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Universidade de Brasília

Instituto de Relações Internacionais


Análise das Relações Internacionais – T01 – 24T23
Docente: Rodrigo Pires de Campos
Discente: Nícolas Alves Martins Fernandes - 20/0025589

Faça uma análise política, diplomática e/ou geopolítica (escolha uma ou mais
dessas dimensões) do "desencontro" noticiado pela mídia brasileira e mundial na manhã
do dia 22/05/2023 entre os presidentes Lula e Zelensky na reunião do G7. Se você optar
pela análise política, fique à vontade, se assim você desejar, para nela incluir a política
exterior.

Em sua missão pelo fim da Guerra na Ucrânia, o presidente Zelensky vem-se utilizando
de qualquer oportunidade para fazer suas propostas de paz e angariar apoio ao país ucraniano.
Durante a cúpula do G7, em Hiroshima, no Japão, ele teve a oportunidade de se encontrar com
líderes de várias nações, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no dia 21 de maio.
No dia seguinte, no entanto, houve um "desencontro" entre os presidentes Lula e Zelensky, que
acarretou repercussões políticas e diplomáticas significativas. Essa situação revela a
complexidade das relações internacionais e demonstra os desafios enfrentados pelos líderes em
suas interações bi e multilaterais.
Em primeiro momento, no contexto político, é importante destacar que o convite a Lula
para participar da cúpula do G7 marcou o retorno do Brasil ao grupo após um período de 14
anos. Essa volta foi vista como uma oportunidade para o país fortalecer seus laços com as
principais economias industrializadas do mundo. Apesar disso, pode-se avaliar não como um
reconhecimento ao governo brasileiro, mas mais como uma tentativa de condescendência do
grupo para com o Sul Global a fim de engajá-lo na causa ucraniana. Ademais, a falta de uma
reunião bilateral entre Lula e Zelensky indica um obstáculo nas relações entre Brasil e Ucrânia,
o que será melhor analisado abaixo.
Nesse sentido, a política exterior também pode ser analisada a partir das declarações
recentes do presidente Lula. Suas falas iniciais atribuindo responsabilidade pela guerra também
à Ucrânia geraram justas críticas em relação ao seu posicionamento, especialmente por parte
dos Estados Unidos e da Europa, e com razão. A acusação de que o Brasil estaria propagando
as causas russa e chinesa demonstra as tensões e divergências políticas existentes entre os
países. É valido rememorar a própria visita do presidente Lula à China semanas antes, na qual
o governo presenciou uma gratificante recepção do partido chinês. A posterior defesa da
integridade territorial da Ucrânia por Lula indica uma tentativa de corrigir sua posição anterior
e alinhar-se com as posturas internacionais mais diplomáticas, como o Brasil sempre adotou
em sua política exterior. A mudança de tom do presidente brasileiro em relação à guerra na
Ucrânia é relevante para entender o contexto dessa situação.
Dessarte, o eixo Estados Unidos/União Europeia (UE) desempenha um papel
significativo nos esforços para acabar com a guerra na Ucrânia. Os EUA e a UE têm sido atores-
chave na busca por uma solução diplomática e no apoio à Ucrânia diante da agressão russa.
Ambos têm condenado a invasão russa e buscado maneiras de pressionar a Rússia a buscar uma
solução pacífica, porém oferecendo apoio político, econômico e militar e sanções contra a
Rússia. A política externa brasileira, nesse sentido, tem adotado uma postura de não intervenção
e busca de soluções diplomáticas na crise da Ucrânia, porém a saída negociada para o conflito
que o Brasil defende acabou se desfazendo enquanto possibilidade à medida que Lula soltou
declarações culpabilizando também o país ucraniano pela invasão russa. Mesmo ao “voltar
atrás” ou buscar retornar ao discurso mais diplomático, a posição brasileira acabou sendo
descredibilizada no cenário internacional para intermediar esse conflito em específico.
No âmbito diplomático, o "desencontro" entre os presidentes Lula e Zelensky reflete a
importância das agendas e da logística nas reuniões internacionais. A alegada incompatibilidade
de agendas, que impediu a realização da reunião bilateral, evidencia as complexidades
envolvidas na coordenação de encontros entre líderes de países distantes geograficamente. Em
princípio, o pedido de Zelensky para uma reunião bilateral com Lula, na época da visita de
Celso Amorim, sugere um interesse mútuo em discutir questões de interesse comum, em relação
à guerra principalmente. Com isso, o fato de a reunião não ter ocorrido posteriormente e ter
havido o “desencontro” no G7, supostamente por incompatibilidade de agendas, pode ser
interpretado como um sinal de divergências políticas ou dificuldades logísticas — até porque,
caso fosse realmente de interesse, alguma flexibilização poderia ter sido feita. É importante
considerar que os encontros bilaterais em eventos como o G7 são oportunidades valiosas para
líderes discutirem questões relevantes e promoverem a cooperação internacional.
A reação irônica de Zelensky ao ser questionado sobre sua decepção com o
cancelamento da reunião — “A decepção foi de Lula” — sugere algum descontentamento por
parte do presidente ucraniano, o que pode indicar que a Ucrânia esperava um maior
engajamento do Brasil em relação à guerra em seu território. A declaração de Zelensky nas
redes sociais sobre a possibilidade de realizar uma cúpula Ucrânia-América Latina também
revela seu desejo de expandir as relações com países latino-americanos, incluindo o Brasil, o
que pode a princípio soar contraditório considerando seu comentário e a pretensa
desconsideração em relação ao “desencontro”.
Essa situação também destaca os desafios enfrentados pelos diplomatas e equipes
governamentais na preparação dessas reuniões. A montagem de uma sala de reuniões específica
para o encontro bilateral indica que houve esforços prévios para a sua realização. No entanto,
as dificuldades em encontrar um horário adequado para ambos os presidentes ilustram as
complexidades logísticas envolvidas nesses eventos de alto nível.
Em resumo, o "desencontro" entre os presidentes Lula e Zelensky na reunião do G7
possui implicações políticas e diplomáticas relevantes. Essa situação ressalta as dificuldades
enfrentadas pelos líderes na coordenação de agendas e na condução de reuniões bilaterais. Além
disso, revela as tensões políticas existentes em relação à guerra na Ucrânia, bem como os
esforços de Lula para corrigir sua posição anteriormente controversa.

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