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PROVIDÊNCIA

1. Como a doutrina da providência se relaciona com a da criação?


A doutrina da providência evidencia a oposição da fé cristã com o panteísmo (confunde Deus
com o mundo) e o deísmo (separa Deus do mundo), por isso a doutrina da criação é seguida
imediatamente pela doutrina da providência, doutrina esta que define claramente o conceito
bíblico da relação de Deus com o mundo.

2. O que é a providência divina?


A palavra providência significa a provisão que Deus faz para os fins do Seu governo, bem como
a preservação e governo de todas as suas criaturas. A providência divina é o continuo exercício
da energia divina, pelo qual o Criador preserva (preservação) todas as Suas criaturas, opera
(cooperação) em tudo que se passa no mundo e dirige (direção) todas as coisas para que
cumpram a sua finalidade.

3. Qual é a opinião deísta da relação de Deus com o mundo?


Que o interesse de Deus pelo mundo é de natureza muito geral. Para o deísmo, Deus criou o
mundo, se afastou dele e o deixou funcionando de acordo com as leis invariáveis da natureza e
só intervém quando há alguma coisa errada em sua operação regular.

4. Como os panteístas concebem essa relação?


Os panteístas não reconhecem a distinção entre Deus e o mundo. Eles colocam o mundo em
Deus, ou Deus no mundo, sem deixar lugar para a criação e a providência (cuidado de Deus).
A providência para eles é idêntica ao curso da natureza. De acordo com este ponto de vista o
natural e o sobrenatural são idênticos, a consciência e a livre autodeterminação do homem é
uma ilusão e a responsabilidade moral do homem uma fantasia, fazendo da oração e do serviço
religioso nada mais que superstições.

5. Qual é a diferença entre a providência especial e a geral?


Enquanto a providência geral indica o controle de Deus do universo como um todo, a especial
diz respeito ao cuidado de Deus com cada uma das partes do universo. Não são duas espécies
de providência, mas a mesma providência exercida em duas diferentes relações. Contudo, a
expressão “providência especial” pode ter uma conotação mais específica, e nalguns casos se
refere ao cuidado especial de Deus por Suas criaturas racionais. Alguns falam até mesmo de
uma providência muito especial (providentia especialissima), com referência aos que estão na
relação especial de filiação a Deus.

6. Por que alguns negam a providência especial?


Porque eles acreditam que Deus não se interessa pelos pormenores da história, pelos assuntos
da vida humana e particularmente pelas experiências dos justos. Alguns afirmam que Deus é
grande demais para interessar-se pelas coisas menores da vida, enquanto outros sustentam que
Ele simplesmente não pode fazê-lo, desde que as leis da natureza Lhe amarram as mãos. É
contrário à Bíblia dizer que Deus não se interessa pelos pormenores da vida, não pode responder
as orações, nem prestar ajuda em emergências, nem interferir miraculosamente em favor do
homem.

7. Quais são os objetos da providência divina?


(1) sobre o universo em geral
Nos céus, estabeleceu o Senhor o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo. Salmos 103.19
(2) sobre o mundo físico
para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e
bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Mateus 5:45
(3) sobre a criação inferior;
Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso
Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Mateus 6.26
(4) sobre os negócios das nações;
Pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações. Salmos 22.28
(5) sobre o nascimento do homem e sua sorte na vida;
Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus
dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda. Salmos 139.16
(6) sobre as vitórias e fracassos que sobrevêm às vidas dos homens;
Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Lucas 1:52
(7) sobre coisas aparentemente acidentais ou insignificantes;
A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda decisão. Provérbios 16.33
(8) na proteção dos justos, Sl 4.8; 5.12; 63.8; 121.3; Rm 8.23;
Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro. Salmos
4.8 / Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda. Salmos
121.3
(9) no suprimento das necessidades do povo de Deus;
Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem
teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo
o que procede da boca do Senhor viverá o homem. Deuteronômio 8.3
(10) nas respostas à oração;
Levantaram-se de madrugada, e adoraram perante o Senhor, e voltaram, e chegaram a sua
casa, a Ramá. Elcana coabitou com Ana, sua mulher, e, lembrando-se dela o Senhor, ela
concebeu e, passado o devido tempo, teve um filho, a que chamou Samuel, pois dizia: Do
Senhor o pedi. 1 Samuel 1.19,20
(11) no desmascaramento e castigo dos ímpios, Sl 7.12, 13; 11.6.
Se o homem não se converter, afiará Deus a sua espada; já armou o arco, tem-no pronto; para
ele preparou já instrumentos de morte, preparou suas setas inflamadas. Salmos 7:12,13

8. O que se quer dizer por preservação divina?


É a obra contínua de Deus pela qual ele sustenta todas as coisas. Isso não significa como pensa
o panteísmo, que Deus continua a criar o mundo eternamente, e nem como pensa o deísmo, que
Deus retirou a sua mão e deixa o mundo existir por si próprio. O mundo existe distinto de Deus,
mas tem sua base de existência em Deus e não em si mesmo. Pelo exercício contínuo do poder
Divino, Deus mantém todas as coisas existindo e em ação. Deus tem existência própria, mas a
criatura depende e continua sempre dependendo dele.

9. O que se quer dizer por concorrência (cooperação) divina?


É a obra de Deus pela qual ele coopera com todas as criaturas e as obriga a agir precisamente
como agem. A cooperação do poder divino com todos os poderes subordinados, em harmonia
com as leis pré-estabelecidas de sua operação, fazendo-os agir precisamente como agem.

10. Como podemos conceber essa concorrência?


As forças da natureza e a vontade do homem existem, mas elas não agem por si mesmas, de
maneira independente de Deus, mas Deus exerce operação imediata em cada ato da criatura.
As causas secundárias são reais, por isso é possível falar de cooperação entre causa primária e
causa secundária. Deus opera nos mínimos detalhes, estimulando suas criaturas à ação e as
acompanha em cada momento, tornando suas ações eficazes. Deus e o homem cooperam na
realização dos atos, cada um no seu todo, não há divisão de tarefas (em que cada um faz uma
parte). É importante destacar que a responsabilidade pelos atos recai sempre sobre a criatura
moral e não sobre Deus (é algo que não se pode explicar totalmente).
11. Essa doutrina dá origem a qual problema difícil?
Os pelagianos, os semipelagianos e os arminianos levantam séria objeção a esta doutrina da
providência. Sustentam eles que uma concorrência prévia, que não seja meramente geral, mas
que predetermine o homem a ações específicas, faz de Deus o autor do pecado e responsável
por ele. O que ocorre, na verdade, é que (a) os atos pecaminosos estão sob o governo divino e
ocorrem de acordo com a predeterminação e o propósito de Deus, mas somente pela permissão
divina, de modo que Ele não leva eficientemente os homens a pecarem; (b) que Deus muitas
vezes reprime as obras pecaminosas do pecador; e (c) que Deus, no interesse do Seu propósito,
usa o mal para o bem, mas o problema da relação de Deus com o pecado continua sendo um
mistério.

12. Até onde se estende o governo divino?


Pode-se definir o governo divino como a continua atividade de Deus pela qual Ele rege todas
as coisas teleologicamente (considerando o fim a que os seres são destinados) a fim de garantir
a realização do propósito divino. É o governo de Deus sobre todas as coisas, para que cumpram
o propósito para o qual foram criadas.
EXTENSÃO: este governo divino é universal. É realmente a execução do Seu propósito eterno,
abrangendo todas as Suas obras, desde o princípio, tudo que foi, é e será para sempre. Mas,
embora geral, desce também a particularidades. As coisas de maior significação, aquilo que é
aparentemente acidental, as boas ações dos homens, como também as suas más ações, TUDO
ESTÁ SOB O GOVERNO E DIREÇÃO DE DEUS. Deus é o Rei de Israel, mas Ele também
domina entre as nações, nada pode escapar ao Seu governo.

13. O que é milagre?


É um dos atos da providência especial de Deus. Milagre é uma coisa feita sem se recorrer aos
meios ordinários de produção, um resultado produzido diretamente pela Causa Primeira, sem a
mediação, pelo menos do modo habitual, das causas secundárias”. O que distingue o feito
miraculoso é que ele resulta do exercício do poder sobrenatural de Deus. E, naturalmente, isto
significa que o referido feito não é ocasionado por causas secundárias que operam segundo as
leis da natureza. Se fosse, não seria sobrenatural (acima da natureza), isto é, não seria milagre.
Se Deus, na realização de um milagre, algumas vezes utilizou forças que estavam presentes na
natureza, utilizou-as de maneira inteiramente distinta do ordinário, para produzir resultados não
esperados pelo homem, e foi justamente isso que constituiu o milagre. Todo milagre está acima
da ordem estabelecida da natureza, mas podemos distinguir diferentes classes, conquanto não
graus, de milagres. Há milagres que estão absolutamente acima da natureza, de modo que não
estão ligados, de modo algum, a quaisquer meios. Mas também há milagres nos quais os meios
são empregados, mas de modo tal, que o resultado é uma coisa completamente diversa do
resultado habitual daqueles meios

14. Por que os milagres são considerados impossíveis por alguns?


Porque eles acreditam que os milagres implicam uma violação das leis da natureza. As leis da
natureza representam o método comum de Deus agir. Deus tem prazer em agir ordinariamente
por meio de causas secundárias, isto é, usando os poderes da natureza e a atividade do homem,
mas as causas secundárias representam apenas o método usual pelo qual Deus age na natureza.
Mas isto não significa que Ele não possa deixar de lado a ordem estabelecida, e não possa
produzir um efeito extraordinário, que não resulte de causas naturais, por um ato único de
volição (ato pelo qual a vontade toma uma determinação) se o julgar desejável para o fim que
ele tem vista. Quando Deus opera milagres, produz efeitos extraordinários de maneira
extraordinária. Quando um milagre é realizado, as leis da natureza não são violadas, mas são
superadas num determinado ponto por uma superior manifestação da vontade de Deus. As
forças da natureza não são anuladas ou suspensas, mas neutralizadas, num ponto particular, por
um poder superior a elas.

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