Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ADEQUADAS NO PNAE:
MAIS ALIMENTOS
FRESCOS, MENOS
ULTRAPROCESSADOS
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
ADEQUADAS NO PNAE:
MAIS ALIMENTOS FRESCOS,
MENOS ULTRAPROCESSADOS
Texto: Vanessa Manfre Garcia de Souza, com colaborações de Luiz Henrique Bambini (agricultura
familiar) e de Kelly Alves e Priscila Diniz (interferência comercial no ambiente escolar)
Contribuições: Daniela Canella (Uerj e Nupens/USP), Ana Clara Duran (Nepa/Unicamp e Nupens/
USP), Lilian Elias (Nepa/Unicamp), Elisa Proença da Silva Mendonça (Instituto Desiderata), Patricia
Gentil (Idec), Kelly Alves e Priscila Diniz (ACT Promoção da Saúde) e Mariana Santarelli (ÓAÊ e FBSSAN)
Revisão: Nayara Côrtes
Copidesque: Pedro Biondi
Projeto gráfico: Mariana Henrique
Diagramação e Ilustrações: Patrícia Nardini
Foto de capa: Adenilson Nunes/Secom-BA
FIAN Brasil
Gestão 2021-2024
Conselho Diretor
Diretor presidente: Enéias da Rosa
Vice-presidente: Norma Alberto
Diretora financeira: Sonia Costa
Diretora de Articulação: Miriam Balestro
Diretor de Formação: Lucas Prates
Conselho Fiscal
Titulares: Delzi Castro e Suemelberne Alves
de Lucena
Suplente: Célia Varela Bezerra
Secretária-geral
Valéria Torres Amaral Burity FIAN Brasil – Organização pelo Direito
Secretaria Executiva Humano à Alimentação e à Nutrição
Assessores de Direitos Humanos: Adelar Cupsinski, Adequadas
Nayara Côrtes Rocha e Paulo Asafe Campos Spínola.
Assessora de Políticas Públicas: Vanessa Manfre ENDEREÇO: SCLN 413, BLOCO A, SALAS
Garcia de Souza 219/220, ASA NORTE, BRASÍLIA – DF.
Assessor de Comunicação: Pedro Biondi TELEFONE: (61) 3224-0454
Assessor de Gestão: Arlãn Monção E-MAIL: FIAN@FIANBRASIL.ORG.BR
Assessora técnica financeira: Paula Bernardes SITE: FIANBRASIL.ORG.BR
PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO
ESCOLAR (PNAE)
O Pnae atende a todos e todas estudantes da educação básica da rede pública de
ensino no Brasil e seu objetivo é contribuir para o crescimento e o desenvolvimento
biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de práticas ali-
mentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação alimentar e nutricio-
nal e da oferta de refeições que cubram as suas necessidades nutricionais durante o
período letivo.
As novas regras são fundamentais para que o Pnae cumpra seu objetivo, para a pro-
moção da saúde e para a realização do direito à alimentação e à nutrição adequadas
(Dhana) dos estudantes. O intuito desta publicação é contribuir para que o/a leitor/a
3
compreenda a importância dessas mudanças na legislação do programa. Por exemplo:
por que produtos ultraprocessados não podem ser incluídos no cardápio ou têm a
oferta limitada; por que é importante comprar mais alimentos frescos, da agricultura
familiar local; e quais os impactos dessas medidas para a saúde dos estudantes, para
os pequenos agricultores e agricultoras, para a sociedade, para o meio ambiente.
O Guia alimentar para a população brasileira foi publicado, em 2014, pelo Ministério
da Saúde e, dentre as recomendações, podemos destacar:
4
Alimentos in natura são aqueles obtidos diretamente
de plantas ou de animais e adquiridos sem que tenham
sofrido qualquer alteração.
1 A FIAN Brasil, acompanhando as demais seções da FIAN, usa o termo produtos ultraprocessados
em vez de alimentos ultraprocessados – denominação utilizada no Guia alimentar e na Resolução
6/2020 – por entender que se trata de produtos formulados pela indústria de alimentos, e não de
alimentos como aqueles obtidos na natureza ou processados com adição apenas de sal, açúcar ou
outra substância de uso culinário.
5
Mas o que são produtos ultraprocessados?
6
conservas de alimentos preservados em salmoura ou em solução de sal e vinagre,
vários tipos de carne adicionada de sal, sardinha e atum enlatados, queijos feitos de
leite e sal (e micro-organismos usados para fermentar o leite) e pães feitos de farinha de
trigo, leveduras, água e sal; extrato ou concentrados de tomate (com sal e ou açúcar);
frutas em calda e frutas cristalizadas.
Óleos vegetais (como os de soja, milho, girassol ou oliva), gorduras (como a manteiga
e a gordura de coco), sal e açúcar são produtos alimentícios fabricados pela indús-
tria com a extração de substâncias presentes em alimentos in natura ou, no caso do
sal, presentes na natureza. Tais produtos são usados, por exemplo, por cozinheiras
e cozinheiros das escolas para temperar os alimentos e criar preparações culinárias
variadas e agradáveis ao paladar. Mas, embora esses ingredientes sejam fundamentais,
é importante utilizá-los em pequena quantidade!
7
E O QUE OS GUIAS ALIMENTARES TÊM A VER
COM AS REGRAS DO PNAE SOBRE A AQUISIÇÃO
E A OFERTA DE ALIMENTOS?
8
8. Aquisição e oferta de alimentos in natura ou minima-
mente processados
9
9. Aquisição e oferta de produtos ultraprocessados
10
MAS POR QUE É TÃO IMPORTANTE RESTRINGIR
A AQUISIÇÃO E A OFERTA DE ULTRAPROCESSA-
DOS NA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR?
Impactos à saúde
Listamos aqui algumas razões, com base em evidências científicas, para que sejam
evitados no cardápio escolar – e proibidos para crianças menores de 3 anos de idade!
11
Essas características (alto teor calórico e baixa qualidade nutricional, e pro-
priedades que incentivam o consumo excessivo) estão entre os mecanismos
que explicam a relação entre o alto consumo de produtos ultraprocessados e o
aumento de peso e de doenças crônicas na população.
Estudos com crianças e adolescentes constataram relação entre uma alta inges-
tão e maior ganho de peso, aumento no colesterol desde a idade pré-escolar
até a escolar, bem como um maior risco de doença cardiovascular nos adultos
jovens. Também existem evidências da relação entre o consumo desses produ-
tos com o desenvolvimento de asma em crianças e adolescentes.
12
Em 2020, de acordo com dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
(Sisvan), 7,4% das crianças com menos de 5 anos, acompanhadas na Atenção
Primária à Saúde do SUS, tinham obesidade.
13
cadores, diretores, merendeiras e demais profissionais da escola, conselheiros
de alimentação escolar, agricultores familiares.
14
Esse modelo prejudica o desenvolvimento local, a economia rural, os pequenos pro-
dutores e produtoras de alimentos, a biodiversidade e a qualidade da água que bebe-
mos e dos alimentos que comemos, além de exercer um papel central nas mudanças
climáticas.
15
Além disso, o comércio de ultraprocessados dentro das escolas favorece o
acesso dos estudantes a esses produtos, o que também atrapalha a formação de
hábitos alimentares adequados e saudáveis nesta fase tão determinante da vida.
Todas essas práticas apresentam conflito de interesses com o Pnae, uma vez que
o interesse primário deste programa, que é promover a alimentação adequada
e saudável, diverge do interesse comercial de promover o hábito de consumo de
produtos prejudiciais à saúde. Por isso, é importante que estados e municípios
definam medidas complementares ao Pnae que protejam as escolas da oferta,
comercialização e publicidade de ultraprocessados.
Assim, as escolas devem ofertar mais alimentos in natura e frescos como frutas, horta-
liças, tubérculos e raízes; e minimamente processados, como arroz, feijão e macarrão,
e preparações culinárias feitas com esses alimentos.
16
processados na própria escola ou em cozinha piloto, dependendo da realidade do
município.
Dessa forma, a bebida láctea ultraprocessada pode ser substituída por uma vitami-
na preparada com leite e fruta, e a almôndega congelada pode ser substituída por
almôndegas feitas na própria escola, por exemplo. Os pães, bolos, biscoitos e doces
ultraprocessados podem ser substituídos por aqueles preparados na própria escola
ou preparados de forma caseira pela agricultura familiar, de maneira a incentivar os
pequenos empreendimentos familiares rurais e a economia local.
Além disso, é importante dar prioridade aos alimentos sem veneno, orgânicos,
produzidos em âmbito local – em especial produção agroecológica, que respeita a
natureza e sua biodiversidade – e quem produz o alimento.
Agricultor/a familiar é aquele/a que pratica atividades no meio rural e dirige seu esta-
belecimento com sua família, possui área de até 4 módulos fiscais, utiliza predominan-
temente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabeleci-
mento e tem um percentual mínimo da renda familiar originada dessas atividades2. A
2 Os requisitos que caracterizam o agricultor e a agricultora familiar foram extraídos da Lei 11.326,
de 24 de julho de 2006.
17
maior parte dos alimentos que consumimos diariamente, no Brasil, é produzida pela
agricultura familiar.
Ao contrário dos produtos ultraprocessados, que causam uma série de prejuízos à saú-
de, à sociedade e ao meio ambiente, listamos aqui uma série de benefícios da compra
de alimentos da agricultura familiar:
18
• Promove a oferta de alimentos • Fortalece os hábitos e culturas
orgânicos e agroecológicos para alimentares locais e regionais
os estudantes
19
• Promove a soberania alimentar, • Estimula os circuitos curtos
de modo a valorizar e respeitar de comercialização, ou seja,
os modos de produção e as aproxima a produção do
tradições de agricultores e consumo, possibilitando a
agricultoras indígenas e de povos oferta de alimentos mais
e comunidades tradicionais frescos, diminuindo o custo e a
poluição ambiental causada pelo
transporte dos alimentos
20
assim, aos processos próprios de produção, conforme sua cultura e cos-
tumes. Não prescindem, nem impedem a intervenção do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Programa Nacional de Alimentação Escolar deve promover práticas alimentares
saudáveis, a alimentação e a nutrição adequadas aos estudantes, e deve contribuir
para a construção de sistemas alimentares mais saudáveis, justos e sustentáveis. Para
isso, é urgente e fundamental restringir ao máximo a oferta de produtos ultraprocessa-
dos nas escolas e ofertar cada vez mais alimentos in natura, frescos ou minimamente
processados – produzidos pela agricultura familiar local – e preparações culinárias
elaboradas a partir desses alimentos.
21
REFERÊNCIAS
BOKLIS-BERER, M.; RAUBER, F.; AZEREDO, C. M.; LEVY, R. B.; LOUZADA, M. L. C. The
adherence to school meals is associated with a lower occurrence of obesity among
Brazilian adolescents. Preventive Medicine, v. 150, n. 106.709, 2021.
22
ELIZABETH, L.; MACHADO, P.; ZINÖCKER, M.; BAKER, P.; LAWRENCE, M. Ultra-processed
foods and health outcomes: a narrative review. Nutrients, v. 12, n. 7, p.1.955, 2020.
JAIME, P.; CAMPELLO, T.; MONTEIRO, C.; BORTOLETTO, P.; YAMAOKA, M.; BOMFIM, M.
(org.). Diálogo sobre ultraprocessados: soluções para sistemas alimentares saudáveis
e sustentáveis. Cátedra Josué de Castro; Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em
Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo, 2021.
23
Duas décadas lutando para garantir
direitos e alimentar a vida
Fundada em Cuiabá no ano 2000 e hoje sediada em Brasília, a FIAN Brasil atua há duas
décadas com a vida e a dignidade humana como norte. É uma seção da FIAN Interna-
cional, atuante em mais de 50 países, com representações em 20 deles.
fianbrasil.org.br
24
O direito humano à alimentação e à nutrição adequadas (Dhana)
passa obrigatoriamente por viver livre da fome, mas vai muito além.
Financiamento: