O artigo Organismos Minúsculos que Dominavam os Mares Primordiais, de Ronald Martin e
Antonietta Quigg, fala sobre como se sucedeu a diversidade dos animais marinhos ao longo das eras Mesozoica e Cenozoica. Fatores como mudança do clima, do nível do mar e extinções em massa não são suficientes para explicar a velocidade sem precedentes de como estes seres se diversificaram. Há um fator subestimado que se considerou: a disponibilidade de alimentos. A partir da constatação que o aumento da quantidade e do teor de nutrientes da base da pirâmide alimentar, o fitoplâncton, acompanharam o nascimento das novas formas de vida dessas eras, sugere-se que a evolução desses microrganismos autótrofos estimulou este acontecimento. O nitrogênio, ferro, fósforo e outros nutrientes agem como fertilizantes destes seres fotossintetizantes, tornando-o um alimento mais nutritivo para minúsculos herbívoros, o zooplâncton, que ganha então mais combustível para se sustentar, crescer e reproduzir, favorecendo suas novas populações a se adaptarem a novas circunstâncias e constituírem novas espécies. Pesquisadores, a partir do registro fóssil que mostrava um aumento da proporção de predadores e outras espécies com necessidade energéticas maiores que o zooplâncton na vida marinha, deduziram que a disponibilidade de alimentos deve ter aumentado. Eles se basearam em evidências no registro fóssil de plâncton, que mostrava um fitoplâncton conhecido como algas verdes sendo a base da pirâmide alimentar antes da extinção em massa durante o Permiano, período em que os predadores eram relativamente raros, e um aumento, após essa extinção, das algas vermelhas, que se tornaram o fitoplâncton mais diverso e abundante nos oceanos acompanhadas do grande aumento de animais com metabolismo mais acelerado. Essa ascensão do plâncton vermelho em relação ao verde pode significar que os micronutrientes necessários para algas vermelhas devem ter se tornado mais abundantes que os para algas verdes. Evidências geológicas apoiam essa opinião: a abundância de rochas ricas em carbono, xistos negros, que datam do Paleozoico, indicam níveis de oxigênio baixos naquele período, porque uma exposição a níveis mais altos teria decomposto o carbono. Nessas condições encontradas o ferro e outros micronutrientes, essenciais as algas verdes, teriam se dissolvido mais facilmente no oceano. Já os xistos negros do Mesozoico são muito mais raros, sugerindo que os níveis de oxigênio eram muito mais altos naquela era, favorecendo a disponibilidade dos micronutrientes das algas vermelhas. Além disso, mudanças na existência de macronutrientes, como o fósforo, também devem ter contribuído significativamente para o sucesso do fitoplâncton vermelho. No final do Paleozoico e no Mesozoico os índices de intemperismo físico e químico aumentaram com a distribuição das florestas em terra e a geração de um clima mais úmido, e foram ainda mais acelerados com o surgimento das angiospermas durante o Mesozoico, já que suas folhas decaem muito mais rapidamente que as das florestas primitivas. Com esses novos processos acontecendo provocou-se o escoamento de nutrientes dos continentes para mares interiores, mais rasos onde o plâncton prosperava. As evidências deste intemperismo vêm de análises de isótopos de estrôncio, encontradas em proporções diferentes em conchas fósseis. Como as rochas continentais são mais ricas que as rochas oceânicas em estrôncio 87 em relação ao 86, um aumento dessa proporção em conchas ao longo do tempo indicou o escoamento de nutrientes dos continentes para os oceanos em quantidades cada vez maiores. Outro fator que pode ter contribuído para o aumento da disponibilidade de nutrientes para o fitoplâncton foi o aparecimento generalizado de montanhas, decorrentes das colisões que formaram Pangeia, que acarretou também na queda dos níveis dos mares, aumentando os índices de intemperismo antes do Mesozoico. Assim como as geleiras continentais do Paleozoico tardio que ocupavam o hemisfério sul teriam promovido uma oxigenação relativamente rápida dos oceanos, além de uma ressurgência de águas profundas, que são enriquecidas com o fósforo da decomposição da matéria orgânica. Entender como o fitoplâncton respondeu às mudanças ambientais pode ajudar a prever o que o futuro reserva com as mudanças antropogênicas, como a acidificação dos mares e aquecimento do planeta decorridos das altas emissões de dióxido de carbono, assim como a erosão do solo causada pelo desmatamento que tem provocado um excesso de nutrientes em ambientes costeiros em tempo recorde, jamais vistas na história da Terra.