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Universidade Federal de Minas Gerais

Arquitetura e Urbanismo
ACR020 - Arquitetura e Cidade do Neoclassicismo ao Funcionalismo
2020/2

Prof.: Celina Borges Lemos

Arquitetura: o inacreditável
Louis Isadore Kahn

Luisa Miquelete Vecchini


Renan Maia dos Santos
Tamires Barbosa Amaral

Belo Horizonte
2021
1

É no domínio do inacreditável que se situa a maravilha do surgimento da


coluna. Do muro, emergiu a coluna. O muro fez bem ao homem. Com sua
matéria e com sua força, ele o protegeu contra a destruição. Mas, logo, o
desejo de olhar lá fora levou o homem a abrir ali um buraco, e o muro,
ferido então, clamou: “O que você está fazendo comigo? Eu o protegi, eu
lhe dei segurança, e agora você abre um buraco em mim?” O homem
respondeu: “Mas eu olharei lá fora! Eu vejo coisas lindas lá fora, e quero
olhar!” O muro, porém, ainda se sentia muito triste. Mais tarde, não
contente com o buraco, o homem abriu ostensivamente o muro, com o
cuidado, porém, de revestir o vão com filetes de pedra, colocando, ainda,
um lintel sobre ele e logo o muro sentiu-se muito bem. (KAHN, Louis
Isadore, Conversa com Estudantes, 2002. p.18-19)
2

Sumário

- Introdução 3
- A vida 4
- O contexto 6
- Os princípios 7
- As Obras 11
- Instituto Salk de Estudos Biológicos 11
- Galeria de Arte na Universidade de Yale 19
- A Influência 29
- Referências Bibliográficas 31
3

Introdução

“Pergunte ao tijolo o que ele quer ser”. O questionamento de Louis Isadore


Kahn (1901-1974), um dos maiores nomes da arquitetura no século XX, demonstra
sua forma singular de pensamento para a época. Para ele, pensar bem o espaço é
essencial para gerar coesão e harmonia, tanto no local que será inserida a
edificação, quanto para os usos. O processo é indispensável, já que sem ele não se
chegaria à essência dos tipos arquitetônicos. Tipos esses que Kahn atrela princípios
modernistas e pré-modernistas, mas de uma forma que não exclui os princípios
históricos, trazendo soluções ímpares que compõem uma certa hierarquia nas
formas, em geral.
Nos interessa neste trabalho, inicialmente, introduzir o personagem Louis
Isadore Kahn através de um breve resumo de sua vida, atrelado a uma posterior
contextualização do período, ressaltando a conjuntura em que ele se desenvolveu
como arquiteto e exerceu a profissão. Logo após, iremos abordar os princípios ou
termos fundamentais descritos por Campomori (Inspiração e Instituição; Silêncio,
Luz e Expressão; Forma e Desenho), inerentes para a compreensão das obras de
Kahn. No caso deste estudo, serão analisados o Salk Institute for Biological Studies
e a Yale Art Gallery, ambos que fazem parte de suas obras de maior relevância, e
definindo, por fim, a influência de Louis I. Kahn para a arquitetura posterior.
4

A vida

Louis Isadore Kahn nasceu como Itze-Leib Schmuilowsky, na Estônia em


1901. Devido a guerra entre Japão e Rússia, em 1905 emigrou para Filadélfia, nos
Estados Unidos, juntamente com seus pais, onde foi criado sob grande pobreza.
Ainda jovem, Kahn já mostrava conexão com a arte, dados o seu talento para
pintura, desenhos e o gosto pela música. Foi no colégio que descobriu seu
encantamento pela arquitetura e desejo de estudá-la, após realizar um curso de
história da arquitetura.

Fig 01 - Louis Kahn no seu último ano de ensino médio (1920)

Kahn iniciou seu curso em 1920 na Escola de Belas Artes na Universidade de


Pensilvânia, concluindo seus estudos em 1924. Quatro anos depois realizou uma
viagem de estudos à Europa. Ali visitou e desenhou os templos e cidades medievais
italianas, se apaixonando pela arquitetura das antigas ruínas, que o inspiraram em
seus trabalhos (MONTANER, 2013, p. 62). Entre 1929 e 1932 trabalhou em
conjunto com outros arquitetos, como seu ex-professor Paul P. Cret -cujo nome teve
5

significativa influência na carreira de Kahn-, Zantzinger Boire e Medary. O arquiteto


fundou seu próprio escritório na Filadélfia em 1937.
Em 1950-1951 estudou arquitetura romana na Academia Americana em
Roma, aprofundando sua apreciação da arquitetura mediterrânea, e, em seguida,
projetou a Galeria de Arte na Universidade de Yale, uma de suas obras de maior
excelência. Nesse contexto, sua carreira entrou em ascensão, pois já possuía
grande acervo de conhecimento e maturidade para colocar em prática suas ideias.

Aos quase 50 anos, quando começou sua própria carreira arquitetônica,


Kahn possuía uma maturidade e segurança em relação às suas ideias
arquitetônicas características. Em sua obra se apresenta o contato de
certos episódios da história, em especial a arquitetura tardorromana, os
experimentos dos arquitetos revolucionários franceses do século XVIII e as
gravuras de Piranesi, a tradição Beaux-Arts e o racionalismo francês.
(MONTANER, 2013, pág 63)

O fim de sua vida se deu em 1974, aos 73 anos, deixando suas escritas e
projetos como um grande legado.

Fig 02 - Tabela cronológica das principais obras de Kahn. (diagrama de CHANG, 2014)
6

O contexto

Cabe ressaltar o contexto em que Kahn realiza suas obras. A Primeira e


Segunda Guerra Mundial tiveram grande reflexo no âmbito cultural, artístico,
político, econômico e arquitetônico. A Europa se encontrava em um recomeço, em
destruição de cidades e migrações, assim o Movimento Moderno se consolidou
tendo como principal característica a ruptura com o passado e sua história. Deste
modo, o planejamento urbano das cidades bem como o controle administrativo
ganharam força nessa época e passou a ser necessário buscar uma nova forma de
representar a realidade na arquitetura. Já nos Estados Unidos, vitorioso na guerra,
buscava uma arquitetura singular que transpassasse a mensagem de seu poderio e
ascendência, com isso começam a surgir na paisagem americana altas torres,
prédios retilíneos, formas geométricas e pouca ornamentação, características que
influenciaram Le Corbusier e, mais tarde, as obras de Kahn. A priorização por
formas geométricas e pouca ornamentação conduziram a arquitetura modernista
nesse período, sendo Le Corbusier - detentor de grande admiração de Kahn - um
dos maiores precursores dessa temática.
A partir do final da década de 1950, o Movimento Modernista entrou em
determinado declínio, pois houve ali uma crise de busca de novos significados
desse período. Kahn entrou em discordância com o comportamento
demasiadamente dogmático, ciclo o qual passou a procurar por outros paradigmas.
O arquiteto adotou uma postura e interpretação distintas ao ato de executar e
ensinar arquitetura, produziu um método e processo de criar, trazendo à reflexão um
procedimento de prática projetual. Dentro dessa percepção, Inspiração, Instituição,
Silêncio, Luz, Expressão, Forma e Desenho, são os termos fundamentais inerentes
para a compreensão das obras de Kahn, conceituados por Campomori.
7

Os princípios

Intrínseca ao processo de conceber, está a Inspiração. Essa, para Kahn, não


vem de uma epifania, de algo racional, de uma força externa, como diria o
pensamento da antiguidade clássica, mas do interior do ser humano, fazendo parte
de sua própria essência. Ele próprio afirmava que estas inspirações estão a serviço
de um desejo maior que é o desejo de ser, e então, de expressar, e que esse desejo
ou essa inspiração é a razão de uma existência (CAMPOMORI).

Eu [Kahn] disse: “Sabe, Gabor, se eu pudesse pensar em fazer outra coisa,


que não arquitetura, eu escreveria o novo conto de fadas, porque do conto
de fadas é que vieram o avião, e a locomotiva, e esses instrumentos
maravilhosos que concebemos… tudo isso surgiu do maravilhamento.”
(KAHN, Louis Isadore, Conversa com Estudantes, 2002. p. 17)

Essa conexão realizada entre as inspirações e os desejos, nos leva à


Instituição, uma vez que essa é advinda da aspiração. Assim, as Instituições só
nascem a partir da vontade e como forma de representação dessa. Tal noção pode
ser percebida através da interpretação da seguinte poética de Kahn:

(...) começou com um homem sob uma árvore, um homem que não se
sabia professor, e que se pôs a discutir sobre o que havia compreendido
com alguns outros que não se sabiam estudantes. Estes se puseram a
refletir sobre o que havia ocorrido entre eles e sobre o efeito benéfico
daquele homem. Desejaram, então, que seus filhos também o escutassem
e, assim, se erigiram espaços e surgiu a primeira escola.1

Vale ressaltar que antes das Instituições se tornarem físicas, materializadas,


essas são, primeiramente, formadas por representação das Inspirações. Ou seja, a
instituição hospital seria a representação física do desejo comum ao grupo de
cuidar, ou a Igreja seria acreditar/crer, por exemplo. Kahn não dissolve a essência
de existência, pelo contrário, une os dois termos nas edificações. Também não
esconde a verdade nessas instituições, no qual elementos que demonstrem uso e

1
Louis Kahn in WURMAN, What will be has ever been, p.84. Retirado do texto de CAMPOMORI, A
ordem do tempo em Louis I. Kahn, p. 14.
8

vida no local, exposição de seus materiais ou acabamento são de extrema


importância.
Além disso, para Kahn a natureza é a única com possibilidade de anular
qualquer tipo de soberania humana. Todos os homens são iguais quando estão na
presença do verde e qualquer arquitetura é só mais um lugar.
No mundo clássico, a estética estava intimamente ligada à obra, a crítica
deveria partir de conhecimentos e estudos prévios. Kahn rejeita tal determinação,
pois, para ele, a ideia de beleza seria posterior à obra em si. Assim, a arquitetura
seria a Expressão das instituições e inspirações do homem, baseado no ser e sentir.
Pelo pensamento kahniano, nossos sentidos da visão e audição não podem
ser dissociados, engrandecendo em seus projetos a Luz e o Silêncio.

"Comecei colocando um diagrama chamando o desejo de ser/expressar


silêncio; o outro, luz. E o movimento do silêncio para a luz, da luz para o
silêncio, tem muitos limiares; muitos, muitos, muitos limiares; e cada limiar é
na verdade, uma singularidade. Cada um de nós tem um limiar no qual se
aloja o encontro da luz e do silêncio." 2 (LATOUR, 1991)

Para Kahn,

“O silêncio funciona como a capacidade que o Homem tem de interpretar o


espaço e através da sua mente, incorporar o lugar. É este elemento que
permite harmonia entre o espaço e os materiais que o caracteriza, já que a
nossa leitura do objeto arquitetônico, apenas é válida com a compreensão
da nossa experiência. A arquitetura bem concebida tem o poder de se fazer
ouvir e sentir.” (MACHADO, 2018)

A luz, por sua vez, não seria para ele meramente o meio que nos permite
reconhecer fisicamente os objetos, que os torna visíveis. É, muito mais que isso, a
fonte original que contém todas as leis da natureza, sejam elas conhecidas ou não
pelo homem (CAMPOMORI).
É possível perceber que a luz faz parte da composição arquitetônica, sendo
de suma importância para a materialidade da obra. Assim, a arquitetura -o desenho-
2
Texto original: "I began by putting up a diagram calling the desire to be/to express silence; the other,
light. And the movement of silence to light, light to silence, has many thresholds; many, many, many
thresholds; and each threshold is actually a singularity. Each one of us has a threshold at which the
meeting of light and silence lodges."
9

busca o momento preciso em que a natureza atua e se faz presente, quando ela
cumpre seu papel, o que dá sentido à ideia de Kahn de que a matéria é luz
extinguida.

“O sol não conheceu toda sua magnitude até o momento em que encontrou
o flanco de um edifício”.3

Ademais, Kahn descreve o desenho como parte da materialização da forma,


a qual é o lugar que você descobre a “razão de ser” do objeto. Descobrir a essência
das coisas (o que a forma quer ser, no seu estado fundamental) é uma técnica
baseada no irracional, nos sentimentos. Apesar disso, na interpretação de Kahn, os
sentimentos não são antagônicos aos pensamentos baseados na razão, mas sim,
um complemento que visa a materialização do ‘o quê’ no ‘como’. Desenhar se difere
de fazer arquitetura pelo modo em que se manifesta a compreensão da natureza
dos problemas. Assim, é necessário se sentir em contato com a forma, com a razão
de ser do projeto e, dessa maneira, para ele é melhor um projeto bem pensado com
uma má execução do que um mau pensamento bem executado.

Forma não tem configuração, nem dimensão. Forma simplesmente tem um


caráter e uma qualidade. Suas partes são inseparáveis. Se você retira
alguma parte, a forma se desfaz. Isso é forma. Desenho é uma tradução
material disso. Forma tem existência, mas não tem presença, e o desenho
traz à presença. Como a existência é uma construção mental, é o desenho
que a torna tangível. (KAHN, Louis Isadore, Conversa com Estudantes,
2002. p.47)

Em adição a todos os princípios analisados estarem contemporâneos ao


pré-modernismo, em 1955, Reyner Banham sintetiza três tópicos para que um
edifício se encaixe em um novo movimento arquitetônico: o Novo Brutalismo. O
primeiro diz respeito à capacidade da edificação ser singular, se tornar uma imagem
única à primeira vista. O segundo aspecto trata sobre a exposição da estrutura
empregada no espaço. Já o terceiro se relaciona com o anterior ao passo que
prioriza a revelação dos materiais utilizados. Essa última característica já estava
contida no movimento moderno da arquitetura, no entanto uma boa parte dos

3
Retirado do texto de CAMPOMORI, A ordem do tempo em Louis I. Kahn, p. 19.
10

edifícios do período das vanguardas demonstraram esconder ou até mesmo


disfarçar os elementos empregados. Segundo Banham, o edifício “deve ser feito
daquilo que se aparenta ser feito”4. Deve buscar a verdade e a pureza das formas
na estrutura, unindo a natureza dos materiais com as técnicas e ligando a forma
com os homens que a utilizam.
Banham define algumas obras de Kahn pertencentes a essa nova corrente
arquitetônica do século XX. A Galeria de Arte de Yale, que será abordada
posteriormente no trabalho, pode ser dita como um exemplo do Novo Brutalismo,
citado e exemplificado por ele. O edifício possui a honestidade material proposta por
Banham e o método estrutural aparente de concreto reforça tal afirmação. A postura
de deixar mostrar a nudez da forma se transformaria na principal característica
formal e estética do período e também poderia, de certa forma, ser observado no
Instituto Salk de Estudos Biológicos.

4
Texto original: “(...) being made of what it appears to be made of”.
11

As Obras

Instituto Salk de Estudos Biológicos

No ano de 1957, Jonas Salk, responsável pela descoberta da vacina contra a


poliomielite, designa Louis Kahn para pôr em realidade o Instituto Salk de Estudos
Biológicos em La Jolla, na Califórnia, ao longo da costa do Pacífico. O cientista
desejava ter os nove mil metros quadrados como havia nas torres da área médica
da Universidade de Pensilvânia e fez um pedido ao arquiteto:

Ele [Salk] disse: “Há uma coisa que eu gostaria de poder fazer. Eu gostaria
de convidar Picasso ao laboratório.” (KAHN, Louis Isadore, Conversa com
Estudantes, 2002. p.28)

Assim, Kahn começou o projeto do Instituto. Ele partiu da filosofia de


monumentalidade; espaços servis e servidos; e mensurabilidade versus
incomensurabilidade. No entanto, deveria associar aos pedidos de Salk, como
espaços de laboratório abertos, grandes e que dessem para ser atualizados à
medida que novas descobertas e tecnologias avançassem no âmbito científico.
Além disso, o edifício deveria ser simples e durável, exigindo manutenção mínima,
mas ao mesmo tempo ser acolhedor aos pesquisadores que trabalhariam por lá.
Antes de efetivamente começar a construção, Kahn se inspirou nas antigas
ruínas gregas e egípcias no que se diz respeito à monumentalidade, capazes de
encantar espiritualmente quem as visse. Ademais, o Instituto possui uma clara
divisão de espaços servidos e espaços servis, no qual o primeiro é designado à
funções humanas e o segundo continha a parte de infraestrutura da edificação,
como escadas e tubulações, por exemplo. Essa estratégia de separação possibilita
a manutenção do edifício sem interromper a pesquisa nos outros pavimentos e
também pode ser notada na Galeria de Arte de Yale, abordada mais à frente.
12

Fig 03 - Planta de implantação do Instituto Salk de Estudos Biológicos. O Oceano Pacífico está à
esquerda da imagem.

Para que fosse possível realizar as medidas apresentadas anteriormente, os


materiais escolhidos foram de suma importância. Nessa obra, Kahn rejeitou o uso
de aço e vidro, comum em obras do estilo moderno, e passou a adotar materiais
mais pesados como concreto armado e tijolo. Outro ponto a ser abordado seria o
uso de madeira em contraste ao concreto das parietais externas, talvez a
característica mais não-moderna adotada no Instituto. A presença de mármore
travertino e o elemento água (assunto que será abordado mais adiante no texto)
demonstram as influências pré-modernas em Kahn.

Fig 04 - Concreto das parietais.


13

Fig 05 e 06 - Contraste da madeira utilizada em comparação com o concreto interna e externamente,


respectivamente.

Em 1962 inicia-se a construção do Instituto Salk de Estudos Biológicos. O


projeto de Kahn teve inspiração espacial em um mosteiro: a comunidade intelectual
isolada possuía três zonas separadas, com todas voltadas para a direção oeste,
vista para o oceano Pacífico. Seriam elas a Casa de Reuniões, destinada à
conferências e, como o próprio nome já diz, reuniões, a Vila, proposto para
alojamentos, e os laboratórios. No entanto, somente o último foi construído. O
Instituto é formado por dois blocos espelhados separados por um pátio central, cada
qual com seis andares e com níveis alternados entre espaços de pesquisa e locais
para infraestrutura, como já abordado.
Esses blocos possuem cinco torres - ligadas por pequenas pontes - voltadas
para a praça central com um avanço triangular que possibilita a inserção de
aberturas, assim permitindo vista do oeste e das águas do oceano logo à frente. Já
na parte oposta do bloco, há quatro torres separadas que abrigam os utilitários
(escadas, elevadores, utensílios, etc). O espaçamento entre as torres e as
pequenas pontes possibilita que haja ventilação bem como iluminação no interior
dos blocos, dando, assim, um ambiente salubre aos cientistas. Além disso, há
espaços afundados que permitem a penetração de luz natural nos ambientes de
pesquisa situados abaixo do solo.
Kahn utilizou de formas geométricas, como triângulos empregados nas torres
internas e os retângulos, para compor o edifício e dar a sensação de
monumentalidade prevista. Aliado à essa associação de formas, a simetria
empregada no edifício evidencia certos ideais pré-modernistas usados por Kahn.
14

Para atender o pedido de Salk sobre permitir que o prédio se adaptasse


conforme as tecnologias fossem atualizando, Kahn posicionou as vigas de suporte
nas laterais (não havendo necessidade de colunas aparentes e possibilitando uma
configuração aberta) para dar maior flexibilidade na reconfiguração do ambiente,
assim conta com laboratórios de aproximadamente 20 metros de largura por 75
metros de comprimento. Somado a isso, o sistema de fixação das janelas possibilita
a retirada delas para facilitar o transporte de equipamentos no Instituto. Ou seja, o
prédio é capaz de “adivinhar o amanhã”, sugeriu Salk em 1967.

Fig 07 - Espaço aberto para possíveis reconfigurações.

Inicialmente o pátio central seria como um jardim adotando a presença de


vegetação, no entanto Kahn foi convencido por Luis Barragán a adotar um espaço
vazio como uma “fachada para o céu”. Tal local é formado por pedra de travertino
esbranquiçada, se assemelhando ao concreto das parietais do edifício e dando ao
espaço uma monumentalidade primitiva. A relação da praça com o céu e a ligação
com o oceano mais adiante pode se assemelhar às vilas romanas ou até mesmo
aos templos gregos (Wiseman 2007). Na Roma, esse espaço era de suma
importância, pois servia como o encontro e interação dos indivíduos. Já na Grécia, a
simetria e a criação do eixo foram influenciados pela trajetória do sol. Ambos os
aspectos podem ser notados no Instituto projetado por Kahn quando a simetria dos
dois blocos formam um campo central, proporcionando o encontro entre as pessoas.
15

A posição do edifício é estabelecida na direção leste-oeste, com o eixo principal


guiado e alinhado aos equinócios do ano.

O pátio é um lugar de encontro tão mental, quanto físico. Mesmo que o


atravesse na chuva, você estabelecerá com ele uma associação mais
intensa do que a real. (KAHN, Louis Isadore, Conversa com Estudantes,
2002. p 62)

Fig 08 - “Salk Institute Courtyard”, croqui perspectivado de Luis Barragán. Barragan Foundation.

Ainda abordando o pátio central, há a presença de um pequeno curso de


água centralizado no ambiente atraindo o olhar para o horizonte e ao oceano logo
adiante. É possível notar que a praça não possui uma função verdadeira que não a
contemplação do espaço, algo caracterizado como antimoderno. Além disso, a
presença da água, por não possuir função óbvia, se contrapõe à rejeição moderna
da ornamentação.

O recurso de água “Rio da Vida” representa o fluxo constante de


descobertas que se derrama no corpo maior de conhecimento, simbolizado
pelo Oceano Pacífico além. O sol se põe ao longo do eixo do “Rio da Vida”
duas vezes por ano: os equinócios de primavera e outono.5 (THE SALK
INSTITUTE, buildings of wonder. Salk, c2021, tradução nossa)

5
Texto original: The “River of Life” water feature represents the constant trickle of discoveries spilling
into the greater body of knowledge, symbolized by the Pacific Ocean beyond. The sun sets along the
axis of the “River of Life” twice a year: the spring and fall equinoxes.
16

Fig 09 - Pátio central e água com pôr do sol ao fundo.

Fig 10 - Corte transversal do Instituto Salk de Estudos Biológicos.

Fig 11 - Corte longitudinal do Instituto Salk de Estudos Biológicos.

Fig 12 - Planta do Instituto Salk de Estudos Biológicos.

Ao tratar do edifício como um todo, tanto características modernas quanto


pré-modernas são encontradas. Nas modernas, destacam-se uso de concreto
exposto, pouca ornamentação, planta livre e formas retilíneas empregadas na
17

edificação. Já na segunda, é notório o uso de mármore travertino, trabalhos em


marcenaria no interior, espaços sem função aparente e pátios abertos. Além disso,
também é notória a influência da École des Beaux-Arts no emprego de certos
elementos, como o da simetria, repetição de formas, uso de materiais pré-modernos
e a monumentalidade tão explorada na materialização da obra.
Assim, é possível notar que Louis Kahn mesclou elementos de dois
movimentos distintos: o modernismo e o pré-modernismo (tendo Banham
identificado elementos que caracterizavam o que chamou de Novo Brutalismo, como
visto anteriormente). Ele foi capaz de combinar novos métodos e formas para
alcançar o estilo monumental proposto e projetar uma arquitetura que permitisse a
interação entre material e espaço. Adotou ideias do passado, algo que foi rejeitado
pelos arquitetos modernistas, e foi capaz de demonstrar que existem diversas
formas de atender às necessidades de uma edificação, não ficando somente nos
princípios enrijecidos do período. Assim, Kahn e outros arquitetos da época abriram
caminho para que outros projetistas fossem além dos preceitos estritos do
modernismo europeu e pudessem gerar novas formas e estilos na arquitetura.
Após a análise descritiva, vale ressaltar os princípios de Kahn instaurados no
edifício. Primeiramente, a Instituição é observada na própria função que o prédio
exerce. Salk tinha a vontade de ter um espaço ocupado por laboratórios e cientistas
e, a partir desse desejo, Kahn representou-o. Outro ponto a se observar é o da
Expressão, na qual ela é a arquitetura das instituições e inspirações do homem. A
forma como foi projetado, faz com que o Instituto possa exercer sua função de
transmitir o ser e sentir do indivíduo.

É claro que o que ele [Salk] estava querendo dizer é que, na ciência, no
que se refere à dimensão, há essa vontade, mesmo na menor coisa viva,
de ser ela mesma. O micróbio quer ser um micróbio, a rosa quer ser uma
rosa e o homem quer ser um homem para expressar uma certa tendência,
uma certa atitude, um certo quê que se move em uma direção, e não em
outra, manipulando a natureza para que ela forneça os instrumentos que
tornem isso possível. O maravilhoso desejo de expressar foi sentido por
Salk, o cientista. (KAHN, Louis Isadore, Conversa com Estudantes, 2002.
p.28-29)
18

Além disso, talvez o elemento principal deste edifício, seria o conceito de Luz
e Silêncio. Kahn enxerga a grandiosidade da luz ao passo que esta fornece a
materialidade da obra, transforma-a em uma verdadeiro fruto da natureza. Já o
silêncio pode ser percebido quando o homem interpreta o espaço e o incorpora,
aliado à pouca ornamentação nas materialidades do local, gerando vazios nos quais
a arquitetura é protagonista. Assim, convertendo o ambiente em uma atmosfera
destinada à pesquisa e à ciência definido pelo próprio homem.

Fig 13 e 14 - Incidência da luz nas paredes.

Em suma, Kahn atendeu aos pedidos de Salk seguindo todos seus preceitos.
No entanto, é notória uma contradição: a ideia de monumentalidade explorada pelo
edifício aparenta, em certos momentos, reduzir o desejo de acolhimento solicitado
pelo cientista. O pátio central amplo e sem vegetação, somado a ausência de locais
para repouso acarreta em um tipo de ocupação efêmera, de forma que o encontro
gerado nessa região é momentâneo, tornando a praça pouco convidativa. Aliado a
isso, a localização do Instituto (Califórnia) também é um ponto desfavorável à
permanência quando somada à esplanada central sem verde, haja visto o clima da
região. O uso de materiais robustos também agrega para essa noção de ambiente
pouco acolhedor, mas o emprego da madeira em alguns pontos reduz
demasiadamente essa sensação. Apesar disso, o emprego de preceitos como Luz e
Silêncio, por exemplo, foram excelentemente explorados na materialização do local.
O edifício, por ainda hoje ser utilizado, demonstra o sucesso do arquiteto em
conceber uma obra que adivinha o amanhã.
19

Galeria de Arte na Universidade de Yale

A Galeria de Arte de Yale de Kahn, inaugurada em 1953 e primeira


construção modernista de Yale, foi amplamente reconhecida e é considerada por
muitos como a grande obra-prima do arquiteto, o qual a projetou sem se limitar à
ideia de que a “forma segue a função”. Localizada em New Haven, na Chapel Street
e esquina com a York Street, é adjacente às duas estruturas neogóticas Street Hall,
de 1866, e a Old Gallery, de 1928. O projeto de Kahn foi uma ampliação da antiga
galeria -a Old Gallery- e essas três construções fazem parte do complexo da Galeria
de Arte na Universidade de Yale. (Fig 15)

Fig 15 - Vista aérea e localização dos edifícios do complexo da Galeria de Arte na Universidade de
Yale: em rosa, o Edifício de Kahn; em laranja a Antiga Galeria; em amarelo, Street Hall. (diagrama
dos autores)

A fachada externa sul, voltada para a Chapel Street e a mais pública do


edifício, se caracteriza por uma parede revestida de tijolos, plenamente vedada,
sem janelas. Em contraste a ela, grandes vãos cobertos por vidros estão presentes
tanto na entrada do prédio como nas demais faces - norte. O molde da galeria se
assemelha a um bloco, com materiais aparentes e variados -alvenaria, concreto,
tijolos, aço e vidro.
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Todos os materiais, à exceção dos pisos de madeira e dos painéis


divisórios/suporte de exposições, foram deixados sem acabamento, em sua
aparência original. Isso traz à tona, na realização da arquitetura, as idéias
de Kahn sobre honestidade (ou mesmo de moralidade) arquitetônica.
(CAMPOMORI, 1999, p.100)

Fig 16 - Imagem da união entre a construção de Kahn e a Old Gallery - à esquerda e direita,
respectivamente . (Fotografia por Samuel Ludwig)

Fig 17 e 18 - Imagens da fachada vedada e entrada envidraçada. (Fotografia por Samuel Ludwig)
21

Fig 19 e 20 - Imagens das fachadas envidraçadas. (Fotografia por Samuel Ludwig e autor
desconhecido, respectivamente)

Fig 21 - Cortes e elevações da Yale Art Gallery.

A observação do espaço interno do edifício revela uma planta livre,


arquitetada sem obstruções e divisões. São duas galerias laterais de 24,36 x
12,19m cada; pode-se notar que cada uma delas é composta por quatro módulos
retangulares. No centro também há a mesma divisão modular, porém, dessa vez,
formas retangulares medindo 6,09m x 10,06 m, onde estão as instalações, os
elevadores e as escadas. As dimensões dessa modulação, quando justapostas,
remetem à razão clássica advinda da antiguidade da geometria, a qual seguia a
proporção áurea, nesse caso, um para raiz de dois. À direita há um espaço
conectivo com a antiga galeria, com mais dois módulos correspondentes. (Fig. 22)
22

Fig. 22 - Planta do primeiro pavimento da Yale Art Gallery, com a representação rebatida do sistema
de lajes e com destaque à divisão modular em rosa.

Fig. 23 - Plantas da Yale Art Gallery.


23

Um aspecto inovador e muito celebrado do design de Kahn foi o teto de laje


de concreto tetraédrico, através do qual fica evidente o quanto o arquiteto ousou
com o uso e estudo da tecnologia. Nos painéis triangulares estão intrínsecos os
sistemas de iluminação e ventilação, ou seja, luminárias e dutos de ar condicionado.
Kahn caracteriza seu teto como:

“É bonito e funciona como uma tomada de eletricidade – pois os trilhos


eletrificados permitem a conexão de equipamentos em qualquer ponto do
pavimento – e como um pulmão. O teto respira. O ar é forçado pelos dutos
de ventilação e passa através da superfície corrugada da laje.” 6

Dessa forma, o arquiteto une serviços essenciais à estrutura arquitetônica, o


que pode se caracterizar com a conceituação de espaços serventes e espaços
servidos, já visto no instituto Salk de Estudos Biológicos. Além disso, a estrutura age
não só como teto do pavimento térreo, mas também como piso em outra sala.
"Um elemento plano contínuo foi preso aos ápices dos tetraedros abertos,
ocos e equilaterais, unidos nos vértices dos triângulos no plano inferior"
(KAHN,1955) é como o engenheiro estrutural da obra, Henry A. Pfisterer, esclarece
sobre o funcionamento da infraestrutura. Assim, o conjunto se faz capaz de vencer
um amplo vão, livre de elementos estruturais como as colunas, o que decorre na
maior flexibilização do espaço, também aplicado no Instituto Salk, a qual era
importante para Kahn, como ele próprio declara:

“Um bom edifício é aquele que o cliente não pode destruir pelo mau uso
dos espaços. Quase todas as divisões espaciais devem ser móveis, de
modo que quando o espaço for solicitado para funções outras ou diversas,
elas podem ser reorganizadas para atender às necessidades sem arruinar
o conjunto.” 7

6
COOPER, The Architect Speaks – 2 (entrevista para um jornal estudantil de Yale). Retirado do
texto de CAMPOMORI, A ordem do tempo em Louis I. Kahn, p. 94.
7
Retirado do texto de CAMPOMORI, A ordem do tempo em Louis I. Kahn, p. 14.
24

Fig 24 - Detalhes dos painéis de concreto da estrutura arquitetônica tetraédrica.

Fig 25 - Detalhes dos painéis de concreto da estrutura arquitetônica tetraédrica em corte.

Fig 26 e 27 - Imagens com destaque à estrutura teto de laje de concreto tetraédrico à esquerda e ao
amplo vão à direita. (Fotografias por Xavier de Jauréguiberry)
25

A escada que contrapõe os ângulos de 45 graus da estrutura geral do prédio


também foi um grande triunfo realizado na galeria de arte. Circunscrita em um
grande cilindro oco de concreto aparente, está a escada construída em formato de
triângulo, repetindo a figura de três lados implantada no teto. A iluminação advém
de janelas postas na envoltória da triangulação superior. Toda essa formatação
transparece o esforço e intuito do arquiteto em despertar não só o interesse das
pessoas, mas que também a vejam como um objeto funcional, que a utilizem. Após
essas análises dos elementos presentes, identifica-se que o prédio se compõe de
corpos retangulares atravessados verticalmente por figuras geométricas puras. (Fig
30)

Fig 28 e 29 - Imagens com destaque à estrutura triangular do teto circunscrita no cilindro à esquerda
e à escada também triangular à direita. (Fotografias por autor desconhecido e Xavier de
Jauréguiberry, respectivamente)
26

Fig 30 - Destaque à geometria da estrutura. (diagrama dos autores)

O trabalho da luz no edifício foi cuidadosamente pensado, pois Kahn e


Pfisterer criaram um sistema elétrico dentro dos tetraedros para que, com isso, a luz
ultrapassasse a laje e se difundisse pelo espaço. Tal característica nos remete à
arquitetura religiosa do passado ao passo que essa luz ambiente recorda a de uma
catedral, sendo possível notar uma leve inspiração neogótica do século XIX nesse
quesito e já existente nas edificações do entorno8. Também se tratando de luz, por
suas fachadas norte e leste serem compostas majoritariamente por vidro, o prédio
emana sua luz para a York Street, de modo que além se fundir com a iluminação
pública, permite que a população circundante possa ser banhada por ela. Além
disso, o princípio de instituição pode ser observado quando uma demanda -um
desejo- de se acomodar mais usos na Antiga Galeria e no Street Hall não podem
ser concretizados, resultando na materialização dessa nova edificação. Edificação
essa que, pensada através da forma de Kahn, é questionada sobre o seu real
motivo de ser, através da expressão de diversos contextos dentro do próprio edifício
(após a etapa do desenho, onde a forma ganha vida), como por exemplo: a luz em
abundância advinda das fachadas e do teto, o silêncio trazido pela falta de
ornamentação na maior parte do edifício e até mesmo a funcionalidade do prédio, a
qual poderia ser adaptada a várias situações, devido ao alto grau de liberdade
proporcionado pelo vão aberto da galeria.

8
Interpretação de Loud, Patricia Cummings e Michael P. Mezzatesta. The Art Museums of Louis I.
Kahn. Durham, NC: Publicado por Duke University Press em associação com the Duke University
Museum of Art, 1989.
27

Fig 31 - Fachada norte envidraçada vista no período noturno.

Assim como o Instituto Salk, a Galeria de Arte de Yale também possui


características que se enquadram no que Banham definiu como Novo Brutalismo. A
exposição do método estrutural empregado e a mostra de seus materiais são
algumas marcas que fazem o prédio ser considerado brutalista. Apesar do
movimento possuir pouca ornamentação como preceito, o detalhamento na
balaustrada e no corrimão da escada do edifício, por exemplo, transmitem o
contrário.

Fig 32 - Corrimão da escada.


28

Vale ressaltar que a formação do espaço, por se tratar de um vão aberto e


flexível em relação aos usos e adaptações, afeta a interpretação de um eixo de
estruturação do edifício, prejudicando a clareza formal do ambiente como um todo.
Ou seja, os espaços internos podem ser remodelados dependendo do uso que irão
adquirir e, consequentemente, contribuem para a não compreensão desses eixos.
A Galeria de Arte de Yale abarca, portanto, muitos comentários positivos
sobre diversos aspectos explorados por Kahn em seu planejamento, como a
associação de beleza, geometria e luz em sua composição, bem como métodos
estruturais inovadores, dando ainda mais prestígio ao edifício. Assim, como o
Instituto Salk, mencionado anteriormente, o prédio foi capaz de se adaptar aos
diversos usos desde sua criação, tendo passado por poucas intervenções até o
momento. Aliado a isso, a sobrevivência do conjunto aos maus usos do espaço,
como dito por Kahn, consequentemente enfatiza sua relevância para a história da
arquitetura como um todo.
29

A Influência

As obras de Kahn tiveram grande importância para a história da arquitetura,


pois o arquiteto foi capaz de unir alguns preceitos do Movimento Moderno ao
mesmo tempo com características do pré-modernismo e, assim, instaurar uma
forma de projetar e criar espaços singular. Vale ressaltar que também negou alguns
princípios modernos, como por exemplo contrariando a ideia de esquecer o passado
e estabelecendo ligação com a história clássica, exemplificado no Instituto Salk de
Estudos Biológicos. Com isso, Kahn possibilitou com que outros artistas pudessem
se desprender dos ideais enrijecidos do período moderno e que contribuíssem com
a arquitetura dos períodos posteriores.

Para Kahn, o retorno às origens estava naquilo que já foi, é e será,


portanto, no final, sua busca será pela eternidade. (DESVAUX, N. G.;
TORDESILLAS, A. A.. Louis Kahn, the Beginning of Architecture. Notes on
Silence and Light)

O pensamento de Louis I. Kahn, segundo Campomori, nos revela que a


arquitetura foi, para ele, a materialização de um corpo atemporal de ideias. Desse
modo, essa nova forma de encarar a arte de projetar foi decisiva para que
pensamentos críticos sobre arquitetura fossem formulados. Além disso, a maestria
de Kahn não se resume somente na arte de projetar, mas também na de ensinar. A
maneira simplificada de se expressar foi decisiva para que novos arquitetos
compartilhassem de suas paixões e discutissem sobre suas ideias. Em suma, para
Kahn, quase tudo é o processo, pois sem ele os princípios fundamentais já
mencionados seriam quase inatingíveis, fazendo com que uma boa arquitetura
fosse mais difícil de ser materializada.
30

Há que se considerar que um professor essencialmente é um homem que


não só sabe coisas, como também as sente. Ele é o tipo de homem capaz
de reconstruir as leis do universo apenas ao olhar uma folha da relva. Este
homem traz consigo um sociólogo, um arqueólogo ou um metalúrgico. De
alguma forma, ele traz em si a compreensão das leis do universo. Pela
forma como foi criado, ele as compreende, e em função desta
compreensão, ele não diz: “ao inferno com a sociologia!” Não… Ele respeita
todas as disciplinas. Com um professor como este, a reunião seria
maravilhosa. Seria extremamente benéfica aos arquitetos, e aos sociólogos
também. (KAHN, Louis Isadore, Conversa com Estudantes, 2002. p.67)
31

Referências Bibliográficas

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BANHAM, Reyner. The New Brutalism. Stuttgart: Karl Kramer Verlag. 1966, p.23-24.

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Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SA. Tradução de Alícia Duarte Penna, 2002, 96 p.

CAMPOMORI, Maurício José Laguardia. A ordem do tempo em Louis I. Kahn; “A


arquitetura dá corpo ao incomensurável”. 1999, 156 p.

CHANG, Diana. Louis Kahn, uma análise da Biblioteca de Exeter. Universidade


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COMBERG, Ella. "Clássicos da Arquitetura: Galeria de Arte da Universidade de


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Eduardo). ISSN 0719-8906. Acesso em: 30 de mar. de 2021. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/895254/classicos-da-arquitetura-galeria-de-arte-da-
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DESVAUX, N. G.; TORDESILLAS, A. A.. Louis Kahn, the Beginning of Architecture.


Notes on Silence and Light. Diségno, ISSN 2533-2899. 2017, 92 p.

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FRACALOSSI, Igor. "Clássicos da Arquitetura: Salk Institute / Louis Kahn". 01 de


maio de 2013. ArchDaily Brasil. Acesso em: 23 de mar. de 2021. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/01-78716/classicos-da-arquitetura-salk-institute-loui
s-kahn> ISSN 0719-8906

KAHN, Louis e PUSHKAREV, Boris. Order and Form. Perspecta 3, 1955, p.51.
32

LATOUR, Alessandra. Louis I. Kahn: writings, lectures, interviews. New York: Rizzoli;
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MACHADO, Eliana Andreia. A Luz e o Silêncio na Arquitectura. Dissertação de


Mestrado, 2018. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11067/4482>. Acesso em: 30
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MACIEL, Carlos Alberto. Arquitetura como Infraestrutura. O efeito colateral da


arquitetura moderna brasileira. Belo Horizonte: Editora Miguilim, 2019, p. 34-42.

MONTANER, Josep Maria, Depois do movimento moderno. Arquitetura da segunda


metade do século XX. Editor: Gustavo Gili, 2013.

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York: W.W. Norton, 2007.

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