça, exclusão social, escolaridade dos os estudantes aprendam os mesmos
dos pais, evidência de riqueza familiar e saberes, da mesma forma, ao mesmo A transformação digital é a mudança
as instituições educacionais brasileiras
bens educacionais da casa. tempo, preferencialmente de maneira cultural e organizacional por meio de
estão, há 14 meses, sob o impacto das
disciplinada e com pouca autonomia. uma integração racional de hardwa-
medidas de distanciamento social ado-
O quadro dramático da Educação bra- res, softwares, parcerias, processos e
tadas para tentar reduzir a velocidade
sileira se agrava ainda mais, o que vai Por outro lado, a convergência de tec- competências digitais em todos os ní-
do espraiamento da mortífera pandemia
exigir competência na gestão e a trans- nologias digitais favorece a flexibilidade, veis e funções, de forma concatenada,
Covid-19.
formação digital das escolas para se ao permitir modificação por reorganiza- planejada e estratégica. Não se trata
Os impactos da crise sanitária e de alinharem à Sociedade da Informação, ção de componentes e a alta capacidade apenas de aspectos tecnológicos. Tra-
saúde ainda serão sentidos por muitos cujos traços culturais e econômicos fo- de reconfiguração da informação, o que ta-se, especialmente, de empoderar
anos, especialmente na Educação Básica ram acelerados pelas reações de orga- pode ser claramente percebido pelo flu- pessoas para que tenham capacidade
e, de forma mais aguda, dentre os alu- nizações e indivíduos à pandemia. xo aparentemente anárquico das redes de se adaptarem rapidamente, quando
nos das escolas públicas. Os dados que sociais, orientadas por algoritmos que, necessário, por meio do uso crítico e
A Sociedade da Informação é o con- cada vez mais, regem ao que as pesso- criativo das Tecnologias de Informação
começam a surgir de pesquisas focadas
ceito que ressalta um novo paradigma as têm acesso, com quem interagem e e Comunicação (TIC).
no cenário educacional pandêmico de-
técnico-econômico, o qual tem como como se informam. A pandemia acelerou
monstram que milhões de estudantes,
base não mais a transformação propor- os processos de transformação digital A adoção do ensino híbrido é parte es-
principalmente do setor público, sofrem
cionada pela disseminação do acesso à em diversos tipos de organizações, in- tratégica dessa mudança, ora emer-
por terem pouco ou nenhum acesso
energia elétrica ou da máquina a vapor, clusive nas escolas, algo que já estava gencial, diante dos desafios trazidos
as atividades escolares (NIC, 2020) e
que marcaram a Sociedade Industrial, em andamento na Sociedade da Infor- pela necessidade de retornar as aulas
que, muitas vezes, a única comunicação
mas a centralidade da informação, cujo mação. e demais atividades presenciais com
com os professores se deu por meio
volume de produção, armazenamento, segurança para todos.
de WhatsApp (UNDIME, 2021), em um
velocidade de disseminação e impactos De acordo com Kerckhove (2009, p. 85),
esforço heroico dos docentes e às suas
na automação de processos produtivos,
próprias custas. momentos de aceleração,
propiciados pelos avanços tecnológicos,
afetam, inclusive, a forma como as pes- crescimento súbito ou intensi- O ENSINO HÍBRIDO
A evasão e o abandono aumentaram
soas aprendem. ficação podem afetar uma ou
(UNICEF, 2021), assim como os déficits O Ensino Híbrido é um programa formal
todas as características de um
de aprendizagem se acentuaram (SE- de ensino em que o estudante tem parte
As escolas brasileiras foram criadas con- design. Podem estilhaçar ou
DUC-SP, 2021), não apenas pelo que os da aprendizagem elaborada a partir de
forme modelos adotados pelos países transformar toda a estrutura.
alunos deixaram de aprender, mas, tam- conteúdo, interações e mediações on-
industrializados no Século 18. Essas ins- Além de alterar o seu ritmo bá-
bém, pela regressão em muito do que -line. O aluno tem alguma flexibilidade
tituições emularam as plantas industriais, sico de operação… de acordo
tinham aprendido em anos anteriores. quanto ao tempo, local, ritmo de estu-
com a fragmentação do conhecimento com a flexibilidade da estrutu-
dos e sobre as trilhas de aprendizagem

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

Tabela 1. Tipos de Ensino Híbrido


(adaptado de SCHIEL e GASPARINI (2017)

Modelo Descrição

O estudante participa na sala de aula com o professor


Suplementar e, posteriormente, continua com seus estudos em am-
bientes virtuais de aprendizagem.

Muito conhecido pela expressão em inglês flipped clas-


Sala de aula sroom. O estudante inicia seus estudos em ambientes
Invertida virtuais de aprendizagem e, posteriormente, desenvolve
atividades em sala de aula com o professor e colegas.

O estudante desenvolve seus estudos em uma sala de


Laboratório aula tradicional e as atividades nos ambientes virtuais
Rotacional de aprendizagem são realizadas em espaços informati-
zados na própria escola.

O estudante desenvolve uma rotina de estudos em sala


Rotação de de aula com acompanhamento do professor presencial
Estudos e em ambientes virtuais de aprendizagem com auxílio
de um outro docente.

a serem cursadas. Parte das atividades A personalização das trilhas de apren- É caracterizado pelo interação do professor a partir
Híbrido de uma sala de aula, com a participação de estudantes
é realizada sincronamente na escola ou dizagem a serem superadas pelos estu-
Colaborativo presenciais e a distância. Os colegas interagem no am-
em outro espaço, sob a supervisão de dantes que apresentarem alguma dificul-
Síncrono biente virtual de aprendizagem tanto de forma síncrona
um professor. dade é mais viável com essa abordagem. quanto assíncrona.
Conforme Schiehl e Gasparini (2017),
Essa modalidade de ensino tem o po- Formam-se comunidades no ambiente virtual de apren-
existem vários tipos de Ensino Híbrido,
dizagem, orientadas por um facilitador (tutor / moni-
tencial de aumentar a flexibilidade das que podem ser praticados em momen- tor), que constroem saberes em projetos participativos,
escolas para atenderem alunos e pro- tos alternados com a mesma turma, a Grupo Dual- nos cenários protegidos e controlados. Esses se mate-
fessores que deverão voltar a frequen- depender dos objetivos de aprendiza- Colaborativo rializam em vídeos, situações simuladas, situações prá-
tar os espaços físicos em dias e horários ticas ou situações problemas para discussão em sala de
gem pretendidos e o perfil dos estudan-
aula e, posteriormente, disponibilizados para que ou-
alternados. Pode reduzir as necessida- tes, conforme ilustra a Tabela 1. tros estudantes interajam e colaborem nas discussões.
des de infraestrutura, oferece alternati-
vas economicamente sustentáveis para
desenvolver programas de recuperação
e a reorganização do calendário escolar.

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

Portanto, é fundamental que as institui- que as abordagens do tipo “tamanho ser mais participativa, para superar a o alinhamento e o rigor dos padrões.
ções educacionais incluam estratégias único” para o conhecimento e a orga- desqualificação da docência, promover a
para implementação do Ensino Híbrido nização escolar são mal adaptadas às interdisciplinaridade e a transdisciplina- Embora os alunos possam aprender de
em seus planos de contingência para necessidades dos indivíduos e pedem ridade, como caminhos de uma concep- forma independente, os professores
prevenção, monitoramento e controle da a transformação digital – o Anexo 1 ção das relações de ensino-aprendiza- devem desempenhar um papel signi-
transmissão de COVID-19. Mas que en- contempla um checklist de adoção ins- gem que não as aceite como processos ficativo na seleção e organização da
tendam se tratar de algo que extrapola titucional de Ensino Híbrido. mecânicos, repetitivos e fragmentados. qualidade – curadoria digital -, bem
o contexto pandêmico e que deve cola- como no fornecimento de conhecimen-
borar com o alinhamento das práticas Essa ideia emergente é de que os sistemas to adicional relacionado ao conteúdo.
didático-pedagógicas da escola com as capazes de atingir padrões universalmen-
demandas da Sociedade da Informação. te elevados são aqueles que podem per- 3 PASSOS NA É particularmente importante que as
sonalizar o programa de aprendizagem e ORGANIZAÇÃO DO abordagens on-line não reproduzam
formatos passivos empregados em am-
Já na realização de avaliações diagnós- progressão oferecido às necessidades e TRABALHO PEDAGÓ-
bientes tradicionais, como, por exem-
ticas, esse planejamento deve se fazer motivações de cada aluno. GICO DOCENTE PARA
presente na elaboração dos programas plo, aulas expositivas. Quanto mais
A expressão “ensino híbrido” tem so-
O ENSINO HÍBRIDO metodologias ativas e tarefas parti-
de atividades recursivas, com foco em
habilidades e competências, para que frido críticas por não traduzir bem o Para que os professores possam adotar o cipativas, melhor. Aproveite materiais
se garanta a recuperação das aprendi- significado de sua congênere em inglês Ensino Híbrido de forma crítica, colabora- multimídia interativos (digitais e ana-
zagens e o monitoramento do processo ‘blended learning’. A ênfase aqui recai tiva, inovadora e criativa, faz-se necessá- lógicos) para incentivar a colaboração
pedagógico de maneira economicamen- sobre o ensino, enquanto que, nos pa- rio que a escola esteja comprometida em entre pares, com exemplos explícitos
te sustentável e com boa qualidade. íses de língua anglo-saxônica, o des- oferecer as condições para tanto, a partir de modelo de engajamento para apoiar
taque está na aprendizagem. O termo dos princípios expressos no Anexo 1. a aprendizagem significativa.
Tal ensino precisa considerar aspectos híbrido também remete, no Brasil, às
variados para sua boa implementação, sementes transgênicas utilizadas pelo Resolvidas as questões mais básicas, O anexo 2 (EADTU, 2020) traz alguns
tais como políticas de atribuição de agronegócio, produzidas por grandes tais como hardwares, softwares e aces- princípios úteis aos docentes, dos quais
horas-aula, infraestrutura tecnológi- grupos empresariais, das quais nascem so à banda larga de internet, é preciso selecionamos alguns para apresentar
ca, sistemas de controle acadêmico, plantas incapazes de gerar novas se- investir na capacitação para o desen- a seguir. Na elaboração das sequên-
capacitação de todos os envolvidos, mentes, portanto, estéreis. Essa situa- volvimento de competências digitais cias didáticas, as atividades de ensino-
ambiente virtual de aprendizagem e ção gera uma dependência do produtor esperadas por parte dos professores. -aprendizagem presenciais e on-line
metodologias ativas que vão servir para em todas as safras. são deliberadamente selecionadas, in-
mudar o paradigma do “ensino” para o A seleção do conteúdo de alta qualida- tegradas e sequenciadas com base em
da “aprendizagem” e da autonomia. Em que pesem as críticas, utilizamos a de alinhado ao nível da série melhora o metodologias ou princípios de design.
terminologia ensino híbrido, no presen- aprendizado, devendo oferecer opções Processos de garantia de qualidade são
O objetivo de personalizar a aprendi- te artigo, por estar mais disseminada e de flexibilidade no ritmo e na diferencia- deliberadamente incorporados com a
zagem deve ser intrínseco à implemen- na esperança de que a organização do ção. Lembrando que os materiais online finalidade de, continuamente, melhorar
tação do ensino híbrido, pois está claro trabalho pedagógico da escola possa podem variar em qualidade, portanto, os o curso de uma maneira iterativa.
professores devem garantir ativamente

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

A seleção de quais softwares e objetos Um cuidado especial deve ser tomado nho sempre estará na integração de mo-
de aprendizagem serão utilizados é ba- quanto à carga de estudo, para que delos colaborativos que visem formar
seada em atividades de ensino-apren- exista um alinhamento entre a dedica- alunos mais criativos e autônomos, ca-
dizagem, informada por evidência ou ção pretendida por parte do estudante pazes de encontrarem significado para
experiência, que leve em consideração, e a efetiva de um curso, levando-se em as suas vidas e na sua participação para
especialmente, as possibilidades dos consideração a sua distribuição ao lon- transformar o mundo.
estudantes. Esse processo é monito- go do tempo e acurácia.
rado, avaliado e alterado com base em
SOBRE O AUTOR
dados quantitativos e qualitativos.

CONSIDERAÇÕES LUCIANO SATHLER


FINAIS Doutor em Administração pela FEA/USP. Membro do Conselho Científico e do
Comitê de Educação Básica da Associação Brasileira de Educação a Distância –
O objetivo de personalizar Há muitos estudos (GÜZER; CANER, ABED. Membro do Conselho Deliberativo do CNPq. Reitor do Centro Universitário
a aprendizagem 2014) que demonstram como o Ensino Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte (MG). Foi o primeiro pró-reitor de
deve ser intrínseco à Híbrido é percebido como útil, agradá- Educação a Distância do Brasil, na Universidade Metodista de São Paulo.
implementação do ensino
vel, flexível e motivador para os alunos.
híbrido
No entanto, esses fatores não são su-
ficientes para garantir uma aprendiza-
A flexibilidade é estrategicamente pla- gem bem-sucedida. Em outras pala-
nejada para gerar oportunidades dos vras, os professores devem encorajar
alunos personalizarem o curso com os alunos a uma maior participação e
base em suas necessidades e prefe- encontrar maneiras para estabelecer
rências particulares. Isso inclui possibi- uma interação social por meio de mais
lidades como a seleção das atividades colaboração.
de aprendizagem, escolha de recursos,
Em um futuro próximo, a escola terá
tipos de avaliação, modo de entrega
maior acesso a tablets, smartphones e
(on-line ou presencial) e ritmo (do edu-
dispositivos com tela de toque disponí-
cador ou por escolha do estudante).
veis para a maioria dos estudantes, que
A mediação deve ser priorizada e pre- serão alguns dos próximos interesses
viamente comunicada as regras para a serem estudados no Ensino Híbrido.
sua efetivação, de forma a valorizar a
À medida que as inovações tecnológicas
interação dos alunos com outros alu-
se espalham, novos tipos de experiên-
nos, dos discentes com o conteúdo e
cias ocorrerão e o ensino será imbricado
com os professores.
com diferentes tecnologias. Mas o cami-

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REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS

EADTU. European maturity model for blended Education. Maastricht, SATHLER, L. O aluno e a sala de aula virtual. In: LITTO, F. M.; FORMIGA,
Holanda: European Association of Distance Teaching Universities - EAD- M. Educação à distância: o estado da arte, volume 2. São Paulo, SP: Pe-
TU, 2020. arson Education do Brasil, 2012.

GRAHAM, C. R.; WOODFIELD, W.; HARRISON, J. B. A framework for ins- SCHIEHL, E. P.; GASPARINI, I. Modelos de ensino híbrido: um mapeamen-
titutional adoption and implementation of blended learning in higher to sistemático da literatura. Anais do XXVIII Simpósio Brasileiro de Infor-
education. Internet and Higher Education, v. 18, n. 3, p. 4–14, 2013. mática na Educação - SBIE 2017.

GÜZER, B.; CANER, H. The past, present and future of blended learning: SEDUC-SP. O impacto da pandemia na educação: avaliação amostral da
an in depth analysis of literature. Procedia - Social and Behavioral Scien- aprendizagem dos estudantes. São Paulo, SP: Secretaria Estadual de
ces, v. 116, p. 4596 – 4603, 2014. Educação de São Paulo, 2021.

KERCKHOVE, D. A pele da cultura: investigando a nova realidade eletrô- UNDIME. Pesquisa Undime sobre volta às aulas 2021. São Paulo, SP: Un-
nica. São Paulo, SP: Annablume, 2009. dime, 2021.

NIC. Painel TIC Covid-19. 3ª ed. São Paulo: NIC/SETIC, 2020. UNICEF. Cenário da exclusão escolar no Brasil: um alerta sobre os impac-
tos da pandemia da COVID-19 na educação. Brasília, DF: Unicef, 2021.

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Anexo 1. Checklist de adoção institucional


de ensino híbrido (GRAHAM; WOODFIELD;
HARRISON, 2013)

Tabela 2. Checklist de adoção


institucional de ensino híbrido: estratégia

ESTÁGIO 1 ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3


Estratégia
Conscientização e exploração Adoção e implementação precoce Implementação e crescimento maduros

Ter professores / administrado-


Os administradores publicaram A instituição revisita e comunica
res individuais informalmente
/ comunicaram uma lógica uni- regularmente os propósitos es-
Propósito ( ) identificados com os bene- ( ) ( )
forme para a adoção do ensino tratégicos para o engajamento no
fícios específicos do ensino
híbrido? ensino híbrido?
híbrido?

Os stakeholders em todos os de-


Ter administradores formal-
Professores e administradores partamentos, faculdades e orga-
mente aprovados e empode-
Advocacia ( ) individuais estão defendendo ( ) ( ) nizações de apoio estão promo-
rados para implementação do
informalmente o ensino híbrido? vendo o ensino híbrido dentro de
ensino híbrido?
suas esferas de influência?

A instituição revisita regularmen-


Os professores/administradores te a definição para garantir que
Definição / A escola publicou uma definição
( ) individuais sabem definir infor- ( ) ( ) está atendendo às necessidades de
Política uniforme de ensino híbrido?
malmente o ensino híbrido? aumento do número de adotantes
do ensino híbrido?

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Tabela 3. Checklist de adoção institucional de ensino híbrido: estrutura

ESTÁGIO 1 ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3


Estratégia
Conscientização e exploração Adoção e implementação precoce Implementação e crescimento maduros

Sua infraestrutura tecnológica Há um foco maior no forneci- Existe uma infraestrutura tecnológica
se concentra principalmente em mento de infraestrutura tecno- bem estabelecida para professores, es-
Infraestrutura ( ) ( ) ( )
apoiar o modelo tradicional em lógica para os adotantes do cor- tudantes, funcionários e famílias envol-
sala de aula? po docente do ensino híbrido? vidos com o ensino híbrido?

Professores e administradores
iO sistema de registros escolares As nomenclaturas para turmas / unida-
Existe um esforço para designar
e matrículas não distingue entre des curriculares tradicionais e ensino
Agenda ( ) ( ) o ensino híbrido no sistema de ( )
turmas / unidades curriculares híbrido estão disponíveis no sistema de
registros escolares e matrículas?
com ensino híbrido e tradicio- registros escolares e matrículas?
nais?

Existe um processo sistemático para

Você não tem um sistema para Existe um processo administra- aprovar e regulamentar turmas / uni-
aprovar e regular turmas / uni- tivo emergente para aprovar e dades curriculares com ensino híbrido
Governança ( ) ( ) ( )
dades curriculares com ensino regulamentar turmas / unidades que seja coerente com o processo de
híbrido? curriculares com ensino híbrido? avaliação de turmas / unidades curri-
culares tradicionais?

Existe uma avaliação sistemática dos


Você não tem um processo for- Existe uma avaliação formal limi- resultados de aprendizagem do ensino
mal de avaliação para os resulta-
Avaliação ( ) ( ) tada dos resultados de aprendi- ( ) híbrido que é consistente com o que é
dos de aprendizagem do ensino
híbrido? zagem do ensino híbrido? realizado para turmas / unidades curri-
culares tradicionais?

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Tabela 4. Checklist de adoção institucional de ensino híbrido: suporte

ESTÁGIO 1 ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3


Estratégia
Conscientização e exploração Adoção e implementação precoce Implementação e crescimento maduros

Existe um suporte técnico bem


Existe um foco maior no supor- estabelecido para todas as partes
Suporte O suporte foca principalmente
te técnico para componentes interessadas, especialmente alunos
( ) no suporte técnico para a inte- ( ) ( )
Técnico online das ofertas de ensino e professores para atender às ne-
gração tecnológica presencial?
híbrido? cessidades do ensino híbrido, bem
como em sala de aula?

Apoio Peda- Existe programas de capaci- O desenvolvimento profissional em


gógico / De- O apoio pedagógico foca princi-
tação focados em estratégias ensino híbrido é esperado do cor-
( ) palmente em estratégias para a ( ) ( )
senvolvimento para o ensino híbrido e aula po docente antes de lecionar nessa
aulas presenciais tradicional?
Profissional tradicionais? abordagem?

Existe a exploração de incenti- Existe uma estrutura de incenti-


Você não tem uma estrutura de vos aos docentes para se capa- vo docente bem estabelecida para
Incentivos ( ) incentivo para a implementação ( ) citarem para o ensino híbrido e ( ) incentivar o tempo investido em
do ensino híbrido? o desenvolvimento de unidades capacitação e desenvolvimento de
curriculares online? cursos?

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Anexo 2. Modelo eu- dezenas de entrevistas com educadores Processo de Design do Curso
e gestores das instituições parceiras,
ropeu de maturidade
validado por mais de 20 especialistas da O processo de planejar, projetar, desenvolver e avaliar um curso que adota o ensino
para o ensino híbrido Europa com vários anos de experiência híbrido.
(EADTU, 2020) nesse campo.
1. Seleção de atividades de ensino híbrido e sua sequência didática
Introdução Se você deseja saber mais sobre o pro-
jeto financiado pela União Europeia e A racionalidade para a seleção deliberada e a integração das atividades
O modelo a seguir é uma estrutura que outras publicações relacionadas aces- presenciais e online.
pode ser usada para lidar com qualquer se https://embed.eadtu.eu. Foram aqui
problema conceitual ou questões de im- adotadas as seguintes definições:
plementação relativas à aprendizagem Nível 1 Nível 2 Nível 3
em cursos que adotam o ensino híbrido. Ensino híbrido - aprendizagem como Exploratório Baseado em design Ciclo do curso
resultado de um processo deliberado e
O destaque que aqui fizemos indica integrado de combinação de atividades
quais dimensões são relevantes para Atividades de ensino-
online e presenciais; -aprendizagem pre-
professores e educadores. No docu-
senciais e online são
mento disponibilizado pela Associação Maturidade - refere-se ao nível de for- deliberadamente se-
Europeia de Universidades de Ensino a Atividades de ensino-
malização e otimização do processo de lecionadas, integradas
Distância, mais conhecida por sua si- Não há nenhu- -aprendizagem presen-
elaboração e condução do curso, toma- e sequenciadas com
ma seleção ciais e online são delibe-
gla em inglês - EADTU, também há as- da de decisão baseada em evidências, base em metodologias
considerada e radamente selecionadas,
pectos que podem ser verificados para documentação e melhoria contínua da ou princípios de design.
nem integração integradas e sequencia-
instituições e formuladores de políticas Processos de garantia
qualidade, relacionados à adoção das de atividades das com base em meto-
públicas. de qualidade são deli-
práticas de ensino híbrido; presenciais e dologias ou princípios de
beradamente incorpo-
online. design.
O objetivo é ajudar, inspirar e orientar rados com a finalidade
Evidência e melhoria contínua de quali-
de continuamente me-
quem deseja implementar ou melhorar dade - quando respaldado por pesquisa lhorar o curso de uma
o ensino híbrido em sua instituição. ou evidência prática mensurada.cional. maneira iterativa.

A publicação da EADTU é resultado de


uma pesquisa bibliográfica e também

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2. Seleção de ferramentas para o ensino híbrido Flexibilidade do Curso

A racionalidade para a seleção de ferramentas para a entrega e organização Oportunidades para os alunos personalizarem o curso ensino híbrido com base
das atividades de ensino híbrido. em suas necessidades e preferências particulares. Isso inclui possibilidades como
a seleção das atividades de aprendizagem, escolha de recursos, modo de entrega
Nível 1 (online ou presencial) e ritmo (do educador ou por escolha do estudante).
Nível 2 Nível 3
Baseado em
Baseado em design Ciclo do curso
ferramentas
Nível 1 Nível 3
Nível 2
Sem Flexibilidade
Flexível
A seleção de ferramen- flexibilidade Adaptável
tas específicas é base-
ada em atividades de A flexibilidade é delibe-
A seleção de A seleção de ferramen-
ensino-aprendizagem, radamente projetada. O
ferramentas tas específicas é baseada
informada por evidên- Não há nenhu- design do curso é ba-
específicas é em atividades de ensino- A flexibilidade é delibe-
cia ou experiência. ma seleção seado em evidência ou
baseada em -aprendizagem, informa- radamente projetada. O
Esse processo é mo- considerada e experiência.
sua disponibi- da por evidência ou expe- design do curso é basea-
nitorado, avaliado e nem integração A melhoria contínua de
lidade na insti- riência. do em evidência ou expe-
alterado com base em de atividades qualidade é deliberada-
tuição. riência.
dados quantitativos e presenciais e mente incorporada com
qualitativos. online. a finalidade de aumentar
a flexibilidade do curso.

Interação do Curso

Até que ponto o curso ensino híbrido facilita a interação dos alunos (alunos - con-
teúdo, aluno-aluno, aluno-educador).

Nível 1
Nível 2 Nível 3
Não
Interativo Responsivo
responsivo

A interação é delibe-
radamente projetada,
informada por evidência
Nenhuma inte- A interação é deliberada-
ou experiência.
ração delibera- mente projetada, infor-
As possibilidades de
da é permitida mada por evidência ou
interação são monitora-
ao longo do experiência.
das, avaliadas e altera-
curso.
das com base em dados
e feedbacks.

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Experiência do Curso 2. Carga de estudo

Ajuste de componentes específicos do curso ensino híbrido conforme os resulta- O alinhamento entre a carga de estudo pretendida e a efetiva de um curso
dos do curso. - distribuição e acurácia.

1. Aprendizagem do aluno Nível 1 Nível 2 Nível 3


Padrão Avançado Compreensivo
O uso de recursos do curso ensino híbrido que facilitam a autorregulação
dos alunos quanto a orientação, planejamento, monitoramento, ajuste e Diferentes elementos
avaliação. do curso (por exemplo,
A carga horária do curso atividades de aprendi-
é calculada com base na zagem online, encon-
Nível 1 Nível 2 Nível 3
experiência. tros presenciais, pre-
Padrão Avançado Compreensivo
O cálculo da Diferentes elementos do paro para avaliações)
carga de es- curso (por exemplo, ati- são levados em consi-
Recursos do curso en- tudo do curso vidades de aprendizagem deração.
sino híbrido são usados é baseada em online, encontros presen- A carga horária de
para facilitar a apren- palpites. ciais, preparo para ava- dedicação ao estudo é
Nenhuma con- dizagem, informados liações) são levados em monitorada, avaliada e
Recursos do curso ensino
sideração é por evidência ou ex- consideração. alterada com base em
híbrido são usados para
deliberada com periência. A melhoria dados quantitativos e
facilitar a aprendizagem,
vistas à experi- contínua de qualidade qualitativos.
informados por evidência
ência e apren- é deliberadamente in-
ou experiência.
dizagem do corporada com a fina-
aluno. lidade de aumentar a
aprendizagem.

100 101
COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

3. Inclusão

A consideração pelas necessidades diversificadas, incluindo aspectos de


acessibilidade física e o contexto de todos os alunos, para criar uma ex-
periência online e presencial em que todos se sintam valorizados, seguros,
desenvolvam um senso de pertencimento e onde o acesso é garantido em
condições igualitárias.

Nível 1 Nível 2 Nível 3


Padrão Avançado Compreensivo

Tentativas iniciais de
contemplar a inclusão
e considerar as dife-
rentes necessidades
Tentativas iniciais de e origens de todos os
contemplar a inclusão e alunos.
considerar as diferentes Especial atenção é
necessidades e origens dada à pertença so-
Nenhuma con- de todos os alunos. cial e a identidade no
sideração à Especial atenção é dada à ambiente virtual de
inclusão é deli- pertença social e a identi- aprendizagem. Esse
berada. dade no ambiente virtual processo é informado
de aprendizagem. Esse por evidência ou expe-
processo é informado por riência.
evidência ou experiência. A melhoria contínua de
qualidade é delibera-
damente incorporada
com a finalidade de
melhorar a inclusão.

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

Reflexões Sobre
Sistemas de
Ensino, Recursos
Tecnólgicos, Métodos
Ativos e os Desafios
Para o Ensino em
Temposde Restrição
de Dinâmica Social
Jonathan Rosa Moreira
Jefferson Bruno Pereira Ribeiro

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CONSIDERAÇÕES memorização, e que os pressupostos tadas na facilitação da aprendizagem, pensar muito a respeito, somos aptos
INICIAIS de aprendizagem preveem autoridade onde a interação em sala de aula valoriza a nos impulsionar espontaneamente
docente e conteúdos impostos como o protagonismo e a autonomia discente, à realização das tarefas, nem sempre
O esquema histórico do sistema de meio de assegurar a atenção, a ordem implica em abrir espaços para o incenti- sendo dessa forma. Todas as experi-
ensino brasileiro é norteado pela he- e o silêncio. Já para Cotta et al. (2012), vo à criatividade, respeito às diferenças, ências, sejam agradáveis ou não, con-
rança cultural, pelo desenvolvimento tradicionalmente, a Educação se baseia experiências e vivências de todos os têm um elemento de surpresa, quando
econômico e pela organização política. em metodologias de “transmissão” de envolvidos no processo de ensino e de algo não está de acordo com nossas
Essa combinação histórica caracteriza conhecimentos. Porém, agora se exige aprendizagem, de modo a ressignificar expectativas, podemos responder à
o formato da educação brasileira e é a formação de profissionais com perfil os conteúdos escolares estabelecendo ação colocando a situação de lado, ou
responsável por parte dos problemas crítico-reflexivo e capazes de trabalhar conexões às práticas sociais. Esse pen- podemos responder a ela por meio da
educacionais atuais, inclusive, justifica em equipe, tendo a metodologia como samento se aproxima à defesa de Dewey reflexão, tendo esse processo duas for-
como se configuraram as concepções instrumento de transformação. (2004) sobre a democracia e a liberdade mas: refletir sobre a ação, examinando
pedagógicas nos espaços escolares de pensamento como recurso para o retrospectivamente o que aconteceu e
até então. Tal perspectiva é uma das O que se espera, hoje, é que a Educa- desenvolvimento emocional e intelec- tentando descobrir como nossa ação
bases que ainda sustentam o sistema ção seja baseada em práticas inclusivas, tual das pessoas. Essa outra forma de pode ter contribuído para o resultado,
tradicional de ensino que articula suas com políticas que favoreçam o acesso redimensionar o fazer pedagógico pode ou refletir no meio da ação, sem inter-
práticas por meio da centralidade, re- e a permanência, com a percepção de estar presente em todas as modalidades rompê-la, chamando esse processo de
lação imediata de poder, unidirecionali- que a escola é para todos. Esse enfoque e níveis de ensino e envolvem conceitos reflexão-na-ação. Nesse momento, nos-
dade, e da Educação à qual o professor tem sido viabilizado pela implementa- que permeiam, inclusive, a Educação so pensar pode dar uma nova forma ao
se coloca na condição de detentor do ção de programas e políticas que visam profissional, com a necessidade de cria- que estamos fazendo enquanto ainda
saber, mediante o que lhe é mais con- democratizar o acesso à Educação, mo- ção de novos códigos que aproximem a estamos fazendo, portanto, estamos
fortável. Como afirmou Leão (1999), as dificando formas de acesso, estimu- Educação às tendências de configura- refletindo-na-ação (SCHÖN, 2000).
teorias da Educação que nortearam a lando cotas para compensar prejuízos ções técnicas e sociais (RAMOS, 2002).
escola tradicional confundem-se com históricos de determinados seguimen-
as próprias raízes da escola tal como é tos sociais e ampliando a oferta, com Observa-se que o pensamento, ou refle-
aumento de número de vagas e insti- xão, é o discernimento da relação entre DESAFIOS PARA O
concebida a instituição de ensino.
tuições de Educação pública e privada. o que tentamos fazer e o que acontece ENSINO EM TEMPOS
Para Saviani (1991), a atualidade dos Consequentemente, e baseadas nas como consequência. Se não tivermos DE PANDEMIA
sistemas educacionais segue uma orga- concepções pedagógicas renovadas, as abertura intelectual, não é possível uma
nização ideológica de que ao professor escolas têm buscado se tornar espaços experiência significativa, e, sendo assim Infelizmente, o mundo foi acometido pela
cabe uma formação razoável que lhe de discussão que possam libertar seus percebemos dois diferentes tipos de pandemia da COVID-19, a qual impôs dife-
permita conduzir classes com lições estudantes, orientando-os aos cami- experiência conforme a proporção que rentes formas de agir e de interagir, limi-
e disciplinas bem definidas. Assim, a nhos da reflexão crítica diante de todos damos à reflexão, denominadas pelos tando as relações em função da obriga-
escola exerce uma prática do esfor- os constructos sociais. psicólogos com o experiência e erro. toriedade do distanciamento social como
ço individual e meritório, com méto- (DEWEY, 1979). Quando aprendemos forma de preservar a vida como medida
dos que se baseiam na repetição e na Trazer à discussão a ideia da escola que a fazer algo, realizamos a tarefa sem de biossegurança, mas, sobretudo, pelo
tenha tendências metodológicas pau-
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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

respeito e amor ao próximo. Consequen- cação provavelmente foi um dos mais e/ou assíncrono para seus estudantes rando que os recursos tecnológicos
temente, o distanciamento social deman- afetados (ZHOU, 2020). Da Educação por meio das tecnologias da informa- são meios para o compartilhamento de
dou que diversos setores sociais fossem Infantil à Educação superior, professo- ção e comunicação. Na verdade, essa diferentes tipos e formatos de informa-
reinventados e assim aconteceu com a res, alunos e escolas foram colocados é uma decisão que não depende ape- ção, é preciso atenção e planejamento
Educação e suas práticas de ensino. diante de uma situação completamente nas da vontade da escola. A sociedade para que as práticas suportadas por
nova: em tempos de confinamento so- como um todo precisou escolher e, em dispositivos computacionais não sejam
Gestores, docentes e discentes tiveram cial, como podemos ensinar, aprender sua grande maioria, parece ter optado excludentes. Ou seja, é mister planejar
que se reinventar para que não tivessem e interagir sem que possamos nos ver, pela continuidade das atividades esco- o fazer pedagógico com base em recur-
o direito ao estudo interrompido. Os tocar e sentir? Talvez, uma resposta lares de forma virtualizada. No entanto, sos assistivos, garantindo igualdade de
encontros remotos síncronos figuraram direcionada às potencialidades das tec- para que um projeto de ensino remoto condições para quem tem e para quem
uma nova modalidade de ensino, alter- nologias da informação e comunica- obtenha êxito, é preciso que pesso- não tem acesso à recursos computacio-
nativa ao ensino presencial e à Educação ção emergentes possa contribuir para as, recursos e planejamentos estejam nais e também à Internet.
a Distância. Por outro lado, estudantes esse entendimento. Entretanto, não é conectados. Apenas com a soma e ali-
e professores tiveram sua formação só isso. Recursos tecnológicos precisam nhamento dos fatores contidos nessas
continuada aprimorada com a inserção ser planejados em função do método três categorias será possível garantir
de tecnologias da informação e comu- COMPETÊNCIAS
adotado para a sequência didática, con- um projeto de ensino viável sem que
nicação interativa que serviram como sequentemente, alinhado às habilidades haja prejuízo – ou pelo menos que o
DIGITAIS PARA APOIO
canal principal de comunicação entre e competências esperadas para os ob- prejuízo seja mitigado – da qualidade e AO PROCESSO
os membros da comunidade acadêmica. jetivos específicos de aprendizagem das do processo de ensino-aprendizagem. DE ENSINO E
Não se discute o que é melhor ou pior, diferentes unidades temáticas. APRENDIZAGEM
mas alternativas educativas e criativas Considerando as implicações da pande-
para cenários de excepcionalidade. Nes- mia da COVID-19 no fluxo do calendário Considerando o desenvolvimento de ha-
se contexto, professores apresentam escolar na Educação Básica ou Supe- bilidades sociais e profissionais do estu-
verdadeiras meta habilidades docentes, Gestores, docentes e rior, frente aos desafios impostos pelo dante, o uso da tecnologia no processo
enquanto estudantes se percebem cada discentes tiveram que distanciamento social e a necessidade educativo é evidenciado, tendo em vista,
vez mais como nativos digitais que têm se reinventar para que do trabalho colaborativo e participativo a necessidade de interação, de percep-
novas formas de aprender e as famílias não tivessem o direito ao entre a comunidade escolar, as famílias ção do conhecimento em sua complexi-
se reintegram ao processo de ensino e estudo interrompido. e os estudantes, é importante refletir dade, de literacia digital e de competên-
de aprendizagem dos filhos, contribuin- sobre alternativas pedagógicas para cia de aprendizagem autônoma.
do para sua formação. evitar a interrupção do processo de
A Covid-19 impôs de forma inesperada Para Castells (1999, p.38-39), as novas
ensino e de aprendizagem, com uma
A pandemia da Covid-19 mudou a forma às escolas a necessidade de tomarem tecnologias da informação e comuni-
perspectiva síncrona e interativa. Nesse
como agimos e interagimos (COHEN, uma decisão complexa: suspender as cação “integram o mundo em redes e
cenário, entram as tecnologias da infor-
2020). Embora essas mudanças tenham atividades escolares até que a situação reconstroem ações sociais, políticas e
mação e comunicação como recursos
gerado impacto em praticamente todos de dinâmica social reduzida se encerre culturais a partir das identidades que se
para apoiar o processo de ensino e de
os setores da sociedade, o setor da Edu- ou viabilizar o ensino remoto síncrono formam e que influenciam e são influen-
aprendizagem. Entretanto, conside-

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ciadas nas sociedades”. A capacidade ao cérebro humano o que lhe é pecu- pode ser organizada com objetos de determinado conteúdo. Quando ele é
humana de organização e integração, liar, a capacidade de pensar, em vez aprendizagem de diversos autores. Em reutilizável, essas características essen-
ao mesmo tempo os sistemas de in- de desenvolver a memória. Para ele, a um grão (semente) temos todas as in- ciais são apresentadas de tal modo a
formação e a formação de redes sub- função da escola será, cada vez mais, a formações relacionadas a árvore que evitar especificidades, de modo a ser o
vertem o conceito ocidental tradicional de ensinar a pensar criticamente. Para ela irá se transformar. Nesse sentido, mais inclusivo possível (TAVARES, 2010).
de um sujeito separado, independente: isso é preciso dominar mais metodolo- granular significa a menor porção com
A mudança histórica das tecnologias gias e linguagens, inclusive a linguagem todas as informações relevantes de um A popularização das novas tecnologias
mecânicas para as tecnologias da in- eletrônica (GADOTTI, 2000). todo. Reutilizável significa a capacidade da informação e comunicação impacta
formação ajuda a subverter as noções de causar interesse acadêmico para ser nos sistemas educacionais, visto o am-
de soberania e autossuficiência que As tecnologias educacionais estão cada usado novamente. Quando um material plo acesso às informações e o desafio
serviam de âncora ideológica à identi- vez mais presentes como recursos di- instrucional é granular ele é construído de apoiar a sociedade do conhecimen-
dade individual desde que os filósofos dáticos e canais de comunicação para com as características essenciais de to. Essa abertura informacional envolve
gregos elaboraram o conceito, há mais apoiar sequências didáticas e itine- também processos de aprendizagem
de dois milênios (CASTELLS, 1999). rários formativos em diferentes mo-
dalidades, níveis e etapas de ensino.
O uso das tecnologias da informação, Configuram plataformas virtuais e ob-
como recursos didáticos que dão su- jetos de aprendizagem que promovem
porte as estratégias metodológicas, metodologias ativas, participativas e
pode dar autonomia aos estudantes, colaborativas, engajando os estudantes
criando espaços de interação e signifi- em espaços cada vez mais interativos.
cação social, quando é possível estabe- Em termos pedagógicos, na abordagem
lecer conexões entre os conteúdos me- pedagógica ativa, os estudantes “aju-
diados e multimeios visuais, sonoros e dam-se no processo de aprendizagem,
sensoriais, trazendo novas experiências atuando como parceiros entre si e com
à aprendizagem. Para que essa experi- o professor, com o objetivo de adquirir
ência seja efetiva, é preciso que o uso conhecimento sobre um dado objeto”
da tecnologia tenha um propósito que (CAMPOS et al., 2003, p. 26).
esteja alinhado aos objetivos do curso
e perfil que se espera dos estudantes. Os objetos de aprendizagem, no con-
texto desta reflexão, são estruturas
Ainda se trabalha muito com recursos tecnológicas que trazem diferentes
tradicionais que não têm apelo para as recursos para o processo de ensino.
crianças e jovens. Os que defendem a Eles têm características constitutivas
informatização da educação sustentam de granularidade e reusabilidade. Quan-
que é preciso mudar profundamente do eles são construídos com essas ca-
os métodos de ensino para reservar racterísticas, uma disciplina acadêmica

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

que são revolucionados pelas novas tec- aponta para a necessidade de se pensar crítica e reflexiva, dando significado ao suas experiências acadêmicas. É essa a
nologias da informação e comunicação. o processo de aprendizagem de forma contexto contemporâneo e favorecendo perspectiva da aprendizagem ativa que,
Os currículos têm contado com esses que o educando seja crítico, reflexivo e a curiosidade e autonomia discente. Por segundo Ryan e Martens (1989), acon-
conceitos em seus eixos estruturantes. com seu desenvolvimento voltado para meio de suas práticas sociais e consoante tece quando os estudantes fazem muito
Dessa forma, surgem também novas es- as práticas sociais que podem ser sub- aos conteúdos estudados, os discentes mais do que tão somente ouvir; quando
tratégias de ensino, que preconizam prá- sidiadas por meio da leitura e escrita. passam a ter maior condição para toma- são agentes protagonistas e autônomos.
ticas diferentes para ensinar e exposição Todos os cidadãos do mundo são afe- da de decisões individuais e coletivas,
da teoria na resolução de problemas tados pelas mudanças tecnológicas que conforme suas atividades essenciais. Em um contexto mais contemporâneo,
(HENRIQUES; PRADO; VIEIRA, 2014). transformam a sociedade, incluindo a sobretudo em tempos de restrição de
Educação. Ressalta-se a importância Com metodologias ativas de aprendi- dinâmica social, é importante planejar
Relacionando as questões que concer- em entender o porquê da resistência da zagem o aluno interage com o assunto métodos didático-pedagógicos envol-
nem às tecnologias aplicadas à Edu- tecnologia para a informação (DANIEL, em estudo – ouvindo, falando, per- ventes, criativos e conectados com a
cação, bem como a perspectiva das 2003, p. 54). A questão principal, em guntando, discutindo, fazendo e ensi- realidade dos estudantes. Isso implica
metodologias inovadoras, Silva (2012) um mundo caracterizado pela globa- nando – sendo estimulado a construir em utilizar diferentes recursos pedagó-
traz reflexões para as novas demandas lização e fragmentação simultâneas, o conhecimento ao invés de recebê- gicos tecnológicos ou não. Para todos os
dentro do processo de aprendizagem vem a ser esta: “Como combinar novas -lo de forma passiva do professor. Em casos, é essencial pensar em democra-
e discute os mais diversos meios de tecnologias e memória coletiva, ciência um ambiente de aprendizagem ativa, tização do acesso, em uma perspectiva
expressão da linguagem mediados pela universal e culturas comunitárias, pai- o professor atua como orientador, su- inclusiva. Ou seja, antes de adotar um re-
sociedade da informação. Tal concep- xão e razão?” (...) E por que observamos pervisor, facilitador do processo de curso tecnológico, para que não existam
ção vai ao encontro do enfoque de Rojo a tendência oposta em todo o mundo, aprendizagem, e não apenas como fon- vieses excludentes, é importante realizar
e Moura (2012), quando entra a ques- ou seja, a distância crescente entre te única de informação e conhecimento um diagnóstico da turma, de modo a
tão do letramento digital como uma das globalização e identidade, entre Rede (BARBOSA; MOURA, 2013). Há, então, verificar se todos podem ter acesso ao
formas de letramento. Essa forma de e o Ser? (CASTELLS, 1999). a preocupação com a professoralidade que é proposto. Tal perspectiva demanda
expressão da linguagem se estabelece que aponta para a necessidade de for- métodos diferenciados. É possível perce-
de várias maneiras, dentre elas a visual, mação docente continuada, de modo ber que há várias metodologias ativas de
oral ou escrita, todas tendo as novas que os docentes passem a repensar aprendizagem. A definição daquela mais
tecnologias como meio. CONSIDERAÇÕES as suas práticas e tenham a mediação apropriada vai variar de acordo com o
FINAIS e a interação como pressupostos fun- seu propósito, com o tipo de conteúdo
A reflexão trazida por Silva (2012) se damentais para que se estabeleça a mediado e com o perfil da turma. É preci-
torna pertinente para que a escola e os Independentemente da modalidade de
aprendizagem significativa (BORGES; so sensibilização para que os estudantes
educadores que nela trabalham enten- ensino, seja mediada por recursos tecno-
ALENCAR, 2014). se envolvam e passem a ter comporta-
dam a importância do desenvolvimento lógicos ou não, é importante pensar em
mentos ativos em seu processo de ensino
dos letramentos necessários para o planejamento de sequências didáticas Para Astin (1985), os estudantes apren- e de aprendizagem.
bom desenvolvimento do educando. que permitam que os estudantes par- dem quando são corresponsabilizados
Assim como Soares (2014) e Rojo e ticipem de um processo de ensino e de no seu processo de aprendizagem, se O docente media ações que permitem que
Almeida (2012), Silva (2012) também aprendizagem que valorize a formação envolvem e referem suas energias às os estudantes assumam posturas ativas

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em relação ao seu processo de ensino e de são conceitual dos estudantes. Além


aprendizagem, revelando suas experiências disso, tal perspectiva atribui compe- SOBRE AS AUTORAS
e vivências prévias, para que se tornem mais tências atitudinais aos estudantes, de
habilitados a lidar com diversos problemas modo a despertar autonomia e prota- JONATHAN ROSA MOREIRA
e contextos sociais (GEMIGNANI, 2012). gonismo, indicando formas adequadas Pós-doutor em Ciência da Informação. Doutor em Ciência da Informação. Mestre
Parte-se, então, do pressuposto de que para o estudo e para o aprendizado. em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação. Especialista nas áreas
a teoria por ela mesma não transforma o As metodologias ativas apoiam, inclu- de educação, ensino e tecnologia. Licenciado em Pedagogia, História, Educação
mundo. Pode contribuir para sua transfor- sive, os processos de gestão acadê- Profissional e Letras Espanhol; Bacharel em Sistemas de Informação. Pró-Reitor
do Centro Universitário Projeção.
mação, mas para isso tem que sair de si mica, pois, à medida que despertam a
mesma, e, em primeiro lugar, tem que ser curiosidade, a atenção e o estímulo dos
assimilada pelos que vão ocasionar, com estudantes às aulas, funcionam como JEFFERSON BRUNO PEREIRA RIBEIRO
seus atos reais, efetivos, tal transformação. agente de prevenção à evasão escolar.
Pós-doutor em Ciência da Informação. Doutor em Ciências Médicas. Mestre em
Entre a teoria e a atividade prática transfor-
Tratar do assunto que envolve metodo- Ciências Médicas. Especialista nas áreas de educação, ensino e ciências médicas.
madora se insere um trabalho de educação
Bacharel em Medicina Veterinária; Licenciado em Pedagogia, História, Educação
das consciências: uma teoria só é prática logias ativas, implica em habilidades e
Física e Educação Profissional.
na medida em que materializa, por meio competências que promovam a apren-
de uma série de mediações o que antes só dizagem significativa e o trabalho co-
existia idealmente, como conhecimento da laborativo e participativo, com espaço
realidade ou antecipação ideal de sua trans- para discussões, debates e abertura as
formação (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1977). diferentes ideias. No espaço escolar, o
docente assume o papel de “grande in-
Para Henriques, Prado e Vieira (2014), termediador desse trabalho, e ele tanto
a relevância atribuída às metodologias pode contribuir para a promoção de au-
ativas parte de sua eficácia quando tonomia dos alunos como para a manu-
comparada às aulas meramente expo- tenção de comportamentos de controle
sitivas. Os métodos ativos resultam no sobre os mesmos” (BERBEL, 2011, p.26).
aumento do desempenho e compreen-

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS

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nas, v.23, n.80, 2002, p.401-422.

116 117
7.
COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

Pastoralidade e
Ensino Híbrido:
Possibilidades
Metodológicas e
Desafios Conjunturais
Joaquim Alberto Andrade Silva

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

OLHARES INICIAIS ensino híbrido, frente aos desafiadores vas mudanças, as pessoas, assim como dio, intolerâncias religiosas, corrupções,
contextos existentes na atualidade. a maioria das instituições necessitaram trabalho infantil, tráfico humano, entre
A expressão reta não sonha. reinventar seu modo de atuar, dentre tantas outras mazelas sociais, diante
Não use o traço acostumado. Nesse sentido, quais olhares são neces- elas as instituições educacionais, como de tais temas pode-se assegurar que o
A força de um artista vem das sários para o desenvolvimento de uma a escola e a universidade. A prática mundo está doente. Em muitas realida-
suas derrotas. Só a alma ator- prática pastoral, mediada pelo cresci- educativa foi provocada a ter uma sig- des, a humanidade está doente e fora
mentada pode trazer para a mento do ensino híbrido, que não tenha nificativa e inovadora atuação que pu- de seu propósito civilizatório.
voz um formato de pássaro. pensa, que possibilite a constituição desse corresponder às tessituras e às
Arte não tem pensa: o olho de vozes com formatos de pássaros, necessidades contemporâneas. Nessa perspectiva, diante dos contex-
vê, a lembrança revê, e a ima- ou ainda, que desencadeie processos tos complexos, desafiadores e perme-
ginação transvê. É preciso repletos de sentido, que sejam trans- ados por conjunturas plurais, faz-se
transver o mundo. (BARROS, formadores e exponenciais, em que necessário aprofundar se a Educação
1996, p. 75) todas as pessoas consigam “transver SOBRE TRAÇOS, Católica e sua atuação pastoral, ten-
o mundo”? DERROTAS E ALMAS do em vista as suas intencionalidades,
O poeta Manoel de Barros fala da ne- ATORMENTADAS consegue estabelecer uma prática
cessidade de sonhar, de não se acostu- Vivemos realidades marcadas por pro- educativa evangelizadora que favore-
mar. Provoca ainda sobre a necessidade fundos e significativos desafios, assim O mundo está em crise! O mundo está ça um olhar sistêmico e integral, que
de impulsionar a vida também pelas como tantas outras possibilidades que doente. Não somente pela pandemia do compreenda que os problemas sociais
intempéries que afetam a existência. descortinam cotidianamente. Tempo novo Coronavírus, mas também, pela estão conectados. Nessa continuidade,
Porém, a parte mais profunda desse desafiador, triste e desolador em todo realidade que apresentou, de modo é imprescindível dialogar sobre os pos-
provocador pensamento vem da neces- o planeta por conta da pandemia oca- mais intenso, para toda humanidade, síveis desafios e as sombras existentes
sidade de “transver” o que nos cerca, de sionada pelo Covid-19. Período em que conjunturas e rupturas paradigmáticas nas conjunturas sociais, assim como na
levar uma vida sem condicionamentos são impulsionadas e escancaradas as singulares, além da explicitação de re- atuação educacional.
tão determinados, ir além do olhar, do abissais desigualdades sociais e eco- alidades ainda mais desiguais, injustas
lembrar, buscar o imaginar... nômicas existentes em todo o país, e violentas. O contexto pandêmico do Diante de cenários permeados por si-
assim como em tantos outros lugares novo Coronavírus expôs de modo inten- tuações vitais encharcadas de com-
Inspirada na poesia de Manoel de Bar- do mundo. Tempo marcado pelos iso- so e incontrolável muitos limites sociais plexidade, a Educação tem um papel
ros, a presente reflexão ensaística al- lamentos, pelo distanciamento social, e inúmeras contradições presentes em fundamental. Um universo educativo
meja apresentar alguns olhares acerca pelo cuidado com a vida, pelo zelo na meio as pluralidades da humanidade. que fomente uma cultura voltada para
dos temas propostos no que diz respei- ciência, pelas possibilidades de novas o cuidado da Casa Comum, cuidado
to a relação entre a atuação pastoral no formas de estar no mundo, de se re- Além das pandemias, o mundo sofre in- com os seres que habitam o planeta.
universo educativo e o desenvolvimen- lacionar, de educar, de olhar para as tensamente com violências, migrações Uma Educação inovadora e conectada
to do ensino híbrido. A proposta é com- nossas interioridades. forçadas, desmatamentos e extrações com os principais anseios e necessida-
partilhar olhares sobre quais relações ilegais de biomas, poluição, aquecimen- des das novas gerações que promova
podem ser estabelecidas no universo Em meio a conjunturas tão complexas, to global, assassinato de povos originá- o olhar para a centralidade da pes-
educativo entre a prática pastoral e o pandêmicas e marcadas por imperati- rios e outras minorias, racismo, feminicí- soa humana, como nos convida o Papa

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Francisco na mensagem de reconstru- sim, como também necessitaram ser to pandêmico, segue sendo um caminho Nessa perspectiva de uma educação hí-
ção do Pacto Educativo Global (2019). reinventadas, reformuladas e evoluírem desafiador e repleto de muitos aprendi- brida que já é desenvolvida, mas que se
Uma prática educativa que proporcione para o desencadeamento de uma edu- zados para instituições, docentes, dis- potencializa por meio de ações on-line,
experiências aos educadores e educan- cação híbrida. centes e seus familiares. As ausências e como potencializar uma prática pasto-
dos para a compreensão de que “tudo transformações que marcam o tempo ral, o desenvolvimento de uma pastora-
está interligado” (FRANCISCO, 2015, A partir da exigente realidade, e de presente, assim como as inúmeras tra- lidade cada vez mais pertinente com as
n. 91) e que a existência humana está acordo com as possibilidades de cada vessias enfrentadas pela humanidade. características e missão institucionais?
conectada com todas as outras formas instituição educativa, o modelo híbrido,
de vida que habitam a Terra. em inglês blended learning, tornou-se Porém, mesmo em meio a tantos desa-
um fato cotidiano na prática educativa, fios para a implementação de processo
sendo uma das soluções encontradas híbridos, é fundamental compreender a UMA AÇÃO
pelas organizações educacionais, in- facilidade em que as novas gerações, os PASTORAL QUE VÊ,
A ARTE DE EDUCAR clusive pelo próprio Estado, para que chamados nativos digitais, possuem de REVÊ E TRANSVÊ
NÃO TEM PENSA os estudos não fossem paralisados e/ conexão com novas formas de apren-
ou adiados. dizagem, assim como a assimilação de Dentre as práticas educativas, a atua-
Diante da pandemia do novo Corona- ção da pastoral, como parte constitu-
novas formas de conhecimento utili-
vírus e de seus inúmeros desafios, o Compreendendo o modelo híbrido como tiva de instituições educacionais con-
zando equipamentos eletrônicos como
mundo parou! A Educação também o processo educativo que estabelece a fessionais, segue com a necessidade
celulares, notebooks e tablets. Con-
parou! O universo educativo teve es- conexão entre as aulas presenciais em de colaborar com a potencialização das
sideração que contempla a realidade
cancarada diversas situações a serem forma clássica, com a continuidade do novas perspectivas para o cotidiano do
dos principais sujeitos no processo de
desbravadas e modificadas em suas desenvolvimento por meio da Educação ensino e da aprendizagem nos espaços
ensino-aprendizagem, os estudantes.
práticas educativas. Em meio à conjun- à Distância (EAD), on-line em um am- da Educação Básica, em meio às ações
tura do necessário e fundamental dis- biente virtual previamente organizado, Ainda no olhar sobre o ensino híbrido do modelo híbrido e de suas possibili-
tanciamento social, e da necessidade sendo um movimento integrado que na prática educativa, é importante sa- dades metodológicas.
da continuidade do desenvolvimento proporciona, em certa medida, a con- lientar que as escolas utilizam desse
educacional, as práticas educativas em tinuidade da mediação docente e o uso modelo há algum tempo, porém, sem o Importante refletir sobre o exercício de
escolas de Educação Básica1 passa- de estratégias, plataformas para além uso constante do universo on-line. Bas- uma prática pastoral, de uma efetiva
ram a ser por meio do ensino remoto, do espaço físico da sala de aula. Favo- ta recordar e analisar a quantidade de pastoralidade, que esteja atenta para
mediado pelas Tecnologias Digitais da rece ainda a adoção de metodologias ações e propostas educativas que são as realidades existentes, reconhece os
Informação e Comunicação (TDIC). As- mais inovadoras, mas, também, garante feitas para além do espaço da sala de caminhos feitos, assim como consegue
um protagonismo e uma autonomia dis- aula (parques, museus, teatros, práticas fomentar a esperança dos novos hori-
1 - Importante salientar que o desenvolvimento cente para a gestão de seu compasso de assistência social). Todos esses movi- zontes a serem trilhados. Uma prática
de mediação tecnológica aconteceu de modo
de estudo. mentos podem ser caracterizados como pastoral que necessita ser marcada
majoritário nas realidades das instituições ed-
ucativas confessionais privadas, sendo que no
uma educação híbrida, haja vista o fato por memória, presença e profecia (VA-
universo da educação pública os desafios e as
ausências de possibilidades da continuidade do O processo de implementação de uma que utilizam distintas plataformas e/ou TICANO, 1999). Que sendo memória, é
calendário escolar segue sendo um constante de-
educação híbrida, em meio a um contex- meios de ensino e de aprendizagem. coerente com o legado da Boa Nova de
safio. Fato que só reafirma os crescentes traços
de desigualdades existentes na tessitura social.

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

Jesus e tem em sua essência os prin- vida humana na atualidade? Talvez, po- Instituições reinventaram sua forma de PASTOREAR E
cípios e valores evangélicos. Que tem de-se afirmar que é justamente nesse ofertar uma educação não mais 100% TRANSVER
em sua presença uma missão marcada contexto, permeado por desafios, é que presencial. Caminho que não tem mais
pela vida das pessoas, pelas realidades deverão ser encontradas as possibili- volta! Educadores e educadoras rein- Na mensagem em que o Papa Fran-
que se entremeiam nas tessituras dos dades, os horizontes, as utopias e as ventaram seu jeito de exercer sua do- cisco convoca, não somente a Igreja,
ecossistemas em que a prática educa- esperanças que brotam nos caminhos cência. Entre imensuráveis desafios e mas o mundo, para a reconstrução de
tiva evangelizadora acontece. Que é a serem percorridos. conquistas, os processos educativos um Pacto Educativo Global, o pontífice
profecia a todo tempo! Profecia, pois, aconteceram e seguem em desenvol- convida para que “juntos, procuremos
acredita na vida, defende a vida, que vimento. E a pastoral? Como tem feito encontrar soluções, iniciar sem medo
preza pela liberdade, pela justiça, pela sua atuação? Como tem desenvolvi- processos de transformação e olhar
construção do humanismo solidário, e
Importante refletir sobre do seu papel no universo educativo para o futuro com esperança” (FRAN-
o exercício de uma prática
que todas as pessoas tenham vida em em que está inserida? Quais foram as CISCO, 2019). Convocação que vem com
pastoral, de uma efetiva
plenitude (Jo 10,10). reinvenções e transformações concre- o imperativo de que possam ser cons-
pastoralidade, que esteja
tizadas? O que foi colocado de lado ou tituídas, nos diversos espaços sociais,
Porém, como efetivar essa prática pas- atenta para as realidades
ressignificado? Quais são as novidades aldeias educativas, para com o propó-
toral em meio a uma conjuntura pandê- existentes (...)
e transformações em meio a um tempo sito de que todas as pessoas estejam
mica, de ensino híbrido e com tantas marcado por profundas mudanças? comprometidas com o desenvolvimento
outras necessidades que permeiam a dos educandos.
Em meio a esses e tantos outros ques-
tionamentos que podem ser feitos Como aldeia educativa, à luz da espe-
sobre a prática pastoral, no univer- rança, das transformações necessárias
so educativo em contexto pandêmi- e da necessidade de “transver o mundo”
co, com o advento do ensino híbrido, (BARROS, 1996), a pastoral necessita
apresenta-se na continuidade da pre- desenvolver sua atuação evangelizado-
sente reflexão, alguns olhares à luz do ra, permeada por processos que cola-
Pacto Educativo Global, posicionamen- borem com a formação de comunidades
tos eclesiais e do magistério do Papa educativas, com a reestruturação dos
Francisco, de modo a potencializar uma processos que estruturam as práticas
prática pastoral que possa ser entendi- educacionais, assim como desencadear
da como uma potente pastoralidade no iniciativas que favoreçam a personali-
espaço educativo evangelizador. zação de todas as pessoas envolvidas
no cotidiano escolar, sejam estudantes,
educadores e/ou familiares.

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COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

Em profunda comunhão com a propos- O olhar atento para a fraternidade hu- a tarefa educativa, o desen- O Instrumentum Laboris do Pacto Edu-
ta da reconstrução do Pacto Educativo mana, uma família global, o reconhe- volvimento de hábitos solidá- cativo Global conclui suas proposições
Global (FRANCISCO, 2019), a atuação cimento de que juntos pertencemos a rios, a capacidade de pensar com a mensagem “Educar para servir,
pastoral no universo híbrido deve de- uma grande família. Uma prática pas- a vida humana de forma mais educar é servir” (VATICANO, 2020, p.
sencadear projetos e processos estra- toral que provoque o olhar para uma integral, a profundidade espi- 16). Talvez, a expressão que sintetiza a
tégicos que fomentem a centralidade sociedade que reconhece o outro, que ritual são realidades neces- coerência do Pacto com a boa nova de
da pessoa nas pautas educacionais, a é mais humana, que promove mais o sárias para dar qualidade às Jesus, sob à ótica do serviço ao próxi-
relação humana no centro de sua atu- humanismo solidário. relações humanas. mo. Oxalá, a atuação pastoral em novas
ação educacional. Uma pastoralidade conjunturas educativas possa transver
que provoque processos criativos, com O advento dos novos ensinos, na per- sua prática e seja cada vez mais perme-
o protagonismo de educandos. Uma ceptiva híbrida e/ ou remota, pode fa- ada pela promoção de um humanismo
vorecer processos educativos e pas- TRANSVER COMO
prática pastoral que, por meio do hibri- solidário, da fraternidade, pelo serviço
dismo favoreça uma educação cada vez torais que poderão ir além dos muros CAMINHO... aos mais frágeis, compreendendo que
mais inclusiva, acolhedora e que esteja institucionais: com a organização de o “verdadeiro serviço da educação é
O saudoso dom Pedro Casaldáliga2,
à serviço. parcerias e o rompimento de paradig- a educação ao serviço” (VATICANO,
profeta da resistência e da esperança,
mas; com a criação novas pontes e cone- 2020, p. 17).
afirmava que “podem nos tirar tudo,
Na encíclica Laudato Sí’, Francisco já xões, em vista de desenvolver processos
menos a nossa esperança”. Inspirado
lembrava que “a educação será ineficaz educativos que cheguem a mais pesso- A partir das reflexões compartilhadas, e
no legado de Casaldáliga, a pastoral no
e os seus esforços estéreis, se não se as, com predileção às mais vulneráveis. diante das possibilidades e dos desafios
universo educacional precisa impulsio-
preocupar também por difundir um Uma atuação educativa que esteja aten- apresentados para o universo educati-
nar a todos para transver as realida-
novo modelo relativo ao ser humano, ta às mudanças conjunturais nas formas vo, espera-se que sejam oportunizados
des em que se encontram, na clareza
à vida, à sociedade e à relação com a de educar, mas que, ao mesmo tempo, olhares para uma atuação pastoral cada
de que o outro mundo é possível e de
natureza” (FRANCISCO, 2015, n. 215). seja pertinente, que faça a diferença na vez mais eficaz e coerente com a pro-
que o “amanhã exige o melhor do hoje”
Nesse sentido, tendo em vista o tempo comunidade em que está inserida. posta institucional e que corresponda
(VATICANO, 2020, p. 16). Nesse sentido,
pandêmico, a atuação pastoral poderá aos apelos da contemporaneidade.
Em meio a tessituras sociais permeadas encharcados de esperança, a atuação
ressignificar as realidades vivenciadas
pela fragmentação, liquidez nas relações, pastoral necessita permear o desen- Que a pastoral educativa esteja conec-
e tornar o tempo oportuno para que as
com profundas perdas de sentido e pro- volvimento educativo nos espaços hí- tada e imersa no mundo em que está
comunidades educativas desenvolvam
pósito de vida, a pastoral tem a missão bridos de valores e princípios institu- inserida, com uma atuação afetiva e
novos modelos de habitar, de estabele-
de atuar na reconstrução da identidade cionais, fiéis ao seguimento de Jesus, efetiva, assim como colabore com uma
cer novos pactos, de uma humanidade
humana, de favorecer a construção e o com práticas inclusivas, solidárias e que prática educativa permeada de pro-
permeada pela alteridade, empatia,
acompanhamento de projetos de vida, promovam a transformação social. pósito e significado para educandos e
responsabilidade e bem viver.
em comunhão com o Papa Francisco educadores.
As escolas necessitam que a pastoral (2020, n. 167) que afirmar:
favoreça a compreensão da fraterni-
2 - Bispo emérito da Prelazia de São Félix do
dade original (VATICANO, 2020, p. 4). Araguaia, MT, falecido em 2020.

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SOBRE O AUTOR REFERÊNCIAS

JOAQUIM ALBERTO ANDRADE SILVA


Mestrando em Educação na Universidade Católica de Brasília – UCB. Possui Gradu- FRANCISCO, P. Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social.
ação em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, especialização em Ado- Vaticano, 2020. Disponível em: http://www.vatican.va/content/francesco/
lescência e Juventude e pós-graduando em Gestão Educacional. Trabalhou como pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-
Assessor de Vida Consagrada e Laicato da União Marista do Brasil. Foi membro -tutti.pdf. Acesso em: 23 abr. 2021.
da Comissão Nacional de Assessores da Pastoral da Juventude da CNBB. Coorde-
nou o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte do HOTCOURSES BRASIL. O que significa o ensino híbrido adotado pelas
Distrito Federal. Participou como perito convidado pelo Vaticano do Sínodo dos universidades internacionais na pandemia? Portal UOL, 2021. Disponível
Bispos para a Amazônia. Atualmente é Coordenador de Pastoralidade da União
em: https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/estudar-no-exterior/o-que-
Brasileira de Educação Católica - Grupo UBEC. É membro do Conselho Consultivo
-significa-o-ensino-hibrido-adotado-pelas-universidades-internacionais-
do Movimento de Educação de Base – MEB e colabora como integrante do Comitê
de Escuta da I Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe do CELAM. -na-pandemia.htm. Acesso em: 22 abr. 2021.

SOUZA, L. Ensino híbrido é tendência para a vida escolar no mundo


pós-pandemia. Agência Brasil, 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.
ebc.com.br/educacao/noticia/2020-07/ensino-hibrido-e-tendencia-pa-
ra-vida-escolar-no-mundo-pos-pandemia. Acesso em: 22 abr. 2021.
REFERÊNCIAS
VATICANO. O Santuário: Memória, Presença e Profecia do Deus vivo.
Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. Vatica-
BÍBLIA SAGRADA. Brasília: Edições CNBB, 2016. no, 1999.

BARROS, M. Livro sobre nada. 3. ed. Ed. Record, Rio de Janeiro: 1996. VATICANO. Pacto Educativo Global: Instrumentum Laboris. Vaticano,
2020. Disponível em: https://www.educationglobalcompact.org/resour-
CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Educar ao Humanismo
ces/Risorse/instrumentum-laboris-pt.pdf. Acesso em: 20 abr. 2021.
Solidário. Para construir uma “civilização do amor” 50 anos após a Popu-
lorum Progressio. Brasília: Edições CNBB, 2018.

FRANCISCO, P. Carta Encíclica Laudato Si´. Louvado Sejas, sobre o cui-


dado da casa comum. São Paulo: Paulus, Loyola, 2015.

FRANCISCO, P. Mensagem do Papa Francisco para o lançamento do Pacto


Educativo. Vaticano, 2019. Disponível em: http://www.vatican.va/content/
francesco/pt/messages/pont-messages/2019/documents/papa-frances-
co_20190912_messaggio-patto-educativo.html. Acesso em: 23 abr. 2021.

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8.
COLETÂNEAS • Ensino Híbrido ANEC

Da Ordem e do Caos:
Perspectivas da
Gestão Escolar Hoje
Francisco Morales Cano

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INTRODUÇÃO e a missão da própria instituição, por- Como incorporar os seus valores do Gênesis, capítulos 1 a 3, Ele separa
tanto, da sua própria razão de ser. e superar as suas deficiências? os tempos (o dia da noite), os espaços
A Quarta Revolução Industrial, Klaus (o céu, a terra e o firmamento), coloca
A realidade escolar e educacional, mer- • Quais são os pilares que devem
Schwab em 2016, (robótica avançada, a cada um no seu lugar (as aves no céu,
gulhada nesse novo contexto e con- fundamentar uma nova gestão es-
automação no transporte, inteligência os animais terrestres na terra, os peixes
dicionada pela complexidade social, colar hoje, adequada aos tempos,
artificial, aprendizagens aceleradas, no mar e as estrelas no firmamento),
política e econômica da sociedade e comprometida com a realidade e
big data), nos surpreendeu pela sua estabelece o ciclo de trabalho e des-
do momento histórico, caminha entre que responda aos desafios da atu-
velocidade e alcance, gerando em nós canso (trabalha seis dias e descansa
atônita, expectante e surpreendente- alidade?
sentimentos díspares: desde orgulho no sétimo) e ainda distribui funções e
e interesse até medo e desorientação. mente ativa, como se a vida lhe fosse • Qual o papel dos atores sócio edu- nomeia gestores, devidamente acasa-
Nesse momento, é necessário que a nessa empreitada. E, concordemos, vai. cacionais que aí se desempenham lados (Adão e Eva), para que cuidem
educação aporte discernimento e luz, Acrescente-se a isso, para agravar o (gestores, professores, estudan- da sua obra (Jardim do Éden). E impõe
para que a claridade nos ajude a voltar quadro, o negacionismo do governo tes, famílias, colaboradores) e qual regras, claro (não tocar no fruto proi-
a enxergar os caminhos. Tempos con- nacional, o descaso para com a saúde a interação que deve existir entre bido). Tudo perfeito e arrumado!! A
fusos e complexos exigem respostas e a educação, a falta de diretrizes ema- eles? Ordem no Caos, segundo a Bíblia.
vindas desde o silêncio, a reflexão crí- nadas dos ministérios e órgãos compe-
• Quais as responsabilidades e limi-
tica e a clareza. tentes e com inúmeras “autoridades” Até aqui. A seguir, virá o feitiço da ser-
tes de cada um, procurando que
apostando no quanto pior, melhor. pente (o mal), a tentação da maçã (o
A pandemia do corona vírus foi um ca- papéis e roles não se misturem e
poder), a expulsão do Paraíso (o so-
talisador dos graves problemas que Esse quadro complexo demanda da confundam, e sim se complemen-
nho perdido), o assassinato de Abel
o mundo já vinha sofrendo. Criou-se gestão e dos gestores escolares, um tem de forma integrada e compar-
(a violência), a confusão de Babel (a
uma nova geopolítica, que pode gerar, novo entendimento do seu rol, uma tilhada?
luta dos povos) e o dilúvio (o castigo
em palavras do Papa Francisco, “uma nova compreensão e visão, novos co- • Qual será o protagonismo inova- regenerador). O que tinha começado,
tragédia global, sanitária, social e eco- nhecimentos e novas ações. O momen- dor da escola no mundo que sairá aparentemente, perfeitamente organi-
nômica sem precedentes”. to atual e seus desdobramentos, am- dessa crise, e que se adivinha me- zado, virou uma bagunça e uma desor-
pliam o papel não somente da escola, nos previsível, mais dividido, mais dem pela ação humana! Mais parecido,
No tsunami a que nos arrastou a pan- mas também daqueles que a lideram, desigual e mais desafiador? mesmo, com a vida real!
demia e nesse ambiente revolucionado, ao mesmo tempo que nos relacionam,
muitas instituições de ensino perce- interativamente, com segmentos e de- Com o passar do tempo, essa vontade
beram que, o vírus ameaçava não so- safios até então desconhecidos pelo de organizar e gerir se tornou ciência,
mente a vida dos seus membros, e sim, universo escolar.
A GESTÃO e complexa. Nos estudos modernos,
também, a sobrevivência da própria TRADICIONAL: quando se fala em gestão, fala-se em
instituição. Isso torna-se mais trágico, Nesse contexto instigante, levanto al- CADA UM NO disciplina para a qual temos que nos
se cabe, nas instituições confessionais, gumas questões básicas: SEU QUADRADO preparar e aprofundar. Assim o enten-
nas quais, frequentemente, a atividade de, por exemplo, Clemente Nóbrega
• É possível continuar com o mode- Ninguém pode duvidar de que o Criador
educacional se confunde com o carisma (2004, p. 15):
lo tradicional de gestão escolar? seja um ótimo Gestor. No relato bíblico

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Gestão é uma disciplina, ou colar, normalmente concretizada numa


seja: um conjunto de conheci- estrutura organizacional piramidal e,
mentos codificados cujo foco muitas vezes, excessivamente burocrá-
é a obtenção de resultados. tica, autoritária e pouco participativa,
Gestão é resultado, não es- baseada em relações pessoais e afeti-
forço. É a disciplina que torna vas, mas com uma prática política mar-
produtivos os “saberes” de vá- cada pela troca de favores e propostas
rios campos do conhecimento. assistencialistas e pragmáticas. O líder,
É por meio dela que as outras nesse modelo, é um bom orador, muito
inovações produzem seus efei- intuitivo, mas sem um plano geral de
tos. Gestão começa com uma governança e pouca ou nenhuma parti-
forma de mentalizar o mundo. cipação de equipes decisórias, contami-
Sempre que temos que tomar nado pelo centralismo e o paternalismo
iniciativas para gerar um re- nas relações com a comunidade escolar.
sultado precisamos de gestão. Tarefas definidas, espaços delimitados e
responsabilidades individualizadas são,
Ora, entendendo a gestão escolar também, características marcantes.
como uma forma de gestão, devemos
levar em conta as inúmeras variáveis que
• Capacitar e mobilizar as pesso- seu direcionamento ao público-al-
afetam a mesma, sendo a mais impor-
as para atuarem em conjunto, de vo, foco das instituições modernas.
tante delas as pessoas. A comunidade A GESTÃO
forma a ampliar suas forças e mi-
escolar, composta pela comunidade in- PARTICIPATIVA: • Gerir processos exige um eficien-
nimizar suas debilidades.
terna (estudantes, pais, professores, UM PASSO À FRENTE te sistema de comunicação, de
colaboradores, fornecedores) não é um • O gestor deve relembrar continu- circulação de informação e servi-
ente isolado. Muito pelo contrário, inú- Para Peter Drucker, um dos gurus da amente os princípios que regem ços internos.
meras instâncias a influenciam e con- gestão moderna, noventa por cento a Instituição e criar mecanismos
• O gestor deve coordenar e esti-
dicionam (governo, estado, município, dos objetos da preocupação da gestão para que estejam presentes no
mular processos de novas apren-
vizinhança), assim como outros fatores são comuns a todas as instituições, ca- dia a dia dela e em todos os en-
dizagens, desenvolver novas habi-
a envolvem e modificam continuamente bendo somente um dez por cento que volvidos.
lidades e novos conhecimentos.
(política, normativas próprias, modelos devem ser adequados às característi-
• Compete ao gestor fixar as me-
sociais, consumo, moda, mídias, tecno- cas de cada instituição. Segundo Drucker (2001), não existe
tas, após análise de cenário e diá-
logias, cultura). Por isso é, no sentido organização certa, mas apenas orga-
Drucker resgata a importância do ges- logo com os colaboradores, e zelar
mais genuíno da palavra, “um ser vivo”. nizações. Existe a necessidade de
tor para uma boa gestão e destaca para que se cumpram.
uma autoridade final, de um comando
A Gestão Escolar Tradicional foi iden- alguns pontos fundamentais para uma • O gestor é o primeiro responsável claro, sempre importante, mas prin-
tificada, à miúde, com administração es- gestão participativa: pela missão da Instituição e pelo cipalmente em momentos de crise ou

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transição. Assim, não se pode falar do A GESTÃO DA ênfase em resultados e au- • Estabelecer um senso de ur-
sência de gestão de pessoas. gência, que combata o senso de
fim da hierarquia, apesar das formas INTEGRAÇÃO E
colegiadas de governança. complacência.
DA INOVAÇÃO: Ao mesmo tempo, Murad propõe seis
Drucker também advoga por uma su- AJUSTANDO O pilares para fundamentar uma gestão • Criar um time forte, suporte

peração da dicotomia entre interior da PASSO À REALIDADE eficaz e integradora na atualidade (p. fundamental para qualquer mu-
42): visão generalista, estrutura fle- dança consistente.
organização e espírito empreendedor
Hoje assistimos ao “descongelamento”
(2001, p. 39): xível, política de mudança, inovação e • Desenvolver a visão de futuro e
de uma configuração organizacional
continuidade, âmbito de gestão e ges- as estratégias correspondentes.
Gerenciamento e espírito em- que não serve mais, mas que pode estar
tão de pessoas.
preendedor são apenas duas muito bem afinada e que até então ser- • Comunicar a visão da mudança,
dimensões diferentes da mes- viu para muitas escolas e instituições. E Isso posto, podemos falar em gestão desenvolvendo estratégias de
ma tarefa. Um empreendedor isso pode ser um drama, pois nem sem- de mudanças? Parece que sim. Segun- comunicação que sensibilizem as
que não aprende a gerenciar pre evoluir para formas integradoras e do Perrenoud (2005, p. 82-86), pessoas.
não durará muito, assim como inovadoras é simples ou fácil.
• Empoderar o conjunto de co-
a escola deve ser um labo-
uma gerência que não apren- laboradores em vista de ações
Segundo Jack Welch, “o desafio da mu- ratório social, aprendendo a
de a inovar. abrangentes.
dança é a cultura”. E isso é, ao tempo analisar e assumir a complexi-
Podemos falar, dentro da Gestão Partici- que necessário nos dias de hoje, desa- dade, aprendendo a cooperar • Realizar conquistas a curto pra-
pativa, daquilo que se denomina estru- fiador e doloroso. e conviver, a viver as diferen- zo e divulgá-las.
turas mistas, ora com comando firme e ças e os conflitos, adotando
Affonso Murad (2012, p. 67) seleciona • Criar a cultura nova e preparar
responsável, ora mais participativa e de uma lógica de resolução de
cinco pontos que, na sua opinião, são lideranças para ela.
equipe. Isto exige, obviamente, organiza- problemas
empecilhos comuns para uma gestão O principal agente educativo de inte-
ções ágeis, com poucas camadas hierár-
eficaz e integradora, compreendida Nesse sentido, o papel da escola na gração e inovação, portanto, deve ser a
quicas e com a menor burocracia possível.
como a habilidade de liderar pessoas e formação para a democracia e a parti- escola como um todo (corpo vivo), des-
A maior parte das instituições escolares coordenar processos. São eles: cipação é inquestionável, assim como de a equipe diretiva, a equipe docente
se maneja nesse modelo, com uma pitada a importância de um bom gestor que e o clima organizacional e vivencial. A
Visão estratégica insuficien-
ainda do modelo tradicional. Há já uma transite bem por esses conceitos e na solução está na co-docência e no tra-
te (com percepção ingênua
abertura para a liderança compartilhada, promoção dessas atitudes. balho cooperativo em todos os âmbitos
da realidade, investimentos
para novas formas de atuação em equipes escolares (administrativo, pedagógico,
desproporcionais e concei- O processo de gestão de mudança foi
e para a divisão de responsabilidades e funcional e de clima), e passa pela for-
to equivocado de marke- sintetizado por John Kotter (1997) em
logros. Existe nesse modelo, ainda, uma mação focalizada na ação e na lideran-
ting), exercício inadequado oito passos, que devem ser processu-
centralização na autoridade estabelecida ça compartilhada, múltipla e distribuída
do poder, desequilíbrio entre almente seguidos se quisermos ter su-
e é ela, finalmente, quem decide os rumos (equipes de liderança).
centralização e descentrali- cesso (apud MURAD, 2012, p. 219-224):
da instituição.
zação, amadorismo e pouca

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Claro que deve existir, e é importante 5. Construindo comprometimen- Na perspectiva da transformação, o lí- personalidades, psicologias e relaciona-
dizer, uma integração normativa, que to com as mudanças, tentando der coopera com outros para modificar mentos. Nunca como agora, a educação
facilite e aglutine os métodos e me- vencer as resistências. determinados aspectos da cultura do precisou tanto de flexibilidade, criati-
canismos organizacionais. A ausência estabelecimento escolar ou das práticas vidade e adaptabilidade. Além disso,
de normas e valores compartilhados 6. Criando uma ponte para a ação pedagógicas. Essas novas relações não “aprender, desaprender, reaprender” é
da instituição é contraproducente e é (desenvolvendo os planos e os se operam pela intervenção autoritária a metodologia que poderá nos levar a
capaz de gerar frustração e falta de processos, com equipes multi- do gestor, mas vão sendo construidas encarar as mudanças e nos formar nas
efetividade. Cada um acaba remando funcionais). progressivamente no âmbito de um pro- novas competências, necessárias para
para o seu lado. cesso coletivo de discussão e elabora- um mundo futuro já presente.
O estabelecimento escolar pode e deve
ção de novos modos de pensar e fazer.
O equilíbrio entre a socialização na se tornar um nó estratégico de mudan- Focar nas “competências essenciais
instituição (adaptar-se aos seus va- ça planejada, apesar dos imprevistos da instituição” e defini-las, é outro
lores e métodos) e a inovação dentro com que a realidade nos surpreende. ponto fundamental. Qual é o valor in-
dela (visão de futuro, metodologias Ou, dentro deles mesmos, melhor. As- O FUTURO trínseco da minha escola, o que lhe é
construtoras de mudanças), exigirá um sim, o gestor dará um passo à frente: DO FUTURO peculiar e que será difícil de ser imi-
reconhecimento de quais valores são tado por outros? Quais são as rotinas
Convém distinguir dois aspec- O futuro já está aqui. Tudo nos pressio-
fundamentais e quais periféricos, com do processo que possibilitam combinar
tos da liderança em matéria na e pressiona as nossas instituições:
estratégias diferentes de abordagem. habilidades, conhecimento, sistemas e
de inovação. Em um plano mais os fatores humanos, sócio econômicos,
É necessário gerenciar com cuidado a valores da minha instituição e que lhe
abstrato e intelectual, a lide- geopolíticos, demográficos, sanitários,
cultura forte e a oxigenação cultural. dão alma e personalidade própria?
rança consiste em: propor óti- culturais, tecnológicos e ecológicos.
Esse realinhamento é visto por alguns cas mobilizadoras; determinar Por difícil que seja assimilar, a huma- O futuro vai exigir instituições onde
autores como um processo que deverá os eixos de desenvolvimento; nidade parece estar em guerra conti- os profissionais terão que se tornar
ser construído em seis etapas: conceber as estratégias de nua com ela mesma. Tudo vai mudando “aprendizes adaptáveis” pela vida
mudança; preocupar-se com a o tempo todo, conflitando, dividindo, toda, e onde a colaboração entre o
1. Propiciando uma coalizão de li- confusão entre valores e cren- afastando, num movimento bizarro de humano e as aprendizagens automati-
derança dos principais atores ças; estabelecer as condições desumanização. E assim, os desafios zadas ajudem a conquistar mais do que
comprometidos com a mudança. necessárias para que o sentido educacionais se tornam maiores. cada um por si mesmo.
de mudança possa ser constru-
2. Imaginando o futuro (antevisão ído, coletiva e interativamente; Esse novo contexto educacional vem Segundo os estudos de Marina Gorbis
do futuro final imaginado). ao passo que a gestão, apa- povoado de “ensino híbrido”, “ensino e Devin Findler, do Institute For The
nágio da autoridade formal, a distância”, “mundo computacional”, Future (IFTF), as forças de ruptura de
3. Procurando entender as lacunas
consiste em ocupar-se das ta- “professores virtuais”, “estudantes au- um modelo de gestão inovador com o
nas competências existentes.
refas terra a terra, indispen- sentes” e “novas formas de relaciona- modelo de gestão anterior, são:
4. Criando um mapa do sistema de sáveis, para fazerem um esta- mento na e fora da escola”. Isso sem fa-
mudanças (mapa significativo belecimento escolar funcionar lar das carências emocionais, realidades
das conexões sistêmicas). (THURLER, 2001, p. 147). traumáticas e a modelagem das novas

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• A orientação para um mundo com- A intensa exigência e transpa- putacional, que saiba dar senti-
putacional, onde haverá sobreposi- rência orienta precisamente do aos dados, análise estatística
ção de sistemas programáveis. para o fato de que o funda- e raciocínio quantitativo.
Nunca, como agora,
a Educação precisou mento moral da sociedade se
• A tecnologia social, com novos mo- 5. Desenvolver a capacidade de
tanto de flexibilidade, tornou frágil. Assim, vivemos
dos de produção e criação de valor. conferir sentido, o que ajudará
criatividade e numa sociedade da descon-
• Ecologia de novas mídias e novas fiança e ela suspeita que, em enormemente a gerar conheci-
adaptabilidade.
ferramentas de comunicação. virtude do desaparecimento mento crítico único para a toma-
da confiança, agarra-se ao da de decisões.
• O surgimento de máquinas e siste-
mas inteligentes. controle.
6. Valorizar a inteligência social
• A emergência de um mundo conec- CONSIDERAÇÕES Uma gestão escolar atual, com credi- e emocional, entendendo que é
um ativo fundamental dos seres
tado, tendo a diversidade e adap- FINAIS bilidade, competência e visão, deverá
tabilidade como centro da vida or- promover, na sua estrutura e nos seus humanos e que foi acumulado
ganizacional. Qual será o futuro da gestão escolar gestores, algumas características, que durante séculos.
numa sociedade em guerra cultural, tec- deixo como consideração final (apud
• A não presencialidade nas rela- 7. Desenvolver o pensamento ori-
nológica e virtual, em conflito com a na- Davies, Findler e Gorbis do IFTF: Rela-
ções, ou sua intermitência, o que nos ginal e adaptativo, que é a capa-
tureza e com a compreensão do que seja tório de Tendências do Trabalho, 2015):
desafiará a elaborar novas formas de cidade de responder a situações
ser humano, individual e coletivamente?
relação que combinem virtualidade 1. Gerir a carga cognitiva da insti- únicas e inesperadas.
O que poderá ser exigido a todo bom
com a necessária relação humana tuição, com técnicas e ferramen-
gestor para que a sua escola, confes-
não mediada, a não ser pelos afetos 8. Competência intercultural, o
sional o no, seja uma resposta adequada tas que o ajudem, abrindo campo
e a presença. que nos torna competentes em
aos desafios postos, comprometida com a novas mídias e habilidades, no-
qualquer tempo, em qualquer
E tudo isso correrá em paralelo com uma a comunidade e com a ciência, crítica e vos conteúdos e propostas das
lugar, em qualquer cultura, em
transformação demográfica profunda, ética em todas as suas relações? Que equipes colaboradoras.
qualquer circunstância.
com a diminuição de nascimentos e uma tipo de líder ele deverá ser?
2. Mentalidade de Design, enten-
maior longevidade, num planeta profun- 9. Conhecimento de novas mídias,
Buyng Chul-Han afirma que houve uma dendo e valorizando o ambiente
damente ferido e esgotado, que nos promovendo a habilidade dos
perda de respeito pelo mundo da cultu- físico, que também molda o con-
ameaça com a sua trágica palavra final, e profissionais para que produzam
ra e da educação, numa época como a vívio e a cognição.
com movimentos migratórios globais novos conteúdos usando as no-
nossa em que os aparatos educacionais
antes impensados. 3. Ajudar na gestão de pessoas, vas ferramentas. Implementação
e escolares tem tanto poder e influên-
motivando, desenvolvendo, for- do mundo virtual.
Como podemos futurizar a gestão escolar cia e, por conseguinte, uma perda de
mando equipes e ajudando a des-
nesse panorama? Como a educação irá confiança na mesma, após o declínio de 10. Estimular a transdisciplinarie-
cobrir talentos.
adaptar seus conteúdos, suas metodolo- valores como a sinceridade e a hones- dade, entendendo que “vai além
gias e didáticas? Como serão as institui- tidade (A sociedade da transparência, de reunir pesquisadores em equi-
4. Promover o pensamento com-
ções escolares e seus gestores no futuro? 2018, p.11):
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pes multidisciplinares. Significa harmônica e integrada. Gestores que


educar pesquisadores que pos- promovam a solidariedade social, pra-
REFERÊNCIAS
sam falar a língua de muitas disci- tiquem uma nova forma de olhar, cui-
plinas” (Howard Rheingold). dem do emocional e da vida, dele e das
pessoas (gestão espiritualizada do ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José Paschoal. Governança Corporativa.
A aposta é, portanto, impulsionar um cuidado). Essa nova visão do gestor es-
São Paulo: Atlas, 2017.
processo de gestão escolar pós pande- colar espiritualizado ajudará a promover
mia que tenha: a pessoa no centro (ges- uma nova compreensão da antropolo- DRUCKER, Peter. Desafios gerenciais para o século XXI. São Paulo: Pio-
tão humanista); que gere compromisso gia, tanto do ser humano em si e na re- neira, 2001.
comunitário (gestão de serviço); que lação com os outros, assim como com a
esteja comprometido com o diálogo, a natureza (Papa Francisco: Laudato Si, n. HAN, Byung-Chul. A Sociedade da Transparência. Petrópolis: Vozes, 2017.
espiritualidade e a paz (gestão do en- 118), fortalecendo a fraternidade como
HAN, Byung-Chul. No Enxame. Perspectivas do digital. Petrópolis: Vozes,
contro); que promova uma economia nova categoria educativa. 2018.
solidária (gestão inclusiva e criativa)
e uma abordagem de ecologia integral Gestores que entendam que a luta entre KOTTER, John. Liderando mudança. São Paulo: Campus, 1997.
(gestão ambiental e cultural). o poder e o serviço está, assim, estabe-
MURAD, Afonso. Gestão e Espiritualidade. São Paulo: Paulinas, 2012.
lecida. Em palavras de Nietzsche, “nem a
Esse modelo de gestão exigirá, obvia- necessidade, nem o desejo, mas o amor
NIETZSCHE, Friedrich. A vontade de poder. Rio de Janeiro: Contrapon-
mente, gestores (líderes) espirituali- pelo poder é o demônio da humanidade”.
to, 2008.
zados, motivados, com visão de futuro,
atualizados, trabalhando em equipes Urge fazer uma opção, também, na ges- NOBREGA, Clemente. A Ciência da Gestão. Rio de Janeiro: Senac, 2004.
e que saibam administrar os desejos, tão escolar! E mandar os demônios para
o poder e a ética do cargo de maneira longe! RHEINGOLD, Howard. Smart Mobs: The next social revolution. New York:
Perseu Books, 2002.

PERRENOUD, Philippe. Escola e Cidadania. Porto Alegre: Artmed, 2005.


SOBRE O AUTOR
SCHWAB, Klaus. Quarta Revolução Industrial. 1ª Edição. São Paulo: Edipro,
2018.
FRANCISCO MORALES CANO
Bacharel em Filosofia e Teologia pela PUC-RJ. Pós-graduado em Gestão Escolar SLATER, Robert. Os 29 segredos de Jack Welch. Rio de Janeiro: Campus
pela Universidade Cândido Mendes, RJ. Ex-Diretor Educacional do Grupo Santo Elsevier, 2001.
Agostinho, MG. Atualmente é vice-presidente do SINEP-MG, Diretor Pedagógico
do Colégio Guidon, Contagem, MG, e consultor na DOXA Educacional. TANURE, Betânia; EVANS, Paul; PUCIK, Vladimir. A Gestão de Pessoas no
Brasil. Rio de Janeiro: Campus Elsevier, 2007.

THURLER, Monica. Inovar no interior da Escola. São Paulo: Artmed, 2001.

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