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O P E RAÇ ÃO DE RE A T OR DE L E I T O M Ó VE L E M RE G I M E E S TÁ VE L PAR A PR OD UÇÃ O DE

T E T RA FL U O RE T O DE UR ÂN IO : A PL IC AÇ ÃO DE INS T RU M E NT A ÇÃ O A PR OP R IAD A

W agn er d os S anto s Ol ivei ra

D i r e to r i a d e M at e r i ai s e d o C i c l o d o C o m bu s t í ve l - I n st i tu to d e P e s q u i sa s En e r g é ti c as e N u c l e ar e s
IPE N / CNE N - SP
Cai xa Post al 11049 – Pin hei ros – São P aulo – Br asi l – CEP 05423-970

ABSTRACT
T hi s w or k de s c r ib e t h e i nf lu e n c e of p r oc e ss va ri a bl e s in t h e u r an iu m t e t r af l u or i d e pr o du c t i on b y a m ov i ng
b e d r e ac tor an d ap p l i c a ti o n s of a sp e c i fi e d i n s t r u me n ta ti on

K e y W or d s : u r an i u m t e t r af l u o r i d e , m ov in g b e d r e ac t or

I . IN TR ODU ÇÃ O obtendo o dióxido e o tetrafluoreto de urânio numa


única unidade de processamento.
O denominado Ciclo do Combustível
Nuclear é formado por grandes etapas de fabricação, O processo que utiliza o denominado reator L se
e dentre elas encontra-se a fase denominada caracteriza de modo marcante por realizar duas
Conversão. A Conversão recebe o concentrado de reações distintas, num único corpo do reator,
urânio, que é fabricado junto à mina de urânio e que obtendo-se na parte superior do corpo do reator o
através de uma série de unidades de processamento dióxido de urânio, que não é retirado do interior do
químico chega ao hexafluoreto de urânio, matéria reator e, na parte inferior, o tetrafluoreto de urânio.
prima para as unidades de enriquecimento isotópico. As reações são representadas a seguir:

Como parte integrante da etapa da Reação exotérmica de redução do trióxido de urânio:


Conversão, tem-se uma unidade de produção do
tetrafluoreto de urânio que recorre a reatores UO3 (s) + H2 (g) UO2 (s) + H2 O(g) + 25,3 kcal
tubulares capazes de contatar sólidos, o trióxido de
urânio ou o dióxido de urânio, com reagentes Reação de fluoretação do dióxido de urânio, também
gasosos, hidrogênio e fluoreto de hidrogênio. Essa exotérmica:
tecnologia faz uso de reatores do tipo forno rotativo,
reatores de leito móvel, ou reatores de leito UO2 (s) + 4HFA(g) UF4 (s) + 2H2 O(g) + 43,2 kcal.
fluidizado, atualmente em desuso.
Cada uma dessas reações ocorre numa região
Este trabalho descreverá como a escolha bem definida do corpo do reator de leito móvel, em
adequada de instrumentação leva a condições mais módulos denominados de redução e módulo de
estáveis de operação do reator do tipo de leito móvel fluoretação, com a zona principal da reação localizada
contínuo. Neste reator realizam-se duas reações a 2/3 da altura dos respectivos módulos. A
heterogêneas com a transformação do trióxido de localização dessas zonas principais de reação é feita
urânio a dióxido, e deste ao tetrafluoreto de urânio, através do controle dos perfis de temperatura no
sendo realizadas num único corpo do reator. sentido longitudinal do equipamento.
Enquanto a tecnologia americana e canadense utiliza
reatores de leito móvel, realizando as duas reações Na figura 1 mostra-se de modo esquemático
anteriores em reatores diferentes, e a tecnologia o reator de leito móvel do tipo L e o perfil de pressões
inglesa utiliza fornos rotativos, o Projeto Conversão no sentido longitudinal do equipamento.
no Brasil, utilizou o reator de leito móvel contínuo
I V. PR OCED IMEN TO EXPER IMEN TA L

É importante que durante a fase de projeto


do reator de leito móvel se especifiquem instrumentos
que através de seus sensores quer sejam de pressão ou
de temperatura levem a medida e registro dessas
variáveis do processo, mas que também tenham
sensibilidade para se acompanhar a estabilidade
operacional do reator de leito móvel.

REGISTRO DAS TEM PER AT UR A S.


Considerando o reator de leito móvel operando em
condições de regime estável, pode-se dizer que na
medida que o leito de sólidos flui uniformemente, no
interior de seus módulos verticais, estabelecem-se
perfis de pressões e temperaturas que permanecem
Figura 1. Perfil de Pressões no Reator de Leito Móvel estáveis e de forma parabólica.
Tipo L
Pela análise dos registros das temperaturas,
II . OB JET IVO obtidos nas diversas campanhas de produção, nota-se
que os valores registrados das temperaturas em geral
O processo químico para a fabricação do apresentam-se como a forma de linhas que evoluem
tetrafluoreto de urânio por reator de leito móvel ao longo do tempo como pequenas ondulações, isto é,
apresenta como desvantagem os freqüentes para um determinado termopar colocado no interior
entupimentos, mesmo que todas as precauções para do leito, a temperatura oscila sob a forma de picos
que tal fato não ocorra tenham sido tomadas. Os sistemáticos ao longo de todo registro, ou pelo menos
entupimentos tanto podem ocorrer na fase de enquanto se mantiver a condição de operação estável
arranque do processo químico, como durante as do reator. A Fig.2 mostra esse típico comportamento
condições estáveis de operação da unidade de fabrico do registro das temperaturas sob a forma de picos.
do UF4 . O presente trabalho dá ênfase a operação do
reator, sob condições de regime estável e de regime
transitório, fazendo-se uma análise das condições de
operação, a partir dos dados obtidos nas campanhas
de operação. Em poder dos dados de processo e da
análise crítica sobre a operação da unidade sugerem-
se algumas decisões a serem tomadas, quando das
campanhas de produção para se minimizarem os
riscos de entupimentos, principalmente por análise
das variáveis de processos, temperatura e pressão
registradas durante a operação da planta química.

I II . M ETO DO LOG IA
Figura 2. Registro da Temperatura sob a Forma de
A partir dos registros das variáveis de Picos
processo, neste caso, pressão e temperatura,
analisaram-se as dificuldades operacionais do reator As ondulações que aparecem no registro das
quando das campanhas de produção do tetrafluoreto temperaturas devem-se ao fato do material sólido, que
de urânio, principalmente a ocorrência de flui ao longo do reator, apresentar temperaturas
entupimentos que levaram a paragem da unidade, ou diferentes devido ao leito fluir sob a forma de pulsos,
tendências de entupimento cujos sintomas foram à medida que um sistema de vibração atua sobre o
detectados pelos registros e com antecedência reator. Pode-se afirmar que a tendência mais estável é
tomadas as devidas providências operacionais para se o leito ficar parado no reator, movimentando-se
dar continuidade a operação do reator de leito móvel devido a atuação do sistema de vibração acoplado ao
em regime estável. reator. A título de exemplo, consideremos uma
análise mais detalhada do que se passa no módulo de
redução, para a obtenção do UO2 . Existem dois perfis concluindo que tal ausência das ondulações significa
de temperaturas, um no sentido axial e outro no que o reator caminha para o entupimento, já que o
sentido radial. material começa a deixar de fluir em seu interior. A
Fig.3 mostra o registro das temperaturas sem
Os registros das temperaturas da massa ondulações.
reagente no sentido axial são determinados por
termopares introduzidos no interior do leito, e medem
a temperatura num determinado local do leito,
apresentando as referidas ondulações longo do tempo.
Como foi dito anteriormente os reatores de leito
móvel, qualquer que seja o seu modelo, apresentam
uma tendência natural do leito de sólido parar de fluir.
À medida que um sistema de vibração, localizado
junto as paredes do equipamento é acionado o sólido
desce, ou seja, é como se o fluxo de sólidos ocorresse
sob a forma de “soluços”, dando-lhe um
comportamento de fluxo pulsado, o que estaria
representado pelas ondulações nos registros das
temperaturas. Ver-se-á mais tarde neste trabalho, que Figura 3: Registro das Temperaturas com Indicações
essa hipótese pode ser confirmada pelo registro das de Anomalias no Processo
pressões. Num determinado instante, a massa de
sólidos junto ao termopar apresenta um certo grau de Pela análise do ponto de temperatura mais
conversão, e, consequentemente, sua temperatura elevada nos registros, que representa a zona de frente
aumenta, por ser a reação exotérmica. No instante da reação, e analisando-se também a presença das
seguinte, nesse mesmo local onde está localizado o inflexões dos valores da temperatura, pode-se
termopar, chega uma nova massa de sólidos com determinar em que ponto do módulo a frente de
outro grau de conversão, e consequentemente a reação se encontra e como tende a evoluir no sentido
temperatura registrada é outra. Surgem deste modo as longitudinal do equipamento.
ondulações no registro das temperaturas. Assim, para
um mesmo ponto no interior do reator, as Além dos registros das temperaturas no
temperaturas do leito oscilam, dando origem as interior do reator, é prática normal se fazer os
ondulações registradas. Como se vê a presença das registros das temperaturas dos fornos que envolvem
ondulações no registro das temperaturas é indicativa externamente o equipamento. Esses registros quando
de que o fluxo do leito mantêm-se e é sistemático da operação do reator sob condições estáveis, se
para registro de picos de temperatura também apresentam constantes, sem ondulações ao longo do
sistemáticos. tempo.

A título de exemplo, consideremos, dois R E G I S T R O D A S P R E S S Õ E S .Como a pressão é a


pontos do reator com temperaturas diferentes, T1 variável de processo que mais rapidamente se
sendo a menor temperatura e T2 a maior. Neste caso, propaga, torna-se importante analisar o seu
os registros dessas temperaturas para dois instantes comportamento durante a operação do reator de leito
consecutivos apresentam alterações à medida que móvel. Qualquer obstrução que ocorra no interior do
ocorre a vibração, já que com ela o leito de sólidos se reator, originada por material reagente sólido que
movimenta no interior do reator. Surgem assim as tenha sofrido sinterização ou que inicie a formação de
ondulações registradas no papel do controlador ao blocos incrustados sobre as paredes internas do
longo do tempo e que podem apresentar inflexões reator, de modo a estrangular a descida do leito
para a esquerda ou para a direita. Pela análise das sólido, acaba por originar também um sintoma típico
posições relativas dos picos, pode-se concluir se a de entupimento, detectado pelas pressões. Ou seja,
massa de sólidos já passou pela zona principal da com uma análise cuidadosa do comportamento das
reação, temperatura mais elevada, ou se dela pressões, nos módulos de redução e de fluoretação,
aproxima. pode-se constatar um início de entupimento, e sua
evolução, que pode levar a paragem da unidade de
Se, por um lado, a presença de ondulações produção, para manutenção. Detectado o início de
indica que o sólido está fluindo, por outro, a sua entupimento do reator, medidas devem ser tomadas,
ausência é um indício de que algo de errado está alterando as variáveis de processo adequadas para
ocorrendo no interior do reator, facilmente se tentar se superar as dificuldades que se apresentam, e
que devem levar de certeza a paragem da unidade de alimentação do trióxido de urânio, a matéria prima da
produção por obstrução do reator.. unidade de produção. Ao se alimentar um lote de
material novo, no topo do reator de leito móvel, que
A título de exemplo, apresentam-se alguns vai encher o silo de alimentação, a perda de carga ao
gráficos, que são registros das pressões diferenciais, longo de todo o reator se altera, sendo essa
durante campanhas de operação. alimentação sentida pelas tomadas de pressão
instaladas ao longo do reator. Surgem assim no
Analisando-se os registros das pressões registro, picos sistemáticos de maior intensidade que
diferenciais nota-se que, de modo semelhante ao o serrilhado indicativo do fluxo pistonado do leito, e
registro das temperaturas, também apresentam coincide no tempo com os instantes em que se pratica
ondulações. Considerando o reator sob condição de a alimentação do trióxido de urânio ao sistema.
regime estável, o registro da pressão apresenta
inflexão no ponto de tomada da pressão para aquele Pela análise da Fig.4 pode-se tecer alguns
instante. A Fig.4 mostra o registro das pressões comentários para alguns pontos específicos:
durante uma campanha de produção de tetrafluoreto
de urânio. No início da operação do reator pode
acontecer de as pressões diferenciais da zona de
redução e de fluoretação se sobreponham o que
representa uma condição anormal de operação. O
natural é que os módulos de redução e de fluoretação
tenham valores de pressão diferentes, com os
registros caminhando segundo linhas paralelas e com
serrilhado.

As pressões diferenciais da redução e da


fluoretação tendem a adquirir os valores operacionais,
por volta de 7 g/cm2 e 18 g/cm2 , respectivamente.

Num determinado trecho do registro, os


valores da pressão para as zonas de redução e de
fluoretação caminham em paralelo e com os valores
mantidos na gama operacional. Vê-se nitidamente um
serrilhado miúdo na curva da pressão diferencial da
Figura . Registro das Pressões redução, que é representativo da descida do leito de
sólidos, que se dá sob a forma de “soluços”, à medida
Quando a pressão é tomada num que o sistema de vibração é sistematicamente
determinado ponto, no interior do leito de sólidos, o acionado. Se, por um lado, a curva da pressão
valor medido depende da permeabilidade do leito diferencial da zona de redução apresenta um nítido
existente nesse instante. Acionado o sistema de comportamento sob a forma de serrilhado, a curva da
vibração, os sólidos descem ao longo do reator quase pressão diferencial da zona de fluoretação não
num movimento em camadas sucessivas e, ao fluírem apresenta o serrilhado típico da descida dos sólidos,
deste modo, acabam por alterar as condições da isto é indicativo de que o leito na zona de fluoretação
permeabilidade do leito, o que é sentido e registrado provavelmente está parado, e iniciam-se processos de
pelo sistema de medição da pressão. sinterização do material levando a formação de
grandes blocos que acabam por entupir o reator.
O fluxo dos sólidos sob a forma de pulsos e
as sucessivas mudanças de permeabilidade do leito Em outras regiões do registro, as curvas das
figuram no registro de pressão sob a forma de um pressões da redução e da fluoretação apresentam
serrilhado, que permanece mais ou menos constante intensas alterações sob a forma de grandes picos que
ao longo do tempo e, de pequena amplitude, podem durar horas de operação, significando
indicando a operação do reator sob condições estáveis desequilíbrio do sistema, com o reator caminhando
e sendo representativas das alterações da perda de para uma situação de instabilidade, causada por
carga local no leito. entupimento. De modo semelhante ao que existia no
caso do registro das temperaturas, onde havia a
Surge um outro tipo de oscilação no registro presença das ondulações, a presença do serilhado no
das pressões, no momento em que se faz a registro das pressões indica que os sólidos fluem no
interior do reator de leito móvel, sendo importante a vertical aumenta. Este registro das pressões
presença do serrilhado ao longo de toda a campanha diferenciais pode ser considerado como
de produção do tetrafluoreto de urânio. representativo de uma operação do reator em regime
estável, ou seja, de uma boa condução da unidade de
Caso se detecte a ausência de serrilhado no produção do tetrafluoreto de urânio.
registro das pressões, tanto do módulo de redução
como do módulo de fluoretação, ou se detecte a
inversão das curvas de pressão, deve-se atuar sobre o CONCL USÃO
sistema, alterando as condições operacionais do
reator, de tal modo a superar o problema que surgiu, e Considerando que um reator de leito móvel
que levará fatalmente a paragem completa da unidade onde se praticam reações heterogêneas, com um leito
de produção, para se fazer a desobstrução do de sólido descendente ao longo do corpo do reator,
equipamento. que podem estar sujeitos a desagregação de suas
partículas, originando pós finos e os reagentes
A Fig.5 é representativa do reator de leito gasosos em contracorrente é importante se prever
móvel operando em condições de regime estável, qualquer condição de entupimento do sistema. Como
tanto no módulo de redução como no de fluoretação.. foi demostrado a escolha de instrumentação adequada
para medição das temperaturas do leito e de sua perda
de carga podem sinalizar com antecedência de horas
os problemas operacionais que irão surgir.

A localização adequada de sensores de


temperatura ao longo do corpo do reator, assim como
sensores de pressão com sensibilidade suficiente para
detectar variações nas pressões do leito se enquadram
nesse tipo de instrumentação.

REFER ÊN CIA S BI BLIOGR ÁFIC AS

1. Relatórios Técnicos do Projeto Conversão –


PROCON 1985 – 1992 IPEN/CNEN-\SP.

2. HARRINGTON, G.D. U r a n i u m P r o d u c t i o n
Figura 5. Registro das Pressões com Picos T e c h n o l o g y, 1959.
Representativos das Cargas de UO3

Este gráfico mostra valores das pressões


diferenciais do módulo de redução e do módulo da
fluoretação segundo linhas paralelas, como uma
indicação clara da ausência de entupimento no reator.
Além disso, o registro das pressões apresenta
serrilhado em quase toda a sua extensão, indicando
assim que o leito de sólido se movimenta em camadas
sucessivas de material como resultado da atuação
sistemática da vibração.

Aparecem ainda picos em intervalos de


tempo a cada uma ou duas horas, indicando a novas
cargas de UO3 feitas no silo principal da unidade.
Essas cargas atuam como perdas de cargas
instantâneas adicionadas ao sistema. Quando das
novas adições do trióxido de urânio, o valor da
pressão diferencial da redução diminui, enquanto que
a pressão diferencial no módulo de fluoretação

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