Você está na página 1de 8

Leitor crítico — Jovem Adulto

Leitor crítico — 7ª e 8ª séries


Leitor fluente — 5ª e 6ª séries

GANYMÉDES JOSÉ
Uma luz no fim do túnel

PROJETO DE LEITURA
Coordenação: Maria José Nóbrega
Elaboração: Alfredina Nery e José da Silva Simões
Árvores e tempo de leitura
MARIA JOSÉ NÓBREGA

O que é, o que é,
Uma árvore bem frondosa
Doze galhos, simplesmente
Cada galho, trinta frutas
Com vinte e quatro sementes?1

Enigmas e adivinhas convidam à decifra- Alegórica árvore do tempo…


ção: “trouxeste a chave?”.
A adivinha que lemos, como todo e qual-
Encaremos o desafio: trata-se de uma ár- quer texto, inscreve-se, necessariamente, em
vore bem frondosa, que tem doze galhos, um gênero socialmente construído e tem,
que têm trinta frutas, que têm vinte e qua- portanto, uma relação com a exterioridade
tro sementes: cada verso introduz uma nova que determina as leituras possíveis. O espa-
informação que se encaixa na anterior. ço da interpretação é regulado tanto pela
organização do próprio texto quanto pela
Quantos galhos tem a árvore frondosa? memória interdiscursiva, que é social, histó-
Quantas frutas tem cada galho? Quantas se- rica e cultural. Em lugar de pensar que a
mentes tem cada fruta? A resposta a cada uma cada texto corresponde uma única leitura,
dessas questões não revela o enigma. Se for é preferível pensar que há tensão entre uma
familiarizado com charadas, o leitor sabe que leitura unívoca e outra dialógica.
nem sempre uma árvore é uma árvore, um Um texto sempre se relaciona com outros
galho é um galho, uma fruta é uma fruta, uma produzidos antes ou depois dele: não há como
semente é uma semente… Traiçoeira, a árvo- ler fora de uma perspectiva interdiscursiva.
re frondosa agita seus galhos, entorpece-nos
com o aroma das frutas, intriga-nos com as Retornemos à sombra da frondosa árvore
possibilidades ocultas nas sementes. — a árvore do tempo — e contemplemos ou-
tras árvores:
O que é, o que é?
Deus fez crescer do solo toda es-
Apegar-se apenas às palavras, às vezes, é
pécie de árvores formosas de ver e
deixar escapar o sentido que se insinua nas
boas de comer, e a árvore da vida
ramagens, mas que não está ali.
no meio do jardim, e a árvore do
Que árvore é essa? Símbolo da vida, ao
conhecimento do bem e do mal. (…)
mesmo tempo que se alonga num percurso
E Deus deu ao homem este manda-
vertical rumo ao céu, mergulha suas raízes
mento: “Podes comer de todas as
na terra. Cíclica, despe-se das folhas, abre-se
árvores do jardim. Mas da árvore do
em flores, que escondem frutos, que prote-
conhecimento do bem e do mal não
gem sementes, que ocultam coisas futuras.
comerás, porque no dia em que dela
“Decifra-me ou te devoro.” comeres terás de morrer”.2
Qual a resposta? Vamos a ela: os anos, que Ah, essas árvores e esses frutos, o de-
se desdobram em meses, que se aceleram em sejo de conhecer, tão caro ao ser huma-
dias, que escorrem em horas. no…

2
Há o tempo das escrituras e o tempo da interpessoais e, progressivamente, como re-
memória, e a leitura está no meio, no inter- sultado de uma série de experiências, se trans-
valo, no diálogo. Prática enraizada na expe- forma em um processo interno.
riência humana com a linguagem, a leitura é
uma arte a ser compartilhada. Somente com uma rica convivência com ob-
jetos culturais — em ações socioculturalmente
A compreensão de um texto resulta do res- determinadas e abertas à multiplicidade dos
gate de muitos outros discursos por meio da modos de ler, presentes nas diversas situações
memória. É preciso que os acontecimentos comunicativas — é que a leitura se converte
ou os saberes saiam do limbo e interajam com em uma experiência significativa para os alu-
as palavras. Mas a memória não funciona nos. Porque ser leitor é inscrever-se em uma
como o disco rígido de um computador em comunidade de leitores que discute os textos
que se salvam arquivos; é um espaço move- lidos, troca impressões e apresenta sugestões
diço, cheio de conflitos e deslocamentos. para novas leituras.

Empregar estratégias de leitura e desco- Trilhar novas veredas é o desafio; transfor-


brir quais são as mais adequadas para uma mar a escola numa comunidade de leitores é
determinada situação constituem um proces- o horizonte que vislumbramos.
so que, inicialmente, se produz como ativi-
dade externa. Depois, no plano das relações Depende de nós.

__________
1
In Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo, Editora Ática.
2
A Bíblia de Jerusalém, Gênesis, capítulo 2, versículos 9 e 10, 16 e 17.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA pertence, analisando a temática, a perspec-


tiva com que é abordada, sua organização
UM POUCO SOBRE O AUTOR estrutural e certos recursos expressivos em-
pregados pelo autor.
Procuramos contextualizar o autor e sua obra Com esses elementos, o professor irá identi-
no panorama da literatura brasileira para jo- ficar os conteúdos das diferentes áreas do co-
vens e adultos. nhecimento que poderão ser abordados, os
temas que poderão ser discutidos e os recur-
RESENHA sos lingüísticos que poderão ser explorados
para ampliar a competência leitora e escri-
Apresentamos uma síntese da obra para que tora dos alunos.
o professor, antecipando a temática, o en-
redo e seu desenvolvimento, possa avaliar QUADRO-SÍNTESE
a pertinência da adoção, levando em conta
as possibilidades e necessidades de seus O quadro-síntese permite uma visualização
alunos. rápida de alguns dados a respeito da obra e
de seu tratamento didático: a indicação do
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA gênero, das palavras-chave, das áreas e te-
mas transversais envolvidos nas atividades
Apontamos alguns aspectos da obra, consi- propostas; sugestão de leitor presumido para
derando as características do gênero a que a obra em questão.

3
✦ nas tramas do texto
Gênero:
Palavras-chave: • Compreensão global do texto a partir de
Áreas envolvidas: reprodução oral ou escrita do que foi lido ou
Temas transversais: de respostas a questões formuladas pelo pro-
Público-alvo: fessor em situação de leitura compartilhada.
• Apreciação dos recursos expressivos empre-
gados na obra.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES • Identificação e avaliação dos pontos de vis-
ta sustentados pelo autor.
a) antes da leitura • Discussão de diferentes pontos de vista e
opiniões diante de questões polêmicas.
Os sentidos que atribuímos ao que se lê de- • Produção de outros textos verbais ou ainda
pendem, e muito, de nossas experiências an- de trabalhos que contemplem as diferentes lin-
teriores em relação à temática explorada guagens artísticas: teatro, música, artes plásti-
pelo texto, bem como de nossa familiarida- cas, etc.
de com a prática leitora. As atividades
sugeridas neste item favorecem a ativação ✦ nas telas do cinema
dos conhecimentos prévios necessários à
compreensão e interpretação do escrito. • Indicação de filmes, disponíveis em VHS ou
DVD, que tenham alguma articulação com a
• Explicitação dos conhecimentos prévios obra analisada, tanto em relação à temática
necessários à compreensão do texto. como à estrutura composicional.
• Antecipação de conteúdos tratados no tex-
to a partir da observação de indicadores como ✦ nas ondas do som
título da obra ou dos capítulos, capa, ilustra-
ção, informações presentes na quarta capa, etc. • Indicação de obras musicais que tenham
• Explicitação dos conteúdos da obra a par- alguma relação com a temática ou estrutura
tir dos indicadores observados. da obra analisada.

b) durante a leitura ✦ nos enredos do real


São apresentados alguns objetivos orienta- • Ampliação do trabalho para a pesquisa de
dores para a leitura, focalizando aspectos que informações complementares numa dimen-
auxiliem a construção dos sentidos do texto são interdisciplinar.
pelo leitor.
DICAS DE LEITURA
• Leitura global do texto.
• Caracterização da estrutura do texto.
Sugestões de outros livros relacionados de
• Identificação das articulações temporais e
alguma maneira ao que está sendo lido, es-
lógicas responsáveis pela coesão textual.
timulando o desejo de enredar-se nas vere-
• Apreciação de recursos expressivos empre-
das literárias e ler mais:
gados pelo autor.
◗ do mesmo autor;
c) depois da leitura
◗ sobre o mesmo assunto e gênero;
São propostas atividades para permitir melhor ◗ leitura de desafio.
compreensão e interpretação da obra, indican-
do, quando for o caso, a pesquisa de assuntos Indicação de título que se imagina além do
relacionados aos conteúdos das diversas áreas grau de autonomia do leitor virtual da obra
curriculares, bem como a reflexão a respeito analisada, com a finalidade de ampliar o ho-
de temas que permitam a inserção do aluno rizonte de expectativas do aluno-leitor, en-
no debate de questões contemporâneas. caminhando-o para a literatura adulta.

4
GANYMÉDES JOSÉ
Uma luz no fim do túnel

UM POUCO SOBRE O AUTOR pessoas e coisas bonitas, parou repentinamente


de bater. E tudo quanto ele amava levou embo-
Ganymédes José nasceu em Casa Branca, no in- ra, dentro do peito. Mas no que acreditava ele
terior de São Paulo, em maio de 1936. Formou- deixou aqui, em seus livros. Reconfortante é sa-
se professor em sua cidade, fez Direito na PUC ber que, através de sua obra, ele permanecerá
de Campinas e cursou Letras na Faculdade de cada vez mais vivo.
São José do Rio Pardo. Desde cedo, começou a
juntar coisas no coração: pedaços do mundo RESENHA
(sua cidade, por exemplo, cabia inteira), gente,
muita gente, livros, músicas… “Gosto de paz, si- Lúcio é um rapaz pobre que, para pertencer ao
lêncio, plantas, animais, amigos, honestidade, bando de um rapaz violento que trafica drogas,
escrever, música, alegria, fraternidade, compre- acaba por se envolver com tudo isso. No desen-
ensão…”, escreveu certa vez. Quando ainda es- rolar da história, vai se transformando num jo-
tava no Ensino Fundamental, surpreendeu a vem desorientado e totalmente possuído pelo
professora ao afirmar que seria escritor. vício e pelo mundo do crime que gira em torno
Retornando à sua cidade, depois de formado, o das drogas.
menino escritor deixou de ser menino. E não Érica é uma garota pobre, sonhadora, com pou-
parou mais de escrever. Datilografava só com cas perspectivas de futuro. Muito influenciada
três dedos, o que não o impediu de nos deixar pelo “glamour” da mídia e do consumo, regis-
mais de 150 obras. Livro para todos os gostos: tra nas páginas de um diário seus sonhos de ser
mistério, humor, histórico, romântico, infantil, muito amada, ser rica e ter uma vida luxuosa.
juvenil… Em todos, o mesmo fio condutor, a Um dia, Lúcio e Érica encontram-se, apaixonam-
mesma energia vital: o amor à juventude. Teve se e começam a namorar. Mas o romance entre-
obras premiadas pela APCA (1975, Melhor Livro laça-se ao uso de drogas e aos dramas cotidia-
Infantil) e pela Prefeitura de Belo Horizonte nos da relação deles com o mundo que os cerca.
(1982, Prêmio Nacional de Literatura Infantil Érica engravida, eles se casam, o filho nasce mui-
João de Barro). No dia 9 de julho de 1990, quan- to doente e morre. A partir daí, a jovem inicia
do se preparava para o lançamento de Uma luz uma trajetória irreversível no vício e acaba mor-
no fim do túnel — mais uma grande prova de rendo, vítima de um atropelamento. Lúcio per-
amor ao jovem —, seu coração, aquele cheio de de, assim, seu vínculo afetivo mais importante,

5
briga com a mãe, fica mais solitário e deprimido. QUADRO-SÍNTESE
Num momento de muito desespero, sem saber a
quem recorrer, reencontra Marcos, um antigo Gênero: novela
colega de vício que havia passado por uma casa
de recuperação para dependentes químicos e Palavras-chave: drogas; adolescência
que, naquele momento, tomava conta de um
templo religioso. Marcos leva Lúcio para se recu- Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Ciências
perar no mesmo lugar em que estivera. O jovem Temas transversais: Ética, Saúde
passa a conviver com outros rapazes na mesma
situação que ele. Público-alvo: alunos da 7a e 8a séries do En-
Inclusive com Carlos, um jovem psicólogo e um sino Fundamental
dos orientadores da casa. Além disso, a terapia
do trabalho — todos se revezam nas tarefas do-
mésticas e na manutenção de uma horta — e o PROPOSTAS DE ATIVIDADES
consolo através da religião contribuíram para
que Lúcio fosse se reequilibrando. Antes da leitura
Depois de quatro meses no recanto de recupe-
1. Faça uma enquete com os alunos sobre
ração, numa saída rápida para comprar fermen-
Ganymédes José. Quem o conhece? Quem já leu
to, Lúcio sente cheiro de maconha. Imediata-
algum livro dele? Ouviu alguém falar sobre ele?
mente, divide-se em dois: um que queria voltar
É possível que muitos alunos o conheçam, pois
ao vício e outro que queria distância dele. O li-
seus livros para jovens são muito adotados nas
vro termina com esse conflito no ar: dizer sim
escolas.
ou dizer não.
2. Levantar hipóteses sobre o enredo do livro, a
partir do título. O que pode acontecer numa his-
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA tória que tem esse nome? Trabalhar junto aos
alunos com a idéia de que o fato de haver “uma
Uma luz no fim do túnel é uma história luz no fim do túnel” é uma metáfora da espe-
comovente sobre o envolvimento dos jovens rança e do encontro; enfim, de “um final feliz”.
com as drogas. As incertezas, os medos e os de-
safios que povoam o universo da juventude 3. Analise com a turma a capa do livro. Observe
agigantam-se quando se entrelaçam com o com- como a quebra no padrão de formatação das le-
ponente da droga. A falta de perspectivas, num tras que compõem as palavras do título eviden-
país marcado por enormes desigualdades soci- ciam “luz”: a mudança de alinhamento e de cor,
ais, atinge fortemente o futuro de jovens que o uso da borda.
pertencem a classes sociais economicamente Verifique se os alunos gostaram da solução encon-
desfavorecidas. trada pelo designer João Baptista Costa Aguiar.
A construção dos protagonistas contribui para 4. Ler em voz alta a sinopse da 4a capa, como
desmistificar a visão maniqueísta do “bom” e forma de discutir as hipóteses levantadas pelos
do “mau”: tanto Lúcio quanto Érica são jovens alunos nos itens anteriores, problematizando-as.
comuns, que sonham, amam e querem amar, Este é um momento privilegiado para trabalhar
mas que vão, pouco a pouco, entrando num a concepção de que, para ler, relacionamos nos-
caminho que pode ser sem volta: o das drogas. sos conhecimentos prévios sobre o autor do tex-
O carinho do casal e alguns de seus passeios to, o tema do título, etc.
pelo centro de Curitiba revelam jovens sensí-
veis, procurando compreender a vida e vivê-la Durante a leitura
bem.
Em Uma luz no fim do túnel, o encontro de Lú- 1. Leia com os alunos o texto da última página
cio com a religião, como uma etapa fundamen- “Autor e Obra”, como forma de levá-los a com-
tal na tentativa de fugir do vício, é uma saída preender em que contexto o livro foi escrito.
ficcional. Na vida real, ao lado de um tratamen- Ganymédes José nunca havia escrito sobre as dro-
to clínico, a fé tem-se mostrado um ponto de gas, apesar dos pedidos insistentes dos professo-
apoio fundamental para a recuperação de al- res das escolas que visitou como escritor. Por fim,
guns drogados. aceitou o desafio de escrever sobre o assunto.

6
Aproveite também para conversar sobre a ne- A arquitetura do centro da cidade e a origem indí-
cessidade que o autor teve de pesquisar muito gena do seu nome. Para a primeira, ler especial-
para poder escrever uma história verossímil re- mente o capítulo 11, “Uma tarde na cidade-sorri-
lacionada às drogas. Em geral, o senso comum so”. Para a segunda, ler o capítulo 10, “A lenda da
pensa num escritor escrevendo como se fosse Gralha Azul”. Seria enriquecedor que os alunos co-
um passe de mágica. É bom lembrar que Vinicius nhecessem esta lenda na íntegra. Para isso, consul-
de Moraes dizia que um livro tem mais tar o livro de Theobaldo Miranda Santos, Lendas e
transpiração do que inspiração. mitos do Brasil, publicado pela Editora Nacional.
b. As referências ao texto bíblico.
2. Antecipe que, ao longo do texto, o autor des-
Leia especialmente o capítulo 26, “O rei Davi”.
creve o aspecto visual das drogas utilizadas e as sen-
Solicite que os alunos pesquisem aspectos sobre
sações provocados pelo uso delas. Peça aos alunos
a vida de Davi, o segundo rei dos judeus, grande
que assinalem essas passagens no próprio livro.
poeta, a quem são atribuídos vários salmos e can-
3. Solicitar que os alunos observem os diferentes tos litúrgicos. Seria interessante que lessem tam-
tipos de letras usados no livro e reflitam sobre bém alguns trechos da Bíblia — Segundo Livro
qual poderia ser a razão do emprego deste recur- dos Reis e Salmos —, pois, independentemente
so gráfico. Os alunos certamente vão perceber de crença religiosa, a Bíblia é uma importante re-
que há dois tipos diferentes: um, na parte em que ferência cultural para a sociedade ocidental. Co-
Érica escreve em seu diário e outro, na narrativa nhecer essa narrativa ancestral muito contribui
sobre Lúcio. Esse recurso realça as duas histórias: a para a ampliação do repertório dos alunos.
de Érica em seu diário, e a de Lúcio. A certa altura É possível ainda que, através de livros ou Internet,
do enredo, as duas narrativas encontram-se e a os alunos conheçam a imagem de Davi feita por
história passa a ser apenas uma: a vida dos dois escultores, sendo a mais famosa a de Michelangelo,
jovens até o desfecho trágico com a morte da que está no Museu de Florença, na Itália.
moça. A partir daí, Lúcio segue sua trajetória. c. A referência à literatura universal Fausto.
Leia o capítulo 23, Cara a Cara. Nele há um trecho
Depois da leitura em que Lúcio, em um momento de delírio, depara
✦ nas tramas do texto com um ser satânico que quer levá-lo embora. O di-
álogo entre os dois lembra a luta de Fausto e o de-
1. Recupere oralmente os principais episódios mônio Mefistófeles, quando este oferece àquele sa-
da narrativa e deixe que os alunos comentem as bedoria e prazer ilimitados, em troca de sua alma.
impressões provocadas pela leitura da obra. Fausto é herói de numerosas obras literárias, musi-
2. Peça que os alunos pesquisem sobre os signifi- cais, plásticas e cinematográficas, por ser o símbolo
cados dos nomes de alguns personagens e a rela- da oposição essencial entre as seduções da vida e o
ção com os acontecimentos do enredo. Provavel- tédio existencial. Assim, devido à universalidade des-
mente, os alunos vão encontrar o nome “Lúcio”, tes sentimentos de Fausto, é possível relacionar sua
relativo a “luz”, “lucidez”. Na obra, Lúcio tem a figura aos conflitos humanos mais diversos, como é
oportunidade — diferentemente de Érica e ou- o caso de Lúcio e sua relação com as drogas.
tros — de se salvar, se quiser, pois o final da his- As versões de Fausto mais famosas são as de Goethe
tória deixa isso em aberto. Veja se percebem que, — Fausto, editada pela Martin Claret, e a de Thomas
de certo modo, o nome da personagem Lúcio in- Mann — Doutor Fausto, editada pela Nova Frontei-
tegra o próprio título do livro: Uma luz no fim ra. Muito provavelmente, os jovens vão gostar de
do túnel. conhecer um personagem tão emblemático da alma
Outro exemplo é o nome “Marcos”, que é um humana, em especial porque a juventude é um mo-
dos quatro evangelistas da Bíblia (os outros são mento carregado de conflitos e contradições.
Mateus, Lucas e João), ou seja, apóstolos res-
ponsáveis pela propagação do Cristianismo. No ✦ nas telas do cinema
livro, Marcos é uma espécie de apóstolo, pois A maioria dos filmes que abordam o tema das
ensina a Lúcio o caminho da “salvação” por drogas têm restrições para menores de 14 anos
meio da religião e da fé. de idade. Entretanto, assistir aos filmes e poder
3. Releia, com os alunos, alguns trechos do li- refletir abertamente sobre o assunto com profes-
vro, aprofundando os seguintes aspectos: sores e outros profissionais da escola pode ser
a. As referências a respeito de Curitiba. uma experiência importante para os alunos. Con-

7
sidere sua disposição para encarar o desafio. depois comentem os prejuízos causados pelo uso
Traffic, dirigido por Steven Soderbergh e distri- prolongado.
buído pela Europa. Drogas na Escola. Alternativas Teóricas e Práticas
Diário de um adolescente, dirigido por Scott — organizado por Aquino, Julio Groppa, São
Kalvert e distribuído pela PolyGram. Paulo, Summus Editorial
Eu, Christiane F, 13 anos, drogada, prostituída, Doces venenos: conversas e desconversas sobre
dirigido por Ulrich Edel e distribuído pela F. J. drogas — Lidia Rosenberg Aratangy. São Paulo,
Lucas. Olho d’água
Drogas: mitos e verdades — Beatriz Carlini-
✦ nos enredos do real Cotrim, São Paulo, Ática
Conjunto de 15 folhetos sobre drogas psicotrópi-
1. Os depoimentos de Érica, registrados em seu
cas em geral e sobre cada uma delas, do CEBRID,
diário, são uma boa fonte de informações sobre
Departamento de Psicobiologia Unifesp — São
como a personagem lidava com as sensações de
Paulo. Atualmente esses folhetos estão apenas à
ansiedade, frustração e inferioridade.
disposição em páginas da Internet. Uma delas é
• Promova uma pequena encenação teatral na
http://www.saude.inf.br/
qual os alunos têm de achar uma saída menos frus-
Liberdade é poder decidir — Maria de Lurdes Zemel
trante para Érica nas situações de conflito com os
e Maria Elisa Lamboy Lamboy, São Paulo, FTD
pais pobres. O que fazer, se não dá para comprar
aquele vestido? O que fazer se os pais não deixam
ficar até muito tarde na rua? É importante que os DICAS DE LEITURA
alunos reflitam sobre o papel educativo dos pais e ◗ do mesmo autor
sobre as concessões que ambos têm de fazer para
que o relacionamento familiar seja harmonioso. Posso te dar meu coração? — São Paulo, Moder-
• Discuta a questão da pressão do grupo exer- na
cida sobre Érica, quando ela comenta sobre as Um girassol na janela — São Paulo, Moderna
amigas que já namoram, que fumam, que po- A ladeira da saudade — São Paulo, Moderna
dem ficar até mais tarde na rua.
◗ sobre o mesmo assunto
2. Pouco sabemos da vida pregressa de Lúcio.
Suas vivências anteriores são decisivas para o Mano descobre o amor — Gilberto Dimenstein e
rumo que tomou sua vida. Heloísa Prieto, São Paulo, Editora Senac
• Proponha aos alunos que criem um capítulo Pássaro contra a vidraça — Giselda Laporta
anterior ao início do livro. Que frustrações, difi- Nicolelis, São Paulo, Moderna
culdades pessoais de relacionamento podem ter A amarga herança de Léo — Isabel Vieira, São
levado Lúcio a consumir drogas? Paulo, FTD
• Lúcio aceitou a ajuda de religiosos e ofereceu a Avião: tráfico de drogas — Júlio Emilio Braz, São
si mesmo uma alternativa de vida diferente. As- Paulo, FTD
sim como a religião, outros especialistas poderi-
am ajudá-lo. Peça para seus alunos pesquisarem ◗ leitura de desafio
sobre as instituições públicas e privadas que ofe- Os dois títulos relatam os depoimentos de duas
recem tratamento a dependentes de drogas. jovens que conviveram com a violência, as dro-
3. Ao longo do texto, o autor descreve o aspecto gas e a indiferença, mas que, de algum modo,
visual das drogas utilizadas e as sensações pro- conseguiram reconstruir suas vidas.
vocados pelo uso delas. Seria interessante pro-
por aos alunos as seguintes atividades: Eu, Christiane F, 13 anos, drogada, prostituída —
• A partir da pesquisa em livros de divulgação Horst Rieck e Kau Hermann, São Paulo, Bertrand
científica sobre drogas, como os recomendados Esmeralda, por que não dancei — Gilberto
na lista abaixo, pedir para que os alunos identi- Dimenstein e Esmeralda do Carmo Ortiz, São Pau-
fiquem as drogas que são citadas na narrativa e lo, Senac

Você também pode gostar