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COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL

Aula 1 – Leitura : conceitos e estratégias

OBJETIVO GERAL: Entender o processamento da leitura para o desenvolvimento dessa


habilidade.

Bibliografia: PERISSÉ, Gabriel. Ler, pensar e escrever. 5. ed. rev. amp. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2011.

A aprendizagem e construção do conhecimento ocorrem por meio da compreensão que


se lê. Compreender um texto significa apreender o sentido dado pelo autor e envolve,
muitas vezes, o ato de transformar, relacionar e aplicar o conhecimento prévio e aquele
adquirido no momento da leitura, assim como a utilização de pensamento crítico,
elaboração de predições, entre outras capacidades. Logo, a compreensão da leitura
assume papel imprescindível na construção do conhecimento. O entendimento das
informações lidas é resultado de um esforço cognitivo direcionado ao modo como a tarefa
de compreender é realizada, tanto do ponto de vista do leitor quanto da própria tarefa.
1. COMPREENSÃO DE LEITURA

PROCESSAMENTO DA LEITURA PROFICIENTE


A leitura é um exercício mental de assimilação de conhecimento, compreensão,
reflexão e transformação, constituindo-se uma atividade estritamente linguística, em que
leitor-autor se co-relacionam trocando ideias e opiniões acerca do que está escrito. E é
dentro dessa troca que se estabelece um compromisso tácito entre autor-leitor para que
se concretize a reconstrução dos significados.
A escola, ao que parece, sem se preocupar com a reconstrução de significados, parou na
fase de leitura em que o indivíduo apenas decodifica textos. A leitura não é, pois, vista
como um processo ativo, mas meramente decodificador, em que a criança ao descobrir
uma determinada palavra já faz sua “leitura”, muitas vezes, sem ao menos saber o que
significa a palavra “descoberta”.
Procurar significados é o que inicialmente e automaticamente fazemos ao ler um texto.
Mas, não é só a busca de significados que caracteriza a leitura. Faz-se necessário que,
após essa busca, o leitor reflita sobre o texto formulando seu novo conhecimento de
acordo com o conhecimento prévio e seus objetivos de leitura. É a partir dessa reflexão
que leitor e autor se encontram mediados por um texto, construindo significados a partir
da materialização da linguagem. Após a assimilação do texto e reflexão sobre ele, o leitor
finalmente elabora sua opinião, promovendo, assim, uma verdadeira transformação em
sua mente, que passa a não ser mais a mesma após essa leitura, a que chamamos
proficiente ou interativa.
Segundo Mary Kato (1990, p25), “na leitura proficiente, as palavras são lidas não
letra por letra ou sílaba por sílaba, mas como um todo não analisado, isto é, por
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reconhecimento instantâneo e não por processo analítico-sintético (...) da mesma forma
que identificamos um objeto através de sua configuração geral, podemos reconhecer uma
palavra através do todo (seu contorno, extensão, etc.) sem uma análise de suas partes”.
Então, podemos afirmar que o leitor poderá ter velocidade e precisão de leitura naquelas
palavras em que conhece sua grafia e sentido, em seu poder de predizer e confirmar
hipóteses e em sua capacidade de raciocínio inferencial (que lhe permitirá antecipar
sentenças ainda não conhecidas).

ETAPAS DA LEITURA PROFICIENTE


Nós começamos este curso com um teste de autoavaliação do nível de compreensão
leitora. Lembra dele?
Observe os níveis de compreensão leitora mais uma vez.
Para ser um leitor proficiente, você deve passar por cada uma dessas etapas:
DECODIFICAÇÃO - Etapa da leitura em que apenas deciframos signos linguísticos.
Normalmente a pessoa diz: li, mas não entendi. Teoricamente, essa pessoa não leu,
apenas decodificou: reconheceu as palavras, transformando signos em sons, mas isso
não é leitura, é decifração.
ANÁLISE - Etapa da leitura em que estabelecemos relações entre as palavras e seus
significados implícitos e explícitos. Depois de decodificar, procuramos dar algum sentido
ao que se lê, ainda que não haja relação entre tudo que se lê. É uma leitura parcial, que
não nos permite entender todas as informações que o texto oferece.
REFLEXÃO - Etapa da leitura em que as relações analisadas começam a ser
comparadas a conhecimentos prévios e já se percebe haver outros conhecimentos a
serem incorporados.
TRANSFORMAÇÃO - Etapa da leitura em que o leitor proficiente elabora sua própria
opinião a respeito do texto, estabelecendo relações críticas, pois o sentido do texto se
amplia e o conhecimento se fixa no leitor.

NÍVEIS DE LEITURA
Enfim, o nível de leitura de uma pessoa indica o quanto ela pode se comunicar bem, o
quanto ela pode aprender, o quanto ela pode ter autonomia em leituras complexas e
ampliar seu conhecimento.
NÍVEL LITERAL - Questionamentos que devem ser respondidos com as palavras do
texto.
NÍVEL INTERPRETATIVO - Questionamentos que devem ser respondidos a partir das
entrelinhas do texto.
NÍVEL CRÍTICO - Questionamentos que devem ser respondidos através da extrapolação
do texto para a realidade.

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2. PARA LER E ESCREVER – HABILIDADES E ESTRATÉGIAS

DECODIFICAR OU LER?
Decodificar ainda é considerado o primeiro passo para aprender a ler em muitas
situações. Os leigos acreditam que a junção de letras em sílabas, formando palavras, é
suficiente para garantir o entendimento do que se lê. A leitura apenas por decodificação
não garante a compreensão. Estratégias eficientes de ensino de leitura não trabalham sob
a perspectiva do be-a-ba. Para provar o que está dito, faça uma reflexão sobre o exercício
proposto a seguir:
- Leia com atenção o texto abaixo e responda as questões .
Mirimir e Gissitar
Era uma vez dois trafelnos: Mirimi e Gissitar.
Os dois trafelnos eporavam longe das perlogas.
Um masto, porém, um dos trafelnos, Mirimi, felnou que ramalia rizar e aror uma perloga.
Gissitar regou muito.
Ele rurbia que Mirimi não rizaria mais da perloga.
Gissitar felnou, felnou, regou, regou, mas nada.
Mirimi estava leruado: ramalia rizar e aror uma perloga.
No masto do fabeti, Mirimi rizou muito lonto.
No meio do fabeti, proceu Gissitar e os dois rizavam ateli.
Gissitar não ramalia clenar Mirimi.
FONTE: https://periodicos.ufsc.br/index.php/desterro/article/view/11655/11236
QUESTÕES:
1. Quem eram os dois trafelnos?
a) ( ) Rizaria e Perloga
b) ( ) Felnou e Regou
c) ( ) Mirimir e Gissitar
d) ( ) Perloga e Masto
 
2. Onde eporavam?
a) ( ) No meio do fabeti
b) ( ) No masto do febeti
c) ( ) Em leruado
d) ( ) Longe das perlogas

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3.  No 5º período, a que se refere o pronome “ele”?
a) Gissitar
b) Mirimi
c) Trafelnos
d) Rizaria

 4. Quem felnou?


a) Fabeti e Rizaria
b) Gissitar eMirimi
c) Gissitar
d) Mirimi

5. Qual o título do texto


6. Você gostou do texto?
Vejamos as respostas:
1–c 2–d 3–a 4- b
5. Mirimi e Gissitar
6. opinião (por exemplo. Sim, gostei, porque fala de Mirimi e Gissitar. OU Não, porque não
tenho interesse pelo que a história conta.

Algumas reflexões: você conseguiu responder as questões? Encontrou muita dificuldade?


Você entendeu o texto? Será que decodificar é suficiente para entender?

Vou tentar indicar algumas possibilidades:


O texto estranho bloqueou inicialmente a resolução, mas depois de perceber que era
possível responder as questões mesmo sem saber o que as palavras significavam, você
provavelmente acertou tudo.
Mas entendeu?
Ou seja: certamente você decodificou o texto, o que lhe permitiu responder as questões
literais ou que não exigiam que você estabelecesse as relações entre o que está dito e
tudo que você conhece ou sabe. Isso nem seria possível, porque esse é um texto com
palavras inventadas. Se você se arriscou num dicionário, não deve ter encontrado essas
palavras. Está provado que esse nível de leitura não nos atende, não vai favorecer a sua
caminhada acadêmica?

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3. CONHECIMENTO DE MUNDO E COMPREENSÃO LEITORA
Leia e represente a situação através de um desenho.

Se os balões estourassem, não se ouviria o som, pois tudo ficaria muito distante do andar
certo. Uma janela trancada também evitaria de se ouvir o som, pois a maioria dos
edifícios tendem a ser bem isolados. Sendo que a operação toda depende de corrente
elétrica contínua, uma interrupção no meio do fio também poderia causar problemas. É
claro que o indivíduo poderia gritar, mas a voz humana não é suficientemente forte para
se ouvir longe assim. Um problema adicional é que uma corda do instrumento poderia
arrebentar. Neste caso, não haveria acompanhamento para a mensagem. Torna-se claro
que a melhor situação envolveria uma distância menor. Haveria, então, menos problemas
possíveis. Com um contato face a face, o número de coisas que poderia não dar certo
seria o mínimo.

(Bransford et alii, 1984 - tradução de J.L.Meurer)

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Você conseguiu ler o texto?
E conseguiu reescrever o texto com uma imagem?
Sim, imagens também são textos e precisam de interpretação para poderem comunicar.

Veja a definição de texto da autoria de Schmidt, que aparece em Fávero & Koch (p. 60):

“Texto é qualquer expressão de um conjunto linguístico num ato de comunicação; no


âmbito de um jogo de atuação comunicativa reconhecível. Textualidade é o modo de toda
e qualquer comunicação transmitida por sinais, inclusive os linguísticos.”

Segundo essa definição, um texto pode constar apenas de elementos não-lingüísticos,


desde que ele veicule uma mensagem. Um quadro, uma gravura, uma “charge”, uma
escultura são exemplos de textos icônicos.

Às vezes, um texto icônico é auto-explicável, porque ele retoma um referente por


similaridade. Como ele substitui uma situação, um contesto real, é capaz de recuperar a
coerência de um texto, que sem ele é completamente sem sentido.

Consideremos o texto dos balões. Ele é aparentemente absurdo, incoerente. Sua


textualidade está garantida por fatores não-lingüísticos. Parece-nos incoerente, dado que
não nos transmite mais que uma seqüência de frases desconexas. Se há uma
mensagem, ela não chega até nós. Isso acontece não porque o texto está desprovido de
sentido, e sim porque somos apenas leitores e não leitores-interlocutores. Sendo assim,
encontramo-nos fora do contexto, da situação que gerou esse texto.

Eis o texto icônico que, relacionado ao texto, dá-lhe sentido.

Você já viu uma cena assim? Se não viu, é natural que tenha sentido muita dificuldade em
entender o texto. Você pode ter desenhado prédios, pessoas, balões, guitarra, mas
acredito que se você nunca viu essa improvável serenata, você não conseguiu desenhar
todos esses elementos relacionados. Você não apenas decodificou o texto, mas ao
analisar as informações, faltou o conhecimento de mundo para amparar a leitura
proficiente.

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