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Instituto ICT Cursos

CURSO SUPERIOR SEQUENCIAL GESTÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ROSÂNGELA TEIXEIRA GUEIROS FURTADO

POLITICAS PÚBLICAS PENITENCIÁRIA E O PROCESSO DE


RESSOCIALIZAÇÃO

Peruíbe

2022
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ROSÂNGELA TEIXEIRA GUEIROS FURTADO

POLITICAS PÚBLICAS PENITENCIÁRIA E O PROCESSO DE


RESSOCIALIZAÇÃO

Artigo Científico apresentado ao


Curso Superior Sequencial
Gestão em Administração Pública
do ICT cursos, como requisito
parcial para obtenção do título de
Gestor em Administração Pública.

Peruíbe

2022
3

AGRADECIMENTOS

A Deus, por sua presença constante, por todas as oportunidades que me


concede, pela proteção e bênçãos que recebo sempre muito maiores do que
idealizo e mereço.

Ao meu esposo Ivan, companheiro de vida, pelo incentivo e apoio.

Meu amor e gratidão eterna pelo exemplo, pela orientação, pela preocupação,
pela paciência e por todos os esforços destinados para me ajudar nessa
jornada, servindo de inspiração para o meu caráter, e a certeza dе qυе não
estou sozinha nessa caminhada.

Meus agradecimentos à minha amiga e companheira Bruna, pelas alegrias


compartilhadas, companheiras de trabalho e de vida.

Há minhas netas Manuely e Maria Alice, por me tornar uma pessoa melhor e
me fazer acreditar que sonhar é possível, e que não existe idade para que esse
sonho se torne realidade.

O meu eterno agradecimento.


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RESUMO

Neste estudo buscou-se analisar a transparência das ações da Politicas


Públicas no que diz respeito ao processo de ressocialização no sistema
carcerario. A pesquisa caracterizou-se como um estudo de casos. A
metodologia estrutura-se através da análise documental e da revisão
bibliográfica de temas da área. Os objetivos gerais são: identificar a
transparência das ações das Politicas Públicas no sistema prisional. Já os
específicos são: Identificar e priorizar a abertura de dados com grau de
relevância para o detento; Estimular o controle social; Incrementar os
processos de transparência ativa; Apresentar a disseminação da importância
da publicação de dados abertos pelo governo; Além disso, apresenta práticas
de gestão pública, reforçando a expectativa de uma Administração Pública
mais eficiente e próxima desses apenados por meio da divulgação de
informações públicas, promoção da transparência e ampliação do controle e da
fiscalização. Sabe-se que o sistema carcerário tem como objetivo a
ressocialização do preso, e para que se mostre viável é necessária à adoção
de ações que devem dotadas durante o período em que o mesmo estiver
cumprindo sua pena e após sua saída.

Palavras-chave: Politicas Públicas. Sistema Carcerário. Ressocialização.


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ABSTRACT

This study sought to analyze the transparency of Public Policy actions with
regard to the resocialization process in the prison system. The research was
characterized as a case study. The methodology is structured through
documental analysis and bibliographic review of themes in the area. The
general objectives are: to identify the transparency of Public Policy actions in
the prison system. The specific ones are: Identifying and prioritizing the opening
of data with a degree of relevance to the detainee; Stimulate social control;
Increase active transparency processes; Present the dissemination of the
importance of publishing open data by the government; In addition, it presents
public management practices, reinforcing the expectation of a more efficient
Public Administration that is closer to these convicts through the dissemination
of public information, promotion of transparency and expansion of control and
inspection. It is known that the prison system aims to re-socialize the prisoner,
and in order for it to prove viable, it is necessary to adopt actions that must be
taken during the period in which the prisoner is serving his sentence and after
his release.

Keywords: Public Policies. Prison System. Resocialization.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................07

2 POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA CARCERÁRIO................................09

3 O SISTEMA CARCERÁRIO........................................................................ 12

4 POLITICAS DE REITEGRAÇÃO SOCIAL.....................................................15

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................... 19

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................20

REFERÊNCIAS...............................................................................................
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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho é uma reflexão sobre a análise da dramática situação do


sistema carcerário brasileiro, situando-o no contexto histórico atual, buscando
identificar também os principais conceitos de “ressocialização” na teoria social,
para compreender o processo de “ressocialização” e o atendimento social
direcionado aos apenados, na perspectiva de prepará-lo para retornar ao
convívio social para além dos muros.

Este trabalho é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC , que objetiva


compreender as Politicas Publicas nas Penitenciarias e o processo de
“ressocialização” a partir do ponto de vista dos apenados.

Visto que, a realidade brasileira atual mostra o caos que existe nos presídios,
bem como demonstra que as políticas de assistência ao detento que tem a
intenção de trabalhá-lo para reinseri-lo na sociedade são ineficientes e
inoperantes.

O sistema prisional brasileiro nos últimos anos tem apresentado um aumento


considerável de indivíduos encarcerados, devido a uma série de conflitos
sociais que abalam a ordem pública decorrentes da violência urbana e rural,
onde cotidianamente é presenciado assaltos, agressões físicas e morais,
crimes das mais variadas formas, dentre outros.

Ao falar em ressocialização é imprescindível, ainda, que se abordem a temática


Direitos Humanos, em que tomamos por base a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que defende que todo ser humano tem direito à vida, à
liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à
educação, entre muitos outros. Todos merecem estes direitos, sem
discriminação.

Dessa forma, estabelece-se como objetivo geral do estudo: avaliar a


importância dos dados abertos na gestão pública nos sistemas prisionais,
pautando-se uma revisão bibliográfica sobre participação da sociedade nos
assuntos de interesse público e no controle social, englobando a importância
dos marcos institucional para a legalização e prestação de contas dos setores
8

públicos mediante a sociedade, bem como identificar a transparência das


ações da Gestão Pública.

A escolha desse tema se deu em decorrência da busca de uma indagação do


pesquisador em relação ao que esta sendo feito pelo poder público e a
divulgação dos dados para a sociedade para que se possa contribuir e
incorporar a gestão pública em todos os segmentos da sociedade. Outra
contribuição é a continuidade do estudo do tema controle social de forma
acadêmica para maior disseminação de estudos envolvendo este tema.

Tem como justificativa a curiosidade do pesquisador em analisar o instrumento


de estudo e aplicabilidade na temática de publicação de dados abertos pelo
governo, e consequentemente no incentivo para que haja politicas publicas
voltada a ressocialização dos apenados, e que a participação popular seja
incorporada, estreitando a relação entre Estado e sociedade civil, visando
garantir uma democracia mais participativa.

Sendo assim, a problemática norteadora desse estudo é: De que forma se dá o


controle social na atuação dos órgãos públicos nos sistema prisional, levando
em consideração a publicação de dados, voltados a uma gestão democrática e
transparente?

Por fim destaca-se que este trabalho está dividido em: introdução, referencial
teórico, metodologia, considerações finais e referências.
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2. POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA CARCERÁRIO

O sistema carcerário brasileiro enfrenta um sério problema, mostrando-se cada


vez mais falido ao ser incapaz de cumprir com sua função básica de regenerar
seus detentos. Superlotação, maus-tratos, formação de facções criminosas,
tráfico de drogas, assassinatos, falta de condições higiênicas e alimentares.

Há muito tempo a superlotação é apontada como problema, devida ao


desaparelhamento do sistema judiciário fazendo com que se acumulem os
processos, não se dá acompanhamento ao preso que já foi julgado, para poder
saber quando está vencendo sua pena. Cada três dias de estudo ou de
trabalho ajudam na redução da penal. São benefícios que são garantidos, mas
não são acompanhados. Tem uma mistura de presos condendados e presos
provisórios, que estão esperando julgamento. Então ficam alguns por três,
quatro anos esperando por um julgamento e outros que podem ter a pena
vencida, mas que ninguém faz nada para se certificar disso.

Ações afirmativas de um modo geral já vêm sendo tomadas pelo Governo no


sentido de aliviar as desigualdades sociais, tutelando direitos para minorias
desfavorecidas pela sua condição de desigualdade. O atual sistema de cotas
adotado no sistema educacional é um exemplo. Também em relação aos
deficientes físicos, ou mentais, já estão sendo reservadas cotas específicas no
mercado de trabalho, com finalidade de diminuir as desigualdades. O que falta
é introduzir também um sistema de cotas análogo para os reabilitados. Por
conta da discriminação e da insegurança, por medo da reincidência, a
sociedade tem negado maior apoio a esse grupo de egressos do sistema
prisional. Daí a necessidade de ações afirmativas no sentido de reintegrá-los
na sociedade.

Políticas públicas capazes de promover valorização humana, aprendizado e


perspectiva de inclusão social podem contribuir para a humanização da prisão
e fazer com que ela deixe de ser apenas um castigo ou o pagamento do mal
praticado e torne-se um ambiente de educação, aprendizagem e preparação
para o trabalho.
10

As políticas públicas devem agir antes da prisão, com questões de saúde,


educação, moradia, do emprego. Antes da alternativa do presídio, tem que ter
o trabalho radical ao tráfico de drogas, de armas. É preciso ter política pública
dentro também dos presídios, onde a maioria dos presos hoje é dependente de
drogas. A legislação deve tratar de crimes mais leves com outras medidas
também mais leves de sanção, sem ser a detenção ou a coerção de liberdade,
como as penas alternativas, prestação de serviços, semi-liberdade.

Assim, o Estado neoliberal busca diariamente eximir-se de suas


reponsabilidades com a garantia do mínimo social, dado que, manter indivíduos
encarcerados em locais semelhantes a masmorras é mais cômodo que investir
em políticas públicas que promovam inclusão social. Estas, por sua vez,
possuem a capacidade de reduzir os índices de aprisionamento e,
consequente, a superlotação.

O apenado deve ter as condições básicas atendidas e seus direitos


respeitados, uma vez que este infringiu a lei, mas está pagando judicialmente
pelo seu erro. O cárcere configura-se na possibilidade de Educação para uma
nova vida em sociedade, proporcionando ao detento adotar posicionamentos e
atitudes voltadas para a boa convivência na coletividade, de modo a abandonar
a conduta delitiva e a transgressão às regras. À reintegração é executada
através de uma política penitenciária, que tem como finalidade inserir os
encarcerados na sociedade para que possam dar continuidade às suas vidas
de forma honesta, e que não volte a cometer delitos e acabe retornando à
prisão.

Importa reiterar, que é direito de todos os cidadãos mesmo que tenha cometido
ato delituoso, serem tratados com dignidade e respeito no intuito de amenizar a
privação de liberdade e de garantir a reinserção ao convívio social.

Para tanto, se faz necessário adotar políticas que promovam a recuperação do


preso, tendo como ferramenta básica a Lei de Execução Penal e seus dois
eixos: punir e ressocializar.

É preciso ter a visão de que a política penitenciária é questão de segurança,


mas a própria segurança é questão de políticas públicas. E política pública
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também para quando o detento sair da casa de detenção, porque ele volta para
a sociedade sem nenhuma alternativa de vida, quando isso acontecer ai sim
terá um avanço.

É fundamental refletir sobre o processo de “ressocialização”, a partir do viés de


como vem sendo tratado a questão das políticas públicas de ressocialização do
apenado, tal como estimular o debate sobre como o próprio detento as
considera dentro do sistema prisional, e como o atendimento social avalia tais
políticas para o retorno desse apenado ao convívio social.

O descaso do poder público é apenas um dos entraves na garantia das


condições de ressocialização de fato dos apenados, pois, embora o país tenha
vários dispositivos legais e programas que objetivam a ressocialização, o
processo de implementação não atingiu patamar desejável. Os altos índices de
desvios de verbas são determinantes na negação de acesso aos direitos que
deveriam ser efetivados através dessas políticas. O preconceito da sociedade é
mais um desafio a ser enfrentado, haja vista que a população brasileira
historicamente estigmatiza os encarcerados e não favorece um recomeço de
vida social, assim, há necessidade de superação por parte da sociedade, de
noções pré-concebidas acerca daqueles que sempre estiveram em situação de
exclusão e subalternidade.
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3. O SISTEMA CARCERÁRIO

A evolução das prisões historicamente é atravessada por marcas de penas


cruéis e desumanas, onde não havia o cerceamento da liberdade, mas uma
custódia no qual os aprisionados aguardavam a sua sentença final em distintos
recintos, haja vista a inexistência de prisões específicas. Ou seja, eram
colocados em calabouços, masmorra, torres e conventos abandonados, sendo
obrigados a dividirem espaços com ratos e baratas, em locais considerados
insalubres. Dessa forma, possibilitava que o acusado não fugisse da punição,
permitindo a averiguação e a coleta de provas. Para tanto, era usado
constantemente o método da tortura enquanto o aprisionado aguardava o seu
julgamento e sua pena em cárcere imediato, o que deixa evidente que o
encarceramento era um meio e não um fim da punição.

Em relação ao princípio da dignidade da pessoa humana, este previsto no


artigo 1º, III, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1984,
enfatiza que todos devem ser tratados de maneira igualitária e de forma digna,
conforme dispõe a lei. Entretanto, muitos apenados acabam esquecidos nos
presídios, em virtude do abandono familiar, não tendo assim, um alicerce. E
como já vivem em um ambiente, no qual o tratamento é desumano e ainda sem
ajuda da família, acabam estes muitas vezes se tornando pessoas piores do
que já eram antes mesmo de estarem presos. Por isso, a importância de ajudar
antes e depois do delito cometido, o apenado deve ter condições básicas e
seus direitos respeitados, mesmo tendo infringindo a lei ele já estará pagando
judicialmente pelo seu erro.

Conforme Batista (2004, p. 227),

A pena privativa de liberdade é uma forma punitiva recente na história


das penas. Apesar de a prisão ser reconhecida, desde os primórdios
da humanidade, esta não possuía caráter punitivo, tratando-se de um
simples mecanismo de custódia de presos durante o julgamento,
como forma de garantir, ao final a aplicação da verdadeira pena,
quase invariavelmente de morte ou corpórea.

Michel Foucault (2013, p. 217), em sua obra mais conhecida “Vigiar e

Punir” pontua que,


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A prisão é menos recente do que se diz quando se faz datar seu


nascimento dos novos códigos. A forma-prisão preexiste à sua
utilização sistemática nas leis penais. Ela se constituiu fora do
aparelho judiciário, quando se elaboraram, por todo o corpo social, os
processos para repartir os indivíduos, fixá-los e distribui-los
espacialmente, classificá-los, tirar deles o máximo de tempo e o
máximo de forças, treinar seus corpos, codificar seu comportamento
contínuo, mantê-los numa visibilidade sem lacuna, formar em torno
deles um aparelho completo de observação, registro e notações,
construir sobre eles um saber que se acumula e se centraliza.

O Massacre do Carandiru revelou a imagem carcerária brasileira, um fato


marcante na história das prisões do país. Foi em 2 de outubro de 1992, na
Casa de Detenção de São Paulo, palco de miséria e violência que aconteceu a
mais inflamada rebelião nas prisões até o período, provocando a maior chacina
da história prisional brasileira com um total de 111 mortos. Nesse contexto,
Dráuzio Varella (2012, p.8) aduz que,

Na gíria carcerária “a casa virou”. O massacre não representou só


uma briga interna entre os detentos (fator iniciante do caos), porém
revela a agressividade dos encarcerados, a atitude repressiva dos
agentes penitenciários, a violência entre todos os atores daquele
cenário, o abusivo poder do Estado e o descontrole no enfrentamento
da questão, e principalmente o agravamento da violação do direito à
vida, à integridade física e outros mais que, antes mesmo da prisão,
já eram ignorados.

Na contemporaneidade, o sistema prisional é visto como um recinto carcerário,


onde permanecem os autores responsáveis por infringirem a lei, tendo em vista
um contexto histórico conturbado a respeito das punições sofridas pelos
suspeitos. A realidade do sistema carcerário brasileiro é precária, em que a
superlotação é um dos principais fatores que instiga a revolta entre os
detentos.

Nos últimos anos a população encarcerada cresceu desordenadamente e,


consequentemente, exigindo a ampliação do número de presídios. Com essas
mudanças, foram gastos milhões para a construção de novos prédios com a
finalidade de abrigar os presos, entretanto, não foi suficiente para diminuir a
superlotação.

Outro perfil dos privados de liberdade bem definido é a cor, raça e a


escolaridade, em que 64% é constituídas por negros/pardos e 10% dessa
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população carcerária é analfabeta (DEPEN, 2017), esses dados reforçam o


perfil excludente do Estado neoliberal. Esse é o retrato da prisão brasileira,
presídios sem condições estruturais para abrigar e proporcionar aos indivíduos
condições mínimas de sobrevivência. Um sistema eletivo, que possui um perfil
bem demarcado do encarcerado brasileiro, baixo poder aquisitivo, negro, e em
situação de vulnerabilidade social.

Desse modo, nota-se uma generalização da punição sem nenhum avanço em


relação aos projetos, programas e políticas, na perspectiva de amenizar a
situação precária em que os detentos se encontram. Posto isso, é possível
decifrar a dramática situação do sistema carcerário brasileiro, tendo em vista
que, o que se tem feito é agigantar as normas penais, criar novos discursos
jurídicos, depositar indivíduos nas prisões e esperar a glória da punição, a
ressocialização do encarcerado, o que caracteriza uma prisão de caráter
punitivo.
A sociedade contemporânea é a sociedade do consumo, idealizada, moldada
e monopolizada pela globalização, mercado sem fronteias e sem limites sociais
que reafirma uma cultura de resignação, que transforma os serviços públicos
em negócios, exclui os sujeitos que não se encaixam no padrão exigido pelo
capitalismo. Nessa realidade, o Estado é subserviente ao capital e a política
pública de encarceramento no Brasil é evidentemente afetada.
15

4. POLÍTICAS DE REINTEGRAÇÃO SOCIAL

A pena privativa de liberdade que deveria ser aplicada em casos extremos tem
sido aplicada de modo majoritário com um suposto objetivo ressocializador,
que tem por primazia a recuperação, no entanto, não em detrimento dos
objetivos da punição e da intimidação que este tipo de penalidade possui. Este
fato apresenta consequências desastrosas para as vidas daqueles que chegam
a ingressar no sistema penitenciário, uma vez que as marcas jurídico sociais
que o cumprimento de pena acarreta nos prisioneiros os estigmatiza dentro e
fora da prisão.
As políticas sociais vão ao sentido de tentar responder a situações de
desigualdade social, as quais nos levam a compreender a proteção social, que
pretende promover um conjunto de ações mais focadas no assistencialismo e
que deem respostas às situações de maior necessidade que possam existir.

O Estado tem como seu papel prioritário garantir, com recursos dos impostos, a
manutenção do aparato de segurança pública. Mas a questão da qualidade de
vida nas nossas cidades e da sensação individual de segurança passa por
atitudes individuais e coletivas de toda a sociedade, seja governo, instituições
de ensino, de saúde, sociedade civil, iniciativa privada, organizações não
governamentais e outras.

Cabe ao Estado a adoção de medidas educativas e ressocializadoras com o


objetivo de oferecer aos presos orientações e condições humanizadas
enquanto estiverem encarcerados e depois que forem colocados em liberdade.
É necessário oferecer-lhes condições para que os mesmos possam ser
reintegrados ao meio social, reduzindo os números de reincidência e
consequentemente reeducando o preso por meio de capacitação profissional,
educação, atendimento psicológico e assistência social.

Atualmente, é comum se afirmar que a função do Estado é promover o bem-


estar da sociedade. Para tanto, ele necessita desenvolver uma série de ações
e atuar diretamente em diferentes áreas, tais como saúde, educação e meio
ambiente. Para atingir resultados em diversas áreas e promover o bem-estar
da sociedade, os governos se utilizam das Políticas Públicas que podem ser
definidas da seguinte forma: “(...) Políticas Públicas são um conjunto de ações
16

e decisões do governo, voltadas para a solução (ou não) de problemas da


sociedade (...).” Dito de outra maneira, as Políticas Públicas são a totalidade de
ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais)
traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. (LOPES
e AMARAL, 2008, p. 5).

A Lei de Execuções Penais dispõe meios que objetivam alcançar a reinserção


social do preso. Dentre elas a remição da pena, que pode ser alcançada por
meio de trabalho e/ou do estudo, ambos desenvolvidos pelo preso, interna ou
externamente.

Pode-se salientar que a pena não consegue, sozinha, fazer com que o preso
se regenere e reintegre a sociedade. Faz-se necessária a união e participação
da família para que se consigam resultados positivos.

É preciso encaminhar o indivíduo para um aconselhamento psicológico,


projetos de profissionalização e incentivos que colaborem para que os direitos
básicos do condenado sejam efetivados e priorizados.

Deve ser levado em conta os vínculos afetivos familiares que constituem


pilares sólidos para uma boa regeneração, incentivando-o a não mais delinquir.
A pena privativa de liberdade não recupera ninguém, mas é no momento de
reclusão que deve ser trabalhado por meio dos agentes penitenciários os laços
do preso com seus familiares, tratando-os como seres humanos e
demonstrando o quanto é significativa sua participação na sociedade de forma
ética e justa.

Segundo a Constituição federal e a lei de execução penal (LEI 7.210, de 1984),


devem ser adotadas como forma de promover a dignidade do indivíduo privado
de liberdade, políticas de promoção do trabalho junto à população prisional. A
Constituição proíbe, em seu artigo 5º, inciso LXVII, pena de trabalhos forçados.
Nesse sentido, é direito da pessoa privada de liberdade participar ou não de
atividades de trabalho.

Atualmente existem políticas setoriais, promovidas pelo governo federal e pelos


Estados, cuja finalidade é promover a reintegração de detentos por meio de
atividades de trabalho. Diversas empresas apoiam essa iniciativa, havendo
17

inclusive casos de egressos do sistema prisional que conseguem vaga no


mercado de trabalho ainda na unidade prisional.

Conforme a Lei de Execução Penal, o trabalho do preso deve ser remunerado,


não podendo ser inferior a três quartos do salário mínimo, o qual pode ser
depositado em conta-poupança ou entregue à família do preso.

O trabalho pode ocorrer dentro ou fora do presídio é um imperativo legal aos


presos que já receberam condenação, nesses casos são levados em conta
suas aptidões físicas e mentais. O trabalho desenvolvido no interior dos
presídios, primeiramente, pressupõe uma remuneração, sem assumir um
caráter aflitivo, nem de escravização visando antes de tudo a preparação do
preso para o trabalho normal após sua liberação.

Além do sentido restaurador que o trabalho tem as atividades laborativas


desenvolvidas pelos presos no interior dos presídios, nas áreas de limpeza,
alimentação e jardinagem, dentre outros representam para o Estado uma
economia, mantendo a manutenção dos estabelecimentos prisionais e
permitindo que o interno possa com sua remuneração auxiliar seus familiares.

O trabalho pode ser também externo, porém há regras diferenciadas para tal
atividade. Em um primeiro momento é destinada aos presos em regime
fechado ou semiaberto, conforme o art. 36 da LEP, aos presos em regime
fechado será admissível o trabalho externo, em serviços ou obras públicas e
sob vigilância direta.

Mesmo diante de iniciativas que buscam oferecer escolaridade e geração de


empregos para os presos e egressos do sistema prisional constata-se que
ainda é muito difícil para o preso se inserir em atividades educativas ou
laborativas nas prisões e os egressos serem absorvidos pelo mercado de
trabalho. Neste sentido POZZEBON (2007: 271) argumenta que:

As oportunidades de trabalho dentro das prisões são pequenas, não


existe colocação para todos os internos que desejam trabalhar.
Dentro da instituição prisional reproduz-se a exclusão ocorrida na
sociedade e somente alguns obtêm acesso ao trabalho. Estes, os
escolhidos, irão desempenhar atividades ocupacionais sem qualquer
caráter profissionalizante, apenas suprindo as necessidades de
pessoal para a manutenção dos presídios e receberão uma
remuneração mínima [...] O indivíduo vê se reproduzir na instituição
18

os fatos ocorridos quando em liberdade, nos quais encontrava-se


excluído do mercado de trabalho ou percebendo baixos rendimentos
insuficientes para manter sua família.
19

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Na construção desse estudo, foi traçado um percurso metodológico, onde


houve a caracterização da pesquisa como pesquisa teórica, com análise
documental e pesquisa bibliográfica em livros da área, artigos científicos, e
afins, referentes ao tema exposto.

Trata-se de um estudo, cujo objetivo é descritivo e bibliográfico. Barros e


Lehfeld (2000) afirmam que neste tipo de pesquisa não há a interferência do
pesquisador, isto é, ele descreve o objeto de pesquisa, buscando descobrir a
frequência com que um objeto ocorre, sua natureza, característica, causas
relações e conexões com outros fenômenos. Sendo assim, este tipo de
pesquisa preocupa-se em observar os fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-
los e interpretá-los, e o pesquisador não interfere neles.

Sua natureza é bibliográfica, utilizando pesquisas anteriores, documentos


impressos e artigos já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente
registrados, com análise documental. Zanella (2010) enfatiza que a fonte direta
dos dados na pesquisa qualitativa é o ambiente natural, e o pesquisador, a
principal ferramenta desse processo.

Quanto ao enfoque da pesquisa podemos classificá-la como sendo de natureza


descritiva, já que se presta a descrever as características de um determinado
fato ou fenômeno.
20

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões pontuadas buscam antes de tudo despertar uma reflexão crítica


sobre as Políticas Públicas Carcerárias no Brasil, as condições estruturais a
que está submetida ligada aos constantes desafios que obstaculizam sua
implementação e materialização de fato, com destaque para a política de
“ressocialização”. Considerando o contexto vigente de ostensiva neoliberal em
colisão com os direitos, a “democracia”, o trabalho, a seguridade social,
provocando o desmonte das políticas públicas e políticas sociais, a assistência
destinada ao detento é precarizada, uma vez que as contrarreformas estatais,
a estrutura degradante dos presídios e os desafios do atendimento social não
proporcionam condições (acrescentar uma palavra tipo favoráveis, boas) para a
concretização da política em questão.

Nesse sentido, é questionável a efetividade da política de “ressocialização”.


Pode-se falar de fato em ressocialização se ressocializar tem o sentido de
preparar para uma vida em sociedade em que o ex-detento tenha condições
necessárias para não voltar a envolver-se em práticas delituosas? Como
garantir que esse egresso não recorra ao mundo da criminalidade, se no
período de reclusão não houve condições mínimas para que esse propósito
seja atingido?

Para a sociedade capitalista o egresso é considerado “limpo” quando segue


uma vida digna pós-muros, e para tal é necessário no mínimo que tenha um
emprego, entretanto, o mercado capitalista é excludente por natureza e não
oportuniza a estes a possibilidade de inserção ou reinserção no mercado de
trabalho, restando-lhes a volta à criminalidade.

Diante dos desafios enfrentados pelos profissionais que compõem a equipe de


atendimento social engajados no processo de ressocialização.

Os problemas carcerários do Brasil têm levado o poder público e a sociedade a


refletir sobre a atual política de execução penal, fazendo emergir o
reconhecimento da necessidade de repensar esta política, que, na prática,
privilegia o encarceramento maciço, a construção de novos presídios e a
criação de mais vagas em detrimento de outras políticas.
21

Para que exista uma real aproximação/integração de políticas públicas que se


baseiem nos direitos humanos e se realizem de forma efetiva, seja no processo
de reinserção do preso, seja na garantia de outros direitos, é imprescindível a
incorporação de princípios de dignidade humana, de prestação de contas, do
empoderamento e participação, da transparência, da não discriminação, como
imperativos essenciais. Esses princípios contribuirão para a elaboração de um
desenho de políticas mais ajustado às reais demandas dos titulares de direito,
de forma que haja maior poder emancipatório, com um controle social mais
efetivo, e que, além do poder público, outros atores sociais participem
ativamente do debate e da definição do desenho das políticas públicas.
22

REFERÊNCIAS

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brasileiro. Disponível em:

<http://www.cjf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/view/949/1122> Acesso em:

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BATISTA, Gustavo Barboza de Mesquita. Estado Social democrático de direito

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BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social:

Fundamentos e história. 3. ed. São Paulo, 2011.

BITENCOURT, Cézar Roberto. O objetivo ressocializador na visão da

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http://depen.gov.br/depen/sisdepen/infopen/apresentacao-coletiva-08-12-

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23

CFESS. Lei de Regulamentação da Profissão nº 8.662. Brasília/DF, 1993

SILVA, José de Ribamar. Ressocializar para não reincidir. Trabalho de Conclusão de Curso de
Especialização em Tratamento Penal em Gestão Prisional. Curitiba: UFPr, 2003.

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