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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – CCHL


COORDENAÇÃO DE LETRAS ESTRANGEIRAS – CLE
DISCIPLINA: LITERATURAS DE LÍNGUA FRANCESA
PROFESSOR: ALCIONE CORRÊA
ALUNA: EMANUELLE CAROLINE ALVES ROCHA ALBUQUERQUE

Primeira Avaliação

De acordo com a autora Ana Boff de Godoy do artigo Identidades e estéticas, a


literatura ajuda a construir ideias, imagens, histórias, personagens, além da
própria identidade, dessa forma, a literatura das Antilhas, tem essa função de
afirmar a identidade do negro antilhano, de fazer reconhecer seus direitos e,
principalmente, seus princípios culturais.
No entanto, as literaturas de língua francesa produzidas na encruzilhada de
línguas nas Antilhas escancaram a violência colonial, isto é, o francês era
usado em tudo o que era oficial e escrito, não mostrando a verdadeira
identidade e expressão antilhana nos textos, “impedindo” o uso da créole.
Na poesia Le Voyage en Haiti da poetisa Mireille Jean-Gilles, escrita em 2004
e estudada nas nossas aulas de Literaturas de Língua Francesa, apresenta
uma viagem que segue para o Haiti, passando por Santo Domingo e Martinica,
levando ao encontro do uso da créole, a língua orgulhosa do povo haitiano,
símbolo de sua resistência e da língua francesa, com o intuito de mostrar como
a língua francesa paralisa a expressão do crioulo, isto é, como a língua do
colonizador era imposta perante a língua do escravizado, não deixando o
mesmo afirmar sua identidade.
La Dominique était belle et fière, tel un sphinx, la tête dans les
nuages.
Elles portent des lunettes de star, alors on ne saura jamais la
couleur de leurs yeux, elles tranchent nettement et en tout car
belles, blondes et riches. Visons sur les épaules, liftings un peu
trop accentués, maris un peu trop âgés, elles passent telles des
étoiles filantes, leur raison d’être là, plus que de voyager, qui
n’a plus beaucoup de sens, ni d’intérêt, serait de sillonner les
couloirs d’aéroport pour se rendre dans leurs salons privés,
femmes riches et belles et remarquablement belles car blondes
se vêtent souvent de noir, pantalon noir, pull noir, lunettes
noires pour être plus remarquables, plus blondes, plus
remarquablement belles. Car, après tout, être belle n’est rien
d’autre qu’être remarquée et c’est sans doute pour cela, l’autre
jour, quand j’ai croisé cette femme si laide, si remarquablement
laide, je l’ai trouvé belle, car pleine d’assurance, assurée d’être
remarquée, regardée, défigurée, comme l’on ferait pour une
femme exceptionnellement belle et qui ne demande rien d’autre
que d’être remarquée, défigurée, que son image soit inscrite à
jamais dans la mémoire de n’importe quel passant.

No trecho acima o poema se inicia, expondo como muitas mulheres são


obrigadas a sacrificar sua beleza natural para se tornarem bonitas de acordo
com esse “signo cultural”, isto é, com esse ideal de mulher forjado pela cultura
ocidental, mostrando como o progresso ocidental tem ditado os padrões de
beleza e também faz uma denúncia do tráfico de negros e de mulheres.
O poema também aborda e acusa a apropriação do branco com a cultura
negra, que antes era algo sagrado para seu povo acaba virando objeto de
comercialização para o homem branco, desvalorizando sua cultura, além de
apresenta-los como inferiores, promovendo isso através da formação de
preconceitos como da exclusão social e depreciação dos seus valores
culturais, religiosos e históricos, mostrando o homem negro como o Diabo e o
homem branco como Deus.
Por meio da leitura do poema e dos estudos feitos no decorrer das aulas
(dentro e fora delas) percebe-se que a poetisa teve que priorizar a língua
escrita (o francês) para poder mostrar como seu povo teve sua cultura
“contaminada” por costumes alheios, teve a submissão ao homem branco para
poder sobreviver, além de expor a escravização, o tráfico e como o ocidente
influenciava a forma de viver tanto do colonizador quanto do escravo.
Ao término da leitura da poesia Le Voyage en Haiti, podemos observar que o
trabalho da escritora Mireille Jean-Gilles foi muito aclamado, pois o mesmo foi
apresentado na cerimônia de premiação do Carbet Prize em Caiena, encenado
em Port-au-Prince pela Compagnie Théatrale Guyanaise e finalmente
publicada em diferentes meios, dando destaque por meio da sua literatura
como ocorreu a colonização de seu povo e suas consequências.

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