Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 2

Aqui é a nossa casa, o

nosso centro de
encontro para toda a
comunidade” –
Kaupatano Wacualhi,
coordenador da ECA
de Ngatulime Pala
Tuhupe
No município do Curoca, província do Cunene, a precipitação cada
vez mais irregular leva os povos seminómadas a deslocarem o gado
de forma sazonal para áreas onde haja água e alimento disponível.
Kaupatano Wacualhi, da etnia Muhacaona, faz parte desta realidade,
mas já assiste a algumas mudanças. O presidente da Comissão de
Gestão Agrícola e coordenador da Escola de Campo de Agricultores
(ECA) de Ngatulime Pala Tuhupe nasceu em 1978 em Kanunu,
comuna de Oncócua, onde sempre viveu. E atesta o impacto que tem
um maior acesso a água, para animais e pessoas, permitindo
encontrar mais meios de subsistência a nível local.

Sem os pontos de água – com reservatório para irrigação – e a ECA


instalada no âmbito do Programa FRESAN, “estaríamos a cultivar os
nossos campos, mas limitadamente, porque não teríamos a prática
que temos agora”, aponta Kaupatano Wacualhi. Para além do milho –
que, graças à irrigação, conseguem produzir também na época seca –
passaram a cultivar produtos como mandioca, tomate, cebola ou
couve. “Nunca os tínhamos cultivado. A maior parte foi para consumo
(da família) e uma pequena parte foi para venda”, revela. Contudo, o
gado, sobretudo na época de seca, acaba por consumir parte da água
disponível que a comunidade gostaria de reservar para a prática
agrícola, enquanto meio de subsistência complementar à criação de
gado.

Kaupatano Wacualhi considera-se um presidente que está sempre


com os outros, desde o momento em que começaram os trabalhos do
cerco na escola ao cultivo, passando pelas colheitas que têm sido
feitas e divididas por todos. “Aqui (referindo-se ao espaço da ECA) é a
nossa casa, o nosso centro de encontro para toda a comunidade”,
garante. Embora ainda não tenham a possibilidade de dizer que “não
temos mais por que sair daqui e ir para outro sítio”, por enquanto
“estamos todos a aprender, a procurar multiplicar o que se aprende
nos nossos campos”. Como explica em nome da comunidade,
“estamos no processo de aprendizagem. O nosso técnico, o André,
ensinou-nos bastante sobre a maneira de cultivar, a consorciação que
se faz com as culturas, e o sistema de irrigação gota-a-gota com o seu
sistema de manutenção, no sentido de desentupir caso haja alguma
coisa que impeça o funcionamento”. Na construção do tanque de
betão de 30.000 litros de água, os mais jovens membros da
comunidade foram envolvidos através do sistema “cash for work”
(dinheiro por trabalho), tendo sido definidos dias específicos para
campanhas de limpeza do ponto de água e a revisão do sistema de
distribuição.

O trabalho é igualmente repartido entre mulheres e homens, e existe


uma união entre os membros da comunidade, a qual, na visão de
Kaupatano Wacualhi, é “o maior ganho”. Com os olhos irrequietos,
passeando pelo campo onde, numa manhã particularmente quente, os
membros da ECA se reuniram, afirma que “seria bom cultivarem o
suficiente na fase da seca porque é a mais crítica”. E, para chegar a
todos os que procuram a ECA, sonha com “um campo maior” e “um
outro furo próximo da comunidade, reabilitado especificamente para
os animais”. Por ora, sorri à ideia de a plantação de tabaibo (figo-da-
Índia) poder ajudar a alimentar e a saciar a sede dos animais.
“Inocentemente, porque tem picos, pensávamos que o tabaibo seria
só para fazer cerco, mas agora aprendemos que é um reservatório de
água que estamos a criar”.

Você também pode gostar