Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICAS


Disciplina: Direito Constitucional I

Discente: Nicollas Emanoel Fernandes de Assis

A força normativa da constituição


FICHAMENTO/RESENHA DA OBRA

NATAL – RN
DEZEMBRO DE 2022
No primeiro capítulo, o Ferdinand Lassalle afirma que apresentar uma

resposta jurídica com a matéria concreta de uma determinada Constituição

isolada para formular uma definição generalizante não é suficiente, não basta,

pois essa apenas fornece critérios e nota explicativa. No entanto, o conceito de

constituição é a fonte original do nascimento da arte constitucional e da

sabedoria constitucional. A Constituição também não pode ser vista como uma

simples lei, ela deve ser mais firme e inabalável. É, portanto, a lei fundamental,

porque é básica, basilar, é o verdadeiro fundamento das demais leis, é

necessária porque constitui uma força efetiva e decisiva sobretudo sobre a qual

se baseia.

Assim, a Constituição é uma força positiva que torna necessárias todas

as outras leis e sistemas jurídicos existentes no país para serem o que realmente

são. promulgada e, a partir desse momento, o país não poderá editar nenhuma

outra lei contrária aos princípios fundamentais.

Além disso, a força supracitada dá-se por meio de fatores reais do poder.

Lassalle, então, descreve-os em tipos diferentes de organização sociopolítica,

sendo eles: a Monarquia (um rei a quem obedecem o exército e os canhões), a

Aristocracia (nobreza influente e bem-vista pelo rei e sua corte), a Grande

Burguesia (os grandes industriais), os Banqueiros (o governo necessita dos

banqueiros em função de empréstimos para investir grandes quantias de

dinheiro) e a Pequena Burguesia e a Classe Operária (podem insurgir-se em

uma revolta invencível, em função da supressão de suas liberdades políticas e

sociais).

Neste ponto, Lassalle define que a essência da Constituição depende da

soma dos fatores reais do poder que regem uma nação, tornando-se eles
instituições jurídicas nas quais quem atentar contra, atenta contra a lei, e com

isso é punido.

Em seguida, o autor aborda a questão do Sistema Eleitoral das Três

Classes, que vigorou na Prússia desde o ano de 1849 até 1918, na qual dividia

a nação em três grupos eleitorais, de acordo com os impostos por eles pagos e

com as posses de cada eleitor. Ela substituiu o sufrágio universal que vigorava

previamente e significava que, nos destinos políticos do país, o capitalista teria

uma influência 17 vezes maior que um simples cidadão sem recursos.

Após isso, Lassalle trata de instrumentos que desvirtuariam o regime

constitucional, que é o caso do Senado formado por grandes proprietários da

aristocracia, com atribuições de aprovar ou não os acordos feitos pela câmara

dos deputados eleitos pela nação, que não terão valor legal se os mesmos forem

rejeitados pelo Senado. Outrossim, se o rei quiser ter mais poder político que as

três classes eleitorais e a nobreza, basta a ele aumentar seu poder perante o

exército, nomeando seus membros. Ele não seria só rei, mas também chefe

supremo das forças de mar e terra. Em ambos os casos, há supressão da

supremacia da vontade nacional unânime e cujo poder excede

excepcionalmente o do exército.

A diferença entre esses dois tipos de poder reside na organização: o

exército, enquanto instrumento do poder político do rei, está organizado,

podendo reunir-se a qualquer momento; por sua vez, o poder da nação,

infinitamente maior, não o é. Contudo, a população, cansada de ver os assuntos

nacionais tão mal administrados e contrariada na sua vontade e nos interesses

gerais, pode insurgir-se contra o poder organizado, embora desorganizada.


No segundo capítulo, Lassalle informa-nos sobre a existência de uma

constituição real e efetiva, formada pelos fatores reais de poder da sociedade, e

de outra constituição escrita, denominada folha de papel. A primeira está

presente em todos os países até mesmo antes da Revolução Francesa, no caso

da França. Entretanto, o povo estava sempre por baixo da nobreza e devia

continuar assim pela influência dos precedentes, somados a princípios de direito

público, pergaminhos, foros, estatutos e privilégios formavam a Constituição do

país. A novidade dos tempos modernos são constituições escritas nas folhas de

papel, mediante transformações internas nos países.

Lassalle analisa as aspirações por trás da escrituração das cartas magnas

novamente a partir de tipos diferentes de organização sociopolítica, sendo eles:

Constituição Feudal (a nobreza ocupa um lugar de destaque, sendo o rei

subjugado a ela), Absolutismo (mudanças da população urbana que não

depende da nobreza, emersão da pequena burguesia, em que o príncipe diminui

as prerrogativas e poderes da nobreza, consolidando a monarquia absoluta) e a

Revolução Burguesa (o príncipe não pode, nem com seus exércitos,

acompanhar na mesma proporção o aumento do poder da burguesia, que

constitui uma potência política independente).

No capítulo terceiro, o autor define que uma constituição escrita é boa e

duradoura corresponde à constituição real e tem suas raízes nos fatores do

poder que regem o país. A primeira consequência é que o Poder Executivo deve

ser impossibilitado de aparecer como soberano perante a Nação na Constituição

com o controle do exército. A segunda consequência é que de nada servirá o

que se escrever numa folha de papel, se não se justifica pelos fatos reais e

efetivos do poder. A terceira consequência é que onde a Constituição real e


efetiva, não pode existir um partido político que tenha por lema o respeito à

Constituição, porque ela já é respeitada, é invulnerável. Se existe esse grupo

que clama pela conservação da Constituição, ela já pereceu.

Por fim, Ferdinand Lassalle conclui que os problemas constitucionais não

são problemas de direito, mas do poder; a verdadeira Constituição de um país

somente apoia-se nos fatores reais e efetivos do poder vigente e as constituições

escritas não têm valor nem são duráveis a não ser que estejam pautadas nestes

mesmos pressupostos.

Você também pode gostar